Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
L'labbate, 2003 PDF
L'labbate, 2003 PDF
Solange L’Abbate 1
Abstract In its recent history, collective health Resumo Na sua história recente, a saúde co-
has become institutionalized in a double di- letiva se institucionalizou na dupla dimensão:
mension, the theoretical-practical and the po- teórico-prática e político-ideológica. Sendo a
litical-ideological. Institutional analysis, on análise institucional uma abordagem que bus-
the other hand, is an approach aimed at chang- ca a transformação das instituições a partir
ing institutions on the basis of the practices das práticas e discursos dos seus sujeitos, po-
and discourses of their subjects. For this rea- de-se dizer que há grande potencialidade pa-
son, there is clear potential for more widespread ra o crescimento da utilização do seu instru-
use of institutional analysis in collective health mental na saúde coletiva, considerando as di-
in the areas of research, interventions, and the mensões da pesquisa, da intervenção e da for-
training of professionals. Collective health itself mação dos profissionais. A tudo isso acrescen-
can also be analyzed as a complex and contra- ta-se a análise da própria saúde coletiva como
dictory institution, since it in turn involves uma instituição complexa, contraditória, sen-
countless other institutions. do ela mesma atravessada por inúmeras insti-
Key words Collective health, Institutional tuições.
analysis, Socioanalysis Palavras-chave Saúde coletiva, Análise ins-
titucional, Socioanálise
1 Departamento de Medicina
Preventiva e Social,
Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade
Estadual de Campinas.
Rua Tessália Vieira de
Camargo, Barão Geraldo,
13081-970, Campinas SP.
slabbate@fmc.com.br
266
Por tudo isso, conclui a autora, é exatamen- em setembro de 1979 e a divulgação do artigo
te devido aos muitos significados da palavra sobre o conceito de saúde coletiva em abril de
“coletivo”, no âmbito das ciências sociais, que o 1983, a fundação da saúde coletiva como insti-
termo, embora impreciso, é adequado para de- tuição. Assim, a criação da saúde coletiva e de
signar a diversidade de aspectos do campo da sua aplicação para designar uma grande multi-
saúde. Isto porque essas variações reproduzem plicidade de eventos e atividades sejam acadê-
efetivamente a amplitude possível da gama de micas, sejam político-ideológicas, centralizadas
conotações assumidas pela noção de coletivo: co- na Abrasco, teve, sem dúvida, um caráter insti-
letivo/conjunto de indivíduos; coletivo/intera- tuinte inovador, tendo em vista o que já estava
ção entre elementos; coletivo como conjunto de instituído na área da saúde no Brasil (Lourau,
efeitos ou conseqüências da vida social; coletivo 1975 e 1993; Hess & Althier, 1994).
transformado em social como campo específico e É de se questionar em que medida as mar-
estruturado de práticas (Donnangelo, 1983). cas desta origem incidem na forma como a saú-
Com tal multiplicidade de significados, e de coletiva se apresenta na atualidade. Quais as
partindo da iniciativa de intelectuais das áreas transformações preservam os princípios desse
de medicina preventiva e saúde pública, o ter- momento fundador?
mo saúde coletiva começou a ser utilizado no
final da década de 1970, para nomear reuniões,
eventos, cursos, departamentos, núcleos e insti- A institucionalização da saúde
tutos de pesquisa, e finalmente, para dar nome coletiva pela Abrasco
a uma entidade, a Associação Brasileira de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva/Abrasco (Nu- A Abrasco foi aos poucos se fortalecendo como
nes, 1996). o movimento-instituição, síntese desse sujeito
A associação é fundada em 1979, com a fi- histórico e epistêmico constituído pela Saúde Co-
nalidade de atuar como mecanismo de apoio e letiva, de acordo com Maria Cecília de Souza
articulação entre os centros de treinamento, ensi- Minayo, (2001).
no e pesquisa em saúde coletiva para fortaleci- A sua constante estruturação se dá agora
mento mútuo das entidades membros e para a num outro contexto bem diferente, pois ao fi-
ampliação do diálogo com a comunidade técni- nal dos anos 80 e início dos anos 90, tanto a de-
co-científica. Enfatiza-se ainda que o compro- mocracia, como a Reforma Sanitária, que insti-
misso maior da Abrasco e, portanto dos seus as- tucionalizou o Sistema Único de Saúde/SUS,
sociados individuais e institucionais, vincula-se encontravam-se bem mais consolidados. Na
à formação de pessoal e produção de conheci- saúde coletiva como área da pós-graduação,
mentos que contribuam para superar as desi- avanços significativos podiam ser observados.
gualdades econômicas, sociais e sanitárias pre- É evidente que tais êxitos foram o resultado de
sentes na sociedade brasileira. Em consonância várias “lutas intermediárias” e, sem dúvida, a
com o movimento também existente na Amé- Abrasco se fez presente nessas várias etapas
rica Latina, no mesmo período, a Abrasco pre- (Belisário, 2002).
tende congregar todos os programas de pós-gra- Uma vez percorrido este caminho, a saúde
duação em saúde coletiva do país, constituindo- coletiva, através da Abrasco, hoje com 23 anos
se no órgão regional da Associação Latino Ame- de existência, e 6.000 associados, encontra-se
ricana de Escolas de Saúde Pública-ALAESP li- totalmente consolidada como evidenciam al-
gada à Organização Pan-Americana da Saú- gumas de suas atuações e atividades mais signi-
de/OPS (Abrasco, 1983). ficativas, colocadas a seguir.
Apesar dessa consonância com o movimen- No âmbito científico-acadêmico, os gru-
to latino-americano (Nunes, 1994) somente no pos de trabalho já constituídos (epidemiologia,
Brasil, esta recomposição do campo da saúde ciências sociais, planejamento em saúde, vigi-
assumiu o nome de saúde coletiva. Daí a afir- lância sanitária, ciência e tecnologia em saúde,
mação de que “inegavelmente, a saúde coletiva saúde indígena e educação popular em saúde,
é uma invenção brasileira” (Canesqui, 1995). trauma e violência e promoção à saúde) vêm
Como referi acima, é essa associação, a realizando e divulgando, de forma sistemática,
Abrasco, que demandou a Cecília Donnangelo debates e estudos que depois tornam-se subsí-
o artigo para discutir o conceito de saúde cole- dios para os congressos e para as publicações;
tiva. Temos, então, nesses dois acontecimentos no plano editorial, tem publicado vários livros
que se complementam: a criação da Abrasco e coletâneas, alguns em co-edição, e desde 1995
269
publica Ciência & Saúde Coletiva, revista que A saúde coletiva e o futuro:
juntamente com a Revista de Saúde Pública, da novos desafios
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de
São Paulo, e os Cadernos de Saúde Pública, da Estando nos dias atuais num processo de cres-
Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação cente reconhecimento e institucionalização, o
Oswaldo Cruz, são consideradas as três publi- mais provável é que a saúde coletiva, através da
cações de excelência na área da saúde. Além da Abrasco, continue sua trajetória como entida-
revista, a Abrasco publica boletins para os as- de científica e política, com as vantagens e des-
sociados. vantagens que esta dupla missão pode signifi-
No plano político-acadêmico, tem promo- car. E o “movimento pendular” terá sempre,
vido grandes congressos, em diversas regiões como referência, os próprios movimentos que
do país (15 ao todo) alguns gerais, contemplan- atravessam a área da saúde como um todo.
do as diversas áreas que compõem a entidade, Em relação à produção de conhecimentos,
outros específicos das áreas de epidemiologia e a saúde coletiva – constituída nos limites do bio-
ciências sociais, com público que tem variado lógico e do social – ainda continua a ter pela
de 250 a 5.000 pessoas. Devido ao grande nú- frente a tarefa de investigar, compreender e in-
mero de participantes em seus congressos, a terpretar os determinantes da produção social
Abrasco realiza a cada três anos um congresso das doenças e da organização dos serviços de saú-
geral, apelidado de “Abrascão” e, no intervalo, de tanto no plano diacrônico como sincrônico da
congressos específicos. Destes últimos, os de história, conforme conclui Everardo Nunes, ao
Ciências Sociais têm tido um público mais re- fazer uma retrospectiva histórica do conceito
duzido (de 250 a 600 pessoas) e os de Epidemio- de saúde coletiva (Nunes, 1994).
logia, um público bem mais amplo (de 2.000 a Em relação à análise do processo saúde-
3.500); finalmente os Congressos Gerais têm doença, por exemplo, a saúde coletiva tem tido
contado com um público bem mais numeroso: como desafio a necessidade de incorporar no-
o VI e último “Abrascão”, realizado em agosto vas abordagens teórico-metodológicas, sobre-
de 2000 em Salvado (BA) contou com 5.000 tudo as que procedem da fenomenologia (Mi-
participantes (Belisário, 2002). nayo, 1992) valorizando as dimensões do indi-
No plano da política científica participa do víduo e dos pequenos grupos, bem como das
Fórum de Coordenadores de Pós-Graduação representações sociais. Trata-se, enfim de se
em Saúde Pública/Saúde Coletiva da Fundação aproximar das diversas maneiras pelas quais as
Capes, uma das mais importantes instituições pessoas experimentam o estar com saúde ou o
de pesquisa do Brasil, atual responsável pelo sentir-se doente. Sem deixar de levar em conta
processo de avaliação de todos os cursos de as condições sociais mais amplas, estas perdem
pós-graduação do país, bem como pela atribui- seu caráter determinante.
ção de bolsas; e, finalmente, no cenário políti- Quanto às práticas de saúde, trata-se de
co-institucional, tem representação formal no analisar como vem ocorrendo, atualmente, a
Conselho Nacional de Saúde, que exerce o con- convivência de atividades médicas de caráter
trole social da Política Nacional de Saúde. individual como a clínica, que desde alguns
Não é difícil perceber os pontos de contato anos foi incorporada às unidades básicas de
entre os planos dessas várias atuações, bem co- saúde, com as atividades mais tradicionais da
mo as contradições que podem ocorrer entre saúde pública. Trata-se também de perceber o
os diferentes grupos, seja devido a diversas po- usuário como uma pessoa portadora de vonta-
sições políticas, seja pelas disputas de ordem des e de desejos, capaz de agir e reagir diante
científica e acadêmica, seja por corporativis- do que está sendo oferecido a ela como respos-
mos. Isto ocorre, apesar do pluralismo existen- ta às suas queixas e aos seus incômodos. Para
te hoje. Soraya Almeida Belisário sintetiza tais tanto torna-se necessário aproximar a saúde
contradições numa das conclusões de sua tese coletiva de campos disciplinares como a filoso-
sobre a Abrasco: misto de sociedade científica e fia e a psicanálise, tendo em vista a complexi-
de atuação política, (a Abrasco) evidencia sua dade que as questões da saúde assumem na
natureza mista, ambígua, mesclada e diferencia- atualidade, conforme propõe Gastão Wagner
da, cujos componentes políticos e de formação de Sousa Campos (Campos, 2000a).
convivem e interagem, num movimento pendu- Outro desafio consiste em perceber os mo-
lar, mas, ao mesmo tempo, potencializador (Be- vimentos de aproximação entre a saúde coleti-
lisário, 2002). va e outras áreas do campo da saúde, tradicio-
270
nalmente distantes. Cecília Minayo (2001) cha- viços de saúde, não haverá mudanças na forma
ma atenção para esse fato, comentando que as- desses serviços funcionarem, no sentido de ga-
sim como certas especialidades médicas, entre rantir o acesso, a qualidade e a resolutividade,
as quais a cardiologia e a pediatria vêm dando no atendimento de saúde à população. Isso sig-
destaque em seus congressos para temas co- nifica levar em conta alguns dos princípios
mumente tratados pela saúde coletiva, como fundamentais da proposta do Sistema Único de
“orientações sobre estilos de vida”, ou “orienta- Saúde, ainda que este sistema esteja já legal-
ções em relação ao grave problema da violência mente instituído praticamente em todo o país.
doméstica”, a Abrasco deve promover maior E mais: sem levar em consideração essas di-
diálogo com estas e outros campos de especia- mensões, não será possível construir uma nova
lidades, dentro da real preocupação com a pro- intersubjetividade entre os sujeitos envolvidos
moção da saúde. na produção da saúde (L’Abbate, 2001a).
Trata-se, enfim de perceber, com um outro Tais estudos, apesar das diferenças de apor-
olhar as relações entre o coletivo e o individual. tes teóricos nos quais se fundamentam, abrem
Trata-se de perceber que, na verdade, elas se muitas possibilidades para processos de inter-
constituem em configurações extremamente venção, na perspectiva da socioanálise. Trata-se
dinâmicas e mutáveis. São microprocessos num de intervenções no interior das organizações de
fluxo molecular permanente e contínuo, como saúde que objetivam transformá-las em espa-
diria Félix Guattari (1987), que atravessam o ços menos burocratizados, não produtores/re-
conjunto das atividades humanas, e dentre elas produtores de indivíduos passivos e submissos.
as relacionadas à saúde. Ou seja, intervenções, nas quais as perspectivas
Enfim, como conclusão, pode-se inferir que do sujeito, da subjetividade e da autonomia se-
as relações entre o coletivo e o individual cons- jam respeitados e até promovidos, desde que
tituem-se em analisadores históricos da maior tais processos estejam, eles mesmos, postos “em
importância para toda a constituição da saúde análise”. É o que vem a seguir.
coletiva e a compreensão do seu campo de sa-
beres e práticas. Analisadores, porque provo-
cam, fazem a instituição saúde coletiva falar, A socioanálise na saúde coletiva:
mostrar suas contradições, seus limites e possi- alguns processos de intervenção
bilidades (Lapassade, 1979; Lourau, 1975)
Apesar de acreditar nas possibilidades de uti-
lização da socioanálise como ferramenta para
A análise institucional na saúde coletiva realizar intervenções em organizações de saúde,
conforme referido no início desta parte, é bas-
Em relação à segunda dimensão, assinalada no tante escassa a bibliografia referente a trabalhos
início, observa-se, já há alguns anos, a crescen- de intervenção, tanto na área da saúde e da saú-
te referência, na produção acadêmica da saúde de coletiva. O número de trabalhos nesse senti-
coletiva, de categorias como sujeito, subjetivi- do tanto nas publicações francesas, às quais te-
dade e autonomia, abordadas, seja do ponto de nho tido acesso (Pratiques de Formation e Les
vista teórico (Minayo, 2001), seja a partir de Cahiers de l’Implication) como nas coletâneas
processos microssociais e/ou micropolíticos brasileiras já referidas neste texto é bastante re-
que ocorrem no interior das organizações de duzido.
saúde, tais como: o processo de trabalho como Nesse sentido, algumas experiências das
“trabalho vivo em ato” (Merhy, 2002); a rele- quais participei e continuo participando dire-
vância das relações entre “gestão e subjetivida- tamente são exemplares da possibilidade da
de” (Campos, 1997); a relevância dos proces- utilização da socioanálise em processos de in-
sos pedagógicos (L’Abbate, 1998) e da educa- tervenção em organizações de saúde.
ção em saúde (L’Abbate, 1997); a inter-relação Na perspectiva da capacitação profissional,
entre as dimensões analítica, pedagógica e da coordenei uma intervenção de longa duração
gestão, na construção de um novo modelo de (de 1993 a 1999), realizada a partir de uma en-
atenção para os serviços de saúde (Campos, comenda da direção do Serviço Social do Hos-
2000). pital Universitário da Unicamp, junto a 92 as-
De forma geral, esses vários trabalhos apon- sistentes sociais, que trabalham nos mais diver-
tam para a seguinte direção: sem transformar sos setores do hospital. A análise dessa inter-
as práticas cotidianas dos profissionais dos ser- venção a partir do registro das seções e de en-
271
à expressões, como por exemplo “intervenção Embora não se pretenda que, ao final da
institucional” não significa intervenção socioa- disciplina, os alunos tornem-se socioanalistas,
nalítica. é provável que alguns se interessem em adqui-
No sentido de contribuir para aprofundar rir mais experiência nesse campo, e nesse caso
o conhecimento sobre análise institucional, co- seria necessário pensar em outras formas de
mo professora da área de ciências sociais, co- “especialização”. A questão da “especialização”
mecei a ministrar, desde 2001, a disciplina Aná- em análise institucional e em socioanálise se dá
lise Institucional: Teoria e Prática. Essa tarefa entre nós de um modo bastante informal, e ela
concretizou-se, sobretudo, devido à realização ocorre na conjunção da teoria e da prática, a
de um pós-doutorado de setembro de 1999 a partir da experiência de alguns grupos que se
dezembro 2000 no Laboratório de Pesquisas constituem em torno de trabalhos de interven-
em Análise Institucional, da Faculdade de Ciên- ção e de seminários, de forma não muito dife-
cias da Educação da Universidade Paris 8-Saint rente do que ocorreu com os analistas institu-
Denis, França, sob a direção dos professores Re- cionais franceses (Lourau et al., 1972).
né Lourau e Antoine Savoye, o que me permi- Nesse sentido, têm sido desenvolvidas e de-
tiu participar efetivamente das atividades do batidas, dentre outras, análises sobre temas de
laboratório, e conhecer a bibliografia sobre aná- interesse para o campo da saúde coletiva, a par-
lise institucional e socioanálise, praticamente tir das inserções dos alunos nos diferentes ser-
inexistentes no Brasil. A disciplina vem desper- viços de saúde de Campinas, enfatizando os as-
tando bastante interesse entre os estudantes de pectos micropolíticos e da constituição de gru-
pós-graduação em saúde coletiva, e de outros palidades, seja das equipes, seja dos usuários,
profissionais das áreas de educação e assistên- sempre se reportando às dimensões mais am-
cia social, alguns participando na condição de plas das transformações pelas quais passa o Sis-
alunos especiais. Dado o interesse dos estudan- tema Único de Saúde atualmente.
tes, venho ministrando disciplinas e seminários Destaca-se na realização desses diversos tra-
complementares, que no semestre, iniciado em balhos a relevância da utilização do conceito de
agosto de 2002, contou com uma turma de 20 instituição em seus três momentos (instituí-
alunos, e já cursaram a disciplina cerca de 35 do/instituinte/institucionalização), a percep-
alunos. ção da transversalidade, a elucidação dos anali-
O processo didático da disciplina tem sido sadores, e, sobretudo para os alunos que optam
o de introduzir os principais conceitos, de por analisar situações relacionadas diretamente
acordo com sua gênese teórica e histórica, arti- a sua situação de trabalho, o contato com suas
culando-os com textos que descrevem e anali- próprias implicações, o que lhes permite maior
sam intervenções institucionais, sobretudo as clareza das suas possibilidades e/ou impossibi-
coletâneas produzidas por grupos de profissio- lidades de atuar e intervir, principalmente face
nais do Rio de Janeiro, citadas acima. aos processos de sobreimplicação (Lourau,
O contato com o referencial da análise ins- 1994 e 1997; Guattari, 1987).
titucional e da socioanálise tem levado os pro- Enfim, as experiências, brevemente relata-
fissionais/estudantes a utilizá-lo, seja como ele- das, de investigação, intervenção e formação
mentos relevantes para a investigação dos te- que se utilizam do referencial da análise insti-
mas de suas dissertações e teses, seja para com- tucional e da socioanálise aplicadas ao campo
preender melhor os processos institucionais da saúde coletiva em Campinas demonstram
nos quais estão inseridos e a ter mais condições uma articulação promissora entre as instâncias
para atuar, ainda que na perspectiva de uma da academia e as do poder público, que geren-
“análise interna” (Boumard, 1988). Muitas ve- cia os serviços de saúde, no sentido de contri-
zes, é com base nessa primeira aproximação buir para o seu constante questionamento. Os
que os alunos vão elaborando, ao longo do cur- sujeitos imbuídos do desejo de transformar os
so, o trabalho da disciplina, unindo assim ex- processos cotidianos das instituições poderão
periência prática e reflexão teórica. Os estu- encontrar nesse referencial meios potentes pa-
dantes têm sido instados a utilizar como ins- ra colocar tais processos em análise constante,
trumento empírico o “diário institucional”, de o que poderá fazer com que a saúde coletiva te-
acordo com Hess (1988) e inspirados na im- nha mais condições de enfrentar criticamente
portância do diário de pesquisa, conforme Lou- os desafios permanentes com os quais se de-
rau (1988). fronta.
273
Referências bibliográficas
Abrasco 1983. Contribuição da Abrasco para análise do L’Abbate S 1998. Educação e sociedade: uma abordagem
plano de reorientação. Assistência à saúde no âmbito pedagógica para a odontologia, pp. 213-228. In C Bo-
da Previdência Social. Ensino da Saúde Pública, Medi- tazzo & SFT Freitas (orgs.). Ciências sociais e saúde
cina Preventiva e Social no Brasil 2:101-107. bucal: questões e perspectivas. Editora Unesp-Edusc,
Baremblitt G 1997. Tentatives de formation d’agents ins- São Paulo-Bauru.
tituants: résumé de trente-cinq ans d’expériences. L’Abbate S 2000. Trabalho de grupo e instituição. Relatório
Pratiques de Formation (Analyses) 34:25-29. de Pesquisa. LRAI, Paris 8; Faculdade de Ciências
Barros RDB 1994. Grupo: a afirmação de um simulacro. Médicas, Unicamp, Campinas, 116pp.
Tese de doutorado em psicologia clínica. PUC/São L’Abbate S 2001. Prática educativa e socioanálise: a for-
Paulo. São Paulo, 447pp. mação dos profissionais de saúde. XVII Conférence
Belisário AS 2002. Associativismo em saúde coletiva: um Mondiale de Promotion et Éducation pour la Santé,
estudo da Associação Brasileira de Pós-Graduação em vol. 1. Paris.
Saúde Coletiva/Abrasco. Tese de doutorado em saúde L’Abbate S 2001a. O exercício de intersubjetividade como
coletiva. Departamento de Medicina Preventiva e So- mediação entre grupos sociais e gestores nas práticas de
cial, Faculdade de Ciências Médicas, Unicamp. Cam- saúde. Conferência proferida no II Seminário sobre
pinas, 324pp. Educação e Saúde no Contexto da Promoção da Saú-
Boumard P 1988. L’analyse interne, pp. 95-106. In R Hess de e II Encontro Nacional de Educação Popular e
& A Savoye (orgs.). Perspectives de l’analyse institu- Saúde. Universidade de Brasília, Brasília.
tionnelle. Éditeurs Librairie des Méridiens Klinck- L’Abbate S 2001/2002. L’argent, un analyseur de l’institu-
sieck, Paris. tion médico-sociale au Brésil. Les Cahiers de l’Impli-
Campos GWS 1997. Subjetividade e administração de cation 5:57-69.
pessoal, pp. 229-267. In EE Merhy & RT Onocko Lapassade G 1979. El analizador y el analista. Editora Ge-
(orgs.). Agir em saúde: um desafio para o público. disa, Barcelona, 246pp.
Editora Hucitec-Lugar Editorial, São Paulo-Buenos Lourau R et al. 1972. Groupes d’ Analyse Institutionnelle:
Aires. les analyseurs arrivent, pp. 1.025-1072. Les Temps
Campos GWS 2000. Um método para análise da co-gestão Modernes 316-317.
de coletivos. Editora Hucitec, São Paulo, 236pp. Lourau R 1975. A análise institucional. Editora Vozes, Pe-
Campos GWS 2000a. Saúde pública e saúde coletiva: trópolis, 294pp.
campo e núcleo de saberes e práticas. Ciência & Saú- Lourau R 1988. Le journal de recherche. Éditeurs Librairie
de Coletiva 5(2):219-230. des Méridiens Klincksieck, Paris, 271pp.
Canesqui AM 1995. As ciências sociais, a saúde e a saúde Lourau R 1993. René Lourau na UERJ. Análise institu-
coletiva, pp. 16-35. In Canesqui AM (org.). Dilemas e cional e prática de pesquisa. Editora da UERJ, Rio de
desafios das ciências sociais na saúde coletiva. Editora Janeiro, 118pp.
Hucitec-Abrasco, São Paulo-Rio de Janeiro. Lourau R 1994. Actes manqués de la recherche. Éditeurs
Carvalho SR 2002. Saúde coletiva e promoção à saúde: PUF, Paris, 236pp.
uma reflexão sobre os temas do sujeito e da mudança. Lourau R 1997. La clé des champs. Éditeurs Anthropos,
Tese de doutorado em saúde coletiva. Departamento Paris, 112pp.
de Medicina Preventiva e Social, Faculdade de Ciên- Melo APJ 2000. Análise das relações do “mundo vidente”
cias Médicas, Unicamp, Campinas. 178pp. com a cegueira – a institucionalização do “corpo ce-
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde/Cebes 1976. Re- go”. Esboço de uma análise de papel, pp. 127-141. In
vista Saúde em Debate 1. HBC Rodrigues, MBS Leitão & RDB Barros (orgs.).
Donnangelo MCF 1983. A pesquisa na área da saúde co- Grupos e instituições em análise. (2a ed.). Editora Ro-
letiva no Brasil – a década de 70. Abrasco: Ensino da sa dos Tempos, Rio de Janeiro.
Saúde Publica, Medicina Preventiva e Social no Brasil Merhy EE 2002. Saúde, a cartografia do trabalho vivo. Edi-
2:19-35. tora Hucitec, São Paulo,189pp.
Guattari F 1987. Revolução molecular: pulsações políti- Minayo MCS 1992. O desafio do conhecimento: pesquisa
cas do desejo (3a ed.). Editora Brasiliense, São Paulo, qualitativa em saúde. Editora Hucitec-Abrasco, São
230pp. Paulo-Rio de Janeiro, 269pp.
Hess R 1988. Une technique de formation et d’interven- Minayo MCS 2001. Estrutura e sujeito, determinismo e
tion: le journal institutionnel (J.I.), pp. 119-138. In protagonismo histórico: uma reflexão sobre a práxis
R Hess & A Savoye (orgs.). Perspectives de L’analyse da saúde coletiva. Ciência & Saúde Coletiva 6(1):7-
institutionnelle. Éditeurs Librairie des Méridiens 20.
Klincksieck, Paris. Moura AH et al. 2002. Análise do trabalho institucional
Hess R & Althier M 1994. L’analyse institutionnelle. Édi- realizado junto às equipes dos Distritos Sanitários e
teurs, PUF, Paris, 130pp. do Hospital Mário Gatti de Campinas/SP/Brasil.
Hess R & Savoye A 1993. L’analyse institutionnelle. Édi- Trabalho apresentado no Seminário Franco-Brasi-
teurs PUF, Paris, 125pp. leiro realizado em Paris 8, França, em setembro de
Kamkhagi VR & Saidon O (orgs.) 1987. Análise institu- 2002.
cional no Brasil: favela, hospício, escola, Funabem. Edi- Nunes ED 1994. Saúde coletiva: história de uma idéia e
tora Espaço e Tempo, Rio de Janeiro, 175pp. de um conceito. Revista Saúde e Sociedade 3(2): 5-21.
L’Abbate S 1997. Comunicação e educação: uma prática Nunes ED 1996. Saúde Coletiva: revisitando a sua histó-
em saúde, pp. 267-292. In EE Merhy & RT Onocko ria e os cursos de pós-graduação. Ciência & Saúde
(orgs.). Op. cit. Coletiva 1(1):55-69.
274