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Quando os Deuses ouvem o chamado: O Potencial Conservador Revolucionário da Arte Black

Metal
por Elena Semenyaka

I - Black Metal: Uma subcultura ou uma contracultura? Bases metodológicas da investigação

O Black Metal partilha do destino de todos os fenômenos complexos e multifacetados que


transcendem suas identidades estreitas de gênero e, similarmente à filosofia de Hegel que é capaz de
"apreender uma época pelo pensamento", estão sempre na frente de nosso tempo, ou pela afirmação
ou pela rejeição total das bases espirituais da época em que vivemos. Ambos demandam uma
habilidade de olhar à distância. Como produto inquestionável da modernidade, o Black Metal ao
mesmo tempo firmemente sentencia o mundo moderno à morte. Não somente em relação ao
Cristianismo, esse é o grande "Anti" a tudo que se acredita ser de qualquer valor para o membro
médio da sociedade ocidental: das noções convencionais de bem e beleza ao próprio Ser metafísico.
Em outras palavras, o Black Metal à primeira vista é a própria corporificação de uma fase niilista
ativa em um processo metafísico de transvaloração de todos os valores anunciado por Friedrich
Nietzsche.

Essa é uma segunda razão pela qual o Black Metal é majoritariamente definido puramente de modo
apofático, isto é dizendo o que ele não é e o que é o objeto de sua negação. A primeira razão eu já
mencionei: apesar da descrição comum do Black Metal em termos de uma subcultura, é mais
correto classificá-la como uma contracultura dirigida a cancelar toda a era contemporânea. Muitos
sociólogos discordariam, porque alguns deles partilham da ideia de que o Cristianismo primitivo foi
a única contracultural plenamente bem sucedida na história europeia, que de fato derrubou os
valores da época anterior, enquanto os aderentes do Black Metal, tanto criadores do gênero como
fãs comuns, estão totalmente integrados no sistema social atual, apoiam seus códigos culturais e
nunca questionam seus axiomas existenciais.

De fato, hoje somente a negação do holocausto é contada como algo subversivo que rompe um
acordo social fundamental; leitores atentos de Ernst Jünger sabem que tudo o mais se torna
incorporado de volta no Sistema como "manifestações de liberdade". Portanto, o Black Metal pode
ser considerado apenas como subcultura, o que é exagerado em muitas paródias infames que
revelam o caráter infantil e finalmente primitivo dos auto-proclamados "true blackers" que não
conseguem lidar nem mesmo com seus pais. Indubitavelmente, essas observações não são carentes
de embasamento e são basicamente endossadas dentro do próprio movimento, que desenvolveu suas
próprias maneiras de regulação social de modo a expulsar da comunidades posers, modistas e
vendidos que apareceram após os eventos escandalosos na história primitiva do Black Metal.

Porém, eu gostaria de sublinhar que essa investigação não é sociológica; de outro modo, eu teria
que me deter completamente após afirmar que a cena Black Metal se degradou há muito tempo e
assim não haveria lugar para fantasiar. Em outras palavras, eu não vou me referir ao que o Black
Metal é, mas ao que ele deveria ser segundo os pioneiros do movimento Black Metal e àqueles que
permanecem devotados à tradição. Nesse caso, eu considero como único método sociológico
adequado a Verstehende Soziologie (Sociologia Interpretativa) de Max Weber que objetiva
compreender certos fenômenos culturais desde dentro, os descreve em seus próprios termos e opera
com a noção de tipo ideal. Este dá a oportunidade de evitar preconceitos do pensamento positivista
e legitimamente aplicar os construtos mentais heurísticos derivados dos dados empíricos para uma
melhor análise da realidade. O exemplo mais famoso do tipo ideal é a "ética protestante" usada por
Weber como chave para explorar a emergência e essência do capitalismo em sua lendária obra, "A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", que fornece uma alternativa frutífera para a
explicação histórico-materialista popular de Karl Marx. Assim sendo, nosso tipo ideal é chamado
"Arte Black Metal" ou simplesmente "Black Metal".

Enquanto tal, esse método é bastante similar à abordagem hermenêutico-filosófica desenvolvida


por Martin Heidegger e seu discípulo Hans-Georg Gadamer que rejeita o próprio termo "método"
como um resquício científico-naturalista nas Geisteswissenchaften (ciências humanas). Segundo a
interpretação filosófica heideggeriana do conceito clássico de círculo hermenêutico ("para
compreender o todo, nós precisamos compreender as partes e vice-versa"), a tarefa não é encontrar
o caminho para fora do círculo, mas ao invés entrar nele corretamente já que esse círculo é o da
nossa existência. Em palavras simples, nós ("Dasein" como "Ser-no-Mundo") sempre
compreendemos certos fenômenos desse ou daquele jeito, assim nosso único dever é explicar nossas
suposições ou, na expressão de Gadamer, nossa "antecipação da perfeição". Isso é o que farei nesse
trabalho, ainda que eu tenha que admitir que em alguns casos nós lidaremos com tamanho nível de
auto-reflexão demonstrado por artistas do Black Metal que o pesquisador com gratidão se
transforma em mero comentador: considere o DVD "Opus Diaboli" lançado em maio de 2012 pela
banda sueca Watain e sinta a diferença entre as interpretações do vocalista do Watain e aquelas
dadas na maioria dos documentários de Black Metal, entrevistas e investigações temáticas. A vasta
maioria das fontes ainda são muito desapontadoras ou insuficientes.

II - Estética e Metafísica vs. Ideologia e Política do Black Metal - Direções Principais dentro do
Movimento Black Metal

Assim, qual é o ponto de partida para essa pesquisa? Desde Aristóteles é claro que o caminho mais
curto para a essência de uma coisa reside em sua definição. Mas, novamente, há majoritariamente
somente definições negativas do Black Metal que de fato refletem a grandeza e intensidade do
fenômeno mas dizem pouco sobre sua ideia central. Por exemplo, a significância epocal e
contracultural dela pode ser facilmente inferida a partir das conhecidas tentativas de esclarecer a
essência do Black Metal como "não sendo somente um outro gênero musical", "não sendo
meramente música", "não sendo entretenimento/negócio". Outro conjunto de definições negativas
devido à orientação niilista do Black Metal também é amplamente reconhecida: se crê ser
antirreligioso, especialmente anti-cristão, antissocial, misantrópico, blasfemo, e daí em diante.

Similarmente, todos os esforços intelectuais de articular o que o Black Metal é ao invés do que ele
não é usualmente terminam com apelos a certos espectros de humores e emoções ("sombrio",
"melancólico"), às vezes a certos conceitos altamente metafóricos ("mal", "feiúra", "guerra") ou à
estética Black Metal conhecida sob a frase bem estabelecida "Arte Black Metal". Essa expressão,
porém, levanta outras questões já que o Black Metal é representado como "arte pela arte" somente
se por isso se pretende dar a entender algo como Arte Suprema que porta conotações ocultistas
explícitas, o que é o exato oposto dessa abordagem. De outro modo, se é bem vindo a ingressar em
debates infinitos em relação aos princípios básicos da ideologia do Black Metal, que estão
majoritariamente centrados no Satanismo.

Dependendo do que seja considerado o objeto de negação ou o inimigo contra o qual a Guerra é
travada ("Black Metal ist Krieg"), existem diferentes tendências ideológicas dentro do movimento
Black Metal, que regularmente causam duras discordâncias entre seus membros: niilismo radical e
ateísmo que se apresentam por trás de uma estética satanista e às vezes se sobrepõem a um social
darwinismo laveyano; uma linha ocultista, que normalmente está ligada ao Caminho da Mão
Esquerda; Satanismo Teísta (religião do Deus/Diabolus Absconditus) que beira o Gnosticismo e
doutrinas similares, por um lado, e cultos pagãos arcaicos que podem ser ligados ao
"Luciferianismo Ariano", por outro; variações do Paganismo, do Panteísmo a hinos védicos, que são
principalmente desenvolvidos dentro de subgêneros como Folk Black Metal ou Viking Black Metal,
e mesmo "Unblack" Metal cristão, sem mencionar bandas inovadoras ou baseadas em sua própria
"filosofia". Naturalmente, nós podemos imaginar legitimamente que direção é mais representativa
do movimento ou que de modo algum deveriam deixar de estar associados com ele como algo que
transcende os limites desse tipo ideal.

Outra maneira de preencher os vazios entre as definições apofáticas consiste em apontar para um
sentimento místico ou mesmo religioso da Weltanschauung do Black Metal, seu "espírito" especial.
Referências à experiência teofânica que subjaz a explicação racional, entre outras, podem ser
encontradas na entrevista com a banda de Black Metal francês Deathspell Omega:

"Alguns de nós tivemos uma criação religiosa de fato, e esses obviamente passaram pela fase
inicial de negação global, enquanto outros foram criados sob o signo da racionalidade. Que nós
todos eventualmente experimentamos uma teofania avassaladora é algo muito difícil de explicar em
termos racionais. Há obviamente argumentos culturais, qualquer um que passou por longos estudos
universitários receberam chaves - e isso apesar do fato de que a maioria das universidades no
mundo ocidental são na verdade fortalezas do igualitarismo humanitário - e nós escolhemos não
ignorar essas chaves, enquanto a maioria das pessoas fazem o que preferem fazer para permanecer
em harmonia com o Zeitgeist atual". [1]

Tais descrições puramente fenomenológicas poderiam dissolver fronteiras de gênero, e ainda assim
nós sentimos que o Black Metal possui seu núcleo positivo que o distingue estritamente de gêneros
fronteiriços e podem ser formulados de modo bastante simples. Portanto, ainda que somente a cena
do Black Metal Nacional-Socialista (NSBM) e seus raros análogos esquerdistas sejam notáveis por
envolvimento político direto, o Black Metal como um movimento contracultural de grandes
ambições mas com fronteiras cuidadosamente guardadas é político por excelência, político no
sentido de Carl Schmitt da distinção entre amigo e inimigo, que significa o grau último de
associação e dissociação entre "nós" e "eles". Uma abordagem altamente seletiva à pertença
potencial na comunidade Black Metal, é claro, é mais eloquente do que inerente em qualquer
prioridade de formação estética genuína de expressão artística e abomina clichês ideológicos rígidos
e externos, sejam eles políticos ou de outro tipo.

Ao mesmo tempo, bandas ucranianas de Black Metal como Nokturnal Mortum, Kroda, Drudkh ou
Hate Forest, que atualmente constituem uma das mais aclamadas cenas de NSBM no mundo, senão
a mais, ainda que elas possam se introduzir como grupos simplesmente patrióticos e preocupados
com a preservação da herança tradicional (outra estimada banda-de-um-homem Lutomysl foi
descrita em uma entrevista recente por Pavel Shishkovskiy, que inveja pessoas "cujos únicos
problemas se resumem à presença de judeus ou negros", como NEONSDSBM [2]), dificilmente
poderiam ser consideradas como do tipo que impõem restrições nos modos de expressão de modo a
se adequar a necessidades ideológicas. Acima de tudo, elas receberam reconhecimento por todo o
mundo graças a suas obras musicais.

Em um sentido estreito, o Black Metal como a guerra total contra o mundo moderno não pode se
livrar das implicações políticas também, ainda que a maioria dos crimes na história inicial do Black
Metal tenham sido cometidos por razões pessoais, e não políticas [3]. Similarmente, se pode
singularizar tanto as tendências esquerdistas como direitistas desde o próprio nascimento do
movimento Black Metal representados pelo satanista Oystein Aarseth "Euronymous" do Mayhem,
que simpatizava com o extremismo de esquerda, e Varg Vikernes do Burzum como estudioso da
antiga religião nórdica, e aderente do paganismo como uma figura de autoridade nos círculos
contemporâneos de direita (entre suas influências estão Knut Hamsun, Oswald Spengler e Julius
Evola), que se distanciou do satanismo e de toda a cena Black Metal após os novatos terem
começado a explorar as ideias originais e a estética inventadas por pioneiros meramente por seu
valor de choque ou para um propósito comercial. Falando retrospectivamente, não é de surpreender
que o Euronymous tenha sido morto por Vikernes em 1993, o que é considerado como "o início do
fim" seguido pelo rompimento e crescente comercialização da cena (considerem a música do
Nargaroth "The Day Burzum Killed Mayhem"). Por outro lado, eu não diria que há um conflito
irresolvível dessas duas tendências, ou ao menos que não haja tal posição metafísica que as integre
em um nível superior.

De fato, é possível se opor ao mundo moderno e sua encarnação simbólica o Cristianismo tanto "da
esquerda" como "da direita". Ademais, ainda que liberação, niilismo, anticlericalismo (lembremos
dos famosos incêndios de igreja na Noruega), etc. sejam normalmente associados com a esquerda,
mesmo aqueles grupos de Black Metal que se atém ao Caminho da Mão Esquerda (por exemplo, a
banda polonesa Behemoth) não correspondem necessariamente com a esquerda política, seja do
marxismo cultural ou clássico. Usualmente o inverso é verdadeiro ou elas simplesmente vão além
da política. Essa ambivalência também é visível em um nível estético: símbolos "direitistas" de
Império, Ri, Deus, etc., não são menos populares do que conceitos "esquerdistas" de Ausência de
Lar, Vazio, Rebelião, e daí em diante.

Benjamin Noys, que também abordou a questão da política no movimento Black Metal, não
acidentalmente usou como estudo de caso as respostas de entrevista de Sale Famine da banda
francesa Peste Noire [4]. Famine, que acredita que Black Metal esquerdista, seja uma contradiction
in adjecto, sublinha o caráter ctônico e, como resultado, nacionalista do Black Metal e glorifica o
"passado europeu sombrio", declarou a síntese de ambas abordagens de maneira bem transparente:

"O Black Metal é a memória musical de nossos sanguinolentos ancestrais, é o casamento da


Tradição, do velho patrimônio racial com o fanatismo, com a ira e a precipitação de uma juventude
agora perdida". [5]

Similarmente, Famine descreve seu nacionalismo como fundamentalmente duplo, "temporal" e


"espiritual", que correlaciona ser um cidadão da França ("medieval", "rural") e do Inferno ("Sieg
Hell!") [6]. Noys justamente traça um paralelo entre esse foco sobre o aspecto ctônico do Black
Metal e a fundamentação telúrica do partisan de Carl Schmitt. Finalmente, buscar a raiz dessa
ambiguidade na filosofia de Friedrich Nietzsche é também absolutamente correto: o maior niilista
europeu era simultaneamente o maior elitista, individualista aristocrático e tradicionalista que
antecipava o início de uma nova era de ouro. É por isso que Nietzsche se referia a si mesmo como
"o primeiro niilista perfeito da Europa que, porém mesmo agora viveu todo o niilismo, até o fim,
deixando-o para trás, fora de si mesmo" [7], isto é o primeiro anti-niilista também.

Ademais, Nietzsche foi o maior esteta e estilista que apagou a própria distinção entre forma e
conteúdo tornando até mesmo os detalhes superficiais ideologicamente relevantes e significativos.
Isso lança luz sobre as razões pelas quais a expressão "Arte Black Metal" significa algo
incomparavelmente mais profundo do que, por exemplo, "Ideologia Black Metal" ou "Política
Black Metal" e possui o potencial para atingir um nível metafísico. Nesse ponto um apelo à
Revolução Conservadora - outro fenômeno cultural complexo que tem muito em comum com o
Black Metal - se torna inevitável.
III - A Invocação Grandiosa: Revolução Conservadora como trazendo os Deuses de volta ao
Mundo

A Revolução Conservadora e o Black Metal são similares devido a pelo menos duas razões.
Primeiramente, ambos possuem um valor contracultural. A única diferença reside em um fato de
que o que requer reconstrução adicional no contexto do Black Metal pertence aos objetivos
explícitos da teoria conservadora-revolucionária, que se pode derivar inequivocamente de seu título.
A Revolução Conservadora, que é um amplo movimento ideocrático que evoluiu na Alemanha do
entreguerras do século XX, é também conhecida sob o nome de "Terceira Posição" ou "Terceira
Via" graças à impossibilidade de remetê-la diretamente à ideologia de direita ou de esquerda.
Alguns de seus principais membros já foram mencionados: Arthur Moeller van den Bruck, Oswald
Spengler, Edgar Julius Jung, Carl Schmitt, Ernst e Friedrich Georg Jünger, Julius Evola, Ernst
Niekisch, Martin Heidegger, Armin Mohler e outros. O objetivo global do movimento conservador
revolucionário foi formulado por Hugo von Hoffmannstahl em seu discurso lendário conduzido de
frente para os estudantes de Munique em 1927. Segundo ele, a Revolução Conservadora é o
fenômeno previamente desconhecido na história europeia que busca cancelar não somente a era
iluminista, mas também a da Renascença e da Reforma. Em outras palavras, ela objetiva construir a
Nova Idade Média.

Essa necessidade da revolta contra o curso da história foi proclamada na obra de Julius Evola
"Revolta Contra o Mundo Moderno: Política, Religião e Ordem Social do Kali Yuga" (1934), que
em grande medida não foi nada senão uma versão radicalizada e politizada do texto "Crise do
Mundo Moderno" escrito pelo fundador do Tradicionalismo integral René Guénon em 1927. No
capítulo "A Doutrina das Quatro Idades" de sua obra Evola escreve:

"Ainda que o homem moderno até recentemente haja visto e celebrado o sentido da história
conhecida para ele como epitomizando progresso e evolução, a verdade como professada pelo
homem tradicional é bem distinta. Em todos os antigos testemunhos da humanidade tradicional é
possível encontrar, em várias formas, a ideia de uma regressão ou queda: de estágios originalmente
superiores seres tem descido a estados cada vez mais condicionados por elementos humanos,
mortais e contingentes. Esse processo involutivo supostamente começou em um passado bem
distante; o termo que melhor o caracteriza é o termo eddico ragna-rokkr, "o crepúsculo dos
deuses"... Segundo a Tradição, o atual sentido de história e a gênese do que eu categorizei,
geralmente falando, como o 'mundo moderno', resulta de um processo de decadência gradual
através de quatro ciclos ou 'gerações'". [8]

Em um livro posterior "Homens Entre as Ruínas: Reflexões Pós-Guerra de um Tradicionalista


Radical" (1953) Evola definiu a Revolução Conservadora como "o retorno ao ponto de partida", "à
fonte". Naturalmente, de modo a garantir essa grande derrubada histórica, se tem que confiar em
meios do mesmo mundo moderno. Tal visão deu origem à fórmula mais curta do fascismo "René
Guénon Mais Divisões de Tanque", que se pode encontrar em "O Amanhecer dos Magos" escrito
por Louis Pauwels e Jacques Bergier em 1960. De fato, Thomas Mann em 1921 considerou a
Revolução Conservadora em sua "Antologia Russa" como uma projeção política do
nietzscheanismo entendido como uma síntese entre "conservadorismo" e "revolução", "liberdade" e
"laços", "fé" e "Iluminação", "Deus" e o "Mundo" e a comparou com a ideia messiânica russa como
dois fenômenos totalmente diferentes unidos, porém, por sua "natureza religiosa comum, religiosa
em um novo sentido vital que possui um grande futuro".

Portanto, a segunda característica distintiva do Black Metal e da Revolução Conservadora reside no


fato de que ambos movimentos são não somente anti- e contra-, mas também meta-fenômenos, que
rejeitam identidades de gênero e políticas estreitas em favor de objetivos superiores. A Revolução
Conservadora está sempre posicionada como o movimento metapolítico e, falando nos termos de
Ernst Jünger, como "a revolução absoluta" que arruina a tradição como forma, mas assim realiza o
sentido de tradição. Essa é a assim chamada abordagem "meta-histórica" e "dinâmica" à Tradição
escrita com letra maiúscula, que foi introduzida por Julius Evola como uma habilidade para
sacrificar formas em nome de princípios. Ademais, outra similaridade entre Black Metal e
Revolução Conservadora é que ambos tipos ideais são retratados como um "estilo" especial
reconhecível, que é como o fenômeno essencialmente estético.

A fusão entre os elementos estéticos e políticos no movimento da Revolução Conservadora, que foi
notada com desprazer pelos esquerdistas constantemente temerosos da "irracionalidade", Walter
Benjamin em particular, indubitavelmente, foi iniciada não por propósitos de decoração.
Nomeadamente a estética servia para ser aquela chave mágica adequada para o "reencantamento"
do mundo e para a reintegração dos campos autônomos e desconectados da política, ciência,
religião, ética e, novamente, estética, que substituiu o universo medieval hierárquico subordinado a
um princípio transcendental. Porém, os conservadores revolucionários majoritariamente falam não
em Deus, mas em deuses; a metáfora geralmente reconhecida que significa a remitologização do
mundo anuncia "o retorno dos deuses" ou "o retorno do sagrado", que foi especialmente antecipado
por Nietzsche, Heidegger e Jünger.

O "mero" aguardar pela ressacralização do mundo, porém, não é uma regra e corresponde apenas à
fase atual da transvaloração metafísica de todos os valores. Essa fase foi precedida pelo período
niilista ativo da dominação titânica, o reino de Prometeu, que simboliza os poderes elementais da
tecnologia. Segundo a observação de Ernst Jünger feita em seu ensaio "Sobre a Dor" (1934), nós
vivemos em tempos em que as novas ordens se moveram para a frente, mas os novos valores ainda
não se tornaram visíveis:

"Nós concluímos, então, que nos encontramos em uma última e de fato bastante notável fase do
niilismo, caracterizada pela ampla expansão de novas ordens sociais com valores correspondentes
ainda a serem vistos". [9]

Isso significa que o Übermensch "als Sieger über Gott und das Nichts", o Super-Homem como um
vencedor de deus (a velha ordem arruinada) e do Nada que o substituiu, entra na fase final da luta
com o próprio Nada. Nessa fase, tanto Jünger como Evola desenvolveram os conceitos de apoliteia,
anarquismo de direita e homem diferenciado que rejeita o mundo moderno não por razões niilistas,
mas porque ele não corresponde ao ideal da nova ordem sagrada. É claro, essa fase é temporária: o
anarquista de direita de Evola e o Anarca de Jünger estão sempre prontos para agarrar a
oportunidade de construir o novo Império.

Similaridades estruturais entre o Black Metal e a Revolução Conservadora são também óbvias.
Armin Mohler, que publicou uma monografia chamada "Revolução Conservadora na Alemanha:
1918-1932" (1950, que começou a tradição de investigação acadêmica do movimento da Revolução
Conservadora, apontou cinco direções principais nele, três das quais se tornaram exemplares: os
Jovens Conservadores (Moeller van den Bruck, Edgar Jung, Oswald Spengler), os Nacional-
Revolucionários (Ernst Jünger, Ernst Niekisch, Hans Freyer) e o movimento Völkisch que causou o
maior impacto sobre o Nacional-Socialismo (a famosa doutrina de "Sangue e Solo"). Desse modo,
os Jovens Conservadores desenvolveram basicamente modelos imperialistas orgânicos; os
Nacional-Revolucionários estavam em ótimos termos com as forças destrutivas da civilização
industrial e os Völkische se assemelham à Frente Pagã contemporânea.
Alex Kurtagic em seu profundo exame das reminiscências conservadoras revolucionárias no
movimento Black Metal enfatizou nomeadamente as ideias völkisch [10], o que é justificado. Ao
mesmo tempo eu diria que o mais representativo da Revolução Conservadora não era o völkisch
mais o movimento nacional-revolucionário. Seus membros, Ernst Jünger em particular, elaboraram
sobre o sentido metafísico da Revolução Conservadora, que é a unidade de liberdade e necessidade
pressuposta pelo conceito de voluntarismo alemão, da maneira mais detalhada e precisa. Essa
posição metafísica corresponde com a tendência Gnóstica Anti-Cósmica no movimento Black
Metal, que é também notável por um dualismo rígido entre a própria vontade divina e tudo o mais
("Morte contra morte") e não busca o sagrado dentro dos limites desse mundo. Uma descrição
conhecida da metafísica Nacional-Socialista por Hendrik Möbus da banda alemã Absurd ("a mais
perfeita síntese da vontade de poder luciferiana, e princípios e simbolismo neopagãos") também
seria relevante nesse contexto, ainda que ele seja mais fortemente associado com a Frente Pagã.

Aliás, sua conversa com "Velesova Sloboda" [11] é a discussão mais interessante e profissional de
tópicos conservadores revolucionários clássicos por um músico do Black Metal que eu já li.

Em conclusão, eu gostaria de citar as palavras de Erik Danielsson do Watain sobre a essência


revolucionária da verdadeira arte e a necessidade de "ir mais e mais fundo" ao explorar os
horizontes do gênero:

"Se você quiser fazer algo inovador em algo tão sinistro quanto o black metal - se você quiser
corresponder com energias negras que existem além desse mundo, não se pode ter um mero
interesse no black metal. Uma paixão por um gênero musical não é o bastante para mudar o curso
da história musical ou da história do mundo. Para mim, não é estranho que não haja mais bandas
como nós porque indivíduos desse tipo são bem raros. Se você tem uma fonte extrema de energia
fluindo dentro de si você ou acaba na prisão, dividindo um lugar com um político ou você faz o que
fazemos". [12]

É difícil discordar e deixar passar os paralelos com as aspirações dos membros mais devotados e
brilhantes do movimento da revolução conservadora. Afinal, a pesquisa acadêmica de Mohler não
foi nada além de um caminho para reunir sob o título alternativo a nova frente extrema na Europa
do pós-guerra após desacreditar o projeto nacional-socialista e qualquer outro perigoso para os
movimentos do Sistema, incluindo o Black Metal em suas manifestações mais puras. É
surpreendente que um dia os representantes dessas direções meta-históricas e contraculturais unirão
suas forças como "participantes no grande jogo"? [13]

1. Ajna Offensive, Deathspell Omega Interview<http://www.theajnaoffensive.com/index.php?


option=com_content&view=article&id=27:deathspell-omega-interview&catid=27&Itemid=41>
2. Interview with Lutomysl at Orthodox Black Metal
<http://www.orthodoxblackmetal.com/lutomysl.php>
3. Kevin Coogan, How Black is Black Metal? Nachrichten Heute
<http://oraclesyndicate.twoday.net/stories/605560/>
4. Benjamin Noys, “Remain True to the Earth!”: Remarks on the Politics of Black Metal, Hideous
Gnosis: Black Metal Theory Symposium I; Edited by Nicola Masciandaro (Charleston: Create
Space, 2010), p. 105-128.
5. Nathan T. Birk, Interview with La Sale Famine of Peste Noire, Zero Tolerance
<http://www.gutsofdarkness.com/_files/pdf/2007_02_fevrier.pdf>
6. Ibid.
7. Friedrich Nietzsche, The Will to Power; Translated by Walter Kaufmann and R. J. Hollingdale;
Edited by W. Kaufmann (New York: Vintage Books, 1967), p. 3.
8. Julius Evola, Revolt Against the Modern World: Politics, Religion, and Social Order of the Kali
Yuga; Translated from the Italian by Guido Stucco (Rochester, Vermont: Inner Traditions
International, 1995), p. 177.
9. Ernst Jünger, On Pain (New York: Telos Press Publishing, 2008), p. 46.
10. Alex Kurtagic, Black Metal: Conservative Revolution in Modern Popular Culture, The
Occidental Quarterly Online <http://www.toqonline.com/blog/black-metal-1/>
11. Hendrik M. (Absurd) im Gespräch mit der Redaktion von “Velesova Sloboda”
http://www.velesova-sloboda.org/misc/siegling-gespraech-mit-hendrik-m-absurd.html
12. Darren Cowan, Interview with Erik Danielsson of Watain at Blistering.com
<http://www.blistering.com/fastpage/fpengine.php/templateid/14331/menuid/3%3Cbr/tempidx/5/cat
id/4/restemp/N%3B/fPpagesel/2>
13. Ibid.

http://legio-victrix.blogspot.com.br/2012/10/quando-os-deuses-ouvem-o-chamado-o.html

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