Resumo
1. Introdução
A ocorrência de faltas monofásicas para terra nas linhas de transmissão faz com que o retorno
da corrente de falta seja parte pela terra e parte pelos cabos pára-raios. A ocorrência da falta
pode acontecer em qualquer local ao longo da linha de transmissão, mas geralmente ocorre
através das cadeias de isoladores. Quanto mais próximo da subestação, maior é a corrente de
curto-circuito, a qual é alimentada pelas duas subestações adjacentes. Como o caminho pela
terra passa pelo sistema de aterramento da estrutura onde ocorreu o curto-circuito, a
resistência de pé-de-torre é um componente a ser representado na modelagem do circuito. A
parte da corrente que retorna pelos cabos pára-raios depende das suas impedâncias, e,
portanto, do local onde ocorreu a falta e das características de cada um dos cabos.
Com a instalação de novos cabos pára-raios do tipo OPGW, em substituição a um dos cabos
pára-raios existentes, a divisão de corrente entre os cabos pára-raios, durante a ocorrência de
um curto-circuito monofásico para a terra, se altera em função das impedâncias do novo
conjunto de cabos. Dependo das características específicas dos locais de instalação dos cabos
OPGW é possível que diferentes comprimentos e diferentes tipos de cabos sejam utilizados
nas proximidades das subestações, em função de elevados níveis de curto-circuito.
Para cada uma das situações devem ser determinados o tipo, bitola e comprimento de cada um
dos cabos necessários para suportar as correntes de curto-circuito correspondentes.
If1 If2
It
SE1 SE2
2
esquematicamente a variação da magnitude da corrente de curto-circuito ao longo da linha de
transmissão. Neste caso as subestações tem potência de curto-circuito diferentes, situação esta
Corrente
D is tncia
com a corrente de curto-circuito em cada local da linha de transmissão, uma vez que a
corrente de curto-circuito tende a decrescer na medida em que o ponto de falta se afasta da
2. Metodologia de Cálculo
A simulação tem por objetivo determinar as correntes de curto-circuito, sendo, portanto, um
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Como o EMTP/ATP é um programa desenvolvido basicamente para o cálculo de transitórios,
sendo muita extensa a gama de fenômenos passíveis de simulação, a sua utilização para a
determinação das correntes nos cabos pára-raios é muito trabalhosa, envolvendo uma grande
quantidade de dados.
Os PIs utilizados para representar a linha de transmissão são ajustados para cada uma das
configurações analisadas. Em cada local correspondente às torres das linhas de transmissão
são introduzidas resistências de aterramento.
Quando a capacidade está muito acima ou quando não é suficiente, novas configurações
devem ser simuladas, considerando-se novos tipos de cabos OPGW ou de cabos pára-raios
convencionais. Em algumas situações é necessário modificar a bitola e/ou a extensão dos
cabos pára-raios existentes para permitir melhor divisão de corrente entre o cabo
convencional e o OPGW.
Além das correntes de circulação nos cabos pára-raios, para as linhas de transmissão onde são
utilizados cabos OPGW de bitolas e/ou configurações diferentes é necessário verificar a
distribuição de correntes entre os cabos em cada ponto de transição para uma nova
configuração. Nestes pontos o cabo OPGW de menor capacidade, geralmente em paralelo
com um cabo pára-raios convencional de alta impedância, passa a tomar a maior parte da
corrente de circulação, sendo um ponto importante para o correto dimensionamento dos cabos
OPGW.
Os dados de entrada para a rotina LCC são os dados usuais geralmente utilizados para o
cálculo dos parâmetros de uma linha de transmissão, que são a sua configuração geométrica,
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mais os dados referentes aos cabos pára-raios e cabos das fases e o comprimento da seção PI
que está sendo modelada. Os dados referentes aos cabos OPGW tem que ser obtidos dos
fabricantes, uma vez que estes cabos ainda se encontram em fase de desenvolvimento.
Geralmente ainda tem sido submetido a ensaios para verificação de sua suportabilidade
quanto a correntes de curto-circuito e de descargas atmosféricas e tem sido projetados em
função das condições das instalações específicas. Como os seus parâmetros são fundamentais
na divisão de corrente com os cabos convencionais, é fundamental que sejam utilizados os
dados reais obtidos diretamente dos fabricantes, inclusive quanto a corrente suportável de
curta duração.
3. Modelagem no EMTP/ATP
A parte central da linha de transmissão, a qual normalmente não necessita ser detalhada, pode
ser representada por um único PI, independentemente do comprimento. Até a presente data
todos os casos foram simulados considerando-se todos os cabos das fases, mas certamente se
poderia reduzir o circuito a um circuito equivalente monofásico mais os dois cabos pára-raios.
A obtenção dos parâmetros de cada seção de linha é feita através da utilização do programa
“Line Constants”, sendo o arquivo de dados dos cabos montado com o programa LCC. Deve
ser utilizada a facilidade de criação do arquivo de saída de dados, bem como os nós de
referência para facilitar a montagem do arquivo de dados correspondente ao circuito principal
para a determinação das correntes nos cabos pára-raios.
Com a representação utilizada até a presente data tem sido necessário utilizar a versão do ATP
para WindowsNT por causa da grande quantidade de componentes utilizados para modelar
detalhadamente a linha de transmissão. A versão tradicional atual (ATP Salford) não tem
capacidade suficiente para a modelagem em questão.
As fontes são representadas por fontes do tipo senoidal na frequência fundamental em série
com as impedâncias equivalentes vistas de cada subestação terminal.
A falta é representada por resistências de pequeno valor e a saída é obtida do cálculo dos
fluxos em regime permanente, ou então, através da parte correspondente ao regime transitório,
utilizando-se elementos adicionais de circuito convenientes para tal finalidade. Esta opção é
mais interessante porque facilita a leitura dos valores de interesse, apesar de implicar em
modificações no caso a ser processado para cada local de aplicação da falta. Os valores de
interesse são valores RMS e as fontes podem ser convenientemente ajustadas para a sua
obtenção.
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4. Informações Adicionais
O dimensionamento dos cabos pára-raios depende da correta determinação das correntes que
circulam nos cabos durante as faltas para terra, a qual é bastante afetada pelos parâmetros
físicos e elétricos dos componentes envolvidos na simulação. Várias considerações se aplicam
a este tipo de simulação.
1600
1400
1200
1000
Corrente (A)
800
600
400
200
0
0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 6.00 7.00 8.00 9.00
Distância (km)
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Na Figura 5 estão mostradas as correntes nos cabos pára-raios, à direita e à esquerda do ponto
de falta, em função da representação das resistências de pé-de-torre nas torres adjacentes para
o lado da parte central da linha de transmissão, para o mesmo caso mostrado na figura
anterior. Nesta figura é claramente observado que as correntes apresentam grande variação
com relação à quantidade de torres onde se representam as resistências de pé-de-torre,
enfatizando a necessidade de uma modelagem detalhada para a correta determinação das
correntes nos cabos pára-raios. A diferença entre os dois casos extremos é de mais de 40 % no
valor da corrente de circulação nos cabos pára-raios.
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
10 12 14 16 18 20
A corrente no ponto de transição de uma bitola para outra menor, quando há necessidade de se
utilizar mais de um tipo de bitola em função do alto nível da corrente de curto-circuito, é um
dos pontos que devem ser verificados. A Figura 6 mostra a variação na corrente de circulação
no ponto de transição de uma bitola para outra menor.
20000
Ipr1
15000
Iopgw 1
10000
Ipr2
5000 Iopgw 2
0
0 5 10 15 20
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5. Conclusões
5.1 O correto dimensionamento dos cabos pára-raios depende basicamente das correntes de
curto-circuito que passam pelos cabos, independentemente de seu tipo, quando da ocorrência
de faltas para a terra ao longo da linha de transmissão. A maior corrente circulante ocorre para
faltas fase-terra nas proximidades das subestações, sendo que a sua amplitude se reduz
sensivelmente quando o ponto de falta é localizado na parte central da linha de transmissão.
5.3 A instalação de cabos OPGW aumenta a complexidade das simulações porque introduz
um cabo com características diferentes dos cabos tradicionais, no caso de linhas de
transmissão com dois cabos pára-raios. Em algumas situações é necessário modificar a bitola
e/ou a extensão dos cabos pára-raios existentes para permitir melhor divisão de corrente entre
o cabo convencional e o OPGW.
5.4 Os modelos disponíveis no ATP/EMTP são plenamente satisfatórios para a simulação das
correntes de curto-circuito, mas o processo é interativo e muito trabalhoso. Cuidados especiais
devem ser tomados para estabelecer uma sistemática de montagem dos casos, inclusive
quanto a própria obtenção dos resultados.
5.5 A modelagem da configuração em análise deve ser realizada torre a torre nas
proximidades das subestações, sendo necessário representar uma quantidade razoável de
torres após o ponto de aplicação da falta em direção à parte central da linha de transmissão. O
processo, apesar de tecnicamente simples, é bastante trabalhoso, sendo necessário estabelecer-
se uma sistemática para os processamentos e leitura dos valores de corrente nos cabos pára-
raios.
5.6 Os pontos de transição para as configurações com diferentes bitolas de cabos tradicionais
e/ou OPGW devem ser cuidadosamente verificados, tendo em vista a redistribuição de
correntes que ocorre nestes pontos.
5.7 As informações sobre as características dos cabos OPGW, bem como sobre a sua a
suportabilidade a correntes de curta duração (correntes de curto-ciruito) são fundamentais
para o seu correto dimensionamento.
Bibliografia