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RESPONSABILIDADE SOCIAL – ENTRE O AGIR E O SER

A RESPONSABILIDADE SOCIAL NÃO É APENAS


ASSUNTO DAS EMPRESAS,

MAS DE TODOS NÓS.

A Ética na Responsabilidade Social

A RESPONSABILIDADE SOCIAL deve começar fora das organizações, a partir dos


indivíduos que, conjuntamente, formam as sociedades e as organizações, em
particular. Neste âmbito, devemos começar por considerar a importância de se
“educarem” as mentes humanas, no sentido de se desenvolver uma consciência ética.

Mas o que é a Ética?

É um ramo da filosofia, que estuda a natureza do que consideramos adequado e


moralmente correcto.

E porque será importante partir de uma definição de Ética? Com efeito, apenas se os
indivíduos actuarem de forma ética no seu dia-a-dia é que as organizações podem
operar eticamente, pois estas são compostas por pessoas e são os valores dessas
pessoas que formam a cultura organizacional e que, portanto, ditam a actuação ética
(ou não) das organizações.

Neste âmbito, é do maior interesse que a Ética se propague por toda a sociedade, o
que pode ser facilitado pela introdução dessa disciplina nos programas educativos
nacionais (desde o ensino básico ao universitário) e por campanhas de educação e de
consciencialização públicas.

O que é agir de forma ética? Será que a Ética é universal e objectiva? Na verdade, se
muitas vezes os actos éticos não deixam dúvidas, noutras situações as subjectividades
decorrentes das vivências pessoais e das diferenças culturais levantam questões de
ordem moral. No entanto, é um bom princípio partir do pressuposto de que tudo o
que está dentro dos padrões morais globais e não interfere com o bem-estar comum
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é ético.

Não podemos, ainda, esquecer que a Ética é muitas vezes reduzida ao cumprimento
da lei, mesmo que nem sempre a lei seja ética (a escravatura já foi legal, por
exemplo). No entanto, se não queremos ser demasiado reducionistas em relação às
questões éticas, temos que nos questionar sobre o seguinte: Até que ponto alguém
que age em função dos seus interesses e em detrimento dos interesses gerais está a
agir eticamente, mesmo quando existe uma “desculpa” para o fazer? Tomemos como
exemplo alguém que rouba para não deixar a família passar fome. Aos olhos da
sociedade, essa pessoa pode não ser considerada antiética, mas na verdade não deixa
de o ser, pois roubar, não é ético, seja em que circunstância for.

E imaginemos agora uma pessoa que trabalha numa empresa e descobre uma
“falcatrua”, mas sabe que se denunciar essa descoberta perde o emprego. Será que se
optar pelo silêncio está a ser ética, mesmo não tendo tido interferência directa com a
ocorrência em questão?

E quando a Ética choca com a lei? Isto é, como deve agir um advogado quando o sigilo
profissional ao qual está obrigado o impede de colocar um criminoso atrás das
grades? Esse advogado deverá ser ético para com o seu cliente ou para com a
sociedade e a justiça de um modo geral?

Enfim, todas estas questões interessam para termos consciência de que muitas vezes
as decisões éticas são difíceis de tomar, mas se nos regermos pelo que é certo e pelo
que é errado e acrescentarmos a esse raciocínio a ideia de que o bem-estar comum
(essencialmente dos “inocentes”) deve prevalecer, certamente que as nossas decisões
éticas serão facilitadas ao longo do dia-a-dia.

Não podemos esperar que as organizações ajam de forma ética, se nós próprios não o
fizermos.

Com efeito, se a Ética, por vezes, pressupõe “sacrifícios” por parte dos indivíduos, o
mesmo acontece no que diz respeito à Ética por parte das organizações. Vejamos
como exemplo disso uma empresa que atravessa dificuldades financeiras e que vê na
realização de um negócio fraudulento uma saída para essa situação, mas que mesmo
assim opta por não ir em frente com esse negócio, agindo de acordo com os seus
princípios éticos.·
É claro que neste caso podem surgir argumentos que contestem essa decisão, caso a
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empresa vá à falência e tenha que despedir todos os seus colaboradores, os quais a


podem acusar de não ter existido uma certa “ética” para com eles. E aqui já refiro a
palavra certa , pois muitas vezes a Ética assume padrões subjectivos, de acordo com a
conveniência e a consciência de cada indivíduo. Contudo, interpretações mais
subjectivas acerca desta questão não nos podem fazer esquecer que em hipótese
alguma um negócio fraudulento pode ser considerado ético e é nesse ponto de vista
que devemos concentrar a nossa análise.

Mas, porque será esta questão tão importante?

Em primeiro lugar, porque sem ética individual não existe ética organizacional e, em
segundo lugar, porque sem ética organizacional não existe Responsabilidade Social.
Ou seja, uma organização pode praticar certas actividades consideradas socialmente
responsáveis, mas se não tiver uma conduta ética na forma como dirige o seu
negócio, não pode reivindicar essa RS. Do mesmo modo, a Ética é necessária mas não
suficiente para a RS, isto é, ser socialmente responsável não é apenas ser ético, mas ir
também para além disso. Caso contrário, corremos o risco de conferir à RS um âmbito
mais reduzido e de lhe retirar o seu carácter original e voluntário, carácter esse que
lhe atribui a grandiosidade e a “beleza” que o conceito possui!

Maria do céu Rodrigues

ESA

2009/2010

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