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Modelo defesa preliminar lei

maria da penha

Publicado por Fernando Motta Pereira Advogado

ano passado
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO
DA 2ª VARA CRIMINAL DO FORO DA COMARCA DE POÇOS
DE CALDAS/MG.

Carta Magna: Art. 5º“Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza (...). Inciso I: “homens e
mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição; (...)” grifo nosso.
PROCESSO Nº 0111863-97.2015.8.13.0518

WALTER BATISTA LEITE LEONEL, já qualificado nos autos


da Ação Penal epigrafada que lhe move a Justiça Pública, por
seu advogado in fine assinado, vem mui respeitosamente à
presença de Vossa Excelência apresentar sua DEFESA
PRELIMINAR, pelos motivos de fato e de direito a seguir
aduzidos:

I - DO INQUÉRITO POLICIAL

O Inquérito Policial é uma peça meramente informativa,


presidida como assim foi, somente pela autoridade policial.
Daí, não se vislumbrara hipótese de se ter ISOLADAMENTE e
unicamente como meio de prova para se levar o réu a uma
condenação, se assim o fosse estaríamos atropelando o
princípio constitucional da AMPLA DEFESA, DA PRESUNÇÂO
DA INOCÊNCIA, DO CONTRADITÓRIO e do DEVIDO
PROCESSO LEGAL, haja visto que noInquérito Policial, por
ser peça meramente informativa, geralmente é presidida
somente pela autoridade policial.
As informações servem para iniciar uma Ação Penal, porém
não são suficientes para o decretocondenatório, pois é na
instrução processual diante de um juiz imparcial e
reconhecidas todas as garantias constitucionais acima
levantadas que se busca a culpabilidade ou não do réu.

E nessa peça meramente informativa a suposta vítima


distorceu a realidade fática, sustentando mentiras, que levou
Vossa Excelência a deferir medidas protetivas, que mais tarde
culminou com a prisão injusta do acusado.

Em nenhum momento a “vítima” apresentou à Autoridade


Policial as 540 mensagens ameaçadoras enviadas pelo acusado.
Outrossim, em nenhum momento a “vítima” apresentou as
inúmeras ligações recebidas do acusado.

Portanto, não há elementos mínimos para a explosão de


processo penal em desfavor do acusado. Devendo ser
ABSOLVIDO SUMARIAMENTE, pelos argumentos que a
seguir exporemos:

II - SÍNTESE DA PEÇA ACUSATÓRIA

O Ministério Público do Estado de Minas Gerais denunciou o


acusado como incurso nas penas dos artigos 147 por duas vezes
- continuação delitiva, e 330, ambos do Estatuto Repressivo,
porquanto teria ameaçado sua ex-amásia, e desobedecido
ordem Judicial, qual seja, medidas protetivas determinadas
por este Juízo.

Alega a Douta Promotora que após apuração da Autoridade


competente, restou demonstrado que o acusado é pessoa
agressiva no âmbito familiar, e por isso foram deferidas
metidas protetivas; que no dia 25 de junho deste ano manteve
contato com a vítima e seu genitor, e para este último, por
telefone, ameaçou da seguinte forma: “da primeira vez não
aconteceu nada, agora eu não respondo pelos meus atos”.
Sustenta ainda o Órgão Acusador que após realização de visita
ao seu filho, o acusado passou a perseguir a vítima ameaçando-
a - segui reprodução: “você acabou com minha vida agora não
tenho mais nada a perder”, e teria desferido chutes na porta do
automóvel da vítima; ainda, segundo testemunhas, o acusado
disse que venderia sua moto e compraria uma arma e mataria a
vítima.

A representante do Parquet arrolou testemunhas, e requereu a


condenação do acusado.

III - DA INÉPCIA DA PEÇA PORTAL CRIMINAL

A priori, o que se entende da exordial penal é que os


argumentos trazidos ao conhecimento deste Douto Juízo são
meras conjecturas, nada condizente com a realidade fática. A
denúncia é genérica, os fatos não estão expostos
pormenorizados, dificultando a Ampla Defesa e o
Contraditório do acusado.

Sabido é que a denúncia só tem capacidade jurídica de instalar


ação penal válida e com potencialidade de produzir eficácia e
efetividade quando contém os elementos determinados pelo
artigo 41 do Código de Processo Penal, a saber:
a) Descrição do fato, com todas as circunstância

b) Qualificação do acusado ou fornecimento de dados que


possibilitem a sua identificação

c) Classificação do crime

d) Rol de testemunha

e) Pedido de condenação

f) Endereçamento
g) Nome e assinatura.

Ademais, a denúncia deve especificar fatos concretos, de modo


a possibilitar ao acusado e a sua Defesa, não podendo se limitar
a afirmações de cunho vago.

A peça acusatória não pode ser genérica. Os fatos devem ser


individualizados e com características de concretude. Não
devem nascer da imaginação do Ministério Público. Não pode a
denúncia ser uma peça de ficção.

A Ilustre Delegada de Polícia relatou em sua peça conclusiva


que a vítima foi ameaçada por telefone e mensagens, e que a
testemunha Dulce disse que o acusado venderia sua moto e
compraria uma arma para colocar fim à vida de sua ex-
companheira.

Cumpre destacar que a suposta vítima alega que foi ameaçada


por mensagens, contudo, não as apresentou, muito menos as
ligações. Outrossim, a testemunha Dulce em seu depoimento
disse que ouviu (viva voz) uma ameaça por telefone, todavia,
não fora quem recebera tal ligação, e sim sua companheira
Lenise foi quem supostamente recebera a ligação
“ameaçadora”.

O certo é que incumbe ao Ministério Público ter provas


mínimas de indício e autoria do delito para propositura de uma
demanda criminal. Ocorre que compulsando os autos, verifica-
se que as acusações proferidas pela suposta vítima ao suposto
agressor não passam de uma farsa.

Assim sendo, não há o mínimo de provas de que o acusado


tenha praticado qualquer ilícito penal, são meras conjecturas,
ilações infundadas, formuladas pela suposta vítima para
afastar o acusado do seu próprio patrimônio, e toma-lo de
forma covarde, como já ocorrera com a transferência de um
apartamento do nome do acusado para seu genitor (por
procuração), após determinação judicial das medidas
protetivas, consoante provas anexas as fls. 75 e v., 76 e v., 77 e
v. E 78, configurando crime de estelionato.

Outrossim, os recibos acostados aos autos - fls. 79 - provam


que a suposta vítima vem apropriando-se indevidamente dos
alugueres de um apartamento de propriedade do acusado –
inquilina: Bianca Almeida.

Portanto, é de se dizer que a inicial Ministerial é inepta, e não


pode prosperar, assim, deve ser arquivado o presente feito
penal, tudo como forma da mais lídima Justiça!

IV – DOS FATOS

O casal manteve união estável por aproximadamente 07 (sete)


anos, e desta união sobreveio à prole de prenome Antônio.

Em meados de setembro de 2014 o casal vinha se


desentendendo por conta da falência de um dos investidores
(ex-marido da “vítima”) que sustentava duas construções, ou
seja, era sócio de dois apartamentos em construção. E isso,
gerou uma insatisfação por parte da “vítima”, já que o casal
teria se endividado ante a compra de uma caminhonete
HILUX, ANO 2008.

Haja vista esses acontecimentos, restou descontrolada a vida


financeira do casal, corolário, outrossim, a sentimental.

Por seu turno, a “vitima” iniciou pressão para que fosse


colocado a venda um dos apartamentos de propriedade do
acusado para saldar as dívidas dos apartamentos em
construção e um terreno no Jardim Europa, na Avenida
Lisboa.

Nada obstante, a “vítima” através de chantagens fez com que o


acusado firmasse uma procuração em seu nome outorgando-
lhe amplos poderes irrevogáveis e irretratáveis, e desta forma,
começou a transferência dos patrimônios do acusado.

Além disso, a “vítima” por um problema em seu cartão de


crédito se viu obrigada a usar o cartão de crédito do acusado, e
desde então, não mais devolveu, retendo-o.

Usou o cartão de crédito do acusado e fez uma compra de fim


de ano, e realizou uma ceia no rancho do seu ex-marido
Eduardo sem a presença do acusado.

Depois das festas de fim de ano de 2014, tendo em vista que a


vítima encontrava-se em poder de uma procuração, e do cartão
de crédito do acusado, este se viu no direito de pegar tais
documentos, já que teria se arrependido de ter outorgado a
procuração, bem como de ter emprestado seu cartão de crédito.

No dia 02 de janeiro de 2015, o casal ainda manteve relação


sexual, passaram a noite juntos, e no dia seguinte a “vítima”
colocou o acusado para fora do lar conjugal.

Indignado, o acusado foi para a residência do primo da vítima,


e lá, consumiu bebidas alcoólicas, e desabafou com o Otávio.

Ato continuo, o acusado retornou a sua residência


transtornado para buscar alguns pertences, dentre os quais, a
procuração, e seu cartão de crédito, já que estava sem dinheiro
e desempregado, ou seja, totalmente desamparado.

Por sua vez, a “vítima” negou-se a entregar a procuração e seu


cartão de crédito, e ainda colocou seus objetos pessoais na
escada do prédio, momento pelo qual desferiu um chute na
porta do apartamento.

Em momento algum houve qualquer tipo de ameaça por parte


do acusado, apenas uma discussão acalorada entre as partes,
inclusive disse Walter: “o que você fez não se faz nem com um
cachorro, e você vai conhecer o tamanho do meu DEUS”.

A “vítima” devolveu o cartão de crédito do acusado e se negou a


devolver a procuração.

Após esses acontecimentos, o acusado pediu abrigo na casa de


sua amiga IRACY, onde foi acolhido.

A “vítima” foi à Delegacia da Mulher, e denunciou o acusado,


razão pela qual culminou no deferimento das medidas
protetivas, obrigando-o a se afastar do seu próprio domicilio, e
de seu filho que tanto ama. O acusado restou preso por 31 dias
na masmorra medieval. Inclusive, por conta das medidas, a
“vítima” vem se valendo para afastar a cada dia o acusado de
sua prole (alienação parental).

Após o deferimento das medidas protetivas a “vítima” por


diversas vezes procurou o acusado para que este assinasse
contratos de compra e venda de seus apartamentos, todavia,
não firmara tais contratos.

Por fim, antagônico a sustentação da “vítima” de que o acusado


não aceita o fim do relacionamento, este encontra-se num novo
relacionamento, fazendo de tudo para esquecer esse pesadelo
que pairou na sua vida abruptamente. Num dia tinha esposa,
filho, e domicílio; e no outro, acordara totalmente
desamparado, tudo lhe fora retirado de forma covarde.

V – DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA REALIZADO PELO


ACUSADO

Em 08 de janeiro de 2015, o acusado, não suportando mais as


ameaças e agressões proferidas pela “vitima”, registrou boletim
de ocorrência, já que se viu desprotegido ante aos sucessivos
ataques da “vítima”, de seu ex-marido e de seus filhos, senão
vejamos:
“(...) por motivos particulares o relacionamento não estava
indo bem, motivo pelo qual a autora (1) no dia 01/09/2014
agrediu a vítima com um soco no rosto, causando-lhe um
hematoma, momento em que a vítima foi para o banco de trás
do veículo ficar com seu filho pequeno. A partir desse
momento foram para a casa e a discussão continuou, e a autora
(1) tentou tirar o filho dos braços da vítima, momento em que a
vítima empurrou a autora. Com o passar do tempo a autora (1)
vem agredindo a vítima e expulsando-o de casa. (...)”. BO
anexado.

“Foi ameaçado fisicamente e agredido verbalmente pelos


autores (2) e (3), que são filhos da autora e enteados da vítima
(...)”.

A denúncia dos crimes praticados pela “vitima” e seus filhos,


não resultou em inquérito policial, gerando a impunidade dos
agressores.

Caso fossem levados em consideração os fatos narrados pelo


acusado no Batalhão da Polícia Militar, hoje, certamente, o
acusado não estaria nas condições que se encontra, e muito
menos teria ficado preso por aproximadamente 01 (um) mês.

VI – DA ATIPICIDADE DO CRIME DE AMEAÇA

Preconiza o art. 147, do Estatuto Repressivo:

“Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer


outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa.

Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.”


Pois bem, a conduta praticada pelo acusado à época dos fatos
não configura crime de ameaça, restou apenas mero entrevero
entre as partes conforme narrado alhures.

O crime de ameaça é formal, ou seja, se consuma no próprio


momento do ato praticado pelo agente direto à ofendida, ou
quando a vítima toma conhecimento da ameaça. E para que a
conduta do agente se amolde no tipo penal, a ameaça deve ser
séria, o agente deve estar em seu estado de lucidez, e sereno.

No caso em tela, verifica-se que houve uma discussão


acalorada entre o casal, isso porquanto a suposta vítima teria
retido o cartão de crédito do acusado, bem como a procuração
que outrora este teria outorgado aquela.

Seguem as supostas ameaças:

“da primeira vez não aconteceu nada, agora eu não respondo


pelos meus atos”.

“você acabou com minha vida agora não tenho mais nada a
perder”.

Os apontamentos realizados pelo acusado são vagos, e,


portanto, não há que se falar em ameaça.

É de se dizer que em nenhum momento o acusado ameaçou a


vítima; em qual momento desses diálogos o acusado disse que
mataria a suposta vítima? É certo que a conduta do acusado
não se amolda no tipo penal previsto no art. 147, do CP.
No primeiro parágrafo da suposta ameaça, o acusado disse que
não aconteceu nada da primeira vez, e de agora em diante não
responde pelos seus atos, porque poderá ingressar com ação de
dissolução de união estável, e requerer o que lhe é de direito no
campo patrimonial... Há diversas interpretações, e em
nenhuma delas podemos considerar tom ameaçador.
Como já sustentamos, a ameaça deve ser certa, objetiva,
visando aterrorizar a vítima. O agente deve estar sóbrio, calmo
para proferir ameaças.

GianpaoloPoggioSmanio posiciona-se:

“(...)

Não caracterizam o crime de ameaça:

a. A mera bravata

b. A intenção de brincadeira

c. O desafio

d. Injurias recíproca

e. Incontinência verbal”.

“Há exigência de animo calmo e refletido. Assim, ameaça em


estado de cólera não é crime ”.

É a lição do saudoso Professor Mirabete:

“O dolo do crime de ameaça é a vontade de praticar o ato, com


o intuito de intimidar a vítima. Não configura crime, portanto,
a simples bravata ou a presença do animus jocandi ” grifo
nosso.

Na lição de Magalhães Noronha:

“O dolo existe ainda que o sujeito ativo não tenha a intenção de


praticar o mal. Todavia, é mister atentar a que não se pode
encontra-lo na simples jactância ou mera bazófia. Pode
também faltar no estado de ira ou de humilhação da pessoa,
quando, então, não existe o fim de ofender a liberdade íntima
ou interna de outrem ”.

No mesmo sentido Guilherme de Souza Nucci sustenta que:

“(...). Em uma discussão, quando os ânimos estão exaltados, é


possível que as pessoas troquem ameaças sem qualquer
concretude, isto é, são palavras lançadas a esmo, como forma
de desabafo ou bravata, que não correspondem à vontade de
preencher o tipo penal. Por isso, ainda que não se exija do
agente estar calmo e tranquilo, para que o crime possa se
configurar, também não se pode considerar uma intimidação
penalmente relevante qualquer afronta comumente utilizada
em contendas. Não se pode invocar uma regra teórica absoluta
nesses casos, dependendo da sensibilidade do juiz ou do
promotor no caso concreto. (...).”

A posição majoritária jurisprudencial assenta-se no sentido de


que não constitui o crime do art. 147 ameaça vaga feita sob o
império de cólera passageira, uma vez que sua tipificação exige
animo calmo e refletido. O mesmo se tem decidido quando se
trata de ameaça partida de pessoa embriagada, senão vejamos:

TACRSP: “O dolo específico do crime de ameaça só se


identifica na perversa intenção de incutir medo, exteriorizada
seriamente e de animo frio pelo agente” (RT 568/297).

TACRSP: “Há distinguir entre ameaça formulada bravo animo,


isto é, com perversa intenção de incutir medo, e a que profere
jocandi animo, ou por mera expressão bazófia, ou simples
descarga de um subitâneo assomo de ira. Somente no primeiro
caso que se pode identificar o dolo específico do crime”
(JTACRIM 71/225). No mesmo sentido, TACRSP: JTACRIM
49/209.

VII – DA ATIPICIDADE DO CRIME DE DESOBEDIÊNCIA


No Direito Penal vigora o princípio da intervenção mínima.

Assim sendo, não há que se falar em tipicidade no crime de


desobediência ante ao descumprimento das medidas protetivas
de urgência determinadas pelo Juízo, de tal sorte que existem
sanções específicas na Lei Maria da Penhade natureza civil e
administrativa, tais como, requisição de força policial e a
imposição de multas, entre outras sanções, não havendo
ressalva expressa no sentido da aplicação cumulativa do artigo
330, do Estatuto Repressivo.
É a posição do STJ:

“PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO


RECURSO ESPECIAL. MEDIDA PROTETIVA.
DESOBEDIÊNCIA. ATIPICIDADE. APLICAÇÃO DA SÚMULA
83 DO STJ. FUNDAMENTO INATACADO. SÚMULA 182 DO
STJ. 1. Conforme reiterada jurisprudência desta Corte de
Justiça, o agravante deve infirmar, nas razões do regimental,
todos os fundamentos da decisão impugnada, sob pena de não
ser conhecido o seu recurso. Inteligência da Súmula 182. 2.
Ainda que superado o óbice, a pretensão ministerial esbarra no
entendimento pacificado deste Tribunal Superior de que o
descumprimento de medidas protetivas previstas na Lei Maria
da Penha não configura o crime de desobediência. 3. Agravo
regimental não conhecido”QUINTA TURMA DJe 26/05/2015 -
26/5/2015 AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL
AgRg no REsp 1454609 RS 2014/0117057-0 (STJ) Ministro
GURGEL DE FARIA – grifo nosso.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS. LEI
MARIA DA PENHA. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA.
ATIPICIDADE. 1. O crime de desobediência é um delito
subsidiário, que se caracteriza nos casos em que o
descumprimento da ordem emitida pela autoridade não é
objeto de sanção administrativa, civil ou processual. 2. O
descumprimento das medidas protetivas emanadas no âmbito
da Lei Maria da Penha, admite requisição de auxílio policial e
decretação da prisão, nos termos do art. 313 do Código de
Processo Penal, afastando a caracterização do delito de
desobediência. 3. Agravo regimental improvido.
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA
PROTETIVA. DELITO DE DESOBEDIÊNCIA. ATIPICIDADE.
REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. A decisão agravada está na
mais absoluta consonância com a jurisprudência desta Corte,
firmada no sentido de que o delito de desobediência é
subsidiário e somente se caracteriza nos casos em que o
descumprimento da ordem emitida pela autoridade não é
objeto de sanção administrativa, civil ou processual. 2. E nesta
ocasião, o agravante não traz argumento persuasivo o bastante
para afastar com êxito o fundamento da decisão ora
impugnada, devendo, assim, ser mantida intacta pelos seus
termos. 3. Agravo regimental improvido.

HABEAS CORPUS SUBSTITUTO DE RECURSO ORDINÁRIO.


NÃO CABIMENTO. DESOBEDIÊNCIA. DESCUMPRIMENTO
DE MEDIDA PROTETIVA. ATIPICIDADE. HABEAS CORPUS
NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. O
Superior Tribunal de Justiça, seguindo o entendimento
firmado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal,
não admite a impetração de habeas corpus em substituição ao
recurso próprio previsto no ordenamento jurídico. Contudo,
nos casos de flagrante ilegalidade, a ordem poderá ser
concedida de ofício. 2. O descumprimento das medidas
protetivas emanadas no âmbito da Lei Maria da Penha admite
requisição de auxílio policial e também a decretação da prisão,
nos termos do art. 313 do Código de Processo Penal, com o
objetivo de garantir a execução da ordem da autoridade,
afastando, desse modo, a caracterização do delito de
desobediência. Precedentes. 3. Na espécie, o paciente foi
denunciado pelo crime de desobediência a decisão judicial
sobre perda ou suspensão de direito, porque teria descumprido
medida protetiva consistente na proibição de se aproximar de
sua ex-companheira, a uma distância mínima de 50m, bem
como de sua residência, conduta que não configura, de forma
autônoma, o crime tipificado no art. 359 do Código Penal. 4.
Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício,
para determinar o trancamento da Ação Penal originária n.
011/2.11.0003076-3, em trâmite na Comarca de Cruz Alta/RS.
0422438-5 (STJ) Ministro WALTER DE ALMEIDA
GUILHERME (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP)
Ademais, cumpre destacar que o acusado inclusive já foi
penalizado quando decretada foi sua prisão preventiva que
resultou em sua permanência na Masmorra Medieval por 01
(um) mês pelo descumprimento da medita protetória.

Portanto, a imputação pelo crime de desobediência ao acusado


é atípica, corolário, incabível, e deve ser afastada por Vossa
Excelência como a mais lídima Justiça.

VIII – DA INEXISTÊNCIA DE AMEAÇA – TELEFONEMA


RECEBIDO PELA LENISE

Segundo depoimento da “vítima” na Delegacia da Mulher, o


acusado teria ligado para LENISE e dito: “... Eu vou vender
minha moto e com o dinheiro eu compro uma arma para matar
a Suzi e Eduardo...” (fls. 3 verso).

O acusado coloca-se a disposição deste Juízo seu telefone


celular para quebra de sigilo, e assim, provar sua inocência.

Outrossim, imperioso é a quebra do sigilo telefônico da


testemunha LENISEcom fim de provar a inexistência desse
telefonema realizado pelo acusado.

XI – DA INEXISTÊNCIA DE COAÇÃO À TESTEMUNHA


LENISE DE DENTRO DO PRESÍDIO

A suposta vítima na audiência inicial representou o acusado, e


quer vê-lo processado e condenado pela suposta prática dos
crimes a ele imputados.

Ocorre que neste mesmo ato a suposta vítima realizou uma


denúncia gravíssima no sentido de que o acusado teria
efetuado ligações de dentro do presídio coagindo a testemunha
de acusação LENISE (fls. 98).
Cumpre esclarecermos que essas denúncias são falsas, levianas
e surreais, e, dessa forma, deve ser punida a suposta vítima por
denunciação caluniosa.

A testemunha da acusação LENISE é amiga do acusado, e


antes deste ser preso injustamente, a “testemunha coagida”
estava desesperada, procurando notícias, e após a soltura do
acusado ficou sabendo da trama diabólica da SUZIENI E DA
DULCE, e se colocou à disposição da Defesa para desmascará-
las, consoante prints anexados das conversas entre acusado e
Lenise.

Ante o exposto, requer a quebra do sigilo telefônico da


testemunha LENISE com fim de provar que não recebera
nenhuma ligação ameaçadora do acusado de dentro do
presídio, que a coagiu.

X – DOS CRIMES PRATICADOS PELA SUPOSTA VÍTIMA

Após o deferimento das medidas protetivas a suposta vítima


teria transferido fração de um apartamento do nome do
acusado para o seu genitor, configurando crime de estelionato.
Vale lembrar que o individuo não pode se valer da própria
torpeza, alegando desconhecimento da lei. A suposta vítima se
valeu de uma procuração que o acusado a outorgou
(documentos anexos).

Nada obstante, após a prisão do acusado, a suposta vítima se


apropriou indevidamente dos alugueres de dois apartamentos
de propriedade daquele, configurando fato típico descrito no
art. 168, do Código Penal (documentos anexos).
Além disso, por ter denunciado falsamente crime, porquanto a
suposta vítima afirmou que de dentro do presídio teria o
acusado coagido e ameaçado a testemunha LENISE, deve
responder por essa conduta típica, qual seja, denunciação
caluniosa (fls. 98).
Portanto, a “vítima” incorreu nos crimes previstos nos artigos
171, 168 e 339, todos do Estatuto Repressivo.

Caso Vossa Excelência entenda que não ocorrera o crime de


denunciação caluniosa, que lhe seja imputado o crime previsto
no artigo 340, do mesmo diploma legal.

XI – DA FRAUDE - ACORDO JUDICIAL DE DISSOLUÇÃO


DE SOCIEDADE DE FATO – TRAMITOU PERANTE 4ª VARA
CÍVEL DESTA COMARCA – QUEBRA DA MEDIDA
PROTETIVA POR PARTE DA “VÍTIMA”

A “vítima” e seu pai Sr. Antônio, após as medidas protetivas,


por diversas vezes procurou o acusado onde ele estava
hospedado, qual seja, na residência da Sra. IRACY, levava
milho, pamonha, e sabendo das precárias condições do
acusado, chegou a oferecer quinhentos reais para que este
assinasse um contrato de Dissolução de União Estável,
consoante documento anexo.

Portanto, é de se dizer que a medida protetiva não mais pode


prevalecer por disposição expressa na Lei Maria da Penha.
XII – DA ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA

De início cumpri ilustrarmos a presente demanda criminal com


texto do Jurista Enrico Ferri que se amolda no caso em tela,
com a devida adaptação:

“(...).

E como nas tardes tórridas e tempestuosas de verão, ao


crepitar furibundo e pavoroso da tempestade, que traz consigo
as trevas e a devastação, sobre a terra, fecundada pelo secular
trabalho do homem, sucede o raio do sol no ocaso, que, antes
de desaparecer no horizonte, esfarrapa as lívidas nuvens
trovejantes e nos dá a esperança de tempos melhores e de paz
entre os homens; assim também, neste tortuoso processo,
depois das densas nuvens das suspeitas e das acusações contra
WALTER, virá o vosso veredicto, como raio de luz de justiça,
restituí-lo à família e a honra, assegurar aos cidadãos que a
vossa justiça respeita a verdade, e fazer extinguir-se ao longe a
recordação ameaçadora deste processo, como a de um sonho
tormentoso, pesando sobre a inocência de um homem ”.

O artigo 397, inciso III, do Estatuto Processual Penal dispõe:

“Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos,


deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado
quando verificar:

(...)

III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime;


(...)”.

Como já exposto exaustivamente, as condutas praticadas pelo


acusado não constituem crime. Demonstramos através de
doutrinas e jurisprudências que os fatos narrados na exordial
acusatória são atípicos, e por isso, deve o acusado, com
fundamento no art. 397, inciso III, do CPP, ser absolvido
sumariamente, fazendo cessar a completa injustiça que vem
suportando; e Vossa Excelência o fará, extinguindo esse
tormentoso processo, como forma da mais LEGÍTIMA
JUSTIÇA!
XIII – DO ROL DAS TESTEMUNHAS

As testemunhas infra arroladas deverão necessariamente ser


intimadas a depor perante este Expert Juízo.

L. – TESTEMUNHA COAGIDA

Rua
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

I. DE S. S.
Rua
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

B. A.

Rua
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

XIV – DOS PEDIDOS

Ante todo o exposto, e mais pelas razões que Vossa Excelência


saberá lançar com muita propriedade acerca do tema, requer:

Seja declarada inepta a peça inicial acusatória, evitando-se que


o acusado responda por processo criminal sem a presença das
condições mínimas para explodir a ação penal, arquivando-se o
presente feito, como forma de Justiça!

Subsidiariamente, requer seja ABSOLVIDO SUMARIAMENTE


W. B. L. L das acusações que lhe foram imputadas por serem
atípicas as condutas realizadas, com espeque no artigo 397,
inciso III, do Código de Processo Penal, tudo como forma da
mais sábia e legítima JUSTIÇA!
Termos em que,

Pede e espera DEFERIMENTO.

Poços de Caldas, 11 de setembro de 2015.

ADV.

OAB/SP Nº

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