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Profissões do
‘backstage’
redacao@backstage.com.br
Fotos: McGyver / Arquivo pessoal
FERN ANDO FOR TES
ackstage - Como foi a sua forma- para teatro musical, para não confundir
Nesta edição, a
série de entrevistas
B ção acadêmica e como chegou ao
mercado do show bussiness?
com sound designer para cinema, televi-
são etc., que é outra praia. Basicamente,
do Espaço Gigplace Fernando Fortes - Sempre amei música e um sound designer está envolvido com
artes em geral. Estudei guitarra, flauta, sa- tudo que é som, intercomunicação e video
contempla a
xofone e bateria. Tive formação musical monitoring dentro de um espetáculo tea-
profissão de sound desde pequeno, pois minha mãe é profes- tral ou de teatro musical. É função do
designer. Dessa vez, sora de teclado e acordeom. Minhas irmãs sound designer especificar, configurar,
são professoras e coreógrafas de dança. ajustar e manipular os equipamentos de
o profissional dos
Quando pequeno ia para festivais de dan- áudio para um espetáculo. Gosto de tra-
bastidores do show ça e ficava curioso com a estrutura de pal- balhar com som a partir de um conceito
business co, luz e som. Mas comecei a me interessar artístico, sou mais um membro da equipe
pelo áudio devido ao meu interesse por criativa e não somente um membro da
entrevistado é eletrônica. Fiz colégio técnico em eletrô- equipe técnica. Um sound designer pode
Fernando Fortes. nica e trabalhei em empresas de projetos, trabalhar em espetáculos de teatro, dan-
Fernando Fortes - Fantasma da Ópera
ça, música, artes circenses, etc. Encare para casa, deslumbrado, depois de as-
um sound designer como uma ponte sistir a uma montagem de A Chorus
entre a direção artística-musical de Line, acho que nos anos 80, em que
um espetáculo e os técnicos de som, fa- uma das minhas irmãs dançou. Acho
cilitando o trabalhado de todos e au- que foi o primeiro “estalo” que tive e
mentando as possibilidades criativas. que me levou a gostar de musicais. Fi-
quei fascinado com aquela forma de
Backstage - Faça um pequeno apa- contar uma história.
nhado das últimas produções na qual Mas meu primeiro trabalho em musi-
você participou e em qual função. cal foi em 2001 quando eu trabalhava
Fernando Fortes - Bem, estou envol- na Loudness e fizemos Chicago, em
vido com teatro musical há um bom Buenos Aires, no teatro Ópera, cujo
tempo. Lembro muito bem de voltar sound designer era o inglês Rick Clarke.
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sentado o espe-
táculo, mas o bacana é que tudo
& Hyde geralmente é excessivamente docu-
l Jekyll
Musica
mentado. Isso, para mim, é ótimo. Na
Foi meu primeiro contato com uma pro- montagem do Mamma Mia!, em São
“
Ler o “rider técnico”
do sound designer
dução com o cuidado técnico que só os
gringos sabem ter. Ler o “rider técnico”
Paulo, as conversas com David Patrid-
ge, de Nova Iorque, foram por e-mail e
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dele (sound designer) foi um curso de pós- skype. Usamos o serviço drop box para
foi um curso de pós- graduação para mim. Aprendi e ainda troca de arquivos. Sempre que ele atua-
graduação para aprendo muito observando os outros tra- lizava algum documento no micro dele,
mim. Aprendi e balharem. Admiro quem é organizado, meu micro era atualizado também de for-
quem possui métodos de trabalho e quem ma online. Para ter uma ideia, até a pro-
ainda aprendo trabalha em cima de um conceito bem de- gramação dos processadores Galileo, da
muito observando os finido do começo ao fim. Meyer Sound, e da console PM1D, da
outros trabalharem. Já trabalhei como engenheiro de siste- Yamaha, vieram online. Quando David
mas em musicais como Cats, Mamma chegou ao Brasil, já até havia começado
Admiro quem é Mia, A Bela e a Fera, Jekyll & Hide, sempre os ensaios com som. Aí ele fez o alinha-
organizado, quem com sound designers estrangeiros, esta mento do PA em algumas poucas horas,
possui métodos de foi a minha escola. Devo muito do que com o seu toque pessoal e continuamos
aprendi ao Rick Clarke, Gaston Briski, com os ensaios e ajustes.
trabalho e quem Nick Lidster e David Patridge, sound Tento seguir a mesma ideia com os meus
trabalha em cima de designers responsáveis pelas maiores projetos. Por exemplo, no último musical
um conceito bem produções que já aconteceram no Brasil. que montei no Rio de Janeiro, Baby - O
Como sound designer, ultimamente traba- Musical, programei a DigiCo SD8, o proces-
definido lhei em O Rei e Eu, Evita e Baby - O Musical. sador de sistema DME64, da Yamaha, e vá-
rios outros detalhes do meu computador
Backstage - Você trabalha bastante com semanas de antecedência. No mo-
com montagens teatrais. Explique um mento da montagem, tudo estava docu-
pouco como é a pré-produção de um mentado em plantas e diagramas. Isso faci-
evento desses, desde as reuniões inici- lita muito a minha vida e a dos técnicos.
ais até a estreia do espetáculo. Neste caso, em três dias tudo estava mon-
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nhando com o meu notebook ou iPad fiável fez com que eu estudasse bas-
pelo teatro todo. Isso hoje em dia é sim- tante sobre o assunto. Fiz alguns cur-
plesmente fantástico e não era possível sos dentro e fora do país, além de ter
um tempo atrás. Fora isso, uso muito os feito boas amizades com pessoas que
softwares de CAD, o Vectorworks neste trabalham com isto fora do Brasil. Lá,
caso, pois documento tudo que faço, faço os grandes eventos sempre têm um
plantas, cortes e diagramas. Para coorde- engenheiro para coordenar as fre -
nação de RF, uso o scanner Winradio e o quências. Aqui no Brasil, em uma
software IAS, da Professional Wireless. conversa há uns 3 anos com o Andreas
Mas cada equipamento hoje possui um Schmidt, diretor da AudioBizz, ele le-
software, não é? E adoraria que tivessem vantou a possibilidade de eu trabalhar
mais para o iPad agora. Para edição de para ele em alguns eventos e isso tem
vozes, efeitos e backing tracks uso Pro- ocorrido cada vez mais. Os últimos
Tools e Beas Peak no Mac. Para alinha- que participei foram os prêmios VMB
mento uso o Smaart 7. Além disso, uso da MTV 2009 e 2010, prêmios Multi-
muitos outros apetrechos como angu- show 2009 e 2010, Red Bull Air Race
“ As pessoas não
conhecem e não
entendem a minha
função em um
lômetros e trenas digitais, réguas e níveis
digitais, tudo para garantir uma monta-
gem perfeita.
evento destes. Digo todas as produções utilizam microfo- Acho que o maior desafio foi o Oi Fa-
nes sem fios e, com isso, você acabou shion Rocks, com aproximadamente
que faço se tornando um expert em RF, passan- 35 microfones sem fio e 20 in-ears,
coordenação de do a ser requisitado em outros eventos fora vários outros sistemas funcionan-
que fizesse uso de wireless e como crí- do concomitantemente como intercoms
frequências, mas
tico. Fale um pouco sobre isso. sem fio, pontos eletrônicos e vários siste-
acham que é só Fernando Fortes - Expert não, ainda mas para os canais de TV. Com certeza,
“fazer uma tenho muito que aprender, mas real- cerca de 70 portadoras de RF estavam
mente minha curiosidade para sem- no ar funcionando no dia do evento,
planilha” e não
pre oferecer um sistema sem fio con- sem nenhum problema, felizmente.
deixar que as
frequências
coincidam. Mas vai
além disso
conselho? Não tenham muitos mi- Amo o que faço, amo musicais. Não
crofones na mesma banda de trans- faço nada disso por dinheiro, faço por-
missão, procurem diversificar. E te- que gosto e procuro melhorar meu tra-
nham um bom estoque de bons cabos balho e o das pessoas que estão comigo.
(nem todo cabo de RF é igual), boas
antenas (cada tipo de antena tem a Backstage - Já que estamos falando
sua aplicação) e bons combinadores e do futuro, o que estaremos vendo e
splitters. Existem bons equipamen- ouvindo de novas tecnologias nas
tos hoje à disposição. Professional produções no Brasil? Quais são as
Wireless e Minicircuits são duas óti- novidades para um futuro próximo?
mas referências. E, sempre que possí- Fernando Fortes - Tenho vontade de
vel, procure um profissional de RF usar coisas mais arrojadas. Meu sonho
com experiência. é poder usar o sistema de acústica ati-
va da Meyer Sound, o Constellation,
Backstage - As produções teatrais estão o sistema de console Cueconsole / D-
ficando cada vez mais elaboradas, Mitri, da mesma marca, e o sistema
principalmente nas remontagens de es- automático de actor tracking da TTA
petáculos da Broadway e da Disney. Stagetracker. Quem sabe um dia!? Já
Quais são as exigências técnicas impos- tive oportunidade de fazer treina-
tas para remontagem dessas produções mentos nesta área e mesmo de usar
estrangeiras aqui no Brasil? ferramentas como estas em uns pou-
Fernando Fortes - A exigência e a cos eventos, mas que existem coisas
especificidade são grandes. Trabalhar muito bacanas que se poderiam fazer
com musical não é a mesma coisa que com estas ferramentas, isto tem!
trabalhar em um evento corporativo
ou um show de rock. As exigências Este espaço é de responsabilida-
técnicas e a forma de se trabalhar são de da Comunidade Gigplace. En-
bem distintas. Tive oportunidade de vie críticas ou sugestões para con-
tato@gigplace.com.br ou reda-
trabalhar nos maiores musicais no
cao@backstage.com.br. E visite
Brasil. Não estou exagerando em di- o site: http://gigplace.com.br.
zer que os americanos e ingleses pos-