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ANÁLISE DA DEMANDA DE ATENDIMENTO E O CONSUMO DE MAT&MED

Por: Sergio Silvestre M. P. Teixeira


RJ, 25/06/2018

Objetivo

Tenho visto constantemente erros no planejamento de compras dos insumos hospitalares, ao


dimensionarem o estoque e sua reposição com base somente no volume de atendimentos dos pacientes.
Nesse modelo, o gestor da cadeia de suprimentos fica sendo o principal culpado pela a ruptura do estoque
ou por seu elevado valor e respectivo dias de cobertura da demanda média diária. E o pior que esses gestores
nada fazem para mudar esse cenário.
Por outro lado, essa questão coloca o gestor em check, pois demonstra o seu despreparo e conhecimento
sobre a Gestão da Cadeia de Suprimentos.
Em função disso, venho demonstrar que o planejamento de compras dos insumos de Mat&Med (material
técnico e medicamento) não pode ser apenas uma questão de estatística de previsibilidade da demanda,
caso contrário, o sistema tomaria o lugar do planejador e comprador. Ou seja, seria automatizado todo esse
ciclo de análise, planejamento e reposição dos estoques, utilizando o modelo VMI – Vendor Managed
Inventory. Nesse estudo, foram utilizados dados reais de um Pronto Atendimento, privado, com capacidade
para atender até 15 mil pacientes. Esse PA foi inaugurado em dezembro de 2010, por isso o baixo volume de
atendimento nos primeiros meses.

1º MODELO - RELAÇÃO CONSUMO DE MEDICAMENTOS X PACIENTES ATENDIDOS

ESTIMATIVA DE CONSUMO PARA 2012 POR FAIXA DE ATENDIMENTO

Pa ci ente Cons umo Va ri a çã o Mens a l


Em uma primeira análise, a metodologia aponta que Período
X Y Pa ci ente Cons umo
não existe correlação entre o volume de pacientes Dez.2010 3.858 19.636
atendidos e o consumo de Mat&Med, principalmente Ja n.2011 4.181 25.354 8,4% 29,1%
Fev.2011 3.933 33.665 -5,9% 32,8%
entre dezembro de 2010 a junho 2011. Essa Ma r.2011 5.991 69.353 52,3% 106,0%
instabilidade no consumo em relação aos pacientes Abr.2011 7.928 57.364 32,3% -17,3%
Ma i .2011 7.955 45.376 0,3% -20,9%
atendidos (veja gráfico abaixo de variação página 2)
Jun.2011 7.386 31.179 -7,2% -31,3%
pode ter sido gerada por problemas nos processos de Jul .2011 7.893 32.727 6,9% 5,0%
controle de estoque pelos usuários, ante as Ago.2011 8.556 35.794 8,4% 9,4%
Set.2011 8.931 38.744 4,4% 8,2%
divergências entre o estoque físico e contábil na Out.2011 9.721 36.281 8,8% -6,4%
época. Mas pode ser que o consumo esteja realmente Nov.2011 9.560 41.399 -1,7% 14,1%
Dez.2011 9.263 46.248 -3,1% 11,7%
correto. Se o considerármos assim, cabe ao analista 10.000 50.444
da Farmácia analisar a demanda para identificar quais 11.000 55.489
produtos puxaram o nível de consumo e que tipo de 12.000 60.533
13.000 65.578
enfermidade foi a causa raiz. Só assim, poderemos Es tima çã o de
14.000 70.622
cons umo por
entender e desenvolver uma equação que considere fa i xa de
15.000 75.667
16.000 80.711
algumas variáveis exógenas que influenciam o a tendi mento
17.000 85.755
modelo como: a sazonalidade, características 18.000 90.800
19.000 95.844
regionais, as endemias e situações atípicas. Dessa
20.000 100.889
forma poderemos aumentar o indicador R², de
correlação, obtendo melhor projeção. Des vi o Médi o 888 8.911
Des vi o Pa drã o 2.138 13.110
Correl a çã o R² 0,1017
Apesar do pouco tempo de operação dessa Unidade, elaboramos uma estimação do consumo por faixa de
atendimento que poderia ser utilizado para uma revisão do orçamento de 2012, no entanto, esses valores
poderão estar muito acima do real, ante as justificativas dadas e comprovadas nos modelos a seguir.

Gráfico de Dispersão

O gráfico abaixo apresenta a variação mensal do atendimento de pacientes e do consumo de Mat&Med, que
embora seguirem tendências iguais, o que se questiona é a amplitude da variação.

Nas páginas seguintes, apresentamos algumas análises e tendências, mas separando as variáveis paciente e
consumo.
2º MODELO - VOLUME DE CONSUMO DE MEDICAMENTOS X PACIENTES ATENDIDOS

Período X Y - Real Y' - Estimado V% Rel Real


O volume de atendimento segue uma
Dez.2010 1 3.858 4.304 12%
Ja n.2011 2 4.181 4.791 15% tendência crescente linear, com pico em
Fev.2011 3 3.933 5.278 34% março de 2011, período em que inicia a
Ma r.2011 4 5.991 5.766 -4%
Abr.2011 5 7.928 6.253 -21%
epidemia da dengue, que se estende até
Ma i .2011 6 7.955 6.740 -15% maio. Essa ocorrência contribui para a
Jun.2011 7 7.386 7.227 -2% divulgação "boca a boca" do novo Pronto
Jul .2011 8 7.893 7.715 -2%
Ago.2011 9 8.556 8.202 -4%
Atendimento na região, alavancando para
Set.2011 10 8.931 8.689 -3% novo patamar de atendimento.
Out.2011 11 9.721 9.176 -6%
Nov.2011 12 9.560 9.663 1% A correlação pela ótica do atendimento
Dez.2011 13 9.263 10.151 10%
Ja n.2012 14 8.635 10.638 23%
atinge 84,7% que podemos considera-la num
Fev.2012 15 9.552 11.125 16% patamar aceitável para projeção futura do
Ma r.2012 16 12.572 11.612 -8% atendimento. No gráfico "Variação % Real x
Abr.2012 17 13.515 12.100 -10%
Ma i .2012 18 12.587
Estimado", podemos verificar que dos 17
Jun.2012 19 13.074 períodos analisados, temos 14 dentro de uma
Jul .2012 20 13.561 faixa aceitável de erro, variando +/- 15% e
Ago.2012 21 14.049
Set.2012 22 14.536 esses ponto representam 82,4% do total.
Out.2012 23 15.023
Nov.2012 24 15.510
Dez.2012 25 15.997

Para as projeções de 2012, não consideramos o descredenciamento do Hospital X e do Hospital W na mesma


região em fevereiro que deveria dar um acréscimo na demanda bem acima do projetado, mas não aconteceu.
Provavelmente as sazonalidades dos meses dezembro a fevereiro influenciaram o resultado, que inclusive
registra uma retração de 6,78% em janeiro de 2012 a dezembro de 2011. Na verdade essa sazonalidade é
uma característica do setor de saúde.
Já em março e abril de 2012, a sazonalidade da dengue se confirma elevando o patamar de atendimento,
mas contemplado pela projeção, uma vez que a variação entre o real e previsto para os dois meses são
negativos em 8% e 10% respectivamente, variação dentro de padrões aceitáveis.
Além disso, voltamos a ressaltar que o período de tempo analisado ainda é muito pequeno, não levando em
conta as sazonalidades, a maturidade do projeto e a propaganda. Portanto, com o acompanhamento
poderemos efetuar um melhor ajustamento, podendo chegar a mais de 95%.
3º MODELO - ANÁLISE DE PACIENTES ATENDIDOS
Nessa projeção, utilizamos a metodologia da média móvel, centrada em 3 e 4 (meses), que procura suavizar
a tendência e picos.
85,67% 91,07% 93,58%

0,857 0,9107 0,9358

Rea l Médi a Médi a Es tima do Es tima do V% Rel Real


Período X
Y C3 C4 Y' por C3 Y' por C4 Y' por C3 Y' por C4
Dez.2010 1 3.858 4.788 5.210 -19% -26%
Ja n.2011 2 4.181 5.319 5.719 -21% -27%
Fev.2011 3 3.933 3.991 5.849 6.229 -33% -37%
Ma r.2011 4 5.991 4.702 4.491 6.379 6.739 -6% -11%
Abr.2011 5 7.928 5.951 5.508 6.909 7.248 15% 9%
Ma i .2011 6 7.955 7.291 6.452 7.439 7.758 7% 3%
Jun.2011 7 7.386 7.756 7.315 7.969 8.268 -7% -11%
Jul .2011 8 7.893 7.745 7.791 8.499 8.777 -7% -10%
Ago.2011 9 8.556 7.945 7.948 9.029 9.287 -5% -8%
Set.2011 10 8.931 8.460 8.192 9.559 9.797 -7% -9%
Out.2011 11 9.721 9.069 8.775 10.089 10.306 -4% -6%
Nov.2011 12 9.560 9.404 9.192 10.620 10.816 -10% -12%
Dez.2011 13 9.263 9.515 9.369 11.150 11.326 -17% -18%
Ja n.2012 14 8.635 9.153 9.295 11.680 11.835 -26% -27%
Fev.2012 15 9.552 9.150 9.253 12.210 12.345 -22% -23%
Ma r.2012 16 12.572 10.253 10.006 12.740 12.854 -1% -2%
Abr.2012 17 13.515 11.880 11.069 13.270 13.364 2% 1%
Ma i .2012 18 13.800 13.874
Jun.2012 19 14.330 14.383
Jul .2012 20 14.860 14.893
Ago.2012 21 15.390 15.403
Set.2012 22 15.921 15.912
Out.2012 23 16.451 16.422
Nov.2012 24 16.981 16.932
Dez.2012 25 17.511 17.441
-164% -214%
CONCLUSÃO

Seja para um Pronto Atendimento ou Hospital, fica claro que não se pode executar o planejamento de
suprimentos utilizando somente os recursos de um sistema ERP (de um bom ERP) ou utilizando outros
softwares fora do ERP para resolver essa questão. Tenho visto muitos profissionais da área de saúde irem ao
mercado para aquisição de softwares de planejamento que oferecem maravilhas muito acima do ERP, mas
posso afirmar que é uma perda de tempo e de recursos. A não ser que o ERP utilizado seja extremamente
ruim, mas mesmo assim acho difícil que não atenda nos dias de hoje. Os que conheço por exemplo, como o
Tasy e o MV fazem. O Tasy permite até parametrizar o período para o cálculo do consumo médio mensal.
Até o mais simples como o WPD que foi descontinuado, também fazia muito bem esse planejamento. Então,
o que falta a um bom planejamento?
Um bom planejamento de reposição de estoque não pode ficar circunscrito ao setor de compras, tem que ir
além. É para isso que existe o Planejamento Colaborativo ou S&OP (Vendas e Planejamento das Operações).
No caso do Pronto Atendimento ou Hospital, a palavra “venda” passa a significar o consumo ou necessidade
de um centro produtivo (UTI, UI, Hemodinâmica, Emergência e etc..). Isso significa que todos os
Coordenadores Médicos desses centros produtivos devem participar ativamente no planejamento de
aquisição de curto, médio e longo prazo. Só que isso não tem acontecido. Os médicos com cargos de gestão
ainda não conhecem sobre isso e na maioria das vezes também não querem se envolver na parte operacional
não médica. Isso é um grande problema, porque o Gestor de Suprimentos e os softwares não possuem bola
de cristal para identificar variações na demanda de Mat&Med.
Para que que haja um bom nível de atendimento ou uma operação sem risco de faltas, compras emergenciais
excessivas ou sobra, isso se faz necessário urgentemente.
Geralmente nos hospitais existem as reuniões de padronização e performance da operação, minha
recomendação é que se introduza essa pauta, para que todos sejam igualmente responsáveis e
comprometidos com o estoque de Mat&Med.

Autor: Sergio Silvestre Machado Pinto Teixeira e-mail: maresilvestre@gmail.com

Economista com pós-graduação em Finanças EPGE-FGV, MBA Cadeia de Suprimentos, Universidade Federal Fluminense.
Auditor Interno de Gestão Integrada – Bristish Standard Institution, Conceitos e Aplicações SAP/R3 - DBA Engenharia de Sistemas
Gerência de Logística – Universidade Federal Fluminense – Latec

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