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LICENCIAMENTO AMBIENTAL

MUNICIPAL
Junio Magela Alexandre

LICENCIAMENTO AMBIENTAL MUNICIPAL

Belo Horizonte
Setembro 2017
COPYRIGHT © 2017
INOVA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
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gravações ou quaisquer outros.

Produção
Junio Magela Alexandre

Inova EAD
Bárbara Andrade
Fabiano Rezende Carrusca de Oliveira
Gabriel Borges Salgado
Juliano Loureiro
Matheus dos Santos

Coordenação de Produção
FriendsLab

Revisão Ortográfica
Maurício Almeida

Diagramação e Capa
Brenda Felipe de Freitas Faria
SOBRE O
AUTOR
Junio Magela Alexandre é advogado
Especialista em Direito Ambiental. Membro
da Câmara Técnica do Pacto Federativo do
CONAREDD+. Conselheiro do CODEMA do
Município de Nova Lima. É Diretor Jurídico
da UBCA - União Brasileira de Consultores
Ambientais
Foi Conselheiro do COPAM em Minas
Gerais. Foi membro da Comitiva Brasileira
na Conferência da ONU sobre Mudanças do
Clima em Paris (COP-21) e em Copenhagen
(COP–15). Participou das negociações da
Conferência da ONU Rio+20. Fellow LEAD,
organização internacional de liderança em
sustentabilidade sediada no Reino Unido.
Atuou como consultor no processo de
construção de várias leis em Minas Gerais,
incluindo a Lei Florestal.

Especialidades: Licenciamento Ambiental


| Lei Florestal | Negociação com Órgãos
Ambientais | Resíduos | Direito Urbanístico
| Indústria | Mineração | Terceiro Setor |
Incêndios Florestais | Área de Preservação
Permanente | Reserva Legal | CAR | Autos
de Infração | Loteamentos | Incorporação
Imobiliária | Efluentes Líquidos | Incêndio
| Embargo | Suspensão de Atividades |
Alvará de Funcionamento | Mata Atlântica
| Emergências Ambientais | Importação
e Exportação de Produtos | Produtos
Químicos | Regularidade Ambiental
SUMÁRIO
11.1
HISTÓRICO................................... 06
DESAFIOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO
ESTADO DE MINAS GERAIS NA ATUALIDADE........... 06

1.2 NOVO PAPEL DO MUNICÍPIO NO LICENCIAMENTO


AMBIENTAL..................................................................... 07

22.1 MAIS
BENEFÍCIOS................................. 09
CONTROLES SOBRE O MEIO AMBIENTE
LOCAL.............................................................................. 09

2.2 MAIS ARRECADAÇÕES PARA O

3
MUNICÍPIO....................................................................... 10

DESAFIOS....................................... 11
3.1 ESTRUTURAS DO SISTEMA MUNICIPAL DE MEIO
AMBIENTE.......................................................................... 11

3.2 METODOLOGIA DE CONTROLE DE PROCESSOS DE


LICENCIAMENTO AMBIENTAL...................................... 12
1 Histórico1.1. DESAFIOS DO
LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO Ademais, outro ponto que se observa é que

ESTADO DE MINAS GERAIS NA os Municípios, apesar de terem que lidar


com várias questões ambientais locais, não
ATUALIDADE
tem fonte de arrecadação suficiente para o
estabelecimento da fiscalização à altura das
Pode-se afirmar que o licenciamento
suas necessidades.
ambiental estadual em Minas Gerais se
encontra em crise histórica.
Diante desse panorama, a implementação
do licenciamento ambiental municipal
A falta de estrutura dos órgãos ambientais
em Minas Gerais torna-se uma proposta
aliada a uma legislação que não sofreu
interessante, pois permite enfrentar a crise
modernização nos últimos anos levou o
do licenciamento ambiental, garantindo que
Estado de Minas Gerais a enfrentar uma
os Municípios possam ser os protagonistas
paralisia no licenciamento ambiental nos
da solução: aumentando a sua arrecadação,
últimos anos. Há um enorme contingente
assumindo mais responsabilidades e
de decisões que se acumulam desde, pelo
também mais controle sobre o meio
menos, os últimos cinco anos.
ambiente em nível local.

Por mais que essa realidade estivesse


E como se trata de protagonismo, é muito
absolutamente transparente para qualquer
importante deixar claro que o Município
agente econômico no Estado, houve a
poderá optar por receber ou não o
preferência por criar instrumentos que
licenciamento ambiental, e inclusive definir
garantiam a prioridade da análise de alguns
quais tipologias de empreendimentos serão
empreendimentos mais importantes para
licenciadas localmente. Trata-se de uma
o Estado, sem que se resolvesse toda a
ferramenta que o Município pode decidir se
estrutura do licenciamento ambiental.
irá usar ou não, e em quais intensidade será

A realidade é um contingente enorme de aplicada.


processos a serem analisados, sendo que,
grande parte deles depende de análises
mais simplificadas e têm impactos mais
locais.

06
1.2. NOVO PAPEL DO MUNICÍPIO a Lei Complementar nº 140/2011 trouxe,
NO LICENCIAMENTO AMBIENTAL ficou estabelecido que o Município terá a
atribuição de promover o licenciamento

As atribuições de cada ente da federação no ambiental das atividades de impacto local.

que se refere ao licenciamento ambiental Diz a norma que:

estão delineadas na Constituição da


Art. 9o São ações administrativas dos
República.
Municípios:

Aparentemente, há conflito dessas XIV - observadas as atribuições dos


atribuições, pois o licenciamento ambiental demais entes federativos previstas

está entre as ações que englobam a proteção nesta Lei Complementar, promover o
licenciamento ambiental das atividades ou
ambiental, cuja atribuição a própria
empreendimentos:
Constituição estabeleceu como comum aos
Municípios, Estados e à União. a) que causem ou possam causar impacto
ambiental de âmbito local, conforme
No entanto, para essa situação em que há tipologia definida pelos respectivos Conselhos

conflito aparente entre as atribuições, a Estaduais de Meio Ambiente, considerados


os critérios de porte, potencial poluidor e
própria norma definiu que caberia a uma lei
natureza da atividade; ou
complementar definir quais as competências
de cada ente federativo. b) localizados em unidades de conservação
instituídas pelo Município, exceto em Áreas
Após cerca de vinte e três anos da de Proteção Ambiental (APAs);

Constituição a Lei Complementar nº


140/2011 foi promulgada com a finalidade Dessa forma, bastaria que o Conselho
de fixar regras de cooperação entre a União, Estadual de Meio Ambiente estabelecesse
os Estados, o Distrito Federal e Municípios as definições sobre o que seria impacto
a respeito das funções administrativas ambiental de âmbito local, de acordo
decorrentes do exercício da competência com uma lista de tipologias, para que os
comum relativas à proteção das paisagens Municípios, a partir de então, pudessem
naturais notáveis, à proteção do meio exercer a competência de licenciar as
ambiente, ao combate à poluição em atividades na forma das tipologias definidas
qualquer de suas formas e à preservação pelo Conselho Estadual.
das florestas, da fauna e da flora.
Nesse sentido, o Conselho Estadual
Entre as várias definições importantes que de Minas Gerais estabeleceu por meio

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da Deliberação Normativa COPAM nº a receber com um rol de competências e
213/2017, as definições e tipologias sobre o atribuições sobre o licenciamento ambiental
impacto local, viabilizando que nas situação diretamente. Ou seja, não haverá mais
definidas pela Deliberação Normativa seja auditoria, não haverá mais gestão estadual
assumida a competência diretamente pelo sobre o que o Município está promovendo.
Município. Caberá ao Município ter pleno controle
sobre o licenciamento ambiental do que
Como em Minas Gerais já havia o instituto estiver em âmbito local.
da delegação de competências, em que
o Estado já transferia para os Municípios A SITUAÇÃO ASSEMELHA-SE AO
PLANO DIRETOR, QUE TAMBÉM
a gestão do licenciamento ambiental em
É COMPETÊNCIA MUNICIPAL, OU
seus territórios, ficaram várias dúvidas
SEJA, APESAR DE HAVER NORMAS
se a aplicação daquela nova deliberação DE OUTRAS ESFERAS QUE O
normativa seria a mesma coisa da delegação REGULAMENTAM, QUEM ESTABELECE
como estava sendo feita anteriormente. Mas A REGULAMENTAÇÃO, FISCALIZA,
não, trata-se de questões completamente CONTROLA E ARRECADA COM ISSO É O

diferentes. MUNICÍPIO.

A delegação de competências é uma forma de Dessa maneira, com a definição sobre o que

facilitar a gestão do licenciamento ambiental é impacto local pelo COPAM, os Municípios

no Estado e já era realizada em Minas passam a poder exercer, caso queira,

Gerais há algum tempo. As competências diretamente, o poder que lhes compete

do licenciamento ambiental eram do Estado de exercer o licenciamento ambiental das

e continuavam sendo do Estado, que era atividades diretamente.

o ente responsável pelo licenciamento. O


Município apenas operacionalizava aquelas
atribuições. Por isso, o Estado auditava o
Município, e exercia até mesmo um certo
controle operacional, pois o Município teria
que responder ao Estado sobre todos os
licenciamentos ambientais realizados por
delegação.

Já com a regulamentação do impacto


ambiental de âmbito local, o Município passa

08
2 Benefíciospara os Municípios Estabealecerem o Licenciamento Ambiental
2.1. MAIS CONTROLES SOBRE O
MEIO AMBIENTE LOCAL
estabelecer influência sobre os decisores
estaduais se tinham qualquer apontamento
específico sobre o projeto. Ao Município,
Um grande desafio para a gestão ambiental antes, caberia tão somente acompanhar
municipal sempre foi a centralização do o processo de licenciamento ambiental de
licenciamento ambiental nas mãos do todos os empreendimentos que tivessem
Estado. Mesmo que empreendimentos impactos locais na sua esfera de interesse. O
tivessem seus impactos ambientais exercício do poder licenciador era estadual,
restritos unicamente ao território do e quando o Município precisava do
município, a grande maioria das tipologias, estabelecimento de uma condicionante que
independente do porte, tinha que passar pudesse atender interesses da população
por um processo em nível estadual. local, tinha que solicitar e, talvez ser atendido.

Entre os inúmeros inconvenientes em se Com o advento do impacto local como


estabelecer uma política apenas em âmbito direcionador do processo de licenciamento
estadual está o fato de que o Município, ambiental no Município, é mudado esse
em grande parte dos casos, tem que dar direcionamento. O controle direto da
respostas à população, sem ter total controle atividade licenciadora de tudo aquilo que
e conhecimento sobre os processos. está inserido nas definições estabelecidas
pelo Conselho Estadual sobre impacto
Não raro, processos de licenciamento de local passam a ser de opção do Município.
empreendimentos de loteamentos muito
pequenos tinham que ser avaliados em âmbito Dessa forma, o Município pode
estadual, e portanto, os empreendimentos estabelecer um rol de tipologias que
muitas vezes eram muito mais sensíveis a possui interesse em licenciar, e a partir
questões florestais do que a questões como de tal manifestação, passam as mesmas
trânsito. Tal situação se dá essencialmente a serem obrigatoriamente licenciadas
pelo direcionamento que se dá em uma totalmente dentro do sistema municipal.
análise ambiental de âmbito estadual.
Quando se afirma que o Município terá
Não obstante, os Municípios precisavam mais controle, trata-se de dizer que a

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partir do exercício do licenciamento em nível estadual, fica bastante claro para o
ambiental, o Município poderá participar Município o impacto que as taxas podem ter
ativamente do processo de direcionamento. em seu caixa, uma vez que, por exemplo, uma
licença ambiental de operação corretiva tem
Isso significa que, se há muitos uma taxa no valor de mais de 26 mil reais em
empreendimentos na fila para serem 2017 para um empreendimento em classe 3.
licenciados o Município pode contratar
mais profissionais para garantir a agilidade Note-se que, uma vez que o Município
dos processos; poderá também ter um tenha instituído seu problema sistema
tempo de resposta menor, porque conhece de licenciamento ambiental para aquelas
melhor as características do Município. categorias, deve, nos termos da norma
estadual, manter os custos do licenciamento
2.2. MAIS ARRECADAÇÃO estipulados pelo Estado. Tal situação,
PARA O MUNICÍPIO porém, pode ser discutida, uma vez que
a competência do Conselho Estadual é
A federação conforme estabelecida apenas a de regulamentar o impacto
no Brasil penaliza os Municípios, que local, e não definir os custos aplicáveis,
possuem extenso rol de atribuições, sobrepondo-se ao ente regulador.
e grande responsabilidade, mas ficam
apenas com pequena parcela dos recursos. Dessa forma, os valores que podem ser
atingidos com a arrecadação não podem
Uma das vantagens em se estabelecer ser desprezados, pois significam recursos
o processo de licenciamento ambiental preciosos que podem viabilizar a execução
no âmbito municipal se dá justamente de várias necessidades dos Municípios.
para atuar na reversão desse quadro.

Com o licenciamento, há o pagamento de taxas


que são direcionadas para o s investimentos
locais, tais como o financiamento do órgão
ambiental municipal, criação de estruturas
físicas, melhorias ambientais, e toda a
sorte de atividades nos termos da gestão
municipal definida pelo próprio Município.

Considerando os valores vultuosos das taxas

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3 Desafios
Como
que
para a Estruturação do Licenciamento Ambiental Municipal
visto,
fazem

com
fortes
que os
benefícios
Municípios
Outro ponto que amplia as opções
do Município é o estabelecimento
se interessem pela estruturação do de consórcio entre Municípios, que
licenciamento ambiental no âmbito local. poderia viabilizar a implantação de
órgão ambiental supra-municipal, com
Mas não é simples a instalação do condições de realizar o licenciamento
sistema e a gestão das responsabilidades ambiental num grupo de municípios que
assumidas depende de vários passos tenham similaridade de desenvolvimento
que devem ser tomados pelo Município. econômico, com empreendimentos
de mesma categoria ou base.
3.1. ESTRUTURAS DO SISTEMA
MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE Ainda será obrigatório possuir Conselho
Municipal de Meio Ambiente, entendido
O primeiro desafio é a criação das estruturas, como aquele que possui caráter deliberativo,
pois como previsto na Deliberação Normativa sendo que o Conselho deve ter poderes legais
COPAM nº 213/2017, é necessário que para definir sobre os empreendimentos.
o Município possua órgão ambiental
capacitado para a execução do processo A composição do Conselho Municipal de
de licenciamento ambiental. Entende-se Meio Ambiente deve respeitar a paridade
como aquele órgão que possui técnicos entre governo e sociedade civil, podendo ser
próprios ou em consórcio, devidamente composto por várias organizações presentes
habilitados e em número compatível com na cidade tais como a subseção da OAB,
a demanda das funções administrativas organizações de cunho sócio-ambiental,
de licenciamento e fiscalização entidades educativas, associação comercial
ambiental de competência do município. e industrial, entre outros, na forma da lei.

Ou seja, é necessário um estudo simplificado O regimento interno deve ser completo


sobre as demandas de licenciamento e ter clareza, com definição de suas
ambiental do Município para evidenciar que atribuições, previsão de reuniões ordinárias
há estrutura mínima legal. E ainda, deve e mecanismos de eleição de componentes.
haver órgão com técnicos próprios para tal. Outro ponto muito importante está na

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obrigatoriedade de garantir livre acesso à
informação sobre as atividades do Conselho.

3.2. METODOLOGIA DE
CONTROLE DE PROCESSOS DE
LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O Município deve contar com uma


metodologia para andamento do processo
de licenciamento ambiental que garanta
o atendimento de normas e padrões
estabelecidos em outras esferas de governo.

Na prática, deve-se ter um fluxograma


de andamento do processo que
garanta o atendimento da legislação
municipal, em especial a urbanística,
mas também é necessário verificar
se há questões como supressão de
vegetação em biomas especialmente
protegidos ou outorgas cuja competência
continua pertencendo ao Estado.

Adicionalmente, a metodologia de
gestão do licenciamento ambiental no
Município deve conter obrigatoriamente a
possibilidade de duplo grau de jurisdição
sobre as decisões tanto do licenciamento
ambiental quanto da fiscalização. Isso
importa necessariamente na formação de
um órgão especial no Conselho Municipal
de Meio Ambiente que possa revisar os
julgamentos já realizados pelo Conselho.

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