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PEC1102 - ESTRUTURAS DE PONTES

ESTUDO DA INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM FUNDAÇÕES DE


PONTES EM CONCRETO ARMADO

MESTRANDO: JACILÂNDIO ADRIANO DE OLIVEIRA SEGUNDO

PROFESSOR COORDENADOR: DR. JOSÉ NERES DA SILVA FILHO

NATAL – RN

2017.01
1. INTRODUÇÃO

Com o passar dos anos houve um aumento populacional dos centros


urbanos, provocando assim um acrescimento diretamente proporcional ao
número de veículos transitando nas rodovias. Com isso, as rodovias já
existentes não estavam mais suprindo a sua demanda, então surgiu à
necessidade de desenvolver novas formas de rotas para diminuir o fluxo de
veículos ali presente, rotas essas chamadas de obras de artes na engenharia
rodoviária, que podem ser enterradas como os túneis ou elevadas como os
viadutos ou pontes em geral.
Nas obras de pontes ou em quaisquer obras de engenharia, há uma
condição indispensável relativa à sua função: ter estabilidade e durabilidade
por certo período de tempo previamente estabelecido em projeto. Um dos
aspectos principais para a estabilidade dessas construções é a interação entre
o solo-estrutura.
O processo de interação solo-estrutura nada mais é do que o
mecanismo de influencia mútuo entre a superestrutura e o sistema de fundação
(estrutura e solo). A interação inicia-se ao começo da construção e continua até
que o estado de equilíbrio seja atingido, estado esse onde as tensões e as
deformações encontram-se estabilizadas tanto da estrutura como do maciço de
solos (COLARES, 2006).
Em virtude da ordem de grandeza das ações que solicitam as pontes,
além de outros aspectos geológicos e geotécnicos, geralmente é lançado mão
de fundações profundas do tipo estacas em concreto armado para transmitir as
cargas atuantes na superestrutura ao solo. Estas cargas englobam tanto as
solicitações verticais provenientes das combinações de ações (cargas
permanentes e cargas móveis) como ações horizontais oriundas das mais
diversas fontes, como aceleração e desaceleração de veículos, vento, pressão
dinâmica da água, empuxos de terra sobre pilares e solicitação horizontal
devido aos aterros sobre solo mole.
No desenvolvimento de projetos de pontes as verificações de
segurança nos estados limites último e estados limite de utilização dos
elementos estruturais e o cálculo das cargas verticais atuantes nos elementos
de fundações são efetuados pelo engenheiro projetista estrutural. De posse
dessas cargas e a partir das investigações geotécnicas realizadas, o
engenheiro projetista de fundações determina os elementos de fundação e
suas características geométricas. Segundo essa prática comum na maioria dos
projetos de engenharia, não há relações entre os dois profissionais projetistas.
O que acaba por dividir a edificação em superestrutura – parte acima do solo –
e infraestrutura – parte enterrada. Desta forma, o projetista estrutural analisa e
calcula a obra considerando-o sobre base indeslocável, enquanto o engenheiro
de fundações trata somente da estrutura de fundação e do solo, não havendo
um trabalho conjunto entre os mesmos (IWAMOTO, 2000) desprezando assim
o efeito da interação solo-estrutura. Sabe-se, pela literatura, que a
deformabilidade das fundações pode influenciar na distribuição dos esforços da
superestrutura. Portanto, a análise da interação solo – fundação -
superestrutura deve ser levada em conta no cálculo dos deslocamentos e
esforços internos do conjunto superestrutura / infraestrutura.
A consideração da interação solo-estrutura permite ao calculista
estimar os efeitos desta redistribuição de esforços nos elementos estruturais,
assim como a forma e a intensidade dos recalques diferenciais, contribuindo
para a obtenção de projetos mais eficientes e confiáveis (IWAMOTO, 2000),
podendo assim evitar problemas patológicos e/ou ao menos suavizar.
Uma das patologias mais significativas ocorre devido ao recalque
diferencial. O recalque ou assentamento é o termo utilizado em engenharia civil
para caracterizar o fenômeno que ocorre quando uma obra sofre um
rebaixamento devido ao adensamento do solo sob sua fundação (MILITITSKY,
2005).
Todos os tipos de solos, quando submetidos a um carregamento,
sofrem recalques, em maior ou menor grau, dependendo das propriedades de
cada solo e da intensidade do carregamento. Os recalques geralmente tendem
a cessar ou estabilizar após certo período de tempo, mais ou menos
prolongado, e que depende das características geotécnicas dos solos
(MILITITSKY, 2005).
O assentamento indesejado do solo (recalque) é a principal causa
geradora de trincas e rachaduras em qualquer obra, principalmente em obras
de grande porte por gerarem grandes tensões no solo, quando a fundação
sofre recalque diferencial, ou seja, o rebaixamento do solo ocorre de forma
desordena em varias partes da fundação gerando esforços estruturais não
previstos podendo até levar a obra à ruína.

2. OBJETIVO

O enfoque desse trabalho é reforçar e/ou aumentar o conhecimento


dos alunos de pós Graduação de Engenharia Civil, quanto à importância da
interação solo-estrutura em obras de Pontes de concreto armado, dando foco
em fundações profundas do tipo estaca, pois sãos as mais usadas em projetos
de pontes.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1. DEFINIÇÃO

Uma estrutura é chamada Ponte, quando ela é construída com a


finalidade de vencer obstáculos como um rio, um braço de mar ou um vale,
constituindo um elemento de um sistema viário. Quando o obstáculo transposto
não é constituído por água, denomina-se a obra de viaduto (Marchetti, 2008).

3.2. ELEMENTOS COMPONENTES DAS PONTES

Em termos estruturais as pontes são compostas dos seguintes


elementos (Imagem 01):

 Superestrutura;
 Mesoestrutura;
 Infraestrutura.
Figura 1 - Elementos constituintes das pontes.

Fonte: Próprio autor.

Superestrutura: É a parte útil da obra, por onde se trafega e recebe


diretamente as cargas provenientes do tráfego dos veículos, transmitindo-as à
mesoestrutura. É normalmente denominada de tabuleiro ou estrado, sendo
composta de vigamento longitudinal (vigas principais ou longarinas), de
vigamento transversal (transversinas) e das lajes superior, e inferior (no caso
de estrado celular).
Mesoestrutura: São os pilares e elementos de apoio, tem como função
receber as cargas da superestrutura e transmiti-las para a infraestrutura, é
determinante para a altura total da ponte.
Infraestrutura: É constituída pela fundação, seja sapatas, estacas com
blocos de coroamento ou tubulões, tem a função essencial de descarregar toda
a carga da ponte para o solo.

3.3 CLASSIFICAÇÕES DAS PONTES

Elas podem ser classificadas de acordo com o:

 Material da Superestrutura:
- Madeira;
- Alvenaria;
- Concreto simples;
- Concreto armado;
- Concreto protendido;
- Aço;
- Mista (aço e concreto).

 Comprimento:
- Galerias (de 2 a 3 metros);
- Pontilhões (de 3 a 10 metros);
- Pontes (acima de 10 metros).

 Natureza do Tráfego:
- Rodoviárias;
- Ferroviárias;
- Passarelas (pontes para pedestres);
- Utilitárias (aquedutos);
- Mistas (rodo-ferroviária).

 Desenvolvimento Planimétrico:
- Retas: ortogonais ou esconsas;
- Curvas.

 Desenvolvimento Altimétrico:
- Retas: horizontal ou em rampa;
- Curvas: tabuleiro convexo ou côncavo.

 Sistema Estrutural da Superestrutura:


- Ponte em Viga;
- Ponte em Arco;
- Ponte em Pórtico;
- Ponte Estaiada;
- Ponte Pênsil.

 Seção Transversal
- Ponte de laje (maciça, vazada);
- Ponte de viga (seção T, seção celular, treliça).

 Posição do Tabuleiro:
- Ponte com tabuleiro superior;
- Ponte com tabuleiro intermediário;
- Ponte com tabuleiro inferior.

 Processo de execução:
- Construção com concreto moldado no local;
- Construção com elementos pré-moldados;
- Construção com balanços sucessivos;
- Construção com deslocamentos progressivos.

3.4 ELEMENTOS COMPONENTES DAS ESTRUTURAS DAS PONTES

Elementos da Superestrutura

A superestrutura das pontes rodoviárias são geralmente constituídas


dos seguintes elementos:

 Lajes do tabuleiro;
 Vigamento do tabuleiro;
 Passeios de pedestres, guarda-corpos e barreiras;
 Cortinas e alas;
 Placa de transição;
 Juntas de dilatação;
 Sistema de drenagem;
 Pista de rolamento dos veículos.

Elementos da mesoestrutura

A mesoestrutura das pontes tem a função de transmitir as cargas da


superestrutura para a infraestrutura, e é constituída pelos:

 Pilares;
 Travessas;
 Aparelhos de apoio;
 Vigas de contraventamento.

Elementos da infraestrutura

A infraestrutura ou fundação de uma ponte pode ser do tipo superficial


ou profunda. A escolha do tipo de fundação depende de diversos fatores que
precisam ser analisados na fase do projeto, sendo, porém, de fundamental
importância o conhecimento do tipo de solo do local onde será executada a
obra.

 Fundações superficiais
As fundações superficiais ou diretas são utilizadas quando o solo de
boa qualidade é encontrado a pequena profundidade. Dividem-se em dois
tipos:
 Blocos;
 Sapatas.
· Isolada
· Corrida.

· Figura 2 - a) Bloco, b) Sapata Isolada e c) Sapata Corrida.

·
· Fonte: Próprio autor.
·

 Fundações profundas

As fundações profundas são adotadas quando o solo com boa


qualidade de suporte está situado a uma profundidade média ou grande. Nas
pontes, as estacas e tubulões são as fundações de uso mais correntes.

 Estacas;
As estacas podem ser:
· Concreto: podem ser pré-moldadas ou moldadas no local;
· Aço: são formadas por perfis laminados, simples ou compostos;
· Madeira: são formadas por peças roliças, sendo geralmente de
eucalipto, aroeira ou ipê.
 Tubulões.
Os tubulões são constituídos das seguintes partes
· camisa – de aço ou de concreto pré-moldado;
· fuste – executado no local;
· base – alargada ou não.

· Figura 3 - Corte esquemático de um Tubulão.

· Fonte: Próprio autor.


·

4. CARACTERÍSTICAS E COMPORTAMENTO DOS SOLOS

Os solos são materiais resultantes da destruição das rochas pela ação


do intemperismo químico e físico. O intemperismo químico está relacionado
com os vários processos que alteram, solubilizam e depositam os minerais da
rocha, transformando-as em solo. E o intemperismo físico está relacionado aos
processos mecânicos de ação da água, vento, temperatura, peso, entre outros
(PUPPI, 2004).

4.1. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

A primeira característica que diferencia o tipo de solos é a sua textura


(Granulometria), tamanho relativo das partículas (grãos), Como mostra abaixo.

Pedregulhos têm diâmetros máximos entre 2,0 mm e 60 mm e podem


ser identificados visualmente. Sua forma e compacidade são importantes do
ponto de vista de sua utilização. Em relação a sua granulometria pode ser:
 Pedregulhos grossos têm grãos com diâmetros entre 20,0 e 60,0 mm;
 Pedregulhos médios: Φ entre 6,0 e 20,0 mm;
 Pedregulhos finos: Φ entre 2,0 e 6,0 mm.
Areias (diâmetro dos grãos varia de 0,06 a 2,00 mm) dão ao tato uma
sensação de aspereza. Apenas seus maiores grãos são visíveis a olho nu. Em
relação a sua granulometria pode ser:
 Areias grossas: Φ entre 0,60 mm e 2,0 mm;
 Areias médias: Φ entre 0,20 mm e 0,60 mm;
 Areias finas: Φ entre 0,06 mm e 0,20 mm.
Silte (diâmetro dos grãos varia de 0.002 a 0,06 mm) os torna invisíveis
ao olho nu, como as argilas.
Argilas (diâmetro máximo dos grãos menor que 0,002 mm) molhadas
escorregam como sabão. Ao secar tendem a formar torrões de difícil
desagregação.
No Brasil segundo a norma NBR 6502/1995, a classificação dos solos
é feita de acordo com sua granulometria, conforme mostra a tabela 01.

Tabela 1 - Classificação do solo segundo o diâmetro dos grãos.

Fonte: NBR 6502/1995

4.1.1. SOLOS ARENOSOS (GRANULARES OU NÃO COESIVOS)

Os solos arenosos são ricos em areia formados principalmente por


grãos de quartzo, que se apresentam na forma de grãos relativamente
grandes. Estes grãos não conseguem reter a água por muito tempo no solo. A
água se infiltra rapidamente pelos espaços existentes entre os grãos de areia,
indo se acumular nas camadas mais profundas.
A resistência ao cisalhamento desse solo é determinada pelas
características coesivas e friccionais entre as partículas do solo, sendo definida
como a tensão máxima cisalhante que o solo pode suportar sem sofrer ruptura.
Em solos arenosos, a resistência ao cisalhamento depende basicamente do
ângulo de atrito entre as partículas (PINTO, 2000 apud SILVA & CARVALHO,
2007).
4.1.2. SOLOS COESIVOS

Os solos coesivos contêm muita argila com diâmetro dos grãos


menores do que 0,002mm. A água é retida por muito tempo nos pequenos
espaços entre os grãos de argila, originando o barro (PROENC, 2012).
A resistência ao cisalhamento de solos coesivos depende do ângulo de
atrito entre as partículas e também da coesão do solo (SILVA & CARVALHO,
2007).

4.2. PARÂMETROS GEOTÉCNICOS

Os parâmetros geotécnicos utilizados para representar o solo nas


análises deste trabalho foram: o módulo de elasticidade ou módulo de Young
(𝐸𝑠), o coeficiente de Poisson (𝑣), o peso específico (𝛾), o ângulo de atrito (∅) e
a coesão (𝑐)

4.2.1. MÓDULO DE ELASTICIDADE DO SOLO

A obtenção do 𝐸𝑠 pode ser feita em laboratório pelo ensaio triaxial.


Existem três tipos de ensaios triaxiais, que são:
1. Adensado drenado (Consolidated Drained – CD);
2. Adensado não drenado (Consolidated Undrained – CU);
3. Não adensado não drenado (Unconsolidated Undrained – UU)

Na falta dos ensaios os valores do 𝐸𝑠 pode ser estimado com base em


correlações do tipo de solo com os valores publicados na literatura, conforme
mostra a tabela 2 (BOWLES, 1997).

Tabela 2 - Valores para o módulo de elasticidade (𝐸𝑠 ).

Fonte: BOWLES, 1997


4.2.2 COEFICIENTE DE POISSON DO SOLO

O coeficiente de Poisson (𝑣) é a razão entre a deformação específica


lateral e longitudinal, sendo um valor adimensional. Usualmente este parâmetro
não impõe grandes alterações nos resultados das análises (RODY, 2010).
Para casos práticos, devido às dificuldades encontradas na medição, é
indicado adotar para 𝑣 os valores apresentados na literatura, conforme
sugerido na tabela 3 (BOWLES, 1997).

Tabela 3 - Valores para o coeficiente de Poisson (𝑣).

Fonte: BOWLES, 1997

4.2.3. PESO ESPECÍFICO DO SOLO

O peso específico pode ser adotado a partir dos valores aproximados,


se não houver ensaios de laboratório. Os valores aproximados são baseados
em função da compacidade da areia e da consistência da argila. Os estados de
consistência e de compacidade são dados em função dos resultados do NSPT.
As tabelas 4 e 5 mostram os valores sugeridos por Godoy (1972) para
solos coesivos e arenosos, respectivamente (apud CINTRA et al, 2011).

Tabela 4 - Valores para o peso específico (𝛾) de solos coesivos.

Fonte: GODOY, 1972 apud CITRA et al, 2011


Tabela 5 - Valores para o peso específico (𝛾) de solos arenosos.

Fonte: GODOY, 1972 apud CITRA et al, 2011

4.2.4. ÂNGULO DE ATRITO INTERNO DO SOLO

O ângulo de atrito interno do solo (ϕ) é função da interação entre duas


superfícies na região de contato. A parcela da resistência devido ao atrito pode
ser demonstrada fazendo uma analogia com o problema de deslizamento de
um corpo sobre uma superfície plana horizontal. A resistência ao deslizamento
é proporcional à força normal aplicada, conforme mostra a equação a seguir
(MACCARINI, 2009).

Figura 4 – Esquema representativo do deslizamento de um corpo.

Fonte: Próprio autor.

𝑇𝑑 = 𝑁 tan ∅

Onde:
 𝑇𝑑 – Resistência ao deslizamento;
 𝑁 – Força Normal;
 ∅ – Ângulo de atrito.

Segundo (MACCARINI, 2009) a equação que representa o


deslizamento de um corpo sobre uma superfície plana pode ser reescrita da
seguinte forma

𝜏 = 𝜎 tan ∅
Onde:
 𝜏 – Tensão cisalhante;
 𝜎 – Tensão normal.

As tabelas 6 e 7, sugeridas por Bowles (1997), apresentam alguns


valores para o ângulo de atrito e para a densidade relativa da areia,
respectivamente.

Tabela 6 - Valores para o ângulo de atrito (∅) de solos arenosos.

𝑂𝑏𝑠𝑒𝑟𝑣𝑎çã𝑜: 1 𝐶𝑜𝑒𝑓𝑖𝑐𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑎𝑡𝑟𝑖𝑡𝑜: ∅ = 28° + 15°𝐷𝑟(+/−2°)


Fonte: Bowles (1997)

Tabela 7 - Valores típicos da densidade relativa da areia (𝐷𝑟).

Fonte: Bowles (1997)

4.2.5. COESÃO DO SOLO

A coesão do solo é a parcela de resistência ao cisalhamento que


independe da tensão normal entre as superfícies de suas partículas, podendo
ser real ou aparente. A coesão real é resultado do efeito de agentes
cimentantes, como teor de óxidos e de argilas silicatadas, e o resultado da
atração entre as partículas próximas por forças eletrostáticas. A coesão
aparente é resultado da tensão superficial da água nos capilares do solo,
formando meniscos de água entre as partículas dos solos parcialmente
saturados, que tendem a aproximá-las entre si. A coesão aparente constitui
uma parcela de resistência ao cisalhamento de solos parcialmente saturados
(SILVA & CARVALHO, 2007).
Segundo (VARGAS, 1977 apud MACCARINI, 2009) a coesão é a
resistência que a fração argilosa empresta ao solo, pelo qual ele se torna capaz
de se manter coeso em forma de torrões ou blocos, ou até mesmo ser cortado
em diferentes formas e ter a capacidade de se manter neste formato. Os solos
não-coesivos, que são areias puras e pedregulhos, resvalam facilmente ao
serem cortados ou escavados, não conseguem manter a forma.
A coesão verdadeira ou real, definida anteriormente, deve ser
distinguida da coesão aparente. A coesão aparente é a parcela da resistência
ao cisalhamento de solos úmidos (parcialmente saturados), devido à tensão
capilar da água (pressão neutra negativa), que atrai as partículas. No caso da
saturação ou secagem total do solo a coesão aparente tende a zero
(MACCARINI, 2009).
A tabela 8 apresenta alguns valores para a coesão do solo (c) em
função da consistência da argila.

Tabela 8 – Valores para coesão do solo (𝑐).

Fonte: MACCARINI (2009) apud BOWLES (1979)

Outra maneira de obter um valor para a coesão não drenada é


correlacionar a resistência do solo com o valor do NSPT, de acordo com a
equação abaixo. Esta relação também é utilizada quando não se dispõem de
ensaios de laboratório (TEIXEIRA & GODOY, 1996 apud CINTRA et al, 2011).

𝑐 = 10 ∙ 𝑁𝑆𝑃𝑇

Onde:
 𝑐 – coesão do solo (𝐾𝑃𝑎);
 𝑁𝑆𝑃𝑇 – Índice de resistência á penetração.
5. INTERAÇÃO SOLO ESTRUTURA EM PONTES

O termo interação solo-estrutura compreende um amplo campo de


estudo e pode incluir qualquer tipo de construção que tenha a estrutura
interagindo com o solo. Estruturas como: Prédios, Pontes, Silos e muros de
arrimos caracterizam esse tipo de tratamento.
Em projetos de pontes nos reparamos com grandes solicitações,
solicitações essas verticais (carga permanente e carga móveis) e horizontais
(vento, pressão dinâmica da água, empuxo de terra sobre os pilares,
aceleração e desaceleração de veículos, entre outros) presente na estrutura,
além dos aspectos geológicos e geotécnicos. Normalmente em escritórios faz-
se o uso de fundações em concreto armado do tipo profundas (Estacas ou
Tubulões) para transferir as cargas atuantes na superestrutura para o solo.

6. MÉTODOS DE ANÁLISE PARA TRANSFERÊNCIA DE CARGAS NA ISE

Existem muitos modelos de análise da interação entre estacas e solo,


mais dois modelos se destacaram nessa analise, o modelo do meio continuo e
o modelo de meio discreto ou discretizado, esses modelos podem ser divididos
de acordo com a forma que considera o solo.

6.1. MODELOS DO MEIO CONTÍNUO

A modelagem no meio contínuo considera o deslocamento em pontos


distintos de aplicação de carga, considerando assim o efeito da continuidade
do meio, que é desprezada pelo modelo de meio discreto.
Quando se pretende analisar a distribuição de tensões ao longo do
sistema geotécnico ou mesmo os recalques das diversas camadas do maciço
de solos provenientes das cargas atuantes de uma edificação, por exemplo, a
aproximação baseada nas hipóteses de Winkler, onde o maciço de solo é
representado por um conjunto de molas, não é satisfatória.
Neste caso, torna-se necessária uma representação do solo de
maneira mais realista, de tal forma que se consiga considerar o contínuo do
solo, bem como suas diversas camadas. Almeida (2003) apresenta, em seu
trabalho dois modelos, quando se pretende fazer a consideração do sistema
geotécnico como um contínuo.
O primeiro modelo parte do manuseio das equações advindas da
Teoria da Elasticidade aplicada a um meio contínuo, homogêneo e elástico; ou
seja, uma solução analítica. Uma desvantagem da utilização de uma solução
analítica baseada nessa teoria é que as soluções encontradas são aplicáveis a
um número limitado de problemas, pois de maneira geral as equações não são
resolvidas.
Uma segunda maneira de se representar o contínuo do solo é com a
utilização dos potentes métodos numéricos; mais precisamente, com o
emprego do Método das Diferenças Finitas (MDF), do Método dos Elementos
Finitos (MEF) e do Método dos Elementos de Contorno (MEC).

6.2 MODELOS DO MEIO DISCRETO


Nos modelos do meio discreto, o solo é simulado por molas
independentes. No qual considera o maciço de solo ou sistema geotécnico não
como um sólido contínuo, mas como um conjunto de elementos isolados
(PORTO & SILVA, 2010). Dentro desta hipótese existem dois diferentes
métodos para as considerações, que seria o modelo de Winkler, no qual as
molas são consideradas com comportamento elástico linear, e as curvas (p-y),
sendo o comportamento das molas elástico não-linear.

6.2.1. MODELO DE WINKLER


O modelo de Winkler (1867) indica que a resposta do solo em um
determinado ponto independente do deslocamento da estaca em outros
pontos, ou seja, a resposta do solo é caracterizada por um conjunto de
mecanismos discretos independentes entre si.
O modelo de Winkler (Figura 5) representa o solo como um sistema
independente, com molas linearmente elásticas espaçadas entre si. A
deformação da fundação, devido ao carregamento aplicado fica confinada
somente nas regiões carregadas (CRESPO, 2004; SILVA, 2006).
Figura 5 - Modelo de Winkler.

Fonte: SILVA, 2006

Este é o modelo mais utilizado no estudo da ISE, devido a sua


simplicidade. O principal problema deste modelo é determinar a rigidez das
molas elásticas usadas para substituir o solo. Esse problema se torna duplo,
pois o valor do módulo de reação vertical não depende apenas da natureza do
solo, mas também das dimensões da área carregada. A rigidez do solo é o
único parâmetro para idealizar o comportamento físico do solo, por isso para
determiná-lo numericamente deve-se ter muito cuidado (SILVA, 2006; PORTO
& SILVA, 2010).
As limitações deste modelo estão no fato de não considerar a
dispersão da carga sobre uma área de influência gradualmente crescente com
o aumento da profundidade, e considerar o solo como tendo um
comportamento tensão-deformação linear. Entretanto a maior falha é
considerar que as molas sejam independentes, o que quer dizer a não
existência de nenhuma ligação coesiva, ou mesmo desenvolvimento de atrito
entre as partículas contidas no meio solo (SILVA, 2006; PORTO & SILVA,
2010).

6.2.2. CURVAS (P-Y)


As curvas (p-y) modelam o comportamento do solo até a sua ruptura,
através de molas não lineares. As pesquisas realizadas para o estabelecimento
das curvas (p-y) mostraram que a reação do solo desde o início da solicitação
é não-linear, sendo que dois fatores contribuem para este comportamento, que
são (VELLOSO & LOPES, 2002):

 O comportamento carga deslocamento do solo em torno da estaca. Mesmo


que o comportamento da estaca como elemento estrutural seja linear, o
comportamento do sistema solo-estaca não será;
 A medida que a resistência do solo é mobilizada na parte superior da
estaca, acréscimos de carga devem ser transferidos para maiores
profundidades onde a resistência do solo não fica totalmente mobilizada. O
momento fletor cresce mais rapidamente que a força aplicada no topo da
estaca
As curvas (p-y) representam de forma mais realista o comportamento
dos diferentes tipos de solos, e os resultados das análises efetuadas são
próximos dos resultados das provas de carga. A dificuldade deste método é o
grande tempo exigido para a preparação dos dados de entrada para a
realização dos cálculos. A plena aplicação deste método, nem sempre é
justificada e necessária (VELLOSO & LOPES, 2002)

7. PARÂMETROS PARA DESCREVER O COMPORTAMENTO DO SOLO

7.1 COEFICIENTE DE REAÇÃO HORIZONTAL DO SOLO

De acordo com Terzaghi (1955) o coeficiente de reação horizontal do


solo (kh) é a razão entre a pressão (Pr) e o seu respectivo deslocamento
horizontal (y).

𝑃𝑟
𝐾𝑕 = = 𝑛𝑕 𝑍
𝑦

Onde:
𝑛𝑕 - é o coeficiente de reação horizontal.

Para argilas sobreadensadas o coeficiente de reação horizontal é


constante com a profundidade:

𝑃𝑟
𝐾𝑕 = = 𝑐𝑡𝑒.
𝑦

A substituição do solo por molas idênticas e independentes é


facilmente compreendida para o caso de uma viga, porém isto não é tão visível
no caso de uma estaca. O solo resiste ao deslocamento horizontal por tensões
normais de compressão contra a frente da estaca e por tensões cisalhantes
atuantes nas laterais.
7.2 MÓDULO DE REAÇÃO HORIZONTAL DO SOLO

O módulo de reação horizontal do solo (K) é definido como a relação


entre a reação coeficiente de reação horizontal (Kh) multiplicação da pressão
pelo diâmetro da estaca (B).

𝐾 = 𝐾𝑕 𝐵

Essa definição ocorreu, pois para o cálculo da reação horizontal do


solo é necessário à conversão da unidade de pressão, em carga por unidade
de comprimento.

7.3 EQUACIONAMENTO DO PROBLEMA DE ESTACAS


CARREGADAS LATERALMENTE

Para determinar a equação diferencial de estacas horizontalmente


carregadas, deve-se considerar que o comportamento do conjunto solo-
fundação é semelhante ao de uma viga sob apoio elástico.
Considerando que EI é a rigidez à flexão da peça, Z é o eixo da
profundidade que coincide como eixo longitudinal da estaca e y é o
deslocamento horizontal, obtém-se os esforços internos e deslocamentos
através das seguintes equações diferenciais:

𝑑𝑦
𝑆= (𝑅𝑜𝑡𝑎çã𝑜)
𝑑𝑧

𝑑2 𝑦
𝑀 = 𝐸𝐼 2 (𝑀𝑜𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝐹𝑙𝑒𝑡𝑜𝑟)
𝑑𝑧

𝑑3 𝑦
𝑄 = 𝐸𝐼 (𝐸𝑠𝑓𝑜𝑟ç𝑜 𝐶𝑜𝑟𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒)
𝑑𝑧 3

𝑑4 𝑦
𝑃 = 𝐸𝐼 4 (𝑅𝑒𝑎çã𝑜 𝑑𝑜 𝑠𝑜𝑙𝑜 𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 𝑎 𝑣𝑖𝑔𝑎)
𝑑𝑧

A partir destas equações e após sucessivas integrações, são obtidos,


para qualquer seção da estaca, o momento fletor, o esforço cortante, a rotação
e o deslocamento horizontal.
Assim, a equação diferencial do problema, considerando as hipóteses de
Winkler é dada por:
𝑑4 𝑦
𝐸𝐼 4 + 𝐾𝑦 = 0
𝑑𝑧

Onde:
𝑝 – reação do solo;
𝑦 – deslocamento horizontal;
𝐸𝐼 – rigidez à flexão da estaca;
𝑧 – profundidade a partir da superfície e;
𝐾 – módulo de reação horizontal do solo.

Figura 6 - Comportamento de uma estaca carregada


horizontalmente e com momento aplicado no topo.

Fonte: Cintra (1982).

Esta equação diferencial tem solução analítica apenas para 𝐾


constante com a profundidade considerando o solo como argila pré-adensadas
e variável linear paras as areias, sendo que os vários métodos de cálculo da
teoria de reação horizontal diferem apenas na técnica da resolução numérica
desta equação. Os parâmetros 𝐸 e 𝐼, são em função do material e da
geometria da seção transversal da estaca (CINTRA, 2002).
8. MÉTODOS ANALÍTICOS

8.1. SOLUÇÃO DE MICHE (1930)

Pelos registros que se têm na literatura, Miche (1930) foi o primeiro


pesquisador a resolver o problema de estacas carregadas lateralmente
considerando o coeficiente de reação horizontal 𝐾𝑕 variando linearmente com
a profundidade.
Além de estabelecer a relação entre o coeficiente de reação 𝐾𝑕
horizontal e a profundidade, este método foi desenvolvido para estacas curtas
e longas carregadas no topo por uma força horizontal (𝐻).
Para isto o mesmo adotou as hipóteses simplificadores de Winkler
(1867), modelando à estaca como uma viga sobre base elástica e levando em
consideração a deformabilidade da estaca.
Assim, ao se considerar uma estaca de diâmetro ou largura 𝐵, com o
módulo de reação horizontal variando segundo a relação 𝐾𝑕 = 𝑚𝑕 𝑍 =
𝑛𝑕 𝑍 𝐵 𝐾𝑕, a equação diferencial do problema torna-se:

𝑑 4 𝑦 𝑛𝑕 𝑧
𝐸𝑝 𝐼 + 𝐵𝑦 = 0
𝑑4 𝑧 𝐵

Com a definição da rigidez relativa estaca-solo (ou comprimento


característico)

5 𝐸𝑃 𝐼 5 𝐸𝑝 𝐼
𝑇= =
𝑛𝑕 𝑚𝑕 𝐵

Onde:

𝑚𝑕 - é o coeficiente de reação horizontal do solo que considera a largura


do elemento de fundação.

A partir da equação diferencial do problema e após integrações


sucessivas desta equação são obtidas as equações de deslocamento no topo
da estaca e do momento fletor máximo, como mostradas abaixo:
Deslocamento no topo da estaca:

𝐻𝑇 3
𝑦𝑜 = 2,4
𝐸𝐼

Momento fletor máximo:

𝐿
𝑀𝑚𝑎𝑥 = 0,79𝐻𝑇 (𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎𝑠 𝑓𝑙𝑒𝑥í𝑣𝑒𝑖𝑠, ≥ 4)
𝑇
𝐿
𝑀𝑚𝑎𝑥 = 0,25𝐻𝑇 (𝑒𝑠𝑡𝑎𝑐𝑎𝑠 𝑟í𝑔𝑖𝑑𝑎, < 1,5)
𝑇

Figura 7 - Método de Miche (1930): estaca vertical submetida a uma força horizontal aplicada
no topo, coincidente com a superfície do terreno.

Fonte: Velloso e Lopes (2012).

Os esforços solicitantes, bem como o deslocamento e o diagrama de


reação nas estacas, são determinados, segundo Miche (1930), a partir da
aplicação dos coeficientes mostrados graficamente na figura acima e variando
com ao longo do eixo 𝑍 (profundidade).

8.2. SOLUÇÃO DE MATLOCK E REESE (1961)

Matlock e Reese (1961) apresentam um método de cálculo de uma


estaca solicitada, na superfície do terreno, por uma força horizontal (𝐻) e por
um momento (𝑀), no caso do módulo de reação horizontal do solo variar
linearmente com a profundidade (𝐾𝑕 = 𝑛𝑕 𝑍) e da estaca ter grande
comprimento (L/T>4) (CINTRA, 2002)
Os efeitos da carga e do momento aplicados são considerados
separadamente e, posteriormente, superpostos. Assim, se 𝑦𝐻 representa o
deslocamento horizontal devido à aplicação da carga lateral 𝐻 e o 𝑦𝑀 o
deslocamento causado pelo momento 𝑀, o deslocamento total é:

𝑦 = 𝑦𝐻 + 𝑦𝑀

Sabendo-se que o fator de rigidez relativa da estaca (T) é dado por:

5 𝐸𝐼
𝑇=
𝑛𝑕

Utilizando os princípios de análise dimensional obtêm-se, então, a


solução para o deslocamento da estaca, em uma profundidade 𝑍 :

𝑃𝐻 𝑇 3 𝑦 𝑀𝑜 𝑇 2 𝑦
𝑦= 𝐶 + 𝐶
𝑒𝑖 𝑃 𝐸𝐼 𝑀

Onde:
𝐸𝐼 - é a rigidez à flexão da estaca;
𝑦 𝑦
𝐶𝑃 e 𝐶𝑀 - são coeficientes adimensionais para os deslocamentos
devidos à aplicação de carga lateral e do momento aplicado.

O método proposto por Matlock e Reese (1961) estuda ainda vários


outros coeficientes adimensionais para os cálculos de esforços internos e
deslocamentos. Sendo a 𝐻 força horizontal aplicada e 𝑀 o momento aplicado,
os coeficientes que apresentam estes índices serão usados para o cálculo
deste tipo de esforço ou deslocamento.
Nos coeficientes adimensionais, o símbolo sobrescrito se refere ao
esforço ou deslocamento que se pretende calcular e que deve ser inserido na
respectiva equação. Desta forma, tem-se:
De modo análogo, outras soluções podem ser expressas pelas
equações:

Rotação 𝑆 :
𝑃𝐻 𝑇 2 𝑆 𝑀𝑜 𝑇 𝑆
𝑆 = 𝑆𝑃 + 𝑆𝑀 = 𝐶 + 𝐶
𝐸𝐼 𝑃 𝐸𝐼 𝑀

Momento Fletor 𝑀 :

𝑀 = 𝑀𝑃 + 𝑀𝑀 = 𝑃𝐻 𝑇𝐶𝑃𝑀 + 𝑀𝑜 𝑇𝐶𝑃𝑀

Esforço Cortante 𝑄 :

𝑀𝑜 𝑄
𝑄 = 𝑄𝑃 + 𝑄𝑜 = 𝑃𝐻 𝐶𝑃𝑄 + 𝐶
𝑇 𝑀

Reação do solo na estaca 𝑃 :

𝑀𝑜 𝑃
𝑃 = 𝑃𝑃 + 𝑃𝑀 = 𝑃𝐻 𝐶𝑃𝑃 + 𝐶
𝑇2 𝑀

Desta forma, basta consultar a Tabela 9 para se obter os valores dos C


coeficientes adimensionais do método de Matlock e Reese (1961).
Tabela 9 - Coeficientes adimensionais de Matlock e Reese.

Fonte: Matlock e Reese (1956) apud Cintra (2002).

Apesar da restrição do tipo de estaca e da variação linear do


coeficiente de reação lateral ao longo da profundidade, o método calcula,
através de coeficientes adimensionais simples, os valores dos esforços
internos e dos deslocamentos na estaca.
De acordo com Araújo (2013), as soluções de Matlock e Reese (1961)
vem sendo bastante empregadas para determinação de soluções analíticas de
problemas e comparação com os resultados de prova de carga lateral bastante
simples.

8.3. CURVAS P-Y

Os métodos apresentados anteriormente neste trabalho tratam, em sua


maioria, que o solo apresenta comportamento linear em relação a aplicação de
cargas laterais. Porém José de Lima (2001), Menezes (2007), Lade (2005)
entre outros, já apresentaram diversas justificativas para a não linearidade do
solo. As principais justificativas são:

 Solo é um meio particulado e, portanto, exibe um comportamento
tensão-deformação não linear, sendo os deslocamentos geralmente
mantidos na descarga;
 O solo apresente baixa ou nula resistência à tração;
 Verificam-se fenômenos de fluência e/ou consolidação associados à
deformação, principalmente em solos coesivos.

Portanto, verificou-se a necessidade de levar em consideração a não


linearidade na resposta do solo quando solicitado horizontalmente, o qual foi
obtido através da criação de curvas p-y, nas quais pode-se estimar o módulo
de reação do solo de acordo com o nível e a profundidade do deslocamento na
estaca. A Figura 8 ilustra a curvas p-y que definem a interação solo-estaca.

Figura 8 - a) Conjunto das curvas p-y que definem a interação solo-estaca .


b) Relação típica entre a reação do solo e o deslocamento da estaca (curva p-y);

Fonte: Santos (2008)

Neste método, o comportamento lateral da estaca é representada por


uma série de curvas, obtidas em suas respectivas profundidades Figura 8 (a).
A partir da definição deste comportamento, é possível obter os esforços
internos e configuração deformada final na aplicação de uma determinada
carga na estaca.
É importante observar que, quando submetido às solicitações de baixa
intensidade o comportamento se assemelha a um comportamento linear
elástico Figura 8 (b). Porém, as cargas que os elementos estruturais passam
para o solo, em algumas vezes, já são suficientes para que a análise não-linear
seja necessária, quando se trata de problemas de interação solo-estrutura.
Neste contexto, Curvas P-y foram elaboradas para descrever o comportamento
não-linear da interação solo-estrutura.
As curvas p-y são influenciadas pela dimensão e forma da seção
transversal da estaca, tipo do terreno, tipo de carregamento, velocidade de
carregamento, velocidade de aplicação das cargas, entre outros parâmetros
(Varatojo, 1995). Desta forma, faz-se necessário a calibração dos métodos
através de curvas p-y obtidas em ensaios de prova de carga horizontal em
estacas, ensaios in situ, e correlações empíricas baseadas em ensaios
laboratoriais (Menezes, 2007).
Os principais métodos de elaboração de curvas P-y são o Método de
Reese (1974) e o Método do Instituto Americano de Petróleo (API) (1993).

8.3.1. MÉTODO DE REESE (1974)

Reese et al (1974) apresentaram um método de obtenção de curvas P-


Y para solos não coesivos baseadas em três trechos homogêneos. O primeiro
trecho tem comportamento linear entre a resistência do solo e deslocamento, o
segundo trecho sendo uma parábola e o último trecho um reta novamente. A
Figura 9 ilustra uma representação da curva P-Y proposta por Reese et al
(1974).

Figura 9 – Representação de uma Curva P-Y de Reese et al (1974)

Fonte: Araújo (2013)


O primeiro trecho da curva (P1 na Figura 9) representa o limite até
onde o comportamento do solo é linear. Isto se deve a baixa magnitude da
carga. O segundo trecho (P2 na Figura 9) define o comportamento não linear
do solo para carregamentos de alta intensidade. O último trecho (P3 na Figura
9) da Curva P-Y proposta por Reese et al (1974) é o comportamento do solo
após o amolecimento biaxial que ocorre quando as tensões tem altas
magnitudes em solos coesivos. O limite superior do terceiro trecho da curva
representa a capacidade de carga do sistema (Pu).
A ruptura do solo em pequena profundidade é representada por uma
cunha obtida por métodos analíticos baseados no critério de ruptura de Mohr-
coulomb e não é considerada a interação entre o material constituinte da
estaca e o solo, de forma que as tensões tangenciais superficiais do sistema
não é levada em consideração para obtenção da curva.
Segundo Reese et al (1974), a inclinação do primeiro trecho (P1 na
Figura 9) é denominada de coeficiente de reação horizontal inicial (𝑛𝑕 ) e
depende da densidade relativa e ângulo de atrito. Esses valores podem
também ser estimados através do tipo de solo por meio da Tabela 10.

Tabela 10 – Valores de 𝑛 𝑕𝑖

Fonte: Araújo (2013)

A equação abaixo representa a parte parabólica da curva p-y, entre os


pontos k e m da Figura 9.
1
𝑝2 𝑦 = 𝐶𝑦 𝑛

As constantes 𝐶 e 𝑛, assim como o ponto inicial da parábola (𝑦𝑘;𝑝𝑘)


são obtidos por:
𝑝𝑚
𝐶= 1
𝑦𝑚 𝑛
𝑝𝑚
𝑛=
𝑚 ∙ 𝑦𝑚

Em que 𝑚 representa a inclinação da reta P3 situada entre os pontos 𝑚


e 𝑢.
𝑛
𝐶 𝑛−1
𝑦𝑘 =
𝑛𝑘 ∙ 𝑥

8.3.2. MÉTODO DO INSTITUTO AMERICANO DE PETRÓLEO (API)


(1993)

Instituto Americano de Petróleo (API) representa uma das maiores


fontes de pesquisa em carregamento transversal de fundações profundas. Isto
está diretamente relacionado à aplicabilidade em estruturas off-shore. O
método da API (1970) apresenta as seguintes sugestões.
Calcula-se a reação horizontal do solo em função da cota vertical como
segue:
𝑛𝑕 𝑥
𝑃(𝑦) = 𝐴" ∙ 𝑝𝑢 𝑡𝑎𝑛𝑕 𝑦
𝐴"𝑝𝑢

Onde:
𝐴" - fator que leva em conta o tipo de carregamento:
- cíclico: 𝐴′′ = 0,9
- estático: 𝐴′′ = (3,0 − 0,8. 𝑧/𝐵) ≥ 0,9
𝑝𝑢 - capacidade de carga do solo na profundidade 𝑍, determinado pelo menor
dos dois valores fornecidos pelas equações:
𝑝𝑢𝑠 = 𝐶1 𝑥 + 𝐶2 𝐷 𝑦′𝑥

𝑝𝑢𝑑 = 𝐶3 𝐷𝑦′𝑥

𝑝𝑢 = 𝑚𝑖𝑛 𝑝𝑢𝑑 ; 𝑝𝑢𝑠

Sendo os coeficientes 𝐶1 , 𝐶2 e 𝐶3 funções do ângulo de atrito,


𝑦′ é o peso especifico do solo, 𝑥 profundidade da superfície, Figura 10. Com
vistas a otimizar os cálculos estas curvas foram transformadas em tabelas e
posteriormente encontradas funções simples em função do ângulo de atrito no
desenvolvimento do trabalho, onde 𝑘 é coeficiente de reação horizontal inicial,
função da densidade relativa da Figura 11.

Figura 10 – Valores de 𝐶1 a 𝐶3

Fonte: Veloso e Lopes (2012)

Figura 11 – Valores de 𝑛𝑕𝑖

Fonte: Araújo (2013)


9. MÉTODO NUMÉRICO

9.1 Metodos dos elementos finitos

Segundo Scarlat (1993) apud Sousa e Reis (2008) aponta que, do


ponto de vista teórico, o método mais preciso para se considerar a
deformabilidade do solo é por meio de uma análise interativa tridimensional, na
qual o solo e a estrutura são idealizados como um sistema único.
O método dos elementos finitos proporciona uma melhor aproximar da
engenharia com a realidade física no sentido de computar a continuidade ou
não do meio e as não-linearidades dos materiais, além de considerar
parâmetros importantes nos cálculos como o atrito na interface estaca-solo
(Tehrani,2016; Gohtbi, 2016). Entretanto, a qualidade da resposta que se
obtém na aplicação destes métodos está diretamente relacionada aos
parâmetros de entrada do modelo e o bom conhecimento teórico do problema
(Araújo, 2013).

9.2 Programa computacional

Existe varios programas computacionais que analisa a ISE, um deles


seria o Plaxis 3D Foundation para simular o comportamento do solo solicitando
vertical e lateralmente.
Segundo Brinkgreve et al. (2007) o Plaxis 3D Foundation é um
programa de elementos finitos tridimensional cujo principal objetivo é a
realização de análises de deformação e de estabilidade para vários tipos de
estruturas de fundações (figura12) e escavações em solos e rochas, incluindo
radiers estaqueados e estruturas offshore, como estacas de sucção, podendo
também ser utilizado para outros tipos de estruturas geotécnicas.
Na resolução de um problema pelo MEF são utilizadas as
aproximações baseadas no método dos deslocamentos, método de equilíbrio e
método misto. As incógnitas principais são os deslocamentos, no método dos
deslocamentos, enquanto que no método de equilíbrio as incógnitas são as
tensões. Já o método misto apresenta como incógnitas tanto os deslocamentos
quanto as tensões.
As deformações nos nós podem ser visualizadas como malha
tridimensional deformada, deslocamentos verticais e horizontais, deformações
totais, cartesianas, volumétricas, cisalhantes e os acréscimos destes em cada
fase. Esse programa proporciona uma melhor representatividade de interação
entre os elementos constituintes do solo entre si e com o concreto com menor
esforço computacional que elementos mais elaborados.

Figura 12 - Deslocamento de estaca no Plaxis 3D.

Fonte: Google.
EXEMPLO DE CÁLCULO

O exemplo trata-se da estimativa dos deslocamentos horizontais de um


carregamento horizontal em uma estaca. A estaca é de concreto armado,
seção transversal circular de 600mm e está assente em um solo arenoso (
∅ = 25°; 𝑐 = 0; 𝛾 = 18𝐾𝑁/𝑚³) até a profundidade de 10m, mas os primeiros
metros estão acima do nível do terreno. A carga é aplicada no topo da estaca e
tem módulo de 15kN ( Figura 12).

Figura 12 – Esquema dos dados expressos no exercício.

Fonte: Próprio autor.

O método utilizado para previsão do comportamento da estaca será o


método da Curva P-y através da solução do Instituto Americano de Petróleo
(API).
Para a utilização do método, inicialmente será necessário a obtenção
da capacidade de carga (𝑃𝑢 ), que é determinada conforme Equações abaixo.

𝑝𝑢𝑠 = 𝐶1 𝑥 + 𝐶2 𝐷 𝑦′𝑥

𝑝𝑢𝑑 = 𝐶3 𝐷𝑦′𝑥
Onde Pu será o menor valor entre Pus e Pud.

Para determinar a capacidade de carga precisamos dos coeficientes


𝐶1 , 𝐶2 e 𝐶3 , obtidos a partir do ângulo de atrito do solo e consultados através da
Figura 10.
Para um ∅ = 25°, temos:

Logo:

𝑝𝑢𝑠 = 𝐶1 𝑥 + 𝐶2 𝐷 𝑦′𝑥
𝑝𝑢𝑠 = 1,2 ∙ 2,0 + 2 ∙ 0,6 ∙ 18 ∙ 2,0
𝑝𝑢𝑠 = 129,6 𝐾𝑁

𝑝𝑢𝑑 = 𝐶3 𝐷𝑦′𝑥
𝑝𝑢𝑑 = 18 ∙ 0,6 ∙ 18 ∙ 2
𝑝𝑢𝑑 = 388,8 𝐾𝑁

Então: 𝑃𝑢 = 129,6 𝐾𝑁

Determinaremos a reação horizontal do solo em função da cota vertical


como segue:

𝑛𝑕 𝑥
𝑃(𝑦) = 𝐴" ∙ 𝑝𝑢 𝑡𝑎𝑛𝑕 𝑦
𝐴"𝑝𝑢
Como a estaca é circular 𝐴” é 0,9 e 𝑛𝑕 é obtido pelo ângulo de atrito e
consultado na figura 11.

Apos obtidos todos os valores das incógnitas da equação acima, basta


variar o valor de y, para obter a Curva p-y, será adotando valores de y em um
intervalo de 0 a 0,4.

Utilizando o Excel para a Obtenção da curva:


A curva P-y não é suficiente para entender o deslocamento horizontal
da estaca em questão, portanto foi feito uma adaptação na equação da reação
horizontal, a fim de obter o deslocamento horizontal a partir da magnitude do
empuxo que o solo exerce na estaca. Essa adaptação está apresentada
abaixo.
𝑃 𝐴"𝑃𝑢
𝑦 𝑃 = 𝑡𝑎𝑛𝑕−1 ∙
𝐴"𝑃𝑢 𝑛𝑕𝑖 𝑥
REFERÊNCIAS

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estacas escavadas hélice contínua e cravadas metálicas em areia.
Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN,
2013.

CINTRA, J.C. Ângelo. Carregamento Lateral em Estacas. Oficina de Textos.


Departameto de Geotécnia, São Carlos, 2002.

COLARES, G.M. Programa para análise da interação solo-estrutura no


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SP, 2006.

CONSOLI, N. C.; MILITITSKY, J.; SCHINAID, F. Patologias das Fundações.


1ª. ed. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2005. 191p.

IWAMOTO, R. K. Alguns aspectos dos efeitos da interação solo –


estrutura em edifícios de múltiplos andares com fundação profunda.
Dissertacao de Mestrado da EESC da USP, Sao Carlos, SP, 2000.

MARCHETTI, O. Pontes em concreto armado. Editora Blusher - São Paulo,


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MATLOCK, H.; REESE, L.C. (1961). Foundation Analysis of Offshore Pile


Supported Structures. Proc. Fifth International Conference on Soil Mechanics
and Foundation;

MICHE, R.J. (1930). Investigation of Piles Subject to Horizontal Forces.


Aplication to Qualy Walls. Journal of The School of Engineering, n°4, Giza,
Egito.
PORTO, Thiago. B. Estudo da Interação de Paredes de Alvenaria Estrutural
com a Estrutura de Fundação (dissertação). Mestrado em Engenharia de
Estruturas - Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2010.

SANTOS, J.A. (2008). Fundações por Estacas – Elementos Teóricos.


Instituto Superior Técnico, Lisboa.

SCARLAT, A.S. Effect of soil deformability on rigidity: related aspects of


multistory buildings analysis. ACI Struct. J., Detroit, v. 90, n. 2, p.156-162,
1993.

SOUSA, Alex Micael Dantas de. Estudo analítico e numérico da interação


solo-estrutura em fundação de pontes. 2016. Trabalho de Conclusão de
Curso. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

TEHRANI, F. S.; PREZZI, M.; SALGADO, R. A multidirectional


semi‐analytical method for analysis of laterally loaded pile groups in
multi‐layered elastic strata. International Journal for Numerical and Analytical
Methods in Geomechanics, 2016.

VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R. Fundações Profundas. Rio de Janeiro:


COPPE/UFRJ, 2010, 472p.

WINKLER, E. (1867). Theory of Elasticity and Strength. Dominicus Prague.

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