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IIrt fuia daAme ncal-atina,

Cinco Seculos Capítulo 5


(temas e problema.s) A formação do Estado Nacional naAméri caLatrna:
as emancipações políticas e o intrincado
ordenamento dos novos países
Claudia'W'asserman (coord.)
Benito Bisso Schmidt CLAUDIA WASSERMAN
Helen Osório
Cesar Barcello s GuazzelTr
' Susana Bleil de Souza A formação do Estado nacional na América Latina ôorresponde a
dois procêssos indissociáveis: a internacionalização do modo dô produ-
ção capitalista que conduz à institucionalização do poder burguês no
mundo todo e, por outro lado, os processos de emancipação das colôni-
as ibéricas. o primeiro processo tem um caráter econômico-social e o
segundo é eminentemente político-militar. o vínculo reside justamente
na estreita articulação entre estes aspectos da realidade.
A crescente expansão do modo de produção capitalista na Europa,
Segunda Edição
corolário da dupla revolução - Revolução Industrial e Revolução France-
sa -, aliado ao crescente predomínio da burguesia no controle estatal dos
paíseseuropeus promoveu uma brusca mudança em todo o ordenamento
mundial. Países como a Espanha e Portugal, que não acompanharam o
desenvolvimento daEuropa setentrional, foram vítimas do desgaste de toda
a estrutura que assegurava a continuidade doAntigo Regime. Entre outros
ur{i ffi n$i}Âü§ tÁi*{ffi tr $Ê$u§ fatores que foramresponsáveis pela decadência, estavam o affaso e desor-
ganização agrícola e industriai, escassez financeira, decomposição social,
$ihli#ml dependência produtiva, comercial e financeira de outros prísei, redução
no poder marítimo e militar, envolvimento em guerras onerosas e diÍiCul-
dade em abastecer as necessidades das colônias.
Sob constante pressão colonial e européia, os Bourbons tentaram
inutilmente introduzir reformas com o objetivo de conter o declínio da
antiga potência. No entanto, a elite colonial, chamada aristocracia crio-
//a, conseguia há muito driblar o forte exclusivismo comercial, através
do contrabando. Além do mais, as guerras napoleônicas e o bloqueio
continental determinaram uma aproximação ainda maior entre a elite

§Htxfr,,*.. tt 177

.,h*, w
"criolla" e a Inglaterra. Desde o final do século XVIII, a elite hispano- sultado de uma instabilidade crônica, que não permitiam a constituição do
americana sentia os efeitos do liberalismo econômico oriundo da Revo- Estado nacional e que colocam o primeiro problema teórico de crucial
lução Industrial; inspirava-se no modelo liberal da Independência ame- importância: a possibilidade de organização de um Estado nacional na au-
ricana (1776), que preservara muitas estruturas do mundo colonial, no- sência de um elemento aglutinador, ou seja, uma comunidade de interes-
tadamente a escravidão, e admirava as idéias do iluminismo. ses que atuasse com êxito no plano político.
Apesar disso, o desenvolvimento colonial continuava subordinado Essa questão está ligada à discussão inicial que se quer fazer nesse
ao monopólio e às restrições produtivas e administrativas da metrópole e, capítulo, que é relativa às origens do Estado nacional latino-americano.
embora aelite criolla não tivesse idéias claras a respeito da emancipação, Ai discussões seguintes serão encaminhadas no sentido de entender os
o retorno do rei da Espaúa, Fernando VII, ao trono e as tentativas de re- processos de constituição do Estado nacional e sua consolidação' Em-
colonização e de volta ao absolutismo monárquico foram suficientes para bora sejam partes do mesmo processo, os problemas das origens, da cons-
fazer eclodir gueÍras civis muito violentas que vão, de 1810 a 1825, des- tituição e dã consolidação dos Estados latino-americanos serão separa-
truir grande parte da estrutura econômico-produtiva colonial. dos para fins de exposição.
Por isso, o processo de formação de novos Estados responde a dois Em relação à existência de uma identidade nacional na América
planos intimamente ligados: a violência militar que implanta novos or- Latina, Torres Rivas (1977,p.65) adverte que,
denamentos políticos e a transformação mundial das relações sociais de
A conquista e posterior colonização fodaram de cima, a partir do poder
produção que descarta as antigas metrópoles de seu lugar de prestígio.
colonial, por mais de duzentos anos, uma extensa comunidade de idio-
E, como registra Halperín Donghi (1976, p.8l),
ma, religião e raça; apesar disso o Império espanhol na América foi, prin-
cipalmente, uma ordem política construída sobre profundas descontinui-
Esperava-se que, das ruínas desse regime (colonial), surgisse uma nova dades econômicas, geográficas, culturais e sociais: uma nação atada por
ordem, cujas linhas fundamentais haviam sido previstas desde o início das cima e solta por baixo.
lutas pela independência. Mas a nova ordem tardava a nascer.
Muito mais fortes do que os fatores aglutinadores forjados pela me-
Como grande parte da historiografia latino-americana inspira-se no trópole do além-mar eram as tendências localistas e regionalistas herda-
modelo europeu de formação do Estado nacional, os autores, em geral, dal da própria influência cultural espanhola. As divisões administrativas
encontram uma grande dificuldade em identificar os ordenamentos pós- metropoliúnas representavam um entrave à aproximação entre as diver-
revolucionários como partes do processo de organização político-admi- sas regiões coloniais e criavam regiões produtivas isoladas umas das"ou-
nistrativa da América Latina. Freqüentemente, tratam da formação do tras, piincipalmente após as Reformas burbônicas. Os qontatos entre cada
Estado nacional latino-americano como um caso tão específico e diver- ,"gíà e a metrópole eram mais significativos do que'entre as afastadas
so dos modelos europeus que não conseguem ultrapassar a verificação localidades da colônia, que tinham problemas de comunicação determi-
de deformações ou incompletudes em seu desenvolvimento. No entan- nados, também, pela geografia e pelo próprio atraso tecnológico. O insu-
to, deve-se salientar que, na verdade, o continente europeu foi o pionei- cesso das tentativas de unificação, como a idéia bolivariana por exemplo,
ro no processo de desenvolvimento do modo de produção capitalista e foi determinado pelo fato de inexistir uma idéia nacional ou identidade de
na ionstituição dos Estados nacionais e estes serviriam de modelo para interesses anterior às guerras de Independência. Os processos de emanci-
o estudo de outros continentes. pação simplesmente confirmaram os limites territoriais do peúodo colo-
Os Estados europeus surgem como resultado da decadência do feu- nlal e até criaram novas divisões intemas. As guerras acabam com o so'
dalismo, desenvolvimento do modo de produção capitalista e ascensão nho danação hispano-amertcana,terminam por desfazer o nó de uma co-
da burguesia, que possuía um conjunto de interesses materiais (uniÍica- munidade de interesses que era atada apenas por cima. Adelimitação ter-
ção do mercado interno, fimdo domínio aristocrático etc.) capaz de ofe- ritorial dos novos Estados resolveu-se num movimento político-militar de
recer estrutura a uma identidade nacional. longa duração, o que revela uma certa fragilidade social dos processos de
Na América Latina parecem ter atuado forças centrífugas, como re- Independência latino-americanos.

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r78
A identidade nacional, como concebida modernamente, prevê o
América Latina. Formaram-se dezessete repúblicas, cujo limite territo-
advento das classes populares na vida política, ou, pelo menos, de clas-
rial era dado pela unidade administrativa ou comercial ou militar anteri-
ses médias intelectualizadas que aceitam e procuram canalizar os dese-
ores ao pro"ei.o. Eram divisões arbitrárias decretadas pelo alto, desde o
jos e aspirações populares. No caso daAmé;rica espanhola, ocorre justa-
peúodo colonial. Olando se tornam indep rtUU:
mente o contrário: a maior participação popular e a existência de proje-
se como Estados ainda sem nações.
tos mais radicais acabaram por desencadear uma furiosa reação, como, nto aglutinador, ouidentidade na-
porexemplo, a invasão portuguesa sobre o Uruguai deArtigas em 1816
cional, o processo de constituição dos novos Estados é extremamente
e a Independência mexicana em forma de restauração devido aos movi-
complicaáo. O período que se segue às lutas pela Independência é co-
mentos de Hidalgo e Morelos. Na América Latina não existia o equiva-
nhecldo pelos historiadores como fase daanarquia. Essa expressão, que
lente europeu do protonacionalismo popular, discutido por Hobsbawm
se tornou de uso corrente pela historiogtafia latino-americana,z remete
(1990, cap.Z) no seu livro Nações e nacionalismo desde 1780.t Além do
às dificuldades em conseguir construir ordenamentos estáveis, mas' ao
mais, como observa B. Anderson (1989, p.73), o fato da elite nativa, os
mesmo tempO, seleCiona OS CaSOS empíricoS entre Os maiS ou menos c4-
criollos, se autodenominarem americanos não indicava vaidade alguma
pazes nesta-tarefa, dependendo, conforÍne a tese, de quesitos absoluta-
mas simplesmente a fat alid ade do nas c ime nt o ext ra- e sp anhol.
mente subjetivos, como determinismos étnicos, geográficos.ou climáti
Para a elite "criolla", as idéias de Independência tinham um cará-
cos. A presença do caudilhismo, por exemplo, foi muito utilizada para
ter pré-nacional, a idéia de nação não tinha maior significado para a gran-
u idérude incapacidade política das elites latino-americanas
de maioria da população e tampouco para os proprietários de terras, que "o*prôuur
durante o século XIX. O fenômeno, circunscrito a regiões como o Rio
estavam limitados geograficamente à área que controlavam. O poder
da Prata, notadamente a atual Argentina, Venezuela e norte do México
político tinhacarátterloc,al ou regional e esse poder não representava qual-
foi muitas vezes extrapolado para os demais países latino-americanos e
quer sentimento de nacionalidade. Além do mais, suas ligações econô-
descrito como provas irrefutávei s da b arb árie c o ntinent al'3
micas eram realizadas preferencialmente com o exterior, o que determi-
Agustín Cu"va (1977 , p.4 1) tem uma excelente definição para essa
nava a inexistência de um mercado interno a ser defendido. Quando en-
fase:
volvem-se nas guerras pela emancipação, estão defendendo os seus in-
teresses contra a elite peninsular e também concretizando uma revolu-
La fase denominada de 'anarquia', que no es otra cosa que el tormentoso
ção pelo alto, devido ao temor de rebeliões como as de Tupac Amaru, no camino que nuestras formaciones sociales tienen que recorrer_hasta cons-
Peru, ou àquela protagonizada por Toussaint L'Ouverture, no Haiti. tituir sus Estados nacionales, corresponde en términos generales al desar-
Por isso, não se pode afirmar que países como a Venezuela, Argen- rollo de una estructura que partiendo de una situación de equilibrio ines-
tina, Bolívia etc. tenham se formado a partir de sentimentos nacionalis- table de diversas formas productivas llega a una situacióq de prodomínio
tas preexistentes que determinassem essa conÍiguração territorial para a relativamente consolidado del modo de producción capitalista'

t
O autor aponta quatro critérios para a definição da existência do protonacionalismo po- cueva aponta para as dificuldades de formar ordenamentos está-
pular, embora faça advertência de que "sabemos muito pouco sobre o que aconteceu ou veis em regiõis cujas formas produtivas possuíam pouca coerência,
sobre o que acontece nas mentes da maioria dos homens e mulheres mais relativamente onde predJminava úma economia rural dispersa, relações de produção
desarticulados para podermos falar com alguma confiança sobre seus pensamentos e sen-
timentos a respeito de nacionalidades e Estados-nações aos quais proclamam suas leal-
dades" (p.93). Os três primeiros critérios - religião, etnia e língua - são apontados por 2
Os teóricos da dependência, exemplificados no texto clássico de F.H. Cardoso e E'
Fal-
Hobsbawm como relevantes, mas não determinantes. O que realmente conta é a "consci- leto - pependêncà e desenvolviemnto na América l-atína' aplesentaram uma série de
ência de pertencer ou ter pertencido a uma entidade política durável" (p.88). Freqüente- explicaçàes para o atraso geral do subcontinente e as dificuldades de imposição de orde-
mente, em regimes como o implantado pela Espaúa naAmérica, o que se exigia do povo namentos estáveis.
eraobediência e tranqüilídade e não lealdade e zelo.De q',nlquer modo, se quiséssemos 3
Inspiração da historiografia liberal desde Faustino Sarmiento, 1852' Idéias que autores
encontrar um substrato histórico anterior às Independências, teríamos o próprio sistema muriistás, como, por exemplo, Paso, 1965, acabaramreproduzindo com novas tintas,
colonial, que foi duramente atacado pelo povo e pelas elites. colocando os caudilhos comô representantes do "feudalismo", contrários aos projetos
"ca-
pitalistas" da burguesia exportadora porteúa'

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servis e mercado interno insuficiente para
oferecer estabilidade à re_ te nas segunda e terceira décadas do século
gião. Desra forma, o.etemento ogtiii"ãaora" XIX, houve uma fuga de ca-
do, era o Estado político.
.á.i"aãàãlr"lr" p"rio_ pitais-importante caracteri zada pera saída
de metais p*"i".^ iobretu-
do pelas mãos dos espaúóis quã rugiram
o Estado ratino-americano de meados do assustados com a instabilida_
sécuro XIX era formado de política dos novos Estados ó aevião
pela permanência d-1 aos tratados comerciais impostos
e o1áiçã"9 coroniais e por fórmulas pelos ingleses, que garanriam a liberdade
Instjtuições
líticas tomadas de empréstimo. po- a" das
a uaoçãã de constituiç-ões liberais, por "o*ã..iãã;;;"g*ção
exportações foi, entretanto, sem dúvida nenhuma,
exemplo' mostrou-se ineftcaz"*
toaur u. partes do sub-continente, pois desequilíbrio econômico dos novos países.
;;;tr"üüusa do
a.única in.stituição capazde,,urt"ruãiá"-
ro, novos Estados era o exér- outro dado de fundamentar importância é que poucos
cito' A militarizacão terminou poi ãã-irur comercian-
o ceniírio latino-americano. tes ingleses estavam interessados eminvestir
os militares funcionavam, urgrmas u;;;, no. ,ir,á*u, ,rJaíiuo. tu_
como árbitros entre frações rino-americanos. os emprésrimos oferecidos
da classe dominante que tentavam
em cada país impor sua hegemonia taxas aduaneiras eram_raramente cumpridos p"r"i
;;;;d" ã.ii*"ça. a"
paraneurraliru..onfliro, em países e pui.", ãuâ,,eri.u
l:llÍ+ :"ryirT
vla se deteriorado totalmente depois cuja economia ha_ Latina. Por isso, até-1g50, as relações o, países latino-americanos
da guerra. Essa função arbitrar dos e o resto do mundo foram basicamente "nt "
militares freqüentemente comerciais.
não funcionor,iàbr"tuil
ú;;;ã nao Esse relacionamento mercant,, ainda que
possuíam espírito de corpo ero.muru,,, desigual em muitos aspec-
"iliirau
pua" a" frações da crasse domi- tos àAmérica Latina, era bem mais favorávei
à,
nante, defendendo em armas seus do que
intereises particulares. aquele imposto pelas antigas metrópoles ibéricas. "ri,J.A ".p-ãáããri.
Até meados do sécuro xrX, embÀra a
economia dos países inde- direra e.os pesados impostos foramãiminra",
dá;;;il"poUtica
pendentes daAmérica Latina t"rrru
." cterizadopor uma totar aber_ comercial significava a possibilidade de importar", "Êã;ir;;ã"L"*"
tura ao Iivre comércio,-essa premissa "u* artigos manufaturados
-
nao se concretizou, pois o vorume de me-lhor qualidade,maig v3nados u preçô.
de mSrgadoyas que as erites làtino-u*.i"uru, mais co"mpetiti"or.
prar foi muito pequeng
esperavam venderou com- No entanto, Halperín Donghi "(lgbf , p.l0) up."r"nt,
relação i,
pà.riu,i,iJ;;;;;;r,#à.rn"n," números im_
9*
existiam. A economia britânica
portanres-para comprovar a queda no preçô
aoi pioauto. p.iÁ?iio, qu"
iru"i" .ãr.iao um grande abaro nos anos os países latino-americanos exportavaÀ: iprata
impondo baixo-s preç.os para os produtos sofreu u*à qr"Ãi a" aro
latino_americanos e as im_ em relação ao ouro, o couro ao Rio da prati,
portações
-20, de manufaturadosiomeç*- o café eo uçú"ui
u uprrentar sinais de saturação. aproximadamente 30To, enquanto o tabaco baixou "uíiu- "-
o saldo negarivo na barsnça
economias ratino-americanas, "ilJ.;i;i;;J"^r."-u*"nte prejudiciar às Três problemas atingiam a economia ratino-americana"*iO%,. desse perío-
já tão abalaàas peros anos do imediatamente posterioi às Independências
deguêrra e pera
violência da vida cotidiana. s;*.;;;;;;;s
vestidores estrangeiros _ vacilantes
capitais esperados dos in- portância variada dependendo do àpo de produto:
eesses aspectos tiveram im-
u
f."nt" càpitais
á, dificuldades
impor or_ de necessários à implementação do volrme a ser "*ur."rtà"
denamenros porítIcos esráveis -,
situação econômica dranaática.
toaa aam;ilI;rt#;:#;';Tr r-" de de mercados extemos (problemas de demanda)
exportado, a f,isponibilida-
u qrú do pi"ço ro
Neste aspecto, a situação dos países
mercado mundial. No caso da mineração, por exeniplo, " ."*-
dendo da capacidade produiiva ayã.i"r
tinha uma cerüa variação, depen- pre crescente. No entanto, não existiarn "ã".rrJ"'rIi
capitais disponiveis para;;d;;
os níveis de produção anteriores à destuiçâo
do tipo de investimenio necessário p-u "à, ir"cessos de independência e causada peras guerras. A pe-
,,uíro a produção. uma organi- cuá1ia argentina, por outro lado, exigia ptu"o,
inr"rà*"nio., ,rr* foi o
zação comercial mais ativa também
para o sucesso de certos produto mais.afetado pera instabilidaãe áa demanda
produtos, como a Decuária do Rio "ori.iúra venezuerano,
d;pr;;;;;""fé que, arém preços em baixa no período que vai de 1g20
intemacional e peros
do mais, exigiam poucos investimeri;;. a lg4}.a
tos corantes como o anit e a cochonilha
E;;
tambem é o caso de produ- A penúria e o desgaste ãconômico dos noÍos países eram
coetâneos
era baixo e o valor atto.
d"A_Ai;" ô;il;, ;;""r.lr*" a uma §ituação poÍtica.deprorável. As dificuldade,
ô- * * ,uur_
a mineraçào
do México foram muito aretaaas'pàta
ãB;lü", a" pã* à, trato econômico pÍ*a os novos países refletia-se "r.ortde pJer, ins-
nas relações
Nos anos posteriores às guêrras
il;;; "riJáÀ*r",
rnvesrrmentos exremos.
à"irJ"p"naência, particularmen- a
Para maiores dados da economia argentina,
no período, ver cortés Conde, 1992.
182
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Asdificuldadeseconômicasetambérnainstabilidadepolíticae cli-
táveiseviolentas.Aprimeiraetalvezmaislongaetapadeconstruçãodos
de orga- social, decorrentesau.-ú. pãrt P!$er,-folam r^elponsáveis porlmparte
ÉrtuJor nacionais laiino-americanos constituiu-se nas tentativas de 1830' atingiu a maior
peíodo anterior; ma de pessimi.*o qu", u pttiirda década
iirrçeo a"ordenamentos tão estáveis quanto aqueles do Correntes conservadorai das classes do-
em re- dos países latino-ameri.áror.
i*ui ioU." os líderes da independência uma espécie de saudosismo
político-àdministrativa da época colonial. minantestomaramopodereimprimiramumcaráterdespóticoecentra-
i"iao a
"rtuUilidade lizadorao governo dos novos países'
Manoel de Rosas'
Antônio Lópezde Santa Ànna' no México' Juan
eram expressões dessa
ACONSTITUIÇÃO DOS ORDENAMENTOS POLÍTICOS_ . At;;tilu, " ú"go Portales' no Chile' latino-americanos "!i::-
até' aproxl-
""
fera conservadora que atingiu os g1í1e-s
EAAtià;õiÀNôiÀbEÃ'rBrENrpqr,n_pFATSECONSERVADOT'ES
yrns us DESCENTRALV AÇ Ao Nesteperíodo' políticos
§ôóEóuLô xIn^cEIvrRALrzÀÇÃô madamente , adécaaidiis"jo-rsôo' " l1"t'""
temiam a anarqula e
tuais tinham mesma tese sobre o poder do Estado:
a
que
póHtica ao povo latino-americano' o
Adefesadoestabelecimentodemonarquiasconstitucionais.nospaí achavam que tattava experiOncia bens'
de, por limitado-pela. posse de
,"r r""à--"gressos de uma guerra de Independênciarefletia o desejo resultou no estabeleci,,ffi;ilt:"ftágto
umlado, terminarcomas dãsordens intemas e, polouqo' lecebermais
rapi-
A segunda met"í"á" te"'lo Xú foimarcada pelo desenvolvimen-
pã'iáio-oponuo"t-devido - d"::ittTimento
Belgrano das
áu.rr"ntó o r""oúecimento diplomático da nová situação. Manuel to acelerado ao ,"to,
Argentina'-a fórmula na economia e a recupe-
àefendeu, em 1816, no Congt"..o de Tucumiín, na ;ô;. úÀiiuus, a firme intervenção doporEstado
prdutos primários em níveis
,,,orÀquí"u na década de 1"940,no México, através da forte influência de que;;;oo
ração européia, a demânda
" a possibilidade de implantação de uma monarquia constitu- às Independências'
lucu, Àa*an, ;õ;;;;;;;, equivatentes aos anos que antàcederam
ensaio morrárqui- um novo otimismo entre as elites latino-
cional foi arduamente áiscutida. Mes'mo usiio,, apesar do Esses fatores foram motivos de
que pareciam sig- g"tação nova' jovens das elite^s provin-
co mexicano entre 1864 e 1867 ,foram criadas repúblicas americanas e, sobretüíp*u urnu das institui-
embora a maioria dos os restos
,rifr"* ,rrn ror.rpimento mais explícito com o passado' ciais que pen.uuu* rru"ft"tiuiiig^aã3" 'o*p"t "õ*
dos liberais do início do sé-
p"ã* f não tivãssem conseguido estabelecer completamen- cões colonial. ,"tornu"ã, ia"uis reformistas
metrópole espa- .;ffi;ã " i;;il;rres liberais mosrraram-se mais radicais e decidi-
i";,ip" de autoridade tão "eficiente" como aquela que a
"iú"-americanos :ffi a conjuntura social e econômica
úola mantiúa até as guelras de Independência' dos do que os do passado, talvezpoÍque
poder através das reformas'
Os sistemas conititucionais cràdos para transferir o fttà iott" mais favorável para arcalizaçío
foram, freqüentemen- revelam uma alternância de ambi-
de eleições e para garantir liberdades individuais As fases assinaladas ànteriormente
te, formais e não á.urn respeitados na prática' Ainda movidos
pela ne-
entes liberai, na maior parte dos países latino'americanos
genera-
o purrudo col'onial, os governos pós-revoluci- " "orr"íuãores
ae fàr-uçao dos Estadôs.nacionais. Atentativa de
cessidade de romper
;;ãil "o-
adotaram^sistemas fàderalistas em oposição às estruturas
pohq- "ãirrgã-p"rf"O.
lização desse pro"".rã1"^õona" u uma idéia
dapossibilidade de construção
por coorde-
cas centralizadas metropolitanas. Esta "liberalizaçáo" foi acompanhada da história do.ru"o"ii"ãni", evidenciada pela unidade definida E
jurídicas' econômicas e fis- a todos os países daAméricalatina'
de outras reformas políiicas, educacionais, nadas histórico-esff;;i;"o.,,or,, em cada
cais, todas movidas pelo entusiasmo da vitória nas
guelras de Indepen- importante, ,o u' diferenciações que ocorreram
do sistema federalis- "r*riiãã'tu"* emancipaçoei' Se no período colonial
foi
àénóiu. Ahistoriograha atribui, em geral, a adoção país, principufro"nt" u bu'ti' das
o grande
ta e o estabelecimenú de um
"*""úiuo
limitado pelasConstituições à
necessário traçar as;ffi;ilã"d";;;;^t resião quê formaua
deve-se ter pãrioaó porterior às Indepen-
conjunro submetia" íJr" *"?áp;úibá"",
ro
tentativa de imitar o modelo norte-americano, mas também
realidade anrerior. cada vez mais acentuadas' Se essa
áà Àãrt" o propósito de rompimento com a óências essas particülaridades iornam-se
começava a discutir a necessidade de essa última' por sua'vez' não
. Contudo, á purtit a" I820,iáse heterogeneid"O" ,a, ilpta e a generaliação' de
prwinciais,.que exis- risôo áe simplificarmos a história
centraiização do poa"ip*u fazer"frente às resistências oode ser o foco ."ro"l ;ã;;ü!le, sob o
as elites criolla.ç acha-
tiam do úé*i"oào Cú1", poÍque, por esse meio, fada país do conjunto latino'americano'
" para a história do subcon-
uu-.rrui, fá"ilreceber recoúecimenio diplornático, conseguir empréstimos Os casos t utuJo' a seguir são exemplares
e ganhar confiança dos países europeus'
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tinente e foram frutos de uma seleção, cujos critérios respondem ao dese- foi de fato uma solução transitória para o conservadorismo
de Itúrbide
jo de discutir alguns países significativos da América Latina neste perío-
mexicano e foi substituído pelo chamamento militar do comandante de
do. Entre os países densamente povoados por populações indígenas mais guarnição Antônio López de Santa Anna, cujo poder demonstrava a gran-
ou menos organizadas e que tiveram grande importância produtiva no pe-
de influência do exército no período imediatamente posterior à Indepen-
ríodo colonial, destaca-se o México, que, além do mais, representa os ca- dência. Uma constituinte e eleições para presidente da República colo-
' sos de conservadorismo extremado após a Independência, por causa do
caram no poder o liberal Guadalupe Victoria.
temor das rebeliões populares no processo. Na região do Ri6 da Prata, o A classe dominante mexicana apresentava-se dividida entre libe-
processo de formação do Estado nacional argentino é capaz de dar conta
rais e conservadores. Os primeiros defendiam a descentralização políti-
de questões importântes do ponto de vista do êxito econômico da ativida-
ca e o federalismo, tomando como exemplo o modelo de organização
de prirnrário-exportadora e, também, da forma como foram debeladas as
norte-americano e, por isso, eram conhecidos como yorquinos- Os con'
disputas internas nos países onde a saída para o mar oferecia à burguesia
servadores inspiravam-se na Inglaterra, mantinhamrelações com o côn-
compradora uma oportunidade ilimitada de enriquecimento. Ainda no cha-
sul britânico no México e defendiam o centralismo político, sendo cha-
mado Cone Szl, o Chile foi considerado pela historiografia latino-ameri-
mados também de escoceses. Embora o presidente Guadalupe Victoria
cana, incluindo o próprio pensamento corrente no século XIX, como um
tivesse conseguido fazer seu sucessor, um outro liberal, o presidente Vi-
país de precoce estabilidade político-insútucional devido a uma extrema-
cente Guerrero, os conservadores mexicanos não puderam calar-se di-
da centralização do poder. Os reflexos da estabilidade e segurança chilena
ante das tentativas de reformas liberais que pareciam extremamente ame-
foram sentidos nos principais países andinos, a Bolívia e o Pãru. Tidos como açadoras. Eles não concordavam, na realidade, com a própria condição
exemplos importantes de regiões onde as relações pré-capitalistas de pro-
dó país independente. Lamentavam a evasão monetária causada pela fuga
dução, bem como a permanência de estruturas coloniais, foram mais evi-
de ricos comerciantes peninsulares depois de l82L e não se conforma-
dentes até o começo do século XX, esses países tiveram mais dificuldades
vam com a redução numérica da classe dominante'
parua consolidação do Estado nacional. Também são exemplares os pro-
A proposta dos primeiros presidentes liberais, de expulsar os últi-
blemas de integraçãoregional ocorridos naAmérica Central, empaíses cuja
mos espànhóis peninsulares do país, resultou numa revolta ainda maior
atividade produtiva no período colonial não tinha tanta importância quan- por paÍe dos cónservadores. Pequenos proprietários rurals e comerci-
to o seu funcionamento como centros administrativos da metrópole no ãntes de aldeia eram espanhóis que ainda permaneciam no México após
além-mar. Enquanto a maior parte das elites agroperuaristas latino-ameri-
a independência. Mesmo assim, eram os mais odiados pelos mexicanos
canas tiveram que liberar terras, imobilizadas nas mãos de comunidades mais direto que mantinham com a população.
pelo
- contato
indígenas ou eclesiásticas, para atender às exigências de uma economia O pano de fundo da situação criada pela expulsão dos espanhóis
primário-exportadora, poucos países, como Cuba, Brasil eAntilhas, foram
peninsulares era, portanto, as relações da classe dominante com a plebe
forçados a liberar os próprios trabalhadores, submetidos às leis da escra-
é com as classes médias urbanas e pequenos agricultores. Os grupos
vidão africana no subcontinente. O exemplo cubano é interessante, pois médios urbanos reivindicavam desde a Independência um lugar nas es-
se realiza em uÍna fase em que o modo de produção capitalista atingia sua
truturas burocráticas do novo Estado. O que dividia liberais e conserva-
fase imperialista e também com a abolição sendo simultânea ao próprio
dores, neste caso, era a tolerância dos primeiros para com as camadas
processo de Independência.
populares e médias. Entendiam que sua ascensão controlada seria um ris-
õo menor para o domínio das classes dominantes. Os conservadores, por
México: Independência pelo alto predomínio conservador
e
óutro lado, resistiam à integração dos grupos excluídos e ao projeto li-
beral de redução dos privilégios da Igreja, intervenção na questão das
No México, a lndependência foi resultado de um tipo de restaura-
terras monopolizadas pelos conservadores e idéias de promoção do de-
ção do poder dos defensores do antigo regime. Temerosos de uma solu-
senvolvimento nacional através da criação de indústrias têxteis.
ção radical do processo revolucioniírio, todos os conservadores mexica-
Resignados com o poder assumido pelos militares após as lutas pela
nos apostaram numa transição pelo alto à vida independente. O Império
Independência, os conservadores apoiaram o golpe do general SantaAnna

186 r87
em 1934' Aditadura imposta,
partir de então, produziu
a
de 1836' Era conservuaãru a constituição cos desses caud,hos que foram ameaçados
excessiva com a Independência e as ten-
ca' com a perda de autonomia "rá;;ü;
" oos rsáJo. centrarização
e restrição de voto aos
poríti_ tativas de fo^rmação dô Estado ,u.ionuiargentino.
dãos mais ricos. um do,
;;;lr;Ãr"riui' a"rur,"dã, ã.*.ioru cida_ o confronto entre interesses de unifiãação do
Estado nacionar e os
nização porítica roi a retiraáa;; orgu- que pretendiam autonomia provincial
na província de yucatán,com
T"#i" federação e a Iuta ciantes de Buenos Aires em mart".
traduziá-se na tentativad#lil"i]
duraçaJil;", "à*pon"ru
anos. Ambas as regiões
rÀã q"sição hegemônica na expor_
não tação de couros, charque, lã e ourros piààrtoi
;::'lil.S"i*fi1;:a"suniuãn"J;;;;;;l;ã;ffi ili'Jiçaopon- tempo' manter-se adiante no p.o."rro
pr";ir;iil", ; mesmo
ae importaça" á" p.ãàrr.s euro-
oficiarmente, g peus' No entanto, a incapacidade desse
foi incorporado aos Estados grupo comerciante em unificar
!1as-só
resulrado da guerra de.rgas-rgag unidos como as províncias e manter um governo
terno dos Estados unidos
Á;'#, reve origem num projero in_ do de guerras civis.
centíafiàadot uorriu-." íu- perro-
a"..t"nJo'riã, aont"rruú oest" e áo sur. Em
1848' o México perdia As derrotas territoriais sofridas peras províncias
-"a"
nra e Novo México) para
àãI",iJfrrorio (Texas, Anzona,catifór- hata, que abarcavam o antigo ui."-."i* ào unidas do Rio da
os grúá". ürüàr, u"r""dor"s Rio daprata, ocorreram des-
Itjl,
t'l" pí otagoniza. *r" do conflito. Em de o começo das guerras pe-ra Independerrcia
e,"f*d;il;;^iiuu""r.o,
tonars: entre s-'
a.

"rp'rril arecebe
n hi s tóri a das re aç da luta pela unificação. o AIto peru ror
õe s terri-
México e Eitados Uniaoi.quãndo r

dez milhdes de dó_


reànquistadà;;i;;.p*hóis, o
uniaos a iri'rãã'" irá"1r"""ção Paraguai separou-se e.1 rg13 e_ o uruguai
em rg16. Em rg20, fracassam
lffi:||if,'[::s em rroca de mais uma ra- as tentativas de centrarização e houve
ã decomposição do Estaáo unitário.
De
forma desasladlchggara com a vitória das forças federaristas o"oou
ao fim também o reforço de poder
xico' Em 1856, os iiu"rui. JEguiuirã" a aventura conservadora no Mé- dos caudilhos do interior. Esses estavam
r"0* pararearizar as reformas int"rersrdos **i", á produ-
que promoveriam a consoridação
ao Esiído nacionar mexicano "-
ção artesanal, que era bastante prejudicada em runçao ãu-iõã.ãçao
a"
nam o pÍocesso de extensão e inicia_ manufaturados europeus. Reivindiõavam
aô modo ae "
proauçao;üô;;;." os produros de suas províncias. os
umaproteção alfandeg á,,a para
caudilhos aà ri,oiJ*g*ãrã+or seu
Argentina: guerras civis em turno, aceitavam o domínio portenho,
õaspi.açães de auronomia
úorno da heqem.nio nnrí^..L- . mas pretendiam
lio exercido por Buenos Airôs sobre ;r;";ã;.
rr;d;;ã;"r"
r", ##?i#XTl"Hffp, As guerras civis só foram deberadas graças
aduaneiras.
à intervenção m,itar
A Argentina também. foi parco de um caudilho federarisra: ruu, vrunr"iáJnó.ur.
constituição do Estado nacionai.
de lutas intestinas no processo
de grandes proprietários provinciais
Há i"pràr*,uru o.
e mais destacada do proces_ de Buenàs Air", tirr,uãupãio a" p"-
"_p."r.à" quenos comerciantes e da massa rural. "
Rosas_estimuloú u irão.poruçao
;Jí,'("rTfr:l:àô:,"*'un"iuao""aíàir'"r'*'e,""o,ã'ã,",.àTc,,- de novas terras para a pecuiíria ur.urer
áuà^pursão dos rraio, quà"r, o"r-
pavam, tratou de incorporar novas técnicas^à
produçã" J" ir-
o processo de independência, com centivou a insraração de indústrias de rã. "tá.ã* " ro
seu coroliírio de transformações,
trouxe
À, i".t iç'0", a-rà-uãg=u!ao
aos caudilhos uTa ameaça
a interesses àspecíficos, que Rio da Prara e or átuqu"s *;f;irári;,
ira de países como a França.e tngtatena !rãuo"*u.n
ser combatidos. A guerra entat passam a simultaneamenre a
ci"rirà.àr- rài,^" a" irlJããJülãi"rrio, ã a continuidade
das lutas inter-
g-arantia de privirégios p"ru
de queairp"ir,àá no período coloniar, nas. A política rosista atingia taãruém os comerciantes
qu"t" a"r'"nuãiu"* ru tentariva conrrari_ brasileiros inte-
ressados nos negócios pecuaristas uruguaios.
:l#"ff§j::políticos de uma organi-
resolveu investir na luta
Somente em lg5l o Brasil
Rosaíquando o generar Justo José ur-
quiza, caudilho de Entre :o.ntra
Rios, resorv"uão"*-re em oposição
A tese anterior revela que, em frontar
primeirg lugar, os caudilhos aos p§etos portenhos.
nos não são um fenômeno argenti_
iurgido àpós-a ira"p"rdência. A-disputa pela Banda oriental se desenrorava
tam ao período coroniar e EIes remon- há pero menos dez
anos e Rivera, então presidente do uruguai,
de apropriação da rerra. ".,aãlrair'.ãiriár.n"nt" Iigados ao processo
il;üffiiígãr]r"..utra interesses ãspecífi_ cercado pelas rropas comandadas porvrãnuát
esteve durânte
o.ib;, qu;;;;;;üi*_."
"rr"-i"_po
188

189
na Argentina, recebeu apoio de Rosas para anexar o território considera- Chile: a precoce centralização política
do perdido desde 1816. Riverajuntou-se às lideranças descontentes das e os êxitos econômicos e militares das classes dominantes
províncias e ao Brasil para demrbar Rosas.
A guerra em torno dessas questões terminou com a vitória em 1852 O Chile é considerado umpaís sui generis em seu desenvolvimen-
do general Urquiza. O caudilhoda província de Entre Rios propunha uma to ao longo do século XIX. Essas diferenças dizem respeito à estabilida-
união federativa, mas os unitários portenhos que haviam retornado do de precoce que o país obteve às custas do desenvolvimento econômico.
exílio depois da queda de Rosas se opunham frontalmente ao projeto. Logo após a Independência, o governo de O'Higgins f9i acusado
Buenos Aires acabou separando-se da "Confederação Argentina" em de autoritárió e deposto em 1823. Seguiu-se um período de disputas in-
1853. Acapital da Confederação era Paraná (Entre Rios) e Urquiza foi ternas e uma breve experiência liberal e federalista, sob a presidência de
eleito o seu primeiro presidente. Francisco Antônio Pinto (1827 à L829).
Ao mesmo tempo em que o novo governo deliberava quanto à o retomo ao regime conservador foi liderado por uma coalizão de
abertura do país à navegação estrangeira, reaLizava acordos de auxílio pró-clericalistas, seguidores de O'Higgins, e por um grupo-de mentalida-
mútuo com o Brasil e recebia de braços abertos imigrantes de todo o àe conservadora dai firmas de tabaco. Uma breve guelra civil deu a vitó-
mundo, Urquiza tratava de competir ferozmente com a província de ria aos conservadores, em 1830, na batalha deLircay. Diego Portales, um
BuenosAires, sem no entanto conseguir qualquer igualdade com aquela comerciante de Valparaiso, foi o articulador da vitória conservadora e da
potência. Além disso, Urquiza tentava reincorporar a província de Bu- Constituição de 1833, que era extremamente autoritária, delegava amplos
enos Aires por intermédio da coerção. Foi vitorioso em 1860 na bata- poderes aô executivo, fortemente presidencialista, e permitia a reeleição
lha de Cépeda. O comandante portenho Bartolomeu Mitre se compro- para mandato de cinco anos.
^
meteu a aderir à Confederação mas, em vista da resistência de Buenos Até meados do século, o país viveu um período de tranqüilidade ins-
Aires em cumprir o acordo, o problema só foi resolvido em 1861, na titucional, assegurada pelo desenvolvimento da mineração ao norte e pela
batalha de Pavón. A Confederação já apresentava dissensões e Urqui- primeira vitória na Guerra do PacíÍico. As relações entre o Chile e o Peru
za abandonou o campo de batalha, o que, na verdade, se traduziu em vinham se deteriorando ano após ano devido à rivalidades comerciais, guer-
um acordo de pacificação, momento importante da constituição do Es- ras tarifárias e ao não-pagamento do empréstimo feito pelo Peru ao Chile.
tado nacional argentino. No entanto, o que detonou o primeiro conflito foi a aliança entre o Peru e a
Em 1862 Mitre tornou-se presidente provisório da Confederação, Bolívia numa Confederação, em 1833. A ameaça desses dois Estados re-
transferiu a capital para Buenos Aires e impôs o controle nacional em sultou numa declaração de gueÍra por parte do Chile em 1836, sob a presi-
favor das oligarquias agropecuárias das províncias do litoral e do gru- dência do preposto de Portales, Joaquín Prieto (1831,,1841). Em 1839, o
po mercantil portenho. Mitre concordou em dividir os direitos alfan- Peru e a Bolívia se renderam e a Confederação se desfez.
degários com as demais províncias através de um cálculo-que era rela- O sucessor de Prieto, general Manuel Bulnes ( 1 84 1- I 85 1)' encon-
cionado com a densidade demográfica e a produtividade, o que ainda trou o país orgulhoso da vitória na gueÍra e, especialmente, do presiden-
permitia à Buenos Aires um enriquecimento maior do que às demais te que havia derrotado o exército boliviano. Ao mesmo tempo, o aumen-
regiões do país. Além disso, Buenos Aires comprometeu-se a assumir to ãa demanda internacional por produtos agrícolab, sobretudo os cere-
as dívidas das províncias decadentes do interior como se fossem dívi- ais, deu novo alento aos proprietários do centro do país. A abertura de
das públicas nacionais. O conflito unitarismo versus federalismo era novos mercados, da Califórnia e Austrália devido ao auge do ouro, foi
solucionado em favor deste último e, embora o projeto de Mitre fosse responsável pelo desenvolvimento mais acelerado do setor de transpor-
centralizador, ele respeitou e preservou as autonomias regionais, tanto tes e comunicações.
do ponto de vista econômico como político. Trabalhou em favor da O crescente interesse por novas terras para cultivo dos cereais e tam-
pacificação do país e com a clara subordinação das províncias do inte- bém a necessidade de carvão para as fundições de cobre levaram o go-
rior aos negócios de exportação e importação. verno chileno a intervir nas terras dos índios araucanos, localizadas ao
sul do país. As comunidades indígenas foram sendo empurradas para

r90 191
regiões cadavezmais ao sul, para finarmente,
nadécadade 1g70, serem
C9- a Argentina, o govemo chileno discutia a posse da patagônia.
Na segunda meP{e do sécuro XIX, a estab,idade
^
Apesar de grandes protestos popurares, o congresso
-
,'lada por
crescentes reivindicações riúã-raúzantes.
ch,ena foi aba- de um tatado, oAcordo.de Fióno-sanatea,
chfleno aceitou os pontos
Francisco B ilbao, san_ ãnde se d"timitrra a prrp.i.a"-
tiago Arcos e José vctorino t-ustuniu de argentina da Patagônia, restando ao chiie
apenas uÍr, pequen afirxa da-
entusiasmo com a Revolução de rg4g,
filgavam idéias provenientes do quela"região, o problema intemacional com
na"rlunçu. c";J;;ir"ri, aproxi- a Bolívia era mais sério e de
inar-se dos artesãos da capital ro.-urârn difícil solução. o deserto deAtacama era bem rnais importunt"
a sociedad de ra iguardad,po- uo à"senvor-
dendo impor aos conseryadores " a figurade vimento econômico chileno do que a pobre put go"iulá
ú;ü
civil a ocupar a presidência do Cnife. "úontt governou
ú;;ü;;rimeiro bre esse deserto a discussão com o govemo uotiíiano. "*;rráã"nt"
.o-
entre l g5 1 e I g6l , u-uãÃounrriu a"
capitais chilenos e britânicos, a compaffia de salitres
sob constantes ameaças e arguns *"r"J" gú"rra civ,, riderada tanto por v r,".ro"rá?a"to_
liberais que não aceitavam-seu modo de governar
como por conserva- !s11tu, explorava com concessão boliviana os territórios ricos em nitratos,
dores desconrenres com a possível riberarízaçã" fertilizantes de grande aceitação no exterior. Essa companhi;:;;;;
de tensãó, Manuer Montt rao poa",
d;;"fiJilJ.s" os demais empresiírios em roda a região r".-áaGi", "o-"
"ti.r,
os presidentes anteriores, es- ".hr"19.
Antofagasta, Iqyique, Arica
a"
colher seu sucessor. "ãÀã e Tâcna, cresciam-exageradamente aos"iáua",
orhos dos
José Joaquín pére.zf:i9^tllimopresidenre dois países que haviam concedido o direito de expÍoraçao:
a Bolívia e o peru.
do Chile a cumprir um
mandato de dez anos (lg6l_lg7l) e fãi
em mandaro que participa_
Esse último havia nacionalizado suas minas, situàdas
em r*up*lã r szs,
ram Iado a lado os conservadores áo partào -seu ao mesmo tempo emque o presidente peruano estaberecia
Nacionar e a Fusãó Liberar_ umacordo secre-
to com a Bolívia. o chile, para evitainovas perdas, tentou
conservadora, fundada em rg62. Mesmo partido
o Raai"ul, de
u"úà, u
liberais históricos, foi arraído pglo g";";;p;;;r" Bolívia no sentido de traçar as fronteiras definitivas, pu.ti"rru.*ãni" "o*
ô;;ilrd" "*posto
àl.ru ai na rica
versificaçãona participaç_ão pãrti"ã foi província boliviana deAntofagasta, estabelecer o pekodo
um crescente crima de liberali_ dus concessões e
zação que culminou, em r gT l ano da posse determinar impostos, taxas etõ. As exigências bofivianas traduziram-se
, de Frederico Enázuizzafrar- na
tu (1871-1876), com uma emenda coistitucionar aprovação, em 1874, de um imposto de dezcentavos por quintal
que proíbia a reereição de fertili-
dos presidentes. zante expoÍado pela compaúia chilena de saritres
deanôragasta. o chi-
questão presente nos debates políticos le não ageiloug imposto é, em vista da insistência boliviana
. luqa da época, incruindo a Jameaças de
presidência de Anibar'pinro (lg76-Igs_tt expropriação, invadiuAntofagasta, dando início à guera.
roi u riroràporiru-
"r."r.'iuu ;üuiriruao,
ção.d: poder por parte do execurivo. os congressi*^, A Guerra do Pacífico iniciou em 1g79, nüm mo*"rto em que a
partidariamente. exiqiam uma flexibil Já economia chilena estava abaladae a confiança no país deveria
izaçãoí" p.d;; á pã.iililiaua" perada a qu{gyer preço. Apoderando-se das riqr"rár
ser recu-
de controle maior soire os atos do executivo. *irr".ui. áããeserro
o veto constante às atitu- do norte, o chile poderia respirar aliviado da crise em curso.
des de ministros de Estado tornava-se
uÃu *."u política desse período Embora os
três países estivessem altaménte despreparados para gru.,u,
:::ll,:Iuito-spolíticos consideravu- u air.u..ão esrérit, visto que
o
u
nha sobre a Bolívia e o peru a vantagem de um governo
o õt it" ti
pars começava a sentir os efeitos da crise mais estável e
internacional de r'g73.
Até então o ch,etinha experimentado uma maior unidade nacional. Enquanto os-processos el-eitorais chilenos
estab,idade econômi- trans-
ca e política correram com tranqüilidade durante os anos de guerra, a
desconhecidu no."ito do continente. Amineraã;;;. ,"- Bolívia e o peru
tor mais importante da economia chilena, foram.sacudidos por vários tipos de insurreiçõãs nesse período.
seguido
rinha de trigo, cereal que encontraru."..udo.
p"l";;à;;a-á a" fu_ A vitória chilena sobre ô peru foi negóciada igg3, noAcordo
centes' Quase meia déiada depois da "^àriorã.1"ãil" de Ancón, dando ao chile controre perpétüo sobre"*
Indeplndência o chile Liium "r"r- o territóiio de Tara-
muito próspero e integrado pôriti"u-*tãlo país pacá, e o direito de ocupação de Ariãa
otimismo chileno foi aba_ ô Tu"nu pelo irrazo de dez anos,
quando entãorealizariam um plebiscito I'ocal paia deôiai,
lado a partir demeadõs dosànos rsió oerido a três
corheitas desastro_ o à".iú nnut
sas, aparecimento de novos produtores da região. um novo acordo, émr929,deu poder sobreArica
de cobre trigo, uu,,ãnà-ü*..o aos chile-
do custo de vida e tensões internacionair;;h " nos e sobre Tacna aos peruanos. o litígio ôntre a Bolívia
a"riÀi-"çaoã"-i.ãru"i.u.. e o chile foi
resolvido a partir do Tratado de santiigo, em rgg4, peto qraio
chile
192
r93
recebia todo o território boliviano do deserto de Atacama, incluindo os lívia era extremamente dificultado pela travessia do deserto deAtaca-
portos marítimos de Antofagasta, Cobija, Mejillones e Tocopilla. Em ma, o porto de Buenos Aires perdera toda a sua importância depois da
1904, o Chile comprometeu-se a pagar uma indenizaçáo de trezentas mil Independência das Províncias Unidas do Rio da Prata, e a vtilização
libras esterlinas à Bolívia e construir uma ferrovia ligando Arica aLaPaz, dos portos peruanos e chilenos era dificultada pela instabilidade das
para possibilitar o escoamento de mercadorias bolivianas pelo Pacífico. relações entre os três países vizinhos.
A Bolívia ficou sem a sua célebre "saída para o mar" e renunciou defini- Do ponto de vista político, Peru e Bolívia também apresentavam
tivamente aos territórios do deserto de Atacama. muitas semelhanças, especialmente pela instabilidade reinante e pela
Um dos objetivos da guerra foi atingido pelo Chile: o país recupe- impotência dos grupos dominantes rurais e mineiros frente ao desastre
rou seu otimismcj e aumentou seu território em uma terça parte do que econômico pós-Independência. Nos dois países, um dos resultados mais
era anteriormente, com regiões altamente ricas em produtos minerais. O notáveis das emancipações teria sido a abolição dos impostos indígenas
país recobrou a estabilidade, quase perdida devido à decadência do co- e a abolição da prestação de serviços pessoais. Foram leis que tiveram
bre e da prata, através da incorporação das terras bolivianas e peruanas e que ser revogadas sem mesmo serem colocadas em prática, porque os
pode, assim, manter a marca de originalidade frente aos outros países da países não conseguiamfazer frente aos gastos meramente administrati-
América Latina, instáveis e fracamente integrados no século XIX. vos do Estado.
O resultado da instabilidade política dos dois países, exemplifica-
Peru e Bolívia: isolamento econômico e desarticulação polÍtico-social das por golpes, vários presidentes em poucos anos e constantes mudan-
ças constitucionais, foi a união da Bolívia e do Peru em uma Confedera-
O Peru e a Bolívia foram, historicamente, países típicos da insta- ção, fundada em 1836 pelo presidente boliviano Andrés Santa Cruz
bilidade e fraca integração, aspectos tão presentes na historiografia con- (1829-1839). AConfederaçáofaziaparte de uma estratégia de Santa Cruz
tinental. As independências pemana e boliviana, em 1821 e 1825, res- de dominar com mão-de-ferro os dois países e foi apoiada por grupos
pectivamente, não modificaram a ordem política, econômica e social dominantes do sul do Peru. Entretanto, contra ela estavam as elites diri-
do período colonial. Ambos os países tiveram uma trajetória econômi- gentes de Lima, as camadas populares (ameaçadas com o aumento de im-
ca comum no período imediatamente posterior às emancipações polí- postos decretado então), o govemo chileno (cuja elile comercial sentiu-
ticas, porque ficaram não apenas estagnados em suas atividades pro- se ameaçada em sua hegemonia sobre o Pacífico), o Citador argentino,
dutivas, mas também sofreram uma espécie de isolamento econômico, Rosas, frente às ameaças de Santa Cruz de restabelecer o velho predo-
decretado pela produção agrícola auto-suficiente e pela manutenção das mínio colonial da região andina, e os próprios bolivianos, porque Lima
comunidades indígenas na apropriação do solo. No Peru as atividades foi eleita sede central do governo confederado. ,
predominantes na costa litorânea foram o açúcar e o algodão, fortemente O Chile declarou guerra à Confederação em 1836, seguido pela
ameaçadas pela libertação dos escravos no período de guerra. A mine- Argentina em 1837. A inrrasão chilena de 1837 fracassou, mas ao con-
ração desse país, por sua vez, teve uma queda brusca com a interrup- tingente de descontentes vieram somar-se os ex-presidentes peruanos
ção da exportação de mercúrio e a abolição da mita, em alguns casos. AgustÍn Gamarra e Felipe Salaverry e o general Ramón Castilla, tam-
Os portos peruanos, como o de Callao, por exemplo, custaram muito bém peruano. Abatalha de Yungay, em 1839, pôs fim à guerra e também
para adaptar-se às exigências internacionais, com o que o país, antes à Confederação.
dependente do porto de Buenos Aires, passou a depender do porto chi- O fracasso dessa experiência veio comprovar os limites da retomada
leno de Valparaíso, pelo estreito de Magalhães. O isolamento bolivia- do poderio que os dois países possuíam no período colonial. Embora a
no era ainda mais drástico. A decadência da mineração transformara economia e a geografia não pudessem justificar tal separação, as guer-
Potosí de uma das cidades mais populosas do mundo em uma das mais ras de Independência resultaram em uma fronteira tão flexível que per-
pobres. A falta de investimentos, as guerras, o abandono das minas e a mitia às elites de ambos os países promover a alternância de climas de
abolição da mita foram fatores que contribuíram para a decadência e hostilidade e boa vizinhança, conforme a situaç{o social, política e eco-
dificuldade de recuperação. O acesso ao único porto marítimo da Bo- nômica assim exigissem.

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