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Equipe de reflexão/elaboração:
IV- POR QUE E COMO SE EDUCA UMA CRIANÇA PARA LIDAR COM A
VARIABILIDADE DE CONHECIMENTO E PARA CONSTITUIR UMA
POSTURA CRÍTICA PERANTE AS FONTES DE SABER E IDEIAS
DE VERDADE?
O Tempo é uma das marcas do humano mais complexas, mais abstratas e, por
isso mesmo, mais fundamentais da vida. Ninguém pega nem segura o tempo.
Ninguém consegue fazer o tempo parar, mas o tempo regula a vida de todos
nós. Corremos, andamos devagar, aceleramos, descansamos, fazemos
aniversário, envelhecemos, perdemos tempo, gastamos tempo, ficamos
cansados pela falta de tempo. Mas se perdemos nossa orientação no tempo ou
perdemos a memória, como quando acontece um acidente ou um processo de
envelhecimento que leva a doenças da senilidade, nos desorientamos e
passamos a enfrentar graves problemas quanto à própria identidade.
Deixamos de ser nós mesmos e nos confundimos.
Como uma construção cultural, histórica e variável, o tempo nem sempre nos é
ensinado desse modo, o que nos faz pensar, muitas vezes, no tempo como
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seta, passível de ser organizado exclusivamente em função dos marcadores
presentes em nossa cultura ocidental e em função da idéia de progresso.
Mas o tempo projeta-se para cada um de nós a partir de sua passagem no
nosso espaço de vida, ou em diversos espaços que não nos são ligados
diretamente, mas que se manifestam, por diversas razões em nosso estar no
mundo. Tudo isso parece muito simples quando disto desse modo, mas é algo
de alta complexidade. O nosso espaço de hoje é o mesmo espaço de 2 mil
anos atrás, mas sensivelmente distinto, porque resultante da ação de diversas
pessoas, de modos distintos, ao longo do tempo. Num outro exemplo,
poderíamos dizer que só nos é possível datar algo ou contar nossa idade,
porque vivemos numa cultura que possui um calendário que organiza o tempo
em dias, meses e anos. Se isso não existisse, não saberíamos quantos anos
possuímos. Portanto, o tempo também, em sua faceta cultural, é passível de
ser contado e pensado de modo diferente. Educar, para essa compreensão, é
algo que não pode ser resumido ao mero tratamento das datas comemorativas
ou ao tratamento sistêmico de uma sequência de processos e fatos daquilo que
teria acontecido no mundo ao longo de um grande processo de evolução.
O ensino de História se apresenta como primordial na formação identitária dos
nossos alunos, e trabalhar a temporalidade é fundamental para que esses
alunos possam, desde a Educação Infantil, adquirir e desenvolver capacidades,
domínios de pensamento e conceitos que os permitam compreender a ideia de
mudança e elaborar formas de intervir no mundo.
Se, por um lado, a escola tem sido uma instância importante na difusão de
uma perspectiva de tratamento temporal, pautada pela centralidade irrefletida
das datas comemorativas – tema que precisa ser largamente discutido em
suas implicações e efeitos políticos e pedagógicos – por outro lado,
abordagens mais recentes voltadas à organização dos conteúdos em círculos
concêntricos têm pensado o ensino de História com base em uma teoria linear
do desenvolvimento infantil e que despreza a complexidade da temporalidade
contemporânea, marcada por uma vivência complexa de um tempo plural e
simultâneo. De acordo com essa abordagem, para se ensinar História deve-se
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partir do simples para o complexo, do concreto para o abstrato, do próximo
para o distante. Embora esta abordagem possibilite trabalhar o tempo e o
espaço próximo e concreto, percebe-se o risco da simplificação e facilidade
para aprender sem ultrapassar o senso comum, o que, muitas vezes, anula o
sentido do ensinar e do aprender e da própria ação escolar.
O estudo da temporalidade é apresentado como relevante instrumento na
constituição de saberes históricos, uma vez que permite o desenvolvimento de
noções básicas capazes de garantir a orientação no tempo e a compreensão
das projeções de futuro.
A noção de tempo nos coloca diante de uma aprendizagem processual e
complexa, que exige abstrações e domínios de outros conceitos como ordem e
sucessão, duração e simultaneidade. Tais conceitos não são inatos ou simples,
mas necessitam uns dos outros. Tampouco são conceitos que se restringem a
um nível de escolarização, ou que se resolvem de modo efetivo em um
momento do tratamento escolar. Ao contrário disso, pressupõem
sistematização, aprofundamento e medidas que permitam a complexificação de
sua abrangência.
Possibilitar o entrelaçamento entre a história individual e coletiva permite a
localização de tempos e lugares provenientes de antepassados da família dos
alunos. Relacionar a História com acontecimentos de outras épocas exige dos
alunos uma compreensão de tempo histórico que precisará ser construído aos
poucos desde que haja intencionalidade. Portanto, tempo é uma dimensão
correlata da Memória, outro componente fundante e básico da História escolar.
Percebem-se inúmeras compreensões e vivências de tempo num mesmo grupo
social, mas é relevante pensar quais seriam as concepções de tempo dos
nossos alunos? Quais elementos eles usam para marcar o tempo? O que o
tempo representa para esses alunos? Como desnaturalizar essas convenções
de tempo?
Assim, é fundamental, ao longo do processo de escolarização, permitir que os
alunos compreendam que as formas de viver, sentir e pensar o tempo ao longo
da história não são homogêneas e que essa homogeneidade temporal está
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presente não só como marcador das atividades realizadas dentro da escola,
mas também ultrapassa os seus muros, transformando-se em referência para
a vida infantil.
Com isso, é preciso que a escola ofereça inúmeras situações que permitam aos
alunos a construção das múltiplas noções de temporalidade e essas práticas
devem ser uma constante no ambiente escolar.