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Aluno: Antonio Edson Oliveira Honorato

Disciplina: Epistemologia das Ciências Humanas

DESCARTES, R. Discurso do método. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

PRIMEIRA PARTE: O bom senso é a melhor coisa partilhada no mundo. Não é verdade que
todos se enganem a tal respeito, o poder de julgar e distinguir o verdadeiro e o falso, que é
propriamente o que se denomina bom senso ou razão, é igual a todos os homens, sendo assim,
a diversidades de nossas opiniões não vêm do fato de uns serem mais racionais do que outros,
mas sim devido ao fato de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não
considerarmos as mesmas coisas. Não basta ter um bom espirito, é necessário aplica-lo bem.
Descartes afirma que jamais presumiu que seu espirito fosse mais perfeito do que os do comum;
repetidas vezes desejou ter o pensamento tão rápido, a imaginação tão nítida ou a memória tão
ampla, quanto alguns outros. Quanto à razão ou ao senso, única coisa que nos torna homens e
nos distingue dos animais, segue a opinião comum dos filósofos, que dizem não haver nem
mais nem menos senão entre os acidentes, e não entre as formas ou naturezas dos indivíduos de
uma mesma espécie.
O autor apesar de acreditar que as escolhas que fez, desde a juventude, ter sido as melhores e
mais importantes, assume que ele pode se enganar e que o que ele recebeu por essas escolhas
podem não ser, de fato, o que ele acredite que seja. Ele se propõe a mostrar os caminhos que
seguiu para que cada pessoa possa julgá-lo e o resultado dos comentários gerais das opiniões
emitidas por elas, seja um novo meio de instrui-lo.
Ele não pretende ensinar o método pelo qual cada um deve seguir para conduzir sua razão, mas
apenas mostrar a maneira em que se esforçou para conseguir conduzir a dele.
É bom saber algo dos costumes de diversos povos, a fim de que não pensemos que tudo quanto
é contra os nossos modos é ridículo e contrário à razão. Mas, quando usamos muito tempo para
viajar acabamos estrangeiros na nossa própria terra; e quando somos muito curiosos acerca das
coisas que se praticavam no passado, ficamos muito ignorantes das coisas que se praticam no
presente.
Sobre a Filosofia o autor diz que mesmo tendo sido cultivada por excelsos espíritos, nela não
se encontra uma só coisa sobre a qual não se dispute. Ou seja, que não se duvide, considerando
tantas opiniões diversas vindas de homens doutos, sobre uma mesma matéria, sendo que dentre
estas jamais possa existir mais de uma que seja verdadeira, julgava quase como falso tudo
quanto era somente verossímil.
Ao deixar o estudo das letras, resolve não mais procurar outra ciência se não aquela que poderia
achar em si próprio ou então no velho livro do mundo. Levou o resto de sua mocidade a viajar,
ver cortes e exércitos, gente de diversos humores e condições, recolher diversas experiências e
então tirar algum proveito sobre as coisas que lhe eram apresentadas. Pois acreditava que desta
forma poderia encontrar muito mais verdades do que um homem de letras o poderia encontrar
em seu gabinete, formando especulações que não produzem efeito algum, só vaidade.
Depois de alguns anos dedicados a estudar o livro do mundo e a procurar adquirir alguma
experiência, tomou um dia a resolução de estudar a si próprio e empregar suas forças nas
escolhas que deveria seguir. O que, segundo ele, deu muito mais resultado do que se jamais
tivesse se afastado de seus pais e de seus livros.

SEGUNDA PARTE: Na Alemanha, onde fora atraído pelas guerras, estava sozinho num quarto
onde dispunha todo o vagar para entreter-se com seus pensamentos. Entre os primeiros, veio o
que o fez lembrar que, frequentemente, não há tanta perfeição nas obras compostas por diversas
peças e criadas pelas mãos de diversos mestres, como se tem naquelas em que um só trabalhou.
A exemplo cita-se que é comum vê-se que os edifícios empreendidos e concluídos por um só
arquiteto costumam ser mais belos e mais ordenados do que aqueles que muitos procuram
reformar.
A Esparta foi muito fluorescente, não o deveu a bondade de cada uma de suas leis em particular,
visto que muitas eram alheias ou contrárias aos bons costumes, mas ao fato de que, tendo sido
inventadas apenas por um só, tendiam todas ao mesmo fim. As ciências dos livros, a menos
aquelas cujas razões são apenas prováveis e que não apresentam quaisquer demonstrações, pois
se compuseram pouco a pouco com opiniões de diversas pessoas, não se acham de modo algum
tão próximas da verdade quanto os simples raciocínios que um homem de bom senso pode
efetuar naturalmente sobre coisas que lhe são apresentadas.
A simples resolução de se desfazer de todas as opiniões que antes se deram crédito não é um
exemplo que cada qual deva seguir. E o mundo compõe-se quase tão somente de duas espécies
de espirito: primeiro, aqueles que crendo mais hábeis do que são, não podem impedir de
precipitar seus juízos, nem ter paciência para conduzir por ordem todos os seus pensamentos;
segundo, aqueles que tendo bastante razão, ou modéstia, para julgar que são menos capazes de
distinguir o verdadeiro do falso do que alguns outros, pelos quais podem ser instruídos, devem
antes contentar-se com a opinião desses outros, do que procurar por si próprios outras melhoras.
Descartes diz que estaria entre estes últimos, se tivesse tido um único mestre, ou se nada
soubesse das diferenças havidas em todos os tempos entre as opiniões dos mais doutos.
Contudo, ele relata que nada poderia imaginar tão estranho e tão pouco crível que algum dos
filósofos já não houvesse dito; tendo reconhecido que todos que possuem sentimentos
diferentes aos nossos não quer dizer que sejam bárbaros ou selvagens, mas que muitos usam a
razão tanto quanto nós; e, tendo considerado, que um mesmo homem sendo criado entre
franceses ou alemães torna-se diferente do que seria se vivesse entre chineses ou canibais; é
bem mais o costume e o exemplo que nos persuadem do que qualquer conhecimento certo;
segundo ele, não podia escolher ninguém cujas opiniões parecessem ser preferidas às de outro,
achava-se então compelido a tentar ele próprio conduzir-se.
Em vez de aceitar o grande número de preceitos de que se compõe a lógica, julgou que o bastaria
os quatro seguintes, desde que não deixasse uma só vez de observá-los: o primeiro era o de
jamais acolher como verdadeira alguma coisa que ele não conhecesse como tal; o segundo seria
o de dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quanto possíveis e
quantas necessárias fossem para melhor resolvê-las; o terceiro, o de conduzir por ordem os
pensamentos, partindo dos mais simples e subindo pouco a pouco até os mais complexos; e por
último, o de fazer em toda parte enumerações tão completas e revisões tão gerais, que tivesse
certeza de nada omitir.

TERCEIRA PARTE: Não basta antes de começar a reconstruir a casa, onde se mora, derrubá-
la, ou prover-se de materiais e arquitetos, ou além disso ter traçado com cuidado seu projeto;
mas cumpre também ter-se provido de outra onde possa se alojar durante o tempo em que se
trabalha nela. Pensando nisso Descartes forma uma moral provisória, baseado em quatro
máximas:
Primeiro, obedecer às leis e aos costumes de seu país;
Segundo, consistia em ser o mais firme e resoluto possível em suas ações. Quando não está em
nosso poder discernir sobre as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir as mais prováveis;
Terceiro, procurar a vencer sempre a si próprio do que à fortuna, e em geral pôr-se a crer que
nada há que esteja inteiramente em nosso poder, exceto os nossos pensamentos. Tudo que
fizemos o melhor possível para nos saímos bem, no tocante as coisas exteriores, e que deixamos
de nos sair bem, é em relação a nós absolutamente impossível;
Por fim, deliberou passar em revista as diversas ocupações que os homens exerceram nessa
vida, para procurar escolher a melhor, pensou então que o melhor que poderia fazer era
continuar naquela mesma que se achava, isto é, empregando toda a sua vida em cultivar a sua
razão e adiantar-se o máximo que pudesse no conhecimento da verdade.
Tendo Deus concedido a cada um de nós alguma luz para discernir entre o verdadeiro do falso,
não se contentaria um só momento com as opiniões dos outros, sem que se propusesse empregar
seu próprio juízo em examiná-las. Basta bem julgar, para bem proceder, e julgar o melhor
possível para proceder também da melhor maneira.

QUARTA PARTE: Observa-se que, quanto aos costumes, é necessário às vezes seguir
opiniões, que sabemos serem muito incertas, como se não houvessem dúvidas; por se ocupar
apenas com a pesquisa da verdade, pensou que era necessário agir exatamente ao contrário, e
rejeitar absolutamente tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se,
após isso, não restaria algo que a seu ponto de vista, fosse inteiramente indubitável. Ao notar
que a verdade: “eu penso, logo existo”, era tão firme e tão certa que todas as suposições dos
céticos, por mais extravagantes que fossem, não conseguiriam abalar, julgou então que poderia
aceita-la como o primeiro princípio da Filosofia que procurava.
Ele compreende que era uma substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e
que para ser não depende de nenhuma coisa material. De forma que o eu, isto é, a alma, pela
qual somos o que somos, é inteiramente distinta do corpo.
O texto apresenta a ideia de que aqueles que não estejam bem persuadidos da existência de
Deus e da alma, estejam certos de que todas as outras coisas que se julgam certificados de sua
existência, como de terem um corpo, haver astros e uma terra, e coisas semelhantes, são ainda
menos certas
QUINTA PARTE: Ao examinar a natureza encontrava todas as funções que podem estar em
nós, sendo o pensamento a única nos pertencem enquanto homens e que nos distancia dos
animais. Descartes convida que não é familiarizado com a anatomia para que possa ver um
coração de um grande animal sendo cortado, e então perceba que é tudo semelhante ao nosso.
Ele compara o corpo humano com uma máquina, que por ter sido criada por Deus, é
incomparavelmente melhor ordenada e contem movimentos mais admiráveis do que qualquer
outra que homem possa inventar.
Afirma ainda que, se houvesse máquinas com os órgãos e figura de um animal sem razão, como
um macaco, não teríamos nenhum meio para reconhecer que elas não seriam em tudo da mesma
natureza que esses animais; ao passo que se houvesse outras que apresentassem semelhança
com nossos corpos e imitassem nossas ações, teríamos sempre dois para reconhecer que não
era homens de verdade. Primeiro porque nunca poderiam usar palavras, ou outros sinais, como
fazemos para declarar nossos pensamentos. A segunda é que embora fizessem muitas coisas
tão bem ou até melhor do que nós, falhariam infalivelmente em tantas outras, pelas quais se
descobriria que não agem pelo conhecimento, mas somente pela disposição dos seus órgãos. E
por esses dois meios pode-se também conhecer a diferença entre homens e animais.

SEXTA PARTE: Acredita que é possível chegar a conhecimentos que sejam muito úteis à vida,
e que, em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas, se pode encontrar uma
outra prática, pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos
céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os
diversos misteres de nossos artífices, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os
usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como que senhores e possuidores da
natureza.
O pouco que aprendeu, segundo ele, não é quase nada, em comparação com o que ignora, e
com que não desespera de poder aprender; pois acontece quase o mesmo aos que descobrem a
verdade das ciências pouco a pouco, ou que aqueles que, começando a enriquecer, têm menos
dificuldade em realizar grandes aquisições, do que tiveram, quando mais pobres, em realizar
outras muito menores.
Quanto à utilidade que os outros colheriam da comunicação de seus pensamentos, não poderia
também ser muito grande, sendo necessário talvez juntar muitas coisas antes de aplicá-los. E se
há alguém capaz disso, seria ele próprio, não porque não existiam espíritos melhores que o dele;
mas porque não se poderia conceber tão bem uma coisa e torná-la sua, quando se aprende de
outro, como quando a gente mesmo a inventa.
Aluno: Antonio Edson Oliveira Honorato
Disciplina: Epistemologia das Ciências Humanas

DESCARTES, R. Discurso do método. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

PRIMEIRA PARTE: Poder de julgar e distinguir o verdadeiro e o falso, que é propriamente o


que se denomina bom senso ou razão, é igual a todos os homens, sendo assim, a diversidades
de nossas opiniões não vêm do fato de uns serem mais racionais do que outros, mas sim devido
ao fato de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas
coisas. Quando usamos muito tempo para viajar acabamos estrangeiros na nossa própria terra;
e quando somos muito curiosos acerca das coisas que se praticavam no passado, ficamos muito
ignorantes das coisas que se praticam no presente. Sobre a Filosofia o autor diz que mesmo
tendo sido cultivada por excelsos espíritos, nela não se encontra uma só coisa sobre a qual não
se dispute. Ou seja, que não se duvide, considerando tantas opiniões diversas vindas de homens
doutos, sobre uma mesma matéria, sendo que dentre estas jamais possa existir mais de uma que
seja verdadeira, julgava quase como falso tudo quanto era somente verossímil.

SEGUNDA PARTE: Na Alemanha, onde fora atraído pelas guerras, dispunha todo o vagar para
entreter-se com seus pensamentos. Entre os primeiros, veio o que o fez lembrar que,
frequentemente, não há tanta perfeição nas obras compostas por diversas peças e criadas pelas
mãos de diversos mestres, como se tem naquelas em que um só trabalhou. A Esparta foi muito
fluorescente, não o deveu a bondade de cada uma de suas leis em particular, visto que muitas
eram alheias ou contrárias aos bons costumes, mas ao fato de que, tendo sido inventadas apenas
por um só, tendiam todas ao mesmo fim. O mundo compõe-se quase tão somente de duas
espécies de espirito: primeiro, aqueles que crendo mais hábeis do que são, não podem impedir
de precipitar seus juízos, nem ter paciência para conduzir por ordem todos os seus pensamentos;
segundo, aqueles que tendo bastante razão, ou modéstia, para julgar que são menos capazes de
distinguir o verdadeiro do falso do que alguns outros, pelos quais podem ser instruídos, devem
antes contentar-se com a opinião desses outros, do que procurar por si próprios outras melhoras.
Descartes diz que estaria entre estes últimos, se tivesse tido um único mestre, ou se nada
soubesse das diferenças havidas em todos os tempos entre as opiniões dos mais doutos.
Contudo, ele relata que nada poderia imaginar tão estranho e tão pouco crível que algum dos
filósofos já não houvesse dito; tendo reconhecido que todos que possuem sentimentos
diferentes aos nossos não quer dizer que sejam bárbaros ou selvagens, mas que muitos usam a
razão tanto quanto nós.

TERCEIRA PARTE: Não basta antes de começar a reconstruir a casa, onde se mora, derrubá-
la, ou prover-se de materiais e arquitetos ou ter um projeto; cumpre também ter-se provido de
outra onde possa se alojar durante o tempo em que se trabalha nela. Pensando nisso Descartes
forma uma moral provisória, baseado em quatro máximas: Primeiro, obedecer às leis e aos
costumes de seu país; segundo, consistia em ser o mais firme e resoluto possível em suas ações.
Quando não está em nosso poder discernir sobre as opiniões mais verdadeiras, devemos seguir
as mais prováveis; Terceiro, procurar a vencer sempre a si próprio do que à fortuna, e em geral
pôr-se a crer que nada há que esteja inteiramente em nosso poder, exceto os nossos
pensamentos. Tudo que fizemos o melhor possível para nos saímos bem, no tocante as coisas
exteriores, e que deixamos de nos sair bem, é em relação a nós absolutamente impossível; Por
fim, deliberou passar em revista as diversas ocupações que os homens exerceram nessa vida,
para procurar escolher a melhor, pensou então que o melhor que poderia fazer era continuar
naquela mesma que se achava, isto é, empregando toda a sua vida em cultivar a sua razão e
adiantar-se o máximo que pudesse no conhecimento da verdade. Tendo Deus concedido a cada
um de nós alguma luz para discernir entre o verdadeiro do falso, não se contentaria um só
momento com as opiniões dos outros, sem que se propusesse empregar seu próprio juízo em
examiná-las.

QUARTA PARTE: Observa-se que, quanto aos costumes, é necessário às vezes seguir
opiniões, que sabemos serem muito incertas, como se não houvessem dúvidas; por se ocupar
apenas com a pesquisa da verdade, pensou que era necessário agir exatamente ao contrário, e
rejeitar absolutamente tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se,
após isso, não restaria algo que a seu ponto de vista, fosse inteiramente indubitável. Ao notar
que a verdade: “eu penso, logo existo”, era tão firme e tão certa que todas as suposições dos
céticos, por mais extravagantes que fossem, não conseguiriam abalar, julgou então que poderia
aceitá-la como o primeiro princípio da Filosofia que procurava. Ele compreende que era uma
substância cuja essência ou natureza consiste apenas no pensar, e que para ser não depende de
nenhuma coisa material. De forma que o eu, isto é, a alma, pela qual somos o que somos, é
inteiramente distinta do corpo. O texto apresenta a ideia de que aqueles que não estejam bem
persuadidos da existência de Deus e da alma, estejam certos de que todas as outras coisas que
se julgam certificados de sua existência, como de terem um corpo, haver astros e uma terra, e
coisas semelhantes, são ainda menos certas

QUINTA PARTE: Ao examinar a natureza encontrava todas as funções que podem estar em
nós, sendo o pensamento a única que nos pertencem enquanto homens e que nos distancia dos
animais. Descartes convida quem não é familiarizado com a anatomia para que possa ver um
coração de um grande animal sendo cortado, e então perceber que é tudo semelhante ao nosso.
Ele compara o corpo humano com uma máquina, que por ter sido criada por Deus, é
incomparavelmente melhor ordenada e contem movimentos mais admiráveis do que qualquer
outra que homem possa inventar. Afirma ainda que, se houvesse máquinas com os órgãos e
figura de um animal sem razão, como um macaco, não teríamos nenhum meio para reconhecer
que elas não seriam em tudo da mesma natureza que esses animais; ao passo que se houvesse
outras que apresentassem semelhança com nossos corpos e imitassem nossas ações, teríamos
sempre dois meios para reconhecer que não era homens de verdade. Primeiro porque nunca
poderiam usar palavras, ou outros sinais, como fazemos para declarar nossos pensamentos. A
segunda é que embora fizessem muitas coisas tão bem ou até melhor do que nós, falhariam
infalivelmente em tantas outras, pelas quais se descobriria que não agem pelo conhecimento,
mas somente pela disposição dos seus órgãos. E por esses dois meios pode-se também conhecer
a diferença entre homens e animais.

SEXTA PARTE: Acredita que é possível chegar a conhecimentos que sejam muito úteis à vida,
e que, em vez dessa Filosofia especulativa que se ensina nas escolas, se pode encontrar uma
outra prática, pela qual, conhecendo a força e as ações do fogo, da água, do ar, dos astros, dos
céus e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os
diversos misteres de nossos artífices, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os
usos para os quais são próprios, e assim nos tornar como que senhores e possuidores da
natureza. O pouco que aprendeu, segundo ele, não é quase nada, em comparação com o que
ignora, e com que não desespera de poder aprender; pois acontece quase o mesmo aos que
descobrem a verdade das ciências pouco a pouco. Quanto à utilidade que os outros colheriam
da comunicação de seus pensamentos, não poderia também ser muito grande, sendo necessário
talvez juntar muitas coisas antes de aplicá-los. E se há alguém capaz disso, seria ele próprio,
não porque não existiam espíritos melhores que o dele; mas porque não se poderia conceber tão
bem uma coisa e torná-la sua, quando se aprende de outro, como quando a gente mesmo a
inventa.
Aluno: Antonio Edson Oliveira Honorato
Disciplina: Epistemologia das Ciências Humanas

DESCARTES, R. Meditações. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

Inicia dizendo que sempre estimou que Deus e a alma eram as duas questões principais entre as
que devem ser demostradas mais pelas razões da Filosofia do que da Teologia. Embora seja
absolutamente verdadeiro que é preciso acreditar que há um Deus, porque isto é assim nas
Santas Escrituras, e, de outro lado, que é preciso acreditar nas Santas Escrituras, porque elas
vêm de Deus; isto porque sendo a fé um dom de Deus, aquele que dá a graça para fazer crer em
outras coisas, pode também dá para fazer crer que ele existe; não poderíamos, todavia, propor
isto aos infiéis.

Não somente assegura que a existência de Deus pode ser provada pela razão natural, mas
também que se infere da Santa Escritura que o seu conhecimento é muito mais claro do que se
tem de muitas coisas criadas e que, com efeito, esse conhecimento é tão fácil que os que não
possuem são culpados. Pretende demostrar a via que é preciso tomar para chegar ao
conhecimento de Deus com mais facilidade e certeza do que conhecemos as coisas deste
mundo.

No que concerne à alma, embora muitos acreditem que não é fácil conhecer-lhe a natureza, e
alguns tenham ousado dizer que as razões humanas nos persuadem de que ela morre com o
corpo e que somente a fé no ensina o contrário. Sabendo que a principal razão, que leva muitos
a não acreditarem de maneira alguma que há um Deus e que a alma humana é distinta do corpo,
é que eles dizem que ninguém até aqui pôde demonstrar essas duas coisas. Descartes crer que
nada se poderia fazer mais útil na Filosofia do que procurar uma vez com curiosidade e cuidado
as melhores e mais sólidas razões e apresentá-las em uma ordem tão clara e tão exata que de
agora em diante seja certo a todo mundo serem verdadeiras demonstrações. Busca então, tentar
algo neste tema, devido a muitas pessoas desejarem isto dele.

Trabalhou, pois, do melhor modo para que pudesse encerrar nesse tratado tudo o que disso se
pode dizer. Não que tenha acumulado todas as diversas razões que se poderiam alegar para
servir de prova ao tema, mas sim tratou as primeiras e principais de tal maneira que ousa
efetivamente propô-las como demonstrações muito evidentes e muito certas. Todavia,
reconhece que, quaisquer que sejam a evidência e a certeza que encontra em suas razões, não
se pode persuadir de que todo mundo seja capaz de entendê-las.

Depois que as razões pelas quais prova que há um Deus e que a alma humana difere do corpo
tiverem sido esclarecidas, deverão ser tomadas como demonstrações muito exatas; ao ser feito
isso, todos os erros e falsas opiniões que jamais existiram no tocante a essas duas questões
sejam em breve eliminadas do espírito dos homens.

Na primeira meditação, adianta as razões pelas quais podemos duvidar geralmente de todas as
coisas, e particularmente das coisas materiais.

Na segunda, o espírito que, usando de sua própria liberdade, supõe que todas as coisas, de cuja
existência haja a menor dúvida, não existem, reconhece que é absolutamente impossível, no
entanto, que ele próprio não exista. Por esse meio se estabelece facilmente uma distinção entre
as coisas que lhe pertencem, isto é, a natureza intelectual, e as que pertencem ao corpo. Da
corrupção do corpo não decorre a morte da alma, e assim, dar aos homens a esperança de uma
segunda vida após a morte. Enquanto o corpo é formado e composto de certa configuração de
membros e outros acidentes semelhantes; a alma humana não é assim composta de quaisquer
acidentes, mas é uma pura substância. O corpo humano pode facilmente perecer, mas o espírito
ou a alma do homem é imortal por sua natureza.

Na terceira meditação, acredita que tenham restado ao leitor muitas obscuridades, as quais,
espera esclarecer em suas respostas às objeções. Como exemplo cita: a dificuldade de entender
como a ideia de um ser soberanamente perfeito, a qual se encontra em nós, contém tanta
realidade objetiva, isto é, participa por representação em tantos graus de ser e de perfeição, que
ela deve provir de uma causa soberanamente perfeita.

Na quarta, prova-se que as coisas que concebemos muito claras e distintamente são todas
verdadeiras; e ao mesmo tempo é explicado em que consiste a razão do erro ou falsidade: o que
deve ser necessariamente sabido tanto para confirmar as verdades precedentes quanto para
melhor entender as que se seguem. Ele relata que em nenhum momento trata do pecado, ou
seja, do erro cometido na busca do bem e do mal, mas sim daquele que sobrevém no julgamento
e no discernimento do verdadeiro e do falso.

Na quinta, além da natureza corpórea tomada em geral ser aí explicada, a existência de Deus
também é demonstrada por novas razões, nas quais, todavia podem-se encontrar dificuldades,
mas que serão resolvidas nas respostas as objeções; e também se revela aí de que maneira é
verdadeiro que a própria certeza das demonstrações geométricas depende do conhecimento de
um Deus.

Finalmente, na sexta meditação, distingue a ação do entendimento da ação da imaginação.


Mostra que a alma do homem é realmente distinta do corpo e que, todavia, ela lhe é tão
estreitamente conjugada e unida que compõe uma mesma coisa com ele. Apresenta todas as
razões das quais é possível concluir a existência das coisas materiais, faz isso porque, segundo
ele, conhecendo-as de perto, chega-se a conhecer que elas não são tão firmes nem tão evidentes
quanto as que nos conduzem ao conhecimento de Deus e da nossa alma.

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