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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ENGENHARIA MECÂNICA

MODELAGEM NUMÉRICA DE UM COLETOR SOLAR


CILÍNDRICO-PARABÓLICO PARA GERAÇÃO DIRETA DE
VAPOR

TOMÁS HENRIQUE COELHO E SILVA

Belo Horizonte, 01 de novembro de 2017


TOMÁS HENRIQUE COELHO E SILVA

MODELAGEM NUMÉRICA DE UM COLETOR SOLAR CILÍNDRICO-


PARABÓLICO PARA GERAÇÃO DIRETA DE VAPOR

Monografia apresentada ao Departamento de


Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia da
Universidade Federal de Minas Gerais como requisito
parcial à obtenção do título de Bacharel em Engenharia
Mecânica.

Orientador: Prof. Márcio Fonte-Boa Cortez

Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG

2017

ANO
“Há uma força motriz mais poderosa que o vapor,
a eletricidade e a energia atômica: a vontade. ”
Albert Einstein
RESUMO

Este trabalho trata do desenvolvimento de um modelo numérico para simular o


comportamento em regime permanente de um coletor solar cilíndrico parabólico para geração
direta de vapor. O modelo foi baseado nas equações de conservação da energia, da massa e da
quantidade de movimento. Foram utilizadas correlações retiradas da literatura para estimar os
coeficientes de transferência de calor e de perda de pressão, e para o cálculo da perda de calor
do coletor para o ambiente externo. O modelo foi validado através da comparação com
resultados experimentais disponíveis na literatura. Simulou-se o funcionamento do sistema para
diversas variáveis de entrada objetivando-se a análise da influência de cada uma no seu
desempenho. Foram feitas simulações para a análise da aplicabilidade do coletor para geração
de vapor para fins industriais. Os resultados demonstram boa aplicabilidade do sistema sob
algumas ressalvas de área disponível e potência de vapor desejada.

Palavras-chave: coletor solar, modelo numérico, regime permanente, geração direta de vapor,
aplicabilidade industrial.
ABSTRACT

This work is concerned with the development of a numerical model to simulate the
behavior of a parabolic trough collector with direct steam generation at steady state. The model
was based on the conservation of energy, mass and momentum equations. Correlations from
literature were used to calculate the heat transfer and pressure drop coefficient and to determine
the heat loss to the external ambient. The model was validated through the comparison with
experimental data from literature. The operation of the system was assessed under various input
variables in order to analyze the influence of these variables on the performance of the collector.
Finally, some simulations were made to evaluate the applicability of these collectors to process
heat generation. The results show that the system has a good applicability, subject to some
observations on the available area and desired thermal power.

Keywords: solar collector, numerical model, steady state, direct steam generation, industrial
application.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Áreas de abertura e de receptção de um PTC ......................................................... 19


Figura 2 – Radiação difusa e direta .......................................................................................... 20
Figura 3 – Coletor cilíndrico-parabólico .................................................................................. 21
Figura 4 – Modos de operação DSG ........................................................................................ 23
Figura 5 – Integração de um Coletor Solar para geração direta de vapor ................................ 26
Figura 6 – Configurações de escoamento bifásico em tubos horizontais ................................. 34
Figura 7 – Ilustração do fator de sombra .................................................................................. 48
Figura 8 – Calor Perdido no tubo absorvedor........................................................................... 49
Figura 9 – Condutividade térmica do aço AISI 304 ................................................................. 51
Figura 10 – Volumes de Controle do modelo .......................................................................... 52
Figura 11 – Fluxograma do modelo do Coletor ....................................................................... 55
Figura 12 – Esquema simplificado de uma linha de coletores – Projeto INDITEP ................. 56
Figura 13 – Diagrama simplificado e dimensões do campo solar de geração direta de
vapor ................................................................................................................. 57
Figura 14 – Simulação do Modelo – INDITEP ........................................................................ 58
Figura 15 – Coeficiente Convectivo ......................................................................................... 59
Figura 16 – Comportamento - Coeficiente Transferência de Calor ......................................... 59
Figura 17 – Área do campo Solar – DNI 400 W/m² - 125kW ................................................. 61
Figura 18 – Área do campo Solar – DNI 600 W/m² - 125kW ................................................. 61
Figura 19 – Área do campo Solar – DNI 800 W/m² - 125kW ................................................. 62
Figura 20 – Área do campo Solar – DNI 400 W/m² - 250kW ................................................. 62
Figura 21 – Área do campo Solar – DNI 600W/m² - 250kW .................................................. 63
Figura 22 – Área do campo Solar – DNI 800 W/m² - 250kW ................................................. 63
Figura 23 – Área do campo Solar – DNI 400 W/m² - 375kW ................................................. 64
Figura 24 – Área do campo Solar – DNI 600 W/m² - 375kW ................................................. 64
Figura 25 – Área do campo Solar – DNI 800 W/m² - 375kW ................................................. 65
Figura 26 – Influência da pressão de entrada sobre a eficiência de geração de vapor ............. 66
Figura 27 – Influência da Pressão de entrada sobre a perda de carga ...................................... 67
Figura 28- Influência da Temperatura de entrada sobre a eficiência de geração de
vapor ................................................................................................................. 67
Figura 29 – Influência da Temperatura de Entrada sobre a Área de Campo Solar .................. 68
Figura 30 – Distribuição horária da radiação normal direta e do ângulo de incidência ........... 68
Figura 31 – Comportamento horário do Coletor – Área de 400m² .......................................... 69
Figura 32 – Comportamento horário do Coletor – Área de 260m² .......................................... 70
LISTA DE TABELAS

Tabela 2-1 – Coletores Solares Concentradores ....................................................................... 20


Tabela 2-2 – Processos com maior potencial para utilização de energia solar......................... 25
Tabela 2-3 – Valores dos parâmetros KH e Z da correlação de Hughmark ............................. 40
Tabela 2-4 – Valores recomendados para o dia médio dos meses do ano................................ 42
Tabela 3-1 – Condutividade térmica – Aço AISI 304 .............................................................. 51
Tabela 3-2 – Parâmetros do Projeto INDITEP ......................................................................... 56
Tabela 3-3 – Validação do Modelo .......................................................................................... 58
Tabela 4-1 – Área Mínima de Campo Solar ............................................................................. 65
LISTA DE SÍMBOLOS

Letras latinas
A Área [m2]
a Constante
b Constante
C Constante
c Constante
cp Calor especifico a pressão constante [J/kgK]
D Diâmetro externo do tubo [m]
d Diâmetro interno do tubo [m]
e Rugosidade relativa
E Equação da hora [min]
f Fator de atrito
FS Fator de sombra
G Velocidade mássica [kg/m2s]
H Coeficiente convectivo de transferência de calor [W/m2K]
h Entalpia [J/kg]
̅
H Radiação diária incidente [MJ/m2]
I Radiação horária incidente [MJ/m2]
k Condutividade térmica [W/mK]
KT Índice de limpidez
L Comprimento [m]
M Massa [kg]
ṁ Vazão mássica [kg/s]
N Potência [W]
n Número de dia do ano
P Pressão [bar]
p Perímetro [m]
q Energia térmica por unidade de comprimento [W/m]
q̇ Fluxo de calor [W/m2]
r Raio do tubo [m]
rd Razão entre a radiação horária difusa e a radiação diária difusa
rt Razão entre a radiação horária total e a radiação diária total
T Temperatura [ºC]
t Tempo [s]
U Coeficiente total de transferência de calor [W/m2K]
u Velocidade [m/s]
V Velocidade [m/s]
v Volume específico [m3/kg]
V̇ Vazão volumétrica [m3/s]
w Largura [m]
x
Título de vapor

Letras gregas
α Fração de vazio
β Ângulo de inclinação [º]
γ Deslizamento entre fases
δ Ângulo de declinação [º]
ε Emissividade
η Eficiência
θ Ângulo de incidência [º]
μ Viscosidade dinâmica [kg/s.m]
ρ Massa [kg/m3]
ϕ Ângulo da latitude [º]
χ Parâmetro de Martinelli
ω Ângulo horário [º]

Subscritos
ab Referente ao tubo absorvedor
abs Referente à absorção
amb ambiente
bf Referente ao escoamento bifásico
ent Referente à entrada do volume de controle
f Fluido
i Interno
l Líquido
m média
o externo
p Parede do tubo absorvedor
perd Referente à perda
sai Referente à saída do volume de controle
v Vapor
z zenith

Números adimensionais
Nu Número de Nusselt
Pr Número de Prandtl
Re Número de Reynolds
NOMENCLATURAS

DISS Direct Solar Steam – Vapor de Energia Solar Direta


DSG Direct Steam Generation – Geração Direta de Vapor
EPA Environmental Protection Agency – United States – Agência Americana de
Proteção Ambiental
ESTIF European Solar Thermal Industry Federation – Federação Européia da
Indústria da Energia Solar
NREL National Renewable Energy Agency – Agência Nacional de Energia
Renovável – Estados Unidos
IEA International Energy Agency – Agência Internacional de Energia
IRENA The International Renewable Energy Agency – Agência Internacional de
Energia Renovável
ISG Indirect Steam Generation – Geração Indireta de Vapor
PTC Parabolic Trough Collector – Coletor Cilídrico Parabólico
UNIDO United Nations – Industrial Development Organization – Organização do
Desenvolviemnto industrial – Nações Unidas
WEC World Energy Council – Conselho Mundial de Energia
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 18


2.1. Introdução ........................................................................................................................ 18
2.2. Concentradores Solares .................................................................................................. 18
2.2.1. Fresnel Linear ................................................................................................................ 20
2.2.2. Concentrador cilíndrico-parabólico ............................................................................... 20
2.2.3. Coletor Parabólico de Disco .......................................................................................... 21
2.2.4. Torre Solar ..................................................................................................................... 21
2.2.5. Geração Direta de Vapor................................................................................................ 21
2.3. Geração de Vapor para processos industriais .............................................................. 24
2.4. Estudo de Modelos para a Geração Direta de Vapor em Coletores
Parabólicos Cilíndricos ......................................................................................... 26
2.4.1. Modelos de Coletores Cilíndrico - Parabólicos ............................................................. 27
2.5. Mecanismos de transferência de Calor e perda de pressão ......................................... 28
2.5.1. Escoamento Monofásico ................................................................................................ 29
2.5.2. Escoamento Bifásico ...................................................................................................... 32
2.6. Estudo dos parâmetros solares ....................................................................................... 40

3. METODOLOGIA ........................................................................................................... 45
3.1. Introdução ........................................................................................................................ 45
3.2. Hipóteses do Modelo ....................................................................................................... 45
3.3. Equações do Modelo ........................................................................................................ 45
3.3.1. Escoamento água-vapor ................................................................................................. 45
3.3.2. Parede do Tubo .............................................................................................................. 46
3.4. Método de Resolução das Equações............................................................................... 51
3.5. Validação do modelo matemárico .................................................................................. 55

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................................................. 60


4.1. Introdução ........................................................................................................................ 60
4.2. Área mínima para a Geração de Potência de Vapor ................................................... 60
4.3. Estudo de Caso – Aplicação à Belo Horizonte .............................................................. 68

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 71

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 73
14

1. INTRODUÇÃO

A geração de energia é um fator chave para a geração de riquezas e desenvolvimento


econômico da sociedade moderna, havendo uma estrita relação entre a disponibilidade
energética e a atividade econômica de um país. Atualmente, o consumo de energia está em
progressivo crescimento, acompanhado da melhora a qualidade de vida, da industrialização de
países em desenvolvimento e do crescimento da população mundial.
Segundo Conselho Mundial de Energia (WEC, 2013) em 2011 82% de todo a energia
gerada no planeta proveio de combustíveis fósseis, dentre os quais se destacam o carvão e
petróleo, com 40% e 32% da geração de energia no mundo respectivamente. Ambas são fontes
não-renováveis de energia e há crescentes preocupações com a utilização desses sistemas
devido aos riscos inerentes de fornecimento de energia, ao potencial de conflitos internacionais
e aos diversos problemas ambientais a eles correlacionados. Organizações nacionais e
internacionais apontam para a necessidade de transformarmos nossos sistemas atuais de
fornecimento de energia em mais sustentáveis, especialmente no que concerne os impactos ao
meio ambiente, dentre os quais a chuva ácida, a destruição da camada de ozônio e o
aquecimento global sobressaem (Kalougirou, 2004).
A chuva ácida é causada pela precipitação de SO2 e NOX gerados pela combustão dos
combustíveis e transportados através da atmosfera. A ação de ambos em ecossistemas
vulneráveis à acidez excessiva é devastadora, levando à morte de animais e plantas, alteração
da química dos solos além de doenças ao ser-humano, como doenças dos sistemas respiratório
e cardiovascular (United States - Environmental Protection Agency, 2017).
A camada de ozônio presente na atmosfera tem um importante papel na manutenção
do equilíbrio natural da Terra através da absorção de radiação ultravioleta e infravermelha. A
destruição dessa camada pela emissão de gases CFCs, halogêneos e NOX pode levar ao aumento
da ocorrência de doenças de pele e da visão, além de causar danos à diversas espécies biológicas,
como aos plânctons. A queima dos combustíveis fosseis está parcialmente relacionada à
destruição do ozônio através da emissão de NOX.
O efeito estufa ocorre pela ação natural da atmosfera em manter a superfície da Terra
aquecida. No entanto, o efeito estufa antropogênico, causado em especial pela emissão de CO2
proveniente da queima de combustíveis fósseis, resulta no aumento da temperatura do planeta.
De acordo com Colonbo (1992), a temperatura da superfície terrestre aumentou 0,6 ºC no último
século, e como consequência o nível do mar aumentou em aproximadamente 20 cm. Esse autor
15

ainda mostra que há previsões de que se a concentração atmosférica de gases do efeito estufa
continuar a aumentar nas taxas atuais, a temperatura da Terra pode aumentar em outros 2 a 4ºC
e causar aumento entre 30 a 60 cm do nível do mar no próximo século. Essa alteração pode
levar a enchentes de áreas costeiras, deslocamentos de regiões férteis à agricultura para altitudes
mais altas e diminuição da disponibilidade de água limpa para irrigação e outros usos. Portanto,
tais alterações colocariam em perigo a sobrevivência de populações inteiras.
Há diversas fontes de energia alternativas que podem ser utilizadas em substituição
aos combustíveis fósseis, de forma a amenizar os danos causados ao meio-ambiente e a grande
dependência de fontes não-renováveis de energia. Os benefícios derivados da instalação e
operação de sistemas de energias renováveis podem ser divididos em três categorias: redução
do consumo energético para a produção de eletricidade, criação de novos postos de trabalho e
diminuição da emissão de gases poluentes. Em relação a outras fontes de energia renovável, a
energia solar apresenta interessantes vantagens, como seu grande potencial energético e o fato
de ser uma fonte limpa cujo fornecimento causa mínima poluição ambiental.
A energia solar é o recurso de energia permanente mais abundante no planeta. Estima-
se que a energia total emitida pelo Sol é de 3,8 x 1023 kW por segundo, a qual é irradiada em
todas as direções. Porém, apenas 1,8 x 1014 kW dessa energia é interceptada pelo nosso planeta
e 60% desse valor atinge a superfície terrestre, o restante é refletido de volta ao espaço ou
absorvido pela atmosfera. No entanto, estima-se que cerca de 30 minutos de radiação solar
sobre a Terra é equivalente à demanda anual de energia de todo o planeta. (Kalogirou, 2004)
Um importante entrave para a consolidação das tecnologias solares como fontes de
energia é a distribuição irregular e intermitente da energia solar no planeta, o que cria
dificuldades econômicas e tecnológicas para o seu uso. Essas complicações podem ser
superadas pelo aumento da eficiência, diminuição dos custos de produção e manutenção e pelo
aumento da confiabilidade dos sistemas utilizados para geração de calor e energia elétrica
proveniente de fontes solares.
Há duas distintas tecnologias de utilização direta da energia solar, a energia
fotovoltaica e a energia solar térmica. Sistemas de energia fotovoltaica utilizam painéis solares,
geralmente feitos de células solares de silício, para converter a radiação solar diretamente em
eletricidade, através do efeito fotovoltaico. Esses painéis geram energia elétrica sem emissões,
barulho ou vibração, no entanto, os custos de geração ainda são relativamente altos. Já os
sistemas de energia solar térmica aplicam coletores para transformar a energia de radiação do
sol em calor transferido para a água, óleos ou outros fluidos. Coletores solares não
concentradores são capazes de produzir temperaturas de até 100ºC e são utilizados em
16

condicionamento de ar residencial, aquecimento de água doméstica e em alguns processos


industriais. Já os coletores concentradores permitem a obtenção de temperaturas entre 100 e
200ºC, e podem, portanto, ser aplicados para uma gama de processos industriais e para geração
de energia elétrica.
Os coletores não concentradores já possuem tecnologia relativamente bem
desenvolvida e funcionam de maneira eficiente a até 80ºC. No entanto, grande parte dos
processos industriais atuais requerem calor entre 80ºC e 250ºC, o que exige a aplicação de
coletores concentradores, os quais ainda possuem pouca aplicação no mercado atual e carecem
de maior desenvolvimento e otimização para que se tornem viáveis. Dentre os diversos tipos de
coletores concentradores, destaca-se os coletores cilíndrico-parabólicos, os quais possuem
capacidade de aquecimento de fluidos a temperaturas adequadas às aplicações industriais, 80ºC
a 400ºC, e cuja tecnologia já foi demonstrada ser eficiente para geração de energia elétrica
(Khenissi et al, 2015).
A maioria dos coletores parabólicos para geração de energia utilizados atualmente são
construídos com geração indireta de vapor. Nesses casos, a usina utiliza dois ciclos, um no qual
óleo sintético é aquecido em concentradores solares, e outro em que trocadores de calor são
utilizados para transferência do calor do óleo para a água. No entanto, os óleos sintéticos só são
estáveis até aproximadamente 400ºC, o que reduz a eficiência energética do sistema. Segundo
Kalougirou (2004), uma das maneiras mais promissoras de superar essa limitação é a utilização
de coletores solares cilíndrico-parabólicos (PTC) com geração direta de vapor, cuja tecnologia
tem sido extensivamente estudada. A geração direta de vapor também exige menor
investimento, por não necessitar de trocadores de calor, e não possui riscos ambientais
associados à vazamentos de óleo como na geração indireta. Porém, ainda de acordo com
Kalougirou (2004), esses sistemas são de considerável complexidade, já que possuem
escoamento bifásico em grande parte de sua extensão, e, portanto, exigem modelos numéricos
para permitir o estudo detalhado dos fenômenos físicos que impactam em sua eficiência.
O objetivo deste trabalho é desenvolver um modelo numérico da distribuição de
temperatura do fluxo de água/vapor em um coletor solar do tipo PTC usado para geração direta
de vapor para analisar o desempenho do coletor segundo a variação dos seus parâmetros
construtivos e das condições do fluido de trabalho e verificar a viabilidade da aplicação dessa
tecnologia para aplicações na indústria.
A análise numérica de um PTC permitirá, sem a necessidade da realização de análises
analíticas de alta complexidade e de experimentos que são por vezes onerosos e de difícil
construção, a avaliação do desempenho desse coletor para geração de vapor, auxiliará na
17

determinação da viabilidade do uso dessa tecnologia para aplicações na indústria e permitirá a


definição de parâmetros que aumentem a aplicabilidade.
A presente monografia consiste em 5 capítulos. No capítulo 1 é feita a introdução e
apresenta-se a contextualização e justificativa do trabalho. No capítulo 2 relata-se uma
descrição dos coletores solares concentradores empregados atualmente e é feita uma revisão
bibliográfica sobre os modelos de simulação de concentradores cilíndrico-parabólicos e das
correlações de transferência de calor, perda de carga e fração de vazio mais utilizadas. O
capítulo 3 é destinado para a descrição do modelo, apresentando o fluxograma de
funcionamento, e as equações e hipóteses usadas. No capítulo 4 são tratados os resultados do
modelo numérico do coletor com geração direta de vapor, com foco em aplicações à processos
industriais. Finalmente, o capítulo 5 apresenta as principais conclusões do trabalho e
recomendações destinadas à continuação dos estudos.
18

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Introdução

O principal componente dos sistemas de energia térmica solar são os coletores solares,
os quais são capazes de captar a energia da radiação proveniente do sol, transformá-la em calor
e transferi-lo ao fluido que circula em seu interior. Sendo assim, a energia solar coletada é
conduzida pelo fluido do coletor quer diretamente para a água quente ou equipamentos de
condicionamento de ar, ou para tanques de armazenamento de energia térmica de onde pode
ser aproveitada para uso em dias nublados ou durante a noite.
Há, basicamente, dois tipos de coletores solares: coletores não concentradores e
coletores concentradores. Enquanto os não-concentradores possuem a mesma área para
interceptar e absorver a radiação solar, os concentradores interceptam a radiação em grandes
superfícies, geralmente côncavas, e a direciona para uma pequena área de absorção, o que
aumenta o fluxo de radiação. Portanto, os coletores concentradores permitem atingir
temperaturas de trabalho bastante superiores às temperaturas alcançáveis pelos não
concentradores e, consequentemente, maiores eficiências termodinâmicas, graças à utilização
de um dispositivo óptico entre a fonte de radiação e a superfície de absorção de energia.
Este capítulo detalha o funcionamento do coletor cilíndrico-parabólico, discute a
aplicação da energia solar para geração de calor para processos industriais e relata um estudo
dos princípios físicos que regem o comportamento térmico desses coletores, apresentando uma
revisão bibliográfica dos mecanismos de transferência de calor e de perda de pressão, tanto em
escoamentos monofásicos como em escoamentos bifásicos, necessários para a criação do
modelo de simulação numérica. Por fim, é feita uma breve apresentação das definições dos
principais parâmetros solares de interesse no estudo dos coletores solares.

2.2. Concentradores Solares

Diversos projetos já foram considerados para coletores concentradores, conforme


mostrado por Kalougirou (2004). As superfícies concentradoras podem ser refletoras ou
refratoras, podem possuir geometria cilíndrica ou parabólica e podem ser contínuas ou
segmentadas. As superfícies de absorção de energia também podem ser construídas de diversas
geometrias, desde côncavas ou convexas à planas ou cilíndricas. Dentre os principais atributos
desses coletores está a razão de concentração, razão entre a área de abertura da superfície
concentradora para a área da superfície absorvedora/receptora, conforme demonstrado na
19

Figura 1. Ela pode variar desde valores próximos à unidade à valores de ordem de grandeza
próxima à 10.000. Quanto maior é a razão de concentração, maior será a temperatura na qual a
energia pode ser disponibilizada, porém há um aumento nos requisitos de precisão na qualidade
e no posicionamento do sistema óptico (Kalougirou, 2004).

Figura 1 – Áreas de abertura e de receptção de um PTC

Fonte: Uçkun, 2013

Conforme mostrado na Figura 2, parte da radiação solar muda de direção ao passar


pela atmosfera terrestres, o que gera a radiação difusa, enquanto a parcela dos raios solares que
não muda de direção constitui a radiação direta. Os concentradores solares, com exceção dos
que possuem baixa razão de concentração, não são capazes de utilizar a radiação difusa, e,
portanto, utilizam mecanismos de rastreamento solar para captar o máximo de radiação direta.
Esses sistemas de rastreamento podem ser de duplo-eixo, o qual permite o rastreamento exato
da posição do sol, ou de eixo-único, que se movimenta apenas segundo as direções Leste-Oeste
ou Norte-Sul (Uçkun, 2013).
20

Figura 2 – Radiação difusa e direta

Fonte: Uçkun, 2013

Os diversos tipos de concentradores solares podem ser agrupados em dois grupos, os


de foco linear e os de foco pontual, conforme mostrado na Tabela 2-1. Nessa tabela também
são comparadas as razões de concentração, sistema de rastreamento e faixa de temperatura para
cada um dos principais concentradores utilizados atualmente (Kalougirou, 2004).

Tabela 2-1 – Coletores Solares Concentradores


Tipo de Eixo de Razão de Faixa de
Foco rastreamento concentração Temperatura (°C)
Fresnel Linear Linear 1 eixo 10-40 60-250
Cilíndrico- Linear 1 eixo 10-85 60-400
parabólico
Parabólico de Pontual 2 eixos 600-2000 100-1500
disco
Torre Solar Pontual 2 eixos 300-1500 150-2000
Fonte: Kalougirou, 2004

2.2.1. Concentrador cilíndrico-parabólico

Os concentradores cilíndrico-parabólicos, cujo nome em inglês é Parabolic Trough


Collector (PTC), são os sistemas mais utilizados em todas as tecnologias de geração de energia
térmica solar. Eles consistem de um coletor parabólico com espelhos refletivos que concentram
21

a radiação em um tubo absorvedor localizado na linha focal dos refletores, conforme mostrado
na Figura 3. Os tubos absorvedores são cobertos por um tubo de vidro para reduzir as perdas
térmicas e os coletores podem ser orientados na direção Leste-Oeste com um sistema de
rastreamento do Sul para o Norte ou o contrário. O primeiro modo possui a vantagem de
necessitar de pouco ajuste durante o dia e de sempre ter a abertura completa de frente para o sol
ao meio-dia, porém o rendimento do coletor é afetado durante as primeiras e últimas horas do
dia devido à altos ângulos de incidência. Já coletores posicionados na direção Norte-Sul
possuem maior perda de radiação incidente ao meio-dia e menor no início e fim do dia.

Figura 3 – Coletor cilíndrico-parabólico

Fonte: Uçkun, 2013 e Kalougirou, 2004

A escolha da orientação dependerá da aplicação e se há maior necessidade de energia


gerada no inverno ou no verão, já que a orientação Norte-Sul coleta uma parcela de energia
maior no verão do que a Leste-Oeste, porém no inverno essa relação se inverte.
De acordo com a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA, 2012), cerca
de 95% de todas usinas solares em operação utilizam concentradores cilíndrico-parabólicos. A
principal aplicação desse sistema é nas usinas do sul da Califórnia, conhecidas como Solar
Electric Generating Systems (SEGS), que, segundo o Laboratório Nacional de Energias
Renováveis dos Estados Unidos (NREL, 2017), tem capacidade instalada de 354 MWe. Outra
importante aplicação está montada na Plataforma Solar de Almería (PSA), no sul da Espanha,
para fins experimentais e com capacidade de 1.2 MW.

2.2.2. Geração Direta de Vapor

De acordo com Birnbaum et al. (2008), a maioria das usinas de energia solar em
operação no mundo utilizam coletores cilíndrico-parabólicos, dos quais praticamente todos
utilizam óleo como fluido de trabalho, com o calor sendo fornecido à turbina através de um
trocador de calor óleo/água, no que é chamado de Geração de Vapor Indireta (Indirect Steam
22

Generation – ISG). Essas plantas são divididas em dois ciclos: o campo solar e o bloco de
potência. No campo solar, óleo sintético é circulado e aquecido nos tubos absorvedores pela
concentração da radiação solar. O óleo é bombeado para trocadores de calor onde calor é
transferido para o ciclo água-vapor de um sistema de Rankine convencional (Bloco de potência).
No entanto, óleos sintéticos são quimicamente estáveis até apenas 400ºC, o que limita a
temperatura do vapor e consequentemente a eficiência da usina. Além disso, sistemas ISG
possuem riscos ambientais associados ao vazamento de óleo e subsequentes incêndios, como o
que aconteceu na usina termosolar SEGS II, conforme mostrado pelo Los Angeles Times (1999)
- Storage Tank at Solar Power Plant in Desert Explodes; Immediate Area Is Evacuated.
Para superar essas restrição, diversos fluidos alternativos são discutidos por Eck et
al.(2007), e a tecnologia mais promissora é a de geração direta de vapor(Direct Steam
Generation – DSG). Nesse modo de operação água é utilizada como fluido de trabalho e é
evaporada no interior dos tubos absorvedores, dessa forma o sistema é operado com apenas um
ciclo e os trocadores de calor, que significam um custo considerável da construção e operação
de um sistema ISG, são eliminados. Há, porém, algumas desvantagens relacionadas ao uso da
geração direta de vapor, como a necessidade de sistemas de controle mais complexos e a
geração de maiores gradientes de temperatura no escoamento do fluido devido ao regime
bifásico e, consequentemente, maiores tensões térmicas sobre o material da tubulação do
absorvedor. Os sistemas de armazenamento de energia também são mais caros, no momento,
em relação à geração indireta de vapor.
Diversas pesquisas vêm sendo feitas para responder alguns desses questionamentos
sobre a aplicação do DSG, com destaque para o projeto DISS (Direct Solar Steam) construído
na Plataforma Solar de Almería e iniciado em 1996. Conforme mostrado por Zarza et al. (2002)
foram testados e avaliados 3 modos de operação com diferentes pressões de trabalho e a
funcionalidade da tecnologia DSG foi comprovada. Atualmente, é utilizada para o
desenvolvimento de componentes, como separadores de vapor e materiais de tubos
absorvedores de alta temperatura, e para otimização de estratégias de controle e de operação.
Segundo esses autores, a principal conclusão da primeira fase do projeto, a qual terminou em
1998, é de que a tecnologia de geração direta de vapor em coletores parabólicos cilíndricos é
viável e o conhecimento adquirido nessa etapa foi de extrema importância para as pesquisas
posteriores.
Os modos de operação testados foram: modo de circulação única, modo de injeção e
modo de recirculação, conforme apresentado na Figura 4. No primeiro, água é escoada pelo
tubo absorvedor uma única vez e ao final é gerado vapor, caracterizando o modo mais simples
23

em termos de tubulação, porém o que exige um sistema de controle mais robusto para monitorar
a qualidade do vapor gerado sob a variação da radiação solar incidente e das condições de
entrada da água. No modo de injeção, água líquida é injetada em diversos pontos ao longo de
diferentes coletores e água é recirculada através do coletor. Esse sistema é mais complexo e
caro, no entanto, permite um controle mais simples das propriedades do vapor de saída. Por fim,
no modo de recirculação há um separador de água/vapor próximo ao fim da fase de evaporação
e o liquido é então recirculado pelo coletor. Dessa forma, o sistema pode ser razoavelmente
controlado, no entanto, o excesso de água e o trabalho de bombeamento na recirculação acarreta
em custos e perdas parasitas adicionais.

Figura 4 – Modos de operação DSG

Fonte: Zarza, 2002

Zarza et al. (2002) concluíram que o modo de recirculação é o mais viável para
aplicações comerciais em relação à parâmetros financeiros e técnicos, principalmente devido à
maior facilidade de controle do vapor de saída. Feldhoff et al. (2012) compararam os sistemas
DSG e ISG em relação à eficiência e ao custo de energia elétrica e concluíram que o DSG
apresenta uma eficiência 8% melhor, porém um investimento inicial 10% maior em relação ao
ISG o que, no final, gera um custo de eletricidade 6% maior. Eles citam, como principais razões
para esse investimento consideravelmente maior, a utilização de sistemas de armazenamento
24

de energia mais onerosos e o maior custo específico de obtenção de energia solar. Dentre as
razões para tal está o fato de o modo de recirculação, o qual foi utilizado no estudo, apresentar
restrições em tamanho devido às altas pressões de projeto, resultando em limitações dos
componentes críticos e da tubulação principal. Por fim, os autores citam que a utilização do
modo de passagem única permitiria, em uma análise inicial, a obtenção de um custo de
eletricidade até 3,4% menor do que o obtido em um sistema de geração indireta de vapor.
Por essa razão o modo de circulação única foi analisado em detalhe no projeto DUKE
por pesquisadores do ISR – Institute of Solar Research, e comprovou-se que ele é um modo de
operação viável, o que, em conjunto com a redução dos custos de investimento, o torna
extremamente atraente para utilização em plantas de geração de energia elétrica e para
aplicações na indústria (Reuschenbach, 2015).
A primeira usina de geração de energia elétrica em grande escala que utiliza geração
direta de vapor com coletores parabólicos cilíndricos começou a operar no ano de 2012 em
Kanchanburi, Tailândia. Ela é equipada com 14 evaporadores e 7 ciclos de superaquecimento
e fornece vapor a 330ºC e 30bar a uma turbina de vapor de 5 MW. As primeiras experiências
de operação demonstram que a operação é satisfatória mesmo sob condições transientes de
radiação. O sistema não é suportado por sistemas de combustíveis fósseis ou armazenadores de
energia térmica explícitos. (Khenissi, et al, 2015).

2.3. Geração de Vapor para processos industriais

Dados da Conselho Mundial de Energia (WEC, 2013) mostram que a indústria é um


dos principais setores consumidores de energia no planeta, cerca de 30% do total. Deste valor,
grande parte, entre 45 a 65%, é utilizada na aplicação direta de calor em processos industriais.
A demanda é, segundo o Conselho Mundial de Energia (2013), de 30 a 50% por energia térmica
a temperaturas inferiores a 250ºC, caracterizando uma situação extremamente favorável à
utilização de coletores solares para geração de vapor em substituição à processos que utilizam
combustíveis fósseis.
Atualmente, a maioria das aplicações de energia solar para processos industriais são
em pequena escala e de natureza experimental (ESTIF, 2006). No entanto, conforme destacado
pelo relatório da Federação Europeia da Industria da Energia Solar – ESTIF (2006), há,
potencialmente, um enorme campo de aplicações de energia solar aos setores industriais, com
a capacidade de suprir uma considerável porção de toda a demanda de energia. As prioridades
das pesquisas na área são o desenvolvimento de novos componentes com características
25

apropriadas às aplicações industriais e o aperfeiçoamento da configuração de produtos já


disponíveis atualmente.
Os setores industriais que mais se destacam na utilização de vapor na faixa de média
e média-alta temperatura são os setores alimentício, de máquinas, de mineração e têxtil. As
indústrias de alimentos e de tabaco, que representam praticamente metade de todo o potencial
de geração de energia, são particularmente importantes para os países em desenvolvimento ou
subdesenvolvidos, nos quais a modernização desse setor industrial possui um papel vital em
termos de segurança alimentar e de aumento de capacidade produtiva. Não obstante, a energia
térmica solar pode auxiliar na estabilização dos preços dos alimentos ao reduzir a conexão do
setor com os preços voláteis do petróleo e de outras commodities de energia.
As atividades industriais típicas que aplicam vapor com maior potencial para utilização
de energia solar são descritas na Tabela 2-2. Em negrito são destacadas as atividades cuja
temperatura de processo é favorável à aplicação de coletores cilíndrico-parabólicos.

Tabela 2-2 – Processos com maior potencial para utilização de energia solar
Temperatura
Setor Industrial Processo
(ºC)
Secagem 30 - 90
Lavagem 40 - 80
Alimentos e Pasteurização 80 -110
bebidas Evaporação 95-105
Esterilização 140-150
Tratamento térmico 40-60
Lavagem 40-80
Branqueamento 60-100
Indústria Têxtil
Tintura 100-160
Secagem e Desengraxamento 100-130
Evaporação 95-105
Indústria Química Destilamento 110-300
Processos químicos variados 120-180
Preparação 120 - 140
Destilação 140-150
Indústria de
Separação 200-220
Plásticos
Extensão 140-160
Secagem 180-200
Pré-aquecimento de água de
30-100
Todos Setores caldeira
Aquecimento de ambiente 30-80
Fonte: IRENA, 2015
26

A integração da energia térmica solar aos processos industriais pode ser feita de três
maneiras: como uma fonte de calor para aquecimento direto de um fluido em circulação e
geração de vapor, como mostrado na Figura 5, para pré-aquecimento da água de alimentação
de uma caldeira, ou para a manutenção da temperatura de processos industriais a baixas
temperaturas. Os coletores cilíndrico-parabólicos, por possuírem maior capacidade de captação
de energia térmica, possibilitam a utilização da energia solar para geração direta de vapor. No
entanto, para esse caso, armazenamento de calor é importante para garantir que haja calor
disponível ao longo de todo o dia.

Figura 5 – Integração de um Coletor Solar para geração direta de vapor

Fonte: IEA, 2015

A adoção de tecnologias solares para aplicações em processos industriais é incentivada


por alguns fatores: redução do risco associado à volatilidade dos preços de combustíveis fósseis,
eliminação do custo com combustível e redução das emissões de carbono. No entanto, ainda
são barreiras à maior utilização de energia térmica solar em atividades da indústria: o alto custo
de investimento e falta de opções de financiamento, os subsídios dados à combustíveis fósseis,
a falta de conhecimento dos empresários e do público em geral sobre as tecnologias solares e a
falta de ferramentas e procedimentos de projeto apropriados. (IRENA, 2015)

2.4. Estudo de Modelos para a Geração Direta de Vapor em Coletores Parabólicos


Cilíndricos

Modelos numéricos podem reproduzir dados experimentais, estudar o comportamento


de sistemas dinâmicos ou desenvolver conceitos de controle convenientes e adequados. Apesar
27

de serem bastante úteis para análise de sistemas de alta complexidade, qualquer modelo
numérico deve ter como princípio o compromisso entre o esforço computacional e a qualidade
dos resultados esperados.
A análise do comportamento do escoamento monofásico em um coletor cilíndrico-
parabólico é relativamente simples, porém, na geração direta de vapor haverá uma longa região
com escoamento bifásico, o que amplia a complexidade do sistema devido aos consideráveis
gradientes de densidade do fluido entre a entrada e a saída do coletor.

2.4.1. Modelos de Coletores Cilíndrico-Parabólicos

Há diversas abordagens que podem ser utilizadas para a modelagem de sistemas DSG
em coletores parabólicos. As principais distinções entre elas são pautadas na forma como o
escoamento bifásico é tratado na derivação das principais equações. No entanto, todos eles
devem considerar que haverá três diferentes regiões no coletor: na entrada haverá uma parte de
pré-aquecimento da água líquida, com baixa dependência com a pressão, seguido de uma seção
de evaporação com escoamento bifásico e, por fim, a região de superaquecimento com
escoamento monofásico de vapor, ambas significativamente dependentes da pressão do fluido.
Modelos complexos desenvolvidos para a indústria nuclear consideram o escoamento
por um sistema de 6 equações: as equações da conservação da massa, do momento e da energia
são associadas à cada fase separadamente. O sistema é fechado pela utilização de leis de
interação empírica. Hoffman et al. (2014) implementou um modelo desse tipo utilizando um
sistema de código computacional chamado ATHLET (Analysis of THermal-hydrauilics of
LEaks and Transients). O modelo apresentado por ele permite a obtenção de informações
detalhadas sobre o comportamento do fluido, porém requer maior esforço computacional.
Neste trabalho, o objetivo é enfatizar no comportamento global do sistema ao invés de
análises detalhadas e de grande complexidade. O sistema de equações pode ser simplificado se
o escoamento bifásico for considerado como um fluido homogêneo, ou seja, as fases de líquido
e vapor estão em equilíbrio termodinâmico, possuem a mesma velocidade e estão igualmente
distribuídas na seção transversal do tubo.
Lippke et al. (1996) desenvolveram um modelo baseado no princípio do equilíbrio
termodinâmico, considerando um balanço de energia e de massa para o fluido. Já a pressão foi
considerada em uma iteração separada baseada em correlações de perda de pressão estática.
Odeh et al. (1998) elaboraram uma modelagem da geração direta de vapor com base
na temperatura do tubo absorverdor, permitindo que possa ser utilizado para a análise de
28

desempenho do coletor parabólico cilíndrico operando com diferentes fluidos de trabalho. A


mudança de fase foi considerada por análises separadas das regiões de líquido, de evaporação
e de vapor.
Hirsch et al. (2005) construíram um modelo em regime transiente para os balanços de
energia, de massa e de momento, utilizando a linguagem Modelica. Os principais objetivos
foram analisar os efeitos da variação da radiação sobre o comportamento do coletor e estudar
diferentes estratégias de controle.
Fraidenraich et al. (2013) apresentaram uma modelagem analítica dos coletores
parabólicos com DSG. Foram derivadas equações de transferência de calor e de massa para as
três regiões do coletor e também feitas análises termodinâmicas do desempenho da turbina. O
modelo considera escoamento unidimensional, trata a temperatura do absorvedor como
uniforme em cada seção e supõe perdas de pressão negligenciáveis.
Feldhoff et al. (2014) desenvolveram dois modelos em regime transiente para análise
dos coletores parabólicos com geração direta de vapor. Um modelo discretizado de elementos
finitos e um método de movimento de fronteira foram aplicados e comparados. Eles
demonstraram que o segundo modelo apresenta rápidas predições das variáveis de controle
mais relevantes, porém não reproduz fielmente as respostas a distúrbios localizados na seção
de evaporação em comparação ao método de elementos finitos.
Lobón et al. (2014) implementaram uma análise da geração direta de vapor com o
programa de Dinâmica de Fluidos Computacional STAR-CCM+. Essa ferramenta permite a
modelagem das dinâmicas do fluido e do comportamento termomecânico das tubulações.

2.5. Mecanismos de transferência de calor e perda de pressão

Neste trabalho considera-se um coletor concentrador cilíndrico-parabólico com


escoamento de água. O coletor é subdividido em três regiões, pré-aquecimento, evaporação e
superaquecimento. Na região de evaporação haverá escoamento bifásico, ao passo que nas
seções de pré-aquecimento e de superaquecimento o escoamento será monofásico. O
conhecimento dos mecanismos de transferência de calor é etapa indispensável para a criação
de modelos matemáticos. Dessa forma, a revisão bibliográfica apresentada nessa seção visa
descrever as principais correlações de transferência de calor por ebulição e de perda de pressão
em escoamentos monofásicos e bifásicos.
29

2.5.1. Escoamento Monofásico

2.5.1.1 Coeficiente de Transferência de Calor

Segundo Incropera (2008), o número de Nusselt em um tubo circular é constante, na


presença de fluxo uniforme de calor na superfície e condições de escoamento laminar. Dessa
forma, ele é dado pela seguinte expressão 2.1.

𝐻∙𝑑 (2.1)
𝑁𝑢𝐷 = = 4,36
𝑘

onde H é o coeficiente convectivo, d é o diâmetro interno e k é a condutividade térmica.


Para a condição de temperatura constante, o número de Nusselt também é dado por
uma constante:

𝑁𝑢𝐷 = 3,66 (2.2)

Os escoamentos não desenvolvidos e em regime laminar são resolvidos


numericamente. Já para o comprimento de entrada com o desenvolvimento simultâneo dos
perfis de velocidade e de temperatura com a temperatura constante, Incropera (2008) apresenta
a relação de Sieder e Tate:

1/3 (2.3)
𝑅𝑒 ∙ 𝑃𝑟 𝜇 0,14
̅̅̅̅𝐷 = 1,86 ∙ (
𝑁𝑢 ) ∙( )
𝐿⁄ 𝜇𝑠
𝑑

onde Re, Pr, L e d são o número de Reynolds, o número de Prandtl, o comprimento e o diâmetro
interno, respectivamente. Já 𝜇 e𝜇𝑠 são as viscosidades dinâmicas calculadas à temperatura
média do fluido e à temperatura da parede. O domínio de validade da equação é dado por:

𝜇
0,48 < 𝑃𝑟 > 16700 0,0044< (𝜇 ) > 9,75
𝑠
30

Para escoamento turbulento a análise é mais complexa. Uma das correlações mais
utilizadas para o cálculo do número de Nusselt local no escoamento turbulento completamente
desenvolvido em um tubo circular liso, a equação de Dittus-Boelter, é dada por Incropera (2008):

̅̅̅̅𝐷 = 0,023𝑅𝑒 0,8 𝑃𝑟 𝑛


𝑁𝑢 (2.4)

Em caso de aquecimento do fluido (Tp > Tm), usa-se n=0,4, já para resfriamento (Tm >
Tp), usa-se n=0,3. As propriedades do fluido são calculadas considerando-se sua temperatura
média. A faixa de validade dessa correlação é:

0.7<Pr<160 Re>104 L/D≥10

Em escoamentos caracterizados por grandes variações de propriedades recomenda-se


a equação proposta por Sieder e Tate (Incropera, 2008):

𝜇 0,14 (2.5)
̅̅̅̅ 4/5 1/3
𝑁𝑢𝐷 = 0,0027 ∙ 𝑅𝑒 ∙ 𝑃𝑟 ∙ ( )
𝜇𝑠

Cujo domínio de validade é:

0,7<Pr<16700 Re>104 L/D≥10

2.5.1.2 Perda de carga

a) Perdas Maiores
Para o escoamento monofásico completamente desenvolvido a queda de pressão pode
ser calculada por (Fox, 2013):

L V̅2 (2.6)
∆𝑃 = f ∙ ∙ ∙ρ
𝑑 2

̅ e ρ são o fator de atrito, a velocidade média do escoamento e a massa específica do


onde f, V
fluido.
31

Para um escoamento laminar, o fator de atrito é uma função do número de Reynolds e


independe da rugosidade do tubo. Portanto, f pode ser calculado por (Fox, 2013):

64 (2.7)
f=
Re

Em escoamentos turbulentos a análise é mais complexa, pois o fator de atrito depende


do número de Reynolds e da rugosidade do tubo. O diagrama de Moody pode ser usado para a
obtenção de f, porém para evitar a necessidade do uso de métodos gráficos, diversas expressões
matemáticas foram propostas por ajuste de dados experimentais. (Fox, 2013) cita a expressão
de Colebrook como a mais usual:

1 𝑒⁄𝑑 2,51 (2.8)


= −2,0 ∙ log ( + )
√𝑓 3,7 𝑅𝑒 ∙ √𝑓

A equação de Colebrook é implícita em f e, portanto, necessita de um método iterativo


para a obtenção do fator de atrito. Como alternativa, (Fox, 2013) apresenta a equação de
Haaland, cujos resultados variam da equação de Colebrook em apenas 2% para Re > 3000:

1,11 (2.9)
1 𝑒⁄𝑑 6,9
= −1,8 ∙ log [( ) + ]
√𝑓 3,7 𝑅𝑒

Para escoamento turbulento em tubos lisos, a correlação de Blausius, válida para Re ≤


10.000, é uma expressão analítica aproximada, porém mais simples, para o fator de atrito f (Fox,
2013):

0,316 (2.10)
𝑓=
𝑅𝑒 0,25

b) Perdas Menores
A passagem do fluido pelos acessórios de uma tubulação causa uma perda de carga
adicional, sobretudo, como resultado da separação do escoamento. Essas perdas são
relativamente menores se o sistema incluir longos trechos retos de tubo de seção constante. Elas
32

são tradicionalmente calculadas de duas maneiras, conforme as equações 2.11 e 2.12 (Fox,
2013):
̅2
V (2.11)
∆𝑃 = K ∙ ∙ρ
2

onde K, coeficiente de perda é determinado experimentalmente para cada situação.


̅2
L𝑒 V (2.12)
∆𝑃 = f ∙ ∙ ∙ρ
𝑑 2

onde L𝑒 é o comprimento equivalente de tubo reto, determinado de forma experimental.

2.5.2. Escoamento Bifásico

Para a correta compreensão dos fenômenos associados ao escoamento bifásico, é


necessário definir as principais grandezas que o caracterizam:
c) Título de Vapor
É a razão entre a vazão mássica de vapor que atravessa uma certa seção reta do tubo e
a vazão mássica total. Portanto:

ṁ𝑣 ṁ𝑣 (2.13)


𝑥= =
ṁ𝑙 +ṁ𝑣 ṁ

onde ṁ, ṁ𝑙 e ṁ𝑣 são a vazão mássica da mistura bifásica, da fase líquida e da fase de vapor,
respectivamente.
d) Fração de vazio
É a razão entre a seção reta ocupada por vapor e aquela ocupada pela mistura bifásica:

A𝑣 𝐴𝑣 (2.14)
𝛼= =
A𝑙 +A𝑣 A

onde A, 𝐴𝑙 e 𝐴𝑣 são seções retas ocupadas pela mistura bifásica, pela fase líquida e pela fase de
vapor, respectivamente.
33

e) Velocidades
As velocidades de escoamento das fases vapor e líquido são dadas, respectivamente,
por:
ṁ𝑣 𝑉𝑣̇ ṁ𝑙 𝑉̇𝑙 (2.15)
𝑢𝑣 = = 𝑢𝑙 = =
ρ𝑣 ∙ 𝐴𝑣 𝐴𝑣 ρ𝑙 ∙ 𝐴𝑙 𝐴𝑙

onde ρ𝑙 , 𝑉𝑣̇ e 𝑉̇𝑙 são as massas específicas e as vazões volumétricas das fases vapor e líquida
respectivamente. Já as velocidades superficiais do vapor e do líquido referenciadas à área total
da seção do tubo são dadas por:

𝑉𝑣̇ 𝑉̇𝑙 (2.16)


𝑢𝑣𝑠 = 𝑢𝑙𝑠 =
𝐴 𝐴

f) Deslizamento
É a razão entre as velocidades das fases vapor e líquido sobre a interface líquido-vapor:

𝑢𝑣 (2.17)
γ=
𝑢𝑙

2.5.3.1 Configurações de escoamento

Quando há escoamento de água e de vapor simultaneamente em uma tubulação,


diversas configurações de distribuição das fases podem ocorrer, cujo padrão depende das
condições de pressão, vazão, fluxo de calor e geometria do tubo. As principais configurações
aceitas para o escoamento em tubos horizontais são descritas por (Collier, 1994) e apresentadas
na Figura 6.
a) Escoamento tipo bolhas
A fase vapor está distribuída sob a forma de bolhas, não necessariamente esféricas e
com diâmetros equivalentes inferiores ao tubo, em uma fase líquida contínua. Há tendência que
as bolhas se aglomerem na parte superior do tubo.
b) Escoamento tipo bolsa
Estão presentes bolhas cujas dimensões são comparáveis ao diâmetro do tubo. A
aglomeração tende a ocorrer na parte superior do tubo.
34

c) Escoamento estratificado
O líquido se concentra na região inferior do tubo e ambas as fases escoam
separadamente e possuem uma interface caracterizada por uma sombra. Ocorre quando as
velocidades das fases vapor e líquido são baixas.
d) Escoamento estratificado com ondas
É uma variante do escoamento estratificado no qual aparecem ondas na interface
líquido – vapor devido ao aumento da velocidade da fase vapor.
e) Escoamento de Golfadas
Um contínuo aumento da velocidade do vapor leva as bolhas a formarem golfadas
espumantes que são propagadas ao longo do canal a alta velocidade. A parte superior do tubo
atrás da onda é molhada por um filme residual que é drenado para o escoamento líquido.
f) Escoamento anular
Escoamento em que a fase vapor, ao possuir uma velocidade ainda mais alta, gera a
formação de um núcleo de vapor com um filme líquido em torno da periferia do tubo. Esse
filme é mais espesso na base do tubo.

Figura 6 – Configurações de escoamento bifásico em tubos horizontais

Fonte: Collier, 1994


35

2.5.3.2 Coeficiente de Transferência de Calor

O coeficiente de transferência de calor na ebulição não é constante e varia de acordo


com a configuração apresentada. Ao atingir o ponto em que a temperatura do fluido se iguala à
temperatura de saturação, começa a formação de bolhas e bolsas. Nessa região o mecanismo de
transferência de calor predominante deve-se à ebulição nucleada. À medida que o fluido escoa,
o título e a velocidade da fase de vapor aumentam, assim como o coeficiente de transferência
de calor. Isso se deve ao aumento da tensão de cisalhamento das bolhas no interior do tubo, o
que leva à um escoamento anular. Há uma posição no tubo em que o líquido não molha mais
a parede, correspondendo ao início da região deficiente de líquido, a partir da qual o coeficiente
de transferência de calor diminui sensivelmente, já que as trocas de calor acontecem em maior
magnitude com a fase vapor.
Há diversas correlações para o cálculo do coeficiente de transferência de calor em
escoamentos bifásicos. Machado (1996) fez um estudo comparativo dessas correlações para
diferentes configurações de escoamento e mostrou que as correlações de Dengler e Addoms
(1956) e Chen (1964) apresentavam os menores desvios com relação a dados experimentais.
Na correlação de Dengler e Addoms (1956) o coeficiente bifásico é obtido pela
multiplicação do coeficiente monofásico para o líquido pelo parâmetro de Martinelli.
1 𝑛 (2.18)
H𝑏𝑓 = 𝐶 ( ) ∙ H𝑙
χ

1 − x 0,9 ρ𝑙 0,5 μ𝑙 0,1 (2.19)


χ=( ) ( ) ( )
𝑥 𝜌𝑣 𝜇𝑣

onde C e n valem 3,5 e 0,5 respectivamente. O coeficiente de transferência de calor da fase


líquida é obtido pela equação de Dittus-Boelter utilizando um expoente do número de Prandtl
igual a 0,3.
A correlação de Chen (1964) é amplamente utilizada e nela são consideradas as
contribuições devido à ebulição nucleada, Heb, e à ebulição convectiva, Hconv. Elas são
calculadas separadamente e posteriormente adicionadas, conforme:

H𝑏𝑓 = F ∙ H𝑐𝑜𝑛𝑣 + S ∙ H𝑒𝑏 (2.20)


36

Os fatores F e S são o fator de aumento do efeito convectivo e S o fator de supressão


da ebulição nucleada, respectivamente. A parte de ebulição convectiva inclui a contribuição da
transferência de calor para a fase líquida. No entanto, o fluxo acelerado de vapor e de bolhas de
vapor que ainda estão presentes significam que o coeficiente de transferência de calor da fase
líquida aumentará, o que é levado em consideração pelo fator F. Já o fator S leva em conta o
decréscimo da atividade das bolhas em razão do aumento do gradiente de temperatura em um
fluxo forçado em comparação ao fluxo livre, utilizado para o cálculo do coeficiente de
transferência de calor em ebulição nucleada.
O coeficiente H𝑐𝑜𝑛𝑣 é dado pela equação de Ditus-Boelter utilizando o número de
Reynolds dado por:

G𝑓 ∙ (1 − x) ∙ d𝑖𝑛𝑡 (2.21)
Re =
𝜇𝑙
onde Gf é a velocidade mássica, definida pela razão entre a vazão mássica e a área da seção
transversal interna da tubulação, ṁ/A.
Para a obtenção de H𝑒𝑏 Chen, originalmente, baseou-se na análise de Forster e Zuber
(1955). Porém, Stephan e Baehr (2006) argumentam que investigações recentes mostram que
isso leva à resultados relativamente pouco precisos. Dessa forma, utiliza-se as correlações
empíricas propostas por Stephan (2006) e Odeh et. al (1998):

𝑛
W q̇ (2.22)
H𝑒𝑏 = 3800 [ 2 ] ∙ ( ) ∙ F𝑝
𝑚 𝐾 20000

onde q̇ é o fluxo de calor incidente no tubo (W/m2), e n e Fp são dados por Stephan (2006) e
Odeh et. al (1998):
n = 0,9 − 0,3 ∙ P𝑛 0,15 (2.23)

1 (2.24)
F𝑝 = 2,55 ∙ P𝑛 0,27 ∙ (9 + 2 ) P𝑛
2
1 − P𝑛

E:
P (2.25)
P𝑛 =
𝑃𝑐𝑟𝑖𝑡
onde Pcrit, pressão crítica para a água, é de aproximadamente 221 bar.
37

Stephan (2006) e Odeh et. al (1998) propõem que se utilize as correlações de Gungor
e Winterton (1986) para o cálculo dos fatores F e S:

F = 1 + 2,4 ∙ 104 ∙ Bo1,16 + 1,37 ∙ χ−0,86 (2.26)


S = (1,15 ∙ 10−6 ∙ F 2 ∙ 𝑅𝑒 1,17 )−1 (2.27)

O adimensional Bo é o número de ebulição, dado por Stephan (2006 apud DAVIDSON


et al, 1943):

q̇ (2.28)
Bo =
G𝑓 ∙ ∆ℎ𝑣

Para a zona deficiente de líquido, as correlações acima não são aplicáveis. À medida
que a ebulição ocorre, a quantidade de líquido presente na mistura decresce e,
consequentemente, a espessura do filme de líquido sobre a parede diminui constantemente até
seu completo desaparecimento. O título de vapor correspondente a esse ponto de
desaparecimento é chamado de título crítico e corresponde ao início do escoamento da região
denominada de deficiente de líquido. Sthapak desenvolveu uma correlação para estimar o título
crítico (Maia, 2007):

−0,161 (2.29)
x𝑐𝑟𝑖𝑡 = 7,943 [𝑅𝑒𝑣 ∙ (2,03 ∙ 104 ∙ 𝑅𝑒𝑣 −0,8 ∙ ∆𝑇𝑠𝑎𝑡 − 1)]

onde:

G∙x∙d (2.30)
Re𝑣 =
𝜇𝑣

Para assegurar a continuidade do coeficiente de transferência de calor nas


extremidades da região deficiente de fluido, Wang e Touber (1991) expressaram o coeficiente
nessa região com a ajuda de um polinômio de segundo grau em função do título de vapor:

H𝑏𝑓 = a0 + a1 𝑥+a2 𝑥 2 (2.31)


38

Dessa maneira, as constantes a0, a1 e a2 são calculadas considerando que entrada e na


saída da zona deficiente de líquido os coeficientes de transferência de calor são dados pelas
correlações correspondentes à zona de ebulição e de superaquecimento, e que à entrada dessa
zona a derivada deste coeficiente com relação ao título é nula.

2.5.3.3 Perda de Pressão

Para o cálculo das perdas de pressão em escoamentos bifásicos é utilizada a equação


de balanço da quantidade de movimento, na qual o somatório das forças que atuam sobre o
fluido dentro do volume de controle é igual ao fluxo líquido da quantidade de movimento linear
que atravessa a superfície de controle mais a taxa de variação da quantidade de movimento
dentro do volume de controle. Para escoamento em regime transiente, esta equação é dada por:

δ 2
𝑥 2 ∙ v𝑣 (1 − 𝑥)2 ∙ v𝑙 δG 𝑑𝑃 (2.32)
{𝑃 + 𝐺 [ + ]} = −( )
δz 𝛼 1−𝛼 δt 𝑑𝑧 𝐹

onde x é o título da mistura, vv, vl, 𝛼, P e G são, respectivamente, os volumes específicos da


fase vapor e da fase líquida, a fração de vazio, a pressão e a velocidade mássica.
Portanto, é necessário calcular as perdas de pressão por atrito para resolver a equação
(2.32). Há diversas correlações para o cálculo dessa perda de pressão em escoamentos bifásicos.
Quiben (2005) apresenta as correlações de Lockhart-Martinelli, Friedel, Muller-Steinhagen e
Heck, dentre outras. O autor destaca que a correlação de Mulller-Steinhagen é mais simples e
conveniente do que as outras. Além disso, Steinhagen e Heck (1986) compararam os resultados
da sua correlação e de diversas outras com relação a uma extensa base de dados experimental
e mostraram que ela é capaz de predizer as perdas de pressão por atrito de maneira simples e
com razoável precisão, apresentando melhores resultados, inclusive, que a relação de Lockhart-
Martinelli, a qual possui um extenso histórico de utilização e de referências na literatura
(Quiben, 2005).
Steinhagen e Heck (1986) propõem a utilização de uma correlação de gradiente de
pressão por atrito como uma interpolação entre um escoamento completamente líquido e um
escoamento completamente vapor:

𝑑𝑃 (2.33)
( ) = 𝐹 ∙ (1 − 𝑥)1/3 + 𝐵 ∙ 𝑥 3
𝑑𝑧 𝐹
39

onde F é dado por:

𝐹 = 𝐴 + 2 ∙ (𝐵 − 𝐴) ∙ 𝑥 (2.34)

As variáveis A e B são as os gradientes de pressão para um escoamento monofásico


completamente líquido e completamente vapor, respectivamente, e definidos como:

𝑑𝑃 𝐺𝑓 2 (2.35)
𝐴 = ( ) = 𝑓𝐿0
𝑑𝑧 𝐿0 2 ∙ 𝐷 ∙ 𝜌𝐿

𝑑𝑃 𝐺𝑓 2 (2.36)
𝐵 = ( ) = 𝑓𝑉0
𝑑𝑧 𝑉0 2 ∙ 𝐷 ∙ 𝜌𝑉

2.5.3.4 Fração de Vazio

Para calcular a massa de fluido em um volume de controle de um escoamento bifásico


é necessário determinar o perfil de fração de vazio ao longo deste. A massa de fluido M em um
tubo de comprimento L pode ser obtida pela soma das massas de vapor Mv e de líquido M l na
mistura.
(2.37)
𝑀𝑣 = ∫ 𝜌𝑣 𝐴𝑣 𝑑𝑧 = 𝐴 ∫ 𝛼 ∙ 𝜌𝑣 𝑑𝑧

(2.38)
𝑀𝑙 = ∫ 𝜌𝑙 𝐴𝑙 𝑑𝑧 = 𝐴 ∫(1 − 𝛼) ∙ 𝜌𝑙 𝑑𝑧

(2.39)
𝑀 = 𝑀𝑙 + 𝑀𝑣 = 𝐴 ∫[𝛼 ∙ 𝜌𝑣 (1 − 𝛼) ∙ 𝜌𝑙 ] 𝑑𝑧

A fração de vazio é determinada como função do título do vapor, das massas


específicas das duas fases e do deslizamento:

1 (2.40)
𝛼=
1−𝑥 𝜌
1 + ( 𝑥 ) ∙ 𝜌𝑣 ∙ 𝛾
𝑙
40

No modelo homogêneo considera-se que ambas as fases formam uma mistura


homogênea e escoam à mesma velocidade. Logo, o valor do deslizamento é igual à uma unidade,
𝛾 = 1, e a fração de vazio passa a ser dada por:

1 (2.41)
𝛼ℎ𝑜𝑚 =
1−𝑥 𝜌
1 + ( 𝑥 ) ∙ 𝜌𝑣
𝑙

No entanto, Hughmark apresentou em 1962 uma correlação para o cálculo da fração


de vazio em que o efeito da vazão mássica é levado em conta (Maia, 2007). Originalmente ela
foi proposta para um escoamento tipo bolhas com gradiente de bolhas radial ao longo do
conduto, mas foi, posteriormente, validada para todos os tipos de escoamento. Assim, a fração
de vazio é calculada pela correção da fração de vazio do modelo homogêneo por um fator KH:

𝐾𝐻 (2.42)
𝛼= = 𝛼ℎ𝑜𝑚 ∙ 𝐾𝐻
1 − 𝑥 𝜌𝑣
1+( 𝑥 )∙ 𝜌
𝑙

O fator de correção KH é dado como função do parâmetro Z, conforme mostrado na


Tabela 2-3.
Tabela 2-3 – Valores dos parâmetros KH e Z da correlação de Hughmark
Z KH Z KH Z KH
1,3 0,185 5,0 0,675 20,0 0,830
1,5 0,225 6,0 0,720 40,0 0,880
2,0 0,325 7,0 0,767 70,0 0,930
3,0 0,490 10,0 0,780 130,0 0,980
4,0 0,605 15,0 0,808 - -
Fonte: Maia, 2007
O parâmetro Z é função da fração de vazio e requer um cálculo iterativo para a sua
obtenção com a equação:

1/6 2 1/8 (2.43)


𝑑𝑖𝑛𝑡 1 𝐺∙𝑥
𝑍=[ ] ∙{ [ ] }
𝜇𝑙 + 𝛼 ∙ (𝜇𝑣 − 𝜇𝑙 ) 𝑔 ∙ 𝑑𝑖𝑛𝑡 𝜌𝑣 ∙ 𝛼ℎ𝑜𝑚 (1 − 𝛼ℎ𝑜𝑚 )

2.6. Estudo dos parâmetros solares

Para a completa compreensão do comportamento do coletor solar, é imprescindível


conhecer alguns conceitos e definições associadas à radiação solar.
41

Há diversos ângulos que permitem a determinação da relação geométrica entre um


plano de qualquer orientação relativa à Terra e a radiação solar incidente. Eles são descritos por
Duffie e Beckman (1991):
ϕ Latitude, localização angular norte ou sul do Equador, sendo positivo para o Norte;
-90º ≤ ϕ ≤ 90º
δ Declinação, posição angular do Sol ao meio-dia solar em relação ao plano do equador,
positivo para o norte; -23,45º ≤ δ ≤ 23,45º
β Inclinação, ângulo entre o plano da superfície em questão e a horizontal; 0º ≤ β ≤ 180º
γ Ângulo azimutal de superfície, divergência entre a projeção no plano horizontal da
normal à superfície e o meridiano local, com zero em direção ao Sul, leste negativo e
oeste positivo; -180º ≤ γ ≤ 180º
ω Ângulo horário, deslocamento angular do sol leste ou oeste do meridiano local devido
à rotação da Terra em seu eixo a 15 º por hora, sendo negativo na manhã e positivo à
tarde.
θ Ângulo de incidência, ângulo entre a radiação incidente em uma superfície e a normal
dessa superfície.
θz Ângulo Zenith, ângulo ente a vertical e a linha do sol.
αs Ângulo de altitude solar, ângulo entre a horizontal e a linha até o sol, complementar do
ângulo de Zenith.
γs Ângulo azimutal solar, deslocamento angular do sul da projeção da radiação incidente
em um plano horizontal.

O ângulo de declinação é dado pela equação de Cooper (Duffie e Beckman, 1991):

360 (284 + 𝑛) (2.44)


𝛿 = 23,45 sin ( )
365
onde n é o enésimo dia do ano.
O ângulo horário é definido por Duffie e Beckman (1991):

𝜔 = (Hora solar − 12) ∙ 15º (2.45)

Há uma distinção entre Hora solar e a Hora Padrão. A Hora Solar é a hora baseada no
movimento angular aparente do sol ao longo do céu, sendo o meio-dia solar o momento em que
o sol cruza o meridiano do observador. No entanto, a Hora Padrão não é baseada no meridiano
42

local, mas no meridiano padrão para um determinado fuso-horário. Sendo assim, a Hora Solar
pode ser calculada, em horas, por:

𝐿𝑠𝑡 − 𝐿𝑙𝑜𝑐 1ℎ (2.46)


𝐻𝑜𝑟𝑎 𝑆𝑜𝑙𝑎𝑟 = Hora Padrã𝑜 − +𝐸∙
15 60 𝑚𝑖𝑛

Na equação 2.46 Lst é o meridiano padrão do fuso-horário local, Lloc é a longitude da


localização em questão e a equação do tempo, E, é determinada pela equação de Spencer
(Duffie e Beckman 1991):

𝐸 = 229,18(0,000075 + 0,001868 cos 𝐵 − 0,032077 sen 𝐵 (2.47)


− 0,014615 cos 2𝐵 − 0,04089 sen 2𝐵
onde:

360 (2.48)
𝐵 = (n − 1)
365

É comum utilizar o dia médio do mês para o cálculo de variáveis médias de um


determinado mês. A Tabela 2-4 mostra a relação entre o dia médio e cada mês do ano.

Tabela 2-4 – Valores recomendados para o dia médio dos meses do ano
Dia médio do mês
Mês Data n, dia do ano
Janeiro 17 17
Fevereio 16 47
Março 16 75
Abril 15 105
Maio 15 135
Junho 11 162
Julho 17 198
Agosto 16 228
Setembro 15 258
Outubro 15 288
Novembro 14 318
Dezembro 10 344
Fonte: Duffie e Beckman, 1991
43

O ângulo de Zenith é relacionado ao ângulo horário e ao ângulo de declinação pela


seguinte expressão (Duffie e Beckman 1991):

cos 𝜃𝑧 = cos ∅ cos 𝛿 cos 𝜔 + sen ∅ sen 𝛿 (2.49)

Por fim, é importante determinar o ângulo da hora do pôr-do-sol, definido por:

𝜔𝑠 = cos−1 (− tan ∅ ∙ tan 𝛿) (2.50)

Para o cálculo da radiação incidente em uma superfície, é necessário a determinação


da radiação extraterrestre, ou seja, da radiação incidente em um plano fora da atmosfera terrestre.
A radiação solar extraterrestre diária em uma superfície horizontal, H0, é determinada por
(Duffie e Beckman 1991):

24 ∙ 3600𝐺𝑆𝐶 360𝑛 (2.51)


̅0 =
𝐻 ∙ [1 + 0,033 cos ( )]
𝜋 365
𝜋𝜔𝑠
∙ [cos ∅ cos 𝛿 sen 𝜔𝑠 + ∙ sen ∅ sen 𝛿]
180

Em que GSC é a constante solar, a energia do sol, por unidade de tempo, recebida em
uma área unitária de superfície perpendicular à direção de propagação da radiação, à média
distância entre a Terra e o Sol, fora da atmosfera. Duffie e Beckman (1991) recomendam utilizar
o valor de GSC = 1367 W/m².
A determinação da ocorrência de períodos de variados níveis de radiação é de extremo
interesse para a análise de coletores solares. Para isso, utiliza-se o índice de limpidez médio
mensal, definido como a razão entre a radiação diária média mensal incidente em uma
̅ , e a radiação diária média mensal extraterrestre:
superfície horizontal, 𝐻

̅
𝐻 (2.52)
̅𝑇 =
𝐾
̅0
𝐻

Para se estimar a contribuição das componentes difusa e normal da radiação média


mensal incidente em uma superfície horizontal, aplica-se correlações empíricas. Duffie e
Beckman (1991) apresenta a correlação de Erbs, a qual é função do índice de limpidez, KT:
44

Para ωs ≤81,4º e 0,3≤KT≤0,8


̅𝑑
𝐻 (2.53)
̅𝑇 2 − 2,137𝐾
̅𝑇 + 4,189𝐾
= 1,391 − 3,560𝐾 ̅𝑇 3
𝐻̅

Para ωs ≥81,4º e 0,3≤KT≤0,8


̅𝑑
𝐻 (2.54)
̅𝑇 2 − 1,821𝐾
̅𝑇 + 3,427𝐾
= 1,311 − 3,022𝐾 ̅𝑇 3
𝐻̅

A radiação normal pode ser obtida fazendo-se a subtração entre a radiação incidente e
a radiação difusa.
45

3. METODOLOGIA

3.1. Introdução

Este capítulo trata o desenvolvimento do modelo computacional capaz de prever o


comportamento térmico do escoamento de água em um coletor solar cilíndrico-parabólico.
Discute-se o modelo para o coletor solar, as hipóteses e equações utilizadas, o método de
resolução e as variáveis de entrada e de saída. Posteriormente, apresenta-se a validação do
modelo com a comparação dos resultados com dados experimentais apresentados por Zarza
(2006).

3.2. Hipóteses do Modelo

As seguintes hipóteses foram adotadas para a criação do modelo:


1) A energia solar incidente é uniforme ao longo do absorvedor;
2) O escoamento do fluido é unidimensional;
3) A condução axial de calor e o gradiente radial de temperatura ao longo da parede
do tubo é desprezada;
4) Na região de ebulição, as fases líquido e vapor estão em equilíbrio termodinâmico;
5) As perdas térmicas do tubo para o ambiente externo são obtidas por correlações
empíricas;
6) O coletor é dividido em volumes de controle de comprimento dz e a temperatura
do tubo absorvedor é constante ao longo de cada volume de controle.

3.3. Equações do Modelo

O modelo é desenvolvido aplicando-se em cada volume de controle as equações da


conservação da energia, da massa e da quantidade de movimento ao escoamento do fluido e o
princípio da conservação da energia à parede do tubo.

3.3.1. Escoamento água-vapor

a) Equação da conservação da energia

∂ ∂ (3.1)
𝐴𝑓 [ρ𝑓 ∙ (ℎ𝑓 − 𝑃𝑓 𝑣𝑓 )] = −𝐴𝑓 (𝐺𝑓 ∙ ℎ𝑓 ) + 𝐻𝑓 𝑝𝑓 ∙ (𝑇𝑝 − 𝑇𝑓 )
∂t ∂z
46

b) Equação da conservação da massa

∂ρ𝑓 ∂G𝑓 (3.2)


+ =0
∂t ∂z

c) Equação da conservação da quantidade de movimento

∂ 𝑥 2 v𝑣 (1 − 𝑥)2 v𝑙 ∂𝐺𝑓 dP (3.3)


{𝑃𝑓 + 𝐺𝑓 2 [ + ]} = − −( )
∂z 𝛼 1−𝛼 ∂t 𝑑𝑧 𝑓

3.3.2. Parede do Tubo

a) Equação do balanço de energia na parede do tubo

1 ∂𝑇𝑝 (3.4)
(𝑞𝑎𝑏𝑠,𝐿 − 𝑞𝑝𝑒𝑟𝑑,𝐿 − 𝑞𝐹 ) ∙ =
ρ𝑝 A𝑝 c𝑝 ∂t
Na equação 3.4 os termos à esquerda são, respectivamente, a energia absorvida pelo
tubo absorvedor, a energia perdida pela parede para o ambiente externo e a energia cedida ao
fluido pela parede, todas por unidade de comprimento. A determinação desses termos é
discutida a seguir.

3.3.2.1 Calor absorvido

O calor absorvido pelo tubo recebedor pode ser interpretado como o calor efetivo
incidente no tubo absorvedor. Ele pode ser calculado pela irradiação normal incidente (DNI)
no coletor corrigida por diversos fatores ópticos, como mostrado na equação 3.5 (Patnode,
2006).

𝑞𝑎𝑏𝑠,𝐿 = DNI ∙ cos 𝜃 ∙ 𝐼𝐴𝑀 ∙ 𝑤𝑎𝑏 ∙ 𝐹𝑆 ∙ 𝜂𝑜𝑝𝑡 (3.5)

A DNI, radiação normal direta (Direct Normal Irradiance) representa a porção da


radiação solar incidente na Terra que não foi absorvida ou sofreu difusão na atmosfera terrestre.
Essa porção da radiação varia com a localização no planeta, dia do ano e horário.
47

Pode-se estimar a distribuição horária da radiação normal direta através da média


diária de radiação total incidente. Para isso, aplica-se uma razão estatística entre a radiação total
horária, I, e a radiação total diária, H, conforme definido por Duffie e Beckman (1991):

π cos 𝜔 − cos 𝜔𝑠 𝐼 (3.6)


𝑟𝑡 = ∙ (𝑐1 + 𝑐2 ∙ cos 𝜔) 𝜋𝜔 =
24 sen 𝜔𝑠 − 180𝑠 ∙ cos 𝜔𝑠 𝐻

onde os coeficientes c1 e c2 são dados por:

𝑐1 = 0,409 + 0,5016 ∙ sen(𝜔𝑠 − 60) (3.7)


𝑐2 = 0,6609 − 0,4767 ∙ sen(𝜔𝑠 − 60) (3.8)

Além disso, é necessário determinar a porção da radiação que é difusa e a que é direta.
Para isso, utiliza-se a razão entre a radiação difusa horária, Id, e a radiação difusa diária, Hd,
definida por Duffie e Beckman (1991):

π cos 𝜔 − cos 𝜔𝑠 𝐼𝑑 (3.9)


𝑟𝑡 = ∙ 𝜋𝜔 =
24 sen 𝜔𝑠 − 𝑠 ̅
𝐻𝑑
180 ∙ cos 𝜔𝑠

Aplica-se as equações 3.6 e 3.9, em conjunto com o ângulo horário do instante em


estudo e do ângulo de hora do pôr-do-sol, para a determinação da distribuição horária ao longo
de um dia da radiação normal direta.
O ângulo 𝜃 representa o ângulo de incidência, ou seja, o ângulo entre o feixe de
radiação em uma superfície e o plano normal àquela superfície. Ele varia durante o dia e possui
considerável influência no desempenho dos coletores. O objetivo do sistema de rastreamento
dos coletores é minimizar o ângulo de incidência, de forma que o máximo de radiação normal
seja recebida pelo coletor. Esse ângulo é resultado da relação entre a posição do sol no céu e a
orientação dos coletores em uma determinada posição e pode ser calculado em função do ângulo
da azimute, do ângulo de inclinação da superfície, do ângulo de hora, do ângulo de declinação
e da latitude da localização. Para um coletor com rastreamento em torno do eixo horizontal
norte-sul com ajuste contínuo, o ângulo de incidência é dado por Duffie e Beckman (1991):

1⁄ (3.10)
cos 𝜃 = (cos2 𝜃𝑧 + cos 2 𝛿 ∙ sin2 𝜔) 2
48

O IAM, modificador do ângulo de incidência (Incidence Angle Modifier), leva em


consideração perdas adicionais devido à reflexão e absorção pelo tubo de vidro que cobre o
tubo absorvedor quando o ângulo de incidência aumenta. É dado por relações experimentais
para dados de um tipo específico de coletor. Será utilizado a correlação proposta por Eck et al
(2003):

𝐼𝐴𝑀 = 1 + 0,00188 ∙ 𝜃 − 0,000149206 ∙ 𝜃 2 (3.11)

A largura de abertura do coletor é representada pelo termo 𝑤𝑎𝑏 . Sua utilização na


equação do calor absorvido objetiva permitir a obtenção do calor absorvido por unidade de
comprimento, por exemplo, pelo comprimento dz (Δz) de cada elemento do modelo.
O Fator de Sombra, FS, representa as perdas que podem ocorrer pela criação de áreas
sombreadas devido à posição adjacente dos coletores, como mostrado na Figura 7. No modelo
criado nesse trabalho considerou-se regime permanente e que o momento de simulação é ao
meio-dia, logo FS=1.

Figura 7 – Ilustração do fator de sombra

Fonte: Patnode, 2006

A eficiência óptica do coletor considera as perdas devido às imperfeições dos espelhos


do coletor, do invólucro de vidro e dos materiais do tubo absorvedor. Radiação pode ser
absorvida ou difundida por sujeiras nos espelhos ou até mal refletidas devido à pequenas
imperfeições ou erros de rastreamento do sol. A transmissibilidade do invólucro de vidro, a
absortividade do tubo absorvedor e outras propriedades da superfície contribuem para o valor
final da radiação solar absorvida.

3.3.2.2 Calor perdido para o ambiente externo

O calor perdido pelo tubo para o ambiente externo deve levar em consideração as
perdas por radiação, convecção e condução, conforme mostrado na Figura 8.
49

Figura 8 – Calor Perdido no tubo absorvedor

Fonte: Odeh, 2006

Há perdas do tubo absorvedor para o invólucro de vidro por radiação e condução do


gás residual. Devido ao vácuo, 10-4 mmHg, no espaço entre eles, pode-se desconsiderar as
perdas por convecção. Já entre o tubo de vidro e o ambiente há perdas de radiação e convecção.
Por fim, há ainda perdas para o ambiente pelos suportes da tubulação.
O calor perdido pode ser estabelecido por modelos detalhados, como o apresentado
por Forristall (2003), ou por correlações empíricas. No modelo adotado nesse trabalho, será
utilizada a correlação proposta por Odeh et. al (1998):

𝑞𝑝𝑒𝑟𝑑,𝐿 = [(a + c ∙ V) ∙ (𝑇𝑝 − 𝑇𝑎𝑚𝑏 ) + ϵ𝑎𝑏 ∙ 𝑏 ∙ (𝑇𝑝 4 − 𝑇𝑐é𝑢 4 )] ∙ 𝑝𝑓 (3.12)

onde qperd,L é dado em W/m, as constantes a, b e c são determinadas experimentalmente, V é a


velocidade do vento em m/s e pf é o perímetro do tubo multiplicado para tornar a equação por
unidade de comprimento do tubo.

𝑊 (3.13)
𝑎 = 1,91 ∙ 10−2 [ ]
𝐾 ∙ 𝑚2
𝑊
𝑏 = 2,02 ∙ 10−9 [ 4 ]
𝐾 ∙ 𝑚2
𝐽
𝑐 = 6,608 ∙ 10−3 [ ]
𝐾 ∙ 𝑚3
50

Nesse modelo assume-se que o tubo absorvedor é revestido de material cermet, cuja
emissividade é determinada pela equação 3.14:

ϵ𝑎𝑏 = 0,00042 ∙ 𝑇𝑑𝑝 − 0,0995 (3.14)

A temperatura do céu é definida pela equação 3.15 e a emissividade pela equação 3.16:

𝑇𝑐é𝑢 = ϵ𝑐é𝑢 0,25 ∙ 𝑇𝑎𝑚𝑏 (3.15)


𝑇𝑑𝑝 𝑇𝑑𝑝 2 (3.16)
ϵ𝑐é𝑢 = 0,711 + 0,56 ∙ ( ) + 0,73 ∙ ( )
100 100

onde Tdp é a temperatura de orvalho.

3.3.2.3 Calor cedido para o fluido

A energia cedida pelo tubo absorvedor ao fluido de trabalho é dada pela equação:

𝑞𝐹 = 𝑈𝑓 𝐴𝑝 ∙ (𝑇𝑝 − 𝑇𝑓 ) (3.17)

Na equação 3.17, Uf é o coeficiente total de transferência de calor e Ap é a área do tubo


absorvedor dada pelo perímetro, considerando o raio interno do tubo, e pelo dz.
No modelo criado, considera-se que a superfície do tubo absorvedor é constante em
cada volume de controle, dessa maneira, Uf pode ser calculado por (Incropera, 2008):

1 (3.18)
𝑈𝑓 =
1 𝑟𝑖 𝑟𝑜
+ ln (
𝐻𝑓 𝑘 𝑟𝑖 )

onde ri e ro são os raios internos e externos do tubo, k é a condutividade térmica do material do


tubo e Hf é o coeficiente convectivo.
Para o aço AISI 304, obtém-se os valores de k para diversas temperaturas, conforme
mostrado na Tabela 3-1.
51

Tabela 3-1 – Condutividade térmica – Aço AISI 304

T k
[K] [W/(m.K)]
300 14,9
400 16,6
600 19,8
800 22,6
Fonte: Incropera, 2008
Através de um ajuste de curva, determina-se uma função para o cálculo da
condutividade térmica em função da temperatura da parede, como mostrado na Figura 9 e na
Equação 3.14, para Tp em K.

Figura 9 – Condutividade térmica do aço AISI 304

Condutividade Térmica - AISI 304


25
Condutividade Térmica

20
[W/(m.K)]

15 y = -3E-09x3 + 1E-06x2 + 0.0175x + 9.64


R² = 1
10

0
300 400 500 600 700 800 900
Temperatura [K]

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

𝑘(𝑇) = −3 ∙ 10−9 ∙ 𝑇𝑝 3 + 10−6 ∙ 𝑇𝑝 2 + 0,0175 ∙ 𝑇𝑝 + 9,64 (3.19)

3.4. Método de Resolução das Equações

O coletor solar foi dividido em volumes de controle de comprimento dz e foi


desenvolvido um código em MATLAB para sua simulação. As condições de saída de cada
volume são consideradas como as condições de entrada do volume adjacente, conforme
mostrado na Figura 10. As propriedades do fluido são calculadas utilizando um código aberto
disponível no site da MathWorks, desenvolvedora do MATLAB, chamado XSteam e baseado
na Associação Internacional para Propriedades da Água e Vapor – Formulação Industrial 1997
52

(International Association for Properties of Water and Steam Industrial Formulation 1997 –
IAPWS IF-97).

Figura 10 – Volumes de Controle do modelo

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

As equações 3.1 e 3.2 aplicadas a um sistema em regime permanente são simplificadas


para:

∂ℎ𝑓 𝐻𝑓 𝑝𝑓 (𝑇𝑝 − 𝑇𝑓 ) 𝐻𝑓 𝑝𝑓 (𝑇𝑝 − 𝑇𝑓 ) (3.20)


= ⟹ ℎ𝑓,𝑠𝑎𝑖 = ℎ𝑓,𝑒𝑛𝑡 + dz
∂z 𝐴𝑓 𝐺𝑓 𝐴𝑓 𝐺𝑓

∂G𝑓 (3.21)
=0
∂z

Além disso, baseado no modelo proposto por Feldhoff (2015), a equação do momento
pode ser aproximada por uma correlação de perda de pressão de fricção estacionária:

∂P dP dP (3.22)
= − ( ) ⟹ 𝑃𝑠𝑎𝑖 = 𝑃𝑒𝑛𝑡 − ( ) ∙ 𝑑𝑧
∂z dz 𝑓 dz 𝑓

A equação de balanço de energia na parede do tubo pode ser simplificada para um


modelo permanente, assim a equação 3.4 pode ser reescrita da seguinte maneira:

(𝑞𝑎𝑏𝑠,𝐿 − 𝑞𝑝𝑒𝑟𝑑,𝐿 ) = 𝑞𝐹 (3.23)

As condições de entrada são definidas no início do modelo, ou seja, as condições


ambientais, de radiação, de construção do coletor e as condições do fluido, como a pressão,
53

temperatura, entalpia e vazão mássica. No início estima-se a temperatura do tubo absorvedor


em 10 ˚C acima da temperatura de entrada do fluido.
Utilizando as equações 3.5, 3.12, e 3.23, o calor perdido e absorvido pelo tubo são
calculados e a temperatura média, pressão média e entalpia média associadas ao fluido são
definidas como mostrado nas equações abaixo:

𝑇𝑒𝑛𝑡 + 𝑇𝑝 (3.24)
𝑇𝑚,𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 =
2

𝑃𝑚,𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = 𝑃𝑒𝑛𝑡 (3.25)

ℎ𝑚,𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = ℎ𝑒𝑛𝑡 (3.26)

Determina-se a entalpia de líquido e de vapor saturado do fluido com a pressão média


inicial do fluido, usando o código XSteam, e compara-se esses valores com a entalpia média
inicial de forma a determinar o tipo de escoamento, monofásico ou bifásico. Calcula-se o
coeficiente de transferência de calor e a perda de pressão de acordo com o tipo de escoamento
utilizando as correlações retiradas da literatura. Para o escoamento monofásico, usa-se a
correlação de Dittus-Boelter para o coeficiente de transferência de calor e a formulação
proposta por Fox (2013) em conjunto com a equação de Haaland para a perda de pressão. Já
para o escoamento bifásico, adotou-se a correlação proposta por Chen com parâmetros
sugeridos por Stephan e por Odeh para o coeficiente de calor e a de Mulller-Steinhagen para a
perda de pressão.
Calcula-se a entalpia de saída com a equação 3.20, utilizando o coeficiente convectivo
total, a pressão de saída com a equação 3.22 e, com esses dois valores, a temperatura do fluido
na saída através do código XSteam. Define-se, então, um novo valor para a pressão, temperatura
e entalpia média do fluido com as equações abaixo:

𝑇𝑒𝑛𝑡 + 𝑇𝑠𝑎𝑖 (3.27)


𝑇𝑚 =
2

𝑃𝑒𝑛𝑡 + 𝑃𝑠𝑎𝑖 (3.28)


𝑃𝑚 =
2
54

ℎ𝑒𝑛𝑡 + ℎ𝑠𝑎𝑖 (3.29)


ℎ𝑚 =
2

Por fim, calcula-se um novo valor para a temperatura da parede do tubo pela equação:

𝑞𝐹 (3.30)
𝑇𝑝 = 𝑇𝑚 +
𝑈𝑓 ∙ 2 ∙ π ∙ r𝑖𝑛𝑡 ∙ 𝑑𝑧

Ao fim dessa etapa, todos o procedimento é repetido para o volume de controle


utilizando os valores de temperatura, pressão e entalpia média calculados na iteração anterior.
As iterações são repetidas até obter-se uma convergência das condições de saída com um erro
relativo menor do que 0,01%. Essa metodologia é adotada para todos os volumes de controle
do coletor e é ilustrada na Figura 11.
55

Figura 11 – Fluxograma do modelo do Coletor

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

3.5. Validação do modelo matemárico

O modelo matemático desenvolvido foi validado com os dados do projeto INDITEP


apresentados por Zarza (2006) e resumidos na Tabela 3-2 e na Figura 12 e Figura 13.
56

Tabela 3-2 – Parâmetros do Projeto INDITEP


Parâmetros de Projeto
Irradiação Solar Normal 875 W/m2
Longitude geográfica da planta 5˚ 58' O
Latitude geográfica da planta 37˚ 27' N
Temperatura do ar 20˚C
Ângulo de incidência da radiação 13,7˚
Temperatura de entrada da água 115˚C
Pressão de entrada da água 80 bar
Parâmetros do Coletor ET-100
Comprimento total de um único coletor 98,5 m
Largura da parábola 5,76 m
Diâmetro externo do absorvedor de aço 0,07 m
Diâmetro interno do absorvedor de aço 0,055 m
Número de curvas de 90˚ entre coletores adjacentes 4
Eficiência óptica 0,74
Seção transversal dos tubos absorvedores 2,40 x E-03
Rugosidade relativa dos tubos absorvedores 7,23 x E-04
Fonte: Zarza, 2006

Figura 12 – Esquema simplificado de uma linha de coletores – Projeto INDITEP

Fonte: Zarza, 2006


57

Figura 13 – Diagrama simplificado e dimensões do campo solar de geração direta de vapor

Fonte: Zarza, 2006

O modelo foi desenvolvido para o modo de passagem única de vapor, dessa forma, foi
simulado o sistema até o oitavo coletor, ou seja, antes da separação de água e vapor. Além disso,
conforme pode ser observado na Figura 13 e na Tabela 3-2, há 4 curvas de 90º entre o quinto e
o sexto coletor, após 500 metros de tubulação. A perda de pressão nesses componentes foi
calculada pela equação (2.12) considerando-se a relação entre o comprimento equivalente e o
diâmetro do tubo, L𝑒 /𝑑, igual a 30, conforme sugerido por Uçkun (2013).
Zarza (2006) não disponibiliza os dados da velocidade do vento e da temperatura de
orvalho. Portanto, considerou-se uma velocidade de 2,235 m/s, que é a velocidade média do
vento em Almería, Espanha no mês de junho, segundo dados do Modern-Era Retrospective
analysis for Research and Applications (MERRA-2) da NASA. Para o cálculo da temperatura
de orvalho foi utilizada a humidade relativa média e a temperatura média do ar em junho na
cidade de Almería, cujos valores são de 61% e 23,5ºC, segundo a Agência Estatal de
Meteorologia da Espanha, baseados em dados históricos.
Os resultados gerados pelo modelo numérico criado são mostrados na Figura 14. A
Tabela 3-3 faz uma comparação entre os valores simulados e os resultados apresentados por
Zarza (2006).
58

Figura 14 – Simulação do Modelo – INDITEP

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Tabela 3-3 – Validação do Modelo


Resultado da Simulação Resultado do INDITEP Desvio Percentual
P (bar) 76,78 75 2,3%
T (ºC) 292,2 290 0,8%
h (kJ/kg) 2595 2434 6,2%
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

O comportamento do coeficiente convectivo é mostrado na Figura 15. Observa-se que


ele se comporta conforme previsto na literatura, Figura 16, apresentando máximo na região de
título entre 80 e 90%, seguido de uma queda. Além disso, apesar das condições de entrada
serem diferentes, a ordem de grandeza dos valores do coeficiente em estado monofásico e
bifásico apresentados por Odeh (1998) é semelhante ao produzido pelo modelo.
59

Figura 15 – Coeficiente Convectivo

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Figura 16 – Comportamento - Coeficiente Transferência de Calor


P=120bar, m=0,8kg/s e d=54mm

Fonte: Odeh, 1998

Verifica-se que há convergência entre os valores simulados e os dados do projeto


INDITEP, o que justifica, portanto, a aplicação desse modelo para a avaliação do
comportamento do coletor em outras situações.
60

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Introdução

Este capítulo apresenta os resultados da simulação em Matlab para diversas situações


de operação do coletor. O objetivo é analisar o comportamento do sistema sob condições de
aplicação à processos industriais usuais para a determinação das condições mais favoráveis à
sua utilização e para uma análise geral da aplicabilidade. Portanto, determinou-se a área
mínima necessária para permitir a utilização do coletor cilíndrico-parabólico para a obtenção
de determinadas potências, com valores de temperatura e pressão de saída do vapor aplicáveis
a processos industriais. Finalmente, são feitas análises de tais resultados com os devidos
comentários.
Para a determinação da potência térmica gerada, foi utilizada a equação:

N = 𝑚̇𝑣 ∙ ℎ𝑣 (4.1)

Outro termo aplicado foi o de eficiência de geração de vapor, calculado conforme a


equação:

𝑚̇𝑣 ∙ ℎ𝑣 − 𝑚̇𝑒𝑛𝑡 ∙ ℎ𝑒𝑛𝑡 (4.2)


η=
DNI ∙ cos(𝜃) ∙ 𝐴

onde A é a área total do coletor determinada pelo seu comprimento e pela largura de abertura
de 5,76m.

4.2. Área mínima para a Geração de Potência de Vapor

Mantendo-se todos os parâmetros do coletor constantes aos utilizados para a validação


do modelo, conforme o capítulo 3, e variando a pressão, a temperatura, a vazão de entrada e a
DNI, obtém-se gráficos de variação da área mínima de campo solar segundo as variáveis de
entrada para a geração de uma determinada potência térmica.
61

Figura 17 – Área do campo Solar – DNI 400 W/m² - 125kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Figura 18 – Área do campo Solar – DNI 600 W/m² - 125kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017


62

Figura 19 – Área do campo Solar – DNI 800 W/m² - 125kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Figura 20 – Área do campo Solar – DNI 400 W/m² - 250kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017


63

Figura 21 – Área do campo Solar – DNI 600W/m² - 250kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Figura 22 – Área do campo Solar – DNI 800 W/m² - 250kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017


64

Figura 23 – Área do campo Solar – DNI 400 W/m² - 375kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Figura 24 – Área do campo Solar – DNI 600 W/m² - 375kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017


65

Figura 25 – Área do campo Solar – DNI 800 W/m² - 375kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

A Tabela 4-1 resume os valores da área mínima de campo solar necessária para a
geração de potência de vapor em diferentes situações de radiação.

Tabela 4-1 – Área Mínima de Campo Solar


DNI Potência (kW) Área Mínima (m²)
125 195
800 250 385
375 540
125 260
600 250 506
375 755
125 385
400 250 754
375 1120
Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

Processos de menor potência, por volta de 125kW, exigem uma área de campo solar
de no mínimo 195m² em situações de grande intensidade de radiação normal direta. Para essas
localizações é possível obter potências de aproximadamente 375kW com uma área de 540 m².
Dessa forma, áreas próximas à linha do Equador demonstram ser candidatas viáveis à aplicação
da tecnologia do coletor solar cilíndrico-parabólico. Há um caso, inclusive, de aplicação em
uma indústria farmacêutica no Egito. (IRENA, 2015)
66

No entanto, se a radiação incidente for menor, a área necessária aumenta


consideravelmente. Para a geração de 375kW seria necessário, pelo menos, 1120m² de área de
coletor para uma radiação normal de 400W/m², o que pode inviabilizar a utilização do coletor
solar. Porém, para essa mesma condição de radiação, pode-se gerar 125kW em uma área de
385m², algo dentro da realidade de várias indústrias de grande porte.
Deve-se levar em consideração, ainda, a capacidade de armazenamento de vapor no
momento do dia que a radiação incidente atingir seu ápice para posterior utilização em horários
de baixa incidência de radiação.
A influência da pressão de entrada é bastante significativa. Quanto maior a pressão de
entrada, maior a área necessária para geração de energia de vapor a uma mesma temperatura de
entrada e vazão mássica. Pressões menores implicam em menor temperatura de saturação, e,
portanto, em menores perdas térmicas, já que essas perdas estão associadas à temperatura do
tubo absorvedor e a evaporação acontece a temperaturas mais baixas. No entanto, a perda de
carga aumenta para menores pressões de entrada, o que impacta na potência de bombeamento
necessária para movimentar o fluido, conforme mostrado na Figura 26. Há, portanto, um
compromisso entre a eficiência do sistema e o consumo de potência pelo sistema de
bombeamento.

Figura 26 – Influência da pressão de entrada sobre a eficiência de geração de vapor

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017


67

Figura 27 – Influência da Pressão de entrada sobre a perda de carga


kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

A utilização de maiores temperaturas de entrada deve ser visada no projeto de um


sistema de geração de vapor com coletores solares. Há casos em que se observou uma
diminuição da área necessária para geração de potência de vapor de até 30%, como observado
na Figura 29. Podem ser utilizados sistemas auxiliares de pré-aquecimento da água ou o próprio
coletor pode ser utilizado para esse aquecimento. Parte do condensado gerado pode ser
recirculado pelo coletor e misturado à água de alimentação para promover seu aquecimento.

Figura 28- Influência da Temperatura de entrada sobre a eficiência de geração de vapor

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017


68

Figura 29 – Influência da Temperatura de Entrada sobre a Área de Campo Solar


kW

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

4.3. Estudo de Caso – Aplicação à Belo Horizonte

Um estudo para a avaliação da aplicabilidade dos coletores cilíndrico-parabólicos em


Belo Horizonte requer a utilização dos dados de radiação da cidade. Portanto, plotou-se a
distribuição horária da radiação normal direta e do ângulo de incidência, conforme mostrado na
Figura 30, para o dia médio do mês de agosto, época com condições de radiação propícias à
utilização do coletor solar. Foram utilizados dados de radiação incidente publicados por
Ruibran Januário dos Reis e Chigueru Tiba (2016) para a obtenção desse gráfico.

Figura 30 – Distribuição horária da radiação normal direta e do ângulo de incidência

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017


69

Foram realizadas duas simulações com a variação da área do coletor para uma
aplicação típica da indústria, com temperatura de entrada de 75ºC, pressão de entrada de 7,5
bar e vazão mássica de 0,06 kg/s.

Figura 31 – Comportamento horário do Coletor – Área de 400m²

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

A Figura 31 demonstra que com uma área de 400m² seria possível a geração de uma
potência de vapor superior a 90kW por aproximadamente 5 horas por dia, o que representa 62,5%
de um dia de trabalho de 8 horas. Dessa forma, seria possível a substituição de sistemas de
geração de vapor a gás ou carvão por um tempo considerável, o que possibilitaria a redução
significativa do consumo desses combustíveis e de emissão de gases nocivos ao meio-ambiente.
O coletor poderia ser utilizado por praticamente todo o dia para aplicações que
requerem potência de vapor de 60 kW. Próximo ao meio-dia o coletor permite a geração de
potência de até 125kW, dessa forma, o vapor excedente poderia ser direcionado para um
armazenador e ser utilizado para suprir a necessidade de potência do fim do dia de trabalho.
Portanto, aplicações de potência de 100kW poderiam ser viabilizadas ou, no mínimo, seria
possível substituir geradores de vapor convencionais por parte considerável do dia. A
capacidade de potência total gerada em um dia, representada pela área sob a curva da potência,
é de 820kW.
70

Figura 32 – Comportamento horário do Coletor – Área de 260m²

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017

A Figura 32 mostra o comportamento do coletor caso tivesse área de campo solar de


260 m², ou extensão de 45m. Nessa situação, a geração de 75kW de potência de vapor seria
restrita a apenas 1 horas e a de 50kW a 5 horas. A capacidade de potência total gerada em um
dia, representada pela área sob a curva da potência, é de 460kW. Dessa forma, a aplicação do
coletor seria limitada a processos de baixa potência, para os quais, se for considerado o
armazenamento da energia excedente gerada no horário próximo ao meio-dia, é possível utilizar
o coletor por praticamente todo o dia.
71

5. CONCLUSÕES

Em se tratando de sistemas de geração de vapor, o coletor cilíndrico-parabólico vem


mostrando potencial bastante considerável, em especial para geração de energia elétrica. A
utilização desse dispositivo permite a diminuição do consumo de combustíveis fósseis e a
consequente emissão de gases nocivos ao meio-ambiente. No entanto, o emprego dos coletores
solares em aplicações industriais ainda é muito tímido e representa uma ínfima parte do seu
potencial.
Para o correto estudo e análise da aplicabilidade desses sistemas, o uso de modelos
numéricos se mostra como uma ferramenta preciosa, uma vez que a análise experimental pode
ser onerosa ou tecnicamente inviável. O principal objetivo desse estudo era desenvolver um
modelo numérico capaz de simular o comportamento de um coletor solar cilíndrico-parabólico
para geração de vapor. Para a análise do comportamento do coletor foi feito um estudo
detalhado dos mecanismos de transferência de calor do fluido, e aplicou-se conhecimentos de
mecânica dos fluidos, transferência de calor, termodinâmica e tecnologia solar.
O modelo matemático foi desenvolvido e os resultados foram validados em
comparação com dados experimentais disponíveis em artigos científicos. A comparação dos
dados mostrou que o modelo é capaz de gerar resultados satisfatórios e pode ser aplicado como
uma ferramenta útil à análise de funcionamento dos coletores cilíndrico-parabólicos.
Os resultados de simulação do modelo quando aplicado a situações de utilização na
indústria demonstraram que é necessária uma área de aproximadamente 540m² sob a condição
de grande incidência de radiação solar, 800 W/m², para geração de 375kW. Porém, caso a
radiação incidente seja menor, por volta de 400 W/m², seria preciso uma área de 1120m² para
gerar a mesma potência. Destaca-se que a grande vantagem do modelo criado é que ele permite
a análise da área necessária do coletor solar sob diversas condições de aplicação.
Ficou claro que a capacidade de geração de vapor do coletor é muito sensível à pressão
e temperatura de entrada. O projeto deve incluir mecanismos de pré-aquecimento da água de
alimentação do coletor e deve-se levar em consideração o compromisso do pressão de entrada
sobre o aumento da perda de carga na tubulação e a maior capacidade de geração de vapor do
coletor.
No estudo feito para a cidade de Belo Horizonte foi evidenciado que é possível aplicar
essa tecnologia caso a necessidade de potência de vapor seja próxima a 100 kW e haja
disponibilidade de no mínimo 400m² para construção do coletor. No entanto, aplicações de
72

menores potências apresentam maior campo de aplicabilidade, já que processos que exigem
50kW podem ser supridos por coletores cuja área de campo solar é de 260m².
As seguintes sugestões são apresentadas para trabalhos futuros:
 Desenvolvimento de um modelo matemático operando em regime transiente;
 Aplicação de um modelo mais completo com a utilização de um software específico
para dinâmica de fluidos computacional;
 Utilização de um modelo para o coletor nos três modos de operação: circulação única,
recirculação e injeção.
 Estudo detalhado da aplicabilidade econômica do coletor cilíndrico-parabólico;
 Estudo mais detalhado da influência de parâmetros construtivo do coletor, como
diâmetro do tubo absorvedor, área de abertura e material de construção do coletor.
73

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