As instituições de acolhimento, as crianças “abandonadas” e a Psicanálise: uma “Ciranda de
Pedra?”. Ana Beatriz Werner - mestrado em Psicologia Aplicada na Universidade Federal de Uberlândia,
MG. anabeatrizwerner@hotmail.com. Tel 34 32146301
As instituições especializadas pela agregação de crianças surgiram no advento da
Modernidade, e tinham como justificativa o movimento crescente de organização das populações nas cidades. Tais instituições tiveram como paradigma à “Roda dos Expostos”. Esta estrutura da arquitetura moderna era constituída por uma caixa giratória cravada em um muro de pedra. Na caixa, os adultos deixavam os bebês, durante a madrugada, para que fossem cuidadas pelas igrejas e hospícios da Europa do século XVII. Ao longo do tempo, tais estabelecimentos asilares vieram sofrendo transformações. Das que impregnaram os discursos sociais, mais precisamente aqueles produzidos pelas “novidades” do século XX, temos as oriundas do discurso das disciplinas dos Direitos Humanos, da Pedagogia, da Psicologia. Estas disciplinas estabeleceram um modo de se constituir “saberes” sobre as crianças, não sem efeitos. Tais discursos acabaram por produzir um lugar próprio para a criança no discurso social moderno. A criança não existe senão como filho, isto quer dizer que, não há outro lugar de pertença cultural para a criança na Modernidade senão dentro de um grupo chamado “família nuclear”: pai-mãe-filho. A partir de então, seu negativo, a criança “abandonada” merece toda atenção. Então, de uma “Roda dos Expostos”, produzimos as chamadas “Instituições de acolhimento para crianças em situação de risco social”. Nesse momento, coloco um ponto em questão: o que pode ter se transformado desde a “Roda” até as chamadas “instituições de acolhimento de crianças em situação de risco social?”. Para delinear uma tentativa de resposta sobre o que esbocei acima, proponho esta comunicação livre. A partir de uma experiência de trabalho em um Abrigo para crianças, realizada no ano de 2003, na cidade de Uberlândia, MG, comecei a pensar na intersecção dos temas presentes no título - as instituições de acolhimento, as crianças “abandonadas” e a Psicanálise – me questionando sobre os modos em que se constitui, na contra-corrente do discurso social, um lugar de pertença humana para tais crianças.