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BASILÉIA III E SEUS IMPACTOS PARA OS BANCOS NO BRASIL

Autoria: Fernando Antonio Perrone Pinheiro, José Roberto Ferreira Savoia

RESUMO
Este trabalho procura avaliar o impacto decorrente da mudança do capital requerido pela
implantação do Acordo de Basiléia III para uma amostra de 58 bancos. A metodologia
adotada simulou a aplicação dos parâmetros mínimos de capital regulatório para os balanços
de 2012, recalculando o montante a ser exigido ao final do período de transição em 2019.
Estimou-se também o custo de capital desses bancos e comparou-se com o retorno que os
mesmos têm apresentando ao longo dos últimos anos. A conclusão é que diversas instituições
estarão desenquadradas e os retornos apresentados são insuficientes para atrair novos capitais.
Palavras chave: risco, capital regulatório, acordo de Basiléia, bancos.

1 INTRODUÇÃO

O Comitê de Supervisão Bancária do B.I.S. publicou em 2010 uma revisão do acordo de


capital intitulada “A global regulatory framework for more resilient banks and banking
systems”, que veio a se tornar conhecida como Basiléia III. O novo acordo de capital irá
requerer mais capital e de melhor qualidade, e introduziu o conceito de capital contra cíclico,
o que, na prática, irá reduzir a alavancagem dos bancos.
Essas medidas farão com que as instituições financeiras tenham que planejar melhor suas
ações da concessão de crédito, priorizando a contratação de ativos que proporcionem melhor
relação retorno x risco, pois as restrições à alavancagem serão maiores.
Este trabalho tem como objetivo analisar os efeitos desta medida para o setor bancário
brasileiro. O estudo adquire maior relevância quando se considera que o crédito é um
instrumento importante para fomentar o desenvolvimento econômico, fruto este de grande
preocupação para o Governo Federal.
Desta forma, este trabalho se justifica pelos efeitos que o novo acordo de capital terá sobre o
mercado financeiro, com a redução da capacidade dos bancos em se alavancar e,
consequentemente, com a possibilidade de introdução de um vetor contracionista no crédito.
São dois os problemas de pesquisa, embora inter-relacionados.
1º Tendo em vista as novas regras, o capital regulatório dos bancos será suficiente para
que eles mantenham suas operações, considerando-se os portfólios existentes em
dezembro de 2012?
2º No cenário atual, os bancos brasileiros têm auferido retornos capazes de atrair novos
capitais?

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Uma das principais missões dos bancos centrais é zelar pela saúde dos sistemas financeiros.
Os bancos são os depositários da poupança da população e das empresas e exercem a função
de vasos comunicantes entre os detentores de poupança e os tomadores de recurso; portanto, a
falência de um banco constitui-se em um problema sistêmico. Bancos podem inadimplir
quando o volume de seus contratos é de tal magnitude que uma situação adversa incidindo
sobre os mesmos resulta em prejuízos não suportados pelo capital próprio da instituição.

1
A necessidade de um órgão regulador internacional tornou-se evidente nos anos 70 com o
final do acordo de Breton Woods, com a crise do petróleo e com a crise do endividamento
internacional. O Bank for International Settlements (B.I.S.) foi incumbido de promover a
cooperação entre os bancos centrais e passou a dedicar especial atenção à estabilidade
financeira internacional (B.I.S., 2006a). Dentro deste objetivo, o B.I.S. publicou em 1988 o
Acordo de Capital, visando estabelecer um padrão de alavancagem bancária que trouxesse
solidez às economias.

2.1 O Acordo de Capital de 1988

O princípio básico do Acordo de Basiléia consiste na compatibilização do capital da


instituição com os riscos incorridos. No Acordo de Capital em 1988, denominado
International Convergence of Capital Measurement And Capital Standards, introduziu-se:
 O conceito de Ativos Ponderados pelo Risco (APR);
 Os conceitos de TIER 1 e TIER 2 ou Capital Nível 1 e Capital Nível 2;
 Um fator de risco que, aplicado sobre o somatório de APR, definia o capital
regulatório da instituição.
O conceito de APR consiste na soma ponderada dos ativos das instituições de acordo com seu
nível de risco. O Acordo de Capital de 1988 estabeleceu quatro fatores de ponderação: 0%,
20%, 50% e 100%. Em linhas gerais, o fator 0% era aplicado aos títulos públicos emitidos
pelos governos centrais, ou a valores em haver dos bancos junto aos governos; o fator de
ponderação 20% era aplicado a valores em compensação; o fator 50% era aplicado aos ativos
interbancários e créditos garantidos por hipotecas; e o fator 100% aplicado aos demais
créditos. Sobre o somatório de APR aplica-se um fator de risco equivalente a 8%. A este
somatório adicionam-se também os riscos de mercado e os riscos operacionais; para tanto, o
B.I.S. estabeleceu-se uma equivalência para converter esses riscos em APR. O Banco Central
do Brasil (BACEN) adotou um fator de 11%, mais rigoroso, portanto, do que o B.I.S.
Os conceitos de Tier 1 e Tier 2 foram definidos no Acordo de Capital de 1988. O Tier 1 é o
capital que está disponível para absorver as perdas em uma base "de continuidade", que pode
ser esgotado sem colocar o banco em insolvência, administração especial ou liquidação. O
B.I.S. o define como going concern. O Tier 1 é constituído por ações ordinárias ou
preferenciais, desde que não sejam resgatáveis e não haja a cumulatividade de dividendos, e
por reservas divulgadas. Pelo menos 50% de Tier 1 deve ser constituído por ações.
O Tier 2 constitui-se no capital que pode absorver as perdas antes que os depositantes percam
todo o dinheiro e está limitado a 100% de Tier 1. O B.I.S. o define como gone concern. É
constituído por reservas de reavaliação, por reservas não divulgadas, provisões para perdas
futuras não identificadas, e por instrumentos que, por suas características, classificam-se
como um “quase capital”. São eles:
 Os instrumentos híbridos de capital e dívida, como ações preferenciais e bonds
perpétuos, com prioridade de recebimento apenas sobre os instrumentos do Tier 1, sem
garantias, apenas resgatáveis por iniciativa do emissor e com autorização da
autoridade de supervisão, com a possibilidade de diferir o pagamento de rendimentos
caso o resultado do banco o não permita realizar.
 Os instrumentos de dívida subordinada, limitados a 50% de Tier 2, com prazo mínimo
de cinco anos, prevendo a redução de sua efetividade como instrumento de capital a
razão de 20% a.a. nos últimos cinco anos de seu prazo.
2
As deduções sobre o capital regulatório introduzidas pelo Acordo de 1988 dizem respeito ao
Goodwill (dedução de Tier 1) e o investimento em subsidiárias financeiras não consolidadas
no balanço da instituição (dedução do total do capital regulatório).

2.2 Basiléia II

Em 2006 o B.I.S. publicou o International Convergence of Capital Measurement and Capital


Standards - A Revised Framework, também conhecido como Basiléia II. Este documento
estava dividido em três pilares: o primeiro tratava do capital regulatório; o segundo tratava do
processo de supervisão; e o terceiro pilar, era voltado para a disciplina de mercado.
O primeiro pilar promoveu mudanças qualitativas no tocante ao conceito de Ativos
Ponderados pelo Risco, vinculando o rating ao fator de ponderação e facultando às
instituições o desenvolvimento de modelos internos, ou IRB (Internal Rating Based
Aproach), desde que baseados nos conceitos de PD (probability of default), LGD (loss given
default), EAD (exposure at default), e M (effective maturity). Foi introduzido o requerimento
de capital para riscos operacionais e promoveram-se aprimoramentos no tocante a crédito e
securitização.
Basiléia II introduziu o conceito de Tier 3, a ser adotado de acordo com o poder discricionário
dos bancos centrais. O Tier 3 deveria ser constituído por instrumentos subordinados de curto
prazo, com o propósito exclusivo de atender ao capital regulatório para riscos de mercado. O
BACEN não o adotou. Adicionalmente, introduziram-se outras mudanças na composição do
capital regulatório: do Tier 1 passou-se a deduzir os ativos intangíveis e o aumento de capital
decorrente de exposições em operações de securitização; e simultaneamente do Tier 1 e Tier
2, passaram a ser deduzidas partes iguais do investimento em subsidiárias financeiras ou
bancárias não consolidadas, o investimento em outras instituições financeiras, e a participação
minoritária em outras empresas financeiras.

2.3 As mudanças introduzidas pelo novo acordo de capital

Basiléia III introduziu importantes modificações, particularmente no tocante às definições de


capital. Dentre as mudanças, destacam-se:
 Uma nova estrutura de capital, priorizando o capital de melhor qualidade e
estabelecendo restrições aos instrumentos de capital de menor qualidade;
 Ajustes prudenciais ao capital da instituição;
 O conceito de capital conservation buffer, que é o capital adicional para fazer frente a
possíveis perdas;
 O conceito de countercyclical buffer, ou capital contra cíclico.
Diferentemente dos acordos anteriores, que resumiam a estrutura de capital da instituição a
Tier 1 e Tier 2, o novo Acordo de Capital é consideravelmente mais rigoroso.
O capital regulatório passa a consistir da soma dos seguintes elementos:
a) Tier 1, cujo requerimento é de 6% de APR, composto por:
i. Common Equity, ou Capital Principal Nível I na denominação do BACEN, que
deverá ser maior ou igual a 4,5% do capital requerido;

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ii. Additional Tier 1, ou Capital Adicional Nível 1 na denominação do BACEN,
complementando Capital Principal Nível I.
b) Tier 2, ou Capital Nível 2. A soma de Tier 2 e Tier 1 deve ser no mínimo 8% de APR.
Além de Tier 1e Tier 2, Basiléia III prevê que o capital regulatório da instituição deve incluir:
c) Capital conservation buffer, ou buffer de conservação, consiste em um “colchão” extra
de capital para possíveis perdas, proporcionando à instituição que “adentrar” neste
limite a continuidade de suas operações. Nessas condições, a instituição é obrigada a
interromper o pagamento de dividendos, até a recomposição do capital. O buffer de
conservação adiciona 2,5% de APR ao Capital Principal Nível 1.
d) Countercyclical buffer, ou buffer contra cíclico. Visa garantir a estabilidade financeira
da economia e seu uso dá graus de liberdade para os bancos centrais: fora dos tempos
de crise, cria-se um colchão de capital para fazer frente às perdas em possíveis crises;
e nos tempos de crise a autoridade monetária pode aboli-lo para evitar uma recessão.
O buffer contra cíclico requer adicionais 2,5% de APR ao Capital Principal Nível 1.
Em linhas gerais, o Capital Principal Nível 1 consiste nas ações ordinárias, reservas de lucro e
outras reservas; o Adicional de Capital Nível 1 é composto por instrumentos com
características de perpetuidade, subordinados a todos os demais instrumentos à exceção das
ações ordinárias, resgatáveis apenas por iniciativa do credor e com autorização dos bancos
centrais.
O Capital Nível 2 será composto por instrumentos com prazo mínimo de 5 anos, subordinados
a todos os haveres da instituição, exceto aos instrumentos do Tier 1. Estes instrumentos de
dívida deverão ser integralizados em dinheiro; não poderão ser cobertos por garantias; não
poderão ter gatilhos de liquidação antecipada, exceto no caso de falência da instituição;
poderão ser resgatados por iniciativa do emissor, respeitado o prazo mínimo de 5 anos, e
desde que sejam substituídos por instrumentos de melhor qualidade, sob o ponto de vista de
capital regulatório.
Os ajustes prudenciais constituem-se em deduções sobre o valor do Capital Principal Nível 1.
São eles o Goodwill e outros ativos intangíveis; os créditos tributários decorrentes de
prejuízos fiscais e que dependem de resultados futuros para serem realizados; ações de própria
emissão em tesouraria; benefícios definidos de fundos de pensão; participações cruzadas no
capital de bancos, financeiras e seguradoras; investimento direto ou indireto no capital de
entidades bancárias, financeiras, seguradoras e assemelhadas que estejam fora do consolidado
regulatório; ganho na venda de ativos nas operações de securitização; insuficiência de
provisões para perdas esperadas; reservas para a cobertura de hedges, etc.
A Tabela 1 apresenta o phase-in às novas regras do B.I.S.:

Tabela 1 – Requerimentos mínimos de capital estabelecidos em Basiléia III


Ano de entrada em vigor 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Capital Principal Nível 1 3,500% 4,000% 4,500% 4,500% 4,500% 4,500% 4,500%
Tier 1 4,500% 5,500% 6,000% 6,000% 6,000% 6,000% 6,000%
Tier 1 + Tier 2 8,000% 8,000% 8,000% 8,000% 8,000% 8,000% 8,000%
Buffer de conservação de capital - - - 0,625% 1,250% 1,875% 2,500%
Tier 1 + Tier 2 + buffer conservação 8,000% 8,000% 8,000% 8,625% 9,250% 9,875% 10,500%
Buffer contra cíclico - - - 0,625% 1,250% 1,875% 2,500%
Tier 1 + Tier 2 + buffers 8,000% 8,000% 8,000% 9,250% 10,500% 11,750% 13,000%
Phase- in dos ajustes prudenciais 20% 40% 60% 80% 100% 100%
Fonte: B.I.S., 2011.

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A insuficiência de capital para atender o buffer de conservação de capital e o buffer contra
cíclico pode interromper, total ou parcialmente, o pagamento de dividendos.

2.4 A implantação de Basiléia III no Brasil

O Banco Central do Brasil publicou em 1º de março de 2013 as Resoluções CMN nº 4.192 e


nº 4.193, que dispõem respectivamente do patrimônio de referência e sobre a apuração dos
requerimentos mínimos de patrimônio. Nestas resoluções, o BACEN fundiu os conceitos de
buffer de conservação e buffer contra cíclico em um único requerimento denominado
Adicional de Capital Principal, e estabeleceu para o mesmo um nível mínimo e outro máximo.
A Tabela 2 apresenta o requerimento de Capital Nível 1 exigido no Brasil. Anteriormente à
vigência do novo Acordo, o Patrimônio de Referência Exigido (PRE) já era de 11% de APR.

Tabela 2 - Requerimentos mínimos de capital estabelecidos pelo BACEN


2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Fator “F” aplicado ao APR 11,000% 11,000% 11,000% 9,875% 9,250% 8,625% 8,000%
Capital Principal Nível 1 mínimo 4,500% 4,500% 4,500% 4,500% 4,500% 4,500% 4,500%
Capital Nível 1 mínimo 5,500% 5,500% 6,000% 6,000% 6,000% 6,000% 6,000%
Adicional de Mínimo 0,625% 1,250% 1,875% 2,500%
Capital Principal Máximo 1,250% 2,500% 3,750% 5,000%
Fonte: BACEN, 2013b.

A Tabela 3 consolida o todo o requerimento de capital regulatório.

Tabela 3 - Requerimentos mínimos de capital considerando-se o Adicional de Capital Principal


2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Capital Principal Mínimo 4,500% 4,500% 4,500% 5,125% 5,750% 6,375% 7,000%
Nível 1 Máximo 4,500% 4,500% 4,500% 5,750% 7,000% 8,250% 9,500%
Capital Regulatório Mínimo 11,000% 11,000% 11,000% 10,500% 10,500% 10,500% 10,500%
Total Máximo 11,000% 11,000% 11,000% 11,125% 11,750% 12,375% 13,000%
Fonte: BACEN, 2013b.

No que tange aos instrumentos que compõe o capital, o BACEN estabeleceu regras idênticas
às recomendadas pelo B.I.S. para os instrumentos híbridos e dívida subordinada. Assim, o
Capital Adicional Nível 1 pode ser constituído por instrumentos perpétuos, dentre outras
características, e o Capital Nível 2 com instrumentos com prazo mínimo de 5 anos.
Dentre os ajustes prudenciais, é importante notar que, embora o B.I.S. não tivesse
estabelecido em Basiléia II a dedução dos créditos tributários do capital regulatório, o Banco
Central já havia estabelecido algumas regras nesse sentido, obrigando os bancos a deduzirem
os créditos tributários de CSLL gerados até a publicação da Resolução CMN nº 3.059. A nova
Resolução nº 4.192 ampliou o escopo da restrição, estendendo a todos os créditos tributários
decorrentes de diferenças temporárias que dependam de geração de lucros ou receitas
tributáveis futuras para sua realização.
A esse respeito, é importante mencionar que a maior parte dos créditos tributários gerados
pelos bancos brasileiros é proveniente das provisões para créditos de liquidação duvidosa,
pois essas, embora reduzam o resultado, não são dedutíveis da base tributária e geram o
crédito tributário quando se procede ao write-off da operação de crédito. Dos R$ 110 bilhões
de créditos tributários do Sistema Financeiro, R$ 60 bilhões tem origem em operações de

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crédito (D´AMORIM e OMS, 2013). Se esses créditos fossem deduzidos do capital
regulatório, os bancos brasileiros teriam uma desvantagem relativamente aos bancos situados
em outros países. O BACEN excluiu estes créditos tributários da base daqueles que devem ser
deduzidos do capital regulatório.
Do exposto, fica evidente que o novo acordo de capital irá demandar um requerimento maior
de Capital Nível 1. Anteriormente, a proporção de Tier 2 estava limitada a 100% de Tier 1, ou
seja, era possível cumprir o requerimento de capital com capitais de “pior” qualidade. Além
disso, o buffer de conservação de capital e o buffer contra cíclico representarão um ônus
adicional para os bancos.
Para efeitos de comparação da situação dos bancos, o Tier 1 de Basiléia II aproxima-se ao
Capital Principal Nível 1 de Basiléia III, já que a totalidade do Tier 1 de Basiléia III incluiria
aqueles os instrumentos híbridos e a dívida subordinada possuidores de maiores restrições.
Enquanto que os acordos anteriores o requerimento de capital regulatório era atendido pelo
somatório de Tier 1 e Tier 2, o novo acordo estabelece requerimentos para o Capital Principal
Nível 1, para o Capital Nível 1 e para o somatório de Tier 1 e Tier 2.

3 METODOLOGIA

Para responder à primeira questão de pesquisa, foi analisada a suficiência patrimonial dos
bancos, tendo em vista as novas regras instituídas por Basiléia III. As seguintes premissas são
consideradas nesta análise:
1. Que os bancos irão manter suas exposições para os anos subsequentes, dentro do
calendário de enquadramento da nova regra.
2. Que os bancos irão manter sua estrutura de capital, inclusive, com a preservação das
características dos instrumentos híbridos de capital e dívida hoje existentes.
A segunda questão diz respeito à capacidade dos bancos em atrair novos capitais, tendo em
vista o eventual desenquadramento. Para tanto, será apurada a rentabilidade das instituições,
na forma de seu retorno sobre o patrimônio, que será comparada com o custo do capital
próprio setorial estimado pelo CAPM. Aquelas instituições que estiverem desenquadradas e
cujo retorno sobre o patrimônio for inferior ao custo de capital não terão condições de manter
o atual nível de alavancagem, e terão que reduzir suas exposições a riscos.
A base de dados utilizada foi extraída do sistema Bankscope, um serviço de informações de
instituições financeiras administrada por Bureau Van Dijk, companhia com sede em Bruxelas.
As instituições foram selecionadas com base nos seguintes critérios: bancos ativos, situados
no Brasil, classificados como bancos comerciais ou como instituições governamentais de
crédito, e com balanço disponível em 2012. Esta seleção permitiu selecionar 78 bancos, dos
quais 58 dispunham de informações suficientes para a realização de uma análise. Esta amostra
intencional é representativa, pois as instituições presentes correspondem a cerca de 80% dos
ativos totais do Sistema Financeiro Nacional.
Uma vez que o cálculo do capital regulatório exigiria o acesso a informações não disponíveis
nos balanços publicados, as considerações feitas nesse artigo são meramente indicativas. São
limitações deste estudo a impossibilidade de se apurar os ajustes prudenciais ao capital
regulatório, pois seria necessário (i) conhecer a característica dos créditos tributários
existentes em cada instituição; e (ii) analisar a estrutura societária para identificar
participações não consolidadas, as participações minoritárias, as participações cruzadas, etc.

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4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

A Tabela 4 apresenta as informações sobre o capital regulatório dos bancos analisados, com
base nos demonstrativos financeiros de 2012. Logo, o capital regulatório embute as regras
vigentes naquele ano, ou seja, Basiléia II.

Tabela 4 - Capital regulatório dos bancos analisados – Em R$ milhões – Base: Dezembro/2012


Banco Ativos Capital Capital Instrumentos Dívida Capital Capital
ponderados Regulatório Regulatório Híbridos de Subordi- Nível 1 / total /
pelo risco Nível 1 Total Capital nada APR APR
(APR) (%) (%)
Banco do Brasil 727.590 76.769 107.925 3.743 51.994 10,55 14,83
Itaú Unibanco 655.215 71.418 109.421 0 38.099 10,90 16,70
Bradesco 597.886 65.887 96.754 0 34.852 11,02 16,17
BNDES 582.214 48.633 89.599 0 155.325 8,35 15,39
CEF 433.691 28.690 56.329 0 40.644 6,62 12,99
Santander 337.500 65.200 70.300 11.900 10,32 20,80
HSBC 92.216 9.737 12.376 3.880 10,56 13,42
Votorantim 84.641 7.875 12.111 0 6.991 9,30 14,30
BTG Pactual 84.303 10.250 14.594 0 6.246 12,16 17,30
Safra 68.942 6.824 9.629 0 2.657 9,90 14,00
Citibank 51.767 7.812 7.812 0 0 15,09 15,09
Itau BBA 37.624 6.283 6.283 0 0 16,70 16,70
Banrisul 32.387 4.877 6.046 1.158 15,05 18,67
BMG 32.234 2.508 3.693 0 1.226 8,05 11,85
do Nordeste 30.601 2.611 5.184 0 2.535 8,53 16,94
Volkswagem 21.749 2.046 3.012 1.613 9,41 13,43
JP Morgan 20.919 3.494 3.494 0 0 16,70 16,70
Industrial e Coml 18.685 1.959 2.915 0 947 10,60 15,80
Pan Americano 16.608 1.270 1.904 0 1.195 7,79 11,68
da Amazonia 13.132 1.946 2.011 0 0 14,82 15,31
Rabobank 12.967 1.052 1.990 0 939 8,11 15,35
Banco Daycoval 12.665 2.198 2.204 0 0 17,40 17,40
Deutsche Bank 11.563 1.499 1.499 0 0 12,96 12,96
Mercedes-Benz 10.929 1.172 1.395 0 223 10,73 12,77
Mercantil do Brrasil 10.163 839 1.258 0 622 8,26 12,38
GMAC 9.806 1.207 1.207 0 0 13,09 13,09
Fibra 9.411 873 1.246 0 373 9,28 13,20
Pine 9.218 1.220 1.478 0 317 13,37 16,19
BRDE 8.436 1.336 1.336 0 0 15,84 15,84
BNG 5.921 936 936 0 0 15,80 15,80
Societe General 5.760 698 698 0 0 11,96 11,96
Paraná Banco 4.484 1.215 1.215 0 0 27,08 27,08
Intercap 4.467 687 684 0 0 15,37 15,31
CNH Capital 4.294 990 990 0 0 23,05 23,05
Bonsucesso 4.079 380 569 0 219 10,12 15,18
Indusval 3.912 586 582 0 0 14,81 14,91
Credit Agricole 3.260 757 778 0 21 23,22 23,85
Fidis 3.143 480 483 0 0 15,28 15,38
Sofisa 3.142 781 780 0 0 24,86 24,83
BDMG 3.070 1.460 1.070 0 0 47,55 34,85
John Deere 2.713 450 450 0 115 16,60 16,60
Industrial do Br 2.615 442 467 0 31 16,90 17,86
Rodobens 2.494 357 357 0 0 14,31 14,31
Sumitomo Mitsui 2.422 642 724 0 82 26,49 26,49
Estado de Sergipe 2.242 295 353 0 96 13,18 15,73
Estado do Pará 2.023 420 420 20,76 20,75
Tribanco 1.806 335 335 0 0 18,56 18,56

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Banco Ativos Capital Capital Instrumentos Dívida Capital Capital
ponderados Regulatório Regulatório Híbridos de Subordi- Nível 1 / total /
pelo risco Nível 1 Total Capital nada APR APR
(APR) (%) (%)
TokyoMitsubishi 1.795 1.097 1.097 0 0 61,10 61,10
Fator 1.742 429 429 0 0 24,62 24,62
Caixa Geral 1.633 474 474 0 0 29,06 29,06
Cacique 1.412 169 169 0 0 11,96 11,96
Intermedium 1.335 274 274 0 0 22,75 22,75
Ford 1.310 270 270 0 0 20,60 20,60
Rendimento 1.153 177 177 0 0 15,39 15,39
Pecunia 810 97 97 0 0 11,96 11,96
BANDES 798 160 160 0 0 20,00 20,00
Negresco 209 25 25 0 0 12,37 12,37
BPN Brasil 123 52 69 0 16 42,37 55,73
Fonte: Bankscope

Pode-se notar que todas as instituições encontravam-se enquadradas às normas vigentes, pois
apresentavam relação entre Capital Total e APR superior a 11%.
Tabela 5A Tabela 1e Tabela 6 apresentam o cronograma de vencimentos da dívida
subordinada e dos instrumentos híbridos de capital dos bancos estudados. O BNDES não foi
incluído, em virtude de indisponibilidade de suas Informações Financeiras Trimestrais no sítio
do BACEN.

Tabela 5 - Dívida Subordinada dos bancos analisados – Em R$ Mil – Base: Dezembro/2012


Banco Sem Até 3 3 a 12 1 a 3 anos 3 a 5 anos 5 a 15 anos Acima de
vencimento meses meses 15 anos
Banco do Brasil 16.603 177 0 5.324 3.748 11.332 0
Itaú Unibanco 0 733 2.411 5.329 16.000 13.626 0
Bradesco 0 728 1.453 4.192 9.332 19.186 0
CEF 0 101 889 2.227 2.020 6.954 0
Santander 0 1.442 2.285 2.337 5.587 268 0
HSBC 0 0 0 1.596 950 1.331 0
Votorantim 0 216 0 1.946 2.108 2.720 0
BTG Pactual 0 0 0 0 1.392 4.854 0
Safra 0 0 0 0 1.047 1.610 0
Banrisul 0 0 80 0 0 1.078 0
BMG 0 0 0 0 0 1.124 0
Nordeste do Brasil 0 0 0 0 0 0 1.332
Volkswagen 0 0 26 240 335 1.011 0
Industrial e Coml 0 0 12 0 65 879 0
Panamericano 0 146 16 0 0 1.032 0
Rabobank 0 10 16 0 300 613 0
Mercedes Benz 0 0 0 78 145 0 0
Mercantil do Br 0 26 0 56 0 540 0
Fibra 0 36 0,62 0 291 45 0
Pine 0 12 0 0 286 19 0
Bonsucesso 0 3 0 0 0 216 0
John Deere 0 0 0 0 0 0 115
Fonte: BACEN - Informações Financeiras Trimestrais – IFT – Relatório 7027: Obrigações – Vencimento

8
Tabela 6 - Instrumentos híbridos de capital e dívida – Em R$ Mil – Base: Dezembro/2012
Banco Sem Até 3 3 a 12 1 a 3 anos 3 a 5 anos 5 a 15 Acima de
vencimento meses meses anos 15 anos
Banco do Brasil 8.215 230 0 0 0 6.618 0
CEF 0 0 0 0 0 28.453 0
Nordeste do Brasil 0 0 74 0 0 0 1.128
Fonte: BACEN - Informações Financeiras Trimestrais – IFT – Relatório 7027: Obrigações – Vencimento

Em consulta realizada às notas explicativas dos demonstrativos financeiros dos maiores


bancos, constatou-se que os instrumentos de dívida subordinada mais utilizados são CDBs
subordinados, letras financeiras subordinadas e captações externas subordinadas.
Do exposto, cumpre notar que:
Nenhum banco possui dívida subordinada com característica de perpetuidade, à exceção do
Banco do Brasil (1ª linha da Tabela 5).
 Tabela 5Nas notas explicativas dos demonstrativos financeiros de Dez/2012, o
BNDES classificou como instrumentos híbridos os aportes da Secretaria do Tesouro
Nacional, e como dívida subordinada sem data de vencimento os recursos do FAT –
Fundo de Amparo ao Trabalhador.
À exceção de parcelas da dívida subordinada e dos instrumentos híbridos do Banco do Brasil
e do BNDES que eventualmente podem ser classificadas como Adicional de Capital Nível 1,
no caso demais bancos estes instrumentos são elegíveis apenas ao Capital Nível 2, pois
possuem data de vencimento definidas. Desta forma serão procedidos os seguintes ajustes:
 Banco do Brasil: os valores da dívida subordinada e dos instrumentos híbridos
apontados na Tabela 4 foram rateados entre Capital Adicional Nível 1 e Capital
Nível 2, de acordo com a proporção de instrumentos perpétuos apresentados na
 Tabela 5 e Tabela 6.
 BNDES: na impossibilidade de destacar o Capital Adicional Nível 1, todo capital
classificado como Tier 1 foi considerado como Capital Principal Nível 1.
Feitas as considerações, e admitindo-se por hipótese que o capital regulatório exigido ao final
do período de transição (2019) fosse requerido já em 2013, a situação dos bancos,
classificados por ordem de APR, é apresentada na Tabela 7.

Tabela 7 - Ajustes à base de capital dos bancos analisados – Em R$ Milhões


Banco Capital Capital Capital Capital Capital Capital Capital Capital
Principal Adicional Nível 1 Nível 2 Nível 1 e Principal Nível 1 / Total /
Nível 1 Nível 1 2 Nível 1 / APR (%) APR (%)
APR (%)
Banco do Brasil 50.293 26.476 76.769 29.261 106.030 (*) 6,91 (*) 10,55 14,57
Itaú Unibanco 71.418 0 71.418 38.099 109.517 10,90 (*) 10,90 16,71
Bradesco 65.887 0 65.887 34.852 100.739 11,02 11,02 16,85
BNDES 48.633 0 48.633 155.325 203.958 (*) 8,35 (*) 8,35 35,03
CEF 28.690 0 28.690 40.644 69.334 (*) 6,62 (*) 6,62 15,99
Santander 65.200 0 65.200 11.900 77.100 19,32 19,32 22,84
HSBC 9.737 0 9.737 3.880 13.617 10,56 (*) 10,56 14,77
Votorantim 7.875 0 7.875 6.991 14.866 (*) 9,30 (*) 9,30 17,56
BTG Pactual 10.250 0 10.250 6.246 16.496 12,16 12,16 19,57
Safra 6.824 0 6.824 2.657 9.481 9,90 (*) 9,90 13,75
Citibank 7.812 0 7.812 0 7.812 15,09 15,09 15,09
Itau BBA 6.283 0 6.283 0 6.283 16,70 16,70 16,70

9
Banco Capital Capital Capital Capital Capital Capital Capital Capital
Principal Adicional Nível 1 Nível 2 Nível 1 e Principal Nível 1 / Total /
Nível 1 Nível 1 2 Nível 1 / APR (%) APR (%)
APR (%)
Banrisul 4.877 0 4.877 1.158 6.035 15,06 15,06 18,63
BMG 2.508 0 2.508 1.226 3.734 (*) 7,78 (*) 7,78 (*) 11,58
do Nordeste 2.611 0 2.611 2.535 5.146 (*) 8,53 (*) 8,53 16,82
Volkswagem 2.046 0 2.046 1.613 3.659 (*) 9,41 (*) 9,41 16,82
JP Morgan 3.494 0 3.494 0 3.494 16,70 16,70 16,70
Industrial e Coml 1.959 0 1.959 947 2.906 10,48 (*) 10,48 15,55
PanAmericano 1.270 0 1.270 1.195 2.465 (*) 7,65 (*) 7,65 14,84
da Amazonia 1.946 0 1.946 0 1.946 14,82 14,82 14,82
Rabobank 1.052 0 1.052 939 1.991 (*) 8,11 (*) 8,11 15,35
Banco Daycoval 2.198 0 2.198 0 2.198 17,35 17,35 17,35
Deutsche Bank 1.499 0 1.499 0 1.499 12,96 12,96 (*) 12,96
Mercedes-Benz 1.172 0 1.172 223 1.395 10,72 (*) 10,72 (*) 12,76
Mercantil do Br 839 0 839 622 1.461 (*) 8,26 (*) 8,26 14,38
GMAC 1.207 0 1.207 0 1.207 12,31 12,31 (*) 12,31
Fibra 873 0 873 373 1.246 (*) 9,28 (*) 9,28 13,24
Pine 1.220 0 1.220 317 1.537 13,23 13,23 16,67
BRDE 1.336 0 1.336 0 1.336 15,84 15,84 15,84
BNG 936 0 936 0 936 15,81 15,81 15,81
Societe General 698 0 698 0 698 12,12 12,12 (*) 12,12
Parana Banco 1.215 0 1.215 0 1.215 27,10 27,10 27,10
Intercap 687 0 687 0 687 15,38 15,38 15,38
CNH Capital 990 0 990 0 990 23,06 23,06 23,06
Bonsucesso 380 0 380 219 599 (*) 9,32 (*) 9,32 14,68
Indusval 586 0 586 0 586 14,98 14,98 14,98
Credit Agricole 757 0 757 21 778 23,22 23,22 23,87
Fidis 480 0 480 0 480 15,27 15,27 15,27
Sofisa 781 0 781 0 781 24,86 24,86 24,86
BDMG 1.460 0 1.460 0 1.460 47,56 47,56 47,56
John Deere 450 0 450 115 565 16,59 16,59 20,83
Industrial do Br 442 0 442 31 473 16,90 16,90 18,09
Rodobens 357 0 357 0 357 14,31 14,31 14,31
Sumitomo Mitsui 642 0 642 82 724 26,51 26,51 29,89
Estado de Sergipe 295 0 295 96 391 13,16 13,16 17,44
Estado do Pará 420 0 420 0 420 20,76 20,76 20,76
Triangulo-Tribanco 335 0 335 0 335 18,55 18,55 18,55
TokyoMitsubishi 1.097 0 1.097 0 1.097 61,11 61,11 61,11
Fator 429 0 429 0 429 24,63 24,63 24,63
Caixa Geral 474 0 474 0 474 29,03 29,03 29,03
Cacique 169 0 169 0 169 11,97 11,97 (*) 11,97
Intermedium 274 0 274 0 274 20,52 20,52 20,52
Ford 270 0 270 0 270 20,61 20,61 20,61
Rendimento 177 0 177 0 177 15,35 15,35 15,35
Pecunia 97 0 97 0 97 11,98 11,98 (*) 11,98
BANDES 160 0 160 0 160 20,05 20,05 20,05
Negresco 25 0 25 0 25 11,96 11,96 (*) 11,96
BPN Brasil 52 0 52 16 68 42,28 42,28 55,28
(*) Desenquadramento ao novo capital regulatório
Fonte: o Autor

O novo capital regulatório faria com que 23 bancos dos 58 analisados passassem a estar
desenquadrados de alguma forma. Em 12 situações se verifica a existência de deficiência no
Capital Principal Nível 1; em 17 situações, o Capital Nível 1 não era suficiente, e por 8 vezes,
o Capital Total (Nível 1 + Nível 2) não atendia às normas. Não se procedeu ao cálculo dos
ajustes prudenciais, pela ausência de informações detalhadas que o permitissem.

10
É importante salientar que o cenário apresentado desconsidera a existência do phase-in à nova
regra, isto é, admitindo-se que o capital requerido em 2019 fosse exigido já em 2012. O tempo
de adaptação às novas regras, estabelecido pelo B.I.S. e ratificado pelo BACEN, fazem com
que os bancos consigam planejar suas ações de capitalização.

4.1 Capacidade dos bancos de atrair novos investidores

A deficiência de capital de 23 bancos suscita o questionamento se os mesmos são capazes de


atrair novos capitais. A resposta a esta questão será dada comparando-se o retorno sobre o
patrimônio dessas instituições com o custo do capital próprio. A Tabela 8 traz o retorno sobre
o patrimônio médio (ROE – return on equity) dos bancos analisados.

Tabela 8 - Retorno sobre o Patrimônio dos bancos analisados


Banco ROE ROE ROE Banco ROE ROE ROE
2012 2011 2010 2012 2011 2010
Banco do Brasil 19,86 22,45 27,04 BNG 6,39 5,43 15,8
Itaú Unibanco 22 21,97 25,92 Societe General -66,76 -45,94 -0,41
Bradesco 17,37 20,06 19,65 Parana Banco 17,03 37,4 14,53
BNDES 14,46 14,26 21,2 Intercap 2,71 3,92 1,24
CEF 27,19 29,62 26,34 CNH Capital 16,19 17,07 6,67
Santander 6,89 10,3 10,37 Bonsucesso 6,7 9,9 25,11
HSBC 13,13 15,48 15,7 Indusval 2,44 -4,66 6,78
Votorantim -24,46 -2,45 13,07 Credit Agricole 3,13 5,21 8,78
BTG Pactual 24,88 24,39 18,33 Fidis 10,88 16,9 12,86
Safra 19,32 21,57 19,92 Sofisa 3,26 3,53 9,91
Citibank 10,28 38,59 8,05 BDMG 5,45 7,5 8,3
Itau BBA 18,13 29,82 30,42 John Deere 16,63 28,1 52,36
Banrisul 17,22 21,78 19,03 Industrial do Br 10,3 7,03 10,12
BMG -17,67 19,6 27,03 Rodobens 13,99 16,34 12,93
do Nordeste 20,28 13,97 14,76 Sumitomo Mitsui 20,8 14,2 11,58
Volkswagem 12,07 10,03 11,22 Estado de Sergipe 34,58 42,53 32,3
JP Morgan 8,29 5,72 8,12 Estado do Pará 32,54 39,2 30
Industrial e Coml 5,64 9,4 18,74 Triangulo-Tribanco 7,36 10,43 18
PanAmericano -26,68 10,72 -20,01 TokyoMitsubishi 2,7 11,8 3,28
da Amazonia 8,37 4,07 7,42 Fator 4,64 -3,23 44,23
Rabobank 20,94 18,02 17 Caixa Geral 3,15 3,39 4,15
Banco Daycoval 17,2 16,35 15,83 Cacique -71,7 -99,63 2,81
Deutsche Bank 9,02 14,03 8,05 Intermedium 6,04 5,83 18,49
Mercedes-Benz 3,06 8,91 9,91 Ford 13,7 15,87 15,87
Mercantil do Br 8,46 11,43 21,75 Rendimento 21,82 28,54 21,66
GMAC 3,68 18,94 12,15 Pecunia -145,63 -62,17 -50,85
Fibra -13,58 -9,39 1,12 BANDES 2,72 7,38 8,55
Pine 19,96 17,17 13,98 Negresco 45,71 -106,25 25
BRDE 6,44 7,62 7,93 BPN Brasil -37,94 -76,44 -64,89
Fonte: Bankscope

O custo do capital próprio (KE) foi obtido por uma variante do modelo CAPM – Capital Asset
Pricing Model, denominada ICAPM ou International Capital Asset Pricing Model, de Solnik
(1974). O retorno do ativo, por este modelo, é dado pela Equação 1:
= + − + Equação 1

Onde:
é o retorno do ativo “i” negociado na bolsa “k”; neste caso, a BOVESPA.
é retorno do mercado global, considerado o S&P 500.

11
é o retorno do ativo livre de risco global, considerado os U.S. Treasuries de 10 anos
é o beta do ativo “i” com relação ao índice “k”; neste caso, o IBOVESPA.
é o beta do índice “k” com relação ao mercado global.
é o prêmio de risco soberano, medido pelo EMBI+Brasil.

O foi obtido a partir da média do yield to maturity dos Treasury Bonds do Tesouro
Americano colocados entre 2003 e 2012; o baseou-se nos retornos diários da carteira
teórica de ações de bancos brasileiros, tendo o Índice Bovespa como regressor; o é o Beta
do IBOVESPA regredido pelo S&P 500 e calculado com base nos retornos mensais de 1990
até 2013; o baseou-se na média dos retornos anuais do índice S&P 500 dos últimos 10
anos; e como adotou-se a média do EMBI + Brasil. Preferiu-se limitar a série utilizada do
EMBI + Brasil a cinco anos para evitar o período anterior à revisão do risco país para
investment grade. O KE resultante deve ser ajustado à realidade inflacionária brasileira; para
tanto, foi incorporado ao KE a média geométrica do IPCA de 2010, 2011 e 2012; e
deflacionado pela média geométrica dos CPIs (Consumer Price Index, dos EUA) naquele
mesmo período. Os parâmetros utilizados e o cálculo do KE são apresentados na Tabela 9.
Para definir a carteira teórica de bancos foi consultada a base de dados da Economática. À
exceção das ações do Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil, as séries de preço das ações
dos demais bancos apresentam falhas, inviabilizando-as para o cálculo do beta setorial. Estes
três bancos apresentaram betas de, respectivamente, 0,719, 0,847 e 1,012. Desta forma, com o
intuito de utilizar o beta mais representativo, definiu-se uma carteira teórica composta de
partes iguais de ações do ITAÚ UBB ON, BRADESCO ON e BANCO DO BRASIL ON,
ajustada diariamente. O foi regredido contra o Índice Bovespa e o período analisado
compreendeu 5 anos (julho/2008 a julho/2013); o valor resultante foi 0,8591.

Tabela 9 - Cálculo do KE
Beta carteira de bancos versus IBOVESPA 0,8591
Beta IBOVESPA versus S&P 500 1,2116
RM 8,71%
RF 3,46%
RM - RF 5,25%
EMBI+Br 232
KE (nominal, em US$) 11,25%
CPI - Consumer Price Index 2,29%
IPCA – Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo 6,08%
KE (nominal, em R$) 15,38%
Fontes: RM e RF (Damodaran); IBOVESPA e S&P 500 (Economática),
IPCA (IPEADATA), CPI (Burreau of Labor Statistics)

Dos 58 bancos analisados, 38 apresentaram ROE médio inferior ao custo de capital próprio,
calculado pelo ICAPM em 15,38%.
A Figura 1 resume a situação dos bancos no tocante ao enquadramento de Capital Principal
Nível 1 e no tocante à sua capacidade de atrair capitais. Foram traçadas duas linhas
pontilhadas: uma horizontal, representando o custo de capital próprio de 15,38% a.a.; e outra
vertical, indicando o Capital Principal Nível 1exigido de 9,5%. Estas linhas definem os
seguintes quadrantes:
 O quadrante I compreende os bancos que apresentam suficiência de capital
regulatório e retorno superior ao custo de capital (KE);

12
 O quadrante II compreende os bancos que apresentam suficiência de capital
regulatório, mas retorno inferior a KE;
 O quadrante III compreende os bancos que apresentam insuficiência de capital
regulatório e retornos inferiores a KE;
 O quadrante IV compreende os bancos que apresentam insuficiência de capital
regulatório, e retorno superior a KE.

Figura 1 - Requerimento de Capital Principal Nível 1 x ROE

Fonte: o Autor

Foram excluídos da figura os bancos com níveis de capitalização muito elevados, visando
permitir uma melhor visualização dos diagramas.
Verifica-se que parte considerável das instituições tem baixa alavancagem (quadrantes I e II)
e aparentemente não irá necessitar maiores ações visando o enquadramento à nova regra,
salvo, é claro, se os ajustes prudenciais forem de tal monta a ponto de alterarem esta
equação. Uma parte menor das instituições deverá empreender ações visando o
enquadramento: aquelas instituições mais rentáveis (quadrante IV) terão a oportunidade de
elevar o capital através da emissão de novas ações; aquelas menos rentáveis (quadrante III)
estarão mais vulneráveis e restará a elas como opção a redução dos Ativos Ponderados pelo
Risco. Pode-se constatar que os três maiores bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal e BNDES) estão posicionados no 4º quadrante.
A Figura 2 é similar à Figura 1, mas ela mostra o enquadramento ao Capital Nível 1.

13
Figura 2 - Requerimento de Capital Nível 1 x ROE

Fonte: o Autor

Se os instrumentos de capital e dívida passíveis de enquadramento como Capital Adicional


Nível 1 não tiverem liquidez no mercado, restará às instituições cumprir todo o requerimento
de Capital Nível 1 com a emissão de ações ordinárias. Esta é uma consideração muito factível,
pois não se transaciona no mercado local títulos com característica de perpetuidade, além das
ações. A Figura 2 partiu deste pressuposto, ao admitir que as instituições devam emitir ações
para atender ao requerimento de Capital Nível 1. As constatações da Figura 2 são semelhantes
àquelas da Figura 1.

5 CONCLUSÕES

O novo Acordo de Basiléia introduziu modificações importantes no que tange à qualidade do


capital dos bancos, e ao introduzir os buffers de conservação e contra cíclico, inclusive dando
instrumentos flexíveis aos bancos centrais para reduzir o capital requerido nos momentos de
retração econômica. O novo acordo irá representar um desafio para um pequeno número de
bancos brasileiros, que deverão se capitalizar para atender às novas normas.
Várias são as ações possíveis. A primeira delas consiste na elevação do capital através da
emissão de novas ações; esta medida, contudo, pode esbarrar na incapacidade da instituição
em gerar taxas de retorno atrativas. Daí se conclui que, paralelamente à ação de capitalização,
alguns bancos deverão buscar maior rentabilidade em suas operações. Estas ações
compreendem a contratação de ativos que apresentam uma relação retorno versus capital
econômico mais favorável e o direcionamento do foco para segmentos de mercado onde a
instituição tenha melhores condições de competitividade, além de buscarem maior eficiência
nas suas operações.

14
O novo Acordo de Capital poderá desencadear um novo ciclo de aquisições de bancos
menores pelos grandes bancos, cuja capacidade de capitalização é significativamente maior
que a das instituições de pequeno e médio porte. A fusão entre instituições de menor porte
poderá não ser a solução, pois dois bancos desenquadrados dificilmente irão resultar em um
banco enquadrado. No entanto, uma fusão pode proporcionar economia de escala e produzir
retornos que viabilizem a emissão de novas ações.
Uma solução adotada pelas instituições menores em momentos de restrição à liquidez tem
sido a securitização. No entanto, deve-se considerar que o BACEN possui regras que reduzem
a efetividade desta solução, principalmente quando não ocorre uma transferência significativa
de riscos (Resolução CMN nº 3.533). Logo, a securitização poderá ser uma solução de
alcance limitado.
Bancos de pequeno e médio porte poderão também buscar novas formas de operação. Assim,
é de se esperar que os bancos menores busquem desenvolver relacionamentos com o objetivo
de sindicalizar seus créditos; outros poderão firmar acordos operacionais com grandes bancos,
onde eles se dediquem a originar operações junto a seus canais de venda utilizando os padrões
de crédito dos bancos parceiros, com o objetivo de repassar-lhes esses ativos. Desta forma, o
banco menor adquire características de um prestador de serviços do banco maior.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN. 50 maiores bancos e o consolidado do Sistema


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