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ROMANTISMO

Para fins de exposição didática do romantismo brasileiro, costuma-se dividi-lo seguindo o critério
dos gêneros literários. Desse modo, vamos examinar as manifestações desse movimento iniciado
em 1936 com a publicação de Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, nos
seguintes gêneros: poesia, prosa e teatro. No que diz respeito especificamente à poesia, ainda há
uma subdivisão em três gerações: nacionalista, ultrarromântica e condoreira. Entretanto, é
necessário não perder de vista que é no romantismo que se forjam e consolidam as bases de nossa
literatura, a partir dele pode-se falar sem medo em literatura brasileira.
Diferentemente do romantismo europeu, de tom nostálgico e voltado para suas raízes
medievais, os poetas brasileiros da geração nacionalista se projetavam para um futuro
esperançoso e resgatavam no índio um passado heroico. Isso se entende com facilidade, quando
lembramos que a independência do Brasil era recente (1922), e que esse poetas estavam
contagiados por um desejo de criar, paralela e igualmente, uma literatura autônoma. Gonçalves
Dias é o nome mais representativo desse momento. Seu poema épico, em formato compacto, I-Juca
Pirama é uma celebração clara da figura indígena, assim como sua famosa “Canção do Exílio”
confere à natureza brasileira superioridade em relação à ex-metrópole.
Já a segunda geração da poesia romântica, extremada e sombria, gira em torno de
estudantes de Direto, na São Paulo dos anos 1950 e 1960. Depois de Casimiro de Abreu e
Fagundes Varela, Álvares de Azevedo é seu maior poeta. Ultrarromântico por valorizar em
demasia o individualismo e a subjetividade, seu livro de poemas mais conhecido é a Lira dos vinte
anos. Na prosa, Álvares Azevedo escreveu ainda Noite na taverna, livro sobre relatos de
acontecimentos sórdidos, macabros e violentos narrados entre amigos numa noite chuvosa, como
forma de passar o tempo e entretê-los. Uma novela brutal de inspiração byroniana.
A última sensibilidade da poesia romântica tem como peça central o baiano Castro Alves.
Situado na antessala do realismo ou mesmo da estética moderna, Castro Alves é considerado o
principal condoreiro e grande porta-voz da causa abolicionista. O poema “Navio negreiro” fala
das agruras do tráfico de escravos para o Brasil, o que revela uma preocupação social em
tematizar os problemas imediatos de sua época. A paixão que moveu por Eugênia Câmara também
aparece em sua obra, assim como a sua difícil condição de poeta numa sociedade que começa a se
aburguesar e industrializar é questão presente em diversos poemas.
Se não de todo nosso romantismo, da prosa José de Alencar foi o escritor de maior renome.
Nele, o projeto de construção de uma identidade nacional e de uma literatura genuinamente
brasileira atinge grau máximo. Além de dramaturgo, jornalista e politico, Alencar publicou mais
de vinte romances, muitos deles ainda lidos nos dias de hoje com algum prazer. Em sua produção
indianista, temos O guarani, Iracema e Ubirajara. Nos livros ditos “perfis de mulher”, que se
passam em ambientes urbanos, Senhora, Lucíola e Diva ganham destaque. Alencar ainda é autor
de romances históricos como As minas de prata e regionalistas como O tronco do Ipê ou Til.
Este último, leitura obrigatória para os vestibulares da USP e UNICAMP, conta a história de
uma jovem chamada Berta que despende cuidados aos membros desvalidos de uma fazenda do
Oeste Paulista. Representação da abnegação, a heroína do romance é espelho dos bons valores da
elite cafeeira do país. O livro contém ainda uma descrição minuciosa do meio rural e seus
habitantes, situados em Santa Bárbara, mas que viajam com frequência para Campinas e São
Paulo. Alguns temas importantes podem ser elencados: o amor proibido entre irmãos de criação e
jovens de posições sociais diferentes, o sincretismo religioso na festa de São João e a
marginalização dos homens livres na pessoa de Jão Fera. Um bom estímulo à leitura dessa obra é a
atmosfera de suspense e a narrativa quase detetivesca que ela apresenta.
Um segundo nome relevante da prosa romântica é Manuel Antônio de Almeida, que
publica um romance inovador já no crepúsculo do movimento. Na verdade, Memórias de um
sargento de milícias - também leitura obrigatória das estaduais - é uma obra de difícil
classificação, levando muitos estudiosos a chamá-la romance de costumes – por conta de uma
espécie de retrato do Rio de Janeiro joanino. Em outras palavras, como pano de fundo das
peripécias de Leonardo, menino levado e típico malandro, há uma apreciação dos modos de vida
da época. Em função disso, as personagens perdem em profundidade e se tornam tipos sociais, isto
é, representam algo maior, uma classe ou instituição. O Major Vidigal, por exemplo, encarna a
ordem, maior expressão militar do rei, outros nem nome recebem, são a Comadre ou o Barbeiro. O
humor e a sátira são elementos notáveis do livro, porém o que atrai o estudante que se proponha a
lê-lo hoje é a linguagem mais simples, despojada de excessos, floreios poéticos ou descritivismos,
mais focada em narrar as muitas ações e pequenas passagens da vida do protagonista.
O teatro, por fim, tem em Martins Pena sua personalidade mais ilustre. Comediógrafo por
excelência, escreve peças do calibre de O noviço. Em Os dois ou o inglês maquinista, leitura
obrigatória da UFPR, ocorre uma crítica ao relacionamento corrupto entre alguns personagens e o
Estado. O cenário da peça, por sua vez, é a sala luxuosa de dona Clemência, viúva, proprietária e
mãe de Mariquinha, alvo de cortejo do Inglês e do Negreiro. A despeito do amor interesseiro
destes, a jovem é apaixonada pelo primo Felício, o que configura um conflito bem à moda
romântica. Entretanto, a comédia ultrapassa este simples entrave para nos dar pistas da tensão
entre os extremos da sociedade brasileira do Segundo Reinado: o senhor e o escravo. Assim, de
uma cena doméstica é possível termos um vislumbre das regras do mundo social.

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