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1- A integridade humana como direito humano fundamental (âmbito internacional)

A integridade pessoal está inserida na concepção dos direitos humanos


fundamentais.

A visão contemporânea dos direitos humanos busca exatamente os aspectos


práticos e concretos que possam melhorar as condições económicas, culturais e sociais
do homem. A melhoria dessas condições é decorrência natural da declaração universal
dos direitos humanos (proclamada em 10 de Dezembro de 1948)e de outros pactos e
convenções internacionais, especialmente o pacto internacional dos direitos civis e
políticos (adotado em 16 de Dezembro de 1966), do pacto internacional dos direitos
económicos, sociais e culturais (adotado em 16 de Dezembro de 1966) e a convenção
contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas e degradantes
(adotada em 10 de Dezembro de 1984).

O art. 29º nº 2 da DUDH, estabelece que no exercício dos seus direitos e liberdades,
toda a pessoa estará sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente
com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de
outrem e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar
de uma sociedade democrática.

Nesse artigo da DUDH, o estado está autorizado a deter alguém quando este atingir
direito de outrem, desestabilizando a ordem pública e o bem-estar da sociedade
democrática.

Permitida a prisão decorrente de sentença proferida por juiz legalmente constituído,


os tratados internacionais buscaram deliberar sobre a necessidade de aplicação da pena
com garantias à integridade física, psíquica e moral. Assim, art. 7º do pacto internacional
dos direitos civis e políticos, estabeleceu-se que:

Ninguém poderá ser submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis,


desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu
livre consentimento a experiências médicas e científicas.

O art. 8º nº 3 do mesmo diploma estabeleceu que:

Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios; b) a


alínea a) do presente parágrafo não poderá ser interpretado no sentido de proibir, nos
países em certos crimes sejam punidos com prisão e trabalhos forçados. O cumprimento
de uma pena de trabalhos forçados, imposta por um tribunal competente.

Art. 9º do citado diploma nº 1 toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança


pessoal. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá
ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade
com os procedimentos nela estabelecidos (...); nº 4 Qualquer pessoa que seja privada
de sua liberdade, por prisão ou encarceramento, terá o direito de recorrer a um tribunal
para que este decida e ordene a soltura caso tenha a prisão ilegal.
O art. 10º nº1 “ Toda a pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com
humanidade e respeito à dignidade inerente à pessoa humana(...); nº 3 o regime
penitenciário consistirá em um um tratamento cujo objectivo principal seja a reforma e
reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinquentes juvenis deverão ser separados dos
adultos e receber tratamento condizente com a sua idade e condição jurídica.

A convenção contra tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou


degradantes, estabeleceu, dentre os seus trinta e três artigos, o seguinte:

Art. 1º Para fins da presente convenção, o termo tortura designa qualquer acto pelo
qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a
uma pessoa a fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informações ou confissões; de
castiga-la por actos que ela ou terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter
cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo
baseado em descriminação de qualquer natureza, quando tais dores ou sofrimentos são
infligidos por funcionários públicos, ou outras pessoas no exercício das funções públicas,
ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considera
como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequências unicamente das
sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.

A integridade humana da Constituição da República de Angola

Art. 31º (Direito a integridade pessoal)

1. A integridade moral, intelectual e física das pessoas é inviolável.


2. O estado respeita e protege a pessoa e a dignidade humana.

A protecção da integridade pessoal é assegurada constitucionalmente em 3


dimensões: a física, moral e intelectual.

a) O reconhecimento e a tutela da integridade pessoal surgem


indissociavelmente ligados ao reconhecimento constitucional absoluto da
dignidade da pessoa humana (art. 31º nº 2 CRA). A importância
constitucional da tutela, da integridade pessoal, está bem evidenciada na
referência à sua inviolabilidade.

b) A tutela constitucional da integridade pessoal resulta também das garantias


asseguradas no art. 32º, expressamente consagradas como direitos,
liberdades e garantias fundamentais, os direitos à identidade pessoal, a
capacidade civil, a nacionalidade, ao bom nome e reputação, a vida privada
e familiar; nº 2 estabelece as garantias efectivas contra a obtenção e a
utilização abusiva ou contrárias à dignidade humana de informações relativas
às pessoas e às famílias; ainda nos art. 33º e seguintes.

c) Estão ainda asseguradas, com particular destaque para as garantias de


processo criminal constantes do art. 67º, nomeadamente a garantia da
presunção de inocência até sentença condenatória transitada em julgado,
direitos em defesa em processo contraditório, e patrocínio judiciário.

d) No art. 63º encontram-se garantidos os (direitos dos detidos e presos)


segundo o qual, toda a pessoa privada da liberdade deve ser informada, no
momento da sua prisão ou detenção, das respectivas razões e dos seus
direitos, nomeadamente: Sê-lhe exibido o mandado de prisão ou detenção
imitido por autoridade competente excepto em flagrante delito, ser
informada para o local onde será conduzida, informar a família e ao advogado
sobre a sua detenção, não fazer confissões ou declarações contra si própria.
O art. 72º consagra o direito ao julgamento justo e célere

A integridade pessoal consiste no direito a não agressão ou ofensa ao corpo ou


espírito por quaisquer meios. Consagra-se assim uma tutela constitucional firme quer
contra quaisquer ofensas à integridade física independentemente da sua gravidade,
quer contra violações do direito à integridade moral consubstanciadas, em quaisquer
formas de denigrir a imagem ou o nome de uma pessoa ou de intromissão na sua
intimidade, seja com fundamento em razões de ordem econômica, condição social, nível
de instrução, por razões raciais, profissionais, religiosas, sexuais, politicas ou outras.

A integridade pessoal envolve, no quadro dos deveres de protecção dos direitos


fundamentais, uma exigência positiva de actuação dos poderes públicos no sentido de
assegurar uma efectiva tutela material do direito consagrado no art. 31º da CRA,
concretamente a protecção estadual da integridade física, intelectual e moral impondo
a adopção pelo legislador, legitimado democraticamente, de um conjunto de medidas
legislativas.

No que concerne a tutela penal

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