Você está na página 1de 4

Análise da atividade do profissional da engenharia e dos princípios éticos do Código

de Ética do CONFEA/CREA
Aluno: Fernanda Enéias Dutra
Turma: TTXX (quarta a noite)

I. Introdução

A ética profissional é definida como um conjunto de normas que controla tanto a


moralidade quanto o comportamento de profissionais do desenvolvimento de suas
atividades no dia-a-dia. A evolução da tecnologia, grandes projetos de construção,
globalização e um crescente foco na sustentabilidade dos ambientes construtivos tem
aumentado a responsabilidade dos engenheiros civis. Portanto, eventualmente, surge a
questão: como se comportar em situações moralmente complicadas?

Tendo em vista a obrigação de balancear e lidar com a crescente preocupação com custos,
responsabilidade social e segurança para a construção, é necessário que sejam
estabelecidos Códigos de Ética impecáveis a respeito da conduta profissional e que sejam
independentes das opiniões de grandes construtoras e investidores, garantindo assim, a
sua imparcialidade. No ambiente da construção civil, o valor incalculável da vida humana
demanda nada menos que as considerações morais mais elevadas para aqueles que caso
contrário, a colocarão em risco.

No Brasil, os profissionais do Sistema CONFEA/CREA elaboraram em 11/12/2014 a


última edição do Código de Ética para os profissionais e estudantes da área tecnológica,
buscando padronizar a conduta ética profissional.

Além de ajudar o profissional a tomar escolhas quando os problemas na sua prática


profissional envolvem questões éticas, muitas vezes, a sociedade cria um sentimento de
uma espécie de orgulho e satisfação quando uma classe profissional opera sob as
premissas de um Código de Ética, ajudando, portanto, a formar uma identidade para os
profissionais, além de maior cooperação entre a classe.

O papel do Código de Ética não se restringe a dar orientações para a conduta profissional,
mas também ajuda a eximir parcialmente o indivíduo que atua como Engenheiro Civil da
sua responsabilidade, tendo em vista, que perante uma requisição irregular da sociedade
ou da indústria, ele é capaz de referenciar o Código de Ética e justificar e embasar as suas
ações, tendendo a agir de maneira moralmente aceitável.
Diferentes códigos para engenheiros civis podem ser encontrados em diversos lugares do
mundo, como por exemplo, o “Ethics Guidelines for Professional Conduct for Civil
Engineers”, divulgado pela ASCE (American Society of Civil Engineers), publicado em
2008, ou o “Fédération Ingénieurs et Scientifiques de France”, publicado em 2001,
apenas para se mencionar alguns. Os princípios básicos para a conduta dos profissionais
podem ser comparados em todo o mundo, inclusive quanto ao seu objetivo principal, de
evitar conflitos de interesse, uma atitude repreensiva perante subornos e bonificações,
evitar influência na performance e no julgamento de um engenheiro, como proteger o
ambiente, entre outros.

II. A Ética Profissional, a Indústria da Construção e os


Consumidores

A indústria da construção é um ambiente ideal para dilemas éticos, tendo em vista a sua
crescente preocupação com a redução dos custos, competição desleal e limites um tanto
quanto nebulosos. O comportamento antiético tem causado danos crescentes à reputação
da indústria construtiva, o que inclusive foi evidenciado em pesquisas conduzidas na
Austrália (2003) e na África do Sul (2005), onde foram identificadas diversas condutas e
dilemas relacionados à ética, como corrupção, negligência, suborno, conflitos de
interesse, superfaturamento, concorrência desleal em licitações, entre outros. No Brasil,
o cenário também se repete, tendo em vista recente queda nos investimentos públicos em
construção após a operação investigativa realizada em 2014, denominada Lava Jato, que
detectou que grandes empresas da construção civil fraudavam licitações de obras públicas
juntamente com políticos corruptos.

Portanto, se torna claro que é necessária maior atenção à ética no setor da construção, e,
recentemente, em diversos países tem ocorrido uma mobilização na tentativa de reduzir
tais acontecimentos. Por exemplo, na África, os regulamentos profissionais passaram uma
extensiva revisão no final dos anos 90 e uma nova série de atos profissionais foi efetivada
em 2000 para melhorar o profissionalismo. Na Austrália, foi elaborado em 1997 uma
nova regulamentação visando aumentar a transparência e a assertividade das licitações.
No Brasil, nota-se de uma maneira generalizada um “medo” crescente ao ilegal, além de
abrir maior espaço para a participação de empresas de médio ou pequeno porte na
participação de licitações, o que antes não era possível na prática, notando-se, portanto, a
configuração de um horizonte mais justo.
Os consumidores são as pessoas, entidades ou empresas que financiam os projetos de
construção e que agem como impulsionador do setor, sendo os iniciadores do processo
de execução dos serviços de construção civil, podendo ser separado entre aqueles do setor
público e os do setor privado.

Em pesquisa realizada em 2011 na África do Sul (Abdul-Rahman) comprovou-se que os


consumidores percebem a ética professional como a análise das causas e maneiras de
mitigar condutas antiéticas, e que as cinco piores formas de manifestação eram
“premiação ilegal à construtora”, “suborno”, “quebra da responsabilidade profissional”,
“descumprimento da confidencialidade de projeto”, e “acordos ilegais em licitações”.
Enquanto as três principais causas identificadas foram “ausência de ensino eficiente de
ética nas escolas”, “crise econômica” e “ausência de ensino eficiente de ética nas
instituições profissionais”. As três ações efetivas de mitigação da conduta antiética no
mercado de construção seriam “tornar a conduta antiética uma atividade criminal”,
“treinamentos e programas sobre ética profissional” e “lei, regulamento e fiscalização
pelo governo”.

Nota-se, que tais resultados não parecem se distanciar muito da situação observada
atualmente no Brasil, inclusive no que concerne as causas para o comportamento
antiético, ocorrendo ainda no Brasil uma relação direta entre os acontecimentos políticos
e as irregularidades no ambiente da construção civil, que muitas vezes funciona ainda,
como um motivador para as ilegalidades não só no setor financeiro, mas também na parte
de projetos e executivos, que devido às irregularidades em licitações muitas vezes ocorre
sem fiscalização, por empresas não necessariamente qualificadas e com uma preocupação
excessiva com os custos, o que deixa de lado a segurança e estabilidade da edificação.

III. Conclusão

Devido à crescente importância de elaboração de códigos de ética para Engenharia Civil


que se apliquem ao cotidiano do ramo, surge um questionamento sobre a importância de
cursos e capacitação adicional na área de ética oferecidos aos profissionais. A resposta
deveria ser não.

Certamente, as instituições de ensino superior de Engenharia Civil devem tomar para si a


tarefa de conscientizar os alunos e futuros profissionais a respeito da ética no ambiente
de trabalho, porém isso não deve ser restringido à um curso ou disciplina específica e sim,
questões de conduta devem ser abordadas frequentemente em diferentes disciplinas
conforme os temas específicos, incluindo aulas sobre legislação e gerenciamento de
projetos. Cabe também abordar tal tema em ambientes onde os aspectos práticos possuem
uma maior representatividade, como em empresas, etc.

Acredita-se que essa seja a melhor alternativa devido à maior relatividade entre os
assuntos específicos abordados em sala e os consequentes problemas éticos que podem
surgir, fazendo com que quando tal situação de fato ocorra, seja intuitivo para o
profissional a decisão a ser tomada. Além disso, a carga horária atual dos cursos já é
considerada bastante elevada, tornando de certa maneira impraticável a existência de uma
disciplina específica para o tema.

Porém, tendo em vista a importância da ética em uma atuação que interfere diretamente
com a vida de milhares de indivíduos, caso seja observado um crescente número de
acidentes e ilegalidades na prática, tal posição pode e deve ser reavaliada.

IV. Referência Bibliográfica

ARAUJO, MOTTA. O que está acontecendo com a engenharia brasileira?. Disponível em:
<https://jornalggn.com.br/noticia/o-que-esta-acontecendo-com-a-engenharia-brasileira>.
Acesso em: 13 jun. 2018.

ASCE. (2008). “Ethics guidelines for professional conduct for civil engineers.” Disponível em:
<http://www.asce.org/uploadedFiles/Ethics-New/ethics _guidelines010308v2.pdf> Acesso
em: 13 jun. 2018.

CONFEA/CREA. Código de Ética Profissional da Engenharia, da Agronomia, da Geologia, da


Geografia e da Meteorologia. DF - Brasília: Gerência de Comunicação do Confea – GCO, 2014.

FERREIRA, RAEMA. ANÁLISE DOS IMPACTOS DA OPERAÇÃO LAVA JATO NO SETOR DA


CONSTRUÇÃO CIVIL. Graduado, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2016.

Você também pode gostar