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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2018.0000408288

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2074578-70.2018.8.26.0000, da Comarca de Guararapes, em que é agravante
COOPERATIVA DE CRÉDITO DOS FORNECEDORES DE CANA E
AGROPECUARISTAS DA REGIÃO OESTE PAULISTA - SICOOB COOPCRED, são
agravados CARLOS SENO NETO, LUIZ GUSTAVO POLETO SENO e CARLOS
FABRÍCIO POLETO SENO (POR CURADOR).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUCILA TOLEDO


(Presidente) e ELÓI ESTEVÃO TROLY.

São Paulo, 4 de junho de 2018.

Mendes Pereira
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 16617
Agravo de instrumento nº 2074578-70.2018.8.26.0000
Agravante: Coopcred - Cooperativa de Crédito dos Fornecedores de Cana e
Agropecuaristas da Região Oeste Paulista
Agravados: Carlos Seno Neto e outros
Comarca: Guararapes
15ª Câmara de Direito Privado

FRAUDE À EXECUÇÃO - Inocorrência - Já prevalecia o


entendimento com base na Súmula 375 do STJ no sentido de ser
necessária a comprovação do registro da penhora ou a
demonstração da má-fé do adquirente ao tempo em que houve a
alienação imobiliária - Boa-fé que se presume e não a má-fé -
Decisão mantida - Agravo de instrumento desprovido.

Cuida-se de agravo de instrumento interposto diante da r. decisão de fls.


01/04 que rejeitou pretensão de reconhecimento de fraude à execução formulada pela ora
agravante sob o argumento de que tal depende de prévio registro da penhora do bem
alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente, realizado o pedido de averbação da
penhora após a alienação dos imóveis.

Aduz a agravante que a decisão haveria que ser reformada, já que na época
do início da execução (2007) vigia o art. 593, inciso II do CPC de 1973 que não impunha
tal exigência. A má-fé dos agravados, ao se desfazerem do patrimônio, seria evidente.
Assim que cancelada a hipoteca em proveito do Banco do Estado de São Paulo, o devedor
alienou o bem.

É o relatório.

Prova da má-fé do adquirente não há, não se presumindo esta. Ao contrário,


a boa-fé é que se presume (Bona fides semper praesumitur nisi mala adesse probetur).

Não vinga a alegação de que deveria ser aplicado o entendimento de que


bastaria a citação válida para se evidenciar a fraude à execução.

Quando a lei nova atinge um processo em andamento, nenhum efeito tem


sobre os fatos ou atos ocorridos sob o império da lei revogada. Alcança o processo no
estado em que se achava no momento de sua entrada em vigor, mas respeita os efeitos dos
atos já praticados, que continuam regulados pela lei do tempo em que foram consumados. 1

Em suma: As leis processuais são de efeito imediato perante os feitos


pendentes, mas não são retroativas, porque os atos posteriores à sua entrada em vigor é que
se regularão por seus preceitos. Tempus regit actum.

1
Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas, 3ª ed., São Paulo, Max Limonad, 1971, v. I, n. 23, p. 51.
Agravo de Instrumento nº 2074578-70.2018.8.26.0000 - Guararapes - Voto nº 16617 - MP 2
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Deve-se, pois, distinguir, para aplicação da lei processual nova, quanto aos
processos: a) exauridos: nenhuma influência sofrem; pendentes: são atingidos, mas respeita-
se o efeito dos atos já praticados; c) futuros: seguem totalmente a lei nova. 2

E o que se deve considerar é que a norma que resolveu a questão


interpretativa acerca da norma jurídica é a Súmula 375 da Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça de 18.03.2009, publicada no Diário Oficial de 30.03.2009 e publicada
nos anais daquela Corte (RSSTJ vol. 33, p. 321 e RSTJ vol. 213, p. 553).

Ao contrário do alegado, o que se exige é a prova da má-fé do adquirente e


não apenas do alienante.

Neste sentido a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

"A respeito da alegada fraude à execução, ressalte-se que o Superior


Tribunal de Justiça, em julgamento submetido ao rito dos recursos repetitivos, consolidou
o entendimento no sentido de que a alienação de bens realizada antes da vigência da LC n.
118/2005 (9/6/2005) presumia-se em fraude à execução se o negócio jurídico fosse
posterior à citação do devedor; após 9/6/2005, configura-se fraudulenta a alienação
efetivada pelo devedor após a regular inscrição do crédito tributário em dívida ativa. Aplica-
se esse entendimento ainda que em casos de sucessivas alienações, sendo desnecessário
provar a má-fé do terceiro adquirente. Nesse sentido: AgInt no AREsp 936.605/SC, Rel.
Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/11/2016, DJe
23/11/2016; AgRg no REsp 1525041/RN, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/8/2015, DJe 28/8/2015; AgRg no
AREsp 135.539/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA,
julgado em 10/12/2013, DJe 17/06/2014" (AgInt no REsp 1665558/PR, Rel. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, 2ª TURMA, julgado em 21/03/2018, DJe 26/03/2018);

"A jurisprudência desta Corte encontra-se consolidada no sentido de que a


simples existência de ação em curso no momento da alienação do bem não é suficiente para
evidenciar a fraude à execução, sendo necessário, caso não haja penhora anterior
devidamente registrada, que se prove o conhecimento da referida ação judicial pelo
adquirente para que se possa considerar caracterizada a sua má-fé, bem como o conluio
fraudulento. Para que seja reconhecida a fraude à execução, é necessário o registro da
penhora do bem alienado ou a prova de má-fé do terceiro adquirente. Súmula n° 375/STJ"
(AgInt no AREsp 1140622/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 05/12/2017, DJe 19/12/2017).

A questão já foi apreciada por aquela Corte Superior por Recurso Repetitivo
Representativo de Controvérsia, tema 243:

"Para fins do art. 543-c do CPC, firma-se a seguinte orientação: 1.1. É

2 Humberto Theodoro Jr. Curso de Direito Processual Civil, vol. I, Forense, 59ª ed., 2017, RJ, pp. 38/39.
Agravo de Instrumento nº 2074578-70.2018.8.26.0000 - Guararapes - Voto nº 16617 - MP 3
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indispensável citação válida para configuração da fraude de execução, ressalvada a


hipótese prevista no § 3º do art. 615-A do CPC. 1.2. O reconhecimento da fraude de
execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro
adquirente (Súmula n. 375/STJ). 1.3. A presunção de boa-fé é princípio geral de direito
universalmente aceito, sendo milenar a parêmia: a boa-fé se presume; a má-fé se prova.
1.4. Inexistindo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus da prova de
que o terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à
insolvência, sob pena de tornar-se letra morta o disposto no art. 659, § 4º, do CPC. 1.5.
Conforme previsto no § 3º do art. 615-A do CPC, presume-se em fraude de execução a
alienação ou oneração de bens realizada após a averbação referida no dispositivo" (REsp
956.943/PR, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Min. JOÃO OTÁVIO DE
NORONHA, CORTE ESPECIAL, j. 20/08/2014, DJe 01/12/2014).

Também foi sumulada a matéria naquela Corte: Súmula 375: "O


reconhecimento de fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou
da prova da má-fé do terceiro adquirente".

Diante do exposto, nega-se provimento ao agravo de instrumento.

MENDES PEREIRA
Relator

Agravo de Instrumento nº 2074578-70.2018.8.26.0000 - Guararapes - Voto nº 16617 - MP 4

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