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Universidade Federal de Pernambuco

Profº Cid Vasconcelos


Aluna: Débora Araújo de Vasconcellos
Cinema Mundial 1

Filme: Gone With the Wind (...E o vento levou) Ano: 1939 Direção: Victor Fleming
Gênero: Romance Histórico Produção: Selznick International Pictures em parceira
com a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) Distribuição: Metro-Goldwyn-Mayer
(MGM)

Durante os 2 primeiros minutos da película observa-se a placa com os dizeres


“Overture” (Abertura) ao fundo uma paisagem de uma árvore, um cercado e um campo que
conjuntamente a música tocada remetem uma ideia bucólica do ambiente rural norte-
americano onde a história é ambientada.
Após esse momento iniciam-se os créditos do filme com um foco da lente em uma
placa de uma casa com os inscritos “Selznick International Pictures”, o quadro seguinte
apresenta vários homens negros com roupas gastas arando uma gigante plantação, nos dando
indícios sobre o período histórico cujo qual a história se passa, por essa imagem já inferimos
que no momento o modo econômico vivido no campo é o da manutenção de plantations
(latifúndios onde se prepondera a monocultura para exportação) e a mão-de-obra utilizada é a
escrava, sendo esta majoritariamente negra. Em seguida surge o nome do filme, onde a fonte
da letra utilizada possui um efeito de “vento” e o letreiro corre na horizontal dando a sensação
de estar sendo “levado” pelo “vento”, ao fundo a paisagem do campo dando enfoque ao céu.
No quadro seguinte surge a imagem de um grande pasto onde vários cavalos se
alimentam da grama e os nomes dos atores passam verticalmente, enquanto são apresentados
os nomes dos demais participantes do filme diversas imagens que mostram o clima bucólico e
calmo do campo são exibidas, flores, árvores, moinhos, campo de algodão com escravos
trabalhando, lago e cavalos, todas essas imagens querem levar o espectador a se familiarizar
com a região onde a história é contada, o estado da Georgia localizado no sul dos Estados
Unidos, região marcada pelas plantations, com famílias tradicionais e dependentes do modelo
escravagista, por isso mostra-se nos créditos cada casa das fazendas tradicionais onde as
personagens moram e os nomes dos atores e das respectivas personagens que pertencem a
cada casa/família que passa nos créditos. O que foi descrito até o momento consiste nos 6
minutos iniciais do filme, já percebemos apenas pelos créditos diversos elementos essenciais
para a ambientação na história, a partir dele sabemos que: o ambiente é rural, vivem sob o
sistema econômico das plantations, a escravidão ainda está presente como principal força de
trabalho e mantenedora do sistema vigente, as grandes casas tradicionais nos suscita que os
seus residentes são da classe economicamente dominante, o bucolismo nos dá uma ideia
romântica do campo, e até a música que inspira um aspecto nostálgico em conjunto com as
belas imagens rurais.
Após os créditos surge a seguinte frase: “Houve uma terra de cavaleiros e campos de
algodão, denominada “O Velho Sul”... Neste mundo, o galanteio fez sua última mesura...
Aqui foram vistos pela última vez: cavaleiros e suas damas, senhores e escravos... Procure-os
apenas nos livros, pois não passam de um sonho a ser relembrado. Uma civilização que o
vento levou...”. Está frase que inicia o filme afirma e confirma os aspectos simbolizados pelas
imagens dos créditos, uma imagem bucólica do campo, uma ideia romantizada da vida rural
sob o regime escravocrata, uma ideia saudosista acerca dos costumes das damas e cavaleiros
que dominaram este período da história. Esse sentimento saudosista é essencial para nos
aproximar futuramente da personagem principal e dos acontecimentos que irão afligi-la.
Após a exibição da frase descrita acima, inicia-se a narrativa do filme, surge uma
criança correndo atrás de uma ave em frente a uma grande casa e a câmera vai focalizando
como se você estivesse entrando na casa junto com ela, assim ela focaliza em dois rapazes
vestidos com um traje de época de forma elegante denotando o pertencimento a classe
dominante, e no meio deles está uma jovem mulher trajando um longo vestido branco e
armado (chamada Scarlett O’Hara interpretada por Vivian Leigh), eles conversam sobre a
guerra que está para chegar (a guerra civil norte-americana), a jovem nega que irá haver uma
guerra e pede para os rapazes pararem de falar neste assunto os ameaçando com a sua retirada
do local consequentemente impossibilitando-os da sua belíssima presença. Eles continuam
falando sobre o assunto ela se levanta chegando à porta eles imploram para que continue com
eles e começam a falar sobre um churrasco que será dado por uma das famílias da região na
fazenda de Twelve Oaks, um importante evento social para aquelas famílias. Eles a convidam
para acompanha-los na festa, ela diz que irá pensar e então nega dizendo já ter se
comprometido, eles então revelam que Melanie Hamilton está vindo de Atlanta para a festa,
Scarlett faz pouco da informação, então eles revelam que será anunciado o casamento de
Melanie com Ashley Wilkes. Importante destacar nesse diálogo é que o nome e sobrenome
das personagens são ditos de forma clara e logo no início, inclusive as personagens que não
estão em cena e são citadas, fazendo com que tenhamos familiaridade com as mesmas.
Após receber a notícia do possível noivado de Ashley, Scarlett concorda em ir com os
dois rapazes (que são irmãos) e se levanta e caminha para fora da varanda com o semblante
transtornado, a partir disso fica bastante claro que Scarlett ama Ashley e acredita que ele a
ama também. Ao se retirar da casa surge na janela uma mulher negra gorda e com roupas que
se assemelham a um uniforme doméstico, ela grita para Scarlett dizendo que ela não pode sair
sem estar agasalhada e que deveria convidar os rapazes para o jantar em nome da educação
que lhe foi dada, Scarlett continua andando e diz que irá esperar seu pai chegar e ignora a
outra mulher, assim a câmera enquadra o rosto da negra e em seguida passa para a cena
seguinte de forma a sobrepor uma imagem pela outra lentamente, a imagem seguinte são duas
crianças negras balançando um sino que indica o término do horário de trabalho no campo e
mostra um leve conflito de papel, quando um dos trabalhadores negro diz que o horário
acabou e outro rebate que só este poderia dizer isso, pois este seria o feitor. Esse momento de
troca de uma cena para outra foca na escrava doméstica para os escravos da roça,
demonstrando a dedicação destes as suas funções e o quanto se preocupam com o bom
funcionamento da vida dos seus patrões.
Em seguida mostra-se um homem de meia-idade correndo e saltando com seu cavalo,
Scarlett corre para ele e percebemos ser o seu pai, ele pergunta se ela o estava espionando e
iria entrega-lo para a sua mãe por estar pulando cercas com o cavalo, ela o responde dizendo
não ser sua irmã Suellen (novamente é dito o nome de uma personagem não em cena)
assegurando o segredo do pai. Em seguida o questiona sobre o churrasco em Twelve Oaks e o
pai informa que o evento será para discutir sobre a guerra, novamente Scarlett rebate que a
guerra é idiota e questiona quem serão os convidados, o pai confirma o que foi dito pelos
garotas e informa que Melanie e seu irmão Charlie estarão de visita na região, Scarlett
adjetiva negativamente a Melanie e o pai diz que Ashley não acha o mesmo e revela que o pai
de Ashley, John Wilkes, o confidenciou que será anunciado o noivado de Ashley e Melanie,
Scarlett se revolta e o pai a repreende por estar investindo em um homem que não a ama, diz
que o mais importante é a terra e quando ele morrer Tara (a fazenda dos O’Hara) será de
Scarlett, ela o rejeita dizendo não querer a terra, então seu pai discursa sobre o valor da terra
para um homem irlandês e que ela por ser metade irlandesa deve valorizar a terra que só isso é
a garantia de um homem então a câmera é posta atrás das personagens com o pôr-do-sol
deixando todo o céu laranja eles ficam sombreados e a câmera abre o quadro mostrando de
forma panorâmica toda a extensão de terra dos O’Hara em seguida a cena é sobreposta pela
casa grande de Tara. Esses consistem os doze minutos iniciais do filme, alguns elementos
fundamentais do filme ainda não foram apresentados, entretanto diversos aspectos já são
aludidos como: a ruralidade, as famílias tradicionais, a eminente guerra civil, a escravidão, a
personalidade de Scarlett uma jovem linda e que deseja o único homem que não pode ter além
de frívola e preocupada apenas com seus problemas e nunca com os outros, a relação íntima
dos escravos com seus patrões, o seu pai aventureiro e até então rico e feliz com sua terra e o
elemento mais importante “Tara”, a terra de Scarlett que em todo o enredo e principalmente
no final tem um papel de protagonismo como símbolo de valores e costumes que estão em
declínio. Todos os elementos até então se reafirmam, o tempo todo nos remete aos mesmos
símbolos e interpretações, o tempo todo nos reitera daquilo que iremos assistir.
Apesar de até então não ter surgido à personagem Rhett Butler (interpretado pelo astro
Clark Gable) par romântico de Scarlett, e Ashley e Melanie terem sido ainda apenas citados
(personagens principais), acredito que o plot principal do enredo já está dado, na minha
concepção apesar dos romances e intrigas serem elementos importantes na narrativa, em “E o
vento levou” Scarlett não só é personagem principal, mas como todo seu mundo e costumes o
são, a sua narrativa e vivência é o centro do enredo, sendo assim o seu mundo que irá ruir no
decorrer da trama precisa ser destacado no inicio para que seja construído todo um sentimento
nostálgico em relação à terra, ao campo e à escravidão, elementos que serão destruídos com a
guerra mas permanecerão na forma de Scarlett enxergar o mundo, por isso precisam ser o
tempo todo citados, significados, reafirmados, para que possamos nos vincular cada vez mais
com os sentimentos da Scarlett, que são a essência do filme.

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