Tema I
A ação rescisória. Conceito e objeto. Pressuposto genérico da rescisão: o trânsito em julgado. Pressupostos
específicos da rescisão: artigo 485, incisos I a IX.
Notas de Aula1
“Art. 496. São cabíveis os seguintes recursos: (Redação dada pela Lei nº 8.038, de
25.5.1990)
I - apelação;
II - agravo; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
III - embargos infringentes;
IV - embargos de declaração;
V - recurso ordinário;
VI - recurso especial; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990)
VII - recurso extraordinário; (Incluído pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990)
VIII - embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.
(Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
As ações autônomas, por óbvio, não contam com rol enunciativo de as existência,
eis que dadas a implementar um direito amplo e inominável, o direito de ação.
Os sucedâneos recursais, por fim, são definidos de forma residual, ou seja, se não se
tratar de recurso ou de ação autônoma de impugnação, e dedicar-se a atacar decisões, trata-
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Aula ministrada pelo professor Marco Antônio dos Santos Rodrigues, em 7/5/2009.
O pedido de reconsideração não é previsto na lei como recurso, pelo que escapa à
taxatividade imposta como característica de todo recurso. Somente por isso, não poderá
jamais ser considerado recurso. Também não se trata de uma ação autônoma, por óbvio, vez
que se trata de um mero pedido nos autos de um processo em curso, não inaugurando
nenhuma relação processual. E, diga-se, como o pedido de reconsideração não é recurso,
não impede o trânsito em julgado da decisão que alveja, e por isso a parte deverá recorrer
concomitantemente, sob pena de, não reconsiderada a decisão, possa não ter mais esta
oportunidade.
Outro exemplo de sucedâneo recursal é o incidente de suspensão de eficácia da
decisão proferida contra o poder público. A Lei 8.437/92, no seu artigo 4º, prevê a
possibilidade de requerimento, pela Fazenda Pública, de que uma decisão que atente contra
o interesse público tenha sua eficácia suspensa. Não é também uma ação, porque não passa
de um pedido feito ao órgão competente. Veja:
Este instrumento, por não ser recurso, pode ser utilizado, inclusive,
concomitantemente com algum recurso cabível, pela Fazenda.
O sucedâneo recursal é algo que, não sendo recurso, se presta à mesma finalidade
que este. Atente-se que, não sendo recurso, não tem seus efeitos, especialmente não
interrompendo nem suspendendo o prazo de eventual recurso.
Dito isto, abordaremos, então, as ações rescisórias, ação autônoma de impugnação
que é principal alvo do estudo, agora.
2. Ação rescisória
alvejada, o que significa que tanto o error in procedendo quanto o error in judicando
podem lastrear uma rescisória, o primeiro sendo um erro quanto à aplicação de regra
procedimental, e o segundo um erro de apreciação meritória. Vale salientar, desde já,
porém, que as discussões quanto à justiça da decisão são excepcionais, pois a regra é que a
rescisória venha para apontar error in procedendo, predominantemente.
O objeto da ação rescisória também já vem consignado na definição traçada: é a
decisão judicial de mérito transitada em julgado. Vale trazer o artigo 485 do CPC, a fim de
explicitar algumas discussões sobre este aspecto:
Requisito indiscutível é que a decisão seja de mérito, porque apenas as que assim se
desenhem têm aptidão para formar coisa julgada material. E a coisa julgada material é a
qualidade que impede que a questão ali decidida seja discutida em outra demanda, fazendo
surgir interesse na ação rescisória. Sendo assim, o critério para definir o objeto da ação
rescisória parece ser o da sua definitividade, e não o da sua forma, ou seja, ao falar em
sentença de mérito, o legislador quis dizer que só caberá ação rescisória das decisões que
alcancem trânsito em julgado material.
Perceba que, de fato, a maioria das decisões que serão alvo de rescisória não são
sentenças, porque é absolutamente provável que haja recurso de toda sentença, fazendo
com que o que venha a alcançar o trânsito em julgado material, na verdade, seja o acórdão
substitutivo da sentença recorrida, e é este acórdão a decisão que será impugnada na
eventual rescisória. A lógica se repete para qualquer decisão que se analise, inclusive as
decisões monocráticas de mérito, em segunda instância.
Os despachos não poderão, por seu turno, serem objetos de ação rescisória, porque
não contêm conteúdo decisório qualquer, não despertando o necessário interesse de agir em
rescisão, por não causarem qualquer prejuízo às partes – tanto que não são sequer
recorríveis, na forma do artigo 504 do CPC:
“Art. 504. Dos despachos não cabe recurso. (Redação dada pela Lei nº 11.276, de
2006)”
As decisões interlocutórias, como dito, são rescindíveis, para parte da doutrina – por
todos, Cândido Rangel Dinamarco. Assim entendem porque o critério substancial para o
cabimento, ou seja, o alcance da coisa julgada material, se percebido em uma interlocutória,
é suficiente para ensejar a rescisória. O STJ tem precedente encampando esta tese, como se
vê na ementa da Ação Rescisória 2099:
“Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o
autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a
prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.
Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo
fundamento previsto no nº III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação
contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a
possibilidade de alegar em defesa o seu direito.”
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Entendo, em colocação particular, que não há sentido no entendimento de que possa haver trânsito em
julgado de capítulos decisórios, filiando-me, portanto, à corrente do STJ. Isto porque o efeito substitutivo dos
recursos implica em açambarcamento de toda a decisão impugnada, mesmo que o recurso propugne alteração
de apenas parte dela. De fato, mesmo inexistindo menção confirmatória da parte não recorrida da decisão
impugnada no teor da decisão substituta, é de se entender que ali está implícita e lógica a manutenção dos
termos irrecorridos, porque se o efeito substitutivo extirpa do ordenamento a decisão recorrida inteira, se
assim não fosse, a parte não impugnada deixaria de existir, e sequer poderia ser executada, por exemplo.
Destarte, estando ali implícita a manutenção da parte não recorrida, renova-se a sua presença para fins de
transito em julgado e marco inicial do prazo da rescisória. Fica aqui consideração pessoal sobre a questão.
Se a parte deixou de propor a ação rescisória porque a questão não foi resolvida
definitivamente pelo Judiciário, não pode ser prejudicada. Por isso, o prazo da rescisória
terá início desde a decisão sobre a intempestividade, e não desde a decisão transitada em
julgado, há tempos atrás.
A procedência da ação rescisória pode levar à prolação de uma nova decisão, em
substituição à rescindida, ou à sua mera desconstituição.
O inciso I diz que a rescisão pode ser causada por haver prevaricação, concussão ou
corrupção do juiz na prolação da decisão impugnada. É claro que também há esta
rescindibilidade quando a decisão é prolatada por desembargador, em decisão monocrática.
Quando se tratar de acórdão, porém, há que se atentar para a seguinte peculiaridade: se há
decisão colegiada em que apenas um dos desembargadores incide na tipicidade ali traçada,
é necessário que seu voto tenha sido influente no sentido da decisão, ou seja, tenha sido
voto vencedor. Se o voto do desembargador corrupto for vencido, não há interesse em
rescindir o acórdão. Veja que mesmo se o julgamento foi unânime, no sentido do voto do
desembargador corrupto, há rescindibilidade, vez que ele pode ter influenciado nos demais
votos. Este é o entendimento de Fredie Didier, dentre outros.
Não é preciso que tenha havido condenação criminal do juiz prolator da sentença,
pela concussão, corrupção ou prevaricação percebida, para que a rescisória seja admitida e
provida. O que pode acontecer é que, se houve coisa julgada criminal, ela poderá
influenciar a decisão pela procedência da rescisória, ou, se ainda há curso de processo
criminal pelo fato ensejador da rescisória, poderá o juiz da rescisória sobrestar o feito a fim
de que esta prejudicial externa seja solucionada antes de julgar a rescisão.
O inciso II do artigo 485 do CPC trata dos casos em que a decisão transitada em
julgado seja viciada na competência ou na imparcialidade de seu prolator. Veja que o vício
deve estar na decisão rescindenda, e não apenas no processo em que esta surgiu, ou seja,
Esta causa de rescisão não vai levar à prolação de nova decisão de mérito, porque o
que se dá é o reconhecimento de que já existia decisão transitada em julgado sobre o tema
enfrentado na decisão rescindenda.
Há violação à coisa julgada quando, já havendo decisão com trânsito, nova decisão,
em outra demanda, alcança também o trânsito em julgado sobre o mesmo aspecto. Pode
acontecer, porém, de no caso concreto haver ofensa à coisa julgada porque na ação
subseqüente não foi observada a coisa julgada na primeira demanda referente apenas a
alguma questão prejudicial, ou seja, não é própria repetição de ações, e sim a
desconsideração de uma questão prejudicial já enfrentada alhures.
Questão a ser enfrentada é a possibilidade de haver coisas julgadas conflitantes, ou
seja, duas decisões com trânsito em julgado sobre a mesma questão. A decisão que veio a
posteriori, após a primeira decisão ter transitado em julgado, seria ofensiva à coisa julgada,
por óbvio, e por isso despertaria rescindibilidade, mas há duas correntes a disputar o
seguinte questionamento: qual será a decisão que prevalece, a primeira que alcançou o
trânsito, ou a última?
O primeiro entendimento defende que prevalece a primeira coisa julgada formada,
ao seguinte argumento: a CRFB garante proteção fortíssima à coisa julgada, e por isso a
decisão que vier após o trânsito será subversiva desta garantia, sendo inconstitucional. Se
este entendimento for acatado, a segunda decisão poderia ser rescindida ao argumento de
ofender a coisa julgada. veja o artigo 5º, XXXVI, da CRFB:
“(...)
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada;
(...)”
Ocorre que é o segundo entendimento que prevalece, qual seja, o de que a coisa
julgada que prevalecerá é a segunda que for alcançada. Três são os argumentos desta
corrente: o primeiro é literal, lendo estritamente o artigo 5º, XXXVI, da CRFB, pois ali a
limitação é imposta ao Legislativo, e não ao Judiciário.
O segundo argumento é baseado no artigo 468 do CPC:
“Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos
limites da lide e das questões decididas.”
O termo “lei”, aqui, deve ser lido o mais amplamente possível, de forma a abarcar
todas as espécies legislativas abstratas presentes no ordenamento, inclusive a CRFB. esta
hipótese tem cabimento bem restrito pela jurisprudência, sendo alvo inclusive de súmula do
STF, no verbete 343:
“Súmula 343, STF: Não cabe ação rescisória por ofensa a literal disposição de lei,
quando a decisão rescindenda se tiver baseado em texto legal de interpretação
controvertida nos tribunais.”
Casos Concretos
Questão 1
João e sua esposa propuseram ação rescisória em face de Antônio e sua esposa
para desconstituir a sentença, transitada em julgado, que julgou procedentes os pedidos
em ação de rescisão de promessa de compra e venda de imóvel, cumulada com
reintegração de posse e perdas e danos. João justifica que não ofereceu contestação no
processo original por ter sido ludibriado pela parte vencedora que faltou com dever de
lealdade e boa-fé ao se comprometer em desistir do feito. Os autores com base nos incisos
II, V e VII do art 485 do CPC, alegam que, versando ação anterior sobre posse, ambos os
cônjuges deveriam integrar o pólo passivo da relação processual, como litisconsortes
necessários, a teor do disposto nos arts. 10, parágrafo único e 47 do CPC; que a ação,
dada sua natureza, não poderia ter sido processada em foro distinto da situação do imóvel,
por força do que dispõe o art. 95 do CPC; alegam ainda a inexistência de interpelação
prévia para constituir em mora João; por derradeiro que teriam tido acesso a um
"documento novo capaz de assegurar pronunciamento favorável" consistente em certidão
do cartório de registro, obtido após a sentença, assinalando a existência de duas hipotecas
sobre o imóvel do compromisso, acarretando inexibilidade do pagamento das prestações
convencionadas face previsão expressa de entrega do imóvel livre e desembaraçado de
qualquer ônus. Pergunta-se:
1) O réu-revel detém legitimidade para ajuizar ação rescisória e utilizá-la como
sucedâneo da contestação?
2) Dada natureza da causa equacionada pela sentença rescindenda, era
obrigatória a citação da esposa de João para integrar o pólo passivo daquela
relação processual? Tal matéria preclui?
3) Sabendo-se que houve pedido possessório na ação originária, a competência é
absoluta ou relativa? Tal matéria estaria preclusa?
4) Reconhecendo-se que atualmente é indispensável a notificação pré-monitória
para o efeito de constituir em mora o promissário comprador, mas sabendo-se que
à época da prolatação da sentença rescindenda, não era essa a orientação
jurisprudencial que predominava, seria possível a rescisória com base no inciso V
do art. 485 do CPC?
5) Pode-se considerar uma certidão do registro de imóveis, obtida após a sentença
rescindenda, como "documento novo" a justificar a propositura da rescisória?
6) Poderia o Tribunal reconhecer "dolo da parte vencedora" na demanda
originária, sem que isso tenha sido invocado como causa de pedir da rescisória?
Isso é matéria de ordem pública?
Resposta à Questão 1
1) O réu revel pode propor ação rescisória, a seu tempo, mas é claro que ela não
terá efeito de suceder a contestação faltosa. Só será cabível se enquadrada no
artigo 485 do CPC.
5) Documento novo é aquele ao qual a parte não teve acesso, nem tinha condições
de ter este acesso no momento próprio de produção de provas na ação originária,
pois se houve este acesso, não poderá se valer dele posteriormente. No caso, não
é documento novo a certidão mencionada, e por isso não se presta a embasar
ação rescisória.
Questão 2
Resposta à Questão 2
1) Sim, porque a expressão “lei” deve ser lida em sentido ampliativo, podendo
haver paradigma de qualquer natureza normativa.
2) Somente se refere a texto legal, vez que quanto a texto constitucional ´não é
possível justificar a existência de interpretação controvertida.
Questão 3
Reposta à Questão 3
“AÇÃO RESCISÓRIA. Erro de fato. Código de Processo Civil. Artigo 485, IX.
Não se admite ação rescisória fundada em erro de fato sobre o qual houve
controvérsia e pronunciamento judicial. A má apreciação da prova e a injustiça da
decisão não autorizam a rescisão da decisão que se diz ser injusta, porque
construída sobre o pilar de error in judicando. Improcedência do pedido de
rescisão. “
Questão 4
Reposta à Questão 4
Tema II
Ação rescisória. Procedimento: Petição inicial. Competência. Depósito. Despacho liminar de conteúdo
negativo. Despacho liminar de conteúdo positivo. Citação. Resposta. Procedimento ulterior.
Notas de Aula3
A petição inicial da ação rescisória deve conter os mesmos requisitos previstos para
as ações ordinárias no artigo 282 do CPC, que é trazido expressamente como fonte para as
rescisórias no artigo 488 do CPC:
“Art. 488. A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos
essenciais do art. 282, devendo o autor:
I - cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento da causa;
II - depositar a importância de 5% (cinco por cento) sobre o valor da causa, a título
de multa, caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível, ou
improcedente.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no no II à União, ao Estado, ao
Município e ao Ministério Público.”
Veja que o artigo 488, supra, traz ainda outros requisitos específicos da petição
inicial da rescisória. O primeiro requisito específico é a cumulação de pedidos que pode ser
necessária, na forma do inciso I deste dispositivo. Este inciso trata, na verdade, do próprio
juízo meritório da rescisória, ou seja, da pretensão do autor.
O juízo de mérito na ação rescisória pode ter duas fases: o juízo rescindente, ou
judicium rescindens; e o juízo rescisório, ou judicio rescissorium. O juízo rescindente se
concentra apenas na análise de desconstituição da decisão, ou seja, dedica-se apenas à
análise da rescindibilidade ou não da decisão impugnada. Toda ação rescisória tem este
pedido, este juízo rescindente, pois é o próprio escopo natural da ação rescisória.
Acolhido o pedido rescindente, a decisão judicial em mira será desconstituída, ou
seja, é um pedido constitutivo negativo, ensejando uma decisão igualmente constitutiva
negativa. daí surge a questão sobre a eficácia temporal da decisão de desconstituição: é ex
tunc ou ex nunc?
Há duas correntes a disputar o tema. O primeiro entendimento defende que a
desconstituição da decisão impugnada só pode ter efeitos ex nunc, pois se se trata de uma
decisão constitutiva negativa, esta é a eficácia temporal natural das decisões constitutivas. A
segunda corrente, outrossim, defende que a eficácia da desconstituição é ex tunc, porque
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Aula ministrada pelo professor Marco Antônio dos Santos Rodrigues, em 7/5/2009.
deve ser aplicada, aqui, a norma material da desconstituição de negócios, qual seja, o artigo
182 do CC:
como se verá adiante). Assim o é porque se entende que uma ação proposta sem qualquer
base jurídica, neste caso, é verdadeiro abuso do direito de agir. Esta multa reverterá para o
réu da rescisória.
A natureza desta multa, para Barbosa Moreira, é de condição específica da ação.
Mas há doutrina forte que sequer considera que possam existir condições específicas da
ação, de qualquer ação. Leonardo Greco, por exemplo, é um que defende que somente o
CPC pode traçar condições para o regular exercício do direito de ação, como o fez no artigo
267, VI, elegendo como tal apenas a legitimidade, o interesse e a possibilidade jurídica.
para esta corrente, este depósito de cinco por cento se enquadra como um pressuposto
processual de desenvolvimento da ação rescisória.
A decisão de inadmissibilidade ou de improcedência da ação rescisória pode ser
exarada monocraticamente, pelo relator da ação. Se assim for, o depósito será restituído ao
autor da ação, porque o artigo fala apenas em decisão unânime – colegiada, portanto.
O prazo para o depósito é de cinco dias, porque não havendo estipulação expressa
de prazo, como não há, aplica-se a regra geral do artigo 185 do CPC:
“Art. 185. Não havendo preceito legal nem assinação pelo juiz, será de 5 (cinco)
dias o prazo para a prática de ato processual a cargo da parte.”
O despacho liminar pode ser negativo, então, por conta destas causas do artigo
supra, ou pela falta de algum requisito especifico de admissibilidade da ação, como a falta
de trânsito em julgado da decisão rescindenda. Não sendo o caso, haverá o despacho
positivo, com recebimento da inicial e comando de citação.
A citação do réu na ação rescisória segue a regra geral das citações, para o rito
comum. Assim, a regra geral da citação postal prevalece, com as exceções cabíveis, como
quando for necessária a citação por oficial de justiça.
Citado, o réu poderá responder à demanda por meio das modalidades usuais, do
artigo 297 do CPC, além da eventual impugnação ao valor da causa.
“Art. 297. O réu poderá oferecer, no prazo de 15 (quinze) dias, em petição escrita,
dirigida ao juiz da causa, contestação, exceção e reconvenção.”
A contestação da ação rescisória não conta com qualquer diferença peculiar, formal
ou material, das contestações do rito ordinário.
A impugnação ao valor da causa na ação rescisória também não oferece qualquer
peculiaridade a ser relatada, podendo ser também retificado de ofício, quando for o caso
(havendo interesse tributário em questão, ou se o valor da causa for determinante para a
competência, o rito ou a regra recursal). O valor da causa, aqui, também corresponde ao
proveito econômico em discussão, correspondendo ao da ação originária se não houver
outra medida.
As exceções são possíveis em ações rescisórias, nos moldes das exceções em
qualquer ação ordinária. Vale dizer, porém, que a incompetência que se pode perceber,
normalmente, em ações rescisórias, é absoluta, eis que quase sempre será incompetência do
órgão colegiado em que esta ação corre originariamente – sendo deduzida na própria
contestação, portanto.
A reconvenção em ação rescisória é admitida pela doutrina, pois é possível que a
parte contrária venha a formular alguma pretensão em face da parte autora da rescisória,
conexa à pretensão da rescisão. De fato, é possível até mesmo que uma ação rescisória seja
proposta pela via reconvencional, o que pode ser visto se há uma sucumbência recíproca na
decisão rescindenda, a ensejar pretensão rescisória para ambas as partes.
Se a contestação não for apresentada, ou for intempestiva, não há revelia, segundo
Barbosa Moreira, porque o artigo 491 do CPC, adiante transcrito, não remete o
procedimento às regras da revelia. Para além disso, o direito envolvido na ação rescisória
não é disponível, porque se trata do questionamento da regularidade de um julgado,
questionamento da atividade do Judiciário – não há como o réu reconhecer a procedência
do pedido rescisório pela não oposição da contestação. Poder-se-ia até falar em efeito
processual da revelia, o transcurso do prazo sem intimação do advogado, mas a falta de
contestação em nada influenciaria materialmente a decisão da rescisória.
O prazo para resposta na ação rescisória é específico, sendo prazo judicial: o juízo,
o relator da ação, estabelecerá o prazo que entender suficiente para a resposta, entre um
mínimo de quinze e um máximo de trinta dias. Os prazos privilegiados, da Fazenda Pública
e do MP, na forma do artigo 188 do CPC, não seriam aqui aplicáveis, quando forem réus da
ação rescisória. Isto porque se o prazo é regido pela norma especial, do artigo 491 do CPC,
abaixo visto, não há que se aplicar a regra geral, prevista no artigo 188 para os prazos
legais, expressamente definidos em lei, e não para os prazos judiciais. Este entendimento,
de Barbosa Moreira, não é encampado pelo STJ, porém, pois esta Corte entende aplicável o
prazo privilegiado trazido pelo artigo 188 do CPC.
Esta discussão não se repete quanto ao prazo duplicado previsto no artigo 191 do
CPC, porque se o dispositivo fala em “manifestações em geral”, ali se enquadra a resposta à
rescisória:
1.3. Competência
A competência da justiça estadual não vem na CRFB, mas sim no CPC, na regra
geral das competências originárias dos Tribunais de Justiça: há competência para as ações
“Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento
instituído por esta Lei.”
“Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver
reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado
procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos
Casos Concretos
Questão 1
Luiza, Douglas e Raul propõem ação rescisória, com fundamento no artigo 485,
incisos V e IX, do Código de Processo Civil, em face de Carlos e Olinda, visando à
desconstituição de sentença que julgou procedente o pedido na Ação de Adjudicação
Compulsória proposta pelos ora réus em face dos ora autores, com base na cessão de
direitos hereditários relativos a imóvel situado na cidade de São João.
Alegam os autores:
1- violação literal ao artigo 82, inciso III do Código de Processo Civil, c/c a Lei nº
6.015, de 1973, ante a ausência de intervenção do Ministério Público, por se tratar
de ação que supre ato volitivo e importa em alteração do registro público;
2- que a sentença partiu de premissa equivocada no que tange ao ônus da prova, já
que, na Ação de Adjudicação Compulsória, o ônus da prova incumbe
exclusivamente ao autor, e que os réus em momento algum provaram a quitação
integral do preço, mediante documentação sequencial da totalidade das notas
promissórias.
Contestam os réus, no sentido da não obrigatoriedade da atuação do Ministério
Público na referida ação. Alegam, ainda, que o julgador da sentença rescindenda invocou,
como um dos fundamentos de sua decisão, o artigo 322 do Código Civil, que admite a
presunção de estarem solvidas as prestações anteriores quando apresentada a quitação da
última.
Decida a questão, abordando, em especial, a intervenção do Ministério Público na
ação adjudicatória e o que se entende por "erro de fato" capaz de tornar rescindível a
sentença.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Numa execução proposta por Joana em face do INSS, o juiz julgou extinto o
processo com base no art. 794, I, CPC, por entender que o executado já havia feito o
pagamento integral do débito na via administrativa. No biênio do art. 495 do CPC, Joana
ajuizou ação rescisória sustentando que a decisão prolatada violou literal disposição de
lei, especificamente o art. 24, § 4º da Lei 8.906/94.Pergunta-se: A sentença que declara
extinto o processo executivo faz coisa julgada substancial? A sentença pode ser objeto de
ação rescisória? Fundamente.
Resposta à Questão 3
Tema III
Ação rescisória. Etapas do julgamento: o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito. Judicium rescindens e
judicium rescissorium. Ação anulatória de ato da parte praticado em juízo: Artigo 486. Análise da nova
redação do art. 489 introduzido pela Lei 11.280/2006. Ação Rescisória: Legitimação ativa e passiva. Prazo
para a propositura da ação.
Notas de Aula4
1. Ação rescisória
O inciso VI deste artigo também exige análise da prova, a fim de ver se esta prova é
viciada, e este inciso sim revela vício na decisão alvejada, pois se ela se baseou em ato
viciado – a prova falsa –, a causalidade das nulidades torna viciados todos os atos
subseqüentes que do ato viciado derivarem.
A rescindibilidade só perdura dois anos, convalescendo após este termo. Mesmo que
a rescindibilidade venha de uma nulidade absoluta, a coisa julgada material alcançada
produz efeito sanatório da nulidade, transformando algumas em rescindibilidade. E se a
rescindibilidade deixar de existir pelo decurso do tempo, dos dois anos para a propositura
da ação rescisória, aí então convalida-se todo e qualquer vício de validade.
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Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 8/5/2009.
A redação anterior era inflexível, e gerou até mesmo enunciado da súmula do antigo
TFR, o enunciado 234. Veja o artigo na leitura anterior e a súmula:
“Súmula 234, TFR: Medida Cautelar em Ação Rescisória para Obstar os Efeitos da
Coisa Julgada – Cabimento.
Não cabe medida cautelar em ação rescisória para obstar os efeitos da coisa
julgada.”
A esta época, passou-se a admitir uma ação cautelar inominada com o fito de
suspender a execução das decisões rescindendas, vez que não se admitia efeito suspensivo
no bojo da rescisória.
O artigo 71, parágrafo único, da Lei 8.212/91, foi o primeiro dispositivo que admitia
a suspensão da execução pela rescisória, ao contrário do antigo teor do artigo 489 do CPC:
O novel teor do artigo 489 do CPC, portanto, pacificou a questão: tanto a cautelar
quanto a antecipação da tutela são admissíveis como forma de implemento de efeito
suspensivo à ação rescisória. O problema, porém, é que é bastante difícil conseguir esta
suspensão, porque quem ajuíza uma ação rescisória, normalmente, é quem sucumbiu diante
da decisão rescindenda, e por isso ficará difícil para este autor comprovar a cautelaridade a
ensejar liminar provimento de seu pleito. Somente vícios teratológicos merecerão o efeito
suspensivo, na prática.
“Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for
meramente homologatória, podem ser rescindidos, como os atos jurídicos em
geral, nos termos da lei civil.”
“Art. 352. A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação, pode ser revogada:
I - por ação anulatória, se pendente o processo em que foi feita;
II - por ação rescisória, depois de transitada em julgado a sentença, da qual
constituir o único fundamento.
Parágrafo único. Cabe ao confitente o direito de propor a ação, nos casos de que
trata este artigo; mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.”
Como orientação geral, o que se pode defender é que se o que se pretende atacar é o
ato das partes – a transação, a confissão –, a anulatória é o meio correto; se é a decisão em
si, porque não é uma sentença transparente, ou fantasma (se o juiz, mais do que apenas
homologar, influiu no direito transacionado, acrescendo ditos ao termo, por exemplo) cabe
a rescisória.
A competência para a anulatória não é por prevenção, pois o CPC não estabelece
esta regra. Se a distribuição dirigida não é expressa, não pode ser feita.
“Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver
reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado
procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos
Edward Carlile, por seu turno, entende que em regra só há cabimento de embargos
infringentes se há juízo rescisório por maioria. Assim o é porque o que se pretende é o
“desempate” da questão de mérito, e não da mera rescindibilidade em juízo rescindente. A
exceção será quando o juízo rescisório não for possível, quando então o recurso se destinará
a resolver o “empate” neste aspecto. Seu entendimento não prevalece, porque se entende
que ambos os juízos são meritórios, formando o mérito duplo da rescisória.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
A concordância com a perícia é uma transação, e como é esta que se está intentando
desconstituir, a via adequada é a ação anulatória, e não a rescisória da sentença meramente
homologatória, sentença fantasma.
O TJ/RJ, na Ação Rescisória 1996.006.00063, assim se posicionou, em duas
ementas:
Questão 3
Resposta à Questão 3
Ação rescisória. Acordo das partes homologado no Juízo monocrático por decisão
que extinguiu processo de dissolução e liquidação de sociedade comercial à forma
do disposto no art. 269, 111, do CPC. Sentença meramente homologatória de
transação. Impropriedade jurídica da ação, que visa atacar a condição de validade
do pacto livremente celebrado por aqueles que eram partes no feito. Ausente vício
extrínseco da sentença homologatória do ajuste das partes, de ver-se que, nos
termos do art. 486 do CPC, contra ela não cabe ação rescisória, pois,
ontologicamente, limitou-se a chancelar a transação feita pelos litigantes. É
tranqüilo o entendimento jurisprudencial afirmatório de que sujeitos capazes
podem acertar livremente sobre direitos disponíveis que estejam no seu
patrimônio, ainda que de forma diferente do que anterior decisão judicial definira
as coisas no processo. Se a sentença limitou-se a homologar a transação efetuada,
descabe a rescisória objetivando a sua desconstituição ao fundamento de apontado
vício da transação e não da sentença. 0 insignificante equívoco sobre a troca dos
nomes dos que são, respectivamente, autor e ré, na demanda já julgada na fase de
conhecimento e que estava no inicio da fase de execução, não pode ser elevado à
condição de defeito intrínseco fatal, só para mascarar a pretensão. Extinção do
processo sem exame de mérito, ao embasamento da regra do art. 267, VI, do
CPC.”
Tema IV
Recursos. Conceito. Princípios gerais atinentes aos recursos: princípio do duplo grau de jurisdição, que
veda a reforma para pior, da fungibilidade, e da unirrecorribilidade, entre outros.
Notas de Aula5
1. Recursos
5
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 8/5/2009.
“Súmula 423, STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso
“ex officio”, que se considera interposto “ex lege”.”
“Súmula 253, STJ: O art. 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso,
alcança o reexame necessário.”
Além de remédio voluntário, o conceito trazido diz que o recurso ocorre dentro do
mesmo processo. Isto serve para diferenciar claramente as ações de impugnação de
decisões dos recursos, pois este é apenas um prolongamento da mesma relação processual
já existente, e não a instalação de uma nova relação.
O recurso se presta a impugnar decisão judicial, somente. São impugnáveis por
recursos as sentenças, as decisões monocráticas e os acórdãos. Os despachos não são
recorríveis, por lógica e por expressa menção do artigo 504 do CPC:
“Art. 504. Dos despachos não cabe recurso. (Redação dada pela Lei nº 11.276, de
2006)”
de questão qualquer. Assim, tanto os despachos como os despachos de mero expediente são
irrecorríveis.
Fredie Didier, isoladamente, defende o cabimento de recurso de alguns despachos, e
dá o seguinte exemplo: se o demandante formula requerimento de antecipação de tutela na
inicial, e o juiz simplesmente ignora tal pedido, proferindo o despacho liminar de conteúdo
positivo – o “cite-se”6 –, este despacho seria omisso, desafiando embargos de declaração,
com efeitos infringentes, a fim de que se pronuncie sobre o pedido de antecipação. Data
venia, seria suficiente uma petição para provocar o pronunciamento do juiz, e não o
recurso.
A lei estabelece expressamente, também, a irrecorribilidade de algumas decisões,
que não fosse a vedação legal seriam passíveis de recurso. Como exemplo, os artigos 527,
parágrafo único, e 543-A, do CPC:
6
Barbosa Moreira defende que o “cite-se” é uma decisão interlocutória de recebimento da inicial, em que o
juiz manifesta, implicitamente, que encontrou preenchidos os pressupostos processuais e condições da ação.
Peculiarmente, os embargos de declaração não têm sequer contraditório, eis que não
se destinam a reformar ou invalidar a decisão. Quando contar com possibilidade de operar
efeitos modificativos, ou infringentes, os embargos de declaração deverão ser
contraditados, segundo orienta a doutrina.
Nem só os embargos de declaração se prestam a integrar a decisão recorrida, como
se pode pensar. A apelação também pode ter este escopo sanatório de omissão de ato
decisório. Veja o artigo 515, § 1º, do CPC:
Ora, se fica submetida ao tribunal a questão não decidida que fora suscitada,
significa que foi omisso o julgado, e o recurso de apelação sanará tal omissão, se for o caso.
Este artigo, tanto no § 1º quanto no § 3º, são manifestos da teoria da causa madura, que será
abordada adiante.
Não há preclusão da discussão sobre a omissão na sentença pela não interposição
dos embargos declaratórios: ainda que não se lhos interponha, nada impede que a omissão
seja discutida na apelação.
1.1. Principiologia
“(...)
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes;
(...)”
Uma terceira visão defende que não está na CRFB, mas sim no Pacto de São José da
Costa Rica, e a ponte feita pelo § 3º do artigo 5º daria a este preceito do tratado o status de
norma materialmente constitucional.
“(...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Decreto Legislativo com
força de Emenda Constitucional)
(...)”
7
Marinoni defende que o réu de uma ação, nesta situação exemplar, não poderá recorrer, porque o réu não faz
jus a uma decisão de mérito, e sim somente o autor, carecendo, o réu sem prejuízo pela sentença terminativa,
de interesse recursal.
O STJ, no entanto, veda esta situação, mas em outro caso, similar mas diverso: não
acolhe a prescrição não pela imposição da reformatio in pejus sobre a prescrição, mas sim
pela falta de prequestionamento, requisito de admissibilidade do recurso especial.
Outro princípio recursal é o da unirrecorribilidade das decisões: toda decisão só é
recorrível uma só vez, por um só recurso. É bastante simples e lógico este princípio, e
evidencia o efeito substitutivo do recurso, porque a decisão que será impugnada adiante,
por outro recurso, é a que substituiu a anterior, sendo o recurso que vier desta o primeiro e
único sobre ela, e assim sucessivamente. Este princípio tem mitigações óbvias, como os
sempre cabíveis embargos de declaração e os recursos específicos daquela decisão, ou o
cabimento concomitante dos recursos excepcionais, entre outras.
Tem relevo o princípio da fungibilidade. O CPC de 1939 o previa no artigo 810:
“Art. 810. Salvo a hipótese de má-fé ou erro grosseiro, a parte não será prejudicada
pela interposição de um recurso por outro, devendo os autos ser enviados à
Câmara, ou turma, a que competir o julgamento.”
Mesmo não estando expresso no CPC atual, é aplicável este raciocínio, pela defesa
da celeridade e efetividade processual. Didier defende que há, sim, normatividade a fundear
este princípio, porque reputa-o consectário da instrumentalidade do processo, que encontra
sede no artigo 244 do CPC:
“Art. 809. A parte poderá variar de recurso dentro do prazo legal, não podendo,
todavia, usar, ao mesmo tempo, de mais de um recurso.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não
poderá recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de
um ato incompatível com a vontade de recorrer.”
2) Errada a assertiva, porque após a decisão definitiva há toda uma série de atos
possíveis, como o recurso, a execução, etc.
3) Somente o agravo retido tem efeito devolutivo diferido, eis que sua apreciação
será feita apenas em reiteração, quando da eventual apelação ou contrarrazões
de apelação. Errada a afirmativa.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Questão 4
negou provimento, confirmando a decisão, porém, por outro fundamento, qual seja, o de
que embora o autor / recorrente houvesse provado os fatos, não possuía o direito alegado.
Pergunta-se: Há violação ao princípio da proibição da reformatio in peius na hipótese
concreta? Fundamente.
Resposta à Questão 4
Não haveria violação, em qualquer outro caso, pois a devolução de toda a discussão
foi levada ao tribunal, e nada impede que possa, o tribunal, julgar a questão improcedente
por fundamento diverso do que anteriormente fora adotado. Ocorre que, neste caso
específico da ação popular, por ser, a coisa julgada, submetia à condicionante secundum
eventum probationem, não poderia ser assim alterada a questão, pois o prejuízo é claro:
sendo improcedente por falta de provas, há possibilidade de nova demanda; sendo por
motivo substancial, não caberá nova lide. Por isso, há violação à reformatio in pejus, aqui.
Questão 5
Resposta à Questão 5
Tema V
Recursos e meios de impugnação das decisões judiciais. Ações autônomas de impugnação e os recursos:
traço distintivo essencial. Sucedâneos recursais. Classificação dos recursos. Recurso interposto na
modalidade adesiva (art. 500, CPC). Desistência do recurso. Renúncia ao poder de recorrer. Aquiescência à
decisão. Atos sujeitos a recurso.
Notas de Aula8
8
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 11/5/2009.
“Art. 467. Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e
indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.”
2. Recurso adesivo
Só pode interpor recurso adesivo quem foi parte da demanda. Por isso, o MP,
quando custos legis, não poderia fazê-lo: pode recorrer autonomamente, mas se não o fizer,
não poderá aderir posteriormente ao recurso interposto pela outra parte.
Segundo requisito é que tinha havido sucumbência recíproca na decisão alvejada.
Quem tenha triunfado completamente não poderá aderir ao recurso da parte sucumbente.
Terceiro requisito depreendido deste artigo 500 supra é a que a modalidade adesiva
não é admitida em todas as espécies de recurso, mas apenas na apelação, embargos
infringentes, recurso especial e recurso extraordinário. Há uma ressalva: o recurso
ordinário, espécie constante do artigo 539 do CPC, é similaríssimo a uma apelação, e por
isso admite o recurso adesivo, mesmo não estando expressamente previsto no inciso II do
artigo 500 do CPC.
“Art. 539. Serão julgados em recurso ordinário: (Redação dada pela Lei nº 8.950,
de 13.12.1994)
I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os
mandados de injunção decididos em única instância pelos Tribunais superiores,
quando denegatória a decisão; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
II - pelo Superior Tribunal de Justiça:(Redação dada pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e
Territórios, quando denegatória a decisão; (Incluído pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)
b) as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
(Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
Parágrafo único. Nas causas referidas no inciso II, alínea b, caberá agravo das
decisões interlocutórias. (Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
É necessário também que o recurso trazido pela via adesiva tenha a mesma natureza
do recurso autônomo interposto pela outra parte. Assim, a uma apelação só poderá aderir
uma outra apelação, da parte contrária, e nunca um agravo. De fato, é até difícil vislumbrar
uma hipótese em que a parte entenda cabível recurso diferente do que foi autonomamente
interposto. Há um exemplo controvertido: se um mandado de segurança de competência do
tribunal, contendo dois pedidos, for julgado parcialmente procedente, e o impetrante recorre
da parte que não lhe foi deferida, e a autoridade pública não recorre, não poderá esta aderir
ao recurso do impetrante, por dois motivos: primeiro, não há sucumbência recíproca,
porque se a sentença for analisada capítulo a capítulo, cada um triunfou integralmente em
um capítulo, em um pedido; ad argumentandum, se se entender que há sucumbência
recíproca, o óbice é justamente o cruzamento de espécies de recursos: da decisão do
tribunal que concede a segurança, cabe recurso extraordinário ou especial; da parte que
indeferiu a segurança, cabe recurso ordinário – inviabilizando o recurso adesivo.
O prazo para recorrer adesivamente é o mesmo prazo para contra-arrazoar o recurso
principal, autônomo. Não se exige a apresentação simultânea do recurso adesivo e das
contrarrazões, porque a lei, quando exige concomitância, o faz expressamente, como na
reconvenção e contestação.
Quanto ao prazo, há um questionamento: valeriam-se o MP e a Fazenda Pública da
prerrogativa do prazo dobrado, do já transcrito artigo 188 do CPC? A doutrina entende que
sim: o recurso adesivo conta com a dobra do prazo, tal como na forma de interposição
autônoma. Vale dizer que, para as contrarrazões, o prazo não se conta em dobro – a
prerrogativa é para recorrer, e não para contra-arrazoar. Contudo, quando há recurso
adesivo, a dobra do prazo se estende também para as contrarrazões, ao contrário do que
ocorre para a apresentação de contrarrazões pura e simples, isolada, não havendo recurso
adesivo: sendo apenas para contra-arrazoar, o prazo destes entes é simples.
Outro pressuposto para o cabimento do recurso adesivo, este lógico, é que a parte
não tenha recorrido de forma autônoma. É claro: se a parte recorreu autonomamente, não há
interesse em recorrer adesivamente, além de ser uma violação óbvia à unirrecorribilidade.
Há uma situação prática em que seria possível uma burla à sistemática recursal, não fosse
feita esta interpretação: se a parte recorre intempestivamente, mas a outra parte também
recorre, ao ser instada a contra-arrazoar, não poderá aquele que teve seu recurso autônomo
inadmitido por intempestivo recorrer adesivamente. O sujeito estaria recorrendo duas vezes
da mesma decisão.
O CPC contempla o cabimento de embargos infringentes adesivo, mais é difícil
vislumbrar uma hipótese em que seja possível. A hipótese, criada por Alexandre Câmara e
Marinoni, é a seguinte: o autor tem sua pretensão, de cem, julgada totalmente
improcedente, e por isso apela; o tribunal, então, julga da seguinte forma: um
desembargador concede cem; outro dá provimento por oitenta; e outro por vinte. A doutrina
e a jurisprudência permitem embargos infringentes, aqui, pois contam como dois a um,
sendo um voto favorável o que deu total provimento, e dois desfavoráveis o que deram
quantias menores. Friamente, porém, esta contagem de votos seria três azero, porque todos
deram provimento, mesmo que em montantes diferentes, mas a jurisprudência entende que
a qualificação do voto se baseia na divergência entre eles, e não apenas no dispositivo. No
caso, a parte recorrente poderia se basear no voto de total procedência, pleiteando a sua
adoção em embargo infringente; e a parte recorrida poderia se basear no voto de menor
provimento, pleiteando sua adoção em embargo infringente adesivo. É uma situação
bastante complexa e controvertida, porém.
“Art. 503. A parte, que aceitar expressa ou tacitamente a sentença ou a decisão, não
poderá recorrer.
Parágrafo único. Considera-se aceitação tácita a prática, sem reserva alguma, de
um ato incompatível com a vontade de recorrer.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
c) Sim, correta, vez que sendo parcial, deveria ter havido agravo, em tempo
próprio.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema VI
Recursos: juízo de admissibilidade e juízo de mérito. Objeto do juízo. Requisitos de admissibilidade dos
recursos: os intrínsecos e os extrínsecos. Juízo de admissibilidade: competência e forma. Efeitos dos
recursos: regressivo, devolutivo, translativo, suspensivo, ativo, modificativo/infringente, expansivo e
substitutivo.
Notas de Aula9
1. Admissibilidade recursal
9
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 11/5/2009.
“Art. 499. O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro
prejudicado e pelo Ministério Público.
§ 1º Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu
interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.
§ 2º O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que
é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei.”
O recurso do terceiro é o que apresenta maior peculiaridade. Por exemplo, não pode
o terceiro recorrer de forma retida, porque como ele não é parte, não poderá reiterar o seu
agravo retido ao final, em apelação, inviabilizando o seu recurso retido.
Além da legitimidade, é necessário demonstrar interesse em recorrer, o que não se
confunde com a sucumbência. Pode acontecer de a parte ter vencido a demanda, mas ainda
assim ter interesse em recorrer de algum ponto que não a satisfez – como a verba honorária
fixada em patamar baixo, por exemplo.
O primeiro requisito extrínseco, a tempestividade, é bastante claro: se o recurso não
for interposto no prazo que lhe é assinado, é intempestivo, inadmissível, portanto. O artigo
que trata dos prazos genericamente, no CPC, é o 508:
Cada recurso diferente dos ali mencionados tem seu prazo específico. Há recurso,
inclusive, que deve ser interposto imediatamente quando proferida a decisão: é o caso do
agravo retido oral do artigo 523, § 3º, do CPC. Veja:
“Súmula 641, STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um
dos litisconsortes haja sucumbido.”
A isenção da taxa judiciária, tributo estadual, ali concedida, parece ser caso
expresso de isenção heterônoma, criada por lei federal em tributo estadual.
Se o preparo for insuficiente e, intimado a complementar seu valor, a parte não o
faz, o recurso será julgado deserto, e inadmitido. Por questão de razoabilidade, o STF tem
entendido que quando a insuficiência for por fração de moeda, o recurso não será
inadmitido.
A regularidade formal dependerá de cada recurso. O agravo de instrumento, por
exemplo, depende de um requisito de regularidade formal especial, consistente na
apresentação de cópia do recurso e de prova de sua interposição para o juízo de primeira
instância, como demanda o artigo 526 do CPC:
“Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do
processo de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua
interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso.
(Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e
provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo. (Incluído pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)”
“Súmula 634, STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida
cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi
objeto de juízo de admissibilidade na origem.”
Há ainda que se abordar uma impropriedade técnica que tem presença regular na
praxe: a concessão da antecipação dos efeitos da tutela na própria sentença. Esta medida se
presta a elidir o efeito suspensivo de um eventual recurso. Entenda-se com um exemplo:
indeferida uma tutela antecipada, e corrido o processo, o juiz percebe, na sentença, que o
autor estava com a razão, e dá-lhe o direito, em definitivo. Ocorre que se houver recurso
desta sentença, terá efeito suspensivo, impedindo a eficácia do direito, enquanto que se a
antecipação da tutela houvesse sido concedida, o recurso que ela porventura sofreria,
agravo de instrumento, não teria efeito suspensivo, e o direito teria eficácia, correndo até
após a sentença. Esta incongruência – juízo de probabilidade ter mais eficácia que juízo de
certeza – é solucionada pela concessão, na sentença, da antecipação outrora denegada,
baseada, em interpretação menos literal, no artigo 520, VII, do CPC. Apesar de ser um tanto
atécnica, e até mesmo contra legem, pois viola, no caso da apelação, a regra do efeito
suspensivo inscrita no artigo 520 do CPC, é uma solução de justiça.
“Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no
entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
(...)
VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela; (Incluído pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)
(...)”
Além disso, pode-se criticar a inversão de ordem que esta medida opera: a
admissibilidade é feita, e mais, a atribuição de efeitos é declarada, antes mesmo de o
recurso ser interposto. Contudo, é da praxe forense, e há um projeto de lei acabando com o
efeito suspensivo da apelação, o que acabaria com esta prática, pois seria desnecessária.
Sobre este inciso VII do artigo 520, a doutrina interpreta-o de forma bastante
expansiva, de forma a ler ali, onde há o termo “confirmar”, também os termos “conceder” e
“revogar”, como fundamentos à retirada do efeito suspensivo da apelação. A confirmação
retira o efeito suspensivo por mera lógica, pois não teria qualquer sentido em não fazê-lo; a
concessão, por seu turno, sana a incongruência que se mencionou há pouco. A revogação é
que é interessante: se a antecipação não era devida, tanto que a sentença a revoga, se há
efeito suspensivo desta sentença em apelação, a antecipação continuará a produzir efeitos,
fazendo uma decisão de cognição sumária prevalecer sobre aquela de cognição exauriente.
O efeito regressivo do recurso é aquele que permite que ao próprio órgão prolator da
decisão recorrida analisar a admissibilidade e o mérito recursal, ou seja, é permitido o juízo
de retratação. Há efeito regressivo mesmo se não se ratar de juízo de retratação, e o
exemplo de recurso que tem este efeito é o embargo de declaração, em que o mesmo órgão
recorrido é acionado a decidir.
Entretanto, todo recurso que permite retratação tem efeito regressivo. O embargo
infringente na execução fiscal é um exemplo, na forma do artigo 34 da Lei 6.830/80:
“Art. 296. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, reformar sua decisão. (Redação dada pela Lei
nº 8.952, de 13.12.1994)”
O novo artigo 285-A também prevê este efeito para a apelação ali cabível:
Veja que o efeito regressivo não pode ser procedido e ofício: é um efeito do recurso,
que se não for interposto, ou se for inadmitido, não será produzido.
Novidade no sistema recursal é a possibilidade de que haja efeito regressivo nos
recursos especial e extraordinário, como dizem os artigos 543-B e 543-C do CPC, que serão
adiante abordados amiúde.
Do caput do artigo 515 do CPC já se extrai que o efeito devolutivo é aquele que
entrega ao órgão hierarquicamente superior o conhecimento da matéria impugnada. É
devolutivo porque devolve ao Judiciário a matéria que já foi por ele analisada.
(...)
§ 3º O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto
não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e VI;
todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar
nos autos, responderá pelas custas de retardamento.
(...)”
Para Câmara, este artigo 267, § 3º, é capaz, sozinho, de fundear o efeito translativo
das matérias de ordem pública ao tribunal, não precisando da conjugação com o artigo 516
(que, para ele, como dito, se presta a permitir a análise de questões incidentes não
resolvidas). A sua interpretação do artigo supra é a seguinte: lendo-o em segunda instância,
simplesmente se ignora a limitação expressa pela expressão “enquanto não proferida
sentença de mérito”, porque não faz sentido no processo nos tribunais – permitindo a
análise destas matérias.
O § 2º do artigo 515 do CPC também se explica melhor com um exemplo: imagine-
se que em uma ação de despejo há dupla fundamentação, a falta de pagamento dos
alugueres e a necessidade do imóvel para uso próprio. Na sentença, o juiz encontra pagos
os alugueres, não acolhendo esta causa, mas julga procedente o desalijo para uso próprio. O
réu recorre, impugnando apenas o uso próprio. O artigo 515, § 2º, permite que, mesmo que
a matéria tenha sido enfrentada e rejeitada, e não impugnada, possa ser analisada pelo
tribunal: no caso, poderá rever a questão do pagamento dos alugueres, e se entender que
não está paga a dívida, poderá reformar a fundamentação da sentença.
O artigo 515, § 3º, do CPC, é a sede maior da teoria da causa madura, em sede
recursal. A decisão terminativa, quando impugnada, vai permitir que haja a seguinte
dinâmica: se o tribunal enfrentar o quesito que ensejou a extinção do processo sem
resolução do mérito e encontrar procedência na irresignação quanto a ele, poderá desde
logo adentrar no mérito, que não foi jamais analisado na instância recorrida, se a situação
processual o permitir. A aplicação deste dispositivo, em regra, é feita de ofício, eis que se
trata de manifestação de efeito devolutivo na profundidade. Fredie Didier, isoladamente,
defende que seria, em verdade, caso de efeito devolutivo na extensão, e por isso só poderia
ser aplicado este dispositivo mediante requerimento da parte recorrente. A jurisprudência,
porém, entende ser referente à profundidade, e por isso é possível aplicar-se de ofício.
O § 4º do artigo 515 do CPC também devolve ao tribunal a possibilidade de analisar
vícios processuais independentemente de provocação específica no recurso. É claramente
efeito devolutivo na profundidade, então, entregando ao tribunal a matéria por força de lei.
Vê-se, na análise destes dispositivos, que a regra do tantum devolutum quantum
appellatum, de fato, é praticamente a exceção: a maior parte do que o tribunal pode fazer
não se adstringe à impugnação procedida pelo recorrente.
Por fim, efeito devolutivo será diferido quando o tribunal não receber o
conhecimento da matéria impugnada de imediato. Assim ocorre no agravo retido, por
exemplo, em que se não se operar o efeito regressivo – o juiz não se retratar –, a matéria só
será conhecida do tribunal em momento posterior, quando da eventual reiteração do recurso
em sede de apelação.
Em que pese haver quem chame o efeito ativo de efeito suspensivo ativo, e a lei o
chame de antecipação dos efeitos da tutela recursal, a nomenclatura mais técnica reduz o
termo a apenas efeito ativo. Veja o artigo 527, III, do CPC:
Diferenciando o efeito ativo do efeito suspensivo, tem-se que são o exato oposto um
do outro: quando a decisão impõe um determinado comportamento a uma das partes, ao
recorrer, ela estará pretendendo que esta decisão seja suspensa, a fim de que não seja
exeqüível o comportamento a ela imposto. Sendo a decisão impositiva, portanto, o efeito
que o interessado precisa é o suspensivo.
O efeito ativo é o inverso: se na decisão há a negativa de uma pretensão, o
recorrente precisa que esta negativa se convole em positiva, seja, o efeito ativo faz com que
a decisão negativa seja neutralizada, e que a instância recursal conceda a pretensão inicial.
Entenda: se a decisão negativa for alvo de mero efeito suspensivo, não haverá um
provimento jurisdicional positivo a dar procedência ao que pretende o recorrente. Assim,
não adianta ser suspensa uma decisão negativa, pois ainda não haverá provimento da
pretensão negada na decisão recorrida; é preciso que haja uma decisão capaz de ativar a
pretensão do recorrente, que fora denegada na decisão recorrida. Para decisão positiva, cabe
requerer efeito suspensivo; para negativa, efeito ativo.
O efeito ativo é específico do agravo de instrumento, não podendo ser pleiteado em
recursos diversos deste.
“Art. 509. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo
se distintos ou opostos os seus interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um
devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao credor lhes forem
comuns.”
Casos Concretos
Questão 1
Antonio, que já havia sido condenado a prestar alimentos a seu filho e vinha
cumprindo regularmente o comando contido na sentença, formulou, através de simples
petição nos autos, pedido de exoneração da obrigação de prestar alimentos. Fundamentou
seu pedido no fato de que o seu filho, alimentando, atingiu a maioridade e exerce estágio
remunerado, razão pela qual a pensão a que havia sido condenado a pagar deveria cessar.
Teve o pedido negado por decisão interlocutória proferida pelo magistrado e, com
fundamento na segunda parte do artigo 522 do Código de Processo Civil, interpôs agravo
de instrumento dessa decisão. O Tribunal deu provimento ao agravo de instrumento. O
Ministério Público, que oficiava nos autos como custos legis, interpôs recurso especial
contra o acórdão do Tribunal, com fundamento no artigo 105, III, "a" e "c" da CRFB c.c.
artigo 499 do Código de Processo Civil. Alegou ser incabível a extinção automática dos
alimentos porque atingida a maioridade pelo alimentando. Destacou ainda, em suas
Resposta à Questão 1
Assim que o indivíduo deixou de ser menor, o MP não mais tem que oficiar no feito
como custos legis, e por isso não mais conta com legitimidade recursal.
O STJ assim se manifestou, no REsp. 982.410:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Não tem, o prefeito, legitimidade para tanto, porque quem deverá recorrer no
mandamus é a própria Fazenda Pública, e não a autoridade apontada como coatora.
O TJ/RJ, na Apelação Cível 2001.001.11409, assim se manifestou:
Tema VII
Notas de Aula10
1. Apelação
10
Aula ministrada pelo professor Alexandre Antônio Franco Freitas Câmara, em 12/5/2009.
A súmula vinculante, pelo ensejo, trata-se daquela que, esta sim, impossibilita que o
juízo decida de forma contrária aos seus termos. Problemática surge quando se cogita da
convivência das eficácias impeditiva de recurso e vinculante em uma só súmula. Imagine-
se a seguinte situação: alguém vai a juízo questionar matéria que já está regulada em
súmula vinculante. Como exemplo, o autor vai a juízo pedir a invalidação de procedimento
administrativo porque não houve participação de advogado, sendo que há enunciado
vinculante do STF, de número 5, rejeitando esta pretensão:
Ao ajuizar esta ação, ela estará fadada à improcedência, sendo cabível reclamação
diretamente ao STF se o juiz decidir contrariamente à súmula. O juiz tem que rejeitar de
plano a demanda, na forma do artigo 285-A do CPC. Esta sentença, então, estará em
conformidade com a súmula, se o juiz a acatar, e se se interpuser uma apelação desta
sentença peremptória, o mesmo juiz a inadmitirá, sob argumento de que está impedido este
recurso pela violação ao artigo 518, § 1º, do CPC, ou seja, a mesma súmula que vincula a
decisão inicial impede que dela haja recurso – convivem, aqui, os dois efeitos.
Esta pluralidade de eficácias nas súmulas deve ser observada com certa cautela. A
súmula vinculante só produz efeitos sobre o Executivo e os demais órgãos do Judiciário, à
exceção do próprio STF, que poderá sempre rever seus entendimentos. Se o modelo de
vinculação atual permitir a dinâmica narrada acima, em que há vinculação da sentença e
impedimento do apelo, simplesmente será impossível levar a discussão, judicialmente, ao
STF, no intento de superar o precedente vinculante (o que se chama de overrule). Somente
por vias concentradas ou administrativas será possível propugnar a revisão do precedente, e
o jurisdicionado comum não tem acesso a estas vias. O convívio dos efeitos sumulares
congelaria o precedente de forma demasiadamente sólida.
Por conta disso, Alexandre Câmara defende que uma eficácia repele a outra: se a
súmula é vinculante, ela não é impeditiva de recurso, e vice-versa. Se o juiz aplica a súmula
persuasiva, há impedimento do recurso; se o juiz aplica a súmula vinculante, não se pode
inadmitir o recurso.
“Art. 520. A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no
entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - homologar a divisão ou a demarcação; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
II - condenar à prestação de alimentos; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973)
III - julgar a liquidação de sentença; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de
1º.10.1973) (Revogado pela Lei nº 11.232, de 2005)
IV - decidir o processo cautelar; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
O inciso I trata de procedimentos especiais que são pouco comuns nas comarcas
urbanas. A apelação desta decisão não tem efeito suspensivo pela seguinte razão: tratam-se
de procedimentos bifásicos, ou bipartidos, em que cada uma das duas fases se encerra por
sentença em separado. A primeira fase se encerra quando o juiz verifica se há ou não direito
à demarcação (ou divisão) da terra; proferindo sentença de improcedência, esta fase é a
única. Se a sentença é de procedência, passa-se à fase de efetiva demarcação (ou divisão),
chamada “fase dos trabalhos de campo”, que culminará necessariamente em uma sentença
homologatória da divisão ou demarcação. Da primeira sentença cabe apelação com duplo
efeito; da homologatória, a apelação cabível contará apenas com efeito devolutivo.
O inciso II estabelece o óbvio: se a sentença condena o réu a pagar alimentos, é
porque foi verificada uma necessidade alimentar que é sempre pujante, e por isso não se
pode emprestar efeito suspensivo à apelação ali cabível, pois se o fosse, o alimentando
estaria desamparado em sua subsistência até o julgamento do recurso.
O inciso III foi revogado porque a liquidação de sentença deixou de ser processo
autônomo, e por isso a decisão a que se referia deixou de ser sentença, passando a ser
interlocutória.
O mesmo raciocínio feito pelo legislador no inciso II é a base do inciso IV: se há
premência a ensejar provimento cautelar, não há que se falar em efeito suspensivo.
O inciso V trata de duas hipóteses. A apelação contra a rejeição liminar dos
embargos à execução é bastante lógica. No julgamento de improcedência, idem. Porém,
pode haver uma certa dificuldade em um aspecto: pode o juiz julgar extinto o processo, os
embargos, sem resolver o mérito; sem rejeição liminar, e sem julgamento de
improcedência, a apelação terá efeito suspensivo ou não? É entendimento pacífico que esta
apelação não terá efeito suspensivo. De fato, entende-se que nos embargos à execução,
qualquer apelação do embargante não terá efeito suspensivo, e a do embargante sim, porque
se a apelação do embargado não contar com efeito suspensivo, ao ser levada ao tribunal, a
execução terá curso e poderá chegar a ser extinta. Sendo o caso, se o apelante tiver sucesso,
poderá ser inútil seu triunfo, eis que retornará a execução, que foi extinta, à estaca zero. O
embargante, por sua vez, já tem dois aspectos pendendo em seu desfavor – o título
executivo e a decisão da execução –, e a não atribuição de efeito suspensivo não lhe será
tão prejudicial.
O inciso VI tem uma origem pragmática: se a pretensão do autor é que se faça
respeitada uma cláusula compromissória de arbitragem, é porque pretende não a solução do
conflito contratual em si, mas sim que o Judiciário faça se instituir coercitivamente o
processo arbitral, e este procedimento arbitral jamais poderia se iniciar e se desenvolver
sem a eficácia da sentença de procedência. E, como a morosidade processual é fática, a lide
contratual a ser resolvida pela arbitragem ficaria sem solução por tempo indefinido, sequer
podendo ser iniciado o trabalho arbitral.
Mas é no inciso VII que se concentram as grandes discussões e exercícios
interpretativos sobre este artigo. Antigamente, simplesmente não existia a tutela antecipada;
quando esta surgiu, surgiu com ela a seguinte questão: a decisão concedida na antecipação e
tutela é sujeita a agravo de instrumento, que não tem efeito suspensivo, em regra, enquanto
a sentença do processo seria sujeita a um recurso com efeito suspensivo, a apelação. Surgiu
um paradoxo: a decisão provisória, emitida em cognição sumária, se fez mais eficiente que
a decisão definitiva, em cognição exauriente.
Diante desta perplexidade, intentou-se até mesmo a total elisão do efeito suspensivo
da apelação, em projeto de lei que, infelizmente, foi vetado, por motivos políticos. Mas a
solução intermediária foi alcançada, ao menos: é esta elisão de efeito suspensivo de
apelação que confirma a antecipação da tutela, a fim de acabar ao menos com este
paradoxo. Se já há a produção dos efeitos pela antecipação da tutela, é claro que a sua
confirmação permanecerá produzindo efeitos.
Ocorre que, na prática, a situação não se alterou em absolutamente nada. Entenda-
se: antes da reforma, a sentença submetida a apelação com efeito suspensivo não produziria
efeitos; sendo assim, a antecipação da tutela que havia sido concedida permaneceria eficaz,
e portanto o direito antecipado continuaria em voga, amparado na mesma decisão
antecipatória de outrora. Com a reforma, apenas se operou uma alteração formal: o direito,
que era amparado na decisão interlocutória, agora é amparado na sentença não sujeita a
suspensão, mas os mesmos efeitos que já vinha produzindo, continua produzindo.
A doutrina estende o termo “confirmar”, fazendo compreendido ali também o termo
“conceder”, a fim de emprestar efetividade imediata à sentença que estará sujeita a apelação
com efeito suspensivo, se não havia concessão de tutela anterior.
Alexandre Câmara adiciona à interpretação extensiva a expressão “revogar”, ao
seguinte argumento: se a decisão de antecipação foi revogada na sentença, e a sentença
tiver suspensos seus efeitos após a interposição da apelação, significa que aquela decisão
revogada ainda continuará em vigor, fazendo ressurgir o paradoxo: a decisão provisória, em
juízo de probabilidade, estaria prevalecendo sobre uma decisão definitiva, proferida com
juízo de certeza. O STJ encampa este entendimento, pacificamente.
A enumeração do artigo 520 não é exaustiva, porque há outros dispositivos que
retiram o efeito suspensivo da apelação. Como exemplos, o artigo 1.184 do CPC, o artigo
12 da Lei 1.533/51, do processo do mandamus, e o artigo 58, V, da Lei 8.245/91:
“Art. 1.184. A sentença de interdição produz efeito desde logo, embora sujeita a
apelação. Será inscrita no Registro de Pessoas Naturais e publicada pela imprensa
local e pelo órgão oficial por três vezes, com intervalo de 10 (dez) dias, constando
do edital os nomes do interdito e do curador, a causa da interdição e os limites da
curatela.”
“Art. 58. Ressalvados os casos previstos no parágrafo único do art. 1º, nas ações de
despejo, consignação em pagamento de aluguel e acessório da locação, revisionais
de aluguel e renovatórias de locação, observar - se - á o seguinte:
(...)
V - os recursos interpostos contra as sentenças terão efeito somente devolutivo.”
Por fim, sobre o efeito suspensivo, sempre que for caso em que o CPC o retira, a
decisão judicial pode retorná-lo, se entender necessário o juízo da admissibilidade. Veja o
artigo 558, parágrafo único, do CPC:
“Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil,
adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em
outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo
relevante a fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até o
pronunciamento definitivo da turma ou câmara. (Redação dada pela Lei nº 9.139,
de 30.11.1995)
Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artigo as hipóteses do art. 520.
(Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)”
O que este dispositivo faz é entregar nas mãos do tribunal a matéria que foi
impugnada antes da sentença, mas por algum motivo não foi ainda decidida quando da
prolação desta. Qualquer matéria que tenha sido suscitada e não enfrentada pelo juiz, antes
da sentença – e que deveria ter sido decidida de forma interlocutória, quando então caberia
agravo –, poderá ser resolvida desde já pelo tribunal. Bom exemplo seria o de uma
impugnação ao valor da causa que jamais foi julgada pelo juiz.
Mas é nas hipóteses dos parágrafos do artigo 515 do CPC que estão as principais
diferenças no efeito devolutivo da apelação. Reveja:
11
Esta regra se destina apenas à apelação; fosse ela aplicável no recurso especial, por exemplo, e a
necessidade do prequestionamento não existiria naquele recurso.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Depende: se a causa estiver madura para o julgamento, nada impede que adentre no
julgamento das matérias meritórias não enfrentadas ainda. A respeito, veja o REsp. 2.993:
Questão 2
Resposta à Questão 2
4) Não, o juízo ainda poderá atuar, se a sua sentença vier a ser anulada ou
reformada. E, diga-se, mesmo se reformada, poderá ser instado a atuar
exatamente para solucionar aquilo que não resolveu, por acolher a prescrição.
5) Não: é uma construção legal, infraconstitucional. Sendo assim, não pode ser
jamais tido por cláusula pétrea, eis que sequer é constitucional.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Questão 4
No saneador, o juiz indeferiu preliminar de coisa julgada, por decisão da qual não
se recorreu. O pedido foi julgado parcialmente procedente no primeiro grau, e contra a
sentença apelou apenas o autor em razão da sucumbência parcial. Ao julgar o recurso, a
Câmara negou provimento e extinguiu o processo pela evidente ofensa à coisa julgada,
perpetrada pela decisão de primeiro grau. Agiu corretamente o julgador de segundo grau?
Resposta à Questão 4
Com relação à parte que foi impugnada pelo autor, sim,pode haver a extinção; com
relação à parte que o favoreceu, não, porque houve trânsito em julgado, vez que o réu dela
não recorreu.
Além disso, há que se entender que não houve preclusão da matéria referente à
coisa julgada, porque é matéria de ordem pública, não sendo preclusa pela decisão do
saneamento – mesmo que haja quem defenda que sim, minoritariamente, como Barbosa
Moreira.
Tema VIII
Notas de Aula12
1. Procedimento da apelação
12
Aula ministrada pelo professor Alexandre Antônio Franco Freitas Câmara, em 12/5/2009.
Questão 1
O Banco X recebeu duplicata de Themis Ltda para cobrança. Não sendo paga a
tempo, enviou-a ao cartório para protesto. Themis pagou então a duplicata e obteve a
declaração de quitação do banco com a qual tentou dar baixa no protesto, mas não
conseguiu, devido à exigência do oficial registral de apresentação de anuência do banco
credor à quitação. Themis, pessoa jurídica, empresa varejista, que realiza compras a prazo
e isso demanda consultas ao SPC e SERASA intentou, então, ação de indenização por
danos morais e cumulou pedido no sentido de que o Banco promovesse o cancelamento do
protesto do título.Com base no princípio de que não é o mandatário legitimado negocial a
retirar do mundo jurídico os efeitos de protesto cambiariforme, o juízo singular considerou
a instituição financeira ilegitimada ad causam, julgando extinto o processo sem solução do
mérito. Sendo certo que neste caso a matéria que diz respeito à titularidade ou não de
relação jurídica envolve o mérito da causa, PERGUNTA-SE:
1) Poderia o Tribunal no julgamento de uma apelação interposta contra essa
sentença de extinção, julgar o mérito sem que este tenha sido julgado pelo juízo a
quo?
Resposta à Questão 1
3) Não, vez que se o réu não foi citado, o contraditório estará prejudicado.
4) A doutrina majoritária diz que não, mas a jurisprudência diz que sim.
Questão 2
judicial, tendo em vista que o art. 230 do CODJERJ estabelece que o horário forense será
"iniciado às 11:00 hs e encerrado às 17:30 hs" e que a Lei 9.800/99, que permite às partes
a utilização de sistema de transmissão de dados para a prática de atos processuais, em seu
art. 2º, ressalva que tal sistema "não prejudica o cumprimento dos prazos".Os autos
retornaram à conclusão. Reexamine a admissibilidade do recurso.
Resposta à Questão 2
Tema IX
Agravo. A sistemática trazida pela Lei 11.187/2005. Agravo retido como regra. O fim da opcionalidade. A
obrigatoriedade da conversão. Hipóteses de cabimento do agravo de instrumento. Obrigatoriedade da
interposição de forma oral do agravo retido na AIJ. O termo "imediatamente" do parágrafo 3º do art. 522.
Prazo e forma dos agravos. Juízo de admissibilidade e juízo de mérito.
Notas de Aula13
1. Agravo
“Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, na
forma retida, salvo quando se tratar de decisão suscetível de causar à parte lesão
grave e de difícil reparação, bem como nos casos de inadmissão da apelação e nos
13
Aula ministrada pelo professor Pedro Eduardo Pinheiro Antunes de Siqueira, em 13/5/2009.
relativos aos efeitos em que a apelação é recebida, quando será admitida a sua
interposição por instrumento. (Redação dada pela Lei nº 11.187, de 2005)
Parágrafo único. O agravo retido independe de preparo. (Redação dada pela Lei nº
9.139, de 30.11.1995)”
Veja que a regra, hoje, para impugnação das decisões interlocutórias de primeira
instância, é o agravo na forma retida. Antes da reforma, a regra era o agravo de
instrumento, o qual hoje é a exceção. Com esta alteração de paradigma, inexiste hoje a
opcionalidade entre uma e outras forma de agravo: será sempre um ou outro tipo de agravo
a depender da casuística, e não da vontade do agravante.
O dispositivo supra traz três hipóteses expressas de cabimento do agravo de
instrumento: quando a decisão impugnada puder causar dano grave e possivelmente
irreversível; quando for decisão de inadmissão da apelação; e quando a decisão for
declaratória dos efeitos em que a apelação é recebida. Mas há uma outra hipótese de
cabimento de agravo de instrumento que não está expressa neste dispositivo, mas pode dele
ser colhida implicitamente: sempre que uma decisão fosse passível de apelação, mas esta
não se demonstrar cabível, poderá ser interposto o agravo de instrumento.
Repita-se que não há escolha na interposição do agravo: se for caso em que se
imponha a forma instrumental, esta é obrigatória, assim como a forma retida, quando
cabível. Mantendo a coerência da reforma, o artigo 527, II, do CPC assim dispõe:
serão remetidos ao juízo recorrido, apensando-os aos autos principais, porque sua análise
no tribunal só será feita em momento ulterior. A conversão não pode ser feita pelo
colegiado: se o relator encaminha o agravo de instrumento a julgamento, deve ser julgado.
O parágrafo único do artigo supra dispõe que, após a conversão do agravo em
retido, não cabe recurso. Só cabe a reconsideração, se assim bem entender o relator. A
doutrina sugere que, se esta decisão de conversão prejudicar o agravante, além do pedido de
reconsideração, ele possa interpor embargos de declaração, com efeitos infringentes – mas
o STF tem reiterado entendimento que das decisões monocráticas do relator não são
cabíveis embargos, mas sim o agravo interno, e se o dispositivo o veda expressamente, não
há o que fazer. Mas há ainda outra sugestão doutrinária para o caso: a impetração de
mandado de segurança contra o ato do relator. Esta é a posição atual do STJ, que entende
cabível este mandamus, no que é acompanhado pelo TJ/RJ e pela maioria da
jurisprudência.
O TRF da Segunda Região veda agravo interno desta decisão de conversão do
agravo. Mas como a impetração de mandado de segurança ganhou freqüência, passaram a
admitir o agravo interno, mesmo contrariando a lei e seu próprio regimento.
O agravo deve ser interposto em dez dias, contado em dobro para a Fazenda, como
se sabe.
O recurso se faz por petição escrita, diretamente no tribunal ad quem, como dispõe
o artigo 525 do CPC:
“Art. 525. A petição de agravo de instrumento será instruída: (Redação dada pela
Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
I - obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do
agravado; (Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
II - facultativamente, com outras peças que o agravante entender úteis. (Redação
dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
§ 1º Acompanhará a petição o comprovante do pagamento das respectivas custas e
do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela que será publicada pelos
tribunais. (Incluído pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
§ 2º No prazo do recurso, a petição será protocolada no tribunal, ou postada no
correio sob registro com aviso de recebimento, ou, ainda, interposta por outra
forma prevista na lei local. (Incluído pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)”
A apelação só pode ser utilizada quando a decisão alvejada tiver potencial para
extinguir a relação processual. Veja uma situação: se há um litisconsórcio indeferido pelo
juiz, extinguindo o processo sem resolver o mérito em relação a somente um dos
litisconsortes. Este que foi excluído do pólo plural poderá manejar apenas o agravo de
instrumento, e não a apelação, porque a relação processual sendo uma só, não terminou o
processo, e por isso a apelação não pode ser cabível – restando a solução do agravo de
instrumento.
O agravo de instrumento não pode ser verbal. O dispositivo, artigo 524 do CPC, é
claro: a petição – documento escrito – é remetida ao tribunal. Veja:
“Art. 526. O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do
processo de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua
interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso.
(Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)
Parágrafo único. O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e
provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo. (Incluído pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)”
O agravo retido está também regido pelo artigo 522 do CPC, já transcrito. Também
conta com prazo de dez dias, em dobro para a Fazenda Pública. O agravo retido independe
de preparo, por expressa consignação no parágrafo único do artigo 522.
O agravo retido será processado na forma do artigo 523 do CPC:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Mévio ingressou, em juízo, com ação indenizatória contra Tício. Este último
denunciou a lide a Caio, afirmando que tinha direito de regresso contra ele em caso de
derrota.
O juiz indeferiu a denunciação ao argumento de que o réu estava inserindo um fato
estranho à lide.
Inconformado, o denunciante resolve recorrer.
Qual o recurso cabível?
Resposta à Questão 2
Cabe o agravo de instrumento, porque mesmo que a decisão extinga uma das ações
em curso no processo, o processo em que esta corria não se extingue, e por isso não cabe
apelação.
Wilson Marques e Sérgio Bermudes defendem que caberia uma espécie de
apelação instrumental, mas se trata de um recurso criado pela doutrina, o que ofenderia a
taxatividade dos recursos.
Questão 3
Resposta à Questão 3
A) Não: trata-se de um sucedâneo recursal, que não tem natureza recursal própria,
tratando-se de um mero pedido atravessado aos autos principais.
Tema X
Agravo. Competência do relator para julgamento monocrático. Suspensão do cumprimento da decisão até o
pronunciamento definitivo da Turma ou Câmara. Hipóteses obrigatórias da utilização do Agravo de
Instrumento. Agravo de Instrumento na legislação especial (Lei n° 1.533/51 e Lei n° 11.101/05).
Notas de Aula14
1. Procedimento do agravo
O recurso prejudicado também pode ser assim declarado pelo relator, como quando
a sentença é proferida antes de seu julgamento.
Quando a decisão se encontrar em manifesto confronto com súmulas de tribunais
superiores, o relator pode monocraticamente indeferir o recurso – matéria meritória,
portanto. E veja que qualquer súmula de tribunal superior, de qualquer tribunal, pode
fundamentar esta decisão.
A “jurisprudência dominante” que autoriza o julgamento monocrático é de mais
difícil definição. Isto porque não é viável se entender que seja verificada a estatística
numérica dominante de decisões sobre o tema, e por isso a jurisprudência será considerada
dominante se: houver reiteradas decisões no mesmo sentido, ou; houver ao menos uma
decisão de órgão fracionário sobre o tema que é de sua incumbência – como a Terceira
Seção do STJ, que pacifica questões de direito público.
Julgar monocraticamente, com escora nos permissivos legais, é uma faculdade do
relator. A redação do dispositivo pode até dar a entender que seja uma obrigatoriedade, mas
a doutrina entende que é uma opção do relator, e não uma obrigação, a não ser no caso em
que o recurso confronte teor de súmula vinculante. Neste caso, o relator deverá inadmitir
monocraticamente o agravo.
O relator pode também julgar procedente monocraticamente o recurso, na forma do
§ 1º-A do artigo em comento. Há diferença: aqui, precisa haver confronto com súmula de
tribunal superior, e não do próprio tribunal em que se encontra o relator. Na improcedência
ou negativa de seguimento, a jurisprudência do próprio tribunal que o relator integra é
suficiente a fundamentar a sua decisão monocrática.
Da decisão monocrática do relator, qualquer uma, cabe agravo interno, na forma do
§ 1º deste artigo 557 do CPC, em prazo de cinco dias. Este recurso não comporta
contrarrazões, porque só se presta a levar a controvérsia que já existia no recurso decidido
monocraticamente ao colegiado – já existe o contraditório, portanto. O agravo interno será
levado ao colegiado, não podendo ser inadmitido pelo relator.
O relator pode inda atribuir efeito suspensivo da decisão impugnada pelo agravo, ou
mesmo o efeito ativo, até que haja julgamento final pelo colegiado. O agravo, em regra, só
tem efeito devolutivo, e o efeito suspensivo ou o ativo pode ser concedido
excepcionalmente pelo relator. Reveja o artigo 558 do CPC:
“Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil,
adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em
outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo
relevante a fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até o
O efeito suspensivo serve para retirar a eficácia da decisão que está sendo
impugnada, até o julgamento final do recurso, pelo próprio relator ou pelo colegiado. O
deferimento de efeito suspensivo é dado à discricionariedade do relator, segundo a
jurisprudência, mesmo que a doutrina entenda que haja adstrição aos requisitos legais do
fumus boni juris e periculum in mora.
O efeito ativo consiste na antecipação da tutela recursal, quando o agravo alveja
decisão negativa, que precisa de provimento para ter efeito – pois do contrário não terá
efeito algum, mesmo se o relator entender que há a cautelaridade. O efeito ativo aciona a
eficácia de decisão monocrática contrária à recorrida. Reveja o artigo 527, III, do CPC:
“Art. 527. O agravante preparará o recurso no prazo de dez (10) dias, contados da
publicação da conta, subindo os autos conclusos ao juiz para reformar ou manter a
decisão agravada.
(...)
§ 6º Não se conformando o agravado com a nova decisão poderá requerer, dentro
de cinco (5) dias, a remessa do instrumento ao tribunal, consignando em cartório a
importância de preparo feito pela parte contrária, para ser levantado por esta, se o
tribunal negar provimento ao recurso. (Incluído pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)”
Candido Dinamarco e Nelson Nery, de outro lado, entendem que ainda persiste o
agravo interno, por medida de economia e celeridade processual, e por reputarem o silêncio
da lei em relação à hipótese revogada uma omissão, e não eloqüência.
Na Lei 4.717, Lei da Ação Popular, o artigo 19, § 1º, é expresso em consignar que
cabe agravo de instrumento das decisões interlocutórias neste rito especial:
“Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está
sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal; da que julgar a ação procedente caberá apelação, com
efeito suspensivo. (Redação dada pela Lei nº 6.014, de 1973)
§ 1º Das decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento. (Redação dada pela
Lei nº 6.014, de 1973)
§ 2º Das sentenças e decisões proferidas contra o autor da ação e suscetíveis de
recurso, poderá recorrer qualquer cidadão e também o Ministério Público.
(Redação dada pela Lei nº 6.014, de 1973)”
Deve prevalecer a leitura, ali, de que na verdade cabe agravo, gênero, e não apenas
agravo de instrumento, adequando esta norma ao ordenamento atual. Em verdade, segue a
regra geral: cabe o agravo retido, e excepcionalmente o agravo de instrumento.
No procedimento especial da Lei 11.101/05, Lei de Recuperação de Empresas,
aplica-se complementarmente o CPC, naquilo que o codex adjetivo não o contrariar, como
determina o artigo 272, parágrafo único. do próprio CPC:
“Art. 272. O procedimento comum é ordinário ou sumário. (Redação dada pela Lei
nº 8.952, de 13.12.1994)
Parágrafo único. O procedimento especial e o procedimento sumário regem-se
pelas disposições que lhes são próprias, aplicando-se-lhes, subsidiariamente, as
disposições gerais do procedimento ordinário. (Incluído pela Lei nº 8.952, de
13.12.1994)”
Sendo assim, o agravo é cabível, exatamente como na regra geral, das decisões
interlocutórias proferidas nos ritos falimentares.
O agravo de instrumento caberia no mandado de segurança? A Lei 1.533/51 assim
dispõe:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Sim, pode conceder tanto o efeito suspensivo quanto o efeito ativo, na forma do
artigo 527, III, do CPC. Nada mais é, o efeito ativo, do que a providência de emprestar,
diante de uma decisão negativa, eficácia concessiva da pretensão inicial.
Questão 2
de 2002 e que a lei 10.352/2001 entrou em vigor em março de 2002. Pergunta-se: Foi
correta a decisão do TRF? Qual lei incidirá? Qual o dispositivo do Código de Processo
Civil que fundamenta a resposta ?
Resposta à Questão 2
Questão 3
Marcus propôs, em face de Márcia, com quem viveu more uxorio por mais de dez
anos, Ação de Reintegração na Posse de Imóvel que, outrora, constituía a moradia da
família. O pedido liminar de reintegração foi indeferido pelo juiz da causa. Inconformado,
o autor agravou em busca da liminar, postulando pela atribuição de efeito suspensivo ativo
ao recurso - concedido pelo Desembargador relator, que determinou a expedição de
mandado de reintegração de posse a favor do agravante, com quem o imóvel deveria
permanecer até o julgamento final da ação possessória. A agravada, inconformada com a
decisão concessiva do efeito suspensivo do agravo de instrumento, impetrou Mandado de
Segurança, alegando que: a) o imóvel foi adquirido durante o período de convivência do
casal, sendo portanto de propriedade de ambos, motivo pelo qual a sua posse não
configura esbulho; b) a sua posse é posse velha; c) o Desembargador relator não tinha
poderes para conceder efeito suspensivo à decisão agravada. Como você decidiria o
Mandado de Segurança?
Resposta à Questão 3
Tema XI
Notas de Aula15
1. Embargos infringentes
Este recurso foi herdado do direito português, e, de fato, não existe em qualquer
outro ordenamento senão no nosso, porque até de onde se originou, do direito luso, foi
extirpado.
Há um recurso homônimo em causas de alçada, que não se confunde,
absolutamente, com os embargos infringentes que aqui se estudam. Numa execução fiscal
de valor de causa inferior a cinquenta ORTNs, o recurso cabível é embargos infringentes,
para o próprio juiz, e não apelação. Veja o artigo 34 da Lei 8.630:
15
Aula ministrada pelo professor Wilson Marques, em 14/5/2009.
“Art. 530. Cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver
reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, ou houver julgado
procedente ação rescisória. Se o desacordo for parcial, os embargos serão restritos
à matéria objeto da divergência. (Redação dada pela Lei nº 10.352, de
26.12.2001)”
A mera existência de um voto vencido, nos termos deste artigo supra, enseja a
propositura deste recurso. Mas veja que, diferentemente do que antes acontecia, o voto deve
ter sido pela manutenção do julgado reformado por maioria. Na verdade, o cabimento do
recurso, hoje, é bem restrito, como se vê neste dispositivo supra. Vejamos como se opera
este recurso, em sua primeira guia, em julgamento de apelação, para depois ver seu
processamento na rescisória.
de tal demanda por garantia), e se a sentença enfrentar este mérito próprio, será possível o
cabimento de embargos infringentes, em seu momento devido.
Se a sentença de mérito for anulada por maioria, e não reformada, caberá o recurso
de embargos infringentes? A expressa menção do artigo supra é à reforma, tida por
alteração do conteúdo da sentença. Anular não é reformar, pois não há alteração de
conteúdo pelo acórdão anulatório, e por isso o recurso não é cabível. Mesmo assim, há
quem defenda que a anulação da sentença pode ensejar os embargos infringentes, por
entender que a anulação pode ser espécie do gênero reforma – tese um tanto obscura,
porém, pois altera o próprio conceito de invalidação.
A teoria da causa madura, consagrada no já abordado artigo 515, § 3º, do CPC, terá
repercussões neste recurso de embargos infringentes. Se o tribunal aplica esta teoria, e julga
o mérito que não fora enfrentado na sentença, por maioria, caberá tal recurso? A sentença
não foi reformada, porque jamais enfrentou o mérito. Há duas premissas faltantes ao
cabimento do recurso de embargos infringentes portanto: a sentença de mérito e a reforma –
descabendo o recurso.
Suponha-se que no julgamento da apelação houver agravo retido a ser enfrentado a
priori, e este agravo retido versa sobre mérito. Se houver acolhimento deste agravo retido,
reformando a sentença de mérito por maioria, caberão embargos infringentes? A súmula
255 do STJ trata do tema:
“Súmula 255, STJ: Cabem embargos infringentes contra acórdão, proferido por
maioria, em agravo retido, quando se tratar de matéria de mérito.”
A despeito da pacífica admissão do recurso pelo STJ, Wilson Marques entende que
não é cabível o recurso, pelo seguinte motivo: o cabimento é adstrito à apelação, e o agravo
retido é um outro recurso. Mesmo que haja a dependência do agravo retido em relação à
apelação, ele é um recurso autônomo, e não é previsto o cabimento dos embargos
infringentes em seu processamento. É posição isolada.
No julgamento do reexame necessário, porém, a questão é pacífica: mesmo se
reformar por maioria a sentença de mérito, será cabível o recurso de embargos infringentes.
Isto porque o reexame necessário assume, em essência, o caráter de uma apelação de ofício,
e por isso preencher-se-iam os pressupostos de cabimento dos embargos.
Suponha-se que há interposição de embargos de declaração do acórdão reformador
da sentença, na apelação, calcados em omissão, e estes embargos são providos, de forma a
integrar o julgado omisso. A decisão por maioria tomada em sede de embargos de
declaração permite os embargos infringentes, porque os embargos de declaração se tornam
parte do julgado integrado, ou seja, é desenhada a dinâmica normal da apelação. Sendo
julgados procedentes os embargos de declaração, simplesmente se completa o julgado
embargado, o qual será posto em sede de apelação. De fato, os embargos de declaração se
fazem irrelevantes para o fim de cabimento ou não dos embargos infringentes.
No julgamento da apelação que reformou a sentença meritória por maioria, mas se
está em sede de mandado de segurança, haveria óbice ao cabimento dos embargos
infringentes? A princípio, não há, mas há duas súmulas que dizem incabível o recurso, a
597 do STF e a 169 do STJ:
O argumento por trás destas súmulas é pobre: não cabe o recurso porque não há
previsão na lei especial do mandamus. Ocorre que o CPC é aplicável a omissões da lei
especial, complementarmente, e por isso estas súmulas não fariam sentido. Todavia, é
corrente majoritária que deve ser observada.
Nesta ação, como se sabe, há três fases bem distintas: o juízo de admissibilidade, o
juízo rescindente e o juízo rescisório. Os embargos infringentes só serão cabíveis, na
rescisória, quando o juízo rescindente ou o rescisório sejam procedentes por maioria, mas
não no juízo de admissibilidade – porque aqui não há julgamento de procedência. E veja
que pode haver embargos infringentes no judicium rescindens e no judicium rescissorium,
cada qual por seu fundamento – podendo haver dois embargos infringentes, portanto.
Pela lógica, apenas o réu pode interpor embargos infringentes, tal como na apelação
apenas o apelado pode interpor tal recurso. Imagine-se porém que no juízo rescindente há
procedência, mas no juízo rescisório não há. Poderá o réu interpor os embargos infringentes
da decisão do judicium rescindens? Em tese, estão presentes todos os requisitos de
cabimento do recurso, mas lhe falta interesse, na medida que no juízo rescisório já
prevalece a decisão que lhe favorece.
Casos Concretos
Questão 1
Tício ingressou, em juízo, com ação de separação judicial em face de sua esposa,
alegando infidelidade como causa petendi. Afirmava o autor que sua mulher fora vista por
amigos da família jantando à luz de velas com outro varão.
No primeiro grau de jurisdição, obteve sentença favorável. Entendeu o magistrado
sentenciante que o fato narrado na inicial estava devidamente comprovado.
A ré recorreu da decisão, que foi mantida por maioria. Um dos desembargadores
entendeu que não havia prova suficiente do fato que ensejaria a violação de dever de
fidelidade. Os embargos infringentes foram interpostos pela ré.
O órgão julgador deu provimento aos embargos, indeferindo o pleito de separação
por culpa da mulher, por entender que o fato narrado na inicial, apesar de comprovado,
não pode dar azo à violação do dever matrimonial de fidelidade, por não ser
suficientemente grave.
O julgamento dos embargos deu-se dentro dos padrões técnicos corretos?
Resposta à Questão 1
O artigo 530 do CPC exige que a decisão reforme a sentença de mérito, por maioria,
para que seja embargável. No caso, houve dupla sucumbência da embargante, em primeira
e segunda instância, impedindo que o recurso seja admissível. Por conta disso, é claro que o
julgamento dos embargos foi equivocado.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Pela mera observância do artigo 530 do CPC, vê-se que os embargos infringentes
eram inadmissíveis, porque a sentença que foi recorrida era terminativa, e não de mérito.
Com isso, se resolve a segunda parte da questão, pois não há cabimento do recurso, a
qualquer título, sob qualquer pretexto.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Ao aplicar a causa madura, o tribunal fez com que não haja duplo enfrentamento da
matéria, pois ela é inauguralmente tratada no segundo grau de jurisdição. Não há, portanto,
reforma da decisão de mérito a ensejar o recurso de embargos infringentes, carecendo de
requisitos de admissibilidade, portanto. O recurso é incabível.
Tema XII
Notas de Aula16
16
Aula ministrada pelo professor Wilson Marques, em 14/5/2009.
julgador. Era caso estranhíssimo em que um desembargador se deslocava a outro órgão para
participar do julgamento, sem sequer poder proferir voto.
Questão que oferece discussão é a aplicabilidade ou não do artigo 557 do CPC aos
embargos infringentes. Em relação à inadmissibilidade monocrática do recurso, é
claramente possível que o relator assim decida. No mérito, porém, poderia o relator julgar
manifestamente procedente ou improcedente o recurso de embargos infringentes?
A orientação majoritária é que não é possível esta decisão meritória monocrática,
pois estaria o relator, isoladamente, reformando decisão do colegiado, o que é incompatível
com a estruturação recursal.
A lei é silente sobre os efeitos dos embargos infringentes, e por isso segue-se a regra
geral do duplo efeito, suspensivo e devolutivo. Conseqüentemente, não há possibilidade de
se executar provisoriamente um acórdão submetido a este recurso, por exemplo.
A dimensão do efeito devolutivo deste recurso é peculiar. A extensão é limitada
apenas à matéria que despertou divergência entre os votos, ou seja, tudo que for unânime
escapará da análise do tribunal, no julgamento do recurso, porque de parte não unânime o
recurso simplesmente não é cabível. O melhor resultado deste recurso, para o embargante, é
que o voto vencido seja acolhido naquilo que divergiu.
“Art. 532. Se não for caso de embargos, o relator os indeferirá de plano. Deste
despacho caberá recurso para o órgão competente para o julgamento dos embargos.
§ 1º O recurso poderá ser interposto dentro em quarenta e oito (48) horas, contados
da publicação do despacho no órgão oficial.
§ 2º O relator porá o recurso em mesa para julgamento, na primeira sessão
seguinte, não participando da votação.”
“Art. 532. Da decisão que não admitir os embargos caberá agravo, em 5 (cinco)
dias, para o órgão competente para o julgamento do recurso. (Redação dada pela
Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
“Art. 534. Caso a norma regimental determine a escolha de novo relator, esta
recairá, se possível, em juiz que não haja participado do julgamento anterior.
(Redação dada pela Lei nº 10.352, de 26.12.2001)”
legislar sobre processo civil é da União. Por exemplo, não pode o regimento suprimir a
atuação do revisor.
Barbosa Moreira se opõe a esta conclusão do STJ. Este autor entende que não
importa se o recurso é inadmissível, ao argumento de que a incidência deste sobrestamento
do prazo não pressupõe que haja sido julgado o recurso de embargos infringentes, pois a lei
fala apenas em interposição do recurso, pelo que se torna irrelevante a sua admissibilidade.
Esta lógica não pode prosperar, porém, pois conduziria à absurda possibilidade de que, por
repetidas interposições errôneas de embargos infringentes, sobrestando o prazo, o processo
jamais se adiantasse, jamais tendo fim (ou mesmo início) o prazo para os recursos
excepcionais.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XIII
Notas de Aula17
1. Embargos de declaração
“Art. 496. São cabíveis os seguintes recursos: (Redação dada pela Lei nº 8.038, de
25.5.1990)
I - apelação;
17
Aula ministrada pelo professor Ademar Vidal Neto, em 15/5/2009.
“Art. 535. Cabem embargos de declaração quando: (Redação dada pela Lei nº
8.950, de 13.12.1994)
I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; (Redação dada
pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. (Redação
dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
“Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: (Redação dada pela Lei
nº 11.232, de 2005)
I - para lhe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou
lhe retificar erros de cálculo;
II - por meio de embargos de declaração.”
1.2. Procedimento
“Art. 537. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias; nos tribunais, o relator
apresentará os embargos em mesa na sessão subseqüente, proferindo voto.
(Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
A interrupção (ou suspensão) ocorre para ambas as partes, qualquer que tenha sido a
opoente. Isto porque a decisão dos embargos vai fazer parte da decisão embargada, e
somente com esta completitude o recurso específico será precisamente interposto, por
qualquer das partes. Suponha-se o seguinte: uma parte recorre, digamos, com apelação, e a
outra opõe embargos de declaração. A apelação só será julgada após os julgamento dos
embargos. Se o acolhimento dos embargos de declaração de uma das partes provocar
alteração na decisão, a parte que já apelara poderá complementar o seu recurso, segundo a
doutrina. Contudo, o STJ cria uma condicionante ausente da lei: se há esta situação, o
recurso que aguardava o julgamento dos embargos só será conhecido se a parte que o
interpôs reiterar seu interesse em recorrer, mesmo que não haja qualquer alteração
decorrente dos embargos. A respeito, veja o EREsp. 796.854, revendo decisão contrária,
anterior, no mesmo processo. Veja as ementas, pela ordem, sendo a mais abaixo a
definitiva:
Sendo esta a panorâmica, não pode ser condicionado o efeito suspensivo dos
embargos ao recurso que lhe sobrevém; é sim a recorribilidade da decisão, em si, que faz
suspensa a eficácia da decisão ou não.
Quanto ao efeito interruptivo, é ainda necessário consignar uma observação: se o
recurso não for conhecido, este efeito não se produzirá. Significa que há um risco na
oposição deste recurso, porque se assim o for, o prazo para outro recurso terá se escoado,
decerto, até o fim do julgamento dos embargos. Por conta disso, a inadmissão dos embargos
deve ser feita com muita cautela pelo julgador, e quando o embargante previr que possa ser
inadmitido, deve acautelar-se, interpondo desde logo, também, o recurso específico cabível.
Nada impede que haja embargos de declaração de decisão que julgou embargos de
declaração anteriormente opostos. O que não é possível é que haja embargos de declaração
da mesa decisão já embargada, porque o artigo 538, supra, deixa claro que o prazo é
interrompido para a interposição de outros recursos, e não de outros embargos de
declaração. Por lógica, outros embargos seriam intempestivos.
O parágrafo único do artigo 538 do CPC estabelece que será multada a parte que
opuser embargos claramente protelatórios do feito, e assevera a penalidade quando este
comportamento se reiterar. As multas processuais têm sido apontadas como meio de
promover a efetividade do processo, especialmente quando previnem a procrastinação, mas
a sua imposição deve ser tremendamente cautelosa, porque pode configurar cerceio de
justiça, quando inadvertidamente aplicadas.
Se o recorrente for beneficiário da gratuidade de justiça, não haverá o recolhimento
da multa como requisito da admissibilidade do recurso subseqüente, porque a limitação
econômica da parte não pode tolher-lhe o acesso à justiça.
Casos Concretos
Questão 1
Insatisfeito com a decisão judicial que lhe foi desfavorável, Pedro interpõe recurso
de embargos de declaração, argumentando estar a sentença lacunosa, pois considera que
o juízo deixou de enfrentar questões relevantes para o deslinde da controvérsia, citando,
por exemplo, o não-enfrentamento da prescrição, verdadeira objeção que se mostra
relevante. Diante da possibilidade de se emprestar uma modificação da decisão, o
magistrado rejeita a pretensão.
Pergunta-se:
Foi correta a rejeição pelo argumento apresentado?
Os embargos de declaração têm natureza de recurso?
O erro material, no caso, pode ser apreciado independente do manejo dos
embargos de declaração?
O que representa o fenômeno da dialética?
Na hipótese, seria correto determinar a manifestação da parte contrária? Por quê?
Quem fica vinculado à decisão, o juiz ou o juízo?
Os embargos de declaração, objetivando provocar o prequestionamento de
determinados dispositivos, pode ensejar a multa tipificada no art. 538 do CPC?
Os efeitos infringentes são admissíveis na hipótese?
O recurso, quando não conhecido, interrompe a fluência do prazo recursal?
Resposta à Questão 1
Não, o argumento não procede, pois a conseqüência dos embargos pode ser a
infringência.
Sim, têm natureza recursal, tanto pela sua previsão como tal, incidindo a
taxatividade, quanto pelo seu escopo esclarecedor ou integratório.
Sim, pois o erro material não convalesce, bastando mera petição propugnando sua
revisão.
Trata-se do contraditório: é a possibilidade de diálogo entre as partes.
Sim, não seria incorreto abrir para contrarrazões, porque fortaleceria o contraditório,
mas não é imperativo que o faça.
Vincula-se o juízo, mas, na prática, tem-se admitido a vinculação do juiz, eis que é o
prolator da decisão, mais apto a esclarecê-la ou integrá-la. Na sentença, especialmente, se é
o juiz que preside a instrução quem prolata a decisão, e os embargos passarão a fazer parte
desta, nada mais natural que ele os julgue.
Não, matéria que é sumulada no STJ, inclusive, pelo verbete 98:
Questão 2
João, irresignado com o acórdão proferido pela 14ª Câmara Cível, interpôs
embargos de declaração alegando existirem omissões.
Examinado o recurso, verificou-se que o acórdão embargado não padecia de
qualquer contradição, obscuridade ou omissão.
Insatisfeito João interpôs embargos de declaração dos embargos de declaração.
Pergunta-se :
a) É cabível embargos de declaração de embargos de declaração?
b) Verificado o objetivo protelatório dos embargos de declaração e sendo aplicada
a multa prevista no parágrafo único do art. 538 do CPC, o seu pagamento constitui
requisito de admissibilidade para outros recursos no mesmo processo? E o
pagamento da multa por litigância de má-fé em razão de interposição de recurso
protelatório (art. 17, VII, do CPC)?
Resposta à Questão 2
b) Sim, desde que se trate da multa de dez por cento, e não da de um por cento. A
multa do artigo 17 do CPC é menos específica do que a cabível pelo artigo 538,
não devendo ser aplicada aos embargos de declaração. Se for, porém,não é
exigido ali o depósito prévio, como o é no artigo 538, não se estendendo esta
necessidade de depósito de um artigo a outro.
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XIV
Agravo Regimental (Código de Organização e Divisão Judiciárias, art. 226). Conceito. Pressupostos.
Procedimento. Recurso Ordinário para o Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça.
Cabimento. Outros requisitos de admissibilidade. Procedimento no juízo de origem e nos Tribunais
Superiores. A ordem dos processos no Tribunal (Código de Processo Civil, artigos 547 a 565). A diferença
entre o Agravo Regimental e o Agravo Interno. A supressão do Agravo Interno contra as decisões do relator
(artigo 527, incisos II e III).
Notas de Aula18
1. Agravo interno
18
Aula ministrada pelo professor Ademar Vidal Neto, em 15/5/2009.
“Art. 545. Da decisão do relator que não admitir o agravo de instrumento, negar-
lhe provimento ou reformar o acórdão recorrido, caberá agravo no prazo de cinco
dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, observado o disposto nos
§§ 1º e 2º do art. 557. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 1998)”
Mas é mesmo no artigo 557 do CPC que se concentra a maioria das hipóteses deste
recurso. Vale rever o dispositivo:
interno, diferença que existe, a despeito efemeridade de seus limites. Na verdade, é mais
correto que se trate do agravo regimental em tópico próprio, ali enfrentando a diferença.
2. Agravo regimental
Veja que seu cabimento é muito similar ao do agravo interno, mas com uma
diferença fundamental: é residual, ou seja, é preciso que nenhum outro recurso seja cabível
para que ele o seja.
Decisão que despertava este agravo regimental era a que o relator prolatava com o
fito de conceder ou denegar efeito suspensivo a recurso de qualquer sorte, pois desta não
cabia recurso algum previsto na lei. Entretanto, com as recentes reformas do processo civil,
o artigo 527, III e parágrafo único, do CPC, esta decisão acabou por ser tomada como
irrecorrível. Veja:
Por isso, ao menos desta decisão, o agravo regimental não é mais cabível.
Há uma discussão travada sobre a natureza jurídica do agravo regimental, dada a
sede em que é previsto – ato administrativo. Isto porque a competência para legislar sobre
processo civil é da União, por meio de lei. Por isso, há quem defenda que o agravo
regimental é um sucedâneo recursal, e não um recurso. De fato, este é o entendimento
majoritário.
O agravo regimental pode ser admitido como agravo interno, pela fungibilidade, ou
até mesmo pela instrumentalidade das formas, eis que ambos têm exatamente o mesmo
procedimento.
3. Recurso ordinário
“Art. 539. Serão julgados em recurso ordinário: (Redação dada pela Lei nº 8.950,
de 13.12.1994)
I - pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os
mandados de injunção decididos em única instância pelos Tribunais superiores,
quando denegatória a decisão; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
II - pelo Superior Tribunal de Justiça: (Redação dada pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)
a) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal e
Territórios, quando denegatória a decisão; (Incluído pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)
b) as causas em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País.
(Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
Parágrafo único. Nas causas referidas no inciso II, alínea b, caberá agravo das
decisões interlocutórias. (Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
“Art. 540. Aos recursos mencionados no artigo anterior aplica-se, quanto aos
requisitos de admissibilidade e ao procedimento no juízo de origem, o disposto nos
Capítulos II e III deste Título, observando-se, no Supremo Tribunal Federal e no
Superior Tribunal de Justiça, o disposto nos seus regimentos internos. (Redação
dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
O parágrafo único do artigo 539 do CPC dispõe que cabe agravo das decisões
interlocutórias, que será dirigido ao STJ, no caso específico do inciso II, “b”.
O recurso ordinário é muito similar a uma apelação. De fato, há sempre o duplo
efeito, devolutivo e suspensivo, e o efeito devolutivo deste recurso é tão amplo quanto o da
apelação, não havendo a fundamentação vinculada que há nos recursos excepcionais.
O processamento é análogo ao da apelação, como aponta o artigo 540 do CPC,
supra, até alcançar, o processamento, o tribunal ad quem. Desde então, seguirá o
procedimento previsto nos respectivos regimentos internos.
No julgamento do recurso ordinário, no STF ou no STJ, toda a matéria pode ser
analisada, e mesmo a matéria constitucional deduzida pode ser resolvida pelo STJ, pois da
decisão desta Corte caberá recurso extraordinário para o STF. Da mesma forma, a decisão
do recurso ordinário no STJ pode azoar recurso especial, dirigido a outro órgão do STJ. Já
da decisão do STF ao julgar o recurso ordinário não caberá recurso especial para o STJ, de
matéria infraconstitucional, pois se alcançado o STF, ali finda o procedimento jurisdicional.
A matéria é exaustivamente tratada em lei, nos artigos 547 a 565 do CPC, sendo
inevitável a transcrição dos dispositivos, eis que sua leitura é a fonte do estudo deste tema.
“Art. 550. Os recursos interpostos nas causas de procedimento sumário deverão ser
julgados no tribunal, dentro de 40 (quarenta) dias.”
“Art. 558. O relator poderá, a requerimento do agravante, nos casos de prisão civil,
adjudicação, remição de bens, levantamento de dinheiro sem caução idônea e em
outros casos dos quais possa resultar lesão grave e de difícil reparação, sendo
relevante a fundamentação, suspender o cumprimento da decisão até o
pronunciamento definitivo da turma ou câmara. (Redação dada pela Lei nº 9.139,
de 30.11.1995)
Parágrafo único. Aplicar-se-á o disposto neste artigo as hipóteses do art. 520.
(Redação dada pela Lei nº 9.139, de 30.11.1995)”
“Art. 559. A apelação não será incluída em pauta antes do agravo de instrumento
interposto no mesmo processo.
Parágrafo único. Se ambos os recursos houverem de ser julgados na mesma sessão,
terá precedência o agravo.”
“Art. 562. Preferirá aos demais o recurso cujo julgamento tenha sido iniciado.”
“Art. 563. Todo acórdão conterá ementa. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de
13.12.1994)”
“Art. 564. Lavrado o acórdão, serão as suas conclusões publicadas no órgão oficial
dentro de 10 (dez) dias.”
“Art. 565. Desejando proferir sustentação oral, poderão os advogados requerer que
na sessão imediata seja o feito julgado em primeiro lugar, sem prejuízo das
preferências legais.
Parágrafo único. Se tiverem subscrito o requerimento os advogados de todos os
interessados, a preferência será concedida para a própria sessão.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Sim, porque este recurso se desenha nos moldes de uma verdadeira apelação, sendo
ali dedutível toda e qualquer matéria, dada a amplitude do efeito devolutivo.
Questão 2
O Banco RAFAS interpôs agravo interno (art. 557, § 1º, do CPC ) contra decisão
singular do relator, pela qual foi negado provimento ao seu recurso de agravo de
instrumento (art. 557, CPC) que por sua vez foi interposto contra decisão de 1º grau que
deferiu antecipação de tutela. O agravante alega ofensa ao devido processo legal e à
ampla defesa (art. 5º, LV, CRFB/88), pois negado o reexame de sua pretensão recursal, na
medida que o relator não submeteu seu recurso a julgamento pelo colegiado. Não vigora,
ainda, em nosso ordenamento jurídico, a "súmula vinculante", o que torna impossível o
relator decidir negativamente o mérito do recurso, monocraticamente, por este ser
manifestamente contrário à súmula do Tribunal ou de Tribunais Superiores, em razão da
natureza abstrata da ação, e de que os recursos são uma extensão do direito de ação.
Resposta à Questão 2
Tema XV
Notas de Aula19
1. Recursos excepcionais
19
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 18/5/2009.
“Súmula 279, STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso
extraordinário.”
Esta súmula foi editada quando o recurso extraordinário era fundamentado também
em matéria legal, quando ainda não existia o STJ. Pode-se reler a súmula adaptando-a para
os recursos especiais, hoje.
É comum afirmar que os recursos excepcionais intentam defender o direito objetivo,
e não os fatos de um processo. Há quem defenda, porém, que estes recursos podem abordar
matéria fática, porque a controversão à lei ou à CRFB seria, por si só, um fato a ser
discutido, o que é um entendimento um tanto estranho, e por isso sem adesão doutrinária ou
jurisprudencial.
Por não discutir matéria fática, não se pode entender as Cortes Superiores, nesta
competência recursal, como sendo uma terceira instância. O STJ deve ser propriamente
chamado de instância especial, e o STF de instância extraordinária.
A via excepcional só pode ser acessada quando a via recursal ordinária estiver
exaurida. É um requisito de admissibilidade, este exaurimento, mas a súmula 640 do STF
abre uma exceção:
“Súmula 640, STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por
juiz de primeiro grau nas causas de alçada, ou por Turma Recursal de Juizado
Especial Cível e Criminal.”
O recurso extraordinário é cabível das decisões das turmas recursais, mas o especial
não o é, por um detalhe: a decisão que é impugnável por recurso especial precisa ser
prolatada por um tribunal, como se vê no artigo 105, III, da CRFB, enquanto o recurso
extraordinário não faz esta exigência.
A súmula 640 do STF ainda contempla o cabimento do recurso extraordinário
contra sentenças em causas de alçada, que são as execuções fiscais de valor até cinquenta
OTNs, como se viu no artigo 34 da Lei 6.830/76 – e o recurso especial não é possível, pois
também não se tratará de decisão de tribunal.
Os recursos excepcionais têm admissibilidade bipartida: primeiro, ocorre no órgão
de origem; admitidos ali, ainda sofrerão juízo de admissibilidade na respectiva Corte
Superior – tal como ocorre na apelação.
Além dos requisitos de admissibilidade comuns, já abordados em outros recursos,
os excepcionais contam com requisitos específicos. Vejamos.
“Súmula 255, STJ: Cabem embargos infringentes contra acórdão, proferido por
maioria, em agravo retido, quando se tratar de matéria de mérito.”
Este prazo está sujeito a dobrar, na forma dos artigos 188 e 191 do CPC, já
abordados.
Outro requisito comum aos recursos excepcionais é o prequestionamento. Este
requisito, para Alexandre Câmara, também tem sede constitucional, porque os dispositivos
já mencionados da CRFB trazem ali a expressão “causas decididas”, o que passa o
entendimento de que não se pode enfrentar, nesta via excepcional, matéria que não tenha
sido ainda enfrentada anteriormente.
Uma vez que a matéria não tenha sido enfrentada a decisão guerreada, os embargos
de declaração podem ser utilizados como forma de suprir este requisito de admissibilidade,
e não podem, estes embargos, serem tidos por protelatórios, como informa a súmula 98 do
STJ:
é aquele em que a parte tentou formar decisão sobre o assunto, mas o tribunal se negou a
enfrentar o tema.
O STF admite o prequestionamento ficto, para fins de recurso extraordinário, mas o
STJ não o admite para o recurso especial. Para o STJ, é cabível recurso especial da decisão
que rejeitou os embargos, e somente com o fito de fazer com que estes sejam julgados, pela
violação ao artigo 535, II, do CPC:
“Art. 535. Cabem embargos de declaração quando: (Redação dada pela Lei nº
8.950, de 13.12.1994)
(...)”
II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. (Redação
dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)”
“Súmula 13, STJ: A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja
recurso especial.”
“Súmula 83, STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a
orientação do tribunal se firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.”
O recurso extraordinário demanda, para ser admissível, que haja ofensa direta ao
texto constitucional, sendo inadmissível o recurso que propugnar mera ofensa reflexa da
Carta Magna. É considerada ofensa reflexa, por exemplo, uma decisão que considere lícita
uma interceptação telefônica que contraria norma infraconstitucional específica, ao
argumento de que ofende o direito constitucional à intimidade, inscrito no artigo 5º, X e
XII, da CRFB. Na verdade, há, sim, tutela da intimidade, mas como a lei federal está
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Sim, como dito, não são instâncias revisoras, mas sim de análise vinculada e adstrita
ao direito objetivo.
Não, porque decisões interlocutórias proferidas em execução não podem ter o seu
agravo retido, o mesmo se repetindo nos recursos excepcionais, que não poderão ficar
retidos.
Não, pois o prequestionamento implícito é admissível.
Trata-se da exposição clara dos dispositivos violados, a fim de facilitar a
conferência pelo examinador do recurso do fundo objetivo a emprestar admissibilidade ao
recurso.
O STF, no RE 195.333, assim se posicionou:
Tema XVI
Recurso Extraordinário e Recurso Especial. Procedimento nos tribunais de origem e nos tribunais
superiores. Competência para julgar a admissibilidade e o mérito dos recursos. Agravo de instrumento
interponível contra a decisão de inadmissibilidade dos recursos. Agravo inominado interponível contra
decisão do relator que não conheceu do agravo de instrumento ou lhe negou provimento. Embargos de
divergência. Cabimento. Procedimento. Interposição simultânea dos recursos extraordinário e especial:
problemas e soluções. As inovações trazidas pelos artigos 543-A, 543-B e 543-C do Código de Processo
Civil.
Notas de Aula20
20
Aula ministrada pelo professor Rodolfo Kronemberg Hartmann, em 18/5/2009.
Este agravo de instrumento terá sua admissibilidade feita nas Cortes de destino,
como dito. Lá, será possível uma decisão monocrática pelo relator, decidindo o agravo de
instrumento, e, se a instrução permitir, até mesmo o próprio recurso excepcional que fora
inadmitido pode desde logo por ele ser julgado. O ministro pode monocraticamente decidir
o recurso excepcional, na forma autorizada pelo artigo 544 do CPC:
“Art. 545. Da decisão do relator que não admitir o agravo de instrumento, negar-
lhe provimento ou reformar o acórdão recorrido, caberá agravo no prazo de cinco
dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, observado o disposto nos
§§ 1º e 2º do art. 557. (Redação dada pela Lei nº 9.756, de 1998)”
“Art. 542. Recebida a petição pela secretaria do tribunal, será intimado o recorrido,
abrindo-se-lhe vista, para apresentar contra-razões. (Redação dada pela Lei nº
10.352, de 26.12.2001)
§ 1º Findo esse prazo, serão os autos conclusos para admissão ou não do recurso,
no prazo de 15 (quinze) dias, em decisão fundamentada. (Incluído pela Lei nº
8.950, de 13.12.1994)
§ 2º Os recursos extraordinário e especial serão recebidos no efeito devolutivo.
(Incluído pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994)
§ 3º O recurso extraordinário, ou o recurso especial, quando interpostos contra
decisão interlocutória em processo de conhecimento, cautelar, ou embargos à
execução ficará retido nos autos e somente será processado se o reiterar a parte, no
prazo para a interposição do recurso contra a decisão final, ou para as contra-
razões. (Incluído pela Lei nº 9.756, de 17.12.1998)”
Não havendo efeito suspensivo, tem-se admitido, para obstar a eficácia da decisão
recorrida, o ajuizamento de uma ação cautelar inominada dedicada apenas a este escopo. O
STF tem enunciados sobre a matéria, os verbetes 634 e 635, já abordados, mas que valem
ser revistos:
“Súmula 634, STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida
cautelar para dar efeito suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi
objeto de juízo de admissibilidade na origem.”
Nada impede que a mesma decisão desafie recurso especial e extraordinário, e sua
interposição simultânea é possível, sendo uma das exceções ao princípio da
unirrecorribilidade.
Ocorrendo esta interposição simultânea, o artigo 543 do CPC estabelece a ordem de
processamento:
A ordem é que primeiro seja julgado o recurso especial. O § 2º deste artigo prevê,
porém, situação em que haja uma prejudicialidade ao julgamento do recurso especial: se o
recurso extraordinário for prejudicar o julgamento do recurso especial, o relator sobresta o
julgamento deste, e aguarda o julgamento do recurso extraordinário. Embora esta decisão
de sobrestamento seja irrecorrível, o ministro relator do STF que receber os autos pode,
também em decisão irrecorrível – como diz o § 3º deste artigo –, determinar que estes
retornem ao STJ, se não concordar com a prejudicialidade percebida pelo relator do STJ.
O artigo 542, § 3º, do CPC, há pouco transcrito, cria esta situação, similar a um
agravo retido. Nos casos ali mencionados, há um represamento dos recursos aos autos,
quando houver sua interposição contra decisão de agravo de instrumento interposto de
decisão interlocutória (e não da própria decisão interlocutória, como ali redigido).
O processamento é todo o mesmo, até o momento da admissibilidade provisória, no
tribunal a quo. O restante do processamento terá início apenas quando da eventual
reiteração, adiante, após a decisão final no processo original, entendendo-se por decisão
final a que for passível de recurso excepcional.
Fica sujeito a este regime de retenção obrigatória o recurso excepcional que for
interposto contra acórdão proferido em agravo de instrumento (até aqui, está na regra geral)
que foi provido para acolher argüição de ilegitimidade de parte? Este recurso excepcional
não pode ficar retido, por uma só razão: ao ser provido, este agravo de instrumento
extinguiu o processo, causando a peculiar situação em que não será possível ao recorrente
excepcional reiterar a interposição quando da decisão final, simplesmente porque não
haverá outra decisão final – o acórdão do agravo já findou o processo.
Toda decisão em tutela de urgência será incompatível com recursos retidos, de
qualquer natureza. Se o recurso excepcional estiver retido, por seguir a regra geral, permite-
se que o recorrente intente destrancar este recurso, e a forma de fazê-lo é bem livre: é
cabível ação cautelar inominada, mandado de segurança, reclamação, e até mesmo um
agravo de instrumento análogo ao do artigo 544 do CPC – que se presta a fazer o recurso
subir quando inadmitido no tribunal a quo.
A retenção só é possível em procedimento de conhecimento, ou cautelar, ou em
embargos à execução. Na própria execução, ou na faze executória de processo sincrético,
não existe agravo retido, pelo cunho satisfativo e em cuja decisão não há resolução de
mérito, por não haver aprofundamento na cognição – o que é verdade na execução pura,
pois há execuções em que alguns incidentes demandam cognição mais aprofundada, como
a desconsideração da personalidade jurídica. A sentença, na execução, é destituída de
conteúdo decisório, se prestando apenas a extinguir o feito. Já as decisões interlocutórias,
na execução, têm conteúdo decisório e carga lesiva, pois são elas que determinam os rumos
da execução – e este é o fundamento de todo agravo, na execução, sr de instrumento.
Sendo assim, não há como ficarem retidos eventuais recursos excepcionais na
execução, sob os mesmos argumentos que impedem que os agravos sejam retidos.
Veja que a reiteração do recurso excepcional que se encontrar retido deve ser feita
no corpo de um outro recurso excepcional que venha a alvejar, agora, a decisão final.
ocorre que pode acontecer de esta decisão final não ofender nenhum dispositivo legal ou
constitucional, o que tornaria o novo recurso excepcional fadado ao insucesso. Por isso,
alguns autores, como Didier, entendem que ao invés de, neste caso, ser interposto recurso
temerário com o mero escopo de destrancar o recurso que estava retido, seja bastante uma
mera petição para tanto, reiterando o interesse na subida dos recursos retidos. Esta sugestão
doutrinária ainda não teve oportunidade de ser acolhida na jurisprudência.
2. Embargos de divergência
“Art. 546. É embargável a decisão da turma que: (Revigorado e alterado pela Lei
nº 8.950, de 13.12.1994)
Além deste dispositivo, apenas o já transcrito artigo 508 do CPC menciona este
recurso, trazendo-lhe o prazo de quinze dias para interposição.
As hipóteses de cabimento deste recurso são muito restritas, devendo ser
interpretados literalmente os incisos do artigo supra. De plano, já se vê que só são cabíveis
nas Cortes Superiores, e somente depois do julgamento de recursos especiais ou
extraordinários.
Vê-se que este recurso é bem similar à uniformização de jurisprudência, mas não é
um incidente, como esta: tem natureza de recurso, nas hipóteses expressas no artigo em
comento.
A decisão que se coteja com a divergente deve ser oriunda da mesma espécie, ou
seja, julgado em recurso especial versus julgado em recurso especial, ou extraordinário
versus extraordinário. Todavia, há um caso bastante controvertido, porém, relativo a este
recurso, tanto que havia matéria sumulada de forma oposta no STF e no STJ,
respectivamente nos enunciados 599 e 316:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Sim, porque a fungibilidade não prevalece quando o erro é crasso, como no caso:
era cabível recurso ordinário.
De forma alguma: a admissibilidade a quo é provisória, podendo, na verdade
devendo, ser revista, e alterada, se for o caso.
Sim: é de sua competência, na forma do artigo 544 do CPC, podendo inclusive
julgar o próprio recurso excepcional que fora inadmitido.
Não há violação ao juiz natural, porque ele é o juiz natural eleito pela lei, sorteado
para tal caso.
O STF, no Agravo Regimental no Recurso Extraordinário 423.817, assim se
manifestou:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Não é cabível, sob pena de se subverter a lógica criada para os recursos repetitivos.
Contudo, se a fundamentação do novo recurso extraordinário for diferente da decidida no
recurso paradigmático, por alguma ocorrência superveniente, este será admissível – pois
será caso diverso do paradigma.
Tema XVII
Notas de Aula21
1. Intróito
21
Aula ministrada pelo professor Alexandre Antônio Franco Freitas Câmara, em 19/5/2009.
“Art. 476 - Compete a qualquer juiz, ao dar o voto na turma, câmara, ou grupo de
câmaras, solicitar o pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação do
direito quando:
I - verificar que, a seu respeito, ocorre divergência;
II - no julgamento recorrido a interpretação for diversa da que lhe haja dado outra
turma, câmara, grupo de câmaras ou câmaras cíveis reunidas.
Parágrafo único - A parte poderá, ao arrazoar o recurso ou em petição avulsa,
requerer, fundamentadamente, que o julgamento obedeça ao disposto neste artigo.”
22
O professor tem um posicionamento no sentido de que competiria ao STJ interpretação de normas federais,
ao passo que ao STF as constitucionais. Nesse diapasão, os juízos a estes “subordinados” deveriam se
encontrar impedidos de julgar de forma diferente, salvo se houver elemento distintivo. O fundamento da
referida tese se encontra preconizado na impessoalidade do administrador público previsto no art. 37,
CRFB/88, pelo qual o juiz, nada mais seria, senão um ocupante temporário de um cargo público, em que pese
elementos de convicção pessoal do magistrado.
Caso o órgão fracionário não venha a reconhecer a divergência, esse virá a seguir no
julgamento do processo.
Reconhecendo-a, o órgão especial, abrirá a sessão com a análise de ocorrência ou
não da divergência. Aplicando-se o art. 478, CPC.
Após a decisão acerca da matéria de direito, como dito, ocorre a remessa ao órgão
fracionário para que a aplique no caso concreto. O órgão especial decidirá qual tese
prevalecerá com base em maioria simples. Assim, acaba por explicar o próprio art. 479,
CPC:
“Art. 479 - O julgamento, tomado pelo voto da maioria absoluta dos membros que
integram o tribunal, será objeto de súmula e constituirá precedente na
uniformização da jurisprudência.
Com isso, sendo por maioria simples, a tese jurídica somente deve ser aplicada
naquele caso em concreto. Ao passo que, sendo por maioria absoluta, tal tese constituirá
enunciado da súmula do referido tribunal.
Cumpre ressaltar, que tal incidente atrasa a prestação jurisdicional. Por este motivo,
o legislador acabou por criar a assunção de competência, mecanismo mais eficiente e
célere, previsto no art. 555, § 1º, CPC, que possui origem nos regimentos internos do STF e
STJ.
Ocorre que, com o advento do CPC/73 a reclamação perdeu seu motivo, pois todas
as decisões interlocutórias passaram a desafiar a interposição do recurso de agravo. O único
ato judicial não recorrível passou a ser o despacho, que pela ausência de interesse recursal,
deve mesmo ser irrecorrível. Havendo dúvida se o referido ato é despacho ou decisão
interlocutória, deve ser verificada as consequencias do ato. Caso gere prejuízo, estaremos
diante de uma decisão interlocutória e não despacho.
Ademais, a reclamação é um recurso criado por lei estadual, não podendo prosperar
a tese de se tratar de remédio administrativo, pois se o fosse, não poderia ter qualquer
consequencia judicial.
Cumpre trazer as controvérsias acerca da sua constitucionalidade. Em que pese o
art. 22, I, CRFB, que estabelece a competência da União para elaborar leis processuais,
tornando clara a sua inconstitucionalidade, o TJ/RJ a reputa como constitucional.
Acerca do tema, cumpre analisarmos os acórdãos a seguir:
“Art. 221 - A petição de reclamação será instruída com certidões de inteiro teor da
decisão reclamada, quando não se tratar de ato omissivo, e da que houver
indeferido o pedido de reconsideração; de datas das respectivas publicações; de
instrumento do mandato conferido ao advogado; e das demais peças, indicadas
pelo reclamante, nas quais se apoiar a decisão reclamada.”
Assim, se o ato contra o qual se quer reclamar é execução, devemos analisar o órgão
quem proferiu a decisão. Se for o juízo de primeiro grau, quem julgará será umas câmaras,
ao passo que se for o tribunal, quem julgará será o mesmo órgão quem decidiu.
“Art. 225 - Se o órgão que julgar procedente a reclamação apurar falta funcional do
juiz, poderá mandar anotar o fato na matrícula do mesmo, sem prejuízo das
sanções cabíveis.
Parágrafo único - Em se tratando de reclamação julgada por Tribunal de Alçada, a
anotação será solicitada pelo Presidente do órgão julgador ao Tribunal de Justiça.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Cintia não pagou as três últimas prestações de uma compra feita na loja Retângulo,
o que deu ensejo à negativação de seus dados qualificativos nos órgãos protetivos.
Posteriormente, assim que recebeu seu salário, pagou integralmente o débito, mas seu
nome não foi excluído dos cadastros de proteção ao crédito, o que somente ocorreu por
conta de sua exclusiva diligência.
Diante dos fatos, Cíntia resolveu ajuizar ação de indenização, na qual formulou
pedido genérico de danos morais em face da empresa.
Resposta à Questão 2
1) É possível, pois o escopo é prevenir, pelo art. 555, §1º, CPC, sendo competente
o relator.
Questão 3
O juiz, negando a retirada dos autos do cartório pelo advogado da parte, praticou
um ato abusivo na direção do processo. Em conseqüência, foi promovida ação de mandado
de segurança, objetivando cessar o referido abuso por parte do magistrado.
Apreciando a questão, o pedido foi rejeitado ao argumento de que "o mandado de
segurança deve sempre ser rejeitado, quando o despacho ou decisão puder ser modificada
por via de correição, consoante a regra do art. 5º, II, da Lei 1.533/51".
Foi correta a decisão judicial? Por quê? Qual a natureza da correição parcial? Qual a sua
finalidade? Exemplifique algumas hipóteses em que se admite a correição parcial. A
correição parcial é dirigida a que órgão dos tribunais? Qual o dispositivo que a regula?
Resposta à Questão 3
A questão se aplica o enunciado n.º 267, da súmula STF. O TJ/RJ entende que a
correição parcial é constitucional, com base no art. 219, CODJERJ.
Neste caso concreto, a conclusão esta correta, porém o fundamento esta equivocado.
Há uma decisão interlocutória, logo cabível agravo e não correição parcial. Porem, se há
ato administrativo do juiz negando o acesso aos autos ao advogado, caberá mandado de
segurança.
Tema XVIII
Notas de Aula23
1. Declaração de inconstitucionalidade
“Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros
do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade
de lei ou ato normativo do Poder Público.”
Com isso, os órgãos fracionários dos tribunais não podem declarar inconstitucional,
nem mesmo como questão prejudicial, uma norma qualquer. Há flagrante incongruência,
aqui: o juiz, integrante de órgão de primeira instância, pode declarar inconstitucionalidade
em decisão de mão única, enquanto os desembargadores, ou quaisquer ocupantes de órgãos
superiores do Judiciário, não têm este poder sozinhos.
E esta reserva de plenário é o que fez surgir o incidente de inconstitucionalidade,
ponto nodal do presente estudo, tratado nos artigos 480 a 482 do CPC:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Luciano propôs ação de rito ordinário em face do Banco X, com o objetivo de obter
a devolução em dobro do que foi cobrado a título de juros capitalizados.
A sentença de 1º grau condenou o banco à devolução em dobro do cobrado, acima
do patamar de 12%.
O Tribunal deu provimento à apelação, por maioria, para julgar improcedente o
pedido, sob o argumento de que o anatocismo é permitido para as instituições financeiras,
nos termos do art. 5º, da Medida Provisória, nº 2.170/2001; ficou vencido o ilustre
Desembargador Vogal, que o provia, apenas parcialmente, para afastá-lo.
Resposta à Questão 2
Questão 3
Tema XIX
Notas de Aula24
Cada país conta com seus poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em regra,
com suas atribuições típicas. Sempre que o Judiciário, de qualquer país, na função
judicante, se vê diante de um caso em que precisa proferir decisão, deverá analisar a
legislação aplicável: se a sua própria, de seu próprio país, ou as leis de ordenamentos
alienígenas.
A aplicação de leis estrangeiras é devida, sempre que as normas de direito
internacional privado exigirem. Assim determinam as normas dos artigos 7º a 10 da Lei de
Introdução ao Código Civil:
24
Aula ministrada pela professora Juliana Kalichsztein, em 20/5/2008.
“Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação
dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os
represente, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
(Redação dada pela Lei nº 9.047, de 18.5.1995)
§ 2º A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.”
“Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações
de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a
ordem pública e os bons costumes.”
A homologação tem natureza jurídica de ação, tal como qualquer outra, obedecendo
a todos os critérios de formação de uma ação: condições, pressupostos, e tudo o mais.
O pedido, na ação de homologação, por óbvio, é que se homologue a sentença. O
STJ, apreciando o pedido, julga-lo-á procedente, improcedente, ou parcialmente
procedente, respectivamente homologando, não homologando, ou homologando apenas
parte da sentença estrangeira.
A homologação parcial não pode jamais tocar no conteúdo da sentença estrangeira,
pois é juízo de delibação, como visto. Assim, em um exemplo, se a sentença traz
condenação ao pagamento cem mil dólares por danos morais, de jamais se permitirá a
homologação de apenas cinquenta mil dólares. No entanto, poderá haver homologação
apenas da parte da sentença que não ofende o artigo 17 da LICC, dividindo-se a sentença
em capítulos, mantendo-se e homologando-se apenas o capítulo formalmente adequando ao
ordenamento pátrio.
Isto se vê bastante na seara de direito de família. Como exemplo de homologação
parcial, a sentença estrangeira de divórcio e partilha, sendo que a divisão dos bens é
formalmente contrária ao que deveria – quando não passa no juízo de delibação –, ou é
absurdamente contrária aos termos pátrios, caindo na exceção do artigo 17 da LICC: o STJ
homologará apenas a parte do divórcio, e não o capítulo da partilha.
25
O nascimento, óbito e casamento de brasileiros, ocorridos no estrangeiro, não demandam homologação,
devendo ser levados diretamente a registro, na forma do artigo 32 da Lei 6.015/73:
Até 1996, era cediço que vigia no Brasil o sistema da dupla homologação: apenas a
decisão privada que já houvesse sido homologada no país de origem poderia ser
homologada como sentença estrangeira. Após a entrada em vigor desta lei acima, porém,
admite-se à homologação, pelo STJ, o laudo ou a sentença arbitral estrangeira. E este
dispositivo supra já foi questionado em sua constitucionalidade, tendo sido declarado
perfeitamente constitucional pelo STF, em controle incidental, em 2002.
“Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna
os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a
execução no lugar em que ,foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. Não dependem de homologação as sentenças meramente
declaratórias do estado das pessoas.”
Há que se ressaltar que este parágrafo único do artigo 15, supra, não foi
recepcionado pela CRFB de 1988: as sentenças declaratórias de estado são também
dependentes de homologação.
Estes são os requisitos formais que formam o juízo de delibação, regra geral da
homologação, como visto. Além deles, como já se anteviu, há a análise da compatibilidade
jurídica do julgado com a ordem pública, soberania nacional e bons costumes, na forma do
artigo 17 da LICC.
Ajuizada a ação de homologação, cuja petição inicial deve observar todos os
requisitos de qualquer exordial, determinar-se-á a citação. Citado o réu, ele poderá
contestar, quedar-se inerte, ou anuir com o pedido de homologação. Havendo contestação,
abre-se para réplica; em seguida a esta, remete-se o processo ao Ministério Público Federal,
e com o parecer do parquet os autos vão conclusos ao STJ.
Quedando-se inerte, revel, será nomeado curador especial, que contestará,
margeando a réplica, e então seguindo-se ao parquet e à decisão.
Concordando com o pedido de homologação, não se abrirá à replica, remetendo-se
desde logo ao MP e à subseqüente conclusão.
Se há revelia, ou anuência ao pedido de homologação, a decisão será monocrática,
de competência do Presidente do STJ, desafiando agravo para a Corte Especial do STJ. Se
há contestação, porém, a competência já é diretamente da Corte Especial, e desta decisão
cabe o mesmo agravo, para o mesmo órgão, cuja decisão será final.
A contestação do pedido de homologação deve ser adstrita ao que poderá ser alvo de
análise pelo STJ, ou seja, a falta ou defeito de algum dos requisitos que formam o juízo de
delibação, ou a ofensa à ordem pública, aos usos e costumes e à soberania nacional. As
falsidades documentais também são argüíveis, bem como aquilo que se chama de
inteligência da sentença.
Esta inteligência da sentença é a definição do que foi ou não julgado pela sentença
de que se pede homologação. Trata-se de definir qual será a exata afecção, a exata
abrangência da sentença objeto de homologação. Veja o artigo 9º da Resolução 9 do STJ:
Por estas trelas, a grande maioria dos autores diz que a homologação se trata de um
contencioso limitado, eis que apenas umas poucas matérias impugnativas terão efeito
defensivo, nesta ação.
A autoridade competente para a execução da sentença que homologa a sentença
estrangeira não é nenhum Ministro do STJ, mas sim o juiz federal da Seção Judiciária do
domicílio do réu, que recebe a competência por distribuição.
“Art. 90. A ação intentada perante tribunal estrangeiro não induz litispendência,
nem obsta a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das
que lhe são conexas.”
2. Exequatur
“Art. 20. As sentenças e os laudos arbitrais a que se refere o artigo anterior terão
eficácia extraterritorial nos Estados-Partes quando reunirem as seguintes
condições:
a) que venham revestidos das formalidades externas necessárias para que sejam
considerados autênticos no Estado de origem;
b) que estejam, assim como os documentos anexos necessários, devidamente
traduzidos para o idioma oficial do Estado em que se solicita seu reconhecimento e
execução;
c) que emanem de um órgão jurisdicional ou arbitral competente, segundo as
normas do Estado requerido sobre jurisdição internacional;
d) que a parte contra a qual se pretende executar a decisão tenha sido devidamente
citada e tenha garantido o exercício de seu direito de defesa;
e) que a decisão tenha força de coisa julgada e/ou executória no Estado em que foi
ditada;
f) que claramente não contrariem os princípios de ordem pública do Estado em que
se solicita seu reconhecimento e/ou execução.
Os requisitos das alíneas (a), (c), (d), (e) e (f) devem estar contidos na cópia
autêntica da sentença ou do laudo arbitral.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
2) Há clara conexão.
Questão 4
Resposta à Questão 4