CURITIBA
2017
GUSTAVO DOS SANTOS CAIRES
CURITIBA
2017
GUSTAVO DOS SANTOS CAIRES
graduada em Direito.
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Prof. Dr. PhD Eduardo de Oliveira Leite
Universidade TUIUTI do Paraná
Curso de Direito
BANCA EXAMINADORA
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Professor Luiz Renato Skroch Andretta.
(Orientador – Universidade Tuiuti do Paraná)
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Prof.º ………………………………………………
(Membro – Universidade Tuiuti do Paraná)
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Prof.º ………………………………………………..
(Membro – Universidade Tuiuti do Paraná)
AGRADECIMENTOS
À Deus, por guiar meus passos e fazer com que eu possa estar aqui hoje
agradecendo.
Aos meus mestres, todos os professores que tem o dom do magistério, pelos
ensinamentos passados no decorrer do curso.
O presente trabalho aborda um tema de grande relevância social, onde todos nós,
direta ou indiretamente, somos afetados e, talvez, não tenhamos conhecimento: a
figura do psicopata e o que o Direito Penal, dentro da sua característica como ultima
ratio, oferece de resposta para a sociedade. No primeiro momento, a partir da teoria
do crime, aborda-se o elemento mais importante para o presente trabalho, qual seja,
a culpabilidade. Nesse sentido, esgota-se seus conceitos adentrando nos elementos
que a compõe, sendo o mais importante a imputabilidade. Passando pela psicologia
forense, assim como pela psiquiatria, procura-se demonstrar quais as principais
características da psicopatia, suas formas de diagnóstico, e como o Direito Penal nos
oferece (ou não) o controle social. Pretende-se discutir a relação entre a psicopatia e
os crimes, frente à nossa atual legislação, para que assim seja possível definir
parâmetros para a culpabilidade do psicopata, levando em conta o que outras ciências
como a psiquiatria, a psicologia forense e a neurociência, nos dizem a respeito desses
indivíduos. Tendo em vista que a parcela psicopata da população é relevante e,
levando em consideração que a nossa atual legislação é no mínimo omissa, a
problemática repousa na maneira como devem ser julgados os criminosos psicopatas.
A partir do direito comparado, analisa-se o tratamento dado pelo Direito Penal
Brasileiro ao assunto.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................... 9
2.1 CONCEITO............................................................................................. 11
2.2.1 Imputabilidade........................................................................................ 18
3 DO PSICOPATA..................................................................................... 28
3.1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 28
4 DA CULPABILIDADE DO PSICOPATA................................................. 38
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 45
REFERÊNCIAS...................................................................................... 46
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1 INTRODUÇÃO
2.1 CONCEITO
A relação subjetiva entre o ato e o autor. Esta relação deve tomar como ponto
de partida o fato concreto, mas ao mesmo tempo se apartado mesmo,
conferindo então ao ato o caráter de expressão de natureza própria do autor,
deixando claro o valor metajurídico da culpabilidade.
Em suma, a teoria afirma que dolo e culpa passa a ser as únicas espécies de
culpabilidade, sendo que o mero vínculo entre o autor e o fato é a forma de mensurá-
la.
Zaffaroni leciona que o problema da culpa, tal como da imputabilidade não
poderia ser resolvido dentro desta concepção. (Zaffaroni, 2015 p 541)
Neste sentido vemos que a teoria psicológica não explica, por exemplo, o
doente mental, pois o mesmo age com relação psicológica, assim nesse caso poderia
ser explicado, se abandonasse o liame psicológico entre autor e fato.
Nas palavras de Bittencourt (2015, p. 444):
1 (Regis Prado (2015, p. 368) aduz se ainda aqui a contribuição complementar de beling, mediante sua
teoria do tipo (die lehre vom verbrechen 1906).
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Porém Damásio se Jesus (2010), afirma que tal conceito não se pode aplicar
aos delitos culposos
Ainda Jesus (2010) afirma que seguindo o exemplo no que diz respeito a
culpa, Welzel afirmava que o resultado nos delitos culposos era resultado da
inobservância o mínimo de direção finalista capaz de impedir a sua produção. Desta
maneira, o fato imprudente seria “evitável finalmente”, o que introduzia no conceito um
momento valorativo, próprio da culpabilidade e não do tipo
Rogério Greco (2015, p. 447) afirma que “nos moldes da concepção trazida
pelo finalismo de Welzel, a culpabilidade é composta pelos seguintes elementos
normativos: a) Imputabilidade; b) potencial consciência sobre a ilicitude do fato; c)
exigibilidade de conduta diversa”.
Após a exposição sobre as principais teorias e conceitos da culpabilidade, é
necessário aprofundar-se no seu principal elemento: a imputabilidade.
2.2.1 Imputabilidade
Para que o agente possa ser responsabilizado pelo fato típico e ilícito por ele
cometido é preciso que seja imputável. A imputabilidade é a possibilidade de
se atribuir, imputar o fato típico e ilícito ao agente. A imputabilidade é a regra,
a inimputabilidade é a exceção.
Régis Prado (2008, p. 376) afirma: “essa capacidade possui, logo, dois
aspectos: cognoscitivo ou intelectivo (capacidade de compreender a ilicitude do fato);
e volitivo ou de determinação da vontade (atuar conforme essa compreensão)”.
Nesse sentido Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 473) “é a capacidade de
culpabilidade, é a aptidão para ser culpável.
Ainda nas palavras do autor apud Muñoz Conde (2015, p. 473) “quem carece
desta capacidade, por não ter maturidade suficiente, ou por sofrer de graves
alterações psíquicas, não pode ser declarado culpado, e, por conseguinte, não pode
ser responsável penalmente pelos seus atos, por mais que sejam típicos e
antijurídicos.
No artigo 26 do Código Penal, encontra-se a definição de inimputabilidade:
Ainda sobre o critério psicológico Régis Prado (2008, p. 376): “tem em conta
apenas as condições psicológicas do agente a época do fato. Diz respeito apenas as
consequências psicológicas dos estados anormais do agente. Sua base Primeira é o
código canônico: deliciti sunt incapaces qui actu carent usu rationis”.
No nosso país, ainda o Código Criminal do Império (1830) no seu artigo 10
tinha a seguinte redação: “Art. 10 Também não se julgarão os criminosos, os loucos
de todo o gênero, salvo se tiverem lúcidos e intervalos e neles cometerem o crime”.
O critério psicológico leva em consideração apenas as condições
psicológicas, anormalidade psíquica do agente a época do fato.
Porém o critério adotado pela legislação Brasileira é o critério bio-psicológico.
Sendo assim, Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 474) explana que “O direito
Penal Brasileiro adota, como regra geral, o sistema biopsicológico e, como exceção,
o sistema puramente biológico para a hipótese do menor de 18 anos (arts.228 da CF
e27 do CP)”.
Nesse sentido Régis Prado (2008, p. 376):
Ante o exposto, conclui que a junção dos dois critérios anteriores formam o
critério bio-psicológico; se existia uma enfermidade, desenvolvimento mental
retardado e se ao tempo da ação ou omissão era possível entender o caráter ilícito da
mesma.
Diante destes casos o sujeito, é imputável, porém pelo fato de ter a sua
culpabilidade diminuída, em virtude perturbação mental, que nestas situações,
reduzem o entendimento do caráter ilícito. Porém e não retiram a plena capacidade
de entendimento e de se autodeterminar-se de acordo com este entendimento.
Neste sentido, Cezar Roberto Bittencourt (2015, p. 481):
A eleição de idade pelo legislador de idade pelo legislador se deu, por política
criminal, pela imaturidade natural inerente aos menores de 18 anos,
pressupondo que os mesmos não possuem plena capacidade de
entendimento que lhes permita imputar um fato típico e ilícito. Neste caso,
adotou-se apenas o critério biológico.
esse conhecimento potencial não se refere as leis penais, basta que o agente
saiba ou tenha podido saber que o seu comportamento contraria ao
ordenamento jurídico. Fato ilícito significa tão somente aquele proibido pela
lei, independentemente de seu aspecto imoral ou antissocial.
Para que se possa afirmar que o ato praticado pelo indivíduo é reprovável, e
necessário que se possa exigir do mesmo, uma conduta diversa daquela praticada.
Nesse sentido Régis Prado apud Welzel (2008, p. 391):
3 DO PSICOPATA
3.1 INTRODUÇÃO
À medida que a raça humana evoluiu, desde que fomos perdendo o excesso
de pelos do corpo e aprendemos a caminhar eretos, sempre houve pessoas
que parecem imunes às regras normais ou insensíveis aos sentimentos
daqueles que os cercam - lembre de Àtila, o Bárbaro, de Calígula e Hitler.
Hare reuniu características comuns de pessoas com esse perfil para montar
um sofisticado questionário, dominado de escala, onde mede o grau em que
30
Nesse sentido José Osmir Fiorelli (2012) afirma que as bases para a definição
de psicopatia oscilam entre aspectos orgânicos e sociais. O consenso parece estar
nas principais características que definem o transtorno, a seguir elencadas, de acordo
com o checklist de pontuação do protocolo Hare.
A seguir os itens listados da referida escala, conferem pontuação de 0 a 2 por
item conforme a sua intensidade, a soma é o que define qual o grau de psicopatia do
indivíduo, nesse sentido quem atinge mais de 30 pontos é considerado psicopata.
o ambiente tem grande peso, mas não mais do que a genética .Na verdade,
ambos atuam em conjunto.Os pais podem colaborar para o desenvolvimento
da psicopatia tratando mal os filhos.Mas uma boa educação está longe de ser
uma garantia do que o problema não aparecerá lá na frente, visto que os
traços de personalidade podem ser atenuados, não apagados.O que um
ambiente com influências positivas proporciona é um melhor gerenciamento
dos riscos.
Ante o exposto conclui que, Kaynes (2015) nem todo o psicopata é criminoso,
que existem talvez psicopatas dotados de Inteligência superior à média que não se
envolve em crimes. Nesse sentido esses desenvolvem, habilidade para “trabalhar”,
“atuar” no estrito limite legal, em diversos âmbitos da sociedade, manipulando,
mentindo, usando todas as características inerentes a estes indivíduos, porém não
cometendo crimes. Estão sim infringindo as normas, porém de natureza moral. Como
no caso acima descrito de Fallon (2009) um psiquiatra renomado.
Muitos não chegam ao crime ao assassinato, porém matam diariamente os
sonhos, confiança e sentimentos de outras pessoas que se relacionam no dia a dia.
35
Dessa forma, esclarece Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 40) a respeito dos
criminosos psicopatas.
Ainda segundo a autora (2008, p. 41) todos estes crimes cometidos por essas
pessoas de pouca ou de grande relevância social, deixam a todos, tão perplexos que
é necessário que se busque algum tipo de explicação razoável.
Alguns casos ganham notoriedade e explicam bem esta relação perversa
entre crime e psicopatia.
Como o caso de Ted Bundy, estudante de direito, aluno brilhante, boa
aparência, impressionava pelas atitudes, acima de qualquer suspeitas, em muitos
momentos dignas de uma pessoa generosa altruísta. Pois na verdade tudo não
passava de uma máscara, segundo estimativas, entre 1974 e 1978 Ted matou em
torno de 35 mulheres, em muitos casos abusava e torturava psicologicamente as
vítimas dando a certeza da morte a elas.
Beleza, carisma, começou a se envolver com política visto com um jovem
promissor. Diante do tribunal, dispensou a defesa que seus amigos haviam
conseguido (por acreditar na sua inocência), fez sua própria defesa no tribunal sendo
elogiado pelo juiz. Dizia nunca ter se arrependido de seus crimes, pois não tratava
suas vítimas como seres humanos. Morreu em 1989 na cadeira elétrica aos 42 anos,
conforme Gshow (2014).
No Brasil temos vários casos midiáticos, mas um que ilustra bem, do que é
capaz um psicopata dentro de um ambiente carcerário é o de “Pedrinho Matador”,
segundo Ana beatriz Barbosa Silva (2008, p. 73):
4 DA CULPABILIDADE DO PSICOPATA
Esta ementa acima, retrato da grande maioria apenas, confundida com outras
enfermidades e aplicada de maneira errônea, conforme Tribunal de Justiça do Estado
do Rio Grande do Sul (s.d.).
O estado brasileiro não possui verbas para aplicar os métodos de identificação
corretos que a psicologia forense e a neurociência nos mostra, não possui verbas
também para contratar peritos capacitados para empregar a tabela PCL-R. O Custo
elevado destas, juntamente com a incapacidade técnica dos funcionários e a falta de
tempo e espaço para que tais exames sejam executados, evitam o juízo médico eficaz
de um psicopata, segundo Jose Osmir Fiorelli (2010).
Apesar deste cenário cediço de informações e estudos a nível nacional,
atualmente o deputado Marcelo Itagiba, propôs um projeto de lei que altera a Lei de
Execução Penal e cria uma comissão técnica independente da administração prisional
e prevendo a execução da pena do psicopata, diagnosticado e condenado, exigindo
a realização do exame criminológico do condenado a pena privativa de liberdade. Um
oásis em meio ao deserto que demonstra ser a legislação Brasileira no que se refere
ao psicopata, em uma clara tentativa de individualizar a pena.
Segundo Fiorelli (2010, p. 108) “as pessoas que preenchem os critérios plenos
para a psicopatia não são tratáveis por qualquer tipo de terapia, alguns estudos,
porém, indicam que, após os 40 anos, a tendência é diminuir a probabilidade de
reincidência criminal”.
Por fim, ante o todo o exposto neste capitulo, conclui que os psicopatas, não
recebem nenhum tratamento específico da legislação Brasileira, e do judiciário,
causando um relevante dano a sociedade Brasileira.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, parte geral I. 21. ed. São
Paulo: Saraiva, 2015.
ESTEFAM, André. Direito penal, parte geral. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
FIORELLI, José Osmir. Psicologia Jurídica. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
GRECO, Rogério. Curso de direito penal - parte geral v I. 17. ed. Impetus, 2015.
JESUS, Damásio Evangelista. Tratado de direito penal - parte geral. 31. ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
MIRABETE, Julio Fabrinni. Manual do direito penal: parte geral arts. 1° ao 120°. 31.
ed. São Paulo: Atlas, 2015.
PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral arts. 1° ao 120. 10.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
SANTOS Juarez Cirino dos. Direito Penal - parte geral. 3. ed. Curitiba: Lúmen Juris,
1993.
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2008.
ZAFFARONI , Eugenio Raul. Manual do direito penal brasileiro - parte geral. 11. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
http://super.abril.com.br/comportamento/psicopatas-s-a/
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http://arquivoetc.blogspot.com.br/2009/03/veja-entrevista-robert-hare.html
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=467290
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm
http://www.tjsp.jus.br/