Você está na página 1de 45

A ANSIEDADE SOB A ÓTICA DA MTC -

BENEFÍCIOS DA ACUPUNTURA

Monografia apresentada ao
Centro Integrado de Estudos e
Pesquisas do Homem como
requisito parcial para obtenção
do grau de Especialista em
Acupuntura.

Florianópolis, maio de 2011.


CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM
PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM ACUPUNTURA

A ANSIEDADE SOB A ÓTICA DA MTC –


BENEFÍCIOS DA ACUPUNTURA

Elaborada por
CRISTINE FERREIRA DE OLIVEIRA LIMA

COMISSÃO EXAMINADORA:

___________________________________________________
Profa.Luisa Regina Pericolo Erwig, MSC
Orientador/ Presidente de Banca

___________________________________________________
Prof.Marcelo Fabián Oliva, Esp.
Membro de Banca

__________________________________________________
Prof. Analyce Claudino dos Santos, Esp.
Membro de Banca

Florianópolis, maio de 2011.

2
SUMÁRIO

RESUMO.......................................................................................................... 04

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................... 05
1.1 O problema e sua relevância ..................................................................... 07
1.2 Objetivos .................................................................................................. 08
1.2.1 Geral.........................................................................................................08
1.2.2 Específico..................................................................................................08

2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................. 09


2.1 Bases da Medicina Tradicional Chinesa ...................................................... 09
2.1.1 T’chi ou Qi, energia em movimento..............................................................09
2.1.2 Uma vez Yin, uma vez Yang, eis o Tao........................................................10
2.1.3 Os Cinco Movimentos.... .......................................................................... 12
2.1.4 Shen e a Alma dos Zang........................................................................... 13
2.1.5 A desarmonia ou perturbação do Shen. ..................................................... 15

2.2 ANSIEDADE E ACUPUNTURA. ........................................................... 21


2.2.1 Ansiedade: Psicologia Ocidental e MTC. .................................................... 21
2.2.2 Tipos de Ansiedade segundo a bioenergética. ............................................ 25
2.2.3 Benefícios da Acupuntura. ........................................................................ 27
2.3 Proposta de tratamento para enfermidades mentais. ...................... 30

3. METODOLOGIA DO ESTUDO. ............................................................ 36

4. DISCUSSÃO. ........................................................................................ 37

5. CONCLUSÃO. ...................................................................................... 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ............................................................... 43

3
RESUMO

Título: “A Ansiedade sob a ótica da MTC - Benefícios da Acupuntura”


Autora: LIMA, Cristine Ferreira de Oliveira
Orientadora: Luisa Regina Pericolo Erwig

A Acupuntura, técnica milenar da Medicina Tradicional Chinesa, visa o tratamento


de diversas enfermidades por meio da aplicação de agulhas e moxas (bastão de
erva artemísia) em pontos energéticos que se localizam no corpo humano, mais
precisamente nos meridianos ou canais. Este conjunto de conhecimentos teórico-
empíricos tem por base um tripé: 1) a existência de uma substância imaterial
invisível chamada energia (Qi) responsável em primeira instância por toda e
qualquer alteração biológica e que faz tudo existir; 2) a cíclica transformação da
força dos dois componentes do Tao, Yin e Yang, lei da relatividade que faz tudo se
mover; 3) os Cinco Movimentos ou Elementos da natureza que são Fogo, Terra,
Metal, Água e Madeira. Uma obstrução do fluxo desta energia vital Qi, resulta em
um desequilíbrio energético. O objetivo da Acupuntura é restaurar o equilíbrio
deste fluxo energético e assim fazer com que as unidades energéticas (órgãos e
vísceras) retornem a sua função normal. Porém, mais do que tratar órgão ou
sintomas, a MTC busca descobrir o padrão energético de cada pessoa (se está
mais Yin ou Yang), os elementos da natureza que predominam, em que pontos a
energia está bloqueada e quais emoções desequilibram a saúde. Considerando
que a Ansiedade (fenômeno que pode ser caracterizado por um estado subjetivo
desagradável de inquietação, tensão e apreensão momentânea ou contínua) afeta
uma grande parcela da população, apresentando incidência relevante e crescente
nos dias atuais, além do que os tratamentos com substâncias psicoativas podem
oferecer riscos físicos e psicológicos como dependência, entre outros efeitos
colaterais, a Acupuntura apresenta-se como uma alternativa terapêutica que pode
ser incorporada à prática clínica e aos estudos científicos da área da saúde
mental. Portanto, pretende-se com este trabalho estudar mais profundamente a
relação teórica e prática da Acupuntura como tratamento para a Ansiedade, sob o
enfoque teórico da MTC.

Palavras chaves: Medicina Tradicional Chinesa, Acupuntura, Ansiedade.

CENTRO INTEGRADO DE ESTUDOS E PESQUISAS DO HOMEM – CIEPH


PÓS-GRADUAÇÃO PROFISSIONAL EM ACUPUNTURA
Florianópolis, maio de 2011.

4
1. INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como eixo a Acupuntura como tratamento para a

Ansiedade, importante problema este que afeta considerável parte da

população. Manifesta-se em indivíduos de todas as faixas etárias e repercute

em suas vidas nos aspectos biopsicossociais, configurando um problema de

saúde que se torna cada vez mais evidente no cenário atual.

A Ansiedade apresenta sensações corporais desagradáveis, tais como

taquicardia, preocupação, nervosismo, insônia, transpiração, pânico, etc.

Dependendo da intensidade ou freqüência com que ocorrem estes sintomas,

pode se tornar patológico e acarretar muitos problemas posteriores, como o

próprio transtorno da ansiedade.

Usada há séculos pelos chineses, a Acupuntura pode ser descrita como

uma terapia holística, que analisa o ser humano como um todo, onde cada

paciente possui uma individualidade original. É um tratamento muito eficaz no

alívio da dor crônica e aguda (enxaquecas, dores na coluna, tendinites, entre

outras) e também, apresenta excelentes resultados nos tratamentos das

alterações mentais (estresse, ansiedade, depressão), inclusive vícios

(tabagismo, alcoolismo, drogas).

Esta prática milenar dos países orientais passou a ter um destaque

privilegiado no panorama dos Programas de Saúde e como prova de sua

importância no cenário clínico foi reconhecida pela Organização Mundial de

Saúde na portaria n°971/2006 do Ministério da Saúde.

Assim, o presente trabalho caracterizar-se-á por uma revisão

bibliográfica sobre Ansiedade sob a ótica da MTC e os benefícios da

5
Acupuntura. O estudo pretende descrever Ansiedade em sua definição,

causas, classificação e proposta de tratamento através da Acupuntura sob o já

citado referencial teórico.

6
1.1. O PROBLEMA E SUA RELEVÂNCIA

A Acupuntura para o tratamento da ansiedade ainda é recente no meio

científico ocidental. Esta prática é um dos muitos recursos terapêuticos que

compõem a MTC. Esta teoria compreende o homem num todo, com uma

avaliação sistêmica, onde em um plano terapêutico, o Shen (espírito) é a força

criadora que precisa ser mobilizada no sentido da cura, ou seja, o ser humano

é um ser energético.

As causas das enfermidades mentais estariam determinadas por uma

série de fatores endógenos e exógenos, que se relacionam com o conceito

holístico do ser humano em correspondência com o universo em que está

inserido. Qualquer fator de incidência sobre o Qi (energia) seria um fator

incidente sobre o Mental (Shen), inclusive as próprias emoções.

A ansiedade é um fenômeno muito estudado no ocidente pela Psicologia

e Medicina e pode ser caracterizado por um estado subjetivo desagradável de

inquietação, tensão e apreensão momentânea ou contínua.

Considerando que a ansiedade afeta uma grande parcela da população,

apresentando incidência relevante e crescente nos dias atuais, além do que os

tratamentos com substâncias psicoativas podem oferecer riscos físicos e

psicológicos como dependência, sedação, perda significativa de memória,

entre outros efeitos colaterais, a Acupuntura apresenta-se como uma

alternativa terapêutica que pode ser incorporada à prática clínica e aos estudos

científicos da área da saúde mental.

7
Portanto, pretende-se com este trabalho estudar mais profundamente a

relação teórica e prática da Acupuntura como tratamento para a ansiedade, sob

o enfoque teórico da MTC.

1.2. OBJETIVOS

1.2.1. GERAL:

• Realizar um estudo sobre Ansiedade sob o enfoque teórico da

Medicina Tradicional Chinesa e os benefícios da Acupuntura.

1.2.2. ESPECÍFICOS:

• Desenvolver o conceito e possíveis causas e tipos de ansiedade sob

o enfoque do ocidente e principalmente da MTC bioenergética;

• Descrever os benefícios da Acupuntura para o tratamento da

ansiedade, baseados nas informações contidas nas bibliografias

pesquisadas.

8
2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Bases da Medicina Tradicional Chinesa

2.1.1. T´chi ou Qi, energia em movimento

Para a Medicina Tradicional Chinesa existe uma força básica de energia

que flui por todos os seres vivos, que é denominada T´chi ou Qi. Segundo

AUTEROCHE (1992) “o Qi é manifestadamente, ora o sopro cósmico universal,

ora a energia vital do indivíduo, ora a emanação, a manifestação, o impulso de

uma víscera, ora o ar que se respira”.

Esta força flui pelo corpo e trafega ao longo dos doze meridianos

primários e dois secundários, onde nesses canais há pontos clássicos de

Acupuntura. Cada meridiano se conecta a outro numa forma sistemática onde

o Qi flui irrigando e nutrindo órgãos e tecidos, promovendo o efetivo

funcionamento do organismo. Os meridianos ou canais correspondem a uma

rede complexa e cobrem todo o corpo, estabelecendo ligação entre órgãos e

vísceras, interior e exterior, Yin e Yang.

A obstrução de um canal reduz a circulação do Qi, gerando

desequilíbrio interno. WATSS (1999) relata que uma das funções do Qi é fazer

circular o sangue, que para os chineses é uma força densa de Qi (Xue),

quando há estagnação de Qi ou de Xue gera a dor e doenças.

A ação do Qi em sua fisiologia pode ser classificada pelos opostos e

complementares, onde a energia é Yang e a matéria é Yin. O aspecto Yang

(energia) recebe o nome Qi e o aspecto Yin (matéria) recebe o nome Jing.

9
Além disso, cada pessoa possui o Qi Ancestral, que é a força transmitida por

nossos pais, a hereditariedade responsável pelo movimento da perpetuação da

espécie, e o Qi Adquirido energia do meio ambiente que assimilamos pela

respiração e pela alimentação.

Assim o Qi é uma palavra que indica uma expressão dirigida e

estruturada de movimento, ou seja, uma direcionalidade, um movimento numa

direção determinada. Não é a energia estática, mas o impulso motor que se

manifesta sob diversas formas e estados, no homem e na natureza,

conservando sempre a sua característica essencial de ser uma, e ao mesmo

tempo múltipla em função do Yin e Yang, seus dois componentes básicos,

próximos conceitos abordados neste trabalho.

2.1.2. Uma vez Yin, uma vez Yang, eis o Tao

O Taoísmo é um sistema filosófico-religioso que trata da essência e

natureza da condição humana e que norteou o caráter do povo chinês ao longo

de mais de dois mil anos. O chamado Livro das Mutações é uma das bases do

pensamento oriental e ensina que todos os acontecimentos se inter-

relacionam.

Esse princípio rege a existência de todas as coisas, fazendo com que

elas se correspondam e se complementem dentro do cenário da vida. A

doença, por exemplo, contém ao mesmo tempo sua causa e efeito, porque, no

modo de pensar oriental, não existe dicotomia entre mente e corpo, espírito e

matéria, estrutura e função.

Conseqüentemente, não há possibilidade de separação da história

pessoal de cada um, do ambiente em que está inserido, do seu estado físico e

10
emocional. Tudo esta em constante movimento e assim saúde e doença são

pólos opostos e complementares de um mesmo fluxo de vida.

Como refere PEREZ (2007), para o Taoísmo os conceitos dualistas

clássicos de bem e mal, corpo e alma, espírito e matéria, homem e mulher (que

no ocidente são concebidos como entes opostos e independentes) não são

mais do que manifestações opostas e complementares do Principio Primordial

ou T´chi, sem cuja alternância não existiria a vibração ou movimento e em

conseqüência a própria vida.

Logo, a compreensão do Tao passa pela aceitação dos opostos no

mundo dos fenômenos, sem atribuição de valor, apenas com um atributo da

mutação. O que é bom ou mau não é Yin ou Yang, mas o equilíbrio ou

desequilíbrio que podem existir entre eles.

Dia e noite, luz e escuridão, atividade e repouso. A observação das

leis naturais deu origem ao conceito de Yin e Yang, a primeira manifestação do

Tao, isto é do vazio. A dualidade Yin/Yang é a expressão da variação

sucessiva de estados opostos. Nada é absoluto e tudo contém em si a

semente de seu contrário. O dia é Yang, mas ao alcançar seu apogeu, o Yin

dentro dele começa a se desenvolver e mostrar-se gradativamente. Para

existir o Yin é preciso haver o Yang, assim como não existe frio sem calor, não

há sombra se não houver luz.

No ser humano essas forças também estão presentes, pois o homem é

mais Yang e menos Yin, já a mulher é mais Yin e menos Yang. Quando esses

dois elementos estão mesclados em nosso organismo, fornecem equilíbrio

energético, gerando conseqüentemente a saúde. Quando as proporções se

11
alteram, vem a doença, pois a deficiência de um leva ao excesso do outro.

Para entender melhor essa relação será apresentado a Lei dos Cinco

Movimentos, o Shen e alma dos Zang.

2.1.3. Os Cinco Movimentos

Essa teoria surge a partir da identificação dos cinco elementos mais

freqüentes na natureza e que em essência, representam o equilíbrio dinâmico e

a inter-relação entre os órgãos, vísceras, sabores, cores, estações do ano,

sentimentos, alimentos, etc. Tudo que forma parte do próprio ser e que está a

sua volta. São eles:

• Madeira: Yang, que representa a força do crescimento e da

expansão;

• Fogo: Yang, que simboliza instabilidade, mudanças;

• Terra: Yin, é o elemento que nutre, gera, protege;

• Metal: Yin, que representa o poder de agregar, condensar, solidificar;

• Água: Yin, que simboliza a fluidez, a capacidade de purificar e de se

adaptar.

Segundo PEREZ (2007), a Lei dos Cinco Movimentos proporciona

esquemas nos quais é possível classificar todos os fatos que ocorrem na

natureza, todos os fatores que regem nossa existência (relacionado com a

fisiologia: relações orgânicas, viscerais, psíquicas, etc). Rege as regras de

ação mútua, de ajuda e de neutralização, de dominância ou inibição relativa, de

equilíbrio e harmonia.

Ainda segundo o mesmo autor, permiti conhecer as causas favoráveis e

desfavoráveis que possam influir em cada sistema, o que lhes pode tonificar ou

12
dispersar, o que será preciso estimular ou acelerar, ou, ao contrário, o que terá

de inibir ou desacelerar para conseguir o equilíbrio energético.

2.1.4. Shen e a Alma dos Zang

De acordo com PEREZ (2007) existem 12 unidades ou seis conjuntos

compostos por um elemento Yang e um elemento Yin, que guardam entre si

uma relação de alternância no ciclo de circulação energética e cujas funções

fisiológicas se complementam formando um movimento que responde às

influências dos ciclos naturais.

Assim, são formados os conjuntos Yin e Yang ou Zang-Fu (órgãos e

vísceras), sendo que cada um deles ocupa um lugar no pentágono dos Cinco

Movimentos:

• Fígado e Vesícula Biliar correspondem ao movimento Madeira;

• Coração e Intestino Delgado ao movimento Fogo;

• Estômago e Baço Pâncreas ao movimento Terra;

• Pulmão e Intestino Grosso ao movimento Metal;

• Bexiga e Rim ao movimento Água.

• Triplo Aquecedor e o Mestre do Coração, não são órgãos nem

vísceras, mas funções de coordenação e proteção dos outros

elementos. O TA regula e coordena toda função Yang e o MC realiza

uma função reguladora sobre a ação metabólica e conservadora do

Yin. O MC tem relação com o coração, “fogo imperial” ao qual

protege e ao qual está indissoluvelmente unido, fazendo com que ele

13
se projete na relação dos Cinco Movimentos também no elemento

Fogo, como “fogo ministerial”, igualmente que ao seu par Yang TA.

Como afirma PEREZ (2007), para a MTC viver é transformar a água

em fogo, a semente em fruto, o substrato em energia, ordenar a desordem,

fazer funções fisiológicas, ordenar os substratos graças a uma fase de projeção

(Yang, madeira), a uma fonte de energia (terra) e a uma reciclagem do sistema

(metal).

Esses cinco grandes arquétipos, a desordem (água), a fase de

ordenamento (madeira), a função fisiológica (fogo), a fonte de energia (terra) e

a reciclagem do sistema (metal), são os cinco grandes pacotes onde se inclui

tudo o que tem relação com os substratos, com a função fisiológica, com a

obtenção de energia, etc. Nesta penta-coordenação entram os sistemas Zang-

Fu.

Assim os órgãos (Zang), possuem uma capacidade psicossomática.

Segundo o conceito tradicional existe uma energia básica que marcará as

etapas de desenvolvimento e evolução física do ser humano, assim como as

características essenciais da personalidade, chamada energia do “Céu

Anterior” (vem de antes do nascimento) e se denomina Zhongqi. O conjunto

das energias do Céu Anterior e do Céu Posterior se denomina Zhengqi. O

Zhengqi será responsável pelas funções vitais fundamentais (térmica, nutritiva,

defensiva), da personalidade essencial ou primária.

Essas energias condicionam traços de personalidade, resultando em

padrões de comportamento subconsciente (energia ancestral) ou consciente

(energias do céu posterior). A personalidade essencial primária será então,

dependente do fator ancestral (Jingshen = Zhong + conjunto do Qi) e variável

14
em função das energias do Céu Posterior (Qi específico de cada órgão). A

energia acumulada no Mingmen (Jingshen + conjunto do Qi) circula através do

Vaso Maravilhoso Ren Mai, retroalimentando os cinco Zang e originando as

cinco atitudes básicas ou “cinco almas”:

• SHEN HOUN (F) – (jingshen + qigan), capacidade de imaginação e

de competência. Desejo e força psíquica. “Alma etérea”.

• SHEN THÂN (C) – (jingshen + qixin), capacidade intelectual e de

comunicação oral.

• SHEN YI (BP) – (jingshen + qipi), capacidade de avaliar e refletir

sobre o conhecimento de uma maneira adequada.

• SHEN PO (P) – (jingshen + qifei), sensibilidade, otimismo, vitalidade,

consciência de vida. “Alma sensitiva”.

• SHEN ZI (R) – (jingshen + qishén), força de vontade, memória.

Assim segundo PEREZ (2007), os cinco aspectos unidos formam o que

é denominado Mental (Shen), o equilíbrio psicoafetivo que é regulado pelo

Mestre do Coração (Fogo Ministerial) e pelo Coração (Fogo Imperial). “O

Sangue é o suporte do espírito”, por isso as alterações emocionais estão

diretamente relacionadas no ser humano com o Coração (Imperador), já que

este rege o Thân (consciência da existência, comunicação e conhecimento) e

rege também o Sangue, como será visto no próximo item.

2.1.5 A desarmonia ou perturbação do Shen

As atividades orgânicas psíquicas podem estar harmônicas e

equilibradas em sua relação de geração e controle. No entanto, este equilíbrio

15
pode alterar-se por um processo patológico ou por uma alteração da energia

dos órgãos (Qi), originando um distúrbio psíquico ou emocional. Se a energia

dos órgãos está dirigida para neutralizar um impacto psíquico (Yin), será em

detrimento da sua própria função somática (Yang), o que gerará uma

predisposição à alteração funcional. Em toda dualidade Yin-Yang, se um

cresce o outro decresce.

A desarmonia ou perturbação do espírito se manifesta de acordo com o

órgão afetado:

Fígado:

• Alterações Shen - XieShenHoun: excessiva competitividade, stress,

desejo descontrolado, irritação, etc. Ansiedade yang: pela posse.

• Alterações Qi relacionadas XieQiGan: predisposição a enfermidades

hepatobiliares e de sua área tissular: músculos, tendões, unhas, etc.

Coração

• Alterações Shen - XieShenThân: estados eufóricos, excessivas

emoções, esforço intelectual, oratória excessiva, etc. Psicoses.

• Alterações Qi relacionadas XieQiXin: predisposição a enfermidades

cardiovasculares, de intestino delgado e de sua área tissular: artérias

e veias.

Baço-pâncreas

• Alterações Shen – XieShenYi: excessiva preocupação, obsessão,

fobias, manias, etc. Transtornos obsessivos. Ansiedade Yin: pela

conservação.

16
• Alterações Qi relacionadas XieQiPi: predisposição a enfermidades

gástricas e de sua área tissular: tecido celular subcutâneo e tecido

conjuntivo.

Pulmão

• Alterações Shen - XieShenPo: angústia, tristeza, etc. Transtornos

depressivos.

• Alterações Qi relacionadas XieQiFei: predisposição à enfermidades

pulmonares, de intestino grosso e sua área tissular, pele e pelos.

Rim

• Alterações Shen - XieShenZi: medo, zelo, insegurança, uso

excessivo da força de vontade, etc. Transtornos fóbicos.

• Alterações Qi relacionadas XieQiShen: predisposição a enfermidades

renais, vesicais e de sua área tissular: ossos, dentes, sistema

endócrino.

PEREZ (2007) relata que qualquer fator de incidência sobre o Qi é um

fator incidente sobre o Mental, inclusive as próprias emoções. As causas da

enfermidade mental estão determinadas por uma série de fatores tanto

endógenos como exógenos, que se relacionam com o conceito holístico do ser

humano em correspondência com o universo em que está inserido:

FATORES PATÓGENOS ENDÓGENOS

A) Distúrbios psíquicos ou emocionais (Shen Xie): o Mestre do Coração é o

primeiro órgão a ser afetado pelo desequilíbrio de natureza psíquica, já que

recebe as cinco emoções, eliminando as plenitudes internas. Sempre que uma

emoção gera uma plenitude em um órgão, essa plenitude será desviada ao MC

17
através de vias internas denominadas “trajeto orgânico do meridiano distinto”.

Assim, os transtornos psíquicos em sua fase inicial vão cursar com

sintomatologia de plenitude deste órgão.

As emoções ou sentimentos que afetam as funções harmoniosas dos

Zang são: alegria, raiva, preocupação, tristeza, medo e representam as

modificações do Espírito em reação à percepção de mensagens emocionais

transmitidas pelo ambiente. Eles não são patogênicos em si ou quando o

quadro energético não dá condições ao desequilíbrio, mas em seguida a

estresses extremos, violentos ou muito prolongados, podem desencadear uma

desordem funcional já que atuam sobre a energia, obstruem, produzindo

excesso ou deficiência.

Aplicados à teoria dos Cinco Movimentos, as emoções podem vir a ferir

o órgão ao qual correspondem:

* A alegria afeta o Coração (consome e dispersa o Qi).

* A reflexão afeta o Baço-Pâncreas (estanca o Qi do BP).

* A tristeza afeta o Pulmão (esgota o Qi e gera deficiência de Qi).

* O medo afeta o Rim (faz o Qi descer).

* A raiva afeta o Fígado (faz o Qi subir ou ficar contra corrente).

B) Componente genético: a energia Zhong ou componente hereditário e

invariável, contem toda informação ancestral. Componente invariável da

personalidade essencial.

C) Fator latente: substrato mórbido que pode favorecer ou desencadear e

acelerar processos patogênicos quando unido a outros fatores

desestabilizadores (céu, homem, terra).

18
FATORES PATÓGENOS EXÓGENOS

A) Energias climáticas

Vento: (Yang) quando penetra no meridiano principal e se aprofunda o

desequilíbrio pode provocar confusão mental. O vento interno provém do

movimento Madeira, se este não se encontra em equilíbrio produz uma

aceleração do Yang do Fígado que se manifesta com vertigem, tremor,

convulsões, intumescimento dos membros e rigidez, e também sinais psíquicos

como ira e cólera. O vento interno também pode ser produzido por vazio de Yin

e de sangue, ou por hiperatividade do calor. Vento interno, portanto, não é uma

energia perversa e sim uma perturbação interna.

Frio: Yin, energia relacionada com o movimento Água e energia

predominante do inverno. Pode danificar o Yang do organismo,

comprometendo suas funções de aquecimento, transformação e secura.

Produz estancamento e obstrui a circulação do Qi e do Xue. Frio interno é uma

perturbação por vazio de Rim Yang, produzindo-se como conseqüência de uma

plenitude de energia Yin no interior.

Calor: Yang, relacionada com o movimento Fogo. Caracteriza-se pela

ascensão e dispersão, consome os líquidos orgânicos e a energia. Se o calor

persiste, afeta o Sangue. O calor excessivo combinado com o vento ascende

em direção à cabeça produzindo sinais de calor-fogo no Mental, gerando

insônia, hiperatividade, irritabilidade, ansiedade, delírio e até demência. O

calor “afoga” a energia e fere ao líquido orgânico e ao Coração. Aparece então

astenia física e psíquica.

Fogo: produz queimadura nos órgãos e vísceras, destruindo o líquido

orgânico e o sangue, causando enfermidades extremamente graves. O Fogo

19
interno é gerado principalmente por uma agressão de tipo emocional, já que as

cinco emoções podem se transformar em Fogo devido a um consumo das

essências que fazem parte do Yin. Outro fator desencadeante do Fogo interno

pode ser um excesso de comida e bebida Yang, por um excesso de Yang ou

problemas com o Yin.

Secura: energia predominante do Outono, que está relacionada com o

movimento Metal. A secura desidrata como fase prévia ao Fogo, de modo que

afeta o Pulmão enquanto fonte superior da água do organismo, aparecendo

sinais clínicos de secura na boca, nariz, garganta, bem como constipação. A

secura interna é uma manifestação do consumo excessivo ou perda de líquido

orgânico, produzida por uma insuficiência de YinYe, Jing ou Xue.

Umidade: energia do fim do verão e início do outono, relacionada com o

movimento Terra, no qual o Baço-Pâncreas se encarregará do equilíbrio da

umidade endógena e o Estômago da afetação pela umidade exógena. A

umidade externa provém do meio ambiente, com freqüência se associa ao

vento, frio e calor. A umidade interna é uma disfunção do Baço-Pâncreas

originada por transgressões dietéticas e emocionais de tipo ShenYin, que

estanca os líquidos, convertendo-os em umidade.

FATORES PATÓGENOS NÃO EXÓGENOS-ENDÓGENOS

A) Dieta e respiração: o ser humano que fabrica um Qi pobre irá apresentar

alterações no Shen (teoria Thin,Qi, Shen).

B) Atividade física, psíquica e sexual: excesso ou falta de atividade física,

psíquica ou sexual podem interferir no Qi circulante e no Shen.

20
C) Fleuma: quando há disfunção do Baço-Pâncreas gera-se fleuma, essa pode

ser a origem de diversas síndromes relacionadas às enfermidades mentais.

2.2. ANSIEDADE E ACUPUNTURA

2.2.1. Ansiedade: Psicologia Ocidental e MTC

A ansiedade é uma palavra ocidental e pode ser entendida como um

fenômeno natural do organismo que permite a cada indivíduo responder da

melhor forma possível às situações novas, conhecidas ou potencialmente

perigosas.

Conforme KAPLAN, SADOK & GREB (1997), a ansiedade apresenta

qualidades de preservação da vida, pois alerta o indivíduo sobre uma possível

ameaça interna ou externa. Porém, quando esta demonstra uma intensidade

ou duração elevada, ou não proporcional ao estímulo frente ao qual o indivíduo

se encontra é possível dizer que se está diante de um quadro patológico, ou

seja, de um transtorno de ansiedade.

Em relação aos transtornos de ansiedade, o DSM-IV (2002) classifica 14

tipos diferentes de transtornos que podem ser enquadrados nessa categoria,

sendo que, para este trabalho será conceituado o transtorno de ansiedade

generalizada que se caracteriza por: “... ansiedade ou preocupação excessiva

(expectativa apreensiva), ocorrendo na maioria dos dias... acompanhadas de

pelo menos três sintomas adicionais, de uma lista que inclui inquietação,

fadiga, dificuldade em concentrar-se, irritabilidade, tensão muscular e

perturbação do sono... embora os indivíduos com transtorno de ansiedade

generalizada nem sempre sejam capazes de identificar suas preocupações

como excessivas, eles relatam sofrimento subjetivo devido à constante

21
preocupação, têm dificuldade em controlar a preocupação, ou experimentam

prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas

importantes... a intensidade, duração ou freqüência da ansiedade ou

preocupação é claramente desproporcional a real probabilidade ou impacto do

evento temido.”

Enquanto que pela Psicologia ocidental a palavra Ansiedade se refere a

um estado somato-psíquico, para a MTC não existe separação entre mente,

corpo e espírito, portanto, não existem classificações de doenças ou distúrbios

exclusivamente psicológicos ou psiquiátricos como ocorre no ocidente, por

exemplo, no caso do transtorno de ansiedade.

A MTC tem um corpo teórico-prático diferente da medicina ocidental, na

qual a fisiologia, patologia, diagnóstico, tratamento e o prognóstico se inter-

relacionam, formando um modelo explicativo tanto para a prevenção e

manutenção da saúde, como para o diagnóstico e tratamento das doenças.

De acordo com KIDSON (2006), nesta terapia holística, o diagnóstico se

preocupa mais com o mau funcionamento das energias do organismo do que

com a manifestação da doença. Ou seja, a região onde a doença aparece

indica como o organismo foi afetado pelo bloqueio das suas energias.

Como visto anteriormente, para esta teoria, toda e qualquer doença é

ocasionada por um desequilíbrio da energia vital Qi, que cerca e permeia todas

as coisas. Segundo CAMPIGLIA (2004) essa energia flui por um sistema de

canais, através do sangue (Xue) e percorre o todo o corpo, os meridianos,

onde se concentram os pontos trabalhados pela Acupuntura. O homem ainda

deve estar em harmonia com as forças primordiais da natureza que os

chineses chamam de Yin e Yang, princípios opostos e complementares que

22
compõem todo o universo, onde a harmonia gera um equilíbrio que pode ser

traduzido como saúde e o desequilíbrio como doença.

Além disso, uma desarmonia em um dos Cinco Movimentos (Fogo-

coração (shen), Terra-baço-pâncreas (houn), Metal-pulmão (po), Água-rim (Yi),

Madeira-fígado (zhi)), ocasionaria automaticamente um desequilíbrio nos

aspectos mentais e energéticos destes. E como cada um desses órgãos

corresponde a um dos elementos da natureza e se relacionam a um

determinado aspecto mental, responsável pelo temperamento e pelas reações

subjetivas de cada pessoa, originaria uma postura e comportamento

específicos.

Segundo PEREZ (2007) o desequilíbrio psíquico pode ser produzido por

varias razões e para que apareça a patologia mental existem fases de

evolução. Essas quatro fases representam a evolução normal da enfermidade

mental, no entanto nem sempre seguem essa ordem:

• 1ª Fase – Fase Neurótica Yin ou Yang – Xie Mental: o MC não

está conseguindo gerenciar a informação emocional. Sintomas:

taquicardia, arritmia, opressão torácica, alteração da sexualidade por

excesso ou falta, alterações do sono (insônia), irritação, estresse,

problemas musculares (tensão muscular já que o Fígado e o Mestre

do Coração formam o mesmo plano – Jue yin).

• 2ª Fase – Fase Ansiosa Yin ou Yang – Xie Houn ou Xie Yi: se o

Mestre do Coração não controla a situação e falha em sua função

mediadora afetará o Shen do Baço-Pâncreas, Yi (Yin, preocupação)

e do Fígado, Houn (Yang, competitividade, irritabilidade). Esses dois

tipos de Ansiedade serão mais explorados no próximo item.

23
• 3ª Fase – Fase Depressiva Yin ou Yang – Xie Po: a unidade

energética afetada nesta fase é o Pulmão, responsável pela energia

vital. O indivíduo padecerá de uma queda na energia vital,

aparecendo angústia, melancolia, tristeza, pessimismo, perda da

auto-estima e ausência mórbida de vontade e da alegria de viver.

• 4ª Fase – Fase Psicótica Yin ou Yang - Xie Thân ou Xie Zi: se

supera a fase depressiva, pode ser afetado o eixo ShaoYin, eixo

mais profundo, responsável em última instância pelo equilíbrio Qi-

Xue e Yin-Yang. Os órgãos Coração e Rim estão envolvidos nesta

fase, gerando as grandes psicopatias: Loucura Yang (Xie Thân), ou

perturbação do espírito do Coração, onde aparecem comportamentos

Yang, como logorréia e euforia descontrolada. Loucura Yin (Xie Zi),

perturbação do espírito do Rim, onde aparecem comportamentos Yin

como medo, zelo, insegurança, inclusive terror intenso e medo de

tudo, onde a vida perde o sentido e pode-se chegar ao suicídio,

sendo que este corresponde a um estado crítico onde o paciente tem

perda de reconhecimento da própria imagem e do mundo que o

cerca.

Seja qual for, a função individual do órgão, ele faz parte de um conjunto

no organismo. Cada órgão só é significativo quando integrado ao conjunto de

todo o corpo. Esse todo, nosso organismo, é o cenário dos relacionamentos

entre nossas emoções, atividades mentais, tecidos, órgãos e influência

ambiental.

24
2.2.2. Tipos de Ansiedade segundo a bioenergética

Em uma entrevista no site Longevidade.Net, Carlos Nogueira Perez,

desenvolvedor e difusor da Acupuntura Bioenergética, afirma que os dois

pilares que suportam a Medicina Tradicional Chinesa, a Lei dos Opostos e

Complementares – ou Lei do Yin e Yang – e a Lei dos Cinco Movimentos

podem ser explicados graças aos dois grandes princípios da Física Quântica: a

Relatividade e a Interdependência.

Quando um choque emocional supera as possibilidades homeostáticas

do MC (órgão que coordena em primeira instância qualquer alteração do

comportamento), começa um processo que pode evoluir em direção a graus de

pior prognóstico. Os fatores endógenos, exógenos ou mistos (como já vistos),

podem ser a raiz da aparição deste primeiro estágio de desequilíbrio (Xie

Mental), onde o MC, enquanto válvula de escape, tenta neutralizar as

plenitudes internas.

De acordo com PEREZ (2007) se o MC falhou em sua função mediadora

será afetado o Shen do Baço Pâncreas (Xie Yi) e do Fígado (Xie Houn),

chegando à fase Ansiosa. O Fígado (Yang) e o Baço-Pâncreas (Yin) produzem

dois tipos de ansiedade:

• Ansiedade Yang: uma alteração do espírito do Fígado, que favorece

a possessividade, o materialismo, a excessiva competitividade. É a

ansiedade típica do homem. Apresenta como sintomas inquietude,

impulsividade, ira, irritabilidade, insônia, excesso de imaginação que

resulta em ansiedade e desejo descontrolado, ambição desmedida e

hiperatividade.

25
• Ansiedade Yin: uma alteração do Shen do Baço-Pâncreas que dá

lugar ao surgimento de preocupação excessiva pela conservação ou

manutenção das coisas, as condutas repetitivas, a obsessão. É a

ansiedade própria da mulher que pode conduzir a condutas

obsessivas, com o objetivo de manter seus valores essenciais como

beleza, filhos, segurança, ou seja, tudo o que possui ou forma seu

mundo.

Fazendo uma análise com o exposto anteriormente na revisão de

literatura, se o fluxo do Qi é necessário para a harmonia do organismo, a

ansiedade reduz a energia e dispersa o Qi do Coração, já que o MC não deu

conta, agitando o Shen e gerando uma deficiência.

No caso da Ansiedade Yang, a raiva como emoção geradora de

comportamentos de agressão ou ataque, do tipo ofensivo ou defensivo e de

possessividade, afeta primordialmente o Fígado. É a ira elevada, ao mais alto

grau com um sentimento incômodo de que algo não esta bem, causando

insatisfação e frustração.

Aliado a isso, pensando no ciclo de geração dos cinco movimentos,

sendo o Fígado (elemento Madeira) mãe do Coração (elemento Fogo), com

uma estagnação do Qi do Coração poderá haver uma hiperatividade do Yang

do Fígado no sentido de prover para o filho, neste caso o Coração.

Em relação à Ansiedade Yin, a emoção relacionada com a preocupação,

obsessão e reflexão excessiva, torna-se compulsiva, causando uma sensação

de desconforto físico e emocional, de que algo ruim poderá acontecer a

qualquer momento.

26
Esta preocupação estanca o Qi do Baço-Pâncreas. Se o Baço (terra) é

o filho do Coração (Fogo), ficará sem nutrição adequada da mãe, gerando um

estancamento e deficiência de seu Qi, o que o impede de realizar sua função

de transporte, transformação e inclusive a metabolização da fleuma (fogo em

excesso) do Coração. Além disso, no ciclo de controle dos cinco movimentos,

o excesso do Fígado também gera vazio em BP e plenitude no Coração.

Nessa perspectiva, numa análise geral, como exposto anteriormente,

pode-se entender que a afetação de uma ou outra unidade energética vai

depender de vários fatores. Uma patologia se fará presente devido a

alterações orgânicas, psíquicas, alterações do Qi/Xue, desequilíbrio Yin ou

Yang ou por alterações dos líquidos orgânicos. Porém, como descreve PEREZ

(2007), neste caso, um desequilíbrio proveniente de um fator Yin, tenderá a

repercutir no BP, mas se a raiz do desequilíbrio for de natureza Yang tenderá a

repercutir no Fígado.

2.2.3. Benefícios da Acupuntura

A antiga arte de curar através da agulhas e das moxas (artemísia

vulgaris), é parte integrante da MTC, que também inclui outras técnicas de

tratamento como fitoterapia, auriculoterapia, massagens, exercícios, etc. Um

dos escritos mais antigos que registram sobre a Acupuntura e que serve como

referência, é o Nei Jing, ou o livro chamado: Os Princípios (ou Clássicos) de

Medicina Interna do Imperador Amarelo.

Segundo WEN (2006), a Acupuntura é o conjunto de conhecimentos

teórico-empírico que surgiu na China em plena Idade da Pedra, há

27
aproximadamente 4.500 anos, mas apesar de sua antigüidade, continua

evoluindo.

A palavra Acupuntura deriva do latim acu (que significa com agulha) e de

puntura (que significa picada), mas na verdade a perfuração da pele não é o

essencial ao tratamento, relata KIDSON (2006). O fluxo de energia dos canais

pode ser manipulado de várias maneiras. Com o moderno avanço tecnológico,

outros instrumentos e técnicas como o ultrassom, as radiações infravermelhas,

o raio laser e outros equipamentos vieram enriquecer seus recursos

fisioterápicos.

Em seu livro WEN (2006) aponta várias vantagens sobre os benefícios

da Acupuntura dentre elas:

• Inúmeras possibilidades de aplicação, sendo útil em qualquer

doença, não importando sua localização, oferecendo auxílio de uma

maneira ou de outra para todas as faixas etárias, independente do

sexo, podendo ser facilmente associada a outras modalidades

terapêuticas.

• Diminuição do uso de medicamentos, que atualmente tem se tornado

abusivo, com freqüentes intoxicações, sem que se consigam

resultados terapêuticos ideais.

• Simplicidade da instrumentação necessária, de fácil transporte,

principalmente em algumas emergências.

• Complementa as lacunas da medicina moderna que ainda não

conseguiu resolver muitos dos problemas que atingem o ser humano.

Em muitas destas patologias, a Acupuntura, isoladamente ou

associada a drogas, obtém melhores resultados.

28
PEREZ (2007), afirma que atuando sobre os campos energéticos é

possível prevenir as alterações bioquímicas conseqüentes a um desequilíbrio

de polaridades. Além disso, a verdadeira cura de qualquer processo patológico

passará pela regulação e harmonização da energia humana, veiculada através

dos canais energéticos e transmitida através do sistema nervoso. Conclui,

expondo que este é fundamento de toda terapêutica Acupuntural e de todas as

medicinas que consideram a energia como princípio integrador e gênese de

toda estrutura físico-química.

Diante destas premissas, juntamente com o já referido anteriormente, no

caso da Ansiedade os benefícios da Acupuntura seriam notáveis, pois

considerando a visão holística adotada pela MTC, tem-se que os pensamentos

e as emoções influenciam diretamente na força vital, aumentando, ou ao

contrário, paralisando o fluxo de energia pelo corpo.

Esse processo pode ser considerado uma via de mão-dupla, onde o

psiquismo não pode ser separado dos órgãos e vice-versa, isto é, as

perturbações psíquicas relativas às emoções, podem perturbar diretamente os

órgãos e as alterações orgânicas podem agir sobre o psiquismo.

Desse modo, tem-se que a Acupuntura contempla cinco emoções

(alegria, tristeza, reflexão, raiva e medo), sendo o estado de saúde dependente

também da harmonia entre as cinco emoções e seus respectivos órgãos, as

alterações emocionais podem levar aos quadros de excesso ou deficiência.

Assim, após um diagnóstico completo (baseado nos critérios da MTC) da

causa e tipo de Ansiedade, poder-se-ia, por exemplo, através da Acupuntura,

29
restabelecer o equilíbrio do Shen, harmonizar o Coração, sedar o Yang Fígado

ou fortalecer o Yin do Baço-Pâncreas afim de, melhorar a circulação do Qi

(energia) e do Xue (sangue) na tentativa de restabelecer o equilíbrio.

É importante destacar que o tratamento através da Acupuntura não

proporciona curas milagrosas ou o fim total das patologias dos pacientes. Para

CAMPIGLIA (2004), o tratamento pela Acupuntura ocorre de modo processual,

sendo que o restabelecimento da saúde se dá de modo gradual e está

diretamente relacionado às condições externas (ambientais, climáticas, sociais

e históricas) e internas (alimentação, estados emocionais, espiritualidade) com

as quais o sujeito se relaciona.

2.3. Proposta de tratamento para enfermidades mentais

Em seu livro, PEREZ (2007) cita Nei Jing que especifica como primeiro

princípio de tratamento: “se a enfermidade pertence ao Yang, tratar o Yin. Se a

enfermidade pertence ao Yin tratar o Yang”. É fundamental conhecer e

interpretar a alternância Yin-Yang na circulação, a fim de obter dados

necessários para tratar de estabelecer um equilíbrio básico e primário no

harmonioso fluir entre órgãos e vísceras.

Assim, antes de expor protocolos ou fórmulas de tratamento torna-se

importante ressaltar que em se tratando de patologias, de acordo com a

Acupuntura uma mesma sintomatologia básica pode relacionar-se com

diversos agentes etiológicos, o que se deduz segundo PEREZ (2007):

30
• Não existem fórmulas de tratamento, já que os pontos a utilizar

variarão consideravelmente em função de um ou de outro agente

etiológico.

• Não existe especialização, a íntima relação nas 12 unidades

energéticas, mediante os ciclos da penta-coordenação, exige,

quando se deseja aplicar um tratamento correto, estudar e

compreender ao homem como um todo integrado e não como a

soma de suas partes.

• É necessário conhecer, profundamente, os sistemas de diagnóstico e

sintomatologia para realizar uma Acupuntura racional, o que explica

que com demasiada freqüência, terapeutas se limitem tratamentos

anti-álgicos ou baseados em fórmulas gerais, que no melhor dos

casos, podem conseguir alívio sintomático e raras vezes um

reequilíbrio real. É preciso em primeira instância, ver o bosque

(síndrome) e não a árvore (sintoma).

Após estas colocações, segue a sugestão de tratamento das

enfermidades mentais sugeridas por PEREZ (2007):

Fórmula de tratamento = A + B + C + D

A = Regulação energética

B = Tratamento base

C = Tratamento etiológico

D = Tratamento complementar

Diante de qualquer enfermidade mental, inclusive Ansiedade pode-se

seguir o seguinte protocolo:

31
A) Regulação energética

Especialmente em afecções profundas, para preparar o terreno,

(Ryodoraku).

B) Tratamento base

É o mesmo que será utilizado para tratar a primeira fase das

enfermidades mentais (fase neurótica). É o tratamento básico para o Shen com

alguns dos pontos:

MC6 (Neiguan): ponto chave do Yin Wei Mai, mar dos meridianos distintos.

Clareia a mente, acalma e harmoniza o Shen.

C7 (Shenmen): ponto terra do Coração. Torna a mente reflexiva, protege e

acalma o Coração, libera a força espiritual.

MC7 (Daling): ponto terra do MC. Acalma o Coração.

TA10 (Tiajing): ponto terra do TA, “o ponto Ho da víscera trata o órgão, e o

ponto Yuan do órgão trata a víscera”. MC e TA são acoplados.

PC1 (Sishencong): equilibram Yin Yang. A puntura dos quatro deuses (PC1) é

imprescindível no tratamento do Shen. Se o paciente está em estado Yin deve-

se punturar e moxar o VG20 e o PC1. Se o paciente está em estado Yang se

puntura o PC1 ligeiramente transfixiado em direção ao VG20.

VG20 (Baihui): equilibra Yin Yang. Ponto ‘potência cósmica’, com

características de acalmar o Shen, estimular o cérebro e aclarar a mente.

VC17 (Zhanzhong): ponto Mo do Mestre do Coração. Ativa a raiz Yin. Ponto

‘potência homem’. Atua na homeostase interna, nos fatores de relação humana

e no nível emocional.

32
C) Tratamento etiológico

Já realizado o tratamento base, atua-se sobre a causa da alteração

psíquica, sendo necessários localizar em que fase de evolução está e qual o

órgão afetado. No caso de existência de sintomas de mais de uma fase, trata-

se do mais profundo ao mais superficial.

1ª Fase – Se trata o MC.

2ª Fase – Em Ansiedade Yang se trata o Fígado, e em Ansiedade Yin se trata

o Baço- Pâncreas.

3ª Fase – Nesta fase sempre está afetado o Pulmão.

4ª Fase – Em alterações Yang se trata o Coração e em alterações Yin o Rim.

Este tratamento se realiza da seguinte forma:

1) Ponto Xi do órgão afetado: desbloqueia a energia do órgão já que existe

uma plenitude crônica. Os pontos Xi dos cinco órgãos são os seguintes: F6,

C6, BP8, P6, R5.

2) Técnica Shu-Mu: com essa técnica se ativará a energia das raízes Yin ou

Yang, dependendo da natureza dos sintomas. Se o paciente está em estado

Yang deve-se estimular o Mu (Yin), se o paciente está em estado Yin deve-se

estimular o Shu (Yang). Se puntura tanto o Shu como o Mu, porém estimulando

o correspondente. Os pontos são os seguintes:

Meridiano principal do Fígado: B18 (Ganshu) e F14 (Qimen)

Meridiano principal do Coração: B15 (Xinshu) e VC14 (Juque)

Meridiano principal do Baço-Pâncreas: B20 (Pishu) e F13 (Zhangmen)

Meridiano principal do Pulmão: B13 (Feishu) e P1 (Zongfu)

Meridiano principal do Rim: B23 (Shenshu) e VB25 (Jingmen)

33
3) Técnica de planos: com essa técnica se faz circular a energia do plano,

portanto essa técnica é usada não só em enfermidades psíquicas, mas

também em físicas.

Identificando-se o Zang afetado, é feita a puntura do “ponto acelerador”, em

segundo lugar se puntura o “ponto de arraste” e por último o “ponto nó”.

Plano Tai Yin: BP2 (acelerador), P11 (arraste), VC12 (nó).

Plano Jue Yin: F2 (acelerador), MC9 (arraste), VC18 (nó).

Plano Shao Yin: R2 (acelerador), C9 (arraste), VC23 (nó).

Plano Tai Yang: ID5 (acelerador), Bx67 (arraste), Bx1 (nó).

Plano Shao Yang: TA6 (acelerador), VB44(arraste), VB2 (nó).

Plano Yang Ming: IG5 (acelerador), E45(arraste), E7 (nó).

4) Técnica Luo-Yuan: consiste em mobilizar a energia em direção à víscera

acoplada em caso de plenitude e a partir da víscera acoplada em caso de

vazio. Em estado agudo, primeiro se puntura o Luo do órgão com objetivo de

drenar a plenitude, e em segundo lugar, o ponto Yuan da víscera acoplada com

o objetivo de absorver a energia drenada. Em estado crônico primeiro se

puntura o ponto Yuan do órgão para absorver energia e encher o vazio e em

segundo lugar se puntura o ponto Luo da víscera acoplada para transmitir essa

energia.

Sendo o Fígado afetado: F5 (Luo), F3 (Yuan), VB37 (Luo), VB40 (Yuan).

Sendo o Coração: C5 (Luo), C7 (Yuan), ID7 (Luo), ID4 (Yuan).

Sendo o Baço-Pâncreas: BP4 (Luo), BP3 (Yuan), E40 (Luo), E42 (Yuan).

Sendo o Pulmão: P7 (Luo), P9 (Yuan), IG6 (Luo), IG4 (Yuan).

Sendo o Rim: R4 (Luo), R3 (Yuan), B58 (Luo), B64 (Yuan).

34
5) Utilização do Shu de Apoio do Shu dorsal: esses pontos tem relação com o

Shen do órgão correspondente:

Fígado: Bx47 (Porta da alma etérea)

Coração: Bx44 (Palácio da mente)

Baço-Pâncreas: Bx49 (Porta da reflexão)

Rim: Bx52 (Casa da vontade)

Pulmão: B42 (Alma do poeta)

6) Utilização do ponto de controle segundo a lei dos cinco movimentos: deve

ser punturado no meridiano afetado, o ponto shu antigo correspondente ao

movimento dominante (ciclo Ke):

*Com um Xiepo (Pulmão) o indivíduo sente-se triste e depressivo, então

puntura-se o P10 que corresponde ao ponto Fogo, representante da alegria.

*Com um Xiezi (Rim) o indivíduo está medroso, inseguro, zeloso. Puntura-se o

ponto R3, que é dominante já que corresponde a Terra. A reflexão acalma o

medo.

*Com um Xiehoun (Fígado) o indivíduo está irritado, estressado. Emprega-se o

ponto F4, representante do Metal, que vai proporcionar força à alma sensitiva,

aumentando a sensibilidade.

*Com um Xieyi (Baço-Pâncreas) o indivíduo manifesta obsessão pela

manutenção das coisas, mania e possessividade. Puntura-se o ponto BP1,

Madeira que domina Terra. A criatividade inibe a sensação de apego.

*Com um Xiethân (Coração) o indivíduo se torna falante, delirante, sem

controle de suas emoções e com perda de relação com a realidade. Puntura-se

o ponto C3, Água, para proporcionar força de vontade no controle da mente.

35
3. METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um estudo de caráter bibliográfico, que

aborda a Ansiedade sob o referencial teórico da MTC e seu tratamento através

da Acupuntura.

Segundo Gil (1994), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de

outras fontes bibliográficas como: livros, revistas científicas, boletins, teses,

relatórios de pesquisa, entre outros, sendo a sua principal vantagem permitir ao

investigador fundamentar várias questões nas quais é mais difícil pesquisar

diretamente.

Ao realizar as etapas da metodologia da pesquisa, pretende-se

estabelecer a articulação das informações da consulta bibliográfica, obtendo

conteúdo ao tema estudado.

36
4. DISCUSSÃO

Após o término deste trabalho percebe-se que a MTC e mais,

especificamente a Acupuntura, ainda são campos de estudos pouco

conhecidos no ocidente e para entender mais profundamente a essência de

suas teorias é necessário colocar de lado conceitos que foram inculcados

sobre a medicina ocidental.

A MTC entende o ser como um todo no aspecto psicofisiológico, ou seja,

ele não é compreendido somente em termos de patologias (doenças), com

uma concepção de homem em termos de órgãos isolados. Ao contrário, a

MTC, considera o homem como um ser que engloba o todo na busca do

equilíbrio, com uma visão onde corpo, mente e espírito, caminham juntos em

harmonia, para manter a saúde e a integralidade do homem. Nessa concepção

não há doenças e sim pessoas doentes, ressaltando assim sua visão holística,

cujo olhar se volta para o indivíduo como um todo.

Como bem coloca PEREZ (2007), o homem segundo a concepção

oriental ocupa lugar central entre o Céu e a Terra, o que para o homem

ocidental resulta difícil entender os postulados médicos chineses que

relacionam o homem com os elementos constituintes da Terra (penta-

coordenação) e com a realidade cosmológica da Terra e do Cosmos, dialética

que explica a dualidade integracionista do Yin e Yang, inclusive a compreensão

do Qi como princípio universal.

PEREZ (2007) ainda afirma que, o ser humano é sensível aos influxos

ou mensagens da natureza ou meio vital, mediante receptores externos que

37
captam as bio-informações, que são posteriormente transmitidas ao sangue

através de correntes nervosas. Estes receptores ou canais de Acupuntura se

convertem em centros de ressonância bioenergética, sendo os nervos os

mensageiros bioelétricos e o sangue, a matéria, a receptora da mensagem.

Logo, após estas premissas pode-se afirmar que é possível através de

influxos energéticos, atuar sobre o organismo podendo, portanto, corrigir os

desequilíbrios e conseqüentemente restabelecer a saúde. A milenar

observação chinesa é análoga à teoria da relatividade da física moderna, com

os dois conceitos opostos de matéria e energia, uma transformando-se

incessantemente na outra. Esse fenômeno de transformação não implica um

julgamento de valor (bom e mau), o que se revela é uma relação de harmonia e

equilíbrio entre todas as coisas.

Isso é natureza, equilíbrio harmonioso, e todos o são parte dela. O que

ocorre no meio ambiente pode ocorrer com o ser humano. Conhecendo a

natureza, aprende-se a conviver em equilíbrio consigo mesmo e com o meio.

Equilíbrio significa vida e morte, fraqueza e força, saúde e doença, pois o Tao

(como visto anteriormente) é responsável pelos lados desse balanço, ao

ensinar que todos os acontecimentos se inter-relacionam.

As emoções são os impulsos para uma ação imediata com a finalidade

de lidar com a vida, ou seja, é uma maneira de sentir e agir. São oscilações do

sentimento expressadas pelo comportamento. Sob a luz da MTC, pode-se

dizer que assim como as alterações de clima, as emoções não são

necessariamente boas ou ruins por si sós.

Variando com a idade, pressão social e com o meio ambiente (entre

outros fatores), uma emoção pode adquirir um grau maior ou menor de

38
intensidade e importância, repercutindo assim no bem-estar do organismo.

Quando fluem harmoniosamente, as emoções não interferem na saúde. Mas

quando alteram o fluxo do Qi e desarmonizam o Yin e o Yang, pode-se

adoecer.

Nossa sociedade atualmente incentiva o aparecimento em excesso da

ansiedade, da preocupação, da competitividade, do desejo pelo consumo

material, dos comportamentos de ira e possessividade, pois o ser humano é

medido pelo seu sucesso material.

Além disso, o excesso de atividade mental, o sedentarismo e a má

alimentação (seja em quantidade ou qualidade) são outros problemas da

atualidade. Somos bombardeados continuamente por excesso de informações,

trabalhamos horas demais e descansamos horas de menos. Estes são fatores

que contribuem para a exaustão do Qi.

Todas estas emoções (em excesso) e fatores interferem na harmonia de

nossa essência, causando a doença, ou melhor, obstruindo o fluxo harmônico

do Qi. Assim, o excesso de Ansiedade pode dispersar o Qi do coração

agitando o Shen como também pode causar uma hiperatividade do Fígado ou

uma deficiência do Baço-Pâncreas.

Enfim, para a MTC, saúde e doença são ambas naturais e partem de um

processo contínuo de adaptação do organismo a um meio ambiente

inconstante. Como a doença será em certos momentos inevitável no processo

vital, pois é uma forma de expressão dos nossos conflitos, sofrimentos e

dificuldades de adaptação ao meio, a saúde perfeita não seria o objetivo

essencial da MTC.

39
Sua abordagem prioriza a harmonia e o equilíbrio na vida diária dando

atenção especial aos alimentos ingeridos, aos exercícios praticados, e em

como se lida com as emoções. É o equilíbrio entre os diferentes aspectos que

geram mais energia e protegem das doenças.

A MTC ensina que cada um pode ser responsável por sua saúde e esse

é dos pontos mais valiosos nesta teoria, pois não visa somente à cura das

doenças, mas propõe viver a vida com mais equilíbrio, mais consciência e

vitalidade, pois como já diria a dita sabedoria popular, o homem não deve estar

nem tanto ao Céu e nem tanto a terra!

40
5. CONCLUSÂO

Após o término deste trabalho conclui-se que partindo do ponto de vista

holístico em que a MTC percebe o homem, problemas ambientais ou

emocionais podem alterar a circulação de Qi e Xue no organismo instalando

uma patologia, que pode ser eliminada ou minimizada pela Acupuntura através

da harmonização, tonificação ou sedação dos pontos dos canais dos órgãos

afetados.

A base da inter-relação na MTC é o Qi, a energia vital do universo. Um

Qi forte e que flui livremente em todas as suas manifestações é o que traz vida

e saúde. As doenças e os sintomas são reflexos do movimento desarmônico

do Qi. O Yin e o Yang são forças opostas, mas complementares, que regidas

pelas leis do universo, alternam-se entre o equilíbrio e desequilíbrio.

O equilíbrio de nosso corpo está diretamente relacionado à expressão

de nossas emoções, que são uma manifestação do Qi. Sentimentos e

emoções reprimidos ou excessivos afetam o fluxo suave do Qi e

conseqüentemente o Shen dos Zang.

Com esse pressuposto, pode-se supor a Ansiedade como um sintoma

de uma patologia, ou melhor, de um desequilíbrio energético oriundo de vários

aspectos e que pode ser tratado por intermédio da Acupuntura.

Porém, mais que do que tratar órgãos ou sintomas, a MTC busca

descobrir o padrão energético e os elementos da natureza que predominam em

cada sujeito, em que pontos a energia esta bloqueada e quais emoções e

fatores desequilibram a saúde.

41
Sua finalidade é realizar a melhor adaptação possível do indivíduo ao

meio ambiente como um todo, incluindo em seu receituário Acupuntura, boa

alimentação, exercícios, repouso e equilíbrio para viver bem.

Por fim, independente da teoria, ser oriental ou milenar, não há nada

mais moderno hoje do que o resgate dessa visão do todo, ou seja, a chamada

humanização dos tratamentos de saúde.

42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUTEROCHE, B. & NAVAILH, P. 1992. O diagnóstico na medicina


tradicional chinesa. São Paulo: Andrei.

CAMPIGLIA, H. 2004. Psique e medicina tradicional chinesa. São


Paulo: Roca.

DAHLKE, Rüdiger, 1996, A doença como símbolo. São Paulo: Cultrix.

DSM-IV. 2002. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos


mentais (C. Dornelles, Trad., 4a ed. rev.). Porto Alegre: Artmed.

FOCKS, C., MARZ, U. 2008, Guia prático de acupuntura., São Paulo:


Manole.

GIL, A. C. 1994. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4 ed. São


Paulo: Atlas.

KAPLAN, H. I., Sadok, B. J., & Greb, J. A. 1997. Compêndio de


psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica (D. Batista,
Trad., 7aed.). Porto Alegre: Artmed.

KIDSON, Ruth. 2006. Acupuntura para todos: o que esperar desta


técnica milenar e como obter os melhores resultados. Rio de Janeiro: Nova
Era.

ODOUL, Michel. 2003. Diga-me onde dói e eu te direi por quê: os


gritos do corpo são as mensagens das emoções. Rio de Janeiro: Elsevier.

PEREZ, Carlos A. Nogueira. 2007. Acupuntura Bioenergética y


Moxibustión. Tomo I, II e III. Madrid: Ediciones CEMETC, Espanha.

43
REQUENA, Yves. 1990. Acupuntura e psicologia. São Paulo: Andrei.

ROSS, J. 2003. Combinações dos pontos de acupuntura: a chave


para o êxito clínico. São Paulo: Roca.

ZHAO, Xiaolan, 2009. Sabedoria Chinesa para a saúde da mulher.


Rio de Janeiro: Nova Era.

WANG, B., 2001. Princípios de Medicina Interna do Imperador


Amarelo. São Paulo: Ícone.

WATTS, A. 1999. Tao, o curso do rio: o significado do taoísmo de


acordo com os ensinamentos de Lao-Tzu, de Chuang-Tzu e de Kuan-
Tzu.,São Paulo: Pensamentos.

WEN, Tom Sintan. 2006. Acupuntura Clássica Chinesa. São Paulo:


Cultrix.

http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/PNPIC.pdf

http:www.longevidade.net

44
45

Você também pode gostar