O documento discute a divindade de Jesus Cristo segundo a Bíblia. Afirma que Cristo é plenamente Deus e homem, com naturezas distintas unidas em uma pessoa. Detalha passagens que mostram a divindade de Cristo e como Ele mesmo se via como Deus, aceitando adoração. Conclui que por Sua divindade, Deus é conhecido em Cristo e a redenção foi possível através d'Ele.
O documento discute a divindade de Jesus Cristo segundo a Bíblia. Afirma que Cristo é plenamente Deus e homem, com naturezas distintas unidas em uma pessoa. Detalha passagens que mostram a divindade de Cristo e como Ele mesmo se via como Deus, aceitando adoração. Conclui que por Sua divindade, Deus é conhecido em Cristo e a redenção foi possível através d'Ele.
O documento discute a divindade de Jesus Cristo segundo a Bíblia. Afirma que Cristo é plenamente Deus e homem, com naturezas distintas unidas em uma pessoa. Detalha passagens que mostram a divindade de Cristo e como Ele mesmo se via como Deus, aceitando adoração. Conclui que por Sua divindade, Deus é conhecido em Cristo e a redenção foi possível através d'Ele.
A Pessoa de Cristo: Sua Divindade (Doutrina Bíblica) [1/3]
Quatro declarações devem ser compreendidas e afirmadas a fim de se obter uma
imagem completamente bíblica da pessoa de Jesus Cristo: 1. Jesus Cristo é plena e completamente divino. 2. Jesus Cristo é plena e completamente humano. 3. As naturezas divina e humana de Cristo são distintas. 4. As naturezas divina e humana de Cristo estão completamente unidas em uma pessoa. A Divindade de Cristo Muitas passagens da Escritura demonstram que Jesus é plena e completamente Deus: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. […] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. (João 1.1,14) Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou. (João 1.18) Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu! (João 20.28) […] deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém! (Romanos 9.5) Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens […] (Filipenses 2.5-7) […] aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus […] (Tito 2.13) Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder […] (Hebreus 1.3) […] mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; […] Ainda: No princípio, Senhor, lançaste os fundamentos da terra, e os céus são obra das tuas mãos […] (Hebreus 1.8,10) Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo […] (2Pedro 1.1) O Entendimento de Jesus Acerca da Sua Própria Divindade Embora as passagens citadas acima claramente ensinem a divindade de Cristo, essa verdade é frequentemente desafiada. Alguns dizem que Jesus jamais reivindicou ser Deus e que tais versículos foram escritos por seus discípulos, que o divinizaram por causa do impacto que ele causara em suas vidas. Jesus, é dito, via a si mesmo tão somente como um grande mestre moral semelhante a outros líderes religiosos. Todavia, o entendimento de Jesus acerca da sua própria divindade nos Evangelhos não dá suporte a essa perspectiva. Ele claramente via a si mesmo como Deus. Isso pode ser visto primariamente de seis maneiras. 1. Jesus ensinava com autoridade divina. Ao final do sermão do monte, “estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mateus 7.28-29). Os mestres da lei no tempo de Jesus não tinham qualquer autoridade própria. A sua autoridade vinha do seu uso de autoridades anteriores. Mesmo Moisés e os demais profetas do AT não falavam por sua própria autoridade; antes, diziam: “Assim diz o Senhor”. Jesus, por outro lado, interpreta a lei dizendo: “Ouvistes o que foi dito aos antigos. […] Eu, porém, vos digo” (ver Mateus 5.22, 28, 32, 34, 39, 44). Essa autoridade divina é demonstrada com surpreendente clareza quando ele fala de si mesmo como o Senhor que julgará toda a terra e dirá aos ímpios: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade” (Mateus 7.23). Não é de admirar que as multidões estavam maravilhadas ante a autoridade com a qual Jesus falava. Jesus reconhecia que as suas palavras carregavam o peso divino. Ele admitia a autoridade permanente da lei e punha suas palavras no mesmo nível dela: “Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra” (Mateus 5.18); “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mateus 24.35). 2. Jesus tinha um relacionamento único com Deus o Pai. Quando era um jovem menino, Jesus se assentou com os líderes religiosos no templo, maravilhando as pessoas com as respostas que dava. Quando seus pais distraídos finalmente encontraram o seu adolescente “perdido”, ele respondeu dizendo: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lucas 2.49). A referência de Jesus a Deus como “seu Pai” é uma declaração radical do relacionamento único, íntimo com Deus, acerca do qual ele já tinha plena consciência. Uma afirmação semelhante feita por um indivíduo não tinha precedentes na literatura judaica. Jesus ainda levou esse tratamento pessoal singular a um outro nível ao dirigir-se a Deus o Pai usando a afetuosa expressão aramaica “Abba”. 3. A maneira preferida de Jesus referir-se a si mesmo era o título Filho do Homem. A expressão “um filho de homem” podia significar simplesmente “um ser humano”. Mas Jesus referia-se a si mesmo como o Filho do Homem (sugerindo o singular, bem- conhecido Filho do Homem), o que indicava que ele via a si mesmo como o Filho do Homem messiânico de Daniel 7, o qual haveria de governar o mundo inteiro por toda a eternidade: Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído. (Daniel 7.13-14) Jesus estabelece a sua autoridade divina como o glorioso Filho do Homem messiânico ao declarar que ele tem o poder de perdoar pecados e que é o senhor do Shabbath: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados — disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Marcos 2.10-11); “E acrescentou: O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado” (Marcos 2.27-28). 4. O ensino de Jesus enfatizava a sua própria identidade. Jesus veio ensinando o reino de Deus, no qual ele é o Rei. O seu ensino lidava com muitos tópicos, mas era, sobretudo, acerca de si mesmo que ele ensinava. A sua pergunta aos discípulos, “Quem dizeis vós que eu sou?” (Mateus 16.15), é a questão primordial do seu ministério. 5. Jesus aceitou adoração. Talvez a mais radical demonstração da certeza de Jesus quanto à sua divindade estava no fato de que, ao ser adorado, como às vezes ele foi, ele aceitava tal adoração (Mateus 14.33; 28.9,17; João 9.38; 20.28). Se Jesus não acreditasse que ele era Deus, ele deveria ter veementemente rejeitado ser adorado, como Paulo e Barnabé fizeram em Listra (Atos 14.14-15). O fato de um judeu monoteísta como Jesus aceitar adoração de outros judeus monoteístas mostra que Jesus estava consciente de possuir uma identidade divina. 6. Jesus se igualou ao Pai, e como resultado disso os líderes judeus acusaram-no de blasfêmia: Mas ele lhes disse: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também. Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus. (João 5.17-18) Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU [uma clara alusão ao nome sacro e divino de Yahweh; cf. Êx 3.14]. Então, pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e saiu do templo. (João 8.58-59) Eu e o Pai somos um. Novamente, pegaram os judeus em pedras para lhe atirar. […] Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. (João 10.30-33) Ele, porém, guardou silêncio e nada respondeu. Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu [uma referência a Daniel 7; ver ponto 3]. Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais necessidade temos de testemunhas? Ouvistes a blasfêmia; que vos parece? E todos o julgaram réu de morte. (Marcos 14.61-64) Implicações da Divindade de Cristo Porque Jesus é Deus, as seguintes coisas são verdadeiras: 1. Deus pode ser conhecido definitiva e pessoalmente em Cristo: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (João 1.18); “Quem me vê a mim vê o Pai” (João 14.9). 2. A redenção é possível e foi realizada em Cristo: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Timóteo 2.5). 3. No Cristo ressurreto, assunto e entronizado nós temos um Sumo Sacerdote que simpatiza conosco que tem um poder infinito para suprir nossas necessidades: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15). 4. Adoração e obediência a Cristo são apropriadas e necessárias. Erros Históricos Acerca da Divindade de Cristo A mais antiga e radical negação da divindade de Cristo é chamada ebionismo ou adocionismo, a qual foi ensinada por uma pequena seita judaico-cristã no primeiro século. Eles acreditavam que o poder de Deus veio sobre um homem chamado Jesus para habilitá-lo a cumprir o papel messiânico, mas que Cristo não era Deus. Uma heresia cristológica posterior e mais influente foi o arianismo (início do século IV), o qual negava a natureza eterna e plenamente divina de Cristo. Ário (256-336 d.C.) acreditava que Jesus era o “primeiro e maior dos seres criados”. A negação ariana da divindade plena de Jesus foi rejeitada pelo Concílio de Nicéia em 325. Naquele concílio, Atanásio demonstrou que, segundo a Escritura, Jesus é plenamente Deus, sendo da mesma essência do Pai. A Pessoa de Cristo: Sua Humanidade (Doutrina Bíblica) [2/3] A Humanidade de Cristo Desde o momento da concepção virginal de Jesus no ventre de Maria, a sua natureza divina foi permanentemente unida à sua natureza humana em uma e a mesma pessoa, o agora encarnado Filho de Deus. A evidência bíblica para a humanidade de Jesus é forte, mostrando-nos que ele possuía um corpo humano, uma mente humana, e experimentou a tentação humana. Jesus teve um nascimento humano e uma genealogia humana: “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4-5). Jesus possuía um corpo humano que experimentou crescimento (Lucas 2.40, 52), assim como suscetibilidades físicas, a exemplo de fome (Mateus 4.2), sede (João 19.28), cansaço (João 4.6) e morte (Lucas 23.46). Como um homem velho, o apóstolo João ainda estava maravilhado ante o fato de que a ele fora dado experimentar Deus o Filho em carne. Como uma criança exultante, ele continua repetindo para si mesmo à medida que descreve a encarnação: O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com os nossos próprios olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam, com respeito ao Verbo da vida (e a vida se manifestou, e nós a temos visto, e dela damos testemunho, e vo-la anunciamos, a vida eterna, a qual estava com o Pai e nos foi manifestada), o que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós, igualmente, mantenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. (João 1.1-3) João sabia acerca da encarnação há mais de 50 anos quando escreve essa carta, mas, ainda assim, ele escreve com maravilhado assombro à medida que reflete sobre o caminhar nas praias da Galileia, pescar, comer, rir e ter os seus pés lavados por um carpinteiro que era Deus em carne! Jesus continua a ter um corpo físico em seu estado ressurreto, e ele esforçou-se sobremaneira para assegurar que os seus discípulos entenderiam isso: “Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24.39; cf. Lucas 24.42; João 20.17, 25-27). Após a sua ressurreição, Jesus voltou para o Pai, ascendendo em seu corpo divinamente reanimado perante os olhos maravilhados dos seus discípulos, assim testificando a sua plena e contínua humanidade física (Lucas 24.50-51; Atos 1.9-11). A ascensão tem sido incluída em cada credo relevante da igreja porque ela ensina a completa e permanente humanidade de Jesus como o único mediador entre Deus e o homem. Jesus tinha uma mente humana, a qual, segundo a vontade do Pai, possuía limitações em conhecimento: “Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai” (Marcos 13.32). A sua mente humana crescia e amadurecia em sabedoria (Lucas 2.52), e ele até mesmo “aprendeu a obediência” (Hebreus 5.8-9). Dizer que Jesus “aprendeu a obediência” não significa que ele se moveu da desobediência para a obediência, mas que ele cresceu em sua capacidade de obedecer à medida que suportou os sofrimentos. Jesus experimentou tentação humana: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hebreus 4.15; cf. Lucas 4.1-2). Embora Jesus tenha experimentado toda sorte de tentação humana, ele nunca sucumbiu ao pecado (João 8.29, 46; 15.10; 2Coríntios 5.21; Hebreus 7.26; 1Pedro 2.22; 1João 3.5). Jesus praticava disciplinas espirituais. Ele regularmente orava com paixão (Marcos 14.36; Lucas 10.21; Hebreus 5.7), adorava nos cultos na sinagoga (Lucas 4.16), lia e memorizava a Escritura (Mateus 4.4-10), praticava a disciplina da solidão (Marcos 1.35; 6.46), observava o Shabbath (Lucas 4.16), obedecia às leis cerimoniais do AT (João 8.29, 46; 15.10; 2Coríntios 5.21; Hebreus 4.15), e recebia a plenitude do Espírito (Lucas 3.22; 4.1). Essas atividades religiosas eram desempenhadas com diligência (Hebreus 5.7) e habitualidade (Lucas 4.16) como os meios de um processo de crescimento espiritual verdadeiramente humano. Dada a natureza divina de Jesus, a normalidade da maior parte de sua vida terrena é surpreendente. Aparentemente, Jesus passou os primeiros 30 anos de sua vida em relativa obscuridade, fazendo trabalhos manuais, cuidando de sua família e sendo fiel em qualquer coisa que o seu Pai o chamasse a fazer. Em seu ministério público, Jesus operou sinais miraculosos e dispensou ensino autoritativo que poderia vir apenas de Deus, e isso foi chocantemente ofensivo para as pessoas de sua cidade natal, as quais viam a simplicidade e humildade de Jesus como incompatíveis com a sabedoria e o poder messiânicos: “E, chegando à sua terra, ensinava-os na sinagoga, de tal sorte que se maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos? Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto? E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa” (Mt 13.54-57). Jesus não deixou de ser plenamente humano após a ressurreição. Ele será homem eternamente, à medida que ele representa a humanidade redimida por toda a eternidade (Atos 1.11; 9.5; 1Coríntios 9.1; 15.8; 1Timóteo 2.5; Hebreus 7.25; Apocalipse 1.13). Implicações da Humanidade de Cristo É evidente que os homens têm sido continuamente pecaminosos desde a queda. Portanto, é fácil assumir que ser pecaminoso é uma parte essencial e necessária de ser um “ser humano”. Mas isso não é verdade. Jesus era humano e, ainda assim, ele não pecou. O fato de que ele se tornou homem revela a natureza da verdadeira humanidade. A sua humanidade nos dá um vislumbre de como seria a nossa humanidade, caso ela não houvesse sido manchada pelo pecado. Ele nos mostra que o problema com a humanidade não está em sermos humanos, mas em sermos caídos. A natureza humana de Jesus mostra o potencial da humanidade tal como Deus intencionou. Essa demonstração da humanidade sem pecado reafirma a declaração de Deus de que a criação em todas as suas dimensões originais (material e espiritual), incluindo a humanidade, é, por definição divina, muito boa (Gênesis 1.31). A humanidade de Jesus habilita a sua obediência representativa em nosso favor. “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida. Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos” (Romanos 5.18-19). Porque Jesus é verdadeiramente humano, a sua vida perfeita de obediência e triunfo sobre todas as tentações – culminando em sua perfeita morte substitutiva – pode tomar o lugar da rebelião e do fracasso humanos. Por causa da humanidade de Jesus, ele pode verdadeiramente ser um sacrifício substitutivo pela raça humana. “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus 2.17). Um homem morreu na cruz quando Jesus morreu, e a sua morte verdadeiramente é a expiação pelo pecado de seres humanos, de cuja natureza ele participou. A humanidade de Jesus faz dele o único mediador eficaz entre Deus e o homem: “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Timóteo 2.5). As naturezas divina e humana de Jesus o habilitam a se colocar na brecha entre homens caídos e um Deus santo. A humanidade de Jesus o habilitou a tornar-se um Sumo Sacerdote empático, que experiencialmente entende a difícil condição da humanidade em um mundo caído: “Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hebreus 4.15-16; cf. Hebreus 2.18). A humanidade de Jesus significa que ele é um verdadeiro exemplo e modelo para o caráter e a conduta dos homens. “Porquanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos” (1Pedro 2.21; cf. 1João 2.6). Erros Históricos Acerca da Humanidade de Cristo Uma heresia do segundo século chamada docetismo negava a verdadeira humanidade de Cristo. O docetismo (do verbo grego dokeō, “aparentar, parecer-se com”) baseava-se nas pressuposições do gnosticismo, o qual sustentava uma dicotomia radical entre os reinos físico e espiritual, bem como uma visão muito negativa da ordem física como sem valor e desprezível. Essas crenças conduziram a uma negação de que houvesse qualquer substância física real na humanidade de Jesus. A cristologia docética ensinava que a humanidade física de Jesus era apenas uma ilusão; uma de suas afirmações era que “quando Jesus caminhava na praia, ele não deixava pegadas”. O docetismo tem efeitos devastadores sobre uma correta visão de Cristo, da salvação, da revelação e da criação. Nessa perspectiva, Cristo não representa a humanidade em sua obra expiatória, tampouco nos revela Deus em forma humana. Tal ensino também destrói uma visão biblicamente positiva da criação, conduzindo a uma perspectiva negativa ou indiferente acerca da vida no corpo. O NT refuta as sementes do que viria a se tornar o gnosticismo, com a sua visão docética de Cristo. João condena severamente qualquer visão que negue a humanidade plena, física de Cristo: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1João 4.2). O apolinarianismo foi outra heresia primitiva que negava a humanidade plena de Cristo. Apolinário (século IV d.C.) acreditava que os seres humanos possuíam corpos, almas animais e espíritos racionais. Ele ensinava que o logos divino em Cristo tomou o lugar do espírito racional presente nos homens. Essa visão foi refutada de modo bem-sucedido no quarto século por Gregório de Nisa e Atanásio, bem como rejeitada no Concílio de Constantinopla em 381 d.C.. O concílio demonstrou que se Jesus fosse apenas, digamos, dois terços humanos, a plena redenção de pessoas plenamente humanas não seria possível. Na citação célebre de Gregório, “aquilo que Ele não assumiu Ele não curou; mas aquilo que está unido à Sua Divindade também está a salvo”. Jesus deveria assumir cada elemento da natureza humana a fim de redimir completamente a humanidade. Essas duas heresias ensinam os crentes a apreciarem a importância da humanidade de Cristo, bem como proporcionam uma lição acerca do método teológico. Ambas essas visões se aproximam da Bíblia com pressuposições acerca da humanidade e conformam o ensino bíblico a elas, ao invés de permitirem que a Escritura governe todas as coisas, incluindo as pressuposições. O método teológico evangélico deve sempre permitir que o ensino da Escritura molde as conclusões teológicas, ao invés de distorcer o seu ensino com base em assunções estranhas a ela. Inúmeros erros teológicos tem ocorrido pela imposição de ideias humanas à Bíblia. A Pessoa de Cristo: As Duas Naturezas (Doutrina Bíblica) [3/3] A Distinção e a Unidade das Duas Naturezas de Cristo Paralelamente à plena divindade e humanidade de Jesus, a terceira e a quarta afirmações necessárias da cristologia bíblica são que na encarnação, as naturezas divina e humana permanecem distintas, e as naturezas são completamente unidas em uma pessoa. A melhor evidência dessas duas realidades são as passagens da Escritura nas quais a glória divina e a humildade humana de Jesus são apresentadas conjuntamente: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9.6). “é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2.11). “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (João 1.14). “com respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” (Romanos 1.3-4). “sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória” (1Coríntios 2.8). “vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gálatas 4.4-5). Esses versículos apresentam o profundo mistério do eterno e infinito Filho de Deus adentrando no tempo e no espaço e assumindo a natureza humana. Não existe pensamento mais grandioso no qual possamos ponderar do que esse. Implicações das Duas Naturezas de Cristo A crença de que Jesus é uma pessoa com duas naturezas, humana e divina, tem um grande significado para a possibilidade de pessoas caídas entrarem em um relacionamento com Deus. Cristo deve ser ao mesmo tempo Deus e homem para que possa ser o mediador entre Deus e o homem, fazer expiação pelo pecado, e ser um Sumo Sacerdote empático: “porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus” (Colossenses 1.19-20). “Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Timóteo 2.5). “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes a Deus e para fazer propiciação pelos pecados do povo” (Hebreus 2.17). Em sua obra seminal Por Que Deus Se Tornou Homem, Anselmo da Cantuária (1033 – 1109 d.C.) sintetizou a importância das duas naturezas de Cristo para a sua obra expiatória ao dizer: “É necessário que a mesma e a própria Pessoa que há de realizar essa satisfação [pelos pecados da humanidade] seja perfeito Deus e perfeito homem, uma vez que Ele não pode fazê-lo a menos que seja de fato Deus, e a Ele não convém fazê-lo a menos que seja de fato homem” (Livro II, cap. 7). Erros Históricos Acerca da Unidade das Naturezas de Cristo Há seis heresias históricas relacionadas à pessoa de Cristo listadas na tabela abaixo. As primeiras quatro heresias estão descritas acima. O nestorianismo enfatizava a distinção entre as naturezas de Cristo de tal modo que fazia parecer que Cristo era duas pessoas em um corpo. O eutiquianismo enfatizava a unidade das naturezas ao ponto em que todas as distinções entre elas se perdiam, e Cristo era visto como alguma entidade nova, com uma única natureza, maior do que meramente homem, sendo plenamente Deus em uma novo modo. Em 451 d.C., líderes da igreja se reuniram na Calcedônia (fora da antiga Constantinopla) e escreveram um credo afirmando tanto a plena humanidade como a plena divindade de Jesus, com as suas duas naturezas unidas em uma pessoa. Esse credo, formulado na Calcedônia, tornou-se a afirmação fundamental da igreja acerca de Cristo. O Credo Calcedônico é lido como segue: “Nós, portanto, seguindo os santos pais, todos perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e o mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, possuindo alma racional e corpo; consubstancial com o Pai, segundo a divindade, e consubstancial conosco, segundo a humanidade; em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado; gerado antes de todos os séculos pelo Pai segundo a divindade, e, nestes últimos dias, por nós e por nossa salvação, nascido da Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a humanidade; um só e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar em duas naturezas, inconfundíveis, imutáveis, indivisíveis, inseparáveis e indivisíveis; a distinção da naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só Pessoa e Subsistência; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus o Verbo, Jesus Cristo o Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.” Implicações da Cristologia Calcedônica O Credo Calcedônico ensina a igreja como falar acerca das duas naturezas de Cristo sem cair em erro. Em particular, ele ensina a igreja a afirmar que: 1. Uma natureza de Cristo às vezes é vista fazendo coisas das quais a outra natureza não compartilha. 2. Qualquer coisa que uma das naturezas fizer, a pessoa de Cristo a faz. Ele, o Deus encarnado, é o agente ativo em todo o tempo. 3. A encarnação significa que Cristo adquire atributos humanos, não que ele abriu mão dos atributos divinos. Ele se despiu da glória da vida divina (2Coríntios 8.9; Filipenses 2.6), mas não a possessão dos poderes divinos. 4. Nós devemos olhar primeiro para os relatos do ministério de Jesus nos Evangelhos, a fim de vermos a encarnação em atividade, ao invés de seguirmos especulações moldadas por assunções humanas errôneas. 5. A iniciativa para a encarnação veio de Deus, e não do homem. Embora esse credo não resolva todas as questões acerca do mistério da encarnação, ele tem sido aceito por católicos romanos, ortodoxos e pelas igrejas protestantes ao longo da história, e nunca necessitou de qualquer alteração significativa porque ele eficazmente articula a tensão bíblica entre as duas naturezas de Cristo, completamente unidas em uma pessoa.