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O Arquipélago da Madeira

Chapter · January 2013

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10 authors, including:

João Mata P. E. Fonseca


University of Lisbon University of Lisbon
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Susana Prada Sofia Martins


IVAR - Instituto de Investigação em Vulcanologia e Avaliação de Riscos IDL - Insituto D. Luís
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O arquipélago da Madeira

J. Mata1,2; P.E. Fonseca1,2; S. Prada3,4; D. Rodrigues4,5; S. Martins1,2;R.


Ramalho6; J. Madeira7; M. Cachão1,2; C.M. Silva1,2; M.J. Matias8

1- Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa; Departamento de Geologia


(GeoFCUL).
2- Centro de Geologia da Universidade de Lisboa (CeGUL).
3- Centro de Estudos da Macaronésia.
4- Universidade da Madeira (UMa).
5- Centro de Geologia da Universidade do Porto (CGUP).
6- Department of Earth Sciences, University of Bristol (United Kingdom).
7- Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental (Lattex). Instituto D.
Luís.
8- Instituto Superior Técnico. Centro de Petrologia e Geoquímica (CEPGIST).

1
I. O ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA NO QUADRO DA GEOLOGIA ATLÂNTICA
J.Mata; J. Madeira; S. Martins & R. Ramalho

I.1 POSICIONAMENTO GEOGRÁFICO-GEOLÓGICO


O arquipélago da Madeira (30º-33ºN) ocorre no Atlântico oriental onde,
conjuntamente com os Açores, Canárias e Cabo Verde, constitui a Macaronésia (do
grego makarón neseu → Ilhas Afortunadas). Correspondendo a somente cerca de
5.4% das terras emersas da Macaronésia, o arquipélago é administrativamente

formado pelas ilhas da Madeira (737 km2), Porto Santo (42 km2), Deserta Grande

(10.3 km2) e Selvagem Grande (2.4 km2) e por alguns ilhéus adjacentes aos
principais edifícios insulares.
Este conjunto de ilhas e ilhéus, agrupado no mesmo arquipélago é, no entanto,
passível de subdivisão em dois grandes grupos se se tiverem em consideração
características geográfico-geológicas. Do ponto de vista geográfico refira-se a
grande proximidade entre a Madeira e Porto Santo (40km) ou as Desertas (17 km),
em oposição ao que se verifica relativamente às Selvagens que se constituem como
um caso individualizado deste conjunto, situando-se 290 km a SSE da Madeira. Por
outro lado, como há muito vem sendo realçado (e.g. Morais, 1948; Ferreira, 1985),
a instalação das ilhas que constituem o arquipélago em causa processou-se em
domínios morfo-estruturais algo distintos (Fig. 1). Na realidade, o grupo Madeira–
Desertas-Porto Santo (MDPS) situa-se em pleno domínio oceânico, enquanto que as
ilhas Selvagens se posicionam, tal como as ilhas Canárias, de que estão mais
próximas (≈160 Km), num importante alto batimétrico que se alonga próximo da
transição entre os domínios oceânico e continental africano (e.g. Geldmacher et al.
2001; Krastel & Schmincke, 2002). Também os dados geoquímicos permitem a
individualização das Selvagens das restantes ilhas do arquipélago da Madeira e a
sua integração na província vulcânica das Canárias (e.g. Geldmacher et al., 2005;
ver VI)
O grupo Madeira–Desertas-Porto Santo apresenta uma configuração radiada
tripla, com a Madeira orientada na direcção E-W, Porto Santo na direcção NE-SW e
as Desertas na direcção NNW-SSE. Note-se, no entanto, que mesmo neste grupo se
podem estabelecer dois subgrupos. Assim, enquanto que o facto de a isóbata dos
200 metros unir a Madeira e as Desertas sugere, apoiado em semelhanças
geológicas entre ambas, que as Desertas se possam considerar como o
prolongamento natural da Madeira, já o Porto Santo deve considerar-se como uma
entidade individualizada do conjunto. De facto, esta ilha, que está separada da
Madeira por um canal onde as isóbatas descem até aos 2 500 m, é bastante mais
antiga, caracteriza-se, em oposição à Madeira, por uma grande expressão do

2
vulcanismo submarino e apresenta uma litologia muito mais diversificada,
consubstanciada na abundância de vulcanitos ácidos (Ferreira, 1985).

Fig.1 - O Arquipélago da Madeira no quadro da geologia atlântica. O posicionamento das


anomalias magnéticas é o proposto por Verhoef et al. (1991). A seta retrata a migração
de idades desde os 67 Ma de Ormonde, no Banco de Gorringe, até ao Holocénico na ilha
da Madeira, por acção da pluma mantélica que se considera responsável pelo
alinhamento Ormonde, Ampere, Seine, Porto Santo e Madeira (Geldmacher et al., 2000;
2005). PS: Porto Santo; D: Desertas; PAM: Planície Abissal da Madeira.

Madeira e Desertas têm vindo a ser consideradas (Geldmacher et al., 2000;


Schwarz et al., 2004; 2005) como a expressão de dois braços de rift intersectando-
se segundo um ângulo próximo de 110º na região da Ponta de S. Lourenço, na
extremidade E da Madeira (Fig. 2). Refira-se, também, a ocorrência no flanco Sul
da ilha da Madeira, à longitude do Funchal, de um alinhamento de cones vulcânicos

3
submarinos (Crista do Funchal), com diâmetros da ordem de 1.5 a 3 km e alturas
até 600m (Klügel & Klein, 2006; Geldmacher et al., 2006a).

Fig.2 - Grupo Madeira-Desertas-Porto Santo e batimetria da zona envolvente. As zonas


de rift estão marcadas de acordo com Geldmacher et al. (2000) e Schwarz et al. (2004).
A posição aproximada da Crista do Funchal é também indicada.

Por outro lado, os edifícios vulcânicos cujos topos culminam na Selvagem


Grande, Selvagem Pequena e ilhéus adjacentes formam um alinhamento NE-SW
que, prolongando-se até ao monte submarino Dacia, tem uma orientação próxima
da patenteada pelas ilhas de Fuerteventura e Lanzarote (Arquipélago das Canárias)
e por alguns alinhamentos de montes submarinos descritos na região (Fig. 1).
O Arquipélago da Madeira está situado na placa africana, mais concretamente,
na região intraplaca limitada a oeste pela crista média atlântica, a norte pela
complexa estrutura Açores-Gibraltar e a sudeste pelo cratão oeste-africano (Fig. 1).
A actividade sísmica de tal região é baixa (e.g. Moreira, 1991) sendo, na maior
parte dos casos, reflexo dos sismos que são gerados na fronteira de placas Açores -
Gibraltar ou nas falhas activas que retalham as plataformas continentais oeste-
ibérica e africana (Moreira, 1991; Carvalho & Brandão, 1991).
O posicionamento do grupo Madeira–Desertas-Porto Santo é limitado pelas
anomalias magnéticas M16 e M4, enquanto que as Selvagens se posicionam
próximo da anomalia M25, significando que o conjunto das ilhas do arquipélago se

4
terá implantado em regiões onde a crosta oceânica terá idades entre ≈ 125 e ≈ 156
Ma. A região caracteriza-se por altos valores de admitância (i.e. da razão entre os
valores das anomalias do geóide e de profundidade) compatíveis com uma
espessura litosférica da ordem da centena de quilómetros (Cazenave et al. 1988),
que está de acordo com o expectável, atendendo à idade da crosta oceânica na
região.
A principal ilha do Arquipélago (Madeira) constitui o extremo meridional de dois
importantes alinhamentos fisiográficos. Para NNE, e por cerca de 1400 km,
estende-se a Crista Madeira-Tore englobando, também, Porto Santo e os montes

submarinos de Dragon, Lion, Josephine, Ashton e Tore. Para nordeste desenvolve-

se, por cerca de 700 km, um outro alinhamento que para além da Madeira inclui os
montes submarinos de Seine, Unicorn, Ampere e Ormonde (banco de Gorringe).
Este último conjunto de montes submarinos, alguns com topos aplanados
interpretáveis como importantes plataformas de abrasão que indicam a sua prévia
condição insular, poderão ter funcionado como "stepping stones" durante a
dispersão faunística que, no Terciário, se terá processado da Península Ibérica para
a Madeira. Tal explicaria, segundo Waldén (1984), as afinidades europeias das
formas endémicas de moluscos madeirenses, onde não se encontram
representados grupos de proveniência africana, não obstante a ilha se encontrar
significativamente mais próxima do continente africano (≈ 600 km) do que da Ibéria
(≈ 900 km).
A cerca de 600 km para ocidente da Madeira, desenvolve-se, aos 5400 m de

profundidade, a Planície Abissal da Madeira (≈ 68 000 km2). Trata-se de uma


planície formada essencialmente pela acumulação de turbiditos entre os quais se
intercalam finas unidades pelágicas. A deposição deste sedimentos (≈ 19 180 km3),
que atingem espessuras superiores a 400 m, ter-se-á iniciado no Cretácico inferior
e as taxas de sedimentação terão variado em função de factores climáticos e da
importância da actividade magmática em áreas relativamente próximas. Os
turbiditos ricos em materiais vulcânicos ter-se-ão originado preferencialmente na
Canárias e, em menor grau, nas regiões de Great Meteor/Cruise e Madeira (e.g.
Lebreiro et al. 1998; Alibés et al. 1999).

I.2 GEOCRONOLOGIA
Em regiões em que, como nas ilhas vulcânicas em referência, não abundam
formações fossilíferas, as datações isotópicas assumem um papel preponderante no
desenvolvimento de modelos vulcano-estratigráficos e no testar de hipóteses que
invoquem a actuação de plumas mantélicas como causa da actividade magmática.

5
Fig.3 - Quadro resumo das idades isotópicas publicadas relativas às ilhas do
arquipélago da Madeira, construído com base nos trabalhos citados no texto.

No Arquipélago da Madeira os primeiros trabalhos de geocronologia isotópica


foram realizados por Watkins & Abdel-Monem (1971) que, através do métofo K-Ar,
dataram a sequência lávica da Ribeira de Porto Novo (ilha da Madeira) e duas
outras amostras colhidas na região central da ilha. Esta metodologia viria a ser
utilizada pelos autores que, até ao final da década de 90 do século XX, foram
publicando datações isotópicas sobre estas ilhas (Ferreira et al., 1975; 1988;
Fèraud et al., 1984; Mata et al., 1995; Mata & Munhá, 1999). A partir de 1999 o
40
método Ar/39Ar passa a ser privilegiado pelos que se ocuparam das formações
vulcânicas (Ech-chakrouni et al., 1999; Geldmacher et al., 2000; 2001; Ech-
chakrouni, 2004; Schwarz et al., 2005; Klügel et al., 2009). Refira-se que isótopos
de carbono foram utilizados para datar as formações dunares de Porto Santo e da
Madeira (Lietz & Schwarzbach, 1971; Silva, 2003) e em carvões como forma de
datar indirectamente um evento vulcânico holocénico (Geldmacher et al., 2000). Os
resultados estão sumariados na Fig. 3 e permitem realçar:
1- uma gama de idades para as formações lávicas de Porto Santo (18.8 – 10.2
Ma; Ferreira, 1985; Ferreira et al., 1988) significativamente maior à que vem
sendo repetidamente referida (14-11 Ma) por Geldmacher et al.(2000; 2005;
2006a);
2-a antiguidade de Porto Santo relativamente ao conjunto Madeira-Desertas, o
que explica o relevo muito mais maturo de Porto Santo e o facto de aqui a
parte emersa representar somente cerca de 0.1% do volume do edifício insular,
em oposição ao que se verifica na Madeira onde tal valor é ainda de cerca de
4.2% (veja-se Schmincke, 1982);

6
3- o facto de, ao contrário do que indicam Geldmacher et al. (2000), a
actividade vulcânica nas Desertas ser contemporânea da ocorrida na Madeira
(veja-se Ech-chakrouni, 2004; Mattielli et al., 2005; Ribeiro et al., 2005;
Schwarz et al., 2005);
4- o facto de, ao contrário do sugerido por Geldmacher et al. (2000), não
ocorrer, na Madeira, hiato na actividade vulcânica entre os 3.9 e os 3.0 Ma
(veja-se Ech-chakrouni, 2004; Mattielli et al., 2005);
5- a significativa gama de idades (> 20 Ma) que caracteriza a Selvagem
Grande (Geldmacher et al., 2001) o que, em conjunto com os pronunciados
hiatos na actividade vulcânica (≈ 12 e 5 Ma), deve ser entendido, em parte,
como resultado da muito baixa velocidade de deriva da placa africana (≈1.2
cm/a).

I.3 A MADEIRA COMO PONTO QUENTE

Não existem, à escala do Arquipélago da Madeira, trabalhos que, pela sua


resolução, permitam avaliar de um modo pormenorizado a região em termos
gravimétricos e da velocidade de propagação das ondas sísmicas. No entanto a
Madeira vem sendo explicada como resultando da actuação de uma pluma
mantélicas.
Como referido, a Madeira constitui o extremo sudoeste da Crista Madeira-Tore.
O facto de tão importante acidente fisiográfico patentear uma estrutura linear, de a
Madeira ser consensualmente considerada como um ponto quente (e.g. Burke &
Wilson, 1976; Crough & Jurdy, 1980) e de, para além da Madeira e Porto Santo,
pelo menos também Josephine (Wendt et al., 1976) e Dragon (Laugthon et al.,
1960) serem de há muito considerados de origem vulcânica, poderia indicar
estarmos em presença do resultado da actuação, não instantânea, de uma pluma
mantélica que, tal como sugerido por Morgan (1982), Crough (1983) e Ferreira et
al. (1988), teria na Madeira a sua expressão mais recente. Esta ideia é, em
primeira aproximação, apoiada pelo facto de Ferreira (1985) ter demonstrado a
migração das idades do vulcanismo, do Porto Santo para a Madeira e por a
velocidade deste modo inferida para a translação da placa litosférica ser
semelhante à resultante da expansão atlântica.
No entanto, e como inicialmente enfatizado por Mata et al. (1995), a análise
dos dados entretanto disponíveis não permite a aceitação de um tal modelo para a
crista Madeira-Tore (vejam-se também Mata, 1996; Mata & Munhá, 1999;
Geldmacher et al. 2000; 2006b; Merle et al., 2006). Na verdade:

7
1- a orientação da Crista Madeira-Tore é quasi-paralela à das anomalias
magnéticas abissais, em oposição ao teoricamente previsível num modelo de
pluma mantélica;
2- a comparação das idades dos basaltos alcalinos ocorrentes nos montes
submarinos de Josephine (16 a 8 Ma) e Eric (3.6 Ma) (veja-se Wendt et al.,
1976; Geldmacher et al., 2006b) e na ilha de Porto Santo (18.8 a 10.2 Ma;
Ferreira, 1988) não depõe a favor de tal hipótese que, ao contrário do verificado,
implicaria uma diminuição da idade do vulcanismo para sudoeste;
3- os dados gravimétricos de Peirce & Barton (1991) sugerem que, na região
de Josephine, parte da Crista Madeira-Tore seja contemporânea da porção
crostal onde se insere. Estes autores interpretaram-na como uma crista
assísmica conjugada da que, na margem oeste do Atlântico, tem sido
denominada de "J-Anomaly Ridge" (≈122 Ma).

A Crista Madeira-Tore deve, portanto, ser considerada como uma estrutura


compósita não atribuível, no seu todo, aos efeitos da actuação de uma mesma
pluma mantélica. Terá sido inicialmente gerada ao longo do Rift Médio-Atlântico,
pela interacção da pluma das Canárias com o rift que à altura (Cretácico inferior)
coincidiriam espacialmente. Foi posteriormente sede de vulcanismo alcalino cujas
primeiras manifestações terão ocorrido no Cretácico superior (104 Ma: monte
submarino de Sponge Bob; Merle et al., 2006), tendo-se, a actividade magmática,
prolongado até ao Plistocénico (Geldmacher et al., 2006b).
Mata et al. (1995) e Mata (1996) deixaram implícito que o facto de o
alinhamento que, englobando a Madeira, se estende para NE passando por Ampere,
ter uma orientação semelhante à direcção proposta por Holik et al. (1991) para a
expressão superficial da pluma mantélica das Canárias e, também, à direcção do
alinhamento formado pelas Selvagens e o banco Dacia, poderia putativamente
sugerir estarmos na presença do resultado da actuação de uma pluma mantélica.
Esta hipótese seria comprovada por Geldmacher et al. (2000; 2005) e Geldmacher
& Hoernle (2000) que, ao terem tido a oportunidade de dragar os referidos montes
submarinos, propuseram através da demonstração de uma nítida progressão de
idades (40Ar/39Ar) e de uma certa coerência geoquímica, estarmos na presença de
um “hotspot track” que, estendendo-se por cerca de 700 km, retrata a actuação de
uma pluma mantélica durante um período de cerca de 70 Ma. A mais recente
actividade vulcânica relacionada com esta pluma terá ocorrido na Madeira onde
13
Geldmacher et al. (2000) obtiveram idades C/12C da ordem de 6500 anos ou, de
forma hipotética, em ambiente submarino a SSW da Madeira onde Geldmacher et al.
(2006a) posicionam actualmente o eixo da pluma.

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O referido “hotspot track” caracteriza-se por um espaçamento muito irregular
de ilhas e monte submarinos o que, aliado a períodos (até ≈30 Ma) sem indícios de
actividade magmática é explicável admitindo um carácter intermitente de tal
estrutura plúmica (Geldmacher & Hoernle, 2000) e o facto de a grande espessura
da litosfera a tornar menos vulnerável aos efeitos da pluma. Esta caracterizar-se-á
por um fluxo de flutuabilidade (1 x 103 kg.s-1) significativamente inferior ao que
caracteriza, por exemplo, as plumas do Hawaii (8.7 x 103 kg.s-1) e de Cabo Verde
(1.6 x 103 kg.s-1) (Sleep, 1990).
Já para a origem das Selvagens se poderá invocar, baseados no seu
posicionamento geográfico-geológico e nas suas afinidades químicas (Geldmacher
et al., 2001; ver VI) o papel da pluma das Canárias (Geldmacher et al., 2005). O
“hotspot track” por esta desenhado é menos bem definido que o da Madeira o que
poderá, segundo estes autores, reflectir o previsível efeito da “edge driven
convection” provocado pela proximidade do cratão africano.
Hoernle et al. (1995) demonstraram que a região oriental do Atlântico Central,
onde se inclui o Arquipélago da Madeira, se caracteriza em profundidade por
significativa anomalia de propagação de ondas S. Tal anomalia, apresentando
forma tabular e uma ampla extensão (2500 x 4500 km), desenvolve-se até
profundidades da ordem de 500 km. Nesta perspectiva, Mata et al. (1998)
consideraram o grupo Madeira-Desertas-Porto Santo como o resultado da actuação
de uma estrutura plúmica consequente da destabilização de tal anomalia que, a
julgar pelos dados de tomografia sísmica (Grand, 2004; Montelli et al., 2006),
poderá ser alimentada por uma pluma mantélica profundamente enraizada no
manto inferior.
A ocorrência de várias estruturas plúmicas geradas por desestabilização da
referida zona anómala no manto superior poderia ser causa da ocorrência na região
de outros alinhamentos vulcânicos (e.g. Canárias; veja-se também Abratis et al.,
2002) e explicar, pelo menos parcialmente, a muito dispersa actividade magmática
que desde o Cretácico vem caracterizando esta região do planeta, tanto em
ambiente oceânico como continental (e.g. Lustrino & Wilson 2007; Miranda et al.,
2009).

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II. A ILHA DA MADEIRA: SÍNTESE GEOLÓGICA
J. Mata; P.E. Fonseca; D. Rodrigues; S. Prada

II.1 GEOMORFOLOGIA
A ilha da Madeira (737 km2) apresenta uma forma alongada aproximadamente
segundo E-W, direcção ao longo da qual se estende por cerca de 58 km.
Corresponde, enquanto entidade emersa, a somente 4.2% de um grande edifício
vulcânico que terá uma altura de aproximadamente 6 000 m um volume de 9.2 x
103 km3 (Shmincke, 1982).

Este atinge o seu ponto mais alto no Pico Ruivo de Santana (1 862 m), situado
na região central da ilha, à longitude do Funchal. Cerca de 35% da área emersa da
Madeira possui altitudes superiores a 1000 m, acima da cota 500 se situando 90%
desta ilha (e.g. Mitchell-Thomé, 1979; Ribeiro, 1985) (Fig. 4).

Fig.4 - Modelo digital de terreno da ilha da Madeira, com representação das curvas de
nível dos 500m e 1000 m. Cortesia de Uriel Abreu (veja-se Abreu, 2007).

A referida orientação e o facto de os ventos predominantes provirem de nordeste


(e.g. Gaspar, 1984) determinam uma vertente norte caracterizada por valores
médios de precipitação significativamente superiores aos verificados na encosta sul.
A elevada pluviosidade média anual desta ilha, que em certos locais atinge valores
superiores a 3000 mm (e.g. Loureiro, 1984), explicar-se-á pelo facto de os ventos
dominantes de nordeste serem bastante húmidos, como consequência do seu
trajecto sobre a corrente quente do Golfo (Ferreira, 1955; Nascimento, 1990).
A grande altitude média da ilha da Madeira, associada à relativa abundância de
formações piroclásticas e à elevada pluviosidade, confere ao agente exógeno água
uma grande capacidade modeladora do relevo que é caracterizado por uma grande

10
imaturidade. Na realidade, um dos aspectos mais característicos da geomorfologia
madeirense, prende-se com a profusão de vales profundamente encaixados por
onde fluem as águas de ribeiras cujo grande poder erosivo se explica, em parte,
pelo carácter não raramente torrencial da pluviosidade (e.g. 55mm numa hora na
região do Funchal em Fevereiro de 2010). Os cursos de água são, no geral, curtos
(< 10 km) e de orientação aproximadamente perpendicular à linha de costa e, em
alguns casos, a separação entre as cabeceiras de ribeiras, correndo para norte e
para sul, é extremamente reduzida (≤ 200 m).
O mais longo curso de água (ribeira da Janela) situa-se na parte ocidental da
ilha, possuindo cerca de 22 km de extensão e constituindo, pela sua orientação,
excepção à generalização anterior. Na realidade, se o seu troço inferior se
apresenta com uma direcção (≈ N-S) perpendicular à linha de costa, já a montante
muda repentinamente a sua orientação, em cerca de 65º, passando até à cabeceira,
a ser próxima de N35W. Esta inflexão foi por Carvalho & Brandão (1991) explicada
pelo prosseguimento do recuo da cabeceira por aproveitamento de uma eventual
falha que, segundo Mata (1996), estará materializada por um dos alinhamentos de
aparelhos vulcânicos recentes na região do Paúl da Serra (veja-se também II.2).
A rede hidrográfica apresenta indícios de uma extrema juventude que se traduz,
por exemplo, na reduzida importância da erosão lateral das vertentes e das
capturas bem como, em perfis longitudinais com declives acentuados que se
observam mesmo nas ribeiras de maior grau de maturação (Ribeiro, 1948; 1985).
Os perfis transversais e longitudinais de tais vales são grandemente variáveis,
tendo Mitchell-Thomé (1979; 1985) demonstrado a sua estreita dependência em
relação às características mecânicas das formações entalhadas. Os declives
longitudinais e a verticalidade das paredes são menores em formações piroclásticas,
ou lávicas profundamente alteradas, do que nos casos em que há predomínio de
mantos não meteorizados onde, como tal, a competência do maciço rochoso é
maior. Nestes casos existe tendência para os vales apresentarem perfis
transversais em U.
Os grandes declives, tão típicos da morfologia madeirense originam, pela
instabilidade mecânica que conferem aos perfis de alteração, a abundância de
substâncias amorfas e de esmectites mal cristalizadas que caracteriza os produtos
da meteorização das rochas vulcânicas uma vez que, propiciando uma rápida
evacuação dos materiais de alteração, não oferecem as melhores condições para a
génese dos minerais das argilas (Romariz & Prates, 1986). Note-se que a presença
de tais substâncias amorfas está também condicionada pela natureza da rocha mãe,
uma vez que Furtado (1984) afirma, ter a sua formação, sido favorecida pela
presença de piroclastos finos. Os minerais de argila encontram-se bem

11
desenvolvidos nos solos, onde a sua composição está dependente quer da
zonalidade altitudinal do clima, quer de factores litológicos (Furtado, 1984; Furtado
& Fonseca, 1991). Nas regiões mais secas predomina a montmorilonite, enquanto
que nas mais húmidas predomina a gibsite associada a minerais do grupo da
caulinite
A acumulação dos materiais argilosos, em regiões de declive não muito abrupto,
tem propiciado condições para o aparecimento de movimentos de massa de tipo
“creep” como os estudados por Rodrigues & Ayala-Carcedo (1994) na região de
Machico.
A frequente ocorrência de caulinite e de montmorilonite reflecte-se bem na
composição química das águas subterrâneas, como o demonstram os diagramas de
equilíbrio químico apresentados por Almeida et al. (1984).
Com base no quimismo das águas subterrâneas Van der Weijden & Pacheco
(2003) estimaram uma taxa de denudação química de 37 ± 12g/(m2.a) o que se
traduzirá num consumo anual de CO2 da ordem de 0.86 ± 0.38 mol/m2.

II.1.1 CURRAL DAS FREIRAS


Aspecto geomorfológico importante é o da existência, na região central desta
ilha, de duas enormes depressões tendencialmente circulares (Curral das Freiras e
Serra d'Água) cuja imponência, traduzida, por exemplo, na existência de paredes
verticais com cerca de 600 m de altura, as transformou em verdadeiras atracções
turísticas. A mais espectacular e importante destas depressões é a do Curral das
Freiras que é drenada pela muito encaixada ribeira dos Socorridos.
Não obstante Mitchell-Thomé (1980) a considerar de origem vulcânica, a sua
génese é normalmente encarada como puramente exógena, sendo tal depressão
encarada como um grande circo de erosão talhado em formações pouco coerentes
em região de elevada pluviosidade (e.g. Machado, 1965; Zbyszewski, 1971; Ribeiro,
1985; Carvalho & Brandão, 1991; Mata, 1996).
Aceitando o carácter exógeno desta depressão fazemos, no entanto, notar que em
nossa opinião o factor determinante para a sua génese terá sido a ocorrência de
grandes movimentos de vertente de que é exemplo o escorregamento rotacional
que deu origem à plataforma onde está instalada a povoação do Curral das Freiras
e que corresponde ao topo de uma grande massa rochosa deslocada. (Rodrigues,
2005; ver II.3)

II.1.2 O PAÚL DA SERRA


A parte ocidental da ilha apresenta como principal estrutura morfológica, a
região planáltica do Paúl da Serra. Esta, com cerca de 17 km de comprimento e

12
uma largura máxima de 6 km, tem uma área próxima de 25 km2 o que é de certa
forma surpreendente se tivermos em atenção a sua altitude média rondando os 1
400 m e o carácter geomorfologicamente muito imaturo de grande parte da ilha,
que se traduz no seu relevo fortemente acidentado.
Regiões planálticas de menor importância ocorrem a oriente onde estão, tal
como no Paul da Serra, associadas a escoadas quasi-horizontais. É disto exemplo
mais flagrante a região de Chão de Balcões - Poiso - João do Prado, a sudeste do
Pico do Areeiro. Estas superfícies, caracterizando-se por altitudes médias grosso-
modo semelhantes poderão, em conjunto com a do Paúl da Serra, ser consideradas
como retalhos de uma vasta zona planáltica, o que parece corroborado pelo facto
de os próprios cumes, na muito acidentada região do Maciço Vulcânico Central,
apresentarem, com algumas excepções notáveis, altitudes pouco variadas e não
muito distintas das verificadas no Paúl da Serra e demais superfícies planálticas
(Ribeiro, 1985).
Tal planalto, que se desenvolveria ao longo do eixo topográfico insular, pode
ser considerado como a superfície culminante do escudo achatado que a ilha
formaria no dealbar do que adiante denominaremos de "Fase matura" ou seja,
numa altura em que, apesar do declinar da actividade magmática, os processos de
erosão não tinham alterado de forma drástica a morfologia vulcânica que, em
amplos sectores da ilha, se manteria ainda quase intacta.
De facto, as escoadas lávicas tendencialmente horizontais que no Paúl da Serra
e demais regiões planálticas materializam tal planura, ainda que localmente possam
estar separadas das séries vulcânicas anteriores por superfícies erosivas (e.g.
Mitchell-Thomé, 1979; Nascimento 1990; Geldmacher et al., 2000), mais não
fizeram do que capear um edifício que na sua região central já se caracterizava pela
quasi-horizontalidade, dado ser essa a atitude geral dos empilhamentos vulcânicos
formados nas fases precedentes. Tal aspecto é, por exemplo, perfeitamente
observável na incisão provocada pela ribeira da Janela que permite uma visão
tridimensional da estrutura geológica da região do Paúl da Serra.
Daqui se conclui que o planalto do Paúl da Serra é uma superfície estrutural
correspondente ao topo de um espesso empilhamento de produtos vulcânicos de
estruturação quasi-horizontal. Esta superfície plana deverá pois, e em oposição ao
que é mais usual pensar-se de tais formas de relevo, ser encarada como um
testemunho da grande imaturidade do relevo madeirense.
Refira-se que esta região bem como as zonas mais altas da ilha, na região
central, estiveram submetidas, durante o Wurm, a um regime periglaciário (Ferreira,
1981) ou mesmo glaciário (Brum da Silveira et al., 2006) como o demonstram a
presença de formas e materiais de origem crionival.

13
II.1.3 O LITORAL
A ilha da Madeira é bordejada, em mais de 80% do seu perímetro, por bem
marcadas arribas caracterizadas por impressionantes alcantis que atingem, no Cabo
Girão, os 580 m. Realce merece, também, o facto de na parte ocidental da ilha,
entre a Ponta do Pargo e a Ponta do Tristão, se desenvolver uma arriba que, pela
sua altura (> 250 m), extensão (≈15 km) e carácter contínuo, só encontra paralelo,
segundo Guilcher (1984), com o que se observa na costa chilena.
O traçado da linha de costa apresenta-se claramente secundarizado visto só
pontualmente se apresentar como resultante próxima de processos anamorfismo
terrestre. Tal secundarização poderá ter sido facilitada pela presença de acidentes
tectónicos. De facto, não raramente, a envolvente da linha de costa pode
considerar-se rectilínea (e.g. Jardim do Mar - Fajã do Mar; Ponta Delgada - S. Jorge;
Ponta do Pargo - Ponta do Tristão) truncando formas ou estruturas de disposição
variada, o que depõe a favor de uma morfogénese costeira, pelo menos em parte,
tectonicamente controlada (veja-se II.3).
As formas de acumulação costeira são escassas e, na maior parte dos casos, de
origem directamente dependente do desmonte das arribas. Refira-se a título de
exemplo o desabamento verificado em Fevereiro de 1992 na arriba da Penha de
Águia que originou, na base desta, um depósito com cerca de 300 m de diâmetro e
1 800 000 m3 de volume (Rodrigues & Ayala-Carcedo, 1994) (veja-se II.2). Raras
são, também, as praias arenosas cujos exemplos mais importantes se encontram
na "Ponta de S. Lourenço". Aqui existem duas pequenas ocorrências, com pouco
mais de 100 m de extensão, caracterizadas pela presença de calcarenitos que,
segundo Romariz (1971), patenteiam, em simultâneo, características marinhas e
eólicas.
Refiram-se as diferenças significativas entre as costas meridional e setentrional,
tanto no que diz respeito à parte emersa como à imersa.
No que respeita à parte imersa refira-se que, não obstante a semelhança de
declives a profundidades abaixo da centena de metros, a costa meridional é orlada
por uma plataforma muito mais estreita do que o verificado a norte. Tal diferença é,
como realçado por Carvalho & Brandão (1991), particularmente evidente a leste do
meridiano S. Jorge/Funchal para onde referem, em relação à isóbata dos 100 m,
distanciamentos da linha de costa de cerca de 4 km a norte e 1.5 km a sul. Estes
valores são significativamente inferiores aos verificados para Porto Santo onde a
isóbata dos 100 m chega a distanciar cerca de 14 km da linha de costa (veja-se IH,
1974; 1990) o que se explicará pela maior idade desta ilha que, por isso, se
apresenta num estado de degradação muito mais avançado.

14
A citada dissimetria entre os litorais meridional e setentrional da Madeira foi
explicada, por Ribeiro (1985), pelo mais rápido recuo das arribas, a norte, o que
poderá ser considerado consequência de uma maior dinâmica hidráulica, resultante
da predominância setentrional dos rumos eólicos. Em apoio desta hipótese, refira-
se a maior frequência de ilhéus e baixios na plataforma norte o que sugere um
rápido recuo das arribas, acompanhado pela libertação de relevos resistentes sobre
uma plataforma rochosa relativamente pouco profunda.
Curiosamente, no entanto, é na costa norte que se encontram as excepções
mais evidentes ao carácter secundarizado da linha de costa madeirense que,
localmente, apresenta uma morfologia consequente de processos terrestres, neste
caso dependentes quer da actividade vulcânica (leques lávicos de Porto Moniz e
Seixal), quer da ocorrência de grandes escorregamentos (e.g. Ponta Delgada).
Chama-se a atenção para o facto de parte da rede fluvial ter continuidade em
vales submarinos que são possíveis de seguir pelo menos até cerca de 3400 m de
profundidade (Giermann, 1967). Entre os casos documentados por estes autores
refira-se, a título de exemplo, o canhão da Ribeira Brava que, a 6 km da linha de
costa, se caracteriza por uma largura de 1500 m e uma profundidade de 300 m.

II.1.4 O DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA DE DRENAGEM E DA LINHA DE COSTA:


ALGUNS CONSTRANGIMENTOS ETÁRIOS.
O "leque lávico" sobre o qual se instalou a vila do Seixal (0.40 Ma; Ferreira et
al., 1975, Mata & Munhá, 1999) corresponde à terminação das escoadas que, tendo
preenchido o fundo do vale suspenso onde corre a ribeira do mesmo nome, se
derramou para o mar tendo fossilizado a arriba e tendo-se constituído, tal como
acontece em Porto Moniz, como notável saliência arqueada no traçado geral da
linha de costa setentrional. De igual modo, o vale de S. Vicente (cerca de 5 km a
ESE) foi parcialmente ocupado por derrames de lava (0.91 Ma; Ferreira et al.,1975,
Mata & Munhá, 1999). Estes, ao contrário do verificado no Seixal, já não
condicionam a morfologia costeira visto que se encontram amputados por uma bem
marcada arriba linear que, também entalha as formações enquadrantes mais
antigas (Fig.5).
Estes factos demonstram que a definição dos actuais traços gerais da linha de
costa se processou, nesta região da costa norte, em fase posterior à formação dos
derrames de S. Vicente (0.91 Ma), mas anteriormente às lavas do Seixal (0.40 Ma),
o que aponta para a sua evolução sincopada (veja-se também Mata, 1996; Mata,
2008). A julgar pelo facto de o vale do Seixal se encontrar suspenso de cerca de

15
250 m sugere, para aquele período um recuo muito significativamente mais rápido
que o depois verificado até à actualidade.

Fig.5 - Imagem da costa norte podendo observar-se o contraste entre as


terminações das escoadas “pós-erosão” de S. Vicente e Seixal.

Na costa norte é relativamente frequente a ocorrência de derrames lávicos


que correram em profundos vales preexistentes. Estão nestas condições os bem
conhecidos exemplos dos vales de S. Vicente (0.91 Ma), Seixal (0.40 Ma) e S.
Roque (1.26 Ma) e, também, o caso menos evidente do vale da ribeira dos Moinhos
(0.38 Ma), entre Ponta Delgada e Boaventura (Ferreira et al., 1975; Mata & Munhá,
1999) . As idades de tais escoadas indicam a existência, em amplo sector da costa
norte, de um sistema de vales perfeitamente definidos desde tempos anteriores a
cerca de 1.3 Ma, cuja hierarquização não foi substancialmente alterada até ao
presente.
Tal não foi, contudo, a situação verificada em relação à costa sul. Na verdade,
na costa meridional, escoadas com idades que se escalonam até aos 0.74 Ma
ocorrem nos interflúvios, em situação que é, portanto, completamente distinta da
verificada a norte. É, por exemplo, o caso dos vales de Porto Novo e da Ribeira
Brava para os quais existem datações de Watkins & Abdel-Monem (1971) e Ech-
chakrouni (2004). Tal sugere que o estabelecimento de uma rede hidrográfica, de
posicionamento semelhante ao actual, só se processou, na costa sul,
posteriormente a 0.74 Ma.
Estes factos sugerem que o declinar da actividade magmática se terá feito
sentir primeiramente a norte o que permitiu tornar mais visíveis os efeitos dos
agentes exógenos na vertente onde, por coincidência, estes se caracterizariam por
uma maior intensidade, dado o regime de ventos (veja-se também Mata, 1996;
Mata, 2008).

16
II.2- LINEAMENTOS TECTÓNICOS
Zbyszewski et al. (1975) chamaram a atenção para a existência, na região do
Paúl da Serra, de vários alinhamentos de cones vulcânicos relativamente recentes,
provavelmente sublinhando a existência de uma rede de fracturas que teria
condicionado a sua localização. Este assunto seria posteriormente retomado por
Nascimento (1990) e Mata (1996). Este autor identificaria 4 famílias de
alinhamentos de aparelhos vulcânicos (N125º, N25º, N145º e N50º) tendo
chamado a atenção para o facto de direcções similares se expressarem
morfologicamente pelo traçado rectilíneo de alguns vales (ver também,
Scheidegger, 2002), por arribas litorais lineares (e.g. Ponta do Pargo-Ponta do
Tristão), e, no caso da Ribeira da Janela, por a direcção N145 ser relacionável com
a brusca inflexão da direcção do vale fluvial o que reforça a ideia da existência de
famílias de fracturas com aquelas direcções.
Posteriormente, Fonseca et al. (1998a; 1998b) procederam à análise de imagem
de satélite da Madeira tendo identificado cerca de uma centena de lineamentos com
comprimentos superiores a 1 km, totalizando cerca de 450 km (Fig.6).

Fig.6 – Lineamentos na ilha da Madeira (Fonseca et al., 1998a; 1998b).

O maior deles (Lineamento Seixal – Machico), identificável numa extensão de


38.5 km e com uma direcção quase paralela ao alongamento da ilha (N108º), foi
confirmado por observações de campo como correspondendo a uma falha normal,
com abatimento do bloco norte e com uma expressiva componente de
desligamento direito. A maioria das estrias observadas à escala do afloramento
mostram componente oblíqua. Este grande acidente tectónico é observável no
terreno em vários locais expressando-se de forma mais evidente na arriba litoral da
Quebrada Nova, junto à foz da ribeira que aí desagua (Fig.7).

17
Fig.7 – Aspecto do términos ocidental (Quebrada Nova)
da falha responsável pelo Lineamento Machico-Seixal.

A componente de abertura deste acidente em regime direito, está também


expressa pelo padrão cartográfico dos filões da região central da ilha. Com
espessuras na maioria das vezes superiores a 10 metros, estes filões apresentam
direcções N150º compatíveis com uma abertura de fendas escalonadas em regime
direito. A observação de encraves de natureza ultramáfica em alguns deles
(Fonseca et al, 1999, 2000) é de alguma forma sugestiva de um enraizamento
profundo de alguns destes acidentes, o que é também sugerido pela emergência de
águas com teores de CO2 superiores a 2000 ppm e temperaturas próximas de 30º
C em fracturas interceptadas pelos túneis da Encumeada e Machico-Porto da Cruz
(Fonseca et al., 2000). Estes factos apontam para a presença de sistemas vulcano-
tectónicos activos na ilha da Madeira.

O conhecimento da localização exacta e da orientação destes grandes acidentes


é de grande importância do ponto de vista económico, sendo instrumento
indispensável ao planeamento e projecto quer de grandes obras de engenharia (e.g.
túneis rodoviários), quer de captações de água. Refira-se o túnel de prospecção de
água da Fajã da Ama onde se obtiveram caudais entre os 285 e 350 l/s na
dependência de uma única zona de fractura (N80º) que funciona como zona
preferencial de fluxo subterrâneo (e.g. Fonseca et al., 2000).

II.3- MOVIMENTOS DE VERTENTE


Numa ilha marcada pela extrema imaturidade do seu relevo, por uma elevada
pluviosidade média, por curtos períodos de intensa precipitação e por uma longa
linha de costa caracterizada por alcantis, muitas vezes quasi-verticais, que atingem
os 580m no Cabo Girão, os movimentos de vertente desempenham um papel
importante no modelar do relevo e têm implicações importantes na vida das

18
populações. Uma descrição exaustiva da tipologia de movimentos de vertente na
Madeira foi efectuada por Rodrigues 2005). Nos parágrafos que se seguem daremos
exemplos de movimentos de vertente que marcam a morfologia da ilha.
• Desabamentos na Penha D'Águia. A Penha d’Águia, na costa norte, constitui
uma impressionante arriba de cerca de 400m onde se observa uma
alternância de finas escoadas basálticas e materiais piroclásticos. Na sua
base é bem visível um depósito resultante de vários desabamentos
originados pela erosão marinha do sopé da arriba. Em tempos recentes
ocorreram dois grandes desabamentos. O primeiro ocorreu na noite de 1 de
Fevereiro de 1992, provocando um abalo telúrico sentido pelas populações
vizinhas. O depósito do desabamento formou uma plataforma com cerca de
300m de diâmetro e com um volume aproximado de 1 800 000 m3. Em
Março de 1993 ocorreu novo desabamento no mesmo local, se bem que de
menor dimensão. O evento de 1992 foi acompanhado de um tsunami.
Outros exemplos de tsunamis gerados desta forma foram os registados 1)
em 1930 quando de um importante desabamento no Cabo Girão e que
causou 19 mortos em Câmara de Lobos, 2) na Ponta do Sol, provocado por
derrocadas no Lugar de Baixo, 3) no Machico em resultado da avalanche
rochosa ocorrida em 1891 nas Desertas (ver Rodrigues, 2002).
• Escorregamento da Achada do Curral. A grande depressão do Curral das
Freiras caracteriza-se por uma plataforma que se desenvolve à cota
aproximada de 680 m sobre a qual foi erigida a povoação do Curral das
Freiras. Esta plataforma, localmente designada de achada, corresponde ao
topo de uma grande massa rochosa que, tendo sofrido um importante
escorregamento, obstruiu inicialmente a Ribeira dos Socorridos
(escorregamento-barragem). Estima-se que o volume deslocado tenha sido
de aproximadamente 100 000 000 m3 e que após a sua instalação ocupasse
uma área de 600 000 m2 (Fig.8). Esta massa rochosa foi por sua vez
afectada por escorregamentos secundários.
• Escorregamentos rotacionais na orla costeira. O carácter alcantilado da linha
de costa madeirense torna-a altamente instável do ponto de vista gravítico.
Tal leva à ocorrência nas zonas litorais de movimentos de vertente de tal
forma volumosos que chegam a condicionar o traçado geral da linha de
costa. É exemplo mais flagrante o grande escorregamento rotacional sobre o
qual foi construída a povoação de Ponta Delgada e que se expressa também
na batimetria. Ainda que não alterando o traçado da linha de costa merecem
também referência os escorregamentos que deram origem ao Arco da

19
Calheta e ao Arco de S. Jorge, aqui tendo ocorrido um posterior evento a 20
de Abril de 1698, gerando o Arco Pequeno.
• Fluxos de detritos ou lamacentos. São exemplo deste tipo de movimento de
vertente desencadeados por elevadas precipitações e deslizamentos
superficiais (Rodrigues & Ayala-Carcedo, 2003) os eventos ocorridos 1) em
S.Vicente (1929) que provocou 32 mortos, 2) em S.Vicente (2001) que
provocou 5 mortos e elevados prejuízos materiais entre os quais os
associados ao corte da via rápida Funchal-S. Vicente, 3) na região do
Funchal-Ribeira Brava (2010), originado por elevadíssima precipitação que
atingiu os 55mm numa hora, tendo provocado mais de 40 mortos.

Fig.8 – Escorregamento rotacional no Curral das Freiras. Rodrigues (2005).

20
II.4- HIDROGEOLOGIA
Numa ilha como a Madeira com uma elevada densidade populacional (380
habitantes/km2) e que tem no turismo a sua principal actividade económica (865
000 visitantes/ano) a água é um bem precioso.
As águas subterrâneas constituem a maior e a melhor fonte de abastecimento de
água na ilha da Madeira, sendo a única durante o Verão. O volume anual de
recursos subterrâneos consumido no abastecimento público, indústria, rega e
produção de energia é de 185 000 000 m3.
A ocorrência, a circulação e o armazenamento da água subterrânea na Madeira
apresenta especificidades decorrentes do carácter heterogéneo e anisótropo
característico dos meios insulares vulcânicos (Prada, 2000; Prada et al., 2005).
As principais zonas de recarga situam-se nas zonas mais altas da ilha,
principalmente nas de menor declive, onde a precipitação atinge valores elevados e
as formações vulcânicas são mais recentes e, em geral, mais permeáveis, como é o
caso do planalto do Paul da Serra (precipitação média de 2 700 mm/ano) e seu
prolongamento para o Fanal, do Santo da Serra e da área compreendida entre o
Chão dos Balcões/Poiso/João do Prado (Prada, 2000).
Nestas zonas, o fluxo é predominantemente descendente, não saturado,
originando aquíferos suspensos em relação com níveis pouco permeáveis e de
pequena extensão que, em certas condições morfológicas e estruturais favoráveis,
originam nascentes. Quando os níveis pouco permeáveis são extensos e espessos,
funcionam como aquitardos, exercendo drenância descendente constante para os
níveis mais profundos. A eles estão associadas as galerias com circuitos
estabilizados, cujo caudal não varia ao longo do ano hidrológico.
A partir de uma certa profundidade entra-se na zona saturada limitada,
superiormente, por uma superfície freática e inferiormente por uma interface (água
doce/água salgada), cuja posição depende da configuração da superfície freática. A
localização dos acidentes tectónicos assume grande importância uma vez que se
tem verificado que a circulação subterrânea se faz, preferencialmente, na rede de
fracturas a eles associada como se pode observar na galeria da Fajã da Ama, nos
túneis dos Tornos, do Norte e no da Levada do Seixal.
Considera-se que para além da precipitação directa sob a forma de chuva,
principal fonte de recarga dos aquíferos, existe, na Madeira, uma outra parcela de
recarga, proveniente da intercepção do nevoeiro na vegetação arbórea existente no
interior da cobertura nebulosa - a Precipitação Oculta (Prada et al., 2003; Prada,
2008; Prada et al., 2009). A avaliação preliminar do contributo da precipitação
oculta para os recursos hídricos da ilha da Madeira aponta para 40 627 815 m3/ano
o que demonstra a importância da água do nevoeiro no balanço hídrico da ilha e o

21
papel fundamental da vegetação natural na captação e transformação da água das
nuvens em precipitação útil (Prada et al., 2008). A vegetação além de diminuir a
velocidade das águas do escoamento superficial, e consequentemente a diminuição
da erosão dos solos, tem a capacidade de captar a água líquida existente no
nevoeiro e que na sua ausência se perderia para a atmosfera.
O modelo hidrogeológico conceptual para a ilha da Madeira considera a
existência de dois tipos de aquíferos principais (Prada, 2000; Prada et al., 2005):
1. Aquíferos suspensos, em altitude, relacionados com níveis impermeáveis
como tufos, escoadas alteradas, níveis de cozimento em paleossolos ou basaltos
alterados e depósitos freatomagmáticos, caracterizados por águas mais frias, pouco
mineralizadas (condutividades eléctricas entre 33 e 62 μS/cm), pH ácidos (5,5 a
5,7) e fácies frequentemente cloretadas. Os caudais variam ao longo do ano
hidrológico, consoante a recarga, chegando mesmo, alguns deles, a esgotar.
2. Aquífero de base, com características distintas consoante a série vulcânica
presente. Assim, nas unidades mais recentes, o aquífero caracteriza-se por fortes
transmissividades (1000 a 25 000 m2/d), gradientes piezométricos baixos (0,0003
a 0,0064) e águas medianamente mineralizadas (condutividades entre 100 e 500
μS/cm). Por outro lado, em formações mais antigas, na maioria, muito alteradas,
onde se encontram basaltos argilificados e piroclastos compactados e cimentados, o
aquífero caracteriza-se por transmissividades mais baixas (17 a 2263 m2/d), águas
mais mineralizadas (condutividades que chegam a atingir 3300 μS/cm) e gradientes
piezométricos mais elevados (em média 0,02). Em virtude do vulcanismo na
Madeira ser predominantemente do tipo fissural, o edifício vulcânico está
intensamente atravessado por filões subverticais que o compartimentam. Daí
resulta que o nível de saturação geral da ilha não seja uma linha contínua, mas,
sim, quebrada pelos filões, com variações bruscas de potencial entre
compartimentos contíguos.
A ligação entre a zona litoral saturada e a zona saturada do domínio de altitude
que define o aquífero de base faz-se através de um aumento rápido do gradiente
do litoral para o centro do maciço, devido:
• ao facto de as formações vulcânicas se tornarem progressivamente
menos permeáveis para o interior da ilha onde predominam formações mais
antigas e mais alteradas;
• à existência de espessas e extensas formações sedimentares
impermeáveis;
• ao progressivo aumento da quantidade de filões para o interior do
edifício vulcânico contribuindo para a diminuição da sua permeabilidade
horizontal;

22
• ao facto de a recarga ocorrer, predominantemente, nas zonas altas e
planas do interior da ilha.
A captação da água subterrânea processa-se através de perfurações horizontais
de grande diâmetro (galerias e túneis) e verticais de pequeno diâmetro (furos),
bem como do aproveitamento do caudal das nascentes através de um sistema de
mais de 200 levadas que contornam a ilha numa extensão total superior a 1000 km.
As águas subterrâneas da Madeira caracterizam-se, em geral, por baixas
mineralizações, com condutividades eléctricas que vão desde os 33 até aos 501
μS/cm. A distribuição espacial da condutividade revela um aumento da
mineralização das águas com a profundidade e proximidade do mar, reflectindo, a
crescente influência dos principais mecanismos mineralizadores das águas, a
hidrólise dos minerais silicatados das rochas e a contaminação por sais de origem
marinha.
A maior parte das águas são águas frias, existindo um pequeno grupo de águas
termais emergentes em falhas, com características muito próprias, bastante
distintas das restantes.
A maioria das águas possui pH superior a 7, indicando carácter alcalino. Apenas
algumas águas das nascentes das cotas mais altas são agressivas. As alcalinidades
das águas são baixas, variando as suas médias entre 31,8 e 75,1 mg/l de Ca CO3.
A maior parte das águas das nascentes são brandas e as águas dos furos são pouco
duras.

O sódio é o catião mais importante seguido do cálcio, do magnésio e, por fim, do


potássio. O bicarbonato é, na generalidade das águas amostradas, o anião mais
importante, seguido do cloreto e do sulfato.

Possuem concentrações de sílica da ordem dos 23,7 a 42,9 mg/l. Os mínimos


dizem respeito a nascentes suspensas de altitude, onde a extensão da hidrólise é
pequena, enquanto os valores mais elevados de sílica correspondem a águas
captadas em galerias e furos no aquífero de base.

II.5- EVOLUÇÃO DA ILHA DA MADEIRA


Zbyszewski et al. (1974; 1975) apresentou a carta geológica da Madeira à
escala 1:50 000 onde se individualizaram 5 complexos vulcânicos como
representativos de uma história geológica que começaria anteriormente ao
Miocénico Médio. Esta idade baseava-se na presença, no vale de S. Vicente, de
calcários recifais atribuíveis ao Vindoboniano (e.g. Zbyszwewski 1971; Rhote,
1990) com base na associação de moluscos. Note-se que este critério não é válido
para o Neogénico, período para o qual se priviligia, para a definição da

23
bioestratigrafia, o uso de foraminíferos planctónicos e de associações de nano-
fósseis (Cachão, comun. oral). Posteriormente, Ferreira et al. (1988) obteria uma
idade de 5.2 Ma para uma escoada subjacente a estes calcários, permitindo a
atribuição destas rochas recifais ao Pliocénico.
Estes dados pemitiram, também, considerar a ilha da Madeira
significativamente mais recente do que o anteriormente aceite de forma unânime
e considerá-la claramente posterior à vizinha ilha de Porto Santo (Veja-se I.2 e
Fig. 3). Este ideia prevaleceu até aos nossos dias, sendo de referir que a idade
40
mais antiga até hoje determinada corresponde a 5.57 Ma (idade Ar/39Ar obtida
por Ech-chakrouni, 2004).
Posteriormente a Zbyszewski et al. (1974), e depois de alguns esboços a
escala reduzida consusbstanciando algumas críticas àquele trabalho (Mitchell-
Thomé, 1976, Carvalho & Brandão, 1991, e Alves & Forjaz, 1991), só em 2000
seria apresentada cartografia de índole regional, abrangendo toda a ilha, a uma
escala razoável (1: 100 000; Prada 2000). Esta autora considerou a existência de
4 complexos vulcânicos nos quais se intercalavam duas unidades sedimentares
(ver também Prada & Serralheiro, 2000). Aquele trabalho de cartografia, realizado
no âmbito de uma tese de Doutoramento, não seria alvo de uma publicação
formal pelo que é dificilmente acessível.
Mais recentemente têm sido dados à estampa trabalhos de cartografia de
índole vulcano-estratigráfica relativos a áreas restritas (Ramalho, 2004, Ramalho
et al., 2005 e Klügel et al., 2009). Para além disso, desde 2002 têm decorrido
trabalhos de cartografia geológica da ilha à escala 1: 10 000, esperando-se para
breve a sua publicação à escala 1: 50 000, (veja-se Madeira et al., 2007; Brum
da Silveira et al., 2008). Estes autores identificaram 7 unidades estratigráficas
englobadas em 3 complexos vulcânicos.
Simultâneamente vários autores têm efectuado datações isotópicas
(Watkins & Abdel-Monem, 1971; Ferreira et al., 1975; 1988; Fèraud et al., 1984;
Mata et al., 1995; Mata & Munhá, 1999; Ech-chakrouni et al., 1999; Geldmacher
et al., 2000; Ech-chakrouni, 2004; Klügel et al., 2009). Estas datações permitem
enquadrar as formação expostas entre os 5.6 Ma e os 7 ka. À falta de acesso fácil
a uma cartografia vulcano-estratigráfica recente, estas datações permitem em
conjunto com os dados cartográficos existentes e a informação recolhida no
campo, propôr um modelo de evolução vulcano-estratigráfica, simplificado, para a
parte emersa da ilha.
Este modelo considera a existência de 3 etapas principais no
desenvolvimento das formações emersas da ilha da Madeira (cf. Mata, 1996; Mata
& Munhá, 1999):

24
Fase de emersão: > 5.6 a >2.5 Ma
Fase principal de escudo: 2.5 a ≈ 1 Ma
Fase matura: < 1 Ma

Não se afasta muito do proposto por Geldmacher et al. (2000) (Early Madeira Rift
Phase: >4.6 a 3.9Ma; Late Madeira Rift Phase: 3 a 0.7 Ma; Posterosional Stage:
< 0.7 Ma) ou do adoptado por Ribeiro & Ramalho (2009) e de certa forma espelha,
em versão menos compartimentada, o proposto no trabalho de Prada &
Serralheiro (2000) que considera 9 etapas.

II.5.1- FASE DE EMERSÃO: >5.6 a >2.5 Ma


Correspondeu ao estádio em que o edifício vulcânico, que se tinha vindo a
desenvolver submarinamente, alcança a cota zero e começa a ter expressão
emersa, passando o vulcanismo a processar-se em ambiente sub-aéreo.
As mais antigas rochas geradas durante este período encontram-se
profundamente alteradas sendo, como é usual em outros regiões vulcânicas,
atravessadas por uma densa rede filoneana de idade variável, dado muitos dos
filões corresponderem às condutas de alimentação das unidades posteriores.
Segundo Geldmacher et al. (2000) predominam as estruturas filoneanas de
orientação E-W que materializariam a direção de rift que condicionou o
desenvolvemento da ilha e a sua forma alongada nessa direcção.
Ainda que a presença de materiais vulcânicos submarinos não seja no geral
referida (e.g. Zbyszewski et al. 1974; 1975; Mata & Munhá, 1999; Geldmacher et
al., 2000), Brum da Silveira et al. (2008) consideram muitos dos materiais
alterados acima referidos como de origem hidro-vulcânica, o que levaria a
considerá-los como os produtos vulcânicos culminantes do vulcão submarino.
Em fase de acalmia vulcânica e, consequentemente, de redução das hipotéticas
condições anóxicas da água do mar provocadas pelo vulcanismo, ter-se-ão gerado
os calcários recifais dos Lameiros (vale de S. Vicente) que, estanto actualmente a
uma cota de cerca de 400m, implicam, se aflorando in situ e se consideradas as
curvas de variação eustática do nível do mar (Miller et al., 2005), um movimento
de soerguimento do edifício insular superior a 300 m (veja-se Mata, 1996).
Segundo este autor tal levantamento poderá ter sido acompanhado de
basculamento para sul, como o demonstrariam, entre outros, os factos de a erosão
ter atingido níveis mais profundos na fachada norte, a suave inclinação para
sudoeste do planalto do Paúl da Serra e a existência de uma eventual tendência
para uma menor inclinação das escoadas em direcção ao mar, na costa norte em

25
comparação com o verificado a sul.
Suprajacentemente a estes calcários ocorre um espesso depósito de tipo lahar
(conglomerado brechóide de Prada & Serralheiro, 2000) bem preservado nas
imediações da Pousada dos Vinháticos (vale da Ribeira Brava) e no Vale de S.
Vicente. Testemunha período de intensa degradação do relevo e o facto de o
edifício insular já então ter uma expressão emersa considerável. Chama-se atenção
do facto de, como realçado por Mata (1996) e Ramalho et al. (2003), existirem na
sequência estratigráfica da Madeira vários depósitos, não contemporâneos, deste
tipo.
Para o final da fase de emersão, o vulcanismo torna-se indubitavelmente sub-
aéreo e progressivamente mais efusivo, como que antecipando a fase escudo
principal que se seguiria.

II.5.2- FASE PRINCIPAL DE ESCUDO: 2.5 a ≈ 1 Ma

Nesta fase (2.5 a 1.0 Ma) a produção lávica terá atingido o seu clímax com a
geração de espessoas empilhamento lávicos (até 700 m) em que a presença de
níveis piroclásticos é claramente subordinada. O edifício vulcânico, consolidou-se
enquanto entidade emersa e atingiu, em termos de área, uma dimensão que pode
considerar-se semelhante à actual, se nos abstrairmos das variações eustáticas do
nível do mar e dos efeitos da erosão do litoral.
A atitude das escoadas sugere que as emissões de lava ocorrerram
principalmente na parte central da ilha ao longo do eixo topográfico com orientação
E-W. Esta é também uma das direções predominantes da densa rede de filões
cartografada por Zbyszewski et al. (1974) na parte centro-oriental da ilha. Alguns
destes diques, ocorrendo na região do Pico do Areeiro, foram datados por Fèraud
et al. (1984) que lhes atribuíram idades entre os 1.81 Ma e os 0.96 Ma.
Data deste período a formação das lavas mais fraccionadas aflorantes na ilha da
Madeira. Refiro-me às rochas mugearíticas ocorrentes, entre outras, na região de
Porto da Cruz (1.50 Ma; Mata & Munhá, 1999), onde, na zona do cais, assentam
sobre sedimentos de tipo lagunar O facto de a grande monotonia litológica que
caracteriza as lavas madeirenses ter sido quebrada pela erupção dos mugearitos,
aponta para a existência, nesta fase, de câmaras magmáticas maiores e/ou de um
maior tempo de permanência nesses reservatórios, o que teria permitido uma
maior eficácia dos processos de evolução magmática. Tal está teoricamente de
acordo com a maior importância que a actividade vulcânica teve entre os 2.5 e 1
Ma.
Para o final desta fase, com o declínio da actividade magmática, a erosão
tornou-se progressivamente o mais importante agente modelador do relevo, o que

26
levou a um período de intensa dissecação fluvial cujos testemunhos chegaram aos
nossos dias. Um desses vales (S. Roque) foi parcialmente preenchido por escoadas
datadas por Ferreira et al. (1975) e Mata & Munhá (1999) que lhes atribuíram
idades 1.28 Ma e 1.09 Ma, respectivamente.

II.5.3- FASE MATURA: < 1 Ma


O declinar da actividade magmática facilitou os processos erosivos que levaram
ao estabelecimento de profundos vales por onde se escoariam, na costa norte,
lavas posteriormente formadas.
Caracterizou-se por actividade vulcânica que, pela sua expressão volumétrica
relativamente reduzida, não teve grandes consequências em termos de área
emersa da ilha. Tal explicará, também, o facto de a morfologia anterior às
profundas incisões talhadas pela erosão no declinar da "fase de escudo principal",
não mais ter sido reposta, não obstante o produto de certas emissões lávicas
posteriores se ter escoado pelos vales então formados (e.g. S.Vicente: 0.91Ma e
0.18 Ma; Seixal: 0.40Ma; Ribeira dos Moinhos: 0.38Ma; Ferreira et al., 1975; Mata
& Munhá, 1999; Geldmacher et al., 2000).
Em algumas situações os produtos destas emissões capearam as morfologias
existentes. Foi o que aconteceu no Paúl da Serra onde são também bem evidentes
14
alinhamentos de cones strombolianos anteriormente referidos. Idades C obtidas
em restos vegetais incarbonizados pela deposição de um tufo vulcânico emanado
de um destes cones produziram valores em torno de 6.5 e 7.2 ka BP (Geldmacher
et al., 2000). Refira-se ainda a ocorrência na região do Funchal de cones
strombolianos relativamente bem preservados (e.g. Pico da Cruz) que poderão
pertencer ao alinhamento de cones submarinos que formam a Crista do Funchal
(veja-se Klügel & Klein, 2006; Geldmacher et al., 2006a; Fig. 2).
Nesta fase geram-se, a partir de há cerca de 300 000 anos (Goodfriend et al.,
1996), os eolianitos aflorantes junto à Prainha (região do Caniçal) (ver também
Grabham, 1948; Zbyszewski et al., 1975; Ziehen, 1981; Brooke, 2001).
O facto de, mesmo em ilhas ocorrendo em regiões de rápida deriva litosférica,
se observarem peíodos de quescência vulcânica superiores a 2.5 Ma (e.e. ilha de
Niihau no Hawaii; Clague & Dalrymple, 1987), de na Madeira as últimas erupções
terem presumivelmente ocorrido há cerca de somente 7 ka (Geldmacher et al.,
2000) e de existirem algumas manifestações interpretáveis como tratando-se de
actividade vulcânica secundária (II.2) não permitem a considerar a Madeira como
uma ilha vulcanicamente extinta (e.g. Mata, 1996; Mata & Munhá, 1999; Prada &
Serralheiro, 2000).

27
III. AS ILHAS DESERTAS: SÍNTESE GEOLÓGICA
S. Martins; J. Mata; P.E. Fonseca

As Desertas são constituídas por 3 ilhéus situados a sudoeste da Madeira (Ilhéu


Chão: 0.5 km2, com forma tabular e uma altitude máxima variando entre os 70 e
os 98 m; Deserta Grande: 10.3 km2, com cerca de 10.5 km de comprimento,
1900m de largura máxima e 479m de altitude no seu ponto mais elevado; Bugio: 4
km2; com cerca de 7.5 km de comprimento, 900 m de largura máxima e 384m de
altitude no seu ponto mais elevado).
Constituem a parte emersa de uma crista submarina com cerca de 60 km de
comprimento e uma orientação NNW-SSE que intercepta a extremidade leste da
ilha da Madeira (alongada na direcção E-W) segundo um ângulo próximo de 110º.
De acordo com Geldmacher et al. (2000), Madeira e Desertas seriam a expressão
de dois braços de um sistema de rifts que teria sido gerado por um campo de
tensões com compressão vertical, causado pela ascensão magmática (ver também
Vogt, 1974). O desenvolvimento do seu hipotético terceiro braço teria sido inibido
pela presença do mais antigo edifício insular de Porto Santo.
Note-se, no entanto que, a julgar pelos dados geobarométricos de Schwarz et al.
(2004), os sistemas de câmaras magmáticas que alimentaram estes dois rifts terão
sido distintos o que sugere tratarem-se de dois sistemas vulcânicos independentes.
Nesta perspectiva, Schwarz et al. (2004) desenvolveram um modelo em que se
considera o arquear da litosfera, consequente da carga exercida pelos edifícios da
Madeira e Porto Santo, como o causador, na região de inversão flexural, de
domínios caracterizados por stresses horizontais nulos, que teriam facilitado a
formação dos diques que alimentaram o magmatismo inicial das Desertas,
localizadas fora do eixo da pluma que gerou a Madeira. Este magmatismo,
ocorrendo no flanco do edifício insular da Madeira resultou em distensão
gravitacionalmente induzida, que condicionou a formação de uma zona de rift que
evoluiria para a crista que por cerca de 60 km se estende na direcção NNW-SSE
(Schwarz et al., 2005). A forma actual desta crista reflecte também a ocorrência de
grandes movimentos de vertente que contribuíram de forma importante para o
carácter extremamente alcantilado que caracteriza a linha de costa destas ilhas.
Cite-se a título de exemplo o desabamento que ocorreu em 1891 e que provocou a
formação do “debris fan” onde actualmente se efectua o desembarque (Doca) e
onde se localiza o edifício do Parque Natural da Madeira (Rodrigues & Ayala-
Carcedo, 1994).

28
O conhecimento que hoje se tem da vulcano-estratigrafia das Desertas deve-se
essencialmente aos trabalhos de Zbyszewski et al. (1973) e, posteriormente, de
Schwarz et al. (2005). Estes últimos autores e, também, Geldmacher et al. (2000)
40
e Ech-chakrouni (2004) produziram um importante conjunto de datações Ar/39Ar
que permitem atribuir a estas ilhas idades entre 5.07 Ma e 1.93 Ma. Como se
constata da Fig. 1 os três edifícios insulares caracterizam-se por gamas de idades
distintas.
Geldmacher et al. (2000) chamou a atenção para o facto de as Desertas se
terem gerado durante um período de quiescência vulcânica da ilha da Madeira. No
entanto estudos geocronológicos posteriores, quer nas Desertas, quer na Madeira
(Ech-chakrouni, 2004; Schwarz et al., 2005) demonstrariam o contrário (veja-se
também Ribeiro et al., 2005)
A sequência vulcano-estratigráfica preserva evidências de que actividade explosiva
de características freato-magmáticas foi predominante na base da sequência
enquanto que para o topo a actividade efusiva se foi tornando mais importante,
produzindo quer empilhamentos de escoadas muito finas (< 0.5m) (escoadas
lávicas de tipo 1 na fig.9), quer de escoadas com mais de 20 m (escoadas lávicas
de tipo 2). Toda a sequência se encontra profundamente intruída por uma densa
rede filoneana sub-vertical que tem a particularidade de se caracterizar por
azimutes (≈ 145º) claramente distintos do da crista das Desertas (≈ 163º),
definindo um arranjo em “échelon” (Klügel et al., 2005). Tal teria resultado,
segundo estes autores, da existência de tensões cizalhantes geradas pelo efeito da
carga exercida pelos edifícios insulares sobre o substrato crustal.

29
Fig.9- Mapa vulcanológico da Deserta Grande e colunas estratigráficas das 3 ilhas Desertas,
segundo Schwarz et al. (2005).

30
IV. A ILHA DE PORTO SANTO: SÍNTESE GEOLÓGICA
P. E. Fonseca; R. Ramalho; M. Cachão; J. Mata; C. Marques da Silva; D. Rodrigues

IV.1- INTRODUÇÃO
A ilha de Porto Santo, com uma área emersa de 42 km2, situa-se a somente 40
km da Madeira mas destaca-se desta claramente pelas suas características
fisiográficas. De facto, enquanto que em Porto Santo se atinge a cota máxima aos
517 m (Pico do Facho), na Madeira cerca de 90% da área emersa encontra-se
acima dos 500 m (Ribeiro, 1985) e o seu ponto culminante ocorre aos 1862 m (Pico
Ruivo). Tal diferença reflecte a menor dimensão e a morfologia bastante mais
arrasada de Porto Santo como consequência do facto de nesta ilha as últimas
erupções terem ocorrido há cerca de 10 Ma (Ferreira, 1985), i.e. anteriormente à
formação das mais antigas rochas aflorantes na Madeira (5.57 Ma; Ech-chakrouni,
2004; Feraud et al., 1981). Neste contexto não é de estranhar que as principais
elevações da ilha de Porto Santo (e.g. Pico do Facho, Pico Branco, Pico da Juliana)
sejam no essencial formas erosivas, constituindo relevos de resistência esculpidos
em rochas magmáticas maciças de composição intermédia a ácida.
A mais baixa altitude média de Porto Santo explicará o facto de, não obstante a
sua proximidade relativa à Madeira, possuir um clima muito distinto onde a
pluviosidade média anual é muito baixa (< 400 mm), pelo que a ilha apresenta
características morfológicas afins das regiões de clima sub-árido, com excepção de
alguns pequenos sectores de arriba virados a norte (e.g. Terra Chã). É
característico deste tipo de clima o desenvolvimento de abarrancamentos ("bad-
lands"), em que os cursos de água apresentam regime de "oued", encontrando-se
secos a maioria do ano (e.g. Carvalho & Brandão, 1991). Tal como na ilha da
Madeira, a plataforma submarina é muito assimétrica em resultado dos ventos
dominantes de NE, sendo significativamente mais extensa a norte onde se registam
distâncias até 12 km entre a isóbata dos 100 m e a linha de costa. Este valor é
cerca de 3 vezes superior ao que se verifica na mais recente ilha da Madeira o que
explicará, segundo Mata (1996), a mais significativa expressão volumétrica dos
eolianitos (calcarenitos) de Porto Santo aos quais foram atribuídas idades, com um
largo espectro, entre cerca de 13 500 e 32 000 anos por Lietz & Schwarzbach
(1971). Estes depósitos, cobrem actualmente cerca de 1/3 da ilha.

IV.2- VULCANO-ESTRATIGRAFIA E ESTRATIGRAFIA


O conhecimento que actualmente se tem da vulcano-estratigrafia da Ilha de
Porto Santo deve-se essencialmente à Carta Geológica na Escala 1/25 000
publicada por Ferreira & Neiva, (1996) (Fig.10).

31
Desta ressalta que na ilha de Porto Santo as rochas vulcânicas submarinas são
volumetricamente mais importantes que as de origem subaérea, fazendo desta ilha
um local apropriado para o estudo da passagem, em edifícios vulcânicos oceânicos,
da fase de montanha submarina ou de proto-ilha à fase de ilha (Schmidt &
Schmincke, 2002).

Fig.10 - Mapa geológico da ilha de Porto Santo, simplificado e adaptado de Ferreira & Neiva
(1996) e Schmidt & Schmincke (2002).

32
Os dados radiométricos obtidos para as rochas vulcânicas submarinas, revelam
que estas se formaram maioritariamente no Miocénico inferior, época durante a
qual se desenvolveu como vulcão-escudo submarino que veio a dar origem à ilha.
As determinações K-Ar de Ferreira (1985) e Ferreira et al. (1988) e os dados de
Ferreira & Neiva (1996) permitiram atribuir-lhes idades variando entre os 18.8 e os
13.5 Ma. Estes autores consideram que durante esta fase tenha existido a norte um
importante centro eruptivo que teria funcionado como fonte emissora de escoadas
ácidas, e dos hialoclastitos montmorilonitizados (palagonitos) que têm forte
expressão volumétrica na região nordeste (Ferreira et al., 1988). Esta fase eruptiva
foi interpretada por Schmidt & Schmincke (2002) como correspondendo aos
derradeiros eventos de construção de uma montanha submarina (seamount) antes
de emergir como ilha (Fig.11).

Fig.11 - Aspecto de uma lava em rolo ou em almofada (pillow lava), na região do


Zimbralinho.

A partir dos 14.5 Ma, coexistiram manifestações vulcânicas submarinas e


subaéreas, correspondendo ao período em que a ilha, de forma diferenciada, foi
emergindo, no que foi designado por fase de ilha emergente (Schmidt & Schmincke,
2002). Os vulcanitos subaéreos tornaram-se progressivamente dominantes (a partir
de há cerca de 13.5 Ma), tendo as últimas erupções desta fase ocorrido aos 10.2
Ma, quando da formação da chaminé do Pico da Juliana. Posteriormente, a

33
actividade vulcânica está apenas representada por rochas filonianas básicas com
cerca de 8.3 Ma, não se encontrando preservadas extrusões correlativas. A gama
de idades obtidas por Ferreira (1985) e Ferreira et al. (1988) abrange os valores
obtidos por Fèraud et al. (1981) e Geldmacher et al. (2000), sendo
significativamente mais ampla do que o intervalo de idades (14 a 11 Ma) que vem
sendo repetidamente atribuído a Porto Santo por estes autores (e.g. Geldmacher et
al., 2005).
A transição das fácies submarinas a subaéreas é bem visível na região nordeste
da ilha, particularmente ao longo das arribas, e na ribeira da Serra de Dentro e
seus tributários. Na verdade, aqui aflora um variado conjunto bimodal de rochas de
composição basáltico-havaítica e traquítica que apresenta características
submarinas na base e subaéreas para o topo. Nesta região são também visíveis,
intercaladas nas sequências vulcânicas, afloramentos de rochas sedimentar
essencialmente conglomerática e recifal, correspondentes a 2 dos 4 níveis definidos
por Ferreira & Neiva (1996) em Porto Santo.

Do ponto de vista sedimentar, Porto Santo possui duas unidades principais,


uma mais antiga (Miocénico médio), contemporânea da actividade vulcânica,
associada sobretudo à fase de transição de vulcanismo submarino para subaéreo,
aflorante devido à acentuada gliptogénese da ilha, e uma outra, mais recente
(Plistocénico), gerada em ambiente subaéreo.
O primeiro conjunto de rochas sedimentares, miocénicas, ocorre geralmente
sob a forma de calcários ou biocalcarenitos fossilíferos, bioedificados (e.g.
estruturas recifais do Ilhéu da Cal) ou bioclásticos costeiros. Estes depósitos podem
apresentar-se como níveis de antigas praias marinhas, de reduzida extensão
lateral, representados por conglomerados de seixos rolados de basalto onde se
podem, ou não, encontrar blocos ex situ de corais e outros elementos fósseis
rolados (e.g. junto à entrada principal do campo de Golfe). São igualmente notáveis
o desenvolvimento e concentração de rodólitos (e.g. Cabeço das Laranjas, Ilhéu de
Cima) bem como associações in situ de corais, rodólitos e equinodermes (e.g. Pedra
do Sol, Ilhéu de Cima).

No sector de Serra de Fora – Lombinhos, os níveis fossilíferos ocorrem


intercalados em hialoclastitos apresentando fácies costeira ou lagunar (e.g.
Lombinhos de Cima; Cachão et al. 1998). A idade biostratigráfica baseada em
nanofósseis calcários enquadra estes depósitos no Miocénico médio (Langhiano:14-
15 Ma; Cachão et al., 2003), a qual é corroborada por idades radiométricas
40
Ar/39Ar de ca. 14 Ma (Geldmacher et al, 2005). Outras unidades ocorrem sobre

34
escoadas basálticas, na transição submarino-subaéreo, ou directamente sobre
escoadas subaéreas, neste ultimo caso provavelmente associadas aos máximos
transgressivos do Miocénico Médio.
Os "depósitos recifais e conglomeráticos" aflorantes na região nordeste da ilha
(níveis cg1 e cg2 de Ferreira & Neiva, 1996) foram considerados coevos por Cachão
et al. (1998) que, baseados nas associações de nanofósseis calcários as atribuíram
ao Miocénico médio (Serravaliano inferior, circa 14 Ma), ou seja ao período definido
pela datação das rochas vulcânicas como sendo de transição entre fácies submarina
e subaérea. Note-se, no entanto, que Ferreira & Neiva (1996) atribuíram àqueles
sedimentos, por enquadramento, idades cronostratigráficas de cerca de 19.3 Ma
(cg1) e 17.6 (cg2), ou seja Miocénico inferior, e apontam para a existência de
vários períodos de acalmia vulcânica que permitiram o crescimento de recifes
coralígenos em águas pouco profundas. Naquela zona, estes níveis afloram a
altitudes que variam entre os 60 e os 150 m, e são por vezes afectados por
pequenas falhas normais com deslocação inferior a 1 m. Os níveis sedimentares
evidenciam variação lateral de fácies, apresentando fácies marinha a cotas mais
baixas e fácies recifal/lagunar a cotas mais elevadas, sugerindo deposição sobre
uma topografia inclinada na porção submersa do edifício vulcânico. Esta
característica permite inferir que, possivelmente, os sedimentos situados a cotas
mais elevadas (actualmente a cerca de 150 m de altitude) se encontram mais
próximas do nível médio das águas do mar coevo da sua formação. A comparação
desta altitude com a curva eustática de Miller et al. (2005) permite inferir que
aqueles níveis sofreram provavelmente um levantamento de 100 a 150 m, visto
que o nível médio das águas do mar para aquele período (cerca de 14 Ma) estaria
muito perto da cota actual, mesmo tendo em conta o seu máximo.

No que respeita os depósitos sedimentares marinhos, trabalhos subsequentes


mais pormenorizados, indicam que a generalidade corresponde a fácies de pequena
profundidade e energia baixa a moderada com desenvolvimento localizado de
biohermes de corais, mangais e lagunas confinadas. Contudo, na Ponta da Calheta
e em Ribeiros, na região sul-ocidental da ilha, foram identificados, em afloramentos
do nível cg3 definido por Ferreira & Neiva (1996), fácies litorais inicialmente
interpretadas como de muito alta energia hidrodinâmica e de provável origem
tsunamigénica (Cachão et al., 1998) mas que análises subsequentes sugerem
tratar-se de uma relação peperítica entre um depósito sedimentar costeiro, não
consolidado, e uma escoada (Crook, verbatim 2004).

35
Importa realçar que o topo do complexo submarino se encontra actualmente a
cotas próximas de 350 m o que, considerando os dados de Miller et al. (2005)
relativos às variações eustáticas do nível do mar, implica movimentações verticais
positivas compreendidas entre os 330-365 m. A existência de importantes
movimentos verticais foi já identificada por vários autores (e.g. Morais, 1948;
Schmincke & Staudigel, 1976). Para além do levantamento em bloco da toda a ilha,
Ferreira (1985) refere o basculamento de norte para sul ocorrido há cerca de 14 Ma
e o empolamento central verificado pela actividade vulcânica do Pico da Juliana (≈
10.5 Ma).

A análise do padrão da rede filoniana permite, como realçado por Ferreira &
Neiva (1996), invocar uma alteração significativa no campo de tensões que por
volta dos 14 Ma constrangeu os filões a orientações próximas de WNW-ESE, para
posteriormente (≈ 12.5 Ma) os condicionar segundo NNE-SSW.

Fig.12 - Aspecto da disjunção prismática no filão mugearítico do Pico da Ana Ferreira.

O segundo conjunto sedimentar, de idade plistocénica, é constituído


por arenitos carbonatados, biogénicos, acumulados por actividade eólica e
subsequentemente consolidados sob a forma de calcarenitos eólicos, com
laminação oblíqua e entrecruzada típica de corpos dunares, por vezes com
grande extensão (e.g. Calhau da Serra de Fora, Fonte da Areia). A sua
componente arenosa é maioritariamente constituída por fragmentos de

36
algas calcárias, moluscos e foraminíferos (foramol) (Silva, 2003) típica de
regimes de frio produtivo, associadas à última glaciação (Würm).
Pontualmente podem conter níveis mais grosseiros de conchas de moluscos
marinhos, embora na maioria dos casos estes níveis sejam constituídos por
gastrópodes terrestres e ocasionais ossos de aves marinhas, concentrados
por deflacção eólica e abrandamento ou mesmo paragem da sedimentação.
Mais recentemente, e refinado as idades anteriormente obtidas,
datações de radiocarbono situam a génese destas areias em torno do
intervalo 34,5 a 28,4 ka (Silva, 2003), no final estádio isotópico MIS 3
transição para MIS 2. Nalguns locais estes eolianitos recobrem níveis de
praia quaternários, atribuídos ao último óptimo climático (Émiano, MIS 5e)
(e.g. Calhau da Serra de Fora), noutros sobrepõem-se a depósitos argilosos
lacustres que assentam, em discordância, sobre substrato vulcânico (e.g.
Fonte da Areia). O seu grau de cimentação pode dar origem, por corrosão
química, a morfologias cársicas de pequena amplitude, e por desgaste
mecânico a estruturas feminiformes e marmitas de gigante.

Em síntese, a sucessão vulcânica da Ilha de Porto Santo, afectada por


movimentos de uplift e erosão, parece ser o produto de um largo espectro
de processos dinâmicos que concorrem para a formação de uma ilha
emergente (durante o Miocénico), na transição de ambiente submarino para
subaéreo (Schmidt & Schmincke, 2002). A existência abundante de produtos
submarinos, freato-magmáticos e de sedimentos marinhos, face ao pequeno
volume de produtos de natureza subaérea, explica-se pela formação dos
materiais actualmente aflorantes em ambiente maioritariamente
subaquático, ou perto da interface com a superfície, tendo sido
posteriormente levantados por importantes movimentos verticais. A
ocorrência de brechas hialoclastíticas, peperitos, conglomerados costeiros e
sedimentos recifais é frequente e reforça esta proximidade à superfície. Este
tipo de ambiente caracterizou-se igualmente pela ocorrência de fluxos de
massa de origem vulcânica e gravítica, resultantes dos processos
sedimentares que ocorreram concomitantemente com a actividade vulcânica
(Schmidt & Schmincke, 2002), como sejam os depósitos de fluxo submarino
resultantes da destruição de domos e subsequente colapso do prisma
sedimentar resultante. Estes fenómenos concorreram para a formação de

37
uma estrutura complexa que compõe a ilha, mas que contribuem para que
Porto Santo seja um exemplo de referência para o estudo de ilhas
emergentes.
As rochas magmáticas de Porto Santo pertencem a uma série
moderadamente alcalina onde os processos de diferenciação geraram
litótipos sobre-saturados mais abundantes (e.g. traquitos e riólitos) que em
todas as restantes ilhas administrativamente agrupadas no arquipélago da
Madeira (Morais, 1943; Schmincke & Weibel, 1972; veja-se VI).

38
V. AS ILHAS SELVAGENS

R. Ramalho; J.Mata; M.J. Matias; P.E. Fonseca & S. Prada

V.I INTRODUÇÃO
As Selvagens (30º 06´N; 15º 58’W de Greenwich) correspondem a um pequeno
grupo de ilhas vulcânicas administrativamente englobadas no arquipélago da
Madeira. Distinguem-se, no entanto, das restantes ilhas deste arquipélago pelo
posicionamento geográfico-geológico e pelo quimismo das suas lavas (Mata et al., e
Mata & Martins, este volume, e referências citadas). Estes factos têm levado alguns
autores a considerarem as Selvagens como um arquipélago distinto do da Madeira
(e.g. Morais, 1948; Mitchel-Thomé, 1976)
As Selvagens situam-se 165 km a NNE da ilha de Tenerife (Arquipélago das
Canárias) e 290 km a SSE da ilha da Madeira. Estão edificadas sobre litosfera
oceânica, junto à anomalia M25 (156 Ma) e no bordo NW da extensa anomalia
batimétrica positiva que, desenvolvendo-se paralelamente ao continente africano,
também engloba as Canárias.
As Selvagens correspondem à culminação de dois edifícios vulcânicos do tipo
escudo (Geldmacher et al., 2001) que, unidos pela base, se desenvolvem desde os
-4000 m e se individualizam a partir dos -1000 m de profundidade. Os dois vulcões
definem um alinhamento NE-SW (Fig. 13), sensivelmente paralelo à costa africana
e a outros alinhamentos de edifícios vulcânicos, submarinos ou emersos, tal como o
formado pelas ilhas de Fuerteventura e Lanzarote (Canárias). A origem destes
alinhamentos NE-SW é ainda motivo de debate. Os modelos existentes para a sua
explicação englobam: hotspot track(s) associado(s) ao movimento lento da placa
africana para NE sobre pluma(s) mantélica(s) (Geldmacher et al., 2000;
Geldmacher & Hoernle, 2000); controle estrutural do vulcanismo por parte de
estruturas pré-existentes associadas à transição da litosfera continental africana
para a litosfera oceânica atlântica (Schmincke, 1982; Schmincke & Sumita, 1998);
controle estrutural imposto por fracturas oceânicas e/ou direcções estruturais
identificadas no on-shore africano (Araña & Ortiz, 1991); ou buckling litosférico
associado a uma tectónica compressiva relacionada com subducção incipiente do
Atlântico (Ribeiro et al., 1996). Ainda que a distribuição de idades na região aponte
claramente para a actuação de uma pluma mantélica (Geldmacher et al., 2005),
não é de excluir a influência tectónica no posicionamento de alguns dos edifícios
insulares. A julgar pelo seu posicionamento geográfico e pelas características
isotópicas do seu quimismo, as Selvagens poderão resultar da mesma pluma que
originou o arquipélago das Canárias (Geldmacher et al., 2005; Mata & Martins, este

39
volume). Aliás a sua maior afinidade petrológica com as Canárias, que com a
Madeira, é de há muito realçada (e.g. Aires-Barros, 1961).
As Selvagens são constituídas por dois pequenos grupos de ilhas e ilhéus. O
grupo situado a Nordeste é formado pela Selvagem Grande e dois ilhéus adjacentes,
o Palheiro da Terra e o Palheiro do Mar. A SW deste grupo, e separado dele por um
profundo canal que corresponde ao intervalo entre os edifícios vulcânicos acima da
profundidade de coalescência, situa-se o grupo que, compreendendo a Selvagem
Pequena, o ilhéu de Fora e outros pequenos ilhéus adjacentes, corresponde à parte
emersa do edifício SW. Nota-se na batimetria, acima da isóbata dos 500m, que a
extremidade deste edifício é caracterizada por uma forma em ferradura. Esta forma
foi interpretada Zbyszewski et al. (1979) como herança de uma antiga cratera
vulcânica submersa cujo bordo, aberto para NE, estaria representado pela
Selvagem Pequena e pelo grupo de ilhéus e recifes circundantes. Esta morfologia,
no entanto, poderá dever-se a um colapso gravítico que afectou o flanco NW deste
vulcão. Efectivamente Krastel et al. (1999) mencionam a existência de importantes
depósitos de avalanche de detritos (submarinos) a circundar o sopé do edifício
vulcânico das Selvagens (tal como acontece noutras ilhas, nas Canárias), o que
sugere que a ocorrência deste tipo de movimentos de massa não é incomum neste
tipo de edifícios. Esta morfologia poderá também dever-se à estrutura do edifício
em escudo, formado por dois focos distintos de vulcanismo de carácter fissural,
dispostos NE-SW e NNE-SSW respectivamente.
A Selvagem Grande, a maior e a mais elevada das Selvagens, tem cerca de 2.46
Km2 de superfície. É encimada por zona planáltica com altitude entre 70 e 100 m
de onde sobressaem o Pico da Atalaia (163 m) do lado W, o Pico dos Tornozelos
(136 m) do lado E e o Cabeço do Inferno (107 m) do lado sul. O litoral é, em geral,
abrupto e a linha de costa é orlada de baixios. É do lado sul e no extremo oriental,
no Portinho das Cagarras, que se pratica melhor desembarque e acesso para o
planalto.
A Selvagem Pequena apresenta forma irregular, sendo mais alongada na
direcção E-W. Com uma altitude média de apenas 10 m a sua área emersa varia
significativamente em função das marés apresentando, em baixa-mar, cerca de
0.65 Km2 de área. O ponto culminante da ilha corresponde ao Pico do Veado (49 m)
localizado a norte.
O Ilhéu de Fora localiza-se a W da Selvagem Pequena e, apresentando-se
igualmente com forma irregular, tem o seu ponto mais elevado à cota de 18 m.

40
Figura 13: Batimetria (isóbatas em metros) e mapa geológico das Ilhas Selvagens, adaptado
e simplificado de ZBYSZEWSKY et al. (1979).

V.2 VULCANO-ESTRATIGRAFIA
O primeiro esboço geológico da Selvagem Grande foi apresentado por Morais
(1940), tendo posteriormente Zbyszewski et al. (1979) publicado a carta geológica
das Selvagens, na escala 1/25000, onde a vulcano-estratigrafia definida
compreende da base para o topo: Complexo Vulcânico Inferior; Complexo
Sedimentar Miocénico; Complexo Vulcânico Superior; Praias Quaternárias e Areias
Organogénicas Calcárias. Posteriormente, num refinamento desta vulcano-
estratigrafia, Geldmacher et al. (2001) individualizaram um complexo filoniano
máfico a cortar as duas primeiras unidades, e a existência de conglomerados
epiclásticos subjacentes ao Complexo Vulcânico Superior (Fig.14).

41
Fig.14 – Coluna vulcano-estratigráfica da Selvagem Grande
(adaptada de Geldmacher e tal., 2001). A espessura relativa das
unidades não se encontra à escala

O Complexo Vulcânico Inferior é formado por lavas muitas vezes porfíricas


que alternam, em alguns pontos, com brechas e tufos vulcânicos submarinos.
Evidenciam uma sucessão de episódios vulcânicos, quer efusivos, quer explosivos.
Como demonstrado por Matias (1986) e Geldmacher et al. (2001) as rochas que o
constituem são subsaturadas em sílica, apresentando composições que se
estendem dos nefelinitos aos fonólitos. Predominam os fonólitos e os fonotefritos.
Frequentemente podem ser observadas brechas, de matriz nefelinítica, englobando
nódulos de rochas granulares tais como piroxenitos, horneblenditos, biotititos,
melteijitos, ijolitos, teralitos, tendo também sido referenciado um fragmento de
rocha carbonatítica (Hérnandez-Pacheco, comun. oral). Os nódulos silicatados

42
apontam, pelo seu carácter, para a existência de câmaras magmáticas onde
ocorreram os processos de fraccionação responsáveis pelo espectro composicional
das lavas, que se estende até aos fonólitos. Note-se, no entanto, que nem todos os
nódulos são coevos das lavas uma vez que a um dos nódulos, de natureza
hiperalcalina, foi por Ferreira et al. (1988) atribuída uma idade de 32 Ma, i.e
significativamente mais elevada que as atribuídas às lavas aflorantes.
Este complexo vulcânico é atravessado por uma densa rede filoniana que se
orienta segundo várias direcções: N-S, NNE-SSW, ENE-WSW e NW-SE. Estes filões,
materializando condutas de alimentação magmática de estruturas vulcânicas
entretanto erodidas, formam um conjunto similar ao que em muitas ilhas da
Macaronésia se gerou durante a principal fase de edificação insular. Estes filões têm
composições que vão desde o basalto mais ou menos porfíritico, a nefelinitos e
fonólitos. O Complexo Vulcânico Inferior, que apresenta características afins em
todas as ilhas Selvagens, constitui na Selvagem Grande toda a periferia da ilha,
compondo as arribas até aos 70-90m de altura. Nas restantes ilhas e ilhéus
constitui, praticamente, a única formação.
Ao Complexo Vulcânico Inferior foram inicialmente atribuídas idades K/Ar
compreendidas entre os 24 e 27 Ma (Ferreira et al., 1988) o que viria a ser
confirmado por Geldmacher et al. (2001) ao publicarem um conjunto de datações
40
Ar/39Ar variando entre os 24 e 26 Ma.
Na Selvagem Grande sobre uma plataforma de erosão marinha, talhada no
Complexo Vulcânico Inferior, assenta o Complexo Sedimentar Miocénico. Este
complexo sedimentar, que apresenta espessura entre 5 e 10 m, é visível em toda a
periferia da ilha, dos 75 aos 90 m de altitude, destacando-se, pela sua cor clara,
quando se avista a ilha do mar. Inicia-se por um conglomerado com cimento
calcário, formado por elementos do complexo vulcânico subjacente, a que se
seguem estratos de tufos calcários mais ou menos consolidados, de cor alaranjada
ou amarelada e francamente fossilíferos. As espécies macrofósseis estudadas
(Böhm, 1898; Berkeley-Cotter, 1892 e Joksimowitsch, 1911) levaram estes autores
a considerar o complexo sedimentar como pertencendo ao Miocénico.
87 86
Posteriormente, determinações de Sr/ Sr e a sua comparação com a curva de
variação temporal para a água do mar revelaram uma idade compreendida entre 13
e 24 Ma para estes sedimentos (Geldmacher et al., 2001), confirmando a idade
miocénica dos depósitos. Este intervalo é assim considerado como um período de
acalmia vulcânica e subsequente erosão do edifício insular.
Uma característica peculiar das Selvagens que tem chamado a atenção de
vários autores é a existência de fendas e fissuras preenchidas por materiais
carbonatados, geralmente calcarenitos, que cortam em todas as direcções o

43
Complexo Vulcânico Inferior. Estes materiais carbonatados possuem fósseis de
rotalídeos, anfisteginídeos, textularídeos, algas melobesiáceas. Segundo Cuvillier
(in Jérémine, 1951) parecem indicar uma idade oligocénica ou miocénica inferior.
Estas estruturas, devido à semelhança morfológica com filões, têm sido designadas
erroneamente por “filões calcários” (“neptunian dykes”).
Recentemente Geldmacher et al. (2001) notou a existência de um complexo
filoniano distinto, que corta os Sedimentos Miocénicos, e que é cortado por uma
discordância, constituída pela sobreposição de outra unidade sedimentar. A unidade
mais recente, de natureza conglomerática, era anteriormente considerada como
parte da unidade sedimentar prévia. Este conjunto filoniano, aflorando
principalmente na zona SE da Selvagem Grande, é essencialmente máfico e
provavelmente corresponde a um primeiro episódio vulcânico pós-erosivo que
ocorreu por volta dos 8 a 12 Ma e cujos edifícios e produtos foram já erodidos
(Geldmacher et al., 2001). Os conglomerados evidenciados por estes autores, de
natureza epiclástica ter-se-ão gerado pelo desmantelamento das unidades
anteriores.
O Complexo Vulcânico Superior é constituído na base por tufos vulcânicos e
lapilli pouco coerentes. As primeiras erupções terão sido submarinas, mas
posteriormente ter-se-ão seguido episódios também de carácter explosivo, mas em
condições subaéreas, como o mostram as escórias e lapilli de cor avermelhada. A
actividade explosiva alternou ou foi contemporânea de períodos efusivos,
representados por escoadas lávicas, essencialmente basálticas. Esta unidade terá
coberto o edifício insular, arrasado, com uma sequência vulcânica de pequena
espessura, cujos aparelhos, apesar de muito desmantelados, são ainda
parcialmente reconhecíveis. Os Picos da Atalaia, dos Tornozelos e Cabeço do
Inferno correspondem a aparelhos vulcânicos cujo período principal de actividade
se atribui ao Pliocénico (Ferreira, 1985; Geldmacher et al., 2001). Destes três
antigos cones apenas o do Pico dos Tornozelos se encontra melhor preservado, se
bem que, já bastante erodido. As lavas são em geral porfíricas, variando desde
termos ancaramíticos, até basaltos olivínicos e a termos mais pobres em sílica
(basanitos), mas onde os feldspatóides ainda não estão presentes. Quer os
derrames, quer os piroclastos são portadores de encraves xenolíticos ultramáficos,
com dimensões que chegam a ultrapassar os 5 cm. Estes xenolitos são agregados
monominerais ou poliminerais, (olivina, ortopiroxena, clinopiroxena, espinela,
anfíbola, flogopite) dando origem a vários tipos litológicos: harzburgitos com
espinela, lherzolitos e dunitos, wehrlitos com espinela, websteritos olivínicos e
clinopiroxenitos olivínicos. Correspondem quer a cumulados gerados a partir dos

44
magmas alcalinos, quer a porções de litosfera oceânica mais ou menos afectada
por processos de metassomatismo (Munhá et al., 1991).
Tal profusão de xenólitos indica, em nossa opinião, que os magmas em ascensão
não tiveram tempos de residência significativos em câmaras magmáticas onde
fossem, por precipitação gravítica, expurgados dos encraves que transportavam.
O Complexo Vulcânico Superior que foi extruído por volta dos 3.4 Ma
corresponde ao rejuvenescimento pós-erosivo do edifício vulcânico (Geldmacher et
al., 2001).
O nível quaternário que está representado, quer na Selvagem Grande quer na
Selvagem Pequena, corresponde a vestígios de depósitos litorais, como indicam as
cascalheiras que constituem a base e que se formaram em pequenas enseadas. Na
Selvagem Pequena surgem à cota de 18m, na base do Pico do Veado, mas na
Selvagem Grande surgem à cota de 75-80m, na parte NE da ilha (Zbyszewski et
al., 1979). Superiormente, a cobertura quaternária é constituída por areias
organogénicas calcárias, onde predominam restos de gastrópodes terrestres.
Quer os depósitos de cobertura, quer os depósitos de vertente (e.g. enseadas
das Galinhas e das Pedreiras) encontram-se frequentemente consolidados por um
cimento, em geral, de natureza calcária. São Igualmente comuns crostas e nódulos
soltos e dispersos à superfície, de cores claras, amarelada e esverdeada, cujo
estudo mineralógico revelou a presença de variscite e opala. Para a formação
destes materiais fosforíticos terão contribuído processos de meteorização das
formações vulcânicas (fosfoalitização e/ou fosfo-ferro-sialitização) eventualmente
associados a processos biológicos (Aires-Barros et al, 1991).
A Selvagem Pequena é quase exclusivamente constituída por resquícios do
Complexo Vulcânico Inferior, intensivamente destruído pela erosão marinha. As
litologias que a compõem compreendem essencialmente aglomerados de lapilli
avermelhado, cortado por abundantes diques de natureza fonolítica e nefelinitica
(Honnorez, 1966). As idades determinadas nestas litologias revelaram uma idade
próxima dos 29 Ma (Geldmacher et al., 2001).

V.3-EVIDÊNCIA PARA MOVIMENTOS DE SOERGUIMENTO DAS SELVAGENS


Nas ilha oceânicas, a existência de plataformas de abrasão marinha e/ou de
sedimentos marinhos a cotas distintas da do nível do mar actual são indicadores de
variações eustáticas do nível do mar e/ou de levantamento da porção crostal que
suporta o edifício insular.
Na Selvagem Grande, a existência de importante plataforma de abrasão marinha
e respectivos sedimentos a uma cota próxima dos 80 m acima do actual nível
médio das águas do mar, de idade miocénica, sugere que a ilha sofreu movimentos

45
verticais cujo balanço resultou num levantamento. Efectivamente, segundo a curva
eustática de Miller et al. (2005), o período compreendido entre os 13 e os 24 Ma
caracterizou-se por uma altitude média das águas do mar cerca de 4 m abaixo do
nível actual, o que sugere um levantamento aproximado de 80-85 m desde o
Miocénico até à actualidade. Segundo a mesma curva eustática, e se forem
utilizados os valores máximo e mínimo do nível eustático ocorridos entre 13 e 24
Ma (que correspondem a 17 m aos 15.6 Ma e a -32 m aos 24 Ma respectivamente),
o levantamento mínimo e máximo sugerido corresponde a cerca de 63 m e 110 m
respectivamente.
Refira-se que parte significativa deste levantamento ter-se-á processado no
Quaternário. De facto, ainda que não se conheça rigorosamente a idade dos
depósitos sedimentares quaternários, a sua posição acima dos 75 m e a
inexistência de máximos eustáticos acima dos 25 m no Quaternário (veja-se Miller
et al., 2005), permitem inferir um levantamento quaternário mínimo de cerca de 50
m.
Importa referir que a existência de movimentos verticais nas Selvagens já em
1948 era sugerida por Morais.

V.4- CONCLUSÕES
Em resumo, poder-se-á concluir que as Selvagens resultaram de actividade
magmática associada a uma pluma mantélica que, a julgar pelos dados
geocronológicos e geoquímicos (Geldmacher et al., 2005; Mata & Martins, este
volume), poderá ter sido a mesma que gerou as Canárias.
As ilhas correspondem ao topo de dois edifícios distintos, coalescentes na base,
que se elevam abruptamente do fundo oceânico.
A vulcano-estratigrafia das ilhas é caracterizada por uma fase de construção de
escudo, extruída por volta dos 29-24 Ma, seguida de um período de inactividade
vulcânica e consequente erosão entre os 24 e os 12 Ma. Dois períodos de actividade
vulcânica ocorreram posteriormente, aos 12-8 Ma e cerca dos 3.4 Ma.
Factos marcantes da evolução da Selvagem Grande, inferidos das sequências
actualmente expostas, são a existência de fases de actividade magmática
separadas por cerca de 26 Ma e a ocorrência de dois significativos hiatos de
actividade eruptiva. Referimo-nos aos períodos 24-12 Ma e 8-3.4 Ma. Ainda que a
muito baixa velocidade de deriva da placa africana possa ser encarada como causa
principal de tais particularidades, interessa referir que no vizinho Arquipélago das
Canárias o maior hiato de actividade vulcânica está registado na sequência vulcano-

46
estratigráfica de Fuerteventura onde não ultrapassa os 8 Ma, em oposição aos 12
Ma registados na Selvagem Grande.

47
VI. PETROLOGIA E GEOQUÍMICA DO ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA

J. Mata & S. Martins

As ilhas que constituem o arquipélago da Madeira são consensualmente


consideradas como pontos quentes cuja origem é atribuível a plumas mantélicas
profundamente enraizadas (e.g. Geldmacher et al., 2005) ou, alternativamente, a
estruturas plúmicas resultantes da destabilização de uma vasta região anómala
detectada por Hoernle et al. (1995) no manto superior (e.g. Mata et al., 1998). O
número destas estruturas envolvido na origem das ilhas do arquipélago poderá ter
sido de dois se considerarmos: o posicionamento geográfico das ilhas Selvagens
relativamente ao grupo Madeira-Desertas-Porto Santo (MDPS) (veja-se I), a
distribuição de idades das ilhas e monte submarinos nesta região do Atlântico
(Geldmacher et al., 2005) e as diferenças químicas entre estes dois grupos de ilhas
(ver abaixo).
Os magmas na origem destas ilhas formaram-se presumivelmente por
descompressão adiabática das plumas (s.l.) em ascensão pelo que a espessura da
litosfera terá desempenhado um papel importante como condicionante das taxas de
fusão que caracterizaram a geração magmática (veja-se Watson & McKenzie, 1991;
Mata, 1996). Nesta perspectiva, a elevada espessura da litosfera nesta região do
Atlântico (≈ 100 km; e.g Cazenave et al., 1988) terá limitado as taxas de fusão a
valores relativamente baixos, enquanto que a ocorrência dos processos de génese
magmática terá sido constrangida a profundidades típicas da zona dos lherzolitos
com granada (e.g. Mata et al. 1989; 1998; Mata, 1996; Geldmacher & Hoernle,
2000). Como consequência, o quimismo dos magmas do arquipélago da Madeira é
maioritariamente alcalino o que se depreende do posicionamento das rochas
madeirenses no diagrama TAS (Fig.15) e das descrições anteriormente feitas pelos
autores que se têm ocupado do seu estudo (e.g. Gagel, 1912; Morais, 1945, 1948;
Hughes & Brown, 1972; Schmincke & Weibel, 1972; Schmincke, 1973; Aires-Barros
et al., 1974; 1979; 1980; Silva et al., 1975; Aires-Barros 1983; Matias, 1984;
1986; Mata et al., 1989; 1998; Geldmacher & Hoernle, 2000; Geldmacher et al.,
2001; Ribeiro, 2001; Schwarz et al., 2005; Ribeiro et al. 2005)
Chama-se, no entanto, a atenção para o facto de no grupo MDPS não ser
infrequente, mesmo entre rochas representativas de magmas pouco fraccionados
(MgO > 6%), a ocorrência de exemplares caracterizados pela presença normativa
(CIPW) de hiperstena, o que lhes confere um carácter saturado (i.e. sub-alcalino).
A este carácter não é estranho o facto de as rochas máficas das ilhas em causa se
caracterizarem por valores relativamente baixos de Na2O+K2O e da razão
alcalis/sílica, o que as leva a projectarem-se junto aos limites que têm sido

48
propostos para a distinção entre rochas alcalinas e sub-alcalinas. Note-se, no
entanto, que todas estas rochas se caracterizam por Y/Nb < 0.8, i.e. por valores
típicos de rochas alcalinas.

Fig.15 - Diagrama sílica vs. total de alcalis para as ilhas do arquipélago da Madeira.
Campos composicionais de acordo com a IUGS (Le Maitre et al., 2002). As linhas 1 e 2
correspondem às divisórias composicionais entre os campos alcalino e sub-alcalino,
propostas por MacDonald (1968) e Irvine & Baragar (1971), respectivamente. Dados
compilados dos trabalhos referenciados no texto.

49
Na Fig.15 são evidentes diferenças no grau de alcalinidade das ilhas do
arquipélago. As Selvagens, onde chegam a ocorrer rochas de composição
nefelinítica, apresentam um carácter alcalino mais marcado que o patenteado pelas
ilhas do grupo MDPS onde tais litótipos não ocorrem e que se caracterizam por
“trends” que se desenvolvem próximo da fronteira entre os campos alcalino e sub-
alcalino.
Os produtos diferenciados ocorrentes nestes dois grupos de ilhas são também
distintos e, de certa forma, correlacionáveis com o grau de alcalinidade (veja-se
também Schmincke, 1973; Matias, 1984). De facto, enquanto que nas Selvagens
não são raras rochas fonolíticas, em MDPS não ocorrem tais litótipos uma vez que
os processos de evolução magmática se deram em direcção a composições sobre-
saturadas em sílica. Tal é particularmente evidente em Porto Santo onde rochas
sobre-saturadas de composição traquítica e riolítica não são raras e constituem, por
vezes, importantes relevos de dureza de que é exemplo o Pico do Facho que, com
os seus 517 m, se constitui como o ponto culminante da ilha. Na Madeira os
processos de diferenciação magmática foram significativamente menos importantes
que em Porto Santo. Os mugearitos, sub-saturados em sílica, de Porto da Cruz,
assumem-se com as rochas lávicas de composição mais evoluída enquanto que
algumas, raras, rochas filoneanas apresentam composições traquíticas sobre-
saturadas em sílica, o mesmo acontecendo, provavelmente, com algumas rochas
piroclásticas.
Na ilha da Madeira os processos de diferenciação são razoavelmente bem
conhecidos tendo envolvido a cristalização precoce de espinela cromífera e olivina
(Fo = 88–85 mol%), seguida de olivina (Fo = 85-50 mol%) + diópsido
(progressivamente mais rico em Ti) + espinela (Cr-Ti → titanomagnetite) ±
plagioclase, este tecto-silicato tornando-se uma fase fenocristalina importante nos
termos havaíticos e mugearíticos (Hughes & Brown, 1972; Aires-Barros et al., 1974;
Mata et al., 1989; Mata, 1996; Mata & Munhá, 2004). A evolução de composições
sub-saturadas a sobre-saturadas em sílica foi por Mata (1996) explicada como
consequência da fraccionação de anfíbola e, eventualmente, de óxidos de Fe e Ti.
A julgar pelo quimismo das rochas (Mata, 1996), pelos dados de química mineral
(Mata & Munhá, 1998; Schwarz et al., 2004), pelas características de alguns dos
xenólitos ultramáficos carreados para a superfície pelas lavas menos evoluídas
(Munhá et al., 1990) e por dados barométricos obtidos a partir de inclusões fluidas
(Schwarz et al., 2004), os processos de fraccionação na ilha da Madeira e nas
Desertas terão tido um carácter polibárico.

50
Em concordância com o seu carácter mais sub-saturado em sílica, os magmas
das Selvagens, são também notoriamente mais ricos em elementos incompatíveis
que os das restantes ilhas do arquipélago de similar grau de evolução magmática
(Fig.16). Em termos elementares, as Selvagens distinguem-se também pelas mais
significativas anomalias negativas de Zr e Hf, característica que está muitas vezes
ausente em MDPS.

Fig.16 - Padrões de elementos incompatíveis representativos de amostras de rochas


lávicas de composição primitiva (Ni ≥ 150 ppm) das ilhas do arquipélago da Madeira. MDPS:
Madeira, Desertas e Porto Santo. Normalização usando a composição proposta por Palme &
O’Neill (2003) para o manto primitivo.

Uma das características elementares dos magmas deste arquipélago é a


presença de marcadas anomalias negativas de potássio (Fig.16). Mata et al. (1998)
interpretaram-nas, no caso da ilha da Madeira, como resultado da contaminação de
magmas provenientes da pluma por fundidos gerados em equilíbrio com anfíbola
litosférica. Esta ideia foi reforçada por Widom et al. (1999) que interpretou as
187
assinaturas relativamente não radiogénicas de Os/188Os associadas a altos
valores de Δ8/4, como resultando da assimilação de fundidos originados em
domínios metassomatizados da litosfera. A presença de anfíbola na litosfera
oceânica poderá ter sido originada pelos processos de metassomatismo
carbonatítico identificados por Mata et al. (1999) a partir de valores de Ti/Eu
claramente subcondríticos caracterizando os magmas gerados por mais baixas
taxas de fusão. Tais processos poderão ter sido extensíveis às Selvagens,
relativamente às quais Geldmacher et al. (2001) propuseram o condicionamento
das composições magmáticas pela interacção com domínios litosféricos
caracterizados pela presença de flogopite.

51
A dicotomia entre as Selvagens e o grupo MDPS é também evidente nas
87
características isotópicas. No diagrama Sr/86Sr vs. 143
Nd/144Nd (Fig.17), ainda que
ambos os grupos de ilhas se caracterizem por assinaturas indicando a sua
proveniência de fontes caracterizadas por empobrecimento integrado no tempo, as
143
Selvagens apresentam valores de Nd/144Nd nitidamente menos radiogénicos, o
que aponta para diferenças significativas entre as fontes mantélicas que alimentam
o magmatismo nestas duas regiões.

Fig.17 - Diagrama 87Sr/86Sr vs. 143Nd/144Nd para rochas do arquipélago da Madeira. Com
o objectivo de evitar problemas relacionados com o “bias” inter-laboratorial, nesta figura e
na 18, foram somente projectadas as análises apresentadas por Geldmacher & Hoernle
(2000) e Geldmacher et al. (2001). Não obstante as amostras terem sido lixiviadas
laboratorialmente, a dispersão de 87Sr/86Sr patenteada pelas rochas das ilhas Selvagens
poderá reflectir, parcialmente, interacção com água do mar (Geldmacher et al., 2001).

A variabilidade composicional dos magmas mantélicos não orogénicos é


consensualmente considerada como o resultado da mistura, em diferentes
proporções, do que se convencionou chamar de componentes mantélicos. Esta
abordagem foi aqui feita pela primeira vez por Mata et al. (1989) que identificaram
na fonte mantélica da ilha da Madeira os componentes DMM e HIMU. A presença
vestigial do componente EM1 foi posteriormente referenciada por Mata (1996) e
Mata et al. (1998). Estes autores consideraram o componente DMM como
largamente dominante e constituindo mais de 85% da fonte mantélica dos magmas
da ilha da Madeira. Tal não é desmentido pelo valor médio de δ18O (5.7 per mil)
obtido por Mata & Kerrich (2000) para olivinas fenocristalinas, valor idêntico ao
normalmente obtido para os MORB.
A presença do componente HIMU foi interpretada como o resultado da
reciclagem para o manto de crosta oceânica alterada, o que teria ocorrido no
Proterozóico (1.42 Ga: Mata et al., 1998; 881Ma: Geldmacher & Hoernle, 2000). A

52
206
julgar pelos mais radiogénicos valores de Pb/204Pb das lavas das Selvagens, a
proporção do componente HIMU terá aqui atingido valores mais importantes que os
de cerca de 15% determinados, por Mata et al. (1998), para a ilha da Madeira (Fig.
18). Nesta ilha, e para cada uma das várias sequências vulcânicas estudadas por
Mattielli et al. (2005), verifica-se uma tendência para uma diminuição das razões
206
Pb/204Pb com a diminuição da idade implicando um progressivo incremento da
proporção de DMM. No entanto a menos radiogénica das amostras estudadas
corresponde à mais antiga (5.57 Ma) das amostras datadas na ilha da Madeira
(veja-se também Ribeiro et al. 2005).

Fig.18 - Diagrama 207Pb/204Pb vs. 206Pb/204Pb vs. 143Nd/144Nd demonstrando a significativa


diferença entre as amostras de MDPS e das Selvagens o que aponta indubitavelmente para
fontes mantélicas composicionalmente distintas. Note-se que para valores idênticos de
206
Pb/204Pb, as lavas de MDPS apresentam valores de 207Pb/204Pb tendencialmente mais
baixos que os das Selvagens.

VI.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS


As rochas magmáticas que constituem as ilhas administrativamente agrupadas
no arquipélago da Madeira são maioritariamente alcalinas. No entanto, o grau de
sub-saturação em sílica é significativamente mais acentuado nas Selvagens que
também se destacam do conjunto pelo posicionamento geográfico, idade,
composição em elementos incompatíveis e assinaturas isotópicas.
Ainda que as câmaras magmáticas que alimentaram as Desertas e a Madeira não
tenham sido as mesmas e que estas sejam consideradas a expressão superficial de
um sistema de rifts com dois braços distintos (Madeira e Desertas) (veja-se
Schwarz et al., 2004), o facto de estas ilhas serem circundadas pela isóbata dos

53
200 m, a sobreposição de idades e a similitude petroquímica, confere-lhes um
carácter de unicidade. Por outro lado o conjunto Madeira-Desertas, ainda que
distinto de Porto Santo pela sua maior alcalinidade e menor importância dos
processos de diferenciação apresenta, relativamente a esta ilha, semelhanças
isotópicas que permitem considerá-las como resultado da actuação de uma mesma
pluma mantélica, que originou primeiramente Porto Santo e depois Madeira,
Desertas e montes submarinos da Crista do Funchal (e.g. Ferreira, 1985; Mata et
al., 1998; Geldmacher et al., 2006). Esta pluma mantélica teria anteriormente
gerado Sena, Ampère, Ormonde e, eventualmente Monchique, (Geldmacher et al.,
2000).
Claramente fora da zona de influência da pluma da Madeira situam-se as
Selvagens cujas idades, posicionamento geográfico e assinaturas isotópicas
permitem a sua filiação na província vulcânica das Canárias, também ela
considerada como resultado da actuação de uma pluma mantélica (e.g. Geldmacher
et al., 2005).

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