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ISSN 1982 - 0283

Edição especial:
Desafios da
gestão escolar
Ano XXI Boletim 17 - Novembro 2011
Sumário

Edição especial: Desafios da gestão escolar

Edição especial: Desafios da Gestão Escolar........................................................................... 3


Vera Lúcia Baptista Castiglioni

2
Edição especial: Desafios da gestão escolar

Vera Lúcia Baptista Castiglioni1

NOVOS CONTEXTOS, tituída pela sociedade para cultivar e


transmitir valores sociais elevados e
NOVAS DIFICULDADES, contribuir para a formação de seus alu-
GRANDES DESAFIOS nos, mediante experiências de aprendi-
zagem e ambiente educacional condi-
Século XXI – primeiro século do terceiro mi-
zentes com os fundamentos, princípios
lênio. O que ele significa para as instituições
e objetivos da educação. O seu ambiente
educacionais? Aprender e ensinar, neste
é considerado de vital importância para
novo século, significa assumir novos desa-
o desenvolvimento de aprendizagens sig-
fios, pois a sociedade atual, caracterizada
nificativas que possibilitem aos alunos
como “a sociedade do conhecimento”, exige
conhecerem o mundo e conhecerem-se
novas competências e habilidades cogniti- 3
no mundo, como condição para o desen-
vas, exige movimento de desejo de aprender,
volvimento de sua capacidade de atua-
de ensinar, exige postura ética e política, exi-
ção cidadã.”
ge humanismo e inclusão.
Assim sendo, refletir sobre a temática
Para Rios (1993, p. 38) “é preciso, ainda, as- “Desafios da Gestão Escolar” nos reme-
similar novas formas de se relacionar com o te ao contexto de uma sociedade que se
conhecimento, a pesquisa, a organização e a transforma, num processo dinâmico e
função da comunidade no envolvimento da globalizado, frente aos acontecimentos
educação. Para atuar em um novo modelo que caracterizam novas realidades so-
de escola é necessário também compreen- ciais, econômicas, políticas, culturais,
der sua função”. entre outros. Ignorar essas transforma-
ções que o mundo em geral, a sociedade
Segundo Lück (2009), brasileira e a escola em particular têm
vivenciado e, ainda, não refletir sobre
“A escola é uma organização social cons- elas nem procurar intervir nesses proces-

1 Consultora em Educação. Consultora da edição especial.


sos podem ser graves erros pedagógicos cola; (3) A Humanização da Escola. Sucinta-
e de gestão e entraves reais ao avanço da mente, a seguir estão as razões desse enten-
escola e do processo de ensino-aprendi- dimento:
zagem por ela desenvolvido.

Neste primeiro diálogo, iniciamos nossas re- 1. Profissionalização e


flexões a partir de algumas indagações: Que modernização da Gestão
exigências contemporâneas são impostas Escolar
à escola? De que forma a gestão escolar se
Uma grande caminhada na educação e uma
insere nesse processo de transformação? O
grande constatação: o bom desempenho es-
que compreendemos por desafios no con-
colar não é determinado apenas pelo tama-
texto da gestão escolar?
nho do orçamento, ou prédios bonitos, ou
equipamentos sofisticados, mas, principal-
Muitas são as definições sobre desafios, que
mente, pela eficiência na gestão das escolas.
indicam geralmente a incapacidade que te-
mos para enfrentar um grande problema
Ao reconhecer os movimentos da globaliza-
a ser vencido, ou uma tarefa difícil de ser
ção, as transformações da sociedade e seus
executada. Na nossa visão, no entanto, os 4
reflexos na educação e a complexidade cada
desafios da gestão escolar devem ser enten-
vez maior da escola de massas, concluímos
didos não como obstáculos intransponíveis,
pela necessidade da profissionalização e mo-
mas como oportunidades: de superação, de
dernização da gestão escolar, o que envolve,
crescimento e de inovação, para antecipar
entre outros quesitos, a formação dos gesto-
a construção do futuro. Nesta perspectiva,
res; a inovação e a cultura do planejamento;
o desafio estimula a criatividade e mobiliza
o monitoramento e a avaliação presentes na
recursos para a criação de uma nova realida-
gestão da escola.
de, neste caso, a de uma nova escola imersa
numa sociedade em transformação.

1.1 Formação dos gestores


Analisando o dia a dia da escola e observan-
escolares
do os seus protagonistas, é possível iden-
tificar pelo menos três grandes áreas que Partimos do pressuposto básico de que a
concentram as várias inquietações sobre a gestão escolar constitui mola propulsora da
gestão escolar, nos tempos atuais. São elas: qualidade de ensino nas escolas e que, nelas,
(1) A Profissionalização e Modernização da seu principal gestor, o diretor, assume papel
Gestão Escolar; (2) A Democratização da Es- relevante no desempenho da unidade. Logo,
a gestão escolar exige dos gestores múltiplas Há que se registrar, também, que além das
e variadas habilidades e competências: co- fragilidades da formação dos gestores, as
nhecimentos específicos sobre a área educa- escolas padecem pela grande rotatividade
cional; o relacionamento interpessoal, tanto desses profissionais e pela pouca exigência
com a comunidade interna quanto a exter- de critérios técnicos para a sua escolha, nas
na e as habilidades em gestão. Assim sendo, redes públicas de ensino.
aqui residem algumas fragilidades:

• a formação inicial é considerada por um


1.2 Inovação e Tecnologia
bom número de gestores escolares como
“Aqueles que não experimentam novos
pouco focada para a função diretiva;
remédios devem aceitar novos males:

• os programas de formação continuada, por pois o tempo é o maior inovador” (Fran-

sua vez, não obstante devam ser registrados cis Bacon).

os investimentos feitos nos últimos anos pe-


Não nos esqueçamos de que a dialética glo-
las redes de ensino, para esse fim, ainda não
balização/pós-modernidade é marcada por
são satisfatórios: os conteúdos neles trata-
três características: a velocidade, a exclusão
dos são mais de natureza teórica e pouco 5
e a inovação. Naturalmente, essas caracte-
úteis para ajudar os gestores a enfrentar as
rísticas não podem deixar de influir profun-
demandas cotidianas da escola, ou são ex-
damente no processo educacional, o que se
cessivamente técnicos, não contextualizan-
torna mais um desafio para as escolas e ges-
do os problemas do dia a dia da gestão. É
tores. Mas, o que é inovação?
sentida, ainda, a ausência de espaço para a
promoção de debates e para a troca de ex-
De acordo com John Adair (2010, p.13), a
periências e reflexões sobre a prática da ges-
inovação não depende unicamente das in-
tão, conforme relatam muitos gestores em
venções. Os produtos e serviços existentes,
várias pesquisas realizadas.
assim como as organizações e instituições,
É preciso, assim, repensar esses cursos, tan- também devem passar por mudanças com a
to os de formação inicial como continuada, finalidade de melhorá-los, e as novas idéias
pois, [...] “a qualificação e a motivação do e novas maneiras de fazer as coisas são os
gestor da escola são a dimensão que mais principais ingredientes para a manutenção
atenções requer, não só porque o diretor é o do sucesso.
polo integrador de todos, mas também por-
que é o elemento determinante da eficácia O sucesso para as empresas, por exemplo,
da ação educativa” (VALERIEN, 1997). significa aumento de faturamento, acesso
a novos mercados, aumento das margens da exigência do mercado profissional, do
de lucro, entre outros benefícios. E para as convívio social e do aprimoramento cog-
escolas, o que significa sucesso? Uma esco- nitivo da atual geração, faz-se necessária
la inclusiva – que acolhe a todos e a todas? uma mudança de pensamento por parte dos
Democrática e participativa? Onde acontece educadores. Educar hoje utilizando as ferra-
a aprendizagem? Ou uma escola que reúne mentas e os métodos de ontem pode frus-
todos esses e outros aspectos? trar as gerações mais novas, que esperam
receber uma orientação coerente, íntegra e
As circunstâncias da vida no mundo de hoje responsável de profissionais atualizados so-
sugerem – ou mesmo impõem – que o apren- bre como e quando utilizar as tecnologias de
dizado deve estar dirigido para o futuro e não forma produtiva, além de orientá-los sobre
para o passado. Recentemente, ouvimos de as tendências e potenciais do presente para
um gestor escolar da educação básica que o a construção de um futuro sustentado em
“governo quer que o aluno aprenda pouco respeito, ética e inovação. Nesse sentido,
de muito”, referindo-se ao que é exigido e ao devemos nos indagar:
que é necessário para a formação do aluno.
José Manuel Moran2 vai mais além quando De que forma essas tecnologias têm sido
diz que: trabalhadas na escola? Qual a contribuição 6
que elas estão trazendo para a melhoria
“Passamos anos demais, horas demais, do processo de ensino e de aprendizagem?
para aprender coisas demais, que não Como os professores as utilizam em favor da
são tão importantes, de uma forma pou- aprendizagem escolar? Como essas tecnolo-
co interessante, com resultados medío- gias se inserem nas múltiplas dimensões da
cres. E passamos pouco tempo no que é gestão escolar?
importante, significativo, que nos ajuda
a aprender para toda a vida.” Não é difícil encontrar respostas para es-
tas indagações. Pesquisa realizada em 2010,
Ora, o que querem dizer aos educadores e, divulgada pelo CGI3, com a participação
em especial, aos gestores escolares esses de aproximadamente 1,5 mil professores e
dois recados? Obviamente, estão dizendo quase 5 mil alunos de 497 escolas brasilei-
que diante das mudanças tecnológicas, das ras, para identificar os usos da internet na
diferentes ferramentas, dos novos métodos, rotina do ensino público do país, revela fa-

2 Artigo: Desafios da escola inovadora. 27 de setembro de 2008.


3 Comitê Gestor da Internet no Brasil.
tos pouco animadores: 81% das escolas pú- comportamentos de inovação e mudança
blicas pesquisadas possuem laboratório de no contexto de suas atuações prático-peda-
informática, no entanto, é preciso incenti- gógicas e culturais, sob pena de permane-
var a utilização pedagógica da tecnologia, cer na exclusão social e no fracasso escolar
já que o cotidiano do ensino-aprendizagem como um todo, se assim não o fizer.
se desenvolve principalmente dentro da sala
de aula e não no laboratório de informática.
1.3 Cultura do planejamento,
Apenas 20% dos professores usam a internet
como instrumento para organizar e mediar
monitoramento e avaliação
a comunicação entre professor e aluno e en-
Embora o planejamento, o monitoramen-
tre os alunos.
to e a avaliação sejam processos inerentes
à gestão e importantes para a organização
Para o professor, a principal limitação dos trabalhos, para a ação educativa e para
para o uso das TICs na escola está rela- a busca de melhores resultados, grande par-
cionada ao seu nível de conhecimento so- te das escolas ainda carece dessas práticas,
bre o uso das tecnologias. A maioria dos quer seja pela falta de formação ou de infor-
professores (64%) concorda que os alunos mação, pelas resistências por parte de mui-
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sabem mais sobre computador e Internet tos profissionais da educação ou até mesmo
do que os docentes. Outras informações pela falta dessa cultura nos órgãos geren-
dessa pesquisa podem ser acessadas no ciais dos sistemas de ensino.
site do Comitê Gestor da Internet no Bra-
sil (www.cgi.br). A instituição escolar não deve prescindir de
planos e de estratégias, para que a gestão
Em resumo, os gestores e os professores não não corra ao sabor das circunstâncias e da
podem deixar de perceber as mudanças no improvisação, como não muito raro aconte-
mundo e compreender que a escola precisa ce. Contudo, planejar somente não basta; é
mudar, inovar. Por quê? Em palestra aos ad- comum encontrarmos projetos pedagógicos
ministradores escolares do Colorado, ainda e planos de desenvolvimento da escola ela-
em 1992, Dr. Willard Daggett, diretor do In- borados somente para cumprir determina-
ternacional Center For Leadership and Edu- ções legais, mas que não são executados, ou
cation afirmou: “O mundo em que nossos executados em parte, somente no que se re-
filhos viverão está mudando quatro vezes fere às ações cujos recursos são originários
mais rápido do que nossas escolas”. de fontes externas à escola e que demandam
prestação de contas aos órgãos financiado-
Diante do exposto, a escola deve buscar res.
Planos que em sua execução não contam dizagem dos alunos como sucesso escolar e
com o devido monitoramento, ou seja, sem a participação da comunidade escolar nos
o acompanhamento e a análise contínua e processos educacionais como princípio da
sistemática para a verificação dos proces- gestão democrática.
sos, da aplicação dos recursos e da geração
de resultados, com base em indicadores,
2.1 Inclusão/Diversidade
ficando o gestor sem capacidade de inter-
vir de forma tempestiva para correção de Para refletirmos sobre esse desafio, devemos
rumos e sem possibilidade de atuar direta- indagar inicialmente: O que os gestores e o
mente sobre as fragilidades apontadas pelos corpo docente têm entendido como inclu-
resultados observados. são e diversidade? Como esses profissionais
percebem a sala de aula? Homogênea ou he-
Há escolas que consideram a avaliação ape- terogênea? E ainda, existiria homogeneidade
nas como uma ação pontual e específica na atual conjuntura sócio-política-cultural-
realizada ao final da execução dos planos e econômica-educacional?
não como um valioso instrumento de ges-
tão, como um processo contínuo que se ini- É inegável que a escola vive hoje dilemas que
cia no momento da concepção dos mesmos 8
fazem parte do debate macro que a socieda-
e se estende à sua implementação, até o de globalizada moderna enfrenta em todas
momento da apropriação dos resultados e as suas esferas. Isso parece mera conclusão
impactos gerados. do óbvio, porém, quando se observa a fundo
questões como igualdade étnica, de gênero,
Enfim, fica claro que incorporar esse ciclo inclusão de pessoas com deficiência, respei-
da gestão como cultura permanente nas es- to às diferenças e minorias, a prática escolar
colas, não obstante seja uma necessidade, continua, salvo algumas exceções, reprodu-
ainda é um desafio para os gestores esco- zindo práticas excludentes, não querendo
lares. ver que valorizar as diferenças, por exemplo,
é valorizar cada ser humano, já que todos
são diferentes em vários aspectos que trans-
2. Democratização da Gestão
cendem os fatores biológicos.
Escolar

Para a consolidação da democratização da Nota-se, assim, que apesar de a escola mui-


gestão escolar é fundamental que as esco- tas vezes debater essas questões, ainda, tem
las consigam garantir, sobretudo, a inclusão permanecido um ranço muito grande em
escolar, com respeito à diversidade; a apren- seus entendimentos acerca da diversidade,
na relação conflituosa entre homogeneida- Superar essa condição é o desafio que se
de (de ações, regras, ensinamentos) e he- apresenta ao país, a cada região, a cada cida-
terogeneidade (de vidas, sonhos, desejos, de e a cada escola brasileira. Nesse sentido,
subjetividades) e nas discussões atuais que caberia aqui uma oportuna reflexão: Como
envolvem a inclusão, não só da pessoa com e quando a escola fará cumprir a sua função
deficiência, mas de todos aqueles que têm precípua?
seu direito à cidadania negado.

2.3 Participação
2.2 Aprendizagem dos alunos
Muitos foram os avanços até aqui conquista-
Muito embora se tenham notado muitos dos com a introdução do princípio da gestão
avanços, persistem, ainda, inúmeros e gra- democrática e da participação na gestão das
ves problemas na educação brasileira, entre escolas públicas de todo o país, mas isto não
os quais o da baixa proficiência escolar. Se, significa que as escolas operam com a plena
agora, em sua quase totalidade, crianças, participação dos segmentos da comunidade
adolescentes e jovens estão na escola, as escolar e que não enfrentam dificuldades.
preocupações voltam-se para o que se faz na
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escola e como. Como e com que qualidade Dentre os mais importantes mecanismos
se oferecem ambientes propícios para que a de participação que podem ser vivenciados
aprendizagem seja possível, seja desejada e em uma instituição escolar estão os Conse-
seja, efetivamente, alcançável. lhos Escolares (ou órgãos similares) que, em
grande parte, ainda apresentam muitas fra-
Apesar da evolução nos indicadores educa- gilidades. E nesse aspecto não precisamos
cionais, de um modo geral as avaliações de nos delongar muito. Ao consultar Antunes
sistemas educacionais, como, por exemplo, (2002, p. 19 e 20), encontramos inúmeros de-
a Prova Brasil, Prova ABC, ENEM, entre ou- poimentos que, por si só, revelam a forma
tras, têm mostrado sistematicamente pro- de atuação dos colegiados escolares de mui-
blemas associados quer quanto ao percurso tas escolas brasileiras. Vejamos:
escolar, quer quanto às aquisições de co-
nhecimentos e habilidades. Grande parcela “Fazer o quê?... Eu convoco as reuniões
dos alunos de diferentes níveis apresenta e quase ninguém aparece... Os poucos
deficiências de aprendizagem, revelando, que aparecem não participam e não têm
assim, que ainda estamos longe das metas propostas, só reclamações. Por isso, o
estabelecidas e comparáveis a países desen- Conselho na escola acaba sendo formal
volvidos. mesmo” (diretor de escola)
“A minha escola é ‘X’. O meu Conselho é exigindo das instituições que a compõem,
ótimo e sempre aprova o que eu quero” inclusive da escola, respostas para os se-
(diretor de escola). guintes desafios:

“Participar do Conselho?... Eu não! Eu


3.1 Violência na escola
não ganho para isso, e tem mais: traba-
e ausência de valores
lho em três escolas diferentes” (um pro-
humanos
fessor apressado).
É inquestionável que os valores precisam fa-
“Participei do Conselho no ano passado. zer parte da educação, tanto familiar quanto
A gente falava...falava, mas no fim das escolar, que precisam ser aprendidos e cul-
contas quem resolvia tudo, mesmo, era tivados não apenas na escola, mas também
o diretor (funcionário da escola). na escola. Percebemos que o mundo e a so-
ciedade evoluem e se transformam, contu-
“Eu gostaria de participar desse tal de do, os valores humanos estão sendo menos-
Conselho, mas trabalho o dia todo e prezados, banalizados.
nunca marcam reuniões no horário em
que eu posso participar” (pai de aluno). Em decorrência, a violência nas escolas, que 10

não é um fenômeno recente, está cada vez


“Precisamos mudar essa escola. Mas mais presente e marcante, tornando-se um
como? Será que um Conselho resolveria? fenômeno preocupante. Os inúmeros episó-
Mas, afinal, o que é o Conselho de Esco- dios de violência noticiados em jornais, TV
la? (mãe). e demais meios de comunicação de massa,
assim como aqueles não noticiados, mas
Com base no exposto, cabe aqui refletirmos: registrados nas escolas, em vários níveis e
Será esse o modelo de gestão participativa com conflitos envolvendo diversos atores,
que defendemos e queremos? mostram a gravidade do assunto.

Manifestada em variadas formas, a violência


3. Humanização da escola
na escola não se restringe aos atos mais ex-
Já faz parte do senso comum dizer que a plícitos como as agressões físicas, o bullying
nossa sociedade está em crise e esta crise ou o uso de armas. Sua classificação em três
passa por fatores econômicos, sociais, cul- níveis conceituais – violência; incivilidades e
turais e, naturalmente, atinge seus valores. violência simbólica ou institucional – bem
Esse movimento dinâmico da sociedade vem como sua explicação têm sido tarefas difí-
ceis, porque abrangem aspectos heterogê- e a escola de massa e do futuro já é e será
neos que envolvem contextos múltiplos, in- a escola dos “diferentes” e da diversidade,
clusive de ordem familiar. exigindo, assim, uma gestão escolar apro-
priada, a partir da visão do futuro que nos
Os gestores escolares não têm conseguido li- aguarda.
dar com esta questão, denotando desprepa-
ro e falta de conhecimento acerca do assun-
to. Muitas vezes, na busca ansiosa por ações AS MÚLTIPLAS
que amenizem a problemática, o fracasso é DIMENSÕES DA GESTÃO
inevitável, agravando qualitativamente o de-
sempenho das atividades desenvolvidas no
ESCOLAR
ambiente escolar. O enfrentamento e a superação dos desafios
aqui mencionados, em grande proporção,
Como responder a esses desafios? O que as passam por uma competente e habilidosa
escolas e os educadores podem fazer para gestão escolar, em todas as suas dimensões,
que os valores façam parte desse patrimô- pois conforme Lück (2009, p. 24), a gestão
nio que as crianças e os jovens adquirem du- escolar,
11
rante o seu processo de educação? Por meio
dos próprios compromissos institucionais? [...] “constitui uma das áreas de atuação
Por meio do currículo? Por meio do próprio profissional na educação destinada a re-
exemplo como gestores, professores? Como alizar o planejamento, a organização, a
responder, na escola, aos atos de violência e liderança, a orientação, a mediação, a
à falta de valores de nossa cultura? coordenação, o monitoramento e a ava-
liação dos processos necessários à efeti-
Diante desse contexto, torna-se necessária a vidade das ações educacionais orienta-
revisão dos modelos de gestão e da forma- das para a promoção da aprendizagem
ção de gestores, tanto em nível local quanto e formação dos alunos.”
sistêmico, onde questões como a “violência
escolar”, “educação em valores” e “media- A organização dessas atividades pode se dar
ção de conflitos”, todas com acentuada rele- de várias maneiras, dependendo do autor.
vância dentro do atual quadro educacional, Optamos aqui por agrupá-las em 3 dimen-
sejam temas amplamente discutidos e refle- sões: a gestão pedagógica, administrativa e
tidos nos cursos destinados a estes profis- financeira, ressaltando, todavia, que todas
sionais, pois não mais se pode ignorar que devem ser desenvolvidas com observância
a escola do passado era a escola dos “iguais” ao que preceituam o Art. 206, Inciso VI da
Constituição Federal de 1988 e o Art. 3º, In- atenções, o que fazer e como fazer uma boa
ciso VIII da Lei de Diretrizes e Bases da Edu- gestão pedagógica?
cação Nacional – LDB 9394/96, ou seja, ao
princípio da Gestão Democrática. É por meio da gestão pedagógica que po-
demos prever como vamos educar nossas
Por Gestão Democrática compreende-se a crianças e jovens para que se constituam
forma de gerir uma instituição, com base indivíduos competentes, criativos, com per-
nos princípios da descentralização, da parti- sonalidade própria, com ética, que saibam
cipação e da transparência. Vejamos o papel se posicionar frente às dificuldades, decidir
de cada uma das dimensões: o que é melhor para si e para outros e viver
em coletividade.

Gestão Pedagógica Têm relevância nessa dimensão todos os

Segundo Vicente Barreto, processos que levem à formação e à apren-


dizagem dos alunos, que envolvem: méto-

“Excluem-se da escola os que não conse- dos, técnicas, currículo, e avaliação.

guem aprender, excluem-se do mercado


É nela que o gestor deve promover, segundo 12
de trabalho os que não têm capacidade
técnica porque antes não aprenderam a Lück (2009, p. 102): (i) a orientação da ela-

ler, escrever e contar e excluem-se, final- boração/re-elaboração e a implementação

mente, do exercício da cidadania esses do projeto político-pedagógico da escola,

mesmos cidadãos, porque não conhe- a partir de estudo aprofundado dos funda-

cem os valores morais e políticos que mentos, disposições legais e metodológicas;

fundam a vida de uma sociedade livre, (ii) a promoção de ações de formação conti-

democrática e participativa.” nuada, em situações de trabalho, com foco


no desenvolvimento de competências peda-

Dito isto, compartilhamos com Lück (2009, gógicas e no aprimoramento das condições

p. 95) quando afirma que “[...] de todas as favoráveis à criação de um ambiente escolar

dimensões da gestão escolar, a gestão peda- propício à melhoria; (iii) as experiências de

gógica é a mais importante, pois está mais formação e aprendizagem dos alunos; (iv) a

diretamente envolvida com o foco da escola criação de sistemas e formas de monitora-

que é o de promover aprendizagem e forma- mento e avaliação das ações pedagógicas da

ção dos alunos.” escola e do processo ensino-aprendizagem,


incluindo auto e heteroavaliação de desem-

Se nessa dimensão deve estar o foco das penho; (v) a atualização contínua dos mé-
todos e processos de orientação da apren- processos e práticas de gestão do trabalho
dizagem dos alunos, mediante inovações e pedagógico, orientados diretamente para
adoção de tecnologias da informação e sua assegurar o sucesso da aprendizagem dos
utilização regular nas aulas; (vi) desenvolvi- estudantes, em consonância com o proje-
mento regular das práticas de leitura inter- to pedagógico da escola. E como podemos
pretativa. verificar a qualidade da gestão pedagógica?
Com base na síntese dos indicadores do Prê-
Uma boa gestão pedagógica é aquela que se mio Nacional de Referência em Gestão Esco-
preocupa, sobretudo, com a qualidade dos lar (CONSED 2010), responder às indagações
processos e dos resultados da educação. abaixo já seria um bom começo.
Conforme bem define o Guia de Gestão Es-
colar do SGI/SEED/PR (2002, p. 30), • A escola possui um Projeto Pedagógico?
Ele foi construído coletivamente? Como

“O resultado esperado da educação, ele se articula com o PDE Escola e as polí-

quando ela é de qualidade, é o desen- ticas públicas de educação?

volvimento da capacidade do aluno de


• A Proposta Curricular está atualizada? É
tornar-se cada vez mais aquilo que ele
compatível com as necessidades dos alu- 13
potencialmente pode vir a ser, na sua in-
nos e da comunidade? Atende aos avan-
tegralidade. Educação de qualidade é a
ços da sociedade contemporânea?
que torna o aluno mais competente para
lidar de forma produtiva com as suas re-
• A escola realiza práticas inovadoras e de
alidades (interior e exterior); é a educa-
inclusão com equidade?
ção que constitui sentidos, que produz
significados, que constrói competências. • A escola define metas de melhoria do de-
Isto implica em uma educação que se sempenho escolar? Como a escola moni-
preocupa continuamente em dar opor- tora a aprendizagem dos alunos? Como
tunidade para que todos frequentem a usa e de que forma divulga os resultados
escola e que tenham uma educação que da aprendizagem dos alunos?
nunca perca de vista que o sentido de
todo esforço pedagógico é o de propiciar Essas evidências podem ser consideradas o
aos alunos melhores chances de êxito na termômetro da gestão pedagógica e sinali-
vida”. zam a busca da superação da maioria dos
desafios citados, valendo lembrar, obvia-
A gestão pedagógica, portanto, é a busca mente, que não basta que os processos de
continuada desses resultados. Ela abrange gestão escolar sejam os melhores, pois eles
só terão valor se produzirem os resultados cia para o alcance das metas educacionais,
efetivos de melhoria da aprendizagem e da contudo, aqui ressaltamos o significado da
formação dos alunos. gestão de pessoas, ou seja, de quem que efe-
tivamente têm o papel de “fazer acontecer a
aprendizagem”.
Gestão Administrativa

Gestão administrativa significa dirigir e A gestão de pessoas tem o objetivo de alcan-


manter controle sobre os recursos de uma çar os resultados a partir do compromisso
organização, com o objetivo de produzir das pessoas – professores, gestores, fun-
os melhores resultados. No caso da esco- cionários em geral, pais e alunos – com os
la, abrange práticas eficientes e eficazes de planos e projetos da instituição: Plano de
gestão de pessoas, de serviços de apoio, tais Desenvolvimento da Escola – PDE Escola e
como: secretaria, serviços gerais, atividades Projeto Pedagógico. Por isso, afirmamos que
de limpeza e conservação e também o pro- gerir pessoas é muito mais do que se ocupar
vimento dos recursos materiais e patrimo- com questões inerentes à situação funcio-
niais da escola. nal, embora estes assuntos sejam também
importantes. Há todo um conjunto de ou-
Sabe-se que a escola não é a sua estrutura tras coisas mais subjetivas, que têm o po- 14

física, seus equipamentos e materiais, seus der de fazer os resultados acontecerem não
serviços de apoio, mas depende deles – e da através das normas e das leis, mas através
forma como essa estrutura e serviços fun- da motivação, da confiança, do encanta-
cionam – para existir e realizar sua missão. mento. São coisas muito menos concretas e
Portanto, mesmo sendo considerada uma menos rígidas, que circulam na organização
dimensão meio, a relevância das suas com- como a seiva circula na árvore, levando a
petências é incontestável para a efetividade vida àquilo que, do contrário, seria só ma-
da dimensão fim, ou seja, para a promoção deira dura, sem frutos.
da aprendizagem e formação dos alunos. To-
davia, isso não justifica o fato de muitos ges- Mesmo não tendo total autonomia na ges-
tores dedicarem a maior parte de seu tempo tão de pessoas, com questões legais, há uma
às questões administrativas, em detrimen- enorme gama de atitudes e ações que estão
to das questões pedagógicas, como tem se ao alcance do gestor e que podem promo-
constatado em muitas escolas. ver uma verdadeira revolução na motivação
das pessoas que trabalham com ele. Esta é
Não há dúvida de que todas as atividades lis- a diferença entre um líder e um burocrata.
tadas na gestão administrativa têm relevân- O burocrata só vê as limitações, o líder vê
as oportunidades, para além das limitações. Dentro desse contexto, a gestão de pessoas
Nem todo mundo é um líder nato, mas todo deve favorecer, estimular e apoiar no ambien-
mundo pode desenvolver sua competência te escolar ações de formação continuada e
para a liderança. E como tudo na vida, o pri- em serviço para o desenvolvimento de conhe-
meiro passo é querer. cimentos, habilidades e atitudes, bem como
elevar a motivação e autoestima dos profissio-
Se a escola trabalha com pessoas que for-
nais, tendo em vista a melhoria do atendimen-
mam pessoas, nada mais justo e essencial
to às necessidades escolares cotidianas.
que a equipe escolar se sinta bem acolhida,
motivada, estimulada, num ambiente que Gestão Financeira
seja prazeroso, afetivo e humano, isso por-
A LDB nº 9. 394/96, em seu Art. 15, estabelece
que, de acordo com Lück (2006, p. 82),
que “os sistemas de ensino assegurarão às uni-
[...] são as pessoas que fazem diferença dades escolares públicas de educação básica
em educação, como em qualquer outro que os integram progressivos graus de autono-
empreendimento humano, pelas ações mia pedagógica e administrativa e de gestão fi-
que promovem, pelas atitudes que assu- nanceira, observadas as normas gerais de direi-
mem, pelo uso que fazem dos recursos to financeiro público”. Ao falar de progressivos
graus de autonomia, reconheceu a lei que não
15
disponíveis, pelo esforço que dedicam
na produção e alcance de novos recur- se trata de autonomia absoluta, mas parcial,
sos e pelas estratégias que aplicam na pois a escola tem a incumbência de adminis-
resolução de problemas, no enfrenta- trar apenas os recursos financeiros que a ela
mento de desafios e promoção do desen- são transferidos ou por ela são arrecadados.
volvimento.
A partir das políticas de descentralização fi-
Assim, para uma boa gestão de pessoas, o nanceira, as escolas públicas contam com re-
gestor escolar não deve descuidar daquilo cursos de três fontes: (i) recursos do Governo
que é essencial em termos de liderança: (i) Federal; (ii) recursos do governo estadual ou
ajudar as pessoas a perceberem um sentido municipal, conforme sua vinculação; (iii) re-
maior naquilo que fazem; (ii) criar um clima cursos próprios, arrecadados através do Con-
de confiança e encorajamento para todos e selho Escolar ou de outra forma de unidade
(iii) articular o senso de pertencimento. executora4. Vale lembrar que, para cada tipo

4 Unidade executora é o nome genérico adotado para designar qualquer entidade de direito privado,
vinculada à escola, que tem como objetivo a gestão dos recursos financeiros transferidos para a manutenção e o
desenvolvimento do ensino. Além dos Conselhos Escolares, as unidades executoras mais comuns são as APMs, a
caixa escolar, a cooperativa escolar etc.
de recurso, os gestores devem observar a le- nos torne esperançosa à luta, não passa-
gislação pertinente para a sua aplicação. remos de tarefeiros, carentes de perspec-
tivas e de resultados” (Gandin, Danilo).
Ao receber os recursos, seja de qual natu-
reza forem, é essencial que eles estejam Conforme mencionado anteriormente, a socie-

direcionados à melhoria dos processos edu- dade mudou, os conceitos evoluíram, as estra-

cacionais e que tenham como foco a apren- tégias mudaram e as novas gerações agora se

dizagem dos alunos. Não obstante essa reco- chamam “Y”. E as escolas estão acompanhan-

mendação, observam-se muitas fragilidades do a evolução dos tempos? O que elas têm

na gestão dos recursos financeiros, pois as feito, estrategicamente, em relação às amplas

despesas de natureza pedagógica nem sem- necessidades educacionais da sociedade glo-

pre acompanham a lista de prioridades das balizada do conhecimento? O que os gestores

escolas, assim como não é raro se observar estão fazendo para ampliar seus horizontes e

a priorização feita sem a participação coleti- inovar nos processos de gestão com vistas ao

va, além de vícios na aplicação desses recur- enfrentamento dos seus desafios?

sos, o que denota uma má gestão. Já podemos perceber avanços nesse sentido,
pois inúmeros gestores começam a compre-
Ressaltamos que a gestão dos recursos finan-
ender que precisam rever suas estratégias,
ceiros de uma escola pressupõe a observância 16
seus modelos de gestão, a compreender que
das regras e critérios relativos à captação dos
planejar a gestão é melhor que não plane-
recursos, utilização dos mesmos e prestação
jar e que planejar de forma participativa é
de contas. Para tanto, os gestores devem aten-
melhor que planejar de forma centralizada.
tar para: (i) definição de prioridades; (ii) cálculo
Para tanto, sinalizam essas mudanças com
correto dos gastos; (iii) elaboração do orçamen-
a elaboração do PDE Escola e do Projeto Pe-
to geral; (iv) prestação de contas transparente;
dagógico, entendendo-os como dois instru-
(v) comprovação dos gastos, valendo lembrar,
mentos de planejamento que se articulam e
ainda, que assim como nas demais dimensões,
se complementam entre si.
a gestão financeira deve ser exercida observan-
do-se o princípio da participação.
4.1 PDE Escola: uma
4. O PDE ESCOLA E O PROJETO nova metodologia de
PEDAGÓGICO: Instrumentos planejamento e de apoio à
complementares de gestão escolar
planejamento da Gestão
Para fins de melhor compreensão, podemos
Escolar
dizer que o PDE Escola é o planejamento

“Sem um horizonte que nos encante e global da escola, que envolve o processo de
reflexão, de decisões sobre a organização, o tação, o PDE Escola passou por avaliações,
funcionamento e o projeto pedagógico da cresceu, amadureceu e foi ressignificado do
instituição, ou seja, engloba todas as dimen- ponto de vista político, conceitual e opera-
sões da gestão escolar. Constitui-se, portan- cional; contudo, preservou três premissas
to, num instrumento de gestão para que importantes: (i) a ênfase na autonomia da
a escola avance na melhoria contínua dos escola; (ii) a convicção de que planejar é me-
processos de ensino e aprendizagem, tenha lhor do que não planejar; (iii) a aposta no
eficiência na condução das questões admi- planejamento participativo como princípio
nistrativas e financeiras e possa garantir a norteador determinante para que a escola
participação efetiva da comunidade escolar integre a comunidade escolar e alcance re-
em todo seu trabalho educativo. sultados melhores e mais duradouros.

Poderíamos compará-lo ao também conhe- Relançado pelo MEC no ano 2007, por meio
cido “plano de gestão da escola”, adotado da Portaria Normativa nº 27, de 21 de ju-
por alguns sistemas ou redes de ensino, nho/2007, o PDE Escola agora é parte inte-
cujos objetivos são similares: traçar o perfil grante do rol de ações do Plano de Desen-
da escola, conferindo-lhe identidade própria, volvimento da Educação (PDE) nacional,
na medida em que contempla as intenções cuja adesão pelos estados e municípios 17
comuns de todos os envolvidos, norteando vincula-se ao grande pacto educacional em
o gerenciamento das ações intraescolares andamento, o Compromisso Todos pela Edu-
e operacionalizando a proposta ou projeto cação (Decreto n. 6.094, de 30/4/2007).
pedagógico.
Constitui-se, portanto, no âmbito do Minis-
Implantado no Brasil a partir de 1998, o PDE tério da Educação, uma política educacional
Escola foi concebido como uma das ações de abrangência nacional, tendo como eixo
do Programa Fundo de Desenvolvimento da um indicador: o Índice de Desenvolvimento
Escola - FUNDESCOLA, criado e administra- da Educação Básica (IDEB), que serve como
do pelo Ministério da Educação - MEC/Banco parâmetro para avaliar a situação de cada
Mundial e destinava-se a uma pequena par- município brasileiro, a partir dos resultados
cela de escolas das regiões Norte, Nordeste obtidos na Avaliação Nacional da Educação
e Centro-Oeste. Seu objetivo era melhorar Básica, na Prova Brasil e no Censo Escolar.
a gestão escolar, a qualidade do ensino e a
permanência das crianças na escola. Nessa política, pressupõe-se que a melhoria
da qualidade do ensino depende da melhoria
Decorridos mais de 15 anos de sua implan- da gestão da escola, dos processos que de-
senvolve, da sua cultura, das relações entre Por ser um processo gerencial de planeja-
equipe escolar, pais e comunidade. Assim, o mento estratégico, no nível macroescolar,
objetivo da gestão é elevar o desempenho que busca uma melhor organização da es-
dos alunos e da escola a partir da melhoria cola para melhoria da qualidade de ensino e
de sua organização e funcionamento. aprendizagem, a complementaridade do PDE
Escola se dá na medida em que ele fortalece
No âmbito da escola, o PDE Escola é uma e viabiliza o Projeto Pedagógico da Escola.
metodologia de planejamento que focaliza Ao lançar mão dessa ferramenta gerencial
as múltiplas atividades da gestão escolar: de planejamento estratégico, a escola pas-
pedagógica, administrativa, financeira, as sa a dispor de condições para realizar me-
quais todas devem estar intimamente in- lhor o seu trabalho, focalizando sua energia,
terligadas e a serviço da aprendizagem do assegurando que sua equipe trabalhe para
aluno. Sua elaboração representa para a es- atingir os mesmos objetivos e avaliando e
cola um momento de análise de seu desem- adequando sua direção em resposta a um
penho, ou seja, de seus processos, de seus ambiente em constante mudança.
resultados, de suas relações internas e ex-
ternas, de seus valores, de suas condições de Para ampliar as responsabilidades dos ges-
funcionamento. tores e conferir mais transparência aos seus 18
processos, o PDE Escola apoia-se no módulo
A partir dessa análise ela se projeta, define específico do Sistema Integrado de Planeja-
aonde quer chegar, que estratégias adotar mento, Orçamento e Finanças do Ministério
para alcançar seus objetivos e a que cus- da Educação, mais conhecido como SIMEC.
to, que processos desenvolver, quem estará
envolvido em cada etapa e como e a quem Mas, apesar de ser um valioso instrumento
se prestará contas do que está sendo feito. de gestão escolar, é preciso desmistificar e
Trata-se, portanto, de uma esclarecer os equívocos de entendimentos
que muitos educadores/gestores ainda têm
[...] ferramenta gerencial que auxilia a es- sobre as concepções e relações entre o PDE
cola a definir suas prioridades estratégicas, Escola e o Projeto Pedagógico, reafirmando
a converter as prioridades em metas edu- que um instrumento não invalida o outro. O
cacionais e outras concretas, a decidir o PDE Escola não é um substituto do Projeto
que fazer para alcançar as metas de apren- Pedagógico e com ele não se confunde; ele
dizagem e outras estabelecidas, a medir se não indica o método pedagógico a ser ado-
os resultados foram atingidos e a avaliar o tado, mas sinaliza se este está falhando. Ele
próprio desempenho (MEC, 2006). é sim um poderoso e moderno instrumento
de planejamento que pensa a escola global- dagógico, visando promover essa formação
mente e que deve ser utilizado pelo gestor e aprendizagem.
escolar para planejar – de forma estratégica
– as atividades escolares, cuja finalidade é Conforme preceitua a Lei n. 9.394/96 – LDB,
a garantia de um processo de gestão mais todos os estabelecimentos de ensino têm a
eficiente e eficaz, com vistas a enfrentar os incumbência de elaborar e executar seu pro-
desafios da gestão contemporânea. jeto pedagógico, cabendo aos profissionais
da educação e aos demais segmentos da co-
Contudo, vale aqui lembrar, com base nas ex- munidade escolar a participação na sua ela-
periências demonstradas, que o dinamismo e a boração.
competência do gestor são fundamentais para
o sucesso na elaboração e na implementação Portanto, no nível macroescolar, além do
do PDE Escola. Os gestores que se comprome- PDE Escola, o Projeto Pedagógico é conce-
tem com o processo e assumem seu papel de bido e se apresenta como “[...] o plano ba-
liderança motivam a comunidade escolar e ga- lizador do fazer educacional, expressando,
rantem que o processo siga nos prazos e com a por consequência, a prática pedagógica da
qualidade necessária. Por outro lado, os gesto- escola, dando direção à gestão e às ativida-
res que não se comprometem verdadeiramen- des educacionais, pela explicitação de seu 19
te com o processo prejudicam sensivelmente o marco referencial, da educação que se dese-
envolvimento de sua equipe e a qualidade do ja promover, do tipo de cidadão que se pre-
seu plano de desenvolvimento. tende formar” (Gadotti e Romão, 1994).

Devemos entendê-lo não como um conjunto


4.2 O Projeto Pedagógico e de fragmentos de planos, projetos ou de ati-
sua interação com o PDE vidades diversificadas de professores e da es-

Escola cola, mas como um instrumento de trabalho


que indica rumo, direção para a instituição,
Remetemo-nos, aqui, novamente, ao plane- nas dimensões política e pedagógica. Para
jamento da escola e dos processos partici- André (2001), o projeto pedagógico é político
pativos; porém, como o próprio nome expli- no sentido de compromisso com a formação
cita, o Projeto Pedagógico tem seu foco no do cidadão para um tipo de sociedade e é pe-
pedagógico, ou seja, no aluno, na sua for- dagógico porque possibilita a efetivação da
mação e aprendizagem: o que ensinar, como intencionalidade da escola, que é a forma-
ensinar e como avaliar para que os alunos ção do cidadão participativo, responsável,
aprendam; e na organização do processo pe- compromissado, crítico e criativo.
Dentre as características que deve apresen- da escola, articulando-o com o previsto no
tar o projeto pedagógico, Veiga (2001, p. Plano de Desenvolvimento da Escola, pois
11) defende que ele seja um processo par- deve partir das informações e reflexões pre-
ticipativo de decisões; que se preocupe em sentes no mesmo em relação aos problemas
instaurar uma forma de organização de tra- de aprendizagem dos alunos, da organiza-
balho pedagógico que desvele os conflitos ção curricular, da metodologia de ensino, do
e as contradições; que explicite princípios processo de avaliação, entre outros aspectos
baseados na autonomia da escola, na soli- da práxis escolar.
dariedade entre os agentes educativos e no
estímulo à participação de todos no proje- Cabe aqui ressaltar, no entanto, que assim
to comum e coletivo; que contenha opções como acontece com a construção e a imple-
explícitas na direção de superar problemas mentação do PDE Escola, o projeto pedagó-
no decorrer do trabalho educativo voltado gico só terá sucesso se contar com o dina-
para uma realidade específica; que explicite mismo e a competência do gestor escolar.
o compromisso com a formação do cidadão;
que nasça da própria realidade, tendo como
suporte a explicitação das causas dos pro-
Edição especial:
20
blemas e das situações nas quais tais proble- Desafios da gestão
mas aparecem; que seja exequível e preveja
escolar
as condições necessárias ao desenvolvimen-
to e à avaliação; que seja uma ação articula- O objetivo da Edição especial: Desafios da
da de todos os envolvidos com a realidade da gestão escolar, com veiculação no programa
escola; que seja construído continuamente, Salto para o Futuro/TV Escola (MEC) no dia
pois, como produto, é também processo. 18/11/2011, é debater as múltiplas dimensões
e desafios da gestão escolar democrática e
Concebido, executado e avaliado na pers- a importância do planejamento como fer-
pectiva do coletivo, o projeto pedagógico ramenta de apoio para que a escola articu-
se constitui na ferramenta, por excelência, le três importantes elementos: a melhoria
para a construção de uma gestão democrá- contínua dos processos de ensino e apren-
tica, contribuindo para a escola construir dizagem (atividades-fim); a eficiência na
sua autonomia, a partir da ressignificação condução das questões administrativas e
de suas práticas e de todo o trabalho escolar. burocráticas (atividades-meio) e a participa-
ção efetiva da comunidade escolar (gestão
Compete ao gestor coordenar a (re)elabo- democrática). O programa aborda, como
ração e implantação do projeto pedagógico objeto de análise, a metodologia do PDE Es-
cola e sua integração com o Projeto Político- ________. Perspectivas da gestão escolar e
Pedagógico. implicações quanto à formação de seus ges-
tores. Em Aberto, Brasília, v. 17, n. 72, p. 1-33,
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equipe de trabalho produzir ideias inovadoras. Paulo Freire, 1994 (mimeo).
Tradução de Henrique Amar Rêgo Monteiro.
São Paulo: Clio Editora, 2010. MEC/FUNDESCOLA. Como elaborar o plano
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BRASIL. Constituição da República Federativa FUNDESCOLA, 2006.
do Brasil (1988). Disponível em: <www.mec.
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_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educa- SEED Paraná. Guia de Gestão Escolar. Curiti-
ção Nacional: Lei n. 9.394/96. Disponível em: ba: Cronos Ed. e Gráfica, 2002. 21
<www.mec.gov.br/legis/default.shtm>. Aces-
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co da escola: uma construção possível. 13ª ed.
CONSED. Prêmio Nacional de Referência em
Campinas: Papirus, 2001.
Gestão Escolar, 2010. Disponível em www.
consed.org.br
VALERIEN, Jean. Gestão da escola fundamen-
tal: subsídios para análise e sugestão de aper-
LÜCK, Heloisa. Dimensões da gestão escolar
feiçoamento. Adaptação por José Augusto
e suas competências. Curitiba: Editora Posi-
Dias. 5. ed. São Paulo:
tivo, 2009.
Presidência da República
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Básica

TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO


Coordenação-geral da TV Escola
Érico da Silveira

Coordenação Pedagógica
Maria Carolina Mello de Sousa

Supervisão Pedagógica
Rosa Helena Mendonça

Acompanhamento Pedagógico
Soraia Bruno

Coordenação de Utilização e Avaliação


Mônica Mufarrej 22
Fernanda Braga

Copidesque e Revisão
Magda Frediani Martins

Diagramação e Editoração
Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa – TV Brasil
Gerência de Criação e Produção de Arte

Consultora especialmente convidada


Vera Lúcia Baptista Castiglioni

E-mail: salto@mec.gov.br
Home page: www.tvbrasil.org.br/salto
Rua da Relação, 18, 4o andar – Centro.
CEP: 20231-110 – Rio de Janeiro (RJ)
Novembro 2011

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