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Pesquisa em Síntese

A Contribuição da disciplina de
introdução à engenharia química
no diagnóstico da evasão
Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva
Fernando Benedicto Mainier
Fabio Barboza Passos

Resumo
Um grave problema, ainda não soluci- Na busca por soluções, a disciplina de In-
onado, que atinge os cursos de graduação trodução à Engenharia Química foi incluí-
em engenharia no país, são as altas taxas da no 1o período do curso de Engenharia
de evasão. Estas se devem Química, inicialmente
a diversos fatores, mas em como optativa, com o ob-
Rosenir Rita de Cássia
recente pesquisa realizada Moreira da Silva jetivo de diagnosticar e
no curso de engenharia Doutora em Engenharia correlacionar os problemas
química da Universidade Química, UFRJ existentes. As aulas nesta
Federal Fluminense – UFF, Profª Adjunta do Departamento disciplina têm por base me-
verificou-se uma grande de Engenharia Química, UFF lhorar a adaptação do alu-
retenção dos alunos no ci- rosenir@vm.uff.br no no curso e identificar
clo básico, causada por Fernando Benedicto Mainier pontos de conflito. Diver-
altos índices de reprova- Doutor em Educação, UFRJ sas informações são pas-
ção, que culminam em Vice-chefe do Departamento de sadas, sobre a universida-
abandono. Essa grande Engenharia Química, UFF de, o curso, a profissão, o
retenção provoca também mainier@vm.uff.br mercado, dentre outras,
um aumento no tempo Fabio Barboza Passos buscando-se sempre mo-
médio de permanência na Doutor em Engenharia tivá-los. Como resultado,
universidade que na média Química, UFRJ verificou-se que o relacio-
chega a 13 semestres, Chefe do Departamento de namento professor-aluno é
Engenharia Química, UFF
quando o normal deveria determinante nesta etapa
fbpassos@vm.uff.br
ser de 10 semestres. Menos do curso, resultando numa
do que 20% dos alunos melhora global do rendi-
conseguem se formar no tempo normal. mento acadêmico dos alunos.
Estes dados indicam claramente um gran- Palavras-chave: Engenharia química.
de obstáculo a ser vencido, que prejudica Avaliação. Metodologia de ensino. Intro-
a eficiência do sistema de ensino superior. dução à engenharia química.

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262 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Abstract Keywords: Chemical engineering.


Evaluation. Teaching methodology.
The contribution of Introduction to chemical engineering.
introduction to chemical
engineering in evasion Resumen
diagnostic La contribución del curso
It has told a lot about the evasion at the “introducción a la
engineering course, but the solution hasn’t ingeniería química” en el
been found yet. In recent statistics
accomplished at the Chemical Engineering diagnostico de la evasión
from Universidade Federal Fluminense – La evasión en el programa de ingeniería es
UFF, it was checked out that the most of the un tema bastante estudiado que aun no
students enrolled are the basic cycle, which tiene solución. Estadísticas realizadas
becomes, at this way, a difficult obstacle to recientemente en el Departamento de
a lot of students. Several factors influences Ingeniería Química de la Universidade
and the high index of reproval is one of Federal Fluminense – UFF, se observa que
those that causes a big lack of motivation la mayoría de los estudiantes registrados en
among the students, specially to thoses who el curso de ingeniería se encuentran en el
are on the first period, where there is the ciclo básico, el cual es conocido como un
worst situation. This big retention provokes obstáculo difícil de pasar para muchos
an increasing of average time of estudiantes, el alto índice de desaprobación
permanence in the university to 13 es el factor mas importante para que
semesters, when the normal time is 10 muchos alumnos tomen la decisión de
semesters. Less than 20% of students are abandonar el curso. Esta grande retención
able to form in normal time. These indicates en los ciclos básicos provoca un aumento
a enormous obstacle, which damaged the en el tiempo medio de permanencia en la
superior education system efficiency. The universidad, de 10 (tiempo normal) para 13
subject called Introduction to Chemical semestres, además de esto, menos del 20%
Engineering was included in the first period de estudiantes logran graduarse en el
of the curriculum, intending to research tiempo normal. Todo esto indica un enorme
about problem and study a way to solve it. obstáculo que daña la eficiencia del sistema
The lessons of this subject used to have for de la educación superior. Observando este
purpose getting better the student’s problema la facultad de ingeniería química
adaptation at the course, cooperating for da UFF implemento en el primer periodo el
his maturation. Severals informations are curso “Introducción a la Ingeniería
passed about the university, the course, the Química”, el cual tiene por objetivo
jobs, the marked, having always as an diagnosticar y correlacionar estos problemas
objective motivating the students. It has para encontrar la forma de resolverlos. Las
been verified that the relation teachers- clases de esta disciplina tienen el propósito
students were very important in this de mejorar la adaptación del estudiante en
experience, which resulted higher global el programa, dándoles informaciones
academic performance. acerca de la universidad, de los cursos de

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los trabajos y del mercado laboral, buscando A disciplina de Introdução à Engenharia


sobre todo motivarlos. Se ha verificado que Química, incluída no 1o período do currícu-
la relación entre profesores y estudiantes lo, como optativa, foi implantada no 2o se-
es muy importante en esta experiencia, que mestre de 2002, com o objetivo de diagnos-
resulto en un mejor desempeño académico. ticar os problemas existentes e buscar solu-
Palabras clave: Ingeniería química. ções que pudessem minimizá-los. Três pro-
Evaluación. Metodología de la educación. fessores do Departamento de Engenharia
Introducción a la ingeniería química. Química, portanto, professores vinculados ao
ciclo profissional, voluntários nessa experiên-
Introdução cia vêm ministrando esta disciplina desde
então. As informações adquiridas serão utili-
Muito se tem falado sobre a grande eva-
zadas como indicadores para a reforma cur-
são nos cursos de engenharia, mas a solu-
ricular, em andamento, visando minimizar a
ção ainda não foi definitivamente encon-
retenção e evasão dos alunos no curso.
trada. A diversidade das habilitações, os
aspectos regionais e de mercado, a ambi-
O presente trabalho tem o objetivo de
entação e nível dos alunos, bem como tam-
apresentar todas as etapas da experiência
bém as características peculiares das uni-
que vem sendo realizada, que apesar de
versidades são responsáveis por este cená-
recente, tem-se mostrado um sucesso na
rio (TORRES, 2001; SALUM, 2001).
implantação desta disciplina no Curso de
Engenharia Química, com resultados mui-
Em recente estatística realizada no Curso
to promissores.
de Engenharia Química da UFF, verificou-se
que 60-70% dos alunos matriculados estão
no ciclo básico, isto é, apenas 30%-40% con- Distribuição dos alunos
seguem chegar ao ciclo profissional (SILVA, no curso: avaliação da
2003). Certamente o ciclo básico se constitui
numa barreira intransponível para muitos. retenção e evasão
O alto índice de evasão nos cursos de
Vários fatores influenciam e o alto ín- engenharia do país constitui atualmente
dice de reprovação é um dos que pro- uma realidade desafiadora. Este proble-
voca uma grande desmotivação entre os ma vem sendo investigado pela comuni-
alunos (PERECMANIS, 2002). A pior si- dade acadêmica de diversas universida-
tuação encontra-se no 1 o período. Da- des e merecido a atenção em vários en-
dos típicos de uma turma que ingressou contros, seminários e congressos (SALUM,
no 1 o semestre de 2002, indicaram que 2001; TORRES, 2001). No entanto, as cau-
90% dos alunos foram reprovados em sas ainda não foram adequadamente identi-
pelo menos 1 disciplina. Destes, 20% dos ficadas. Por conseguinte, a solução ainda não
alunos foram reprovados em todas as foi encontrada. De forma clara e simples, con-
disciplinas. Enfim, apenas 10% conse- vive-se com o problema postergando a solu-
guiram ser aprovados em todas as dis- ção para um futuro que nunca chega.
ciplinas. As maiores reprovações ocor-
reram nas disciplinas de Cálculo I, se- Especificamente em relação ao curso de
guida de Álgebra Linear e Física. Engenharia Química da UFF, a avaliação

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contínua da distribuição dos alunos ao lon- da disciplina de Introdução à Engenha-


go do curso mostra o panorama vigente e ria Química no primeiro período do cur-
permite identificar pontos críticos de maior so. De fato, é surpreendente observar-se
retenção. Foram definidos quatro diferen- a grande concentração de alunos no gru-
tes grupos, por ordem de número de crédi- po 1, isto é, alunos com NCC £ 80 cré-
tos concluídos (NCC): ditos, correspondendo em média a 50%
• Grupo 1 – alunos com NCC menor dos alunos matriculados no curso. Soman-
do que 80 créditos, e que já cursaram do-se a este, o número de alunos calou-
mais do que 1 (um) período, isto é, ros sobe para 58-60%. Este índice indica
não inclui os alunos calouros; uma grande retenção de alunos nos 3 (três)
• Grupo 2 – alunos com 80 < NCC£ primeiros períodos, principalmente em vir-
130 créditos; tude do alto índice de reprovação. A par-
• Grupo 3 – alunos com 130 < NCC£ tir do grupo 2, verifica-se uma sensível
190 créditos; queda no número de alunos, mas este
• Grupo 4 – alunos com NCC > 190 número, posteriormente, praticamente se
créditos. mantém, sugerindo que a evasão se dá
principalmente nos 3 (três) primeiros pe-
A Tabela 1 apresenta a distribuição dos ríodos do curso. É importante ressaltar
alunos alocados nos 1o e 2o semestres dos também a constância dos números nos
anos de 2002 e 2003. Os dados relati- diversos períodos, indicando que o pro-
vos ao 1o semestre de 2002 motivaram o blema se arrasta por muito tempo, sendo
presente estudo e a respectiva inclusão de difícil solução e de resposta lenta.

Tabela 1 – Distribuição dos alunos matriculados no curso de


Engenharia Química após concluir os semestres indicados

Número total de alunos matriculados

Grupos 1o Sem./2002 2o Sem./2002 1o Sem./2003 2o Sem./2003

1 216 205 205 206


2 60 57 60 48
3 56 52 52 65
4 48 68 69 64
Subtotal 380 382 386 383
a 420
Total no Curso 422 426 422
Alunos com
NCC=0 26 22 20 11

a
incluíndo 40 alunos calouros no período

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Realmente, a retenção no ciclo bási- como ocorre em Cálculo I. Observou-se


co nos cursos de engenharia é colossal e também que vários alunos do grupo 1 pos-
diversos fatores contribuem para isso suem coeficiente de rendimento igual a 0
(CARDOSO; SCHEER, 2003; PERECMANIS, (zero), excetuando os calouros, número este
2002; SILVA, 2003). Para melhor verificar que por sinal vem caindo depois da inclu-
esta retenção buscou-se contabilizar no são da disciplina de Introdução à Enge-
grupo 1 o número de alunos com menos nharia Química, conforme pode ser visto
de 30 créditos concluídos, isto é, o que na Tabela 1. Provavelmente os alunos com
equivale à conclusão das disciplinas do pri- CR igual a zero já abandonaram o curso.
meiro período. O resultado revelou que, em
média, 90-95 alunos desse grupo possu- A Tabela 2 apresenta alguns dados típi-
em menos do que 30 créditos concluídos, cos do tempo médio de permanência dos
isto é, 40-45% dos alunos do grupo 1 não alunos formados no curso nos últimos 5
possuem sequer o primeiro período com- (cinco) anos. Observa-se que a média dos
pleto. Em termos absolutos, somando-se alunos ultrapassa os 12 períodos letivos
esses alunos com os 40 calouros que in- normais para se formar, em alguns casos
gressam por semestre, tem-se um total de chegando até 13,8 períodos. A média cor-
aproximadamente 130-135 alunos cursan- responde a 13 períodos, o equivalente a
do e/ou retidos no primeiro período, o que 6,5 anos. Considerando-se o total dos alu-
corresponde a aproximadamente 32% do nos que concluiu o curso nos semestres
total de alunos do curso. Entretanto, não apresentados, cerca de 128 formados, ve-
se pode descartar o fato de que muitos ou- rifica-se que apenas 16,4% dos alunos nos
tros alunos que possuem mais do que 30 últimos anos (total de 21 formados) conse-
créditos podem ainda estar cursando disci- guiram se formar no tempo normal, de 5
plinas do primeiro período, por exemplo, (cinco) anos, isto é, 10 períodos.

Tabela 2 – Tempo de retenção médio e evasão dos alunos no curso


Itens avaliados 1o/1999 2o/2000 2o/2001 1o/2002 2o/2002 1o/2003 2º/2003
CR médio da turma 6,22 6,32 6,37 6,43 6,73 6,44 7,04
Tempo médio para conclusão 13,8 12,3 12,6 12,9 13,6 13,5 12,0
do curso (semestres)
Tempo médio para conclusão 6,9 6,2 6,3 6,47 6,8 6,75 6,0
do curso (anos)
No alunos formados 14 26 13 17 19 19 20
o (a)
N de alunos formados com 0 7 2 0 6 0 6
10 períodos letivos
Evasão(b) 65% 35% 67,5% 57,5% 52,5% 52,5% 50%

(a)
Desses 6 alunos, apenas 1 se formou em 4,5 anos.
(b)
Considerando o ingresso de 40 alunos por período no vestibular, calculou-se da seguinte forma:
Evasão= 40-(número de alunos formados)
40

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Em relação à evasão, com exceção da tectar pontos críticos e dar subsídios aos
turma que se formou no 2o semestre de alunos calouros, a fim de melhorar o ren-
2000, observa-se que as percentagens são dimento acadêmico dos mesmos.
sempre superiores a 50%, calculando-se
a média, obtém-se um valor de 55% de A metodologia que vem sendo adotada
evasão. Como comentário, apesar de ter- constitui-se de três partes. Primeiramente,
se utilizado um cálculo aproximado para busca-se avaliar as expectativas dos alu-
evasão, acredita-se que este é adequado, nos ingressantes em relação ao curso e suas
pois representa um panorama da situa- maiores dificuldades. Isto é feito através de
ção vigente. Há também que se conside- questionários que os alunos preenchem, já
rar o fato de que alguns dos 40 alunos na primeira semana de aula, e através de
ingressantes no curso nem sequer assis- entrevistas com professores da disciplina,
tem uma aula, isto é, ocupam a vaga e que acabam tornando-se permanentes no
não cursam. Geralmente estes ingressam decorrer de todo o semestre. Esta experiên-
através de reclassificações, às vezes tardi- cia tem sido extremamente gratificante e elu-
as, e estão dentre os que apresentam coe- cidativa, podendo-se identificar pontos de
ficiente de rendimento igual a zero e que conflitos existentes, principalmente em re-
já foram citados anteriormente. lação ao ciclo básico.

Certamente, a retenção no ciclo bási- Na segunda parte, buscando melho-


co, especialmente nos 3 (três) primeiros pe- rar a adaptação dos alunos, foi montado
ríodos do curso, é preocupante, constituin- um plano de trabalho que inclui aulas,
do um problema sério, de difícil solução, palestras, visitas técnicas aos laboratórios
que deve ser investigado profundamente. do Departamento de Engenharia Quími-
A inclusão da disciplina de Introdução à ca e à indústria. A principal finalidade é
Engenharia Química no primeiro período motivá-los para a profissão. São dadas in-
teve por objetivo investigar as dificuldades formações sobre o que é a engenharia
enfrentadas pelos alunos, em tempo real, e química, o campo de atuação profissio-
os motivos que os levam a abandonar o nal, o mercado de trabalho, a indústria
curso. Os resultados aqui levantados de- química e petroquímica, além disso, rela-
verão ser considerados na reforma curricu- tos e experiências vividas por alunos em
lar em andamento. períodos avançados como bolsistas de ini-
ciação científica, monitores, estagiários e
integrantes de Empresa Júnior.
Inclusão da disciplina de
introdução à engenharia Finalmente, numa terceira parte, é feita
uma avaliação junto aos alunos, para sa-
química no 1o período do ber de suas opiniões sobre a inclusão da
curso de engenharia disciplina no 1o período, bem como avali-
ar a contribuição que a mesma forneceu
química na adaptação ao Curso.
Metodologia adotada
Conforme dito anteriormente, o traba- A metodologia adotada será descrita em
lho desenvolvido na disciplina buscou de- detalhes a seguir.

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Avaliação/diagnóstico tos, adequados ao mercado de traba-


lho. Alguns já se posicionam em rela-
do ingresso ção a alguma área especifica ou tipo de
Inicialmente, para se fazer um diag- trabalho. Quanto à recepção na UFF, os
nóstico dos problemas vividos pelos alu- alunos a consideram boa apesar da ocor-
nos ingressantes no Curso de Engenha- rência do trote, comentário feito por al-
ria Química, que resultam em alto índi- guns. Mostram-se sempre muito satisfei-
ce de reprovação e abandono, é aplica- tos com a receptividade dos professores
do, logo nas primeiras semanas de aula, de Introdução à Engenharia Química.
um questionário para se avaliar as ex-
pectativas dos alunos em relação ao No item relativo às principais dificul-
curso. O questionário utilizado é com- dades, a mais citada tem sido a distância
posto por um conjunto de perguntas di- da residência; em média 30-40% dos alu-
versas, contendo perguntas abertas e de nos moram longe. Observou-se que mais
múltipla escolha. Os alunos são orien- do que 50% dos alunos provêm da cida-
tados a responder as perguntas e a es- de do Rio de Janeiro e menos do que 20%
crever comentários adicionais, quando são de Niterói. Alguns alunos já sinali-
julgar importante, inclusive utilizando o zam sobre o intenso ritmo de estudos e
verso da folha, não ficando restrito a nú- deslocamentos a que são impostos. Os
mero de palavras e linhas. É importante alunos também já mostram preocupação
para a avaliação que o aluno tenha li- e dificuldade no entendimento da disci-
berdade para expressar seus pensamen- plina de Física I, Cálculo I, Álgebra Line-
tos. O Quadro 1 apresenta o modelo do ar e Química. O fator relacionamento
questionário aplicado. com os professores do ciclo básico tam-
bém já é mencionado, especificamente,
Analisando os resultados das avali- nas disciplinas acima citadas. Tais pro-
ações, realizadas em todos os semestres fessores criticam muito a qualidade do
ao longo desses 2 anos, verifica-se que ensino médio e do próprio aluno, às ve-
todos se mostraram motivados a princí- zes, de forma agressiva.
pio. No item relativo aos motivos que os
levaram a escolher Engenharia Quími- Partindo do princípio de que as expec-
ca, todos marcaram como primeiro mo- tativas dos alunos ingressantes são boas, é
tivo o fato de gostarem de química, se- preciso um acompanhamento intensivo
guido pelo fato das atividades parece- para se verificar as causas de tantas repro-
rem interessantes e em terceiro lugar o vações e abandonos, que provocam a eva-
fato de gostarem de matemática e de ci- são de mais de 50% dos alunos.
ências exatas. Tais resultados têm sido
repetidos em todos os semestres consi- Metodologia de ensino
derados. Quanto às expectativas dos alu-
Abordagem educacional/
nos, de modo geral, são muito boas e
teoria educacional
quase todos desejam se tornar bons pro-
fissionais para atuarem nas diversas áre- Um aspecto relevante na implantação
as e esperam obter sólidos conhecimen- da disciplina de Introdução à Engenha-

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ria Química é a abordagem educacional concebida, convergente. Outras abordagens


empregada, que está muito baseada no educacionais necessitam de maiores níveis
tipo de relacionamento que o professor de maturidade. No cognitivismo, a instru-
deve manter com seus alunos. Pela ava- ção está focada na transmissão do proces-
liação realizada verificou-se que este é so de pensamento ao aluno e, no construti-
um ponto crucial. A falta de diálogo dos vismo, a instrução estimula a construção
professores do ciclo básico com os alu- mental da realidade pelo próprio aluno.
nos ingressantes gera um ponto de con- Nesta última abordagem, os alunos são
flito que se transforma em bloqueio de encorajados a desenvolver sua própria rea-
aprendizagem. Os professores dizem que lidade, isto é, sua própria solução, onde as
ensinam, mas os alunos não aprendem. respostas não são pré-concebidas, são di-
Certamente, olhando os fatos por uma vergentes. Por fim, tem-se a técnica ABP,
ótica pedagógica, verifica-se que tais pro- aprendizado baseado em problemas do PBL
blemas estão relacionados com a incom- – Problem-Based Learning, onde o apren-
patibilidade da metodologia de ensino dizado baseia-se na solução de um proble-
adotada e o nível de maturidade dos alu- ma real por pequenos grupos de discussão
nos ingressantes. conduzidos por um tutor, estimulando o tra-
balho em equipe.
A partir das teorias educacionais, é
possível estabelecer a forma como o pro- Ora, os alunos ingressantes desco-
fessor deve conduzir seu relacionamento, nhecem totalmente o contexto que os
com os alunos, baseado no nível de ma- cerca, isto é, são neste aspecto total-
turidade destes. De acordo com Kozak e mente imaturos. A universidade, na sua
Eberspächer (2001), a maturidade, deter- forma de créditos, esfacela o princípio
minada a partir de duas dimensões, a ca- de “turma”, ao qual estão habituados;
pacitação e a disposição dos alunos, deve agora os alunos não têm mais uma sala
ser considerada na escolha da aborda- fixa, mudam não somente de sala, como
gem educacional a ser adotada. Realmen- de instituto/faculdade e até de campus/
te, os alunos “calouros”, provenientes do bairro. As informações estão dispersas
ensino médio e/ou de cursinhos, estão e os alunos têm que correr atrás delas,
mais freqüentemente habituados a traba- diferentemente de antes, onde os pro-
lhar num ambiente quase que estritamen- fessores levavam essas informações aos
te baseado no procedimento estímulo/res- alunos praticamente na sala de aula.
posta, típico do comportamentalismo. Soma-se a isso, a falta de informações
sobre a própria profissão que escolhe-
No comportamentalismo, a instrução ram que, diga-se de passagem, no caso
está focada no condicionamento do com- da engenharia, é muito diferente daqui-
portamento do aprendiz, o instrutor mani- lo que prenuncia o básico. Enfim, exi-
pula as mudanças de comportamento e o ge-se uma maturidade muito além do
guia no caminho para uma resposta pré- que eles possuem.

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Quadro 1 - Questionário de avaliação de expectativas e de dificuldades enfren-


tadas pelos alunos do 1 período do Curso de Engenharia Química

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Na disciplina de Introdução à En- do construtivismo. Além disso, através dos


genharia Química, o papel do profes- problemas reais da profissão e do país que
sor caminha no sentido de encorajar o são apresentados aos alunos, observa-se
aluno, dando-lhe subsídios para faci- uma valorização do sentimento de grupo
litar seu amadurecimento e a aborda- que fica mais estimulado e consciente para
gem educacional utilizada leva em con- enfrentar desafios.
sideração a evolução desse amadure-
cimento. Os professores buscam capa- No final do semestre, um almoço reú-
citar o aluno, informando-lhe sobre o ne todos os alunos e os professores da dis-
funcionamento da universidade/curso ciplina, onde num clima de confraterniza-
e dando-lhe uma visão mais concreta ção e de diálogo franco, são avaliados os
acerca da profissão escolhida. É for- resultados e novas sugestões são encami-
necido um espaço constante para o alu- nhadas para serem implementadas no pró-
no se posicionar, relatar suas experi- ximo período.
ências, dúvidas e dificuldades. Cria-
se um clima de respeito e confiança, Programa da disciplina/
de certa forma terapêutico. A palavra plano de aulas
de conforto e a orientação dos profes- Buscando melhorar a adaptação dos
sores motivam os alunos, que se de- alunos e motivá-los para a profissão, foi
claram “felizes” e “menos perdidos”. montado um plano de trabalho, optando-
São identificados pontos de conflitos se por aliar informação com formação, in-
existentes, principalmente em relação cluindo aulas, palestras, visitas técnicas aos
ao ciclo básico, que junto com a co- laboratórios do Departamento de Engenha-
ordenação do curso são discutidos, tra- ria Química e à indústria.
balhados e por vezes solucionados. Em
fim, esta experiência tem sido extrema- Com uma carga horária de 60h, distri-
mente gratificante e, apesar de ser re- buída em 4h semanais, os seguintes tópi-
cente, já tem fornecido resultados muito cos são abordados:
promissores, inclusive no que diz res- • A UFF e a estrutura universitária;
peito ao nível de aprovação dos alu- • O Curso e o Departamento de Enge-
nos em todo básico. De fato, a adap- nharia Química;
tação do aluno à universidade é ace- • Currículo do Curso de Engenharia
lerada e o censo crítico é estimulado. Química, ciclo básico e profissional;
• O que é Engenharia Química;
O que se observa é que aos poucos a • Campo de atuação profissional;
forma de o professor atuar vai modifican- • Mercado de trabalho;
do, adequando-se ao processo evolutivo • A indústria química e petroquímica;
do amadurecimento do aluno passando • Estequiometria industrial e problemas;
para um ambiente colaborativo, de troca • Palestras com profissionais das diver-
de idéias, cujo professor auxilia na toma- sas áreas, na maioria professores do
da de decisões e o aluno é encorajado a Departamento de Engenharia Quími-
construir seu próprio conhecimento e bus- ca, com relatos de experiência profis-
car seu próprio caminho, características sional vivida;

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• Visita aos laboratórios do Departa- noção de desenvolvimento sustentável.


mento de Engenharia Química;
• Palestras buscando integrar e mos- Os aspectos humanísticos também são
trar a aplicação dos conhecimen- ressaltados, mostrando que a profissão de
tos adquiridos no ciclo básico, en- engenheiros visa aplicação dos conheci-
fatizando sua relevância para o mentos científicos, e como tal o engenheiro
profissional; deve trabalhar para o bem-estar comum
• Apresentação aos professores do De- da sociedade. Ensina-se que Engenharia,
partamento de Engenharia Química; enquanto agente transformador, promove
• Relatos de alunos em períodos mais a cidadania, introduzindo o conceito de res-
avançados, tais como monitores e ponsabilidade social.
bolsistas de iniciação cientifica, per-
mitindo colocá-los em contato com Avaliação ao final
os diversos programas institucionais;
• Palestra com alunos integrantes da da disciplina
Empresa Júnior; Ao longo de todo o período, as expec-
• Participação em algum evento da épo- tativas dos alunos se alteram e podem ser
ca realizado no âmbito da Escola de acompanhadas pelos professores de Intro-
Engenharia, do tipo, congressos, se- dução à Engenharia Química. Os alunos
minários, etc.; se mostram muito satisfeitos com o amparo
• Visita técnica à indústria; e orientações que recebem dos professores
• Ensino da utilização de ferramentas e esta satisfação tem sido declarada diver-
de busca na internet, acesso à base de sas vezes no decorrer das aulas.
dados da engenharia química;
• Sugestão de roteiro para elaboração Para verificar o resultado de forma con-
de relatórios técnicos; creta, é feita uma avaliação junto aos alu-
• Utilização de programas para elabo- nos no final da disciplina, para saber de
ração de gráficos; suas opiniões sobre a inclusão da disci-
• Aulas práticas em grupo; plina no 1o período, bem como avaliar a
• Dinâmica de grupo; contribuição que a mesma fornece na
• Apresentação final de trabalho desen- adaptação ao Curso. Além disso, busca-
volvido em grupo, onde os temas são se identificar as maiores dificuldades en-
propostos pelos próprios alunos, uti- contradas pelos alunos ao longo do perí-
lizando programas de apresentação odo e coletar sugestões para melhoria do
em multimídia. curso. A avaliação final é feita através de
um outro questionário preenchido pelos
Em todos os momentos, a questão am- alunos e de um almoço de confraterniza-
biental é discutida, buscando conscientizar ção no final do período, que permite o
os alunos para a importância da prevenção aprofundamento das questões contidas no
da poluição, dando uma visão das tecnolo- questionário. O Quadro 2 apresenta o
gias de controle ambiental, já existentes, e questionário aplicado aos alunos.

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272 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Quadro 2 - Questionário de avaliação ao final da disciplina de Introdução à


Eng. Química

Questionário para Alunos da Disciplina de Introdução à Engenharia Química

1) Nome: ________________________________________________ __________ __


2) O que você achou do seu 1 o período no Curso de Engenharia Química, quanto às
suas expectativas originais?
Gostei muito, as minhas expectativas foram atendidas totalmente
Gostei, as minhas expectativas foram atendidas parcialmente
Não gostei, as minhas expectativas não foram atendidas
3) Marque, dentre as opções abaixo, 5 (cinco) que refletem as suas principais
dificuldades no Curso de Eng. Química.
Distância da residência
Carga horária do Curso muito elevada
Não consigo me adaptar
Aulas muito cedo
Intenso ritmo de estudo
Deslocamento dentro da UFF
Entendimento das matérias, especialmente, Física
Entendimento das matérias, especialmente, Química
Entendimento das matérias, especialmente, Matemática [neste caso,
especifique a (s) disciplina (s)] _________________________________
Relacionamento com professores da Física
Relacionamento com professores da Química
Relacionamento com professores da Matemática [neste caso, especifique
a(s) disciplina(s)] ____________________________________________
Outros, especifique __________________________________________

4) O que você achou da disciplina de Introdução à Engenharia Química?


Gostei muito e acho que contribuiu para a minha adaptação no curso
Gostei, mas acho que poderia melhorar (dê sugestões abaixo)
Gostei , mas o horário não é adequado
Não gostei, acho que não acrescentou nada
Gostaria de dar sugestões __________________________________________
5) Comentários adicionais, faça no verso da folha

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A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 273

A maior dificuldade apontada pela to- ca e Álgebra Linear. O constante rodízio


talidade dos alunos, ao final do período, entre os professores nas diversas discipli-
tem sido a elevada carga horária do curso. nas provoca alternâncias dos índices de
Em segundo lugar, encontra-se o desloca- reprovação e estes estão diretamente re-
mento dentro da UFF, e em terceiro lugar, o lacionados às reclamações dos alunos no
entendimento das matérias física e mate- que diz respeito ao tratamento pessoal e
mática. Apesar da distância da residência didática do professor. A Tabela 3 apre-
cair para a quarta posição, em relação à senta a percentagem de reprovações nas
avaliação inicial, em termos absolutos per- disciplinas críticas do 1 o período para
manece praticamente constante. alguns semestres letivos. Pode-se obser-
var altos índices de reprovação principal-
Quanto ao relacionamento com os mente em Cálculo I. Ë lógico que não se
professores do básico, vários problemas pode descartar os problemas relativos à
têm sido observados, especialmente com deficiência de base dos alunos ingressan-
professores de Cálculo I, Física I, Quími- tes, adquirida no ensino médio.

Tabela 3 – Reprovações nas disciplinas críticas do 1o período

Disciplinas Percentagem de reprovações

2o/2001 1o/2002 Média 2o/2002 1o/2003 2o/2003 1o/2004 Média


Cálculo I 81% 83% 82% 68% 42% 81% 62% 63%
Física I 38% 63% 50% 48% 21% 62% 38% 42%
Química G. III 41% 23% 32% 35% 21% 24% 38% 30%
Química G. III Exp. 25% 29% 27% 29% 18% 51% 15% 28%
Álgebra Linear 84% 23% 54% 61% 21% 51% 64% 49%
Total de alunos que
efetivamente 32 35 33-34 31 33 37 39 35
freqüentaram o
primeiro período

Com relação à disciplina de Introdu- Resultados alcançados


ção à Engenharia Química, todos têm gos-
Os resultados são surpreendentes. A
tado muito e consideram que a mesma con-
cada semestre observam-se aspectos dife-
tribuiu para sua adaptação ao curso. Sem-
rentes ainda não observados anteriormen-
pre há novas sugestões que são gradativa-
te. Verifica-se que o relacionamento pesso-
mente incorporadas à disciplina nas tur-
al e profissional professor-aluno é um pon-
mas subseqüentes. A capacidade crítica é
to fundamental na questão da adaptação
desenvolvida. O interesse nas questões do
e motivação, proporcionando um cresci-
curso é também estimulado. Algumas con-
mento do nível de maturidade dos alunos.
quistas têm sido alcançadas e um exemplo
Aproximar os alunos do Básico do Profissi-
é a criação da Semana de Engenharia
onal também dá novo ânimo aos alunos
Química, organizada por atuais e ex-alu-
que se sentem mais confiantes.
nos de Introdução.

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274 Rosenir Rita de Cássia Moreira da Silva, Fernando Benedicto Mainier e Fabio Barboza Passos

Ligeira melhora no índice de aprova- Este é mais um ponto para se refletir e


ção dos alunos tem sido percebida quando certamente está relacionado às desistên-
comparado com os semestres anteriores cias frente às reclassificações que ocor-
à inclusão da disciplina, como pode ser rem para preenchimento das vagas, por
visto pelas Tabelas 3 e 4. Na média, 22% motivo dos vestibulares isolados nas di-
dos alunos foram aprovados em todas as versas instituições de ensino. Outros pou-
disciplinas, em comparação com os cos são dispensados de algumas disci-
13,5% obtidos antes da inclusão. O per- plinas, por já terem cursado em outras
centual de alunos que ficaram reprova- universidades. De qualquer forma, nos
dos em todas as disciplinas, exceto Intro- cálculos efetuados na Tabela 4, esses alu-
dução à Engenharia Química, caiu à nos não foram considerados.
metade. Deve-se levar em consideração
que apesar dos resultados serem tímidos, Além dos pontos já destacados, per-
os alunos que cursaram o 1 o período, cebeu-se que o grau de motivação dos
após a inclusão da disciplina de Introdu- alunos aumentou consideravelmente. A
ção à Engenharia Química, cursaram 7 satisfação dos alunos com a disciplina
disciplinas, enquanto os que ingressaram de Introdução à Engenharia Química, e
antes do 2o semestre de 2002 cursaram com os professores da mesma, tem sido
6. Certamente, o impacto na carga ho- percebida através das diversas declara-
rária dos alunos que cursaram 7 discipli- ções feitas por escrito pelos alunos, tais
nas foi considerável, pois ficaram com como:
menos tempo disponível para estudo. De “As aulas de Introdução foram muito
qualquer forma, é bom deixar claro que importantes para podermos discutir
nos cálculos efetuados para as turmas a as nossas insatisfações e dificulda-
partir do 2o semestre de 2002, foram con- des no curso”.
sideradas apenas 6 disciplinas, excetu- “Estou gostando do curso, apesar de
ando a disciplina de Introdução à Enge- não ser fácil. Acho que as aulas de
nharia Química, cujo índice de aprova- Introdução foram essenciais nesse
ção tem sido praticamente de 100%. período de transição em que deve-
mos entrar no ritmo de faculdade.
Tais resultados permitiram um aumento Foi um amigo [...]”.
do coeficiente de rendimento (CR) médio “Agradeço o carinho e o apoio e
dos alunos. Pôde-se verificar que o nú- quando eu me formar quero que
mero médio de alunos com CR > 6,0 saibam que os grandes responsá-
subiu de 8-9 para 13, num total de 31 a veis são vocês”.
39 alunos que freqüentaram devidamen- “A Introdução à Engenharia Química
te o 1o período, nas diversas turmas. traz o conhecimento da profissão
que nos ajuda a conhecer o que ire-
É bom frisar que o número de vagas mos fazer e também a ter uma rela-
oferecidas no vestibular é de 40 por se- ção amigável com os nossos futu-
mestre, mas observa-se que, em média, ros professores. Que os próximos
5 a 6 alunos abandonam já no primeiro alunos aproveitem e gostem tanto
período sem sequer assistir a uma aula. quanto eu”.

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A Contribuição da disciplina de introdução à engenharia química no diagnóstico da evasão 275

Tabela 4 – Índice de aprovação e reprovação nas disciplinas do 1o período,


antes e depois da inclusão da disciplina de Introdução à Engenharia Química

Antes da Inclusão Depois da Inclusão


Alunos 2 sem. 1 sem. Média 2 sem. 1 sem. 2o sem. 1o sem. Média
o o o o

2001 2002 2002 2003 2003 2004


Alunos aprovados em
18% 9% 13,5% 16% 40% 10% 23 22,2%
todas as disciplinas
Alunos reprovados em todas
as disciplinas, exceto Int. 8% 20% 14% 10% 3,3% 8% 5 6,6%
Eng. Química
CR médio da turma no final
do 1o período 5,49 4,66 5,08 5,01 5,82 5,14 5,24 5,30
o
N de alunos com CR>6,0 10 7 8-9 11 19 9 16 14
Total de alunos que
efetivamente freqüentaram o 32 35 33-34 31 33 37 39 35
1o período

Outrossim, foram identificados pon- Conclusões


tos críticos a serem considerados na re-
Observou-se uma grande retenção dos
forma curricular, em andamento, den-
alunos que levam em média 13 semestres,
tre eles, a excessiva carga horária no
6,5 anos, para concluir o curso de Enge-
primeiro período que traz prejuízos à
nharia Química da UFF. Ao longo dos últi-
adaptação do aluno, e certamente de-
mos anos, apenas 16,4% dos alunos con-
verá ser diminuída. Muitos outros pon-
seguiram se formar no tempo normal de 10
tos serão avaliados em função das de-
semestres, 5 anos.
clarações de insatisfação de relaciona-
mento com alguns professores de disci- Analisando-se a distribuição dos alunos
plinas de Cálculo, Física, Álgebra Li- no curso com relação ao número de crédi-
near e também de Química do básico. tos concluídos, verificou-se que a retenção
ocorre principalmente nos 3 primeiros perí-
De qualquer forma, verificou-se que odos do curso, devido ao alto índice de re-
tratar o aluno com um pouco mais de provação, causando desmotivação e cul-
atenção e respeito, ajudou no seu ama- minando em abandono e evasão do curso.
durecimento e crescimento no curso, A pior situação ocorre no 1º período. Os
dando a ele uma visão mais humanís- alunos que conseguem superar a barreira
tica da profissão, o que contribuiu para do ciclo básico normalmente se formam.
um menor índice de abandono. A dis-
ciplina de Introdução à Engenharia A disciplina de Introdução à Engenha-
Química, com esta missão, deverá ser ria Química foi introduzida no 1o período
incluída definitivamente como discipli- do curso, em caráter optativo por enquan-
na obrigatória no primeiro período e to, para avaliar as causas. De acordo com
não mais como optativa. as declarações dos alunos identificaram-se

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pontos de conflito, principalmente no que A inclusão da disciplina de Intro-


se refere ao relacionamento professor-alu- dução à Engenharia Química, com
no nas disciplinas de Cálculo I, Física I, uma visão mais humanística e buscan-
Álgebra Linear e Química. Verificou-se que do sempre aproximar o aluno “calou-
estas disciplinas apresentam altos índices ro” da profissão, foi um sucesso.
de reprovação que, no entanto, variam não Apostou-se no relacionamento pesso-
somente em função da base que os alunos al do professor-aluno como forma de
trazem do ensino médio, mas também em motivação para promover o amadu-
função do professor que ministra a discipli- recimento do aluno. Verificou-se que
na. Neste contexto, observou-se um gran- na média o índice de aprovação nas
de rodízio de professores no ciclo básico disciplinas do básico aumentou e o de
que provoca alternâncias nos índices de re- reprovação caiu praticamente à me-
provação e tais índices estão diretamente tade. Em função dos resultados alcan-
relacionados às reclamações dos alunos no çados pretende-se torná-la obrigató-
que diz respeito ao trato pessoal e à didáti- ria no currículo do curso, na próxima
ca dos professores. reformulação curricular.

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Recebido em: 22/02/2005


Aceito para publicação em: 29/03/2006

Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.51, p. 261-277, abr./jun. 2006

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