INTRODUÇÃO
MANUAL
SISTEMA CONSTRUTIVO...................................... 10
FORMULAÇÕES.................................................19
Argamassas..................................................................20
Argamassas para utilização em edifícios antigos..........20
TÉCNICAS DE APLICAÇÃO........................23
Tratamento prévio do suporte.................................24
Aplicação argamassas de emboço..........................24
Preparação da argamassa..................................25
Azulejos............................................................26
Juntas........................................................................28
Com o objetivo de preservar este valioso património edificado, nas suas várias vertentes e sublinhar
a sua importância, pela quantidade e variedade da sua componente cerâmica, incidindo sobretudo
no azulejo de fachada, datado dos finais do século XIX e princípios do século XX, no ano 2000, a
Câmara Municipal de Ovar criou e implementou o Atelier de Conservação e Restauro do
Azulejo (ACRA).
As iniciativas desenvolvidas pelo ACRA representam uma mais-valia turística para o concelho de
Ovar e têm merecido a atenção de investigadores desta área, uma vez que a autarquia vareira é a
única Câmara do País que dispõe de um Atelier especificamente criado para
investigar, salvaguardar e recuperar, de forma pró-ativa, o património cerâmico
oitocentista. Por esta razão tem servido de exemplo, para outras autarquias - Aveiro,
Porto, Espinho, Lisboa e Montijo - e instituições - Museu da Polícia Judiciária, Universidade de
Aveiro, Universidade Católica, Universidade Portucalense, Instituto Superior Politécnico de
Tomar e Laboratório Nacional de Engenharia Civil – pelas boas práticas desenvolvidas ao
longo dos últimos anos em prol da salvaguarda e recuperação da azulejaria de
fachada.
Desde a sua criação, o ACRA tem vindo a disponibilizar à população, empresas e escolas um
conjunto variado de ações e medidas de salvaguarda e preservação. Em função das
características do edifício azulejado e do seu estado de conservação, os projetos dividem-se em
ações de prevenção, conservação e restauro.
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ŸProdução de materiais pedagógico-culturais para divulgação, para ofertas institucionais ou para
venda ao público;
ŸAções de formação (profissional e ocupacional), como técnicas de pintura de azulejo, dirigidos
aos munícipes, no geral e aos docentes dos Estabelecimentos de Ensino da região.
Salienta-se que, entre 2002 e 2010, o Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo intervencionou,
no âmbito de ações de conservação e restauro, cerca de 96 fachadas de edifícios no concelho de
Ovar, o que implicou a execução de 6.000 azulejos.
Atelier de
3 Conservação
1 e Restauro
do Azulejo
1 Câmara
2 Municipal
de Ovar
Capela
3 de Sto.
António
06
07
PROJETO DE VALORIZAÇÃO EMPRESARIAL DO AZULEJO
TRADICIONAL DE OVAR
08
Os azulejos antigos são um bem patrimonial,
sejam datados dos séculos XV, XVI, XVII,
XVIII ou sejam de produção mais recente,
nomeadamente a azulejaria de fachada
produzida e aplicada no século XIX e no
princípio do século passado.
O presente documento visa fornecer as
diretrizes básicas para a intervenção ao nível
das argamassas de assentamento de azulejo
antigo em fachadas.
As construções tradicionais
caracterizam-se pelo recurso aos
materiais presentes em cada
região, com exceção dos materiais
Sistema construtivo tradicional de Ovar composto por alvenaria em xisto e argamassa de saibro e cal
imprescindíveis para a
composição das argamassas
quando inexistentes localmente.
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COMPONENTES
DAS ARGAMASSAS
LIGANTES partir da adição de água ao CaO.
Se a água for adicionada através
de aspersão lenta e em baixa
Os ligantes utilizados nas quantidade, será produzida cal
argamassas aglomeram as em pó. Caso seja adicionada em
partículas do agregado, criando quantidade abundante,
um produto coeso e com sobrenadando o produto final,
resistência mecânica. será produzida cal em pasta.
Os principais ligantes utilizados
atualmente são a cal aérea, a cal Cal em pó – cal hidratada
hidráulica e o cimento. (Ca(OH)2) produzida através da
adição da quantidade certa de
CAL AÉREA água à cal viva. Deve ser mantida
Tipos em sacos fechados para não
perder as suas propriedades e não
A cal aérea pode ser um material deve ser exposta ao ar.
de origem cálcica (CL) ou
dolomítica (DL). A cal de
utilização mais frequente é de
origem cálcica.
Para além desta divisão, a cal
aérea pode ser dividida em cal
viva, cal em pó (apagada,
hidratada) e cal em pasta.
SCF5086
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Cal em pasta - cal hidratada - CL (cal cálcica) ou DL (cal
(Ca(OH)2) produzida através da dolomítica);
adição de elevada quantidade de - CL90, CL80 ou CL70, para a cal
cálcica, dependendo da quantidade de
água à cal viva. Pode ser mantida
CaO + MgO no produto (acima ou
durante muitos anos, melhorando igual a 90% para CL90, logo, mais
as suas características. pura);
- Q para cal viva, S para cal hidratada,
em pó e S PL para cal em pasta.
Exemplo – CL80 S – cal cálcica, com
valor de (CaO + MgO) ≥ 80%, em pó
(hidratada).
CAL HIDRÁULICA
Tipos
Cal em pasta
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Normalização Contudo, reage também com o CO2
Segundo a norma NP-EN 459-1 (2011) – do ar, de forma análoga à cal aérea.
Cal de construção. Parte 1: Definições,
especificações e critérios de
conformidade, cal hidráulica é CIMENTO
classificada da seguinte forma: O cimento Portland, o mais
-NHL ( cal hidráulica natural), HL (cal
empregue em Portugal, é obtido a
hidráulica) e FL (cal formulada);
- A cal hidráulica natural pode ser partir de uma mistura de
classificada como NHL 2, NHL 3,5 ou calcário, argila , gesso e
NHL 5. Estes valores (2; 3,5; 5) eventualmente algumas
correspondem a resistências mínimas substâncias ricas em sílica,
deste material aos 28 dias segundo a alumina ou ferro. Este material
norma NP EN 459-2. Para além de não deve ser utilizado em
diferenças na resistência mecânica, estes ações de reabilitação devido às
produtos apresentam diferenças na sua
suas características – resistência
composição. Para a reabilitação de
edifícios antigos será mais adequada a mecânica e módulo de
utilização de NHL 2 ou de NHL 3,5. elasticidade elevados, aderência
ao azulejo excessiva e presença
de sais solúveis.
Cal hidráulica
Reação
A cal hidráulica é um ligante
Cimento
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AGREGADOS No caso de haver necessidade de
aplicar uma argamassa de
Os agregados são utilizados com emboço e outra de assentamento,
o objetivo de diminuir a retração, a dimensão dos agregados junto
aumentar a porosidade, ao suporte deve ser mais grossa e
melhorando a permeabilidade ao a camada de assentamento conter
vapor de água, diminuir a grãos mais finos, meia areia (Ø <
quantidade de ligante e melhorar 4 mm) e areia fina (Ø < 2 mm),
a resistência ao gelo. respetivamente. Para as juntas, os
As areias podem ter origem agregados devem ser
natural ou britada e ser de extremamente finos, pó de pedra.
natureza siliciosa - quartzosas
e graníticas -, ou podem ser de ÁGUA
natureza calcária.
A água é essencial quer para a
Devem ser utilizados agregados
produção da argamassa, quer
de proveniência local, secos,
para o humedecimento do
isentos de sais, de matéria
suporte e dos azulejos. É
orgânica, de poeira e de
condição a água não apresentar
elementos muito finos. Será
sais solúveis.
conveniente determinar a curva
granulométrica dos mesmos, de
forma a estarem presentes grãos
de todas as dimensões (curva
contínua) para que a resistência
mecânica não seja
comprometida e a quantidade de
vazios seja o mais baixa possível.
Assim permitirá que a
compacidade seja elevada e a
quantidade de ligante seja
adequada. Os grãos deverão ser
esféricos e angulosos para
proporcionar compacidade e
permitir uma boa ligação ao ligante.
10
CRITÉRIOS A RESPEITAR
PELAS ARGAMASSAS
DE SUBSTITUIÇÃO
À semelhança do que acontece
com as metodologias
desenvolvidas para a conservação
e restauro de revestimentos
cerâmicos, a argamassa de
substituição deve respeitar um
conjunto de princípios e
requisitos com vista a preservar
as técnicas e os materiais das
paredes antigas onde serão
aplicadas.
As argamassas de reparação
deverão garantir
compatibilidade ao nível
mecânico, químico e físico com os
elementos pré-existentes e
apresentar resistência e
Chapisco do suporte
durabilidade, assegurando o
principio da reversibilidade,
para que, no caso de ser necessário
substituí-la, não coloque em risco
ou danifique o conjunto.
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FORMULAÇÕES
Argamassas As argamassas de cal aérea
hidratada (CL90 S) são, por
As argamassas são misturas de enquanto, as mais indicadas. Do
ligante e agregado com água e conjunto de vantagens apontadas
endurecem por reação com o ar destaca-se o lento endurecimento,
(carbonatação) e/ou com a água boa deformabilidade e baixo
(reação hidráulica). módulo de elasticidade; são
Para além do(s) ligante(s) e características que lhes permitem
agregado(s), as argamassas acomodar variações higrométricas
podem ter adições (pozolanas, ambientais e pequenas tensões no
fibras, por exemplo) e aditivos suporte sem fissurar.
(introdutores de ar, fluidificantes, As argamassas de cal aérea têm
entre outros). ampla utilização para a
A definição duma argamassa reabilitação de edifícios
passa pela definição dos seus antigos. De forma a garantir a sua
constituintes e pela sua qualidade, para além da qualidade
proporção. Exemplificando, uma dos materiais é importante
argamassa com uma medida em assegurar que são aplicadas sem
volume de cal aérea e três excesso de água. A água deve ser
medidas em volume de areia, tem adicionada apenas para garantir uma
o traço 1:3, em volume. O traço adequada trabalhabilidade.
pode ser dado em volume ou em Devem ser utilizados agregados secos
massa. na sua preparação.
A tabela seguinte apresenta diferentes
Argamassas para utilização formulações consideradas
em edifícios antigos adequadas.
Em ações de reabilitação de
edifícios antigos é necessário ter
cuidados especiais com a escolha
de argamassas de revestimento e
de junta. Estas argamassas devem
ser selecionadas tendo em conta as
questões de compatibilidade.
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Traços usuais das argamassas para azulejo, em volume.
Ligante
Tipo Cal aérea Cal hidráulica natural Agregados
CL 90 S NHL 3,5
Assentamento Cal forte 1 2
Cal 1 3
Hidráulica 1 3
Pré-doseada Formulação variada
Junta Junta 1 1*
* pó-de-pedra
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TÉCNICAS DE APLICAÇÃO
Tratamento prévio do Se a parede a preencher for
suporte extensa, é necessário colocar
guias intermediárias com um fio
- Limpezas. Será necessário auxiliar esticado;
realizar a remoção de sujidades - Marcação das juntas nas
(como poeiras ou tintas), de guias. Nas mestras devem ser
materiais soltos (como fragmentos marcadas as alturas das juntas
pétreos e argamassas degradadas), horizontais, a lápis, esta ação é
de matéria orgânica (macro e principalmente relevante nos casos
microrganismos) e de argamassas em que os azulejos originais
degradadas ou incompatíveis; apresentem variações dimensionais.
- Regularização do suporte.
Nesta etapa, todas as
irregularidades, como cavidades e
espaços vazios, devem ser Aplicação de argamassas de
preenchidas de forma a uniformizar emboço (opcional)
o paramento;
- Humedecimento do suporte O recurso a uma camada de
para melhorar a aderência entre argamassa de emboço deverá ser
este e a argamassa. A não opção quando a espessura entre o
observância desta operação poderá paramento e a face de tardoz do
provocar a dessecação da azulejo for superior a 20 mm.
argamassa (absorção da humidade Após tratamento prévio do
da argamassa pelo suporte); por suporte, o trabalho deve iniciar-se
outra parte, uma molhagem com o humedecimento do
excessiva irá reduzir a transferência mesmo. A argamassa deve ser
de humidade para o suporte e chapada contra o suporte e,
transporte do ligante; posteriormente, a superfície deve
- Colocação de mestras no ser regularizada com uma régua.
suporte para que sirvam de guias ao A superfície deve ter uma textura
azulejo. As réguas são colocadas na rugosa para melhorar a
vertical, nos extremos das paredes, ancoragem da argamassa de
seguras com argamassa, em que as assentamento. Entre a aplicação
guias fiquem de nível com a face de camadas deve decorrer um
nobre do azulejo (limpo). tempo médio de 24 horas.
24
1.Junção do agregado e do ligante
4. Aspecto fina
Preparação da argamassa
25
Azulejos
26
resultando na dilatação
irreversível do azulejo;
- Antes de serem aplicados, todos
os azulejos devem ser
previamente molhados para
impedir a dessecação da
argamassa;
- Há duas formas de aplicar a
argamassa: camada única na face
posterior do azulejo, ou dupla,
com a aplicação
concomitantemente quer na
parede, quer no azulejo. A seleção
do tipo de aplicação depende do
operador, mas a aderência poderá
ver-se melhorada com a dupla
aplicação de argamassa. Neste
caso, o suporte será “chapado”
com argamassa e o tardoz do
azulejo recebe uma quantidade de
argamassa adequada;
- Após colocar a argamassa no
tardoz do azulejo, deve ser
exercida uma ligeira pressão
contra o suporte, posteriormente,
o azulejo é percutido com um
martelo de borracha, de forma a
levar o azulejo à posição correta e
fazer com que haja um
preenchimento total dos vazios;
Colocação do azulejo
27
Juntas
promover ou acelerar a
degradação da fachada,
conduzindo ao destacamento de
material original ou de
intervenção.
28
Outras indicações:
29
Consolidações finais
AÇÕES DE MANUTENÇÃO
DE ELEMENTOS
CERÂMICOS
A durabilidade de uma argamassa conveniente a sua aplicação de
de assentamento de azulejo forma a impedir a penetração de
depende não apenas de uma boa água pluvial para o suporte. Não
aplicação mas também das ações se devem usar mastiques porque
que, direta ou indiretamente, o irão impedir a evaporação de
afetem. Assim, dever-se-á: eventuais humidades presentes
- Evitar furar, partir ou remover no suporte. Cal com pó de pedra é
azulejos; a argamassa mais adequada;
- Atender ao estado dos restantes - Remover todos os elementos
elementos da fachada, coberturas metálicos presentes no
e sistema de drenagem de águas revestimento;
pluviais, por exemplo; - Tem de ser considerado, ainda,
- Proceder à inspeção do estado o eventual reforço do traço das
de conservação dos azulejos e das argamassas de assentamento nos
argamassas, anualmente, pisos acessíveis, em locais onde
despistando perdas, distorções e haja um histórico de roubo de
abaulamentos; azulejos. Neste caso, é possível
- Em caso de queda de qualquer empregar argamassas de cal
azulejo, o mesmo deverá ser hidráulica natural ou argamassas
reaplicado com argamassas de cal com aditivos pozolânicos.
compatíveis. Se as condições
atmosféricas não forem as
adequadas, deverá a lacuna ser
preenchida com uma argamassa de cal
num traço de 1:3 e, logo que possível, o
elemento deverá ser reaplicado;
- Não proceder a limpezas com
meios mecânicos e químicos que
danifiquem os azulejos;
- Em caso de necessidade, recorra a
técnicos de conservação e restauro;
- Verificar anualmente o estado
de conservação das argamassas
de junta. Sempre que se
encontrem áreas sem junta, é
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Fachada tradicional azulejada de Ovar
Ficha Técnica
Edição e Propriedade
Câmara Municipal de Ovar ©
Abril 2012
Textos:
Ana Luisa Lomelino Velosa | Dep. Eng. Civíl da Universidade de Aveiro
Luis Mariz Ferreira | Dep. Eng. Civíl da Universidade de Aveiro
Maria Isabel Moura Ferreira | Divisão de Cultura da Câmara Municipal de Ovar
Design:
Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Ovar
Fotografias:
Câmara Municipal de Ovar
Frederico Pinto
Impressão:
Audiodecor
contactos:
Atelier de Conservação e Restauro de Azulejo
Rua Heliodoro Salgado | 3880-232 Ovar | tel. 256 581 300
Divisão de Cultura
Edifício do Centro de Arte de Ovar
Rua Januário Godinho | 3880-152 Ovar | tel. 256 509 160