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Capı́tulo 1

Teoria de Picard-Lefschetz

Nos capı́tulos 2 e 3 mostramos como obter, através de projeções de curvas


no espaço, as morsificações das singularidades das curvas planas E6 e E8 .
Esse estudo foi feito geometricamente, analisando o conjunto bifurcação da
famı́lia de projeções. No apêndice A, vimos como se originam os diagramas
de Dynkin de álgebras de Lie.
Neste apêndice apresentamos uma visão mais topológica sobre singula-
ridades de curvas planas e vemos como isso se relaciona com diagramas de
Dynkin. Mais especificamente, obtém-se que para singularidades simples de
C → C2
existem bases de ciclos evanescentes, no qual o diagrama de Dynkin de uma
singularidade coincide com os diagramas clássicos correspondente as álgebras
de Lie do mesmo nome. Não faremos as demonstrações dos teoremas, con-
tudo há uma referência abrangente sobre o assunto, ver por exemplo [?], [?]
e [?], onde encontramos todos os detalhes dos resultados expostos aqui.
Começamos com uma breve discussão sobre a teoria de Picard-Lefschetz e
em seguida introduzimos o conceito de matriz de intersecção de uma singula-
ridade, juntamente com diagramas de Dynkin. Finalizamos com um exemplo
muito ilustrativo, com detalhes ainda não visto na literatura, de toda teoria
exposta nesse capı́tulo.

1.1 Teoria de Picard-Lefschetz


Nesta seção definiremos alguns conceitos da teoria de Picard-Lefschetz
tais como ciclos evanescentes, operadores de Picard-Lefschetz e bases dis-
tinguidas. Esses conceitos são usados para investigar a topologia de pontos
crı́ticos de funções holomorfas.
Seja f : (Cn , 0) → (C, 0) um germe de uma função holomorfa, com um

1
1. Teoria de Picard-Lefschetz 2

ponto crı́tico isolado na origem. Segue do teorema da função implı́cita que na


vizi-
nhança da origem em Cn , o conjunto f −1 (ǫ) para ǫ 6= 0, é uma variedade
analı́tica não singular, e o conjunto f −1 (0) é uma variedade singular fora
da origem. Podemos escolher um número ρ > 0 pequeno, de forma que as
esferas, Sr , de raio r ≤ ρ centrada em 0 intercepte f −1 (0) transversalmente.
Fixando ρ, escolhemos ǫ0 > 0 suficientemente pequeno de forma que a esfera
de raio ρ intercepte transversalmente o conjunto f −1 (ǫ) para |ǫ| ≤ ǫ0 .

Definição 1.1. O conjunto de nı́vel da função f em um ponto não singular


perto do ponto critico é o conjunto

Vǫ = f −1 (ǫ) ∩ B̄ρ = {x ∈ Cn \ f (x) = ǫ, ||x|| < ρ}

onde Bρ é a bola de raio ρ com centro na origem.

Vǫ é uma variedade complexa compacta (n − 1)- dimensional com bordo


suave e tem o tipo de homotopia de um bouquet de esferas de dimensão
n − 1. O número µ = µ(f ) dessas esferas é chamado de número de Milnor.
O grupo de homologia Hk (Vǫ ) = 0 para k 6= n − 1 e Hn−1 (Vǫ ) = Zµ é um
grupo abeliano com µ geradores.
Passamos agora a construir uma base para o grupo de homologia Hn−1 (Vǫ )
da singularidade f .
Tomemos uma pertubação f˜ da função f , definida na vizinhança de B̄ρ ,
tal que o conjunto f˜−1 (ǫ) seja transverso a esfera Sρ e f˜−1 (ǫ) ∩ B̄ρ difeomorfo
ao conjunto Vǫ para ǫ ≤ ǫ0 . Seja Fz = f˜−1 (z) ∩ B̄ρ (|z| ≤ ǫ0 ), a função f˜
têm µ pontos crı́ticos não degenerados na Bρ com valores crı́ticos distintos zi
(|zi | < ε0 , i = 1, . . . , µ) e seja {ui } um sistema de caminho unindo os valores
crı́ticos zi com o valor não-crı́tico z0 (|z0 | = ε0 ) e não passando por valores
crı́ticos da função f˜.
Pelo lema de Morse, existe um sistema local de coordenadas x1 , . . . , xn na
vi-
zinhança de um ponto crı́tico não degenerado ρi em Cn , na qual
f˜(x1 , . . . , xn ) = zi + nj=1 x2j . Para valores de t perto de zero, fixemos na va-
P
p
riedade
P 2 F u(t) a esfera S(t) = u(t) − zi S n−1 , onde S n−1 = {(x1 , . . . , xn ) :
j xj = 1, Im xj = 0}. Variando t de 0 à 1, definimos uma famı́lia de esferas
(n − 1) dimensionais S(t) ⊂ Fu(t) para t ∈ (0, 1]. Notemos que para t = 0 a
esfera S(t) reduz ao ponto crı́tico ρi .

Definição 1.2. A Classe de homologia ∆ ∈ Hn−1 (Fz0 ) representada pela es-


fera (n − 1) dimensional S(1) em Fz0 é chamada ciclo evanescente de Picard-
Lefschetz (ao longo do caminho u).
1. Teoria de Picard-Lefschetz 3

Definição 1.3. O conjunto de ciclos ∆1 , . . . , ∆µ de Hn−1 (Fz0 ) é chamado


distinguido se:

i) Os ciclos ∆i : (i = 1, . . . , µ) são evanescentes ao longo dos caminhos


ui (sem auto-intersecção), unindo os valores crı́ticos zi com o valor
não-crı́tico z0 .

ii) Os caminhos ui , uj tem para i 6= j um único ponto em comum ui (1) =


uj (1) = z0

iii) Os caminhos ui , . . . , uµ são enumerados na mesma ordem das quais eles


chegam em z0 , sentido horário, começando no bordo ∂Dǫ0 do disco Dǫ0 .

u1
z3
z0 u2 z1

z2
u3

Teorema 1.1. O conjunto de ciclos evanescentes distinguidos {∆i } formam


uma base do grupo de homologia Hn−1 (Fz0 ) ∼
= Hn−1 (Vǫ ).
A região Dǫ0 , com µ valores crı́ticos da função f˜ removidos é homotópica
a um bouquet de µ cı́rculos. Portanto πi (Dǫ0 \ {zi }, z0 ) é um grupo livre de µ
geradores. Se {ui , i = 1, . . . , µ} é um sistema de loop definindo um conjunto
de ciclos evanescentes {∆i }, então o grupo πi {Dǫ0 \ {zi }, z0 } é gerado pelo
loop simples τ1 , . . . , τµ correspondendo aos caminhos u1 , . . . , uµ.

Definição 1.4. O conjunto de ciclos evanescentes ∆1 , . . . , ∆µ , definidos pelo


conjunto de caminhos {ui }, é chamado fracamente distinguido se o grupo
fundamental π1 (Dǫ0 \ {zi }, z0 ) é um grupo livre de geradores τ1 , . . . , τµ , cor-
respondendo aos caminhos u1 , . . . , uµ .

Definição 1.5. A base do grupo de homologia Hn−1 (Vǫ ) consistindo de um


conjunto de ciclos evanescentes distinguidos {∆i } é chamada base distin-
guida. A base consistindo de um conjunto de ciclos evanescentes fracamente
distinguidos é chamada base fracamente distinguida.
1. Teoria de Picard-Lefschetz 4

Definição 1.6. O operador Monodromia

hi = hτi ∗ : H∗ (Fz0 ) → H∗ (Fz0 )

do loop simples τi é chamado de operador Picard-Lefschetz correspondente ao


caminho ui (ou o ciclo evanescente ∆i ).

Denotando por (a ◦ b) o número de intersecção dos ciclos a e b ∈ Hn−1 (Vǫ ),


podemos enunciar a fórmula de Picard-Lefschetz.

Lema 1.1. Fórmula de Picard-Lefschetz


n(n+1)
hγ∗ (a) = a + (−1) 2 (a ◦ ∆)∆

onde a ∈ Hn−1 (Vǫ ).

Definição 1.7. A matriz S = (∆i ◦ ∆j ) é chamada a matriz de intersecção


da singularidade f (com respeito a base {∆i }).

O sistema de caminhos {ui }, definindo uma base distinguida ou uma


base fracamente distinguida, pode ser escolhida de mais de uma maneira. Se
mudarmos o sistema inicial de caminhos obtemos diferentes bases dos ciclos
evanescentes no grupo de homologia Hn−1 (Vǫ ). Passemos agora a descrever
as operações elementares de mudança de base preservando a base distinguida
ou a base fracamente distinguida.
Sejam {ui } um sistema de caminhos, definindo uma base distinguida {∆i }
no grupo de homologia Hn−1 (Fz0 ) ≃ Hn−1 (Vǫ ).

Definição 1.8. A operação αm (1 ≤ m < u) transforma um sistema de


caminhos {ui } em um novo sistema de caminhos {ũi } da seguinte maneira:

ũi = ui para i 6= m, m + 1;
ũm = um+1 τm ;
ũm+1 = um .

onde um+1 τm significa o caminho obtido percorrendo um+1 e em seguida o


loop γm .

O novo sistema de caminhos {ũi } define um conjunto fracamente dis-


tinguido dos ciclos evanescente {∆ ˜ i }. O sistema de caminhos {ũi } pode ser
ligeiramente deformado, até que seja satisfeita a condição da definição de
base distinguida, portanto a base {∆ ˜ i } é distinguida. A base {∆
˜ i } é relatada
pela base {∆i } pela seguinte fórmula;
1. Teoria de Picard-Lefschetz 5

˜ i = ∆i para i 6= m, m + 1;

˜ m+1 = ∆m ;

˜ m = hm (∆m+1 ) = ∆m+1 + (−1) n(n+1)
∆ 2 (∆m+1 ◦ ∆m ) ◦ ∆m .
(Transformação de Picard-Lefschetz)

˜ i } descrita por essas


A operação que transforma a base {∆i } na base {∆
fórmulas, é denotado por αm .
Definição 1.9. A operação βm+1 (1 ≤ m < u) transforma um sistema de
cami-
nhos {ui } em um novo sistema de caminhos {ũi } da seguinte maneira;

ũi = ui para i 6= m, m + 1;
ũm = um+1 ;
ũm+1 = um τm+1
−1
.

˜ i } é relatada pela base {∆i } pela seguinte fórmula:


A base {∆
˜ i = ∆i para i 6= m, m + 1;

˜ m = ∆m+1 ;

n(n+1)
˜ m+1 = hm+1 (∆m ) = ∆m + (−1) 2 (∆m+1 ◦ ∆m ) ◦ ∆m+1 .

(Transformação inversa de Picard-Lefschetz)

˜ i } descrita por essas


A operação que transforma a base {∆i } na base {∆
fórmulas, é denotado por βm+1 .

1.2 Matriz de intersecção de singularidades


de funções de duas variáveis
Em [?] foi mostrado que para qualquer singularidade de uma função de
duas variáveis, existe uma singularidade real tendo a mesma matriz de in-
tersecção. A matriz de intersecção de uma singularidade real de uma função
f de duas variáveis pode ser determinada pela curva de nı́vel f˜−1 (0) de uma
perturbação especial f˜ de f .
Seja f (x, y) o germe real de uma função holomorfa f : C2 , 0 → C, 0
que tem um ponto crı́tico isolada na origem. Suponhamos que exista uma
1. Teoria de Picard-Lefschetz 6

perturbação real f˜ da função f tal que todos os seus pontos crı́ticos (no qual
o ponto crı́tico 0 se desdobra) sejam reais e não degenerados, e que o valor
da função f˜ em todos os pontos de sela seja 0. Se tal perturbação existe,
então a matriz de intersecção da singularidade f pode ser determinada pela
curva real f˜(x, y) = 0 no plano R2 . Antes de vermos tal resultado, fixemos
primeiramente algumas notações.
A curva f˜−1 (0), em um pequeno disco D centrado na origem, tem so-
mente auto-intersecções simples. Cada componente conexa do complemento
dessa curva pode ser vista como um polı́gono curvilı́neo, com alguns vértices
possivelmente coincidindo. Dividimos o conjunto dessas componentes do
complemento da curva em duas classes, de tal forma que duas componentes
com um lado em comum estão em classes diferentes. Fixamos para cada
pj da auto intersecção da curva; o ciclo evanescente ∆1j , da mesma forma,
para cada componente relativa ( que não tem pontos no bordo em comum
com o complemento de D) do complemento da curva da primeira classe (Ui0 )
fixamos o ciclo ∆0i e da segunda classe (Uk2 ) o ciclo evanescente ∆2k .

Definição 1.10.

• n10 (j, i) é o número de vértices do polı́gono Ui0 coincidindo com pj ;

• (n21 (k, j)) é o número de vértices do polı́gono Uk2 coincidindo com pj ;

• n20 (k, i) o número de lados em comum dos polı́gonos curvilı́neos Ui0 e


Uk2 .

Seja f˜(x, y) a pertubação da singularidade f descrita acima, assim os va-


lores crı́ticos da função f˜(x, y) (ou f˜(x, y) + t2 ) estão no eixo real do plano C,
escolhemos z0 tal que Im z0 > 0 e fixemos um sistema de caminhos unindo
o valor não crı́tico z0 , com os valores crı́ticos da função f˜ de tal forma que
os caminhos pertençam inteiramente à região Im z0 > 0 com exceção dos
valores crı́ticos.
Os pontos crı́ticos da função f˜ estão em correspondência injetora com
as auto-intersecções da curva real f˜ = 0 e as componentes relativas de seu
complemento, pois em cada componente existe um ponto crı́tico da função f˜
(máximo ou mı́nimo). Assim os ciclos ∆1j (∆0i , ∆2k ), correspondem aos pontos
de sela (mı́nimo e máximo). Define-se desta maneira uma base distinguida
dos ciclos evanescentes no conjunto de nı́vel não singular das singularidades
f (x, y) e f (x, y) + t2 . Portanto se existe uma pertubação real f˜ de f tal que
todos os seus pontos crı́ticos sejam reais e não degenerados, e que o valor da
função f˜ em todos os pontos de sela seja 0, tem-se o seguinte teorema.
1. Teoria de Picard-Lefschetz 7

Teorema 1.2. [?] A forma de intersecção na homologia do conjunto de


nı́vel da função f em um ponto não singular com respeito a base distinguida
[∆0i , ∆1j , ∆2k ] é a forma bilinear anti-simétrica definidada pela seguinte tabela

(∆δm ◦ ∆δm′ ) = 0,
(∆1j ◦ ∆0i ) = n10 (j, i),
(∆2k ◦ ∆1j ) = n21 (k, j),
(∆0i ◦ ∆2k ) = n20 (k, i).

Corolário 1.1. [?] A forma de intersecção da singularidade f (x, y) + t2


(estabilização da singularidade f ) com respeito a mesma base distinguida de
antes é a forma quadrática definida pela tabela

(∆δm ◦ ∆δm′ ) = −2δmm′ ,


(∆0i ◦ ∆1j ) = n10 (j, i),
(1.1)
(∆1j ◦ ∆2k ) = n21 (k, j),
(∆0i ◦ ∆2k ) = −n20 (k, i).

Definição 1.11. O Diagrama de Dynkin de uma singularidade é um grafo


definido como segue:
i) Seus vértices estão em correspondência injetora com os elementos ∆i
de uma base fracamente distinguida da homologia do conjunto de nı́vel
não singular da estabilização da singularidade f ;

ii) O i-ésimo e o j-ésimo vértices do grafo são unidos por uma linha de
multiplicidade (∆i ◦ ∆j ). As linhas de multiplicidade negativa são des-
critas por linhas pontilhadas.
Dessa forma seus vértices correspondem as auto-intersecções da curva e as
componente relativa do complemento da curva.
Existem duas inconveniências no teorema ??;

• a primeira é a dificuldade de encontrar uma pertubação f˜ satisfazendo


as condições;

• a segunda é que para a maioria das escolhas das pertubações, elas


diferem das formas clássicas e requerem uma transformação.

Para resolver o segundo problema, suponhamos que exista uma pertubação f˜


satisfazendo as condições do teorema, assim a curva real f˜ = 0 tem somente
auto-intersecções simples. Existe uma aplicação própria não-degenerada ϕ :
1. Teoria de Picard-Lefschetz 8

L → D, onde L é uma variedade 1-dimensional e D o disco aberto em R2 ,


tal que Imϕ = {f˜ = 0} e injetora fora das auto-intersecções da curva.
Seja ϕt : L → D, com t ∈ [0, 1], uma homotopia da aplicação ϕ na classe
de todas as aplicações própria não degeneradas, constantes na pré-imagem
do bordo do disco D. Para uma homotopia arbitrária, o tipo da curva Im ϕt
altera para um número finito de valores de t. Para esses valores do parâmetro
t, obtemos dois tipos de bifurcações:
• Tacnode, dois pontos de auto-intersecção da curva se unem e logo em
seguida desaparecem, ou o inverso, ou seja, o aparecimento de duas
auto-intersecções;

• Pontos triplos, três pontos de auto intersecção se unem e logo em


seguida aparecem de novo.
Outros tipos de bifurcações de codimensão um são evitadas, em vista da
condição de não degenerescência da aplicação ϕt . Para o primeiro tipo de
bifurcação, o número de pontos de auto-intersecção não é preservado, ao
contrário do segundo tipo, portanto a forma bilinear de f˜ = 0 é alterada
para uma bifurcação do primeiro tipo e permanece inalterada para a segunda
bifurcação.
Definição 1.12. Uma homotopia é dita ser admissı́vel, se para cada valor
dos parâmetora t ∈ [0, 1] não existem pontos h1 6= h2 de L tais que

ϕt (h1 ) = ϕt (h2 )
Imdϕt (h1 ) = Imdϕt (h2 ),

onde dϕt é a diferencial da curva ϕt e a curva ϕ1 tenha apenas auto-intersecções


simples.
Portanto uma homotopia adimı́ssivel é uma homotopia onde as bifurcações
são todas do segundo tipo.
Teorema 1.3. [?] O diagrama de Dynkin da curva Im ϕ1 é obtida da dia-
grama de Dynkin da curva Im ϕ0 com as operações elementares de mudanças
de bases distinguidas.
Para resolver o primeiro problema, ou seja, a existência da pertubação f˜.
Consideremos a curva M(f ) = {x ∈ C2 : f (x) = 0}, seja M(f ) = ∪ri=1 Mi ,
sua componentes irredutı́veis. Para cada germe da curva irredutı́vel complexa
Mi existe um germe de uma aplicação

φi : C, 0 → C2 , 0
1. Teoria de Picard-Lefschetz 9

tal que Im φi = Mi e φi é um isomorfismo Ci \ 0 → Mi \ 0. Para pequenas


pertubações φ̃i da aplicação φi encontramos somente auto-intersecções sim-
ples. O número dessas intersecções não depende da pertubação é é denotado
por s = s{φ} = s{f }.

Lema 1.2. A multiplicidade da singularidade f é igual a

µ(f ) = 2s − r + 1.

O problema de calcular a matriz de intersecção de uma singularidade


de uma função de duas variáveis pode ser reduzida para o caso de uma
singularidade real com a ajuda do seguinte teorema.

Teorema 1.4. Para uma coleção de aplicações {φi } existe uma coleção de
aplica
ções reais pertencentes a mesma componente conexa de s =constante no
espaço de todas coleções de r aplicações Ci → C2 .

Corolário 1.2. Dada uma singularidade de uma função de duas variáveis


existe uma singularidade real pertencendo a mesma componente conexa de
µ =constante no espaço de todos os germes de funções C2 , 0 → C, 0. Por-
tanto tendo a mesma matriz de intersecção de {φi }.

Se todas as aplicações φi são reais e existe uma pertubação φ̃i tal que a
curva ∪ri=1 Im φ̃i , tem somente pontos duplos simples e todos esses s pontos se-
jam reais, então o D-diagrama da curva real (∪ri=1 Im φ̃i )∩R2 é o diagrama da
singularidade f , correspondendo ao conjunto de aplicações {φi \i = 1, . . . , r}.
Segue disto, que a pertubação f˜ da singularidade f correspondendo as per-
tubações {φ̃i } do conjunto de aplicações {φi }, satisfaz as condições do teo-
rema ??.

Teorema 1.5. [?] Para um conjunto de germes de aplicações reais {φi }


existe uma pertubação real {φ̃i } para o qual a curva ∪ri=1 Im φ̃i , tem somente
pontos duplos e todos eles reais.

Deste teorema segue que se f : C2 , 0 → C, 0 é uma singularidade real


tal que a curva {f = 0} é real (todas as componentes irredutı́veis são reais),
então existe uma pertubação real f˜, satisfazendo as condições do teorema
??.
1. Teoria de Picard-Lefschetz 10

P 2
Teorema 1.6. Para as singularidades simples Ak (xk+1
+ ), Dk (x2 y +
ti P
y + ti ), E6 (x +y + ti ), E7 (x +xy + ti ) e E8 (x +y + t2i ), existe
k−1
P 2 3 4
P 2 3 3
P 2 3 5

uma base distinguida de ciclos evanescentes , na qual o diagrama coincide


com os diagramas clássicos das correspondentes algebras de Lie do mesmo
nome.

Ak Dk

E6

E7 E8

1.3 Matriz de intersecção de E6


A forma normal de uma singularidade E6 é dada pela função

f (x, y) = x4 − y 3

seguindo os passos da seção anterior, vamos encontrar uma pertubação real


f˜ da função f tal que todos os seus pontos crı́ticos sejam reais e não dege-
nerados, e que o valor da função f˜ em todos os pontos de sela seja igual a 0.
Para isso consideremos

P = (t3 + at, t4 + bt2 + ct)

um desdobramento da singularidade E6 vista como uma aplicação C, 0 →


C2 , 0. Sabemos que P tem um ponto triplo quando a = b e 4a3 + 27c2 < 0 e
com pequenas pertubações desses valores obtemos uma morsificação para a
singula-
ridade (ver Capı́tulo 3), tomando por exemplo a = −1, c = 0 e b = −1 + β
para β suficientemente pequeno, P0 = (t3 − t, t4 + (−1 + β)t2 ) tem um ponto
triplo para β = 0, e encontramos as duas morsificações de E6 fazendo β < 0
e β > 0, suficientemente pequenos . Seja

f˜ = x4 − y 3 + (1 + 3β)yx2 + (β − 1)β 2 x2 + 2βy 2 − β 2 y


1. Teoria de Picard-Lefschetz 11

a equação implı́cita de P0 . A função f˜ tem 6 pontos crı́ticos, dados por


β p
p1 = (0, β) p2 = (0, ), p3,4 = (±β β + 1, −β 2 ),
3
 p
3(β + 1)(3β 2 + 1) −3β 2 + 2β − 1

p5,6 = ± , .
6 6
sendo p1 , p3 e p4 pontos de sela, todos com valor crı́tico igual a zero e p2 , p5 e p6
são pontos de mı́nimo ou máximo, dependendo do valor de β. Iremos tomar
β de forma a termos 2 pontos de máximo e um ponto de mı́nimo. Assim
f˜ satisfaz as condições do teorema ??. Para cada ponto crı́tico fixamos um
ciclo evanescente ∆ da seguinte forma;
• denotamos por ∆1j , j = 1, 2 e 3 os ciclos evanescentes correspondendo
aos pontos de sela p1 , p3 e p4 ;

• ∆2k , k = 1 e 2 para os pontos de máximo da função f˜;

• ∆01 para o ponto de mı́nimo da função f˜.


A figura abaixo ilustra bem o caso.

∆13

∆21 ∆22
∆01

∆11 ∆12

Figura 1.1: Morsificação de E6

Os valores de n10 (j, i), n21 (k, j) e n20 (k, i) podem ser calculados com a ajuda
da figura 1, e seus valores são dados na tabela a seguir;
n10 (1, 1) = 1 n21 (1, 1) = 1 n21 (2, 1) = 0 n20 (1, 1) = 1
n10 (2, 1) = 1 n21 (1, 2) = 0 n21 (2, 2) = 1 n20 (2, 1) = 1.
n10 (3, 1) = 1 n21 (1, 3) = 1 n21 (2, 3) = 1

Consideramos a base distinguida da seguinte forma

[ ∆11 , ∆12 , ∆13 , ∆01 , ∆21 , ∆22 ].


1. Teoria de Picard-Lefschetz 12

Portanto usando o corolário (0.1) podemos calcular a matriz de intersecção


da singularidade E6 , dada por
 
−2 0 0 1 1 0
 0 −2 0 1 0 1 
 
 0 0 −2 1 1 1 
 
 1 1 1 −2 −1 −1 
 
 1 0 1 −1 −2 0 
0 1 1 −1 0 −2
1. Teoria de Picard-Lefschetz 13

O diagrama de Dynkin da singularidade E6 , correspondente a matriz de


intersecção acima tem a seguinte forma

1 5

4 3

2 6

Figura 1.2: Morsificação de E6

Pelo teorema ??, com operações elementares na base, podemos obter a forma
clássica do diagrama de Dynkin, a seguinte mudança

β3 β2 β1 β1 β2 β3 β3 β2 β1

na base anterior, transforma a base original na seguinte base

[∆1 +∆2 +2∆4 +∆3 , −∆4 −∆2 −∆3 , −∆4 −∆1 −∆3 , −∆1 −∆2 −∆4 , −∆5 , −∆6 ]

que tem a matriz da forma


 
−2 1 1 1 0 0
 1 −2 0 0 0 1 
 
 1 0 −2 0 1 0 
 
 1 0 0 −2 0 0 
 
 0 0 1 0 −2 0 
0 1 0 0 0 −2

O diagrama de Dynkin de E6 correspondente a matriz de intersecção


acima coincide o diagrama clássico da algebra de Lie de E6 .

5 3 1 2 6

Figura 1.3: Morsificação de E6

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