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Universidade Federal da Paraíba

Departamento de Ciências Jurídicas

Filosofia Geral e Jurídica

Monitor: Antonio Marcos N. Silva1

III Unidade – Exercício II

1. Qual a diferença entre Revolução e Resistência Legal?

Para Kant, a resistência legal é um mecanismo da cidadania ativa,


que parte do conceito de liberdade inata, podendo ser pensada como um
direito constitucional e racional republicano que se relaciona com a “a
garantia de autodefesa da sociedade, na garantia dos direitos
fundamentais e no controle dos atos públicos, bem como na manutenção
do contrato constitucional por parte do governante” no exercício
constitucional de sua liberdade crítica.
Desse modo, Buzanello entende que o direito de resistência ao Estado
estaria implícito em qualquer ordem constitucional.
Portanto, em uma situação hipotética em que a vontade do povo
escolhesse que um tirano que suprimisse a liberdade e agisse de maneira
inconstitucional em seus atos, a resposta kantiana a esse problema seria
essa resistência legal, como uma possibilidade (liberdade crítica e
política) legítima de se lutar (resistir) constitucionalmente, ou seja, dentro
da própria legalidade ante esse poder antirrepublicano.

1 Graduando da Universidade Federal da paraíba, E-mail:


antoniommarcosnascimento@gmail.com.
Já a revolução, para Kant seria confundida como violência deslegitima e
irracional, danosa ao Estado posto que trata de o enfraquece-lo e o
destruir, ao passo que a resistência legal possibilitaria o fortalecimento e
aperfeiçoarão do Estado o republicanizando e na persecução do bem-
comum racional. Posto isto, a ideia defendida é a que a “liberdade crítica
ao Estado no âmbito da estrutura racional kantiana não implica direito a
revolução, a desobediência civil ou a rebelião ou greve política. Ele poderia
se aproximar de uma objeção de consciência que se expressasse como
proposição de uma norma.” Dito isto, jamais a revolução poderia ser
admitida como meio kantiano de reivindicação de direitos.

2. O FUDAMENTO DA LIBERDADE CRÍTICA AO ESTADO PODE


SER DEFINIDO A PARTIR DE QUE PARÂMETROS.

A liberdade crítica pode ser entendida como uma proposição que


surge a partir do conceito de liberdade inata como único direito inato que
antecede o Estado, representando, entretanto, uma radicalização e
ampliação desse sentido. Esta proposição trata justamente do
direcionamento do papel de fundamentação da liberdade do indivíduo no
Estado de direito. É através desta que o indivíduo age de modo reflexivo
frente ao Estado.

O Direito kantiano é racional e essa razão apresenta-se como ordenação


pública de normas, onde o indivíduo é atuante como ser introdutor de
proposições racionais, mantendo vivo o pacto racional de criação do
Estado.

A liberdade crítica, nesse aspecto, pressupõe a reflexão do cidadão no uso


de sua razão no espaço público. Em suma, a liberdade crítica consiste
em uma ampliação da liberdade política do cidadão produzir juízos
políticos (reflexivos) com finalidade de normatizar o Estado
(republicanizá-lo), podendo ser compreendida como poder legislativo.
Parâmetro de legitimidade: liberdade inata e, também política. Parâmetro
legal: resistência legal nos conformes constitucionais. Parâmetro
racional: emissão de juízos políticos reflexivos no espaço público.
Assim: “a “liberdade crítica” ao Estado é uma faculdade político-normativa
que ao criticar o Estado realiza uma vinculação à capacidade de projetar
uma normatização que provenha do próprio povo (o qual é soberano além
do 340423), governante, KANT, AA 06: então, ela decorre da capacidade
de ser livre pressupostamente ao Estado e, através da ampliação da
capacidade de participação política através do manuseio dos princípios do
Direito Racional, mantém a contratualidade política que funda o Estado
através da capacidade crítica do cidadão a esse mesmo Estado, corrigindo-
o, instrumentalizando a obrigação de todo Estado de se republicanizar e
deixar o despotismo. Em um sentido amplo, a “liberdade crítica” visa
democratizar, publicizar e justificar o Estado a um patamar republicano e
constitucional.”

3. O QUE É CIDADANIA ATIVA EM KANT.

Em a Doutrina do Direito, Kant compreende a cidadania em seu


aspecto negativo (cidadania passiva) e no seu aspecto positivo (cidadania
ativa).

Nessa compreensão, embora todos os pactuantes frente ao Estado civil


recebam o status de cidadão, gozando de seus atributos: a liberdade legal
de não obedecer a nenhuma outra lei senão àquela a que deu seu
consentimento; a igualdade civil que consiste em não reconhecer nenhum
superior a si mesmo no povo, senão aquele que tenha a faculdade moral
de obrigar juridicamente quanto ele de obrigá-lo.

Dito isto, apenas alguns gozaram do atributo da independência2, tendo


assim, estes, personalidade civil (não se deixar representar por nenhum
outro nos assuntos jurídicos). Estes cidadãos que gozam do atributo de

2
A independência, para Kant, consiste em poder resistir ao soberano e manter a sua
liberdade frente ao Estado. Ter forças enquanto membro da comunidade política. É
independente aquele que não se encontra subordinado a qualquer outro, seja
intelectualmente ou financeiramente. E independe de também de qualquer outro para
o seu sustento e proteção. O cidadão independente pode se sustentar e cuidar ele
próprio de sua proteção.
independência civil terão, portanto, a capacidade de votar, e desse modo,
ser ativo politicamente (cidadania ativa).

Sendo cidadão ativos, então, aqueles que, no gozo desse atributo, lidam
com o próprio Estado, o organizam ou colaboram na introdução de certas
leis. Lima irá expor a expressão dessa cidadania ativa como a ideia de
participação na esfera pública, seja através do voto no parlamento como
também na liberdade crítica contra o Estado. É a ideia de um modelo de
ação corretiva por parte do cidadão em relação às normas promulgadas
pelo Estado.

Desse modo, todo cidadão ativo deveria votar e participar da discussão


pública, entretanto, exerceria a atividade legislativa apenas através dos
representantes.

4. O QUE É ESTADO CONSTITUCIONAL ABERTO.

Um Estado constitucional aberto para Kant é aquele no qual é


possível a participação cidadã através de uma interpretação radical do
conceito de poder democrático supremo do povo, estando, pois, associada
ao conceito de liberdade política de arrazoar contra o estado, criticá-lo (é
garantido ao indivíduo a liberdade de criticar). A constituição aberta
sendo de total importância de um Estado democrático-republicano, no
qual é ampliada a participação democrático-institucional do cidadão na
política.

Através dessa compreensão é entendido que Kant supera o modelo de


Estado Policial – aquele no qual impera a violência arbitrária; como
também o modelo de Estado de Bem-Estar – que se vale do paternalismo
proselitista para tutelar o povo e legitimar o príncipe.

Portanto, o modelo kantiano de Estado Liberal, com o seu sistema


constitucional aberto traz uma interpretação democrática e não estática
da razão pública, dai se falar em liberdade crítica.

5. O QUE É PODER LEGISLATIVO NA VISÃO DE KANT E QUAL


SUA RELAÇÃO COM A CIDADANIA.
Segundo a Doutrina do Direito, o Estado contem em si três poderes,
um deles é o poder soberano, condizente à soberania, na figura do
legislador. Poder legislativo. Assim:

“O poder legislativo só pode pertencer à vontade unificada do povo. Visto, com


efeito, que dele deve proceder todo direito, ele não deve por meio de sua lei em
poder fazer injustiça a ninguém[...]. Somente a vontade concordante e unificada
de todos, portanto, na medida em que cada um decida a mesma coisa sobre todos
e todos sobre cada um, isto é a vontade popular universalmente unificada, pode
ser legisladora.”

Por essa compreensão, o poder legislativo da vontade unida do povo é


limitado uma obrigação de não lesão a nenhum dos membros da
sociedade, assim, o poder comum não pode ser tirânico ou agir com
ilegalidade, deve respeitar a co-legislação de cada um dos cidadãos que
anuíram com o pacto político, manter a liberdade e a independência do
cidadão implica também em não ofender-lhes na vida privada.

Dito isto, o poder legislativo é o soberano poder de uma República, ou


seja, o poder do povo, é aquele que representa a vontade do povo no
parlamento através dos seus deputados, que têm o papel de guardiões de
suas liberdades e dos seus direitos.

O poder legislativo de relaciona com a cidadania no momento em que


Kant compreende a cidadania não como algo completamente passivo,
mas ao contrário, uma cidadania em seu exercício racional prático nos
limites do Estado constitucional. Havendo assim a ampliação da
participação dos cidadãos no próprio poder. O que antes só acontecia
através do voto, passa então a ocorrer de modo constante (num sentido
de reforma constante a republicanização do Estado. A liberdade crítica
dá ao cidadão um novo status de cidadania, na qual segundo vias
racionais, reformistas e institucionais, o povo, e tão somente o povo pode
fazer frente ao legislador.

6. O QUE É LIBERDADE PARTICIPATIVA EM KANT.


Liberdade participativa é, grosso modo, decorrente à qualificação
da cidadania que permite ao cidadão participar, de forma ativa, no
Estado. Sendo, desse modo, procedente da liberdade inata e política. E
sua qualificação dar-se em virtude do requisito de independência civil.
Logo, consiste na possiblidade do cidadão, por exemplo: votar e ser
votado, se manifestar, ir e vir e criticar o Estado. Podendo ser
melhormente expressada através da liberdade política e liberdade crítica,
que amplia a participação democrático-racional do cidadão no processo
legislativo.

7. O QUE É JUÍZO REFLEXIVO EM KANT.

Nós, nos liames da nossa condição humana, somos seres


aprioristicamente dotados razão. Para tanto, diante a nossa qualidade de
falantes, emitimos opiniões e expressamos a nossa vontade (juízos).

O juízo reflexivo não é determinado, é uma livre interpretação do sujeito


sobre a política, segundo os seus interesses políticos. Assim, os juízos
críticos (juízos particulares de exame crítico) são prático-racionais, que o
cidadão independente, no uso de suas liberdades, empenha no espaço
público, para resistir legalmente ou reformar o Estado, encaminhando-o
ao republicanismo. Nesse sentido, a expressão pública, prática e racional
da vontade na construção da política.

Entende-se em Kant que, “o que justifica moralmente uma ação é o seu


significado prático-racional e não seu conteúdo, e assim, não existe
conteúdo moral antes dos procedimentos racionais de construção da
moralidade, a qual se dá como perspectiva da fundamentação racional
da ação moral do sujeito.

Logo, tem-se que o procedimento moral se constrói pela utilização de


nossa reflexão racional (juízos reflexivos), assim a auto-autenticação da
razão depende do conjunto de membros que enquanto serem racionais
que se pronunciam publicamente sobre questões de interesse coletivo.
Pois, a razão é constituída na publicidade do uso dos juízos particulares
e pelo exame crítico de suas perspectivas de fundamentação, ou seja, de
projeção de normas de conduta em um espaço público criticável por
todos.

8. O ESTADO DE DIREITO RACIONAL KANTIANO É


DEMOCRÁTICO, DEBATA.
9. O QUE É RADICALISMO POLÍTICO DEMOCRÁTICO NA
ACEPÇÃO KANTIANA.

Sobre as questões 8 e 9:

Para Kant, o reformismo constante é exercício do povo através do


parlamento. Entretanto, para além disso, Lima aborda, em sua tese, a
liberdade crítica frente ao Estado como a possibilidade de se oferecer uma
legitimação democrática adicional à República, que é pela própria
etimologia “coisa pública”, buscando condições racionais de liberdade e
igualdade para todos, mas com a participação de todos na construção
dos direitos mediante o exercício da razão nas instâncias públicas.

Sendo assim, a fundamentação política da República em Kant se dá pela


vontade do povo unida, um conceito que se aproxima da compreensão
contemporânea de democracia, visto que incumbe à vontade democrática
o direcionamento do poder legislativo, que é o próprio poder soberano,
exercido através do parlamento. Numa compreensão atual,
possivelmente poderia se considerar esta democracia kantiana como uma
democracia constitucional ou ainda, segundo Maus uma democracia
radical.

Seguindo a compreensão, essa democracia radical buscada por Kant diz


respeito a uma possibilidade de avaliação do governo pelo cidadão, numa
defesa radical do processo legislativo enquanto participação do povo,
atribuindo ao cidadão, concessão de uma capacidade ampliada de agir
juridicamente por si mesmo com mecanismos previstos no Estado de
Direito e não apenas delegada ao parlamento.
Concluindo, a tese propõe que o cidadão possa participar desse processo
de republicanização do Estado, munindo-se da máxima que “cada
cidadão pode atribuir-se o que é seu” mediante um poder de agir em
conformidade à lei jurídica de um Estado Republicano, sendo isso, um
argumento demasiado forte de legitimação democrática do Estado com a
abertura às críticas cidadãs como liberdade política exercida perante o
Estado, nos limites da lei estatal.

E ainda que, embora Kant defenda que no Estado republicano o poder


legislativo assuma as funções de representação política, ele não nega
expressamente a possibilidade de que o cidadão participe do Estado como
como cidadão ativo e contestador dos atos deste, porque o povo “é ele
próprio o soberano, visto que, se o povo é soberano, ele não pode ser
cerceado na busca por direitos. Dito isto, a afirmação é que que, o Estado
kantiano é democrático, se radicalizando através da participação dos
cidadãos nas instâncias, nesse caso, tendo a liberdade crítica, uma
função de ampliar o conceito de cidadania e consequentemente a atuação
cidadã no Estado. Por fim, o radicalismo político-democrático diz respeito
a legitimação do cidadão propor e refletir democraticamente as leis de seu
Estado.

10. O QUE É ESPAÇO PÚBLICO EM KANT, VEJA AS POSIÇÕES DE


HABERMAS E RAWLS PARA CONSTRUIR A RESPOSTA.

Segundo Kant, construir uma racionalidade coletiva como acesso


público à razão comunicada via expressão pública de juízos do
entendimento sobre a Política indica um caminho para a superação das
desigualdades. A razão pública implica na possibilidade de
compartilhamento das possibilidades discursivas de todos através do uso
da linguagem em um espaço público democrático, isto é, com liberdade
de expressão irrestrita, exercitável por todos.
Entretanto, a utilização do uso público da razão3 exige qualificação para
a intervenção no debate público por uma razão esclarecida na
comunidade acadêmica, o que não exclui a ideia da liberdade de
expressão e de pensar como direito público de exercício de expressão por
todos os cidadãos e a melhoria do nível do entendimento geral, visto que
o projeto de esclarecimento é universal.

Sendo assim, Kant considera o direito à liberdade de expressão (pública)


como a base de todo o edifício republicano. Com isso, uso público da
razão implica na defesa do direito à liberdade de expressão contra os
desmandos de um eventual governo despótico de um Estado.

Assim, o Estado em Kant é legitimado pelo procedimento que constrói


valores republicanos, quais sejam: independência, igualdade e liberdade.
Tendo esse Estado, a sua base democrática na utilização pública do
entendimento dos indivíduos em busca da construção da legalidade, o
que legitima a feitura das leis como forma universal do Estado de Direito.

Dito isto, é nítido que o republicanismo kantiano implica no trabalho


constante da razão pública, que seria exercida nas instâncias do voto
formal e na produção dos discursos, também no meio jornalístico e no
meio acadêmico, como fator de direcionamento e crítica da ação estatal.
Assim, o espaço público é fundamental para essa reforma republicana
constante do próprio Estado, agindo, portanto, nele, o cidadão, no
exercício de sua razão pública.

Sendo justamente essa compreensão que influenciará os teóricos do


procedimentalismo constitucional, a exemplo de Habermas e Ralws.

Ralws, defendendo que a interpretação da Constituição deve ser realizada


predominantemente no âmbito de um espaço público democrático pelos
cidadãos instrumentalizando ações perante os tribunais constitucionais.

3
Quanto ao uso da razão, pode se falar em âmbito público ou privado. A questão trata
do uso público, ou seja, no pertinente à aplicação política e cidadã da razão na
construção republicana do Estado. Sendo manifestada, portanto, no espaço público.
Exemplo de espaço público: parlamento. Exemplo de espaço privado: propriedade
privada, casa, família, igreja.
Já para Habermas, essa interpretação ocorre através manifestações
comunicativas públicas em prol de ideais políticos.

Nesse sentido, a razão pública se amplia, para Habermas, na


COMUNICAÇÃO: ideia de ampliação do controle de constitucionalidade
pelo cidadão através da sua autonomia privada liberal, usando de sua
liberdade crítica para agir comunicativamente, no espaço público (esfera
pública) a fim de se chegar a consensos; enquanto que, para Ralws, a
razão pública se amplia na INSTITUIÇÃO, no caso, no judiciário
constitucional: a ideia de jurisdição constitucional representa a chancela
racional de um debate qualificado em torno da proteção da própria lei
maior de um povo.

Sendo assim, o Estado sempre pode ser reformado mediante a atuação


cidadã no espaço público.

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