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XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

BENEFÍCIOS DA IMPLANTAÇÃO DE
UM SISTEMA DE DESPACHO: ESTUDO
DE CASO EM UMA EMPRESA DE
MINERAÇÃO
Bruno Costa (UFSCar)
brunoncosta@hotmail.com
Gilberto Miller Devós Ganga (UFSCar)
gilberto_mdg@yahoo.com.br

Um sistema de despacho dinâmico é um software responsável por


realizar o roteamento de veículos de transporte de carga de minérios
numa mina considerando restrições em tempo real, como a quantidade
de material a ser retirado de cada frente de lavra, o número de
veículos e rotas disponíveis. O objetivo desta pesquisa foi analisar os
benefícios da implementação de um sistema de despacho dinâmico em
uma empresa de mineração. A pesquisa baseou-se numa abordagem
qualitativa, utilizando como método principal o estudo de caso único.
Os instrumentos de coletas de dados utilizados foram relatórios de
desempenho gerenciais de organização, bem como um roteiro de
entrevista semi-estruturado, realizado junto a CEO da empresa. Os
resultados gerais da pesquisa apontam que os benefícios obtidos
foram, um aumento no nível de utilização da capacidade, nas coletas
no prazo e uma redução nos custos de transporte. Houve também
outros ganhos, como uma maior confiabilidade de dados históricos, um
controle mais efetivo do processo da planta e uma melhora do clima
organizacional da empresa. Os resultados limitam-se ao estudo de
caso selecionado.

Palavras-chaves: Mineração, sistema de despacho dinâmico, logística.


1. Introdução
Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM, 2009), a indústria de extração mineral
será responsável por investimentos em torno de 47 bilhões de dólares até 2013 e gerará cerca
de cento e sessenta e um mil empregos, além de ter sido responsável por 22% do volume de
exportação nacional em 2008, o que torna o setor de mineração extremamente relevante para a
economia do país.
A mineração é parte da chamada indústria de processo, sendo tipicamente um
empreendimento de porte, intensivo em capital, com equipamentos pesados e grandes plantas
industriais (SACHS; NADER, 2005).
O processo básico dessa indústria consiste em extração mineral, planta de beneficiamento,
tratamento de resíduos e setores de apoio, tais como as áreas de segurança, meio ambiente e
administração. A primeira etapa consiste em extrair o minério do local de origem, lavra,
através da abertura de uma mina, podendo essa ser de céu aberto ou subterrânea, e depois
transportá-lo até a planta onde acontece o beneficiamento. Nessa etapa acontece a separação
físico-química do minério com o estéril através da britagem, moagem, peneiramentos e
tratamentos químicos, entre outros processos (COSTA, 2009).
Tanto em minas a céu aberto quanto em subterrâneas a lavra geralmente é feita em diversas
frentes, de modo que, realizando a mistura dos minérios retirados das frentes, seja possível
fornecer, para a usina de tratamento, um minério que esteja de acordo com as especificações
de qualidade necessárias. Desse modo, é necessário planejar, programar e controlar a
necessidade de recursos que dite o ritmo de lavra (toneladas/h) a ser implementado em cada
frente, atendendo dessa maneira as especificações quantitativas e qualitativas da usina. Nesse
sentido, são utilizados equipamentos como caminhões, carregadeiras e escavadeiras, os quais
apresentam confiabilidade de uso variável, em função de quebra de equipamentos,
manutenção preventiva, atrasos operacionais, etc. (PINTO; MERSCHMANN, 2001).
Nesse contexto, a eficiência na utilização dos ativos desponta como um importante
direcionador de desempenho para que uma companhia de mineração maximize seus
rendimentos (SACHS; DAMASCENO, 2004; SACHS; NADER, 2005).
Para tanto, objetivando maximizar a eficiência na utilização dos ativos de transporte, muitas
empresas utilizam sistemas de roteirização, capazes de traçar a melhor rota levando em
consideração restrições de custos, tamanho da frota, entre outras variáveis (CUNHA, 2000).
Em indústrias de mineração a roteirização de caminhões é um processo importante e
complexo e uma alocação ótima pode resultar em significante economia para a organização.
Nessas empresas, a roteirização pode ser realizada por meio de um sistema de despacho
estático ou dinâmico (RODRIGUES, 2006).
Diante de todo contexto discutido até o presente momento o objetivo deste trabalho é
identificar os benefícios da implementação de um sistema de despacho de veículos de
transporte de carga em uma companhia de mineração privada.
Para mensurar tal objetivo este trabalho valeu-se de uma abordagem qualitativa, utilizando
como método de pesquisa o estudo de caso.
Este trabalho está organizado da seguinte maneira: A seção 2 traz uma revisão bibliográfica
sobre logística integrada, destacando hierarquicamente a atividade de transporte e por fim a
utilização de sistemas roteirizadores na gestão dos recursos desta atividade. A seção 3

2
apresenta uma maior descrição da metodologia empregada na pesquisa, enquanto a seção 4
apresenta o caso estudado. Finalmente a seção 5 tece as considerações finais, encerrando o
trabalho pelas referências utilizadas ao longo do mesmo.
2. Revisão bibliográfica
Esta seção consistiu em uma pesquisa bibliográfica sobre conceitos necessários na elaboração
deste trabalho, estruturados da seguinte forma: Inicialmente foi realizada uma discussão
acerca do conceito de logística, a fim de posicionar a atividade de transporte como um tema
fundamental e relacionado ao objeto de estudo deste trabalho. A fim de uma melhor
compreensão sobre a atividade de “transporte” foi realizada uma descrição dos modais de
transporte, sua gestão, e o uso de tecnologias de informação nesse contexto. Posteriormente
procurou-se compreender o funcionamento de um sistema de roteirização, denominado
sistema de despacho em ambientes de mineração.
2.1 Logística
A pressão do mercado por maior variedade de produtos e melhores níveis de serviço, sem
prejuízo de produtividade, estimulou a adoção de estratégias gerenciais fundamentadas em
soluções logísticas capazes de reverter às ameaças geradas pelo inevitável aumento da
complexidade operacional. Neste contexto, a logística passou considerar de forma sistêmica
todas as atividades que se relacionam de direta ou indiretamente aos fluxos físicos ou de
informação da cadeia de suprimento (FLEURY, 2002).
O Council of Supply Chain Management Professionals, define logística como a parte do
processo da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla, eficientemente, o
fluxo e armazenagem de bens, serviços e informações do ponto de origem ao ponto de
consumo de forma a atender às necessidades dos clientes (CSCMP, 2010).
De acordo com Ballou (2004) um dos motivos para a importância da logística é a criação de
valor, para clientes e fornecedores da empresa. O autor relata que produtos e serviços não têm
valor a menos que estejam em poder dos clientes quando (tempo) e onde (lugar) eles
pretenderem consumi-los.
Uma das formas para criação de valor se da através da boa administração de cada
atividade logística. Quando pouco valor pode ser agregado, torna-se questionável a
própria existência da atividade. Contudo, agrega-se valor quando os consumidores
estão dispostos a pagar, por um produto ou serviço, mais que o custo de colocá-lo ao
alcance deles. Para incontáveis empresas do mundo todo, a logística vem se
tornando um processo cada vez mais importante de agregação de valor (BALLOU,
2004, p. 36).
Para o autor, essas atividades estão representadas na Figura 1.

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Logística empresarial

Abastecimento físico Distribuição física


(gerência de materiais)

Fontes de Fábricas/
Clientes
Abastecimento Operações
•Transporte •Transporte
•Manutenção de estoques •Manutenção de estoques
•Processamento de pedidos •Processamento de pedidos
•Compras •Embalagem Preventiva
•Embalagem Preventiva •Armazenamento
•Armazenamento •Controle de Materiais
•Controle de Materiais •Manutenção das Informações
•Manutenção das Informações •Programação de produtos
•Programação de Suprimentos
Fonte: Ballou (2004).
Figura 1- Atividades Logística

No caso do Brasil, um país de dimensões continentais, o custo logístico representa uma


expressiva parcela do produto interno bruto brasileiro (PIB). Para Lima (2006) esse custo
varia entre 9 e 12% do PIB nacional, podendo alcançar trinta por cento em alguns setores da
economia brasileira.
Deste custo logístico total, o modal rodoviário é o que contribui com a maior parcela.
Segundo Lima (2006), esse meio de transporte representa 59% do custo logístico total, tendo
como maior responsável pelo custo o óleo diesel.
Neste cenário em que a logística representa uma expressiva parte do custo total das
companhias, Waters (2003) relata que é de extrema necessidade a redução dos custos
logísticos para uma empresa ser competitiva. O autor destaca que através da diminuição do
custo relacionado à logística a empresa passa a ganhar competitividade junto a seus
concorrentes por possuir um custo total menor. Como o transporte é um expressivo onerador
nos processo logísticos, a próxima seção objetiva detalhar esse tópico.
2.2 Transportes
O transporte é a atividade logística responsável por mover e alocar,
geograficamente, o inventário. Devido a sua importância fundamental e ao seu custo
visível, o transporte tem recebido considerável importância gerencial. Quase todas
as empresas, desde as menores até as maiores corporações, possuem gerentes de
transporte em seu quadro de funcionários (BOWERSOX et al., 2002, p. 51).
Waters (2003) menciona que o transporte é o principal componente de um sistema logístico.
Uma das formas para justificar essa afirmação é através dos custos, faturamento e lucro. Com
relação às nações com razoável grau de industrialização, diversos estudos e pesquisas
apontam que os gastos com transporte oscilam ao redor de 6% do PIB (LIMA, 2006).
No caso específico de mineração, o custo de transporte na mina oscila entre oito a doze por
cento dos custos totais de produção (COSTA, 2009). Para Rojas e Datz (2003), o transporte
também tem importância no deslocamento de mercadorias do ponto inicial ao final, assim
como no envolvimento dos vários integrantes da cadeia logística, e no caso de mineração, os
planejadores de lavra, os motoristas, os diversos ativos, entre outros. Esse deslocamento
ocorre por meio de diferentes modais de transporte.

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2.2.1 Modais de transporte
São cinco os modais de transporte de cargas: ferroviário, rodoviário, aquaviário, dutoviário e
aéreo. Cada um possui características operacionais específicas e, conseqüentemente,
estruturas de custos específicas que os tornam mais adequados para determinados tipos de
produtos e de operações. Conforme mencionado na introdução, os critérios para a escolha do
modal de transporte devem sempre levar em consideração aspectos de custos por um lado, e
características do serviço por outro (WANKE; FLEURY, 2006).
2.2.2 Gestão de transportes
Para Marques (2002), a gestão de transportes é parte essencial de um sistema logístico. É a
atividade responsável pelos fluxos de matéria prima e produto acabado entre todos os elos da
cadeia logística. Para Rojaz e Datz (2003), uma indústria de mineração utiliza um grande
número de ativos que se encontram dispersos geograficamente, o que torna a gestão de
transportes ainda mais complexa.
Marques (2002) relata que essas decisões podem ser dividas em níveis operacional, tático e
estratégico. O nível operacional está relacionado ao curto prazo, enquanto os níveis táticos e
estratégicos no médio e longo prazo respectivamente. Os fatores que são levados em
consideração em cada um dos níveis são demonstrados na Figura 2.

Níveis de Tipos de decisão de transportes


Decisão

 Definição da rede de Distribuição


Estratégico  Definição de modais de transporte

 Planejamento da Distribuição
Tático
 Análise de frete de retorno

 Roteirização
Operacional  Consolidação de carga

Curto Prazo Médio Prazo Longo Períodos


(dias) (semanal/mensal) Prazo de revisão
(anual)
Fonte: Marques (2002).
Figura 2 - Esquema gráfico de algumas decisões de transportes enquadradas em um dos três níveis de
planejamento.

Uma das formas de gestão de transportes no nível operacional e tático é a utilização de um


Transportation Management System (TMS), o qual assessora as atividades de roteirização e
consolidação de carga (SLO, 2007).
2.2.3 Transportation Management System-TMS (Sistemas de Gestão de Transportes)
Um Transportation Management System (TMS) pode ser definido como um software que
auxilia no planejamento, execução, monitoramento e controle das atividades relativas à
consolidação de carga, expedição, emissão de documentos, entregas e coletas de produtos,

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rastreabilidade da frota e de produtos, auditoria de fretes, apoio à negociação, planejamento
de rotas e modais, monitoramento de custos e nível de serviço, e planejamento e execução de
manutenção da frota (MARQUES, 2002).
O autor menciona que um TMS possui três principais funcionalidades:
 Monitoramento e controle;
 Planejamento e execução;
 Apoio a negociação e auditoria de frete;

Um resumo do TMS de suas categorias, funcionalidades e níveis de decisão são demonstrados


no Quadro 1.
Categorias Funcionalidades Nível de Decisão
Monitoramento de Custos (valor orçado X valor gasto ) e Tático e
Serviço (OTIF- On time in full) Operacional
Monitoramento e Controle
Tracking e Tracing Operacional
Controle do nível de utilização da frota Tático
Tático e
Dimensionamento da Frota Operacional
Roteirização ( Programação dos veículos e determinação das
rotas em um amiente dinâmico) Operacional
Planejamento e Execução Alocação Automática de Carga por Transportadora Operacional
Consolidação da Carga Operacional
Tático e
Frete Retorno Operacional
Emissão de Documentos de Embarque Operacional
Checagem do Valores Cobrados e Pagos pelos
Apoio à Negociação e
Serviços de Transportes Operacional
Auditoria de Frete
Gerar Relatórios para Auxiliar nas Negociações Tático
Fonte: Marques (2002).
Quadro 1- Relação entre as funcionalidades do TMS e os níveis de decisão

Na categoria de Planejamento e execução pode-se observar que uma das funcionalidades é a


roteirização, a qual é para Marques (2002) classificada como programação de veículos e
determinação das rotas em um ambiente dinâmico. O tema roteirização foi descrito na seção
seguinte deste trabalho.
2.2.4 Roteirização
Wu (2007) define roteirização como o atendimento de nós da demanda geograficamente
dispersos, sendo que, para cada ligação entre um par de nós, há distâncias e custos associados.
A fim de atendê-los, utiliza-se uma frota de veículos disponíveis que partem e retornam a um
depósito central. O objetivo é determinar o conjunto de rotas de menor custo que atenda as
necessidades dos nós, respeitando restrições operacionais, tais como capacidade dos veículos,
duração das rotas, janelas de tempo, duração da jornada de trabalho, entre outros.
Cunha (2000) menciona ainda que a roteirização surgiu a partir do problema do caixeiro
viajante, Travel Salesman Problem (TSP), o qual consistia em determinar qual seria a melhor
rota para o vendedor de modo que ele saísse de um ponto inicial e retornasse passando por
todos os locais necessários. Para o autor, ao passar do tempo foram adicionadas novas
restrições ao Travel Salesman Problem chegando as roteirizações dos dias atuais.
De acordo com Waters (2003), existem diversas maneiras para traçar a rota ótima levando em
consideração tais variáveis. Três dessas maneiras são consideradas como as mais complexas,
simulação, sistemas especialistas e modelos matemáticos A primeira é a mais flexível, por

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poder analisar diferentes cenários, já o segundo utiliza-se de um banco de dados especialista
para auxiliar na tomada de decisão do roteirizador. No caso dos modelos matemáticos, ele se
destaca por depender menos da habilidade humana do roteirizador, podendo sugerir melhores
resultados. A adoção de tais maneiras depende aonde será implementado. Para o autor citado,
todas as maneiras tiveram sucesso em empresas de setores diferentes.
No caso da indústria de mineração a roteirização acontece na alocação de equipamentos da
mina, o qual é resolvido por meio de um sistema de despacho, estático ou dinâmico, de
caminhões (RODRIGUES, 2006).
Este trabalho não tem como objetivo descrever quantitativamente os algoritmos de
roteirização, mas sim destacar os benefícios da implementação do sistema de despacho
dinâmico, o qual foi detalhado no próximo tópico.

2.4 Sistema de despacho


As empresas de mineração utilizam sistemas de roteirização para traçar as rotas para os
diversos equipamentos da empresa seguindo alguns critérios referentes ao ritmo de lavra.
O principal objetivo do planejamento de produção em uma mina a céu aberto é a
determinação de qual ritmo de lavra será implementado em cada frente, fornecendo à usina de
beneficiamento uma alimentação adequada. Cada frente de lavra possui características de
qualidade diferentes, tais como o teor de determinado elemento químico ou a percentagem de
minério em determinada granulometria (COSTA et al., 2005)
Assim, cada frente deve contribuir com uma quantidade para que o produto final esteja em
conformidade com as exigências do cliente que normalmente é a planta de beneficiamento. O
atendimento às metas de produção é importante, pois uma produção superior à requerida pode
causar problemas como a falta de espaço adequado em estoque e custos adicionais de
manuseio, já uma produção inferior causa uma redução na taxa de utilização dos
equipamentos da mina e da usina de beneficiamento, além de multas contratuais pelo não
fornecimento do produto (SACHS; DAMASCENO, 2004; SACHS; NADER, 2005).
Para que os caminhões sejam alocados de forma correta, seguindo as diversas restrições
estabelecidas para o cumprimento das especificações de lavra, as empresas de mineração
adotam dois tipos de sistema de despacho: estático e dinâmico (COSTA, 2009).
De acordo com Rodrigues (2006), na alocação estática, os caminhões são fixados a um ponto
de carga e a um ponto de descarga, ou seja, o seu deslocamento ocorre apenas entre esses dois
pontos durante um determinado período de tempo. No entanto, esse tipo de alocação não é
suficiente para suprir as necessidades de uma mina, pois os pontos de deslocamento variam
constantemente. Por exemplo, no caso de uma restrição em certo setor, tornando o acesso
impossibilitado a uma determinada frente de lavra, os caminhões ao invés de ficarem parados
deverão ser alocados para outra frente, mudando o ponto de carga, otimizando o transporte de
minérios.
Para o autor, apesar dessa limitação no sistema estático, a maioria das mineradoras utiliza esse
sistema uma vez que se trata de algo simples o qual requer pouco investimento sem
necessidade de recursos computacionais.
No entanto, para contornar as limitações do sistema estático, companhias nesse ramo utilizam
do sistema de despacho, que para Rodrigues (2006) é um sistema de alocação dinâmica, o
qual sugere alocações a um ponto específico levando em considerações diversos pontos de

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partida e restrições, como a quantidade de minério requerido de cada frente de lavra.
Para que o sistema de despacho de caminhões seja completo é importante que o sistema de
monitoramento dos equipamentos seja preciso e confiável, de modo que as operações da mina
possam ser otimizadas em tempo real (SACHS; NADER, 2005).
Para Costa (2009) o sistema de despacho é essencial para redução de custos na roteirização
das máquinas em uma mina além de garantir a qualidade do minério e produtividade
tornando-se algo estratégico para empresa.
A próxima seção discute a metodologia utilizada nesse trabalho.
3. Método de pesquisa
A fim de mensurar os benefícios da implementação de um sistema de despacho em uma
empresa de mineração, este trabalho definiu os seguintes posicionamentos metodológicos:

 Abordagem do problema: qualitativa (DENZIN; LINCOLN, 2008);


 Propósito da pesquisa: exploratório (GIL, 2009);
 Procedimentos técnicos utilizados: estudo de caso (MIGUEL, 2007; YIN, 1994) e pesquisa
bibliográfica (GIL, 2009).

De acordo com Denzin e Lincoln (2008), a pesquisa qualitativa é, em si mesma, um campo de


investigação, envolve o estudo do uso e a coleta de uma variedade de materiais empíricos e,
como um conjunto de atividades interpretativas, não privilegia nenhuma única prática
metodológica em relação à outra. Este trabalho utilizou-se de uma abordagem qualitativa,
uma vez que para verificar os benefícios da implementação de um de sistema de despacho em
uma empresa de mineração de ouro, foi indispensável o conhecimento da realidade da
empresa, trabalhando-se, portanto, com múltiplas fontes de informação, materiais empíricos e
atividades interpretativas, na geração de informações objetivas.
A pesquisa exploratória visa a proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a
torná-lo explícito ou a construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de
exemplos que estimulem a compreensão (GIL, 2009). Este trabalho utilizou uma abordagem
exploratória a partir da pesquisa bibliográfica realizada, objetivando ampliar uma melhor
compreensão dos benefícios da implantação de sistemas de roteirização em indústrias de
mineração.
Como procedimento técnico, esta pesquisa, utilizou como método o estudo de caso (YIN,
1994), visando investigar o fenômeno da utilização de um sistema de despacho como forma
de promover uma melhor utilização dos recursos de transporte em uma empresa de
mineração. Este estudo pode ser considerado contemporâneo, e dentro de um contexto
extremamente aplicado na área de gestão da produção e operações.
Os atores da pesquisa definidos para a coleta de dados foram o coordenador geral corporativo
da área de mineração, o gerente de planejamento, o gerente geral da mineração e o Chief
Operating Officer da empresa.
Como instrumento de coleta de dados foi elaborado um roteiro de entrevista semi-estruturado,
contendo questões acerca das variáveis de pesquisa ilustradas no Quadro 2. Relatórios de
desempenho do período antes implementação e pós implementação também foram utilizados
para caracterizar o estado das variáveis, no caso indicadores de desempenho relativos à

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performance do processo de despacho.
Desempenho na gestão de transportes

Indicador de desempenho Descrição Cáculo

Custo de transporte como um % de Mostra a participação do custo de


Custo de transporte/ Produção
produção transporte com a produção total

Custo de transporte por unidade Revela o custo do transporte por


Custo de tranporte/ Unidade expedida
expedida unidade expedida

Calcula o percentual de coletas


Coletas no prazo Coletas planejadas/ Real
realizadas no prazo

Utilização da capacidade dos Avalia a utilização da capacidade de Carga total expedida/ Capacidade
caminhões carga dos caminhões teórica dos caminhões

Quadro 2– Indicadores de desempenho logístico interno


A figura 3 ilustra o processo de condução do estudo de caso realizado, segundo o esquema
proposto por Miguel (2007).

• Definir uma estrutura conceitual-teórica


1

• Planejar o caso
2

• Coletar os dados
3

• Analisar os dados
4

• Gerar relatório
5

Fonte: Proposto pelos autores a partir de Miguel (2007).


Figura 3 – Processo de condução do estudo de caso.

A primeira etapa da condução do estudo de caso consistiu em definir uma estrutura conceitual
teórica. Nesta etapa foi realizado um referencial teórico de forma a resultar em um
mapeamento da literatura sobre o assunto. Na segunda etapa, foi realizado um planejamento
do estudo de caso, a partir da definição do instrumento de coletas de dados (roteiro de
entrevista semi-estruturado e dados primários), construção desse instrumento, e teste piloto do
mesmo. O terceiro passo consistiu na coleta de dados, mediante permissão e aprovação da
diretoria. Após a coleta dos dados procedeu-se a análise e discussão dos dados. Por fim, foi
gerado um relatório da pesquisa.
Miguel (2007) constata que é necessário que o estudo de caso esteja pautado na confiabilidade
e validade, os quais são critérios utilizados para validação da pesquisa. O estudo de caso,
descrito conforme processo ilustrado na Figura 3 está detalhado na próxima seção.
4. Estudo de Caso
A indústria de mineração estudada possui uma mina de ouro, a céu aberto, localizada no norte

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do estado de Goiás. Tal organização possui 387 funcionários e segundo as informações
fornecidas pela empresa esta mina tem uma vida útil de aproximadamente mais quinze anos,
permitindo a produção de pelo menos 1.7 milhões de onças de ouro neste período.
O estudo de caso foi descrito temporalmente a partir de dois períodos históricos:
 Período antes da implantação do sistema de despacho dinâmico;
 Período pós implantação do sistema de despacho dinâmico;

4.1 Cenário anterior a implementação do sistema de despacho


Nesta companhia, como em outras empresas do mesmo setor, o minério utilizado como
matéria prima para obtenção de um mineral deve ser transportado de diversos pontos de lavra
até a planta de processamento. No entanto, para garantir a eficiência do processo é necessário
um padrão do minério, o qual é obtido através da mistura de matéria primas, em diferentes
quantidades, contidas nas diversas áreas de lavra. Desta maneira, o volume a ser transportado
da extração até a planta varia de acordo com as especificações de cada frente.
No período entre 2006 e 2007, primeiros anos de operação da mina, a empresa utilizava o
sistema de alocação estática de equipamentos para realizar a roteirização dos veículos no
transporte de minério. Neste sistema, as rotas de cada máquina eram calculadas analisando as
especificações da quantidade necessária de cada mineral e o número de equipamentos
disponíveis. Cada caminhão era alocado a uma única rota, ou seja, permanecia deslocando-se
entre dois pontos fixos, um de carga e outro de descarga.
A partir da programação dessas rotas, um operador enviava informações a cada motorista para
a realização do transporte do minério. Caso houvesse alguma alteração nos pontos de
deslocamento ou nas quantidades disponíveis de veículos e/ou minério, o responsável pela
coordenação dos transportes modificava as rotas com base em sua própria experiência.
Entretanto, a decisão tomada poderia não representar a melhor solução, uma vez que apenas
eram considerados os impactos locais sem analisar o negócio como um todo.
Devido às dificuldades encontradas pelo funcionário responsável pela alocação dos
equipamentos na mina, foi adquirido um software de despacho dinâmico, o SmartMine.
O SmartMine foi desenvolvido para realizar o roteamento de veículos em minerações. Por
meio de centenas de simulações de mina. O sistema traça as rotas, orientado por um
Algoritimo Genético, levando em consideração a situação momentânea e as restrições de
máquinas e minérios.
Neste sistema, os caminhões são alocados dinamicamente através da coleta de dados dos
status dos veículos e das demais restrições por meio de GPS e RFID. Desta maneira, o
operador acompanha quase em tempo real o que está acontecendo, possuindo assim um maior
controle da situação.
Segundo o coordenador de planejamento estratégico da empresa, a ferramenta armazena os
dados diariamente para serem analisados posteriormente, de modo a auxiliar na tomada de
decisões, como por exemplo, a quantidade de novos caminhões a ser comprada.
4.2 Cenário após a implementação do sistema de despacho
Com a utilização do software, o sistema de despacho de caminhões passou a ser realizado
dinamicamente. Neste novo sistema, a tomada de decisão por parte dos controladores de
transporte deixou de ser baseada na experiência dos funcionários sendo realizada, então, de
forma automática.

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Deste modo, a cada nova restrição ou mudanças nas variáveis utilizadas para definição das
rotas, o sistema reprocessava os cálculos gerando novas informações para o transporte de
minério. Por exemplo, no caso de um caminhão quebrar, todos os outros eram realocados de
forma a otimizar o despacho de caminhões. O mesmo acontecia quando uma barreira cedia e
impedia a passagem de veículos. Nesse caso, outros caminhões eram realocados
dinamicamente a outras frentes de lavras de modo a maximizar a utilização dos veículos de
transporte de carga da empresa.
Os indicadores dos anos de 2006 até 2009, evidenciam os resultados obtidos com a
implementação do software de despacho de caminhões no ano de 2007, como pode ser
observado na Figuras 3 e 4, respectivamente.
Utilização da capacidade de carga

90,0% 88,0%

88,0%

86,0% 83,4%

84,0%

82,0% 79,6% 79,3%

80,0%

78,0%

76,0%

74,0%
2006 2007 2008 2009

Figura 3- Coletas no prazo (2006 a 2009)

Observando a taxa de utilização de capacidade de carga, ilustrado na Figura 3, percebe-se um


aumento na utilização da capacidade de carga no ano de 2009 em relação aos anos de 2006 e
2007. No entanto, no ano de 2008 houve baixo rendimento, mesmo com o software já
implementado. Entretanto, de acordo com a diretoria da empresa essa queda no nível de
utilização da frota aconteceu devido a falhas na manutenção dos equipamentos.
Os indicadores de custo também apresentaram um melhor desempenho após a utilização do
sistema. Os custos de transporte por tonelada transportada e pela produção de ouro foram
reduzidos em 28% e 10% respectivamente, segundo os relatórios de desempenho da empresa.
Em relação ao percentual de coletas no prazo, após a implementação do SmartMine, observa-
se um aumento considerável nos anos de 2008 e 2009.

Coletas no prazo
94% 90%

90% 87% 86%


88%
86%
84%
82%
80%
2006 2007 2008 2009

% de coletas no prazo

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Figura 4- Coletas no prazo (2006 à 2009)

Além da alavancagem no desempenho quanto às coletas no prazo houve outros ganhos.


Segundo a diretoria da empresa, o banco de dados disponibilizado pelo sistema, possibilita um
melhor gerenciamento da mina. De acordo com o diretor da empresa, com o histórico dos
eventos ocorridos é possível entendê-los de uma forma mais eficaz e assim resolver os
problemas decorrentes dos mesmos.
Outro beneficio proveniente da implementação do sistema de despacho de caminhões é um
melhor controle das máquinas da planta de processo. Para o Chief Operating Officer da
companhia, com um nível maior de coletas no prazo, as especificações do minério apresentam
uma aderência maior ao plano. Deste modo, todos os equipamentos da planta operam com
uma eficiência mais elevada devido ao fato de eles serem projetados para as características
pré-determinadas de minério, as quais são levadas em consideração no planejamento de lavra.
Segundo o executivo, há um ganho considerável no clima organizacional da companhia. Um
número maior de informações provenientes do sistema de despacho facilita o trabalho dos
colaboradores da companhia em suas funções. Assim a chance de erro diminui gerando menos
tensão nos trabalhadores.
A próxima seção traz as considerações finais deste trabalho.
5. Considerações finais
A implementação de um sistema de despacho na companhia analisada pode ser considerada
benéfica para a empresa. Houve um aumento no nível de utilização da capacidade de carga
além da elevação das coletas no prazo e redução dos custos de transporte da mina.
Outros ganhos conseguidos com o software foram os dados históricos com alto nível de
confiabilidade, um maior controle do processo da planta além de um melhora no clima
organizacional da companhia.
É provável que um número maior de benefícios tenha acontecido. No entanto, a empresa não
possui relatórios de desempenho no período antes do uso do software, não sendo possível
atestar quantitativamente se houve uma evolução no período antes e pós implementação.
Em projetos futuros de utilização de novos sistemas, a empresa poderia realizar um maior
detalhamento do processo de implementação do software. Assim poderia haver redução no
número de atrasos, problemas e, por conseguinte nos custos.
A fim de garantir uma melhor gestão da cadeia de suprimentos como um todo, a empresa
poderia buscar integrar o sistema de despacho com os demais utilizados na empresa, como por
exemplo, o de controle da produção. Segundo a companhia, estudos de viabilidade neste
sentido estão sendo conduzidos.
Referências
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