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ESPECTROS do HIDROGÊNIO e do SÓDIO

Thomas Keidji Hiroto - 7581631, Paulo Sobral - 8621081, e João Agra - 1100362 - Grupo GN 03
IFUSP Bacharelado NOTURNO

Prof ANTONIO Domingues dos Santos IFUSP –Física Experimental V - 2º semestre 2014

RESUMO
Com um espectroscópio de reflexão construído no laboratório didático do IFUSP obtivemos espectros
discretos da luz visível emitida lâmpadas de hidrogênio gasoso (H) e de vapor de sódio (Na) a baixa
pressão. Inicialmente calibramos o espectroscópio usando uma lâmpada de vapor de mercúrio (Hg)
usando as raias documentadas na tabela do NIST - National Institute of Standards and Technology.
Do espectro do H obtivemos as transições entre os pares de níveis de energia de acordo com o modelo
de Bohr, estados inicial nI e final nF , pares de níveis associados às linha da série de Balmer na
descrição empírica de Rydberg. Com a relação de Planck-Einstein, E = h f, obtivemos a energia de
ionização do átomo de H. Para o espectro do Na, as séries S (sharp), P (principal), e D (difusa) foram
interpretadas com a mesma fórmula de Rydberg, agora modificada com a correção dos defeitos
quânticos ‘s’, ‘p’, e ‘d. Obtivemos as constantes Rydberg para o H, RH = 10,9 ± 0,2 µm-1, e
para o Na, RNa = 10,9± 0,1 µm-1. Com a constante RH, chegamos à energia de ionização do
hidrogênio, EH = 13,5 eV, resultados em bom acordo com os valores da literatura disponível.

1. Introdução
O espectro da luz emitida por uma substância
aquecida revela a identidade e algumas das
propriedades da amostra estudada. A luz emitida
por gases a baixa pressão submetidos a descargas
elétricas tem uma estrutura relativamente simples
de cores e intensidades exibida em raias
discretas. Uma simplicidade contrastante com a
complexidade do espectro da luz emitida por
gases a pressões elevadas, líquidos e sólidos
incandescentes, os quais apresentam também
espectros contínuos.
Estudamos aqui o espectro de emissão de uma
ampola de gás hidrogênio (H) sob descarga
elétrica, e de uma lâmpada de vapor de
sódio (Na) aquecido. As figura 1 e 2 mostram
fotografias de lâmpadas de H e Na e os
respectivos espectros.
A obtenção e interpretação destes espectros
hoje em dia é uma tarefa rotineira nos
laboratórios, fruto dos avanços conceituais e das
técnicas desde 2ª metade do século XIX. Antes
disso, o cheiro e a sensação de paladar, a dureza
relativa e a elasticidade eram quase tudo que se
podia observar e descrever. [1]
O estado da arte atual começa a ser esboçado
em 1853 com a postulação de Ǻngström acerca
das frequências das raias de luz emitidas e
absorvidas por gases, como o hidrogênio, a partir
de observações das cores do espectro da luz do
Sol. [2] e [3].
Figura 1. Em cima: espectro do hidrogênio.
Em baixo: lâmpada de hidrogênio.
A partir dos anos 1860, a colaboração entre
Bunsen e Kirchoff no estudo dos espectros de
gases e sólidos culmina com a postulação de
Kirchoff das LEIS da espectroscopia, que
podemos enunciar como: 1) SÓLIDOS
aquecidos emitem luz com espectro
CONTÍNUO; 2) GASES quentes emitem luz
com espectro DISCRETO; e 3) SÓLIDOS
quentes com gás FRIO ao redor emite luz em
espectro contínuo DESFALCADO de algumas
raias.
Estas leis formaram as base para estabelecer
consensos, estimulando colaborações e
fomentando avanços, como a caracterização dos
metais alcalinos Césio e Rubídio por Kirchoff e
Bunsen. Estes metais, como o sódio, potássio, e
frâncio (descoberto em 1939) são da mesma

família do hidrogênio na Tabela Periódica, e são
chamados ‘hidrogenóides’.
O desenvolvimento de técnicas óticas e da
compreensão da luz como fenômeno ondulatório
eletromagnético regido pelas equações de
Maxwell, levaram à sintética série de Balmer do
espectro visível do hidrogênio em 1885, e na
generalização de Rydberg em 1888 para outras
faixas do espectro, do infravermelho aos
raios X [4].
A Tabela Periódica, postulada por
Mendeleev em 1869 enquanto escrevia seu livro
de química inorgânica, se consolida no
Século XX com a descoberta do nêutron, um dos
tantos e importantes resultados possíveis com o
advento da Mecânica Quântica em 1925[5].
Relações matemáticas simples entre os
comprimentos de onda das raias do espectro do
hidrogênio foram estabelecidas empiricamente
por Balmer e Rydberg, favorecendo avanços nas
três primeiras décadas do século XX: o modelo
de Bohr para o átomo de hidrogênio, e as
descrições da mecânica quântica para átomos
mais complexos.
Figura 2. Em cima: espectro do vapor de sódio a
baixa pressão. Em baixo: lâmpada de sódio OSRAM
LPS/SOX com 35 W.
O modelo atômico orbital proposto por Niels
Bohr em 1913 - em analogia com o sistema
planetário solar - sugere uma visualização da
produção dessas raias em transições de elétrons
entre órbitas com raios decrescentes – e energias
menores – como mostra a Figura 3. A ideia da
quantização da radiação do espectro contínuo
emitido por cavidades em sólidos surge com a
previsão teórica de Planck em 1900 acerca da
‘radiação de corpo negro, avança com a sugestão
experimental do efeito fotoelétrico por Einstein
em 1905, com o experimento de Rutherford com
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folhas de ouro bombardeadas por partículas α, e
com os desenvolvimentos de de Broglie
convergindo para a Mecânica Quântica de
Heisenberg e Schroedinger em 1925 [5].
Figura 3. Átomo de HIDROGÊNIO.
À esquerda: diagrama de níveis de energia.
À direita: modelo orbital de Bohr.
Objetivo geral
O objetivo deste trabalho é obter a constantes
de Rydberg RRy para os átomos de hidrogênio
gasoso (H) e vapor de sódio (Na) interpretando
os espectros discretos da luz emitida com a
fórmula empírica de Rydberg
λ-1 = RRy (n-2F – n-2I). (1)
Objetivos específicos
1) Calibrar o espectroscópio usando uma
lâmpada de vapor de mercúrio (Hg).
2) Obter os espectros discretos na faixa da luz
visível do gás hidrogênio atômico (H), e
do vapor de sódio (Na).
3) Identificar as raias da série de Balmer do gás
hidrogênio atômico (H), e as raias das
séries S (sharp), P (principal), e D
(difusa)do vapor de sódio (Na).
4) Determinar a constante da fórmula de
Rydberg para o hidrogênio gasoso RH e
para o vapor de sódio RNa.
5) Determinar a energia de ionização do H.
Materiais e Métodos
Usamos um espectroscópio concebido e
montado nas oficinas do Laboratório Didático do
IFUSP, instrumento protegido da luz ambiente
por uma caixa fechada e conectado a um
computador de mesa. Seu interior é mostrado na
figura 4.
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discretas identificadas por números quânticos

inteiros ‘n’ com energia potencial En.

Figura 6- Fórmula de Rydberg

e esboço do átomo de Bohr
A energia En decresce com o raio da órbita,
Figura 4 - Espectroscópio de transmissão.
de acordo com as leis do eletromagnetismo de
Na figura, a trajetória dos raios de luz Maxwel, sintetizada na fórmula empírica de
emergentes da lâmpada L incide no espelho Rydberg. Numa transição entre os estados nI, e nF
plano E1, de onde partem para o espelho esférico o sistema ‘átomo’, sistema elétron-núcleo emite
E2, e de lá até até a rede de difração R. Da rede um fóton com energia E dada pela fórmula de
R, os raios são refletidos até o espelho esférico Einstein-Planck: E = h f = h c/ λ.
E3, de onde saem até o plano C de observação
A análise do espectro do Na segue o modelo
com resolução nominal de 0,2 Ǻ (1 passo)
de Bohr com as correções empíricas, os ‘defeitos
limitada pela folga do mecanismo de translação
quânticos’, constantes fracionárias ‘Q’ - ‘s’, ‘p’ e
com motor de passo. Minimizamos esta incerteza
‘d’ -, valores a subtrair dos estados quânticos
fazendo todas as leituras com a câmara C à nossa
representados pelos inteiros referentes aos
frente sempre se movimentando da esquerda para
estados inicial nI e final nF. Assim, é possível
a direita sobre o trilho de cerca de 30 mil passos
descrever os espectros do Na com a mesma
com velocidade controlada em 10 níveis de
fórmula
intensidade.
λ-1 = RRy [(nF-QF)-2 – [(nI-QI)-2] (2)
A luz incidente no plano C é detectada por onde a constante de Rydberg
uma câmara digital doméstica a cores, webcam RRy = 10,97 373 156 852 5(73) µm-1
PHILIPS modelo SPC 530 NC com sensibilidade é praticamente a mesma para átomos de
mínima de 4 lux, 24 bits de profundidade de cor, elementos alcalinos [5], os hidrogenóides, como
e equilíbrio de branco entre 2600 e 7600 K pela vimos.
Lei de Wien, com ajustes automáticos. Na tela do
computador a janela da câmara tem 644 passos Resultados e análise dos dados
de largura. As raias são observadas com uma Calibração do espectroscópio.
incertezas determinada pela resolução dos A tabela 1 mostra as raias conhecidas do Hg: o
aparatos, 5 passos [≈ 1Ǻ]. comprimento de onda λ (Ǻ) e a intensidade
O espectroscópio foi calibrado a partir do relativa da tabela NIST, mais os valores anotados
espectro de uma lâmpada de mercúrio (Hg), numa reprodução ampliada de fotografia da
figura 5. escala do espectroscópio em lâmina disponível
no laboratório.
Tabela 1. Hg - Raias do Hg :tabela NIST
e medidas IFUSP
tabela NIST IfUSP
λ (Ǻ) Int REL λ (Ǻ)
5791 280 5790
5770 240 5770
5461 1100 5461
4916 80 4916
Figura 5. Algumas raias do espectro de vapor de 4358 4000 4358
mercúrio, com as raias mais fortes: violeta e verde. 4078 150 4078
Para um átomo de hidrogênio, H, a figura 6 3906 300 3655
associa a fórmula algébrica ao modelo planetário 2967 1200 2967
de Bohr, elétrons confinados a órbitas circulares

A tabela 2 mostra a calibração do
espectroscópio, a atribuição das raias observadas
em N (número de passos) aos comprimentos de
onda λ(Ǻ) tabelados.
Tabela 2 – Calibração do espectroscópio: raias
observadas em N (número de passos) versus
comprimentos de onda λ(Ǻ)
A figura 7 mostra a calibração, o ajuste de um
polinômio de 3º grau
λ(Ǻ)= A3 N3 + A2 N2 + A1 N + A0 (3)
pelo método dos mínimos quadrados, com:
A0=(6068±540)Ǻ; A1= (0,013 ±0,11);
A2=(8±7)10-6, e A3=(1,2±1,3).10-10
Figura 7 – Calibração do espectroscópio:
λ(Ǻ) versus N (número de passos)
Espectro do hidrogênio, H.
Na tabela 3 temos as três raias da série de
Balmer observadas para o hidrogênio, H.
Na tabela 4 atribuímos o valor nI=n às raias
observadas, e criamos a grandeza [2-2-n-2] para
determinação de RH usando uma forma equivalente da
equação (2) para a série de Balmer do H
λ-1 = RRy [2-2-n-2] (4)
A figura 8 mostra o ajuste da reta da equação (4),
com λ-1 (µm-1) versus [2-2-n-2], cujo coefieciente
angular é a constante de Rydberg para o H, de acordo
com a equação (1). Obtivemos
RH = 10,9 ± 0,2 µm-1.
4
Tabela 3. Raias do H observadas: λ (N),
λTAB(Ǻ) e intensidades relativas (NIST),
e λCALC(Ǻ) com o polinômio (3).
Tabela 4. Série de Balmer do H: λCALC(Ǻ) da nF=2, n
e [2-2-n-2] para determinação de RH
Figura 8 – Determinação de RH usando a equação (4)
A energia de ionização do átomo de hidrogênio
de acordo com o modelo de Bohr, corresponde à
energia de um fóton capaz de excitar o elétron do
nível fundamental (n=1) até o estado livre (n=∞). De
acordo com a relação de Planck-Einstein
(E=hν=hc/λ), e com a equação (1) temos
λ-1 = RH (5)
Usando h = 6,6260693(11).10-34 J.s para a
constante de Planck, c= 3.108 m/s para a velocidade
da luz, e a constante RH obtida
-1
RH =10,9 µm = 1,09 x 107 m-1
a energia de ionização do átomo de hidrogênio é
E = 6,6260693(11).10-34 J.s .3.108 m/s.1,0868x107 m-1
E= = 2,160 J = 13,5 eV
Espectro do Sódio, Na.
Repetimos o mesmo procedimento para as
raias observadas para o sódio, Na. O esquema da
figura 9 norteia o uso da equação (2) para
obtenção da constante de Rydberg para o Na, e

dos defeitos quânticos p, e s a partir das séries
DIFUSA e PRINCIPAL.
Figura 9 – Série de Rydberg para o RNa,
usando a equação (2)
A tabela 5 mostra as raias observadas λ (N)
no espectroscópio, os valores λTAB(Ǻ) e as
intensidades relativas da tabela NIST, λCALC(Ǻ) com o
polinômio (3), e a diferença ∆λ. (Ǻ). Observamos que
o polinômio se ajusta melhor às raias no centro do
espectro visível. Realçamos em azul as raias da série
DIFUSA, em verde as da série NÍTIDA (sharp), e em
amarelo as da série PRINCIPAL do Na.
A tabela 6 apresenta a série DIFUSA do Na.
-1
Temos λTAB(Ǻ) e nI com os valores λ-1 (Ǻ ) e nI-2]
para uso da equação (2). A constante RNa é o módulo
do coeficiente angular da reta ajustada. O ajuste é
mostrado na figura 10. Obtivemos
RNa = (10,9 ± 0,1) 10-4 Ǻ-1 = 10,9 ± 0,1 µm-1
Tabela 5. Raias do Na observadas: λ (N),
λTAB(Ǻ) e intensidades relativas (NIST),
e λCALC(Ǻ) com o polinômio (3).
5
Tabela 6. Série DIFUSA do Na: λTAB(Ǻ) e nI com os
valores λ-1 (Ǻ-1) e nI-2] para uso da equação (2).
Figura 10 Determinação da constante RNa
para a série DIFUSA do Na
Da equação (2)
λ-1 = RNa [(nF-p)-2 – (nI-d)-2]
com QI = d, e QF = p, com d = 0,01 ~0 (zero), do
intercepto
B=(2,44±0,01)10-4 Ǻ-1 = RNa (nF-p)-2
ou seja
B = RNa (nF-p)-2=2,44±0,01 µm-1
com nF = 3, temos o valor do defeito quântico p
p = 3 – (RNa/ B)1/2 = 0,89.
As tabelas 7 e 8 mostram as duas raias
observadas da série PRINCIPAL, e as duas da série
NÍTIDA do Na.
Tabela 7. Série PRINCIPAL do Na: λTAB(Ǻ) e nI com
os valores λ-1 (Ǻ-1) e nI-2] para uso da equação (2).
Tabela 8. Série NÍTIDA do Na: λTAB(Ǻ) e nI com os
valores λ-1 (Ǻ-1) e nI-2] para uso da equação (2)
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Para a série PRINCIPAL, os dois pontos Referências

determinam uma reta, aqui ajustada com a
[1] ‘periodic table’, ‘gas-filled tube’, e ‘emission
planilha doméstica EXCEL para nF = 3
spectrum’, ‘Rydberg constant’
na equação (2)
http://en.wikipedia.org (acessos setembro
λ-1 = RNa [(3-s)-2 – (nI-p)-2]
2014)
com os defeitos quânticos QI = p, e QF = s.
[2] M B. Rubin, THE HISTORY OF OZONE.
THE SCHÖNBEIN PERIOD, 1839-1868,
Bull Hist Chem, 26, 1 (2001)
[3] M B. Rubin, THE HISTORY OF OZONE. II.
1869-1899 (1) Bull. Hist. Chem 27, 2 (2002)
[4] IFUSP, Laboratório de Estrutura da
Matéria (Física 5, FNC-313) – Espectros de
H e Na, S/D
[5] R Eisberg e P Resnick , Física Quântica,
Ed Campus Ltda., Rio de Janeiro (1979)
Figura 11 Determinação do defeito quântico s
com a série PRINCIPAL do Na
No ajuste da figura 11, temos o intercepto
B = 5.10-4 Ǻ-1 = RNa (nF-p)-2
ou seja
B = RNa (3-s)-2=5 µm-1
então, o valor do defeito quântico s é
s = 3 – (RNa/ B)1/2 = 1,5

Resultados e análise dos dados

Obtivemos aqui a constante de Rydberg para
a série de BALMER do hidrogênio, e para a série
DIFUSA do sódio:
-1
RH =10,9 µm = 1,09 x 107 m-1
e
RNa = (10,9±0,1).10-4 Ǻ-1
= 10,9± 0,1 µm-1
Da referência [1]:
RH = 10,973731568525(73) µm-1
valor aproximado para qualquer átomo. Vemos
que os nossos resultados estão em bom acordo
com a lietartura corrente.
O valor obtido para a energia de ionização do
hidrogênio E = 13,5 eV está em bom acordo com
o valor conhecido E = 13,6 eV [5].
Os defeitos quânticos obtidos
s = 1,5; e p =0,89;
também estão em bom acordo com os valores
sugeridos nas notas de aula: s = 1,37; e p = 0,87.