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SOBRE O
BEHAVIORISMO
SOBRE O BEHAVIORISMO
B .
F. SKINNER
SOBRE O
BEHAVIORISMO
Tradução de
Mama da Penha Villalobos
EDITORA eULTRIX
São Paulo
Título do originai:
ÁBOUT BEHAVfORISM
Copyright© 1974 by B. F. Skinner
A
Ernest Vargas e Barry Bulan
O COMPORTAMENTO VERBAL
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mentar ou pode apresentar uma topografia elaborada sob tipos muito
sutis de controle por estímulo. As contingências que o modelam
podem ser indulgentes (como quando os pais respondem às formas
toscas por que as crianças se aproximam das formas padronizadas)
ou exigentes (como no ensino de dicção). Diferentes comunidades
verbais modelam e mantêm línguas diferentes no mesmo falante, o qual
possui então repertórios diferentes que exercem efeitos semelhantes
em ouvintes diferentes. As respostas verbais são classificadas como
pedidos, ordens, permissões, e assim por diante, dependendo das razões
pelas quais o ouvinte responde; frequentemente, tais razões são atribuí-
das às intenções ou às disposições do falante. O fato de a energia de
uma resposta não ser proporcional à magnitude do resultado contri-
buiu para a crença na magia verbal (as palavras do mágico "Abra-
"
cadabra transformam um lenço num coelho). Respostas fortes sur-
gem na ausência de um público apropriado, como o demonstrou
Ricardo III ao gritar: "Um cavalo! um cavalo! Meu reino por um
"
cavalo! , embora não houvesse ninguém que pudesse ouvi-lo.
Afora um público pertinente ocasional, o comportamento verbal
não requer suporte ambiental. Precisa-se de uma bicicleta para andar
de bicicleta, mas não para dizer "bicicleta". Por isso, o comporta-
mento verbal pode ocorrer em quase todas as ocasiões. Uma conse-
quência importante é que a maioria das pessoas acha mais fácil dizer
"
bicicleta" silenciosamente do que "andar de bicicleta silenciosamen-
te". Outra consequência importante é que o falante se torna também
um ouvinte e pode reforçar amplamente seu próprio comportamento.
Significado e referência
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está no ambiente atual mas numa história de exposição a contingên-
cias nas quais ambientes semelhantes representaram um papel.
Por outras palavras, o significado não é corretamente visto como
uma propriedade ou da resposta, ou da situação, mas sim como pro-
priedade das contingências responsáveis pela topografia do compor-
tamento e do corçtrole exercido pelos estímulos. Para usar um exem-
plo primitivo, se um rato aciona uma alavança para obter comida
quando faminto, enquanto outro faz o mesmo para obter água quando
sedento, as topografias de seus comportamentos podem ser indistin-
guíveis, mas podemos dizer que diferem no significado: para um dos
"
ratos acionar a alavanca significa comida; para o outro, "signifi-
"
"
ca água. Mas estes são aspectos das contingências que puseram o
comportamento sob controle da conjuntura atual. Da mesma manei-
ra, se um rato é reforçado com comida quando aciona a alavanca na
presença de uma luz intermitente, mas é reforçado quando a luz é
estável, então poderíamos dizer que a luz intermitente significa comida
e a luz constante significa água; mais uma vez, porém, trata-se de
referências não a alguma propriedade da luz mas às contingências
das quais as luzes fazem parte.
O mesmo ponto é trazido à baila, mas com um número muito
maior de implicações, quando se fala do significado do comporta-
mento verbal. A função global do comportamento é crucial. Num
padrão prototípico, um falante está em contato com uma situação à
qua! um ouvinte está disposto a responder, mas com que não tem
contato. Uma resposta verbal da parte do falante possibilita ao ou-
vinte responder apropriadamente. Por exemplo, suponhamos que uma
pessoa tenha um encontro marcado, ao qual atenderá pontualmente
consultando um relógio. Se não houver nenhum disponível, poderá
pedir a alguém que lhe diga as horas e a resposta permitirá que ela
responda efetivamente. O falante olha o relógio e diz as horas; o
ouvinte ouve-lhe o enunciado e atende ao seu compromisso. Os três
termos a aparecerem nas contingências de reforço que geram um ope-
rante estão divididos entre duas pessoas: o falante responde ao am-
biente e o ouvinte adota um comportamento e é afetado pelas con-
sequências. Isto só acontecerá se o comportamento do falante e do
ouvinte forem corroborados pelas contingências adicionais organiza-
das pela comunidade verbal.
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grupo tem de poder contar com a palavra, a promessa ou a decla-
"
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meteorologista, as quais são sinais ou símbolos de chuva tanto quanto
as mudanças atmosféricas.
Metáfora-, Vimos que um estímulo presente quando uma res-
posta é reforçada adquire algum controle sobre a probabilidade de
a resposta ocorrer; e que esse efeito se generaliza: os estímulos que
possuam algumas de suas propriedades também adquirem algum con-
trole. No comportamento verbal, um tipo de resposta evocada por
um estímulo meramente semelhante é chamada metáfora. A resposta
não é transferida de uma situação para outra, como a etimologia po-
deria sugerir; ela simplesmente ocorre por causa de uma semelhança
" "
nos estímulos. Tendo dito explode em conexão com bombas ou
balas de estalo, uma pessoa pode descrever um amigo que subita-
"
mente se comporte de maneira violenta como explodindo de raiva
"
.
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vcl descobrir o referente em qualquer caso isolado. Não precisamos
negar, como Guilherme de Ocam e os nominalistas, a existência das
entidades abstraías e insistir em que tais respostas são meramente
palavras, O que existe são as contingências que colocam o compor-
tamento sob o controle de propriedades ou classes de objetos defini-
dos por propriedades. (Podemos determinar que uma resposta singu-
lar está
sob o controle de uma propriedade nomeando-a. Por exem-
"
plo, se mostrarmos um lápis a uma pessoa e perguntarmos Que
"
cor é esta? ela responderá à propriedade especificada como cor
,
"
Sentenças e proposições
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ças conteria simplesmente outras sentenças com os mesmos signifi-
cados.
ções ou instruções. Instruir" uma gata para que abandone suas crias
aplicando-lhe um choque elétrico numa parte do cérebro não trans-
mite uma instrução que estivesse antes na mente do cientista; o cho-
que simplesmente produz um efeito (ura jato de água fria produziria
o mesmo efeito). A descrição que von Frisch fez da linguagem das
abelhas (descrição que se está tornando cada vez mais suspeita) não
o transforma num Champollion a decifrar a pedra da Rosetta.
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isoladamente. O linguista atribui esses elementos à sintaxe ou à gra-
mática. Fá-Io como parte de uma análise das práticas de uma dada
comunidade verbal análise da qual extrai regras que podem ser usa-
,
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comportamento foi emitido, negligenciamos o significado para o fa-
lante ou autor, e quase metade do campo do comportamento verbal
escapa assim à nossa atenção. Pior ainda, pedaços de fala regis-
trados são deslocados para compor novas "sentenças", as quais são
em seguida analisadas quanto à sua verdade ou falsidade (em termos
de seu efeito sobre um leitor ou ouvinte), embora nunca tenham
sido geradas por um falante. Tanto o lógico quanto o linguista ten-
dem a criar novas sentenças dessa maneira, a que tratam então como
se fossem os registros de um comportamento verbal emitido. Se to-
"
marmos a sentença O Sol é uma estrela" e colocarmos a palavra
" "
não no lugar apropriado, nós a transformamos em "O Sol não é
"
uma estrela ; ninguém emitiu, porém, esse exemplo de resposta verbal
e ela nio descreve um fato nem expressa uma proposição. É sim-
plesmente o resultado de um processo mecânico.
Talvez não haja nenhum dano em brincar dessa forma com sen-
tenças ou em analisar os tipos de transformações que tornam as sen-
tenças aceitáveis ou não para o leitor comum, mas ainda assim é
uma perda de tempo, particularmente quando as sentenças de tal
modo geradas não poderiam ter sido emitidas como comportamento
verbal. Exemplo clássico é um paradoxo como Esta sentença é fal-
"
"
sa o qual parece ser verdadeiro se for falso e falso se for verdadeiro.
,
resposta não basta, de vez que não existia até ser emitida. Aquilo
que o lógico e o linguista consideram sentença não constitui neces-
sariamente comportamento verbal, em qualquer sentido que exija uma
análise comportamental.
As regras transformacionals que geram sentenças aceitáveis para
um ouvinte podem ser interessantes, mas mesmo assim é um erro
supor que o comportamento verbal seja gerado por elas. Assim, po-
demos analisar o comportamento de crianças pequenas e descobrir,
por exemplo, que parte de sua fala consiste de uma pequena classe
de "modificadores" e uma classe muito mais ampla de "substantivos".
(Este fato do comportamento verbal se deve a contingências de re-
forço organizadas pela maioria das comunidades verbais.) Não se
"
segue daí que a criança forma uma frase nonvnal de certo tipo (...)
selecionando, em primeiro lugar, uma palavra da grande classe dos
"
substantivos Esta é a reconstrução que o linguista faz após o fato.
.
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Desenvolvimento. Uma preocupação indevida com a estrutura do
comportamento verbal encorajou a metáfora do desenvolvimento ou
crescimento. A extensão do enunciado é representada como uma fun-
ção da idade e os traços semânticos e gramaticais são observados à
"
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ções de estímulos aparecem em novas situações, e as respostas que
as descrevem podem nunca ter sido dadas antes pelo falante, ou lidas
ou ouvidas por ele na fala de outrem. Há muitos processos com-
" "
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