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A confirmação científica sobre como deve ser esse líquido – doce ou salgado –
deverá demorar, de acordo com o doutor em astronomia pela USP, Douglas Galante.
Ele diz que para conseguir isso, precisamos perfurar o solo do planeta em uma
profundidade que ainda não estamos preparados.
"A certeza vai existir só quando formos lá em Marte com uma sonda perfurar e
medir", disse Galante. O trabalho foi feito com a ajuda do radar da sonda Mars
Express, lançada em 2003, que mediu a quantidade de água na geleira. Os dados
foram coletados entre maio de 2012 e dezembro de 2015.
As próximas missões até o planeta vermelho, como a Mars 2020, deverão fazer
perfurações, mas não conseguirão chegar a esse novo reservatório descoberto – os
instrumentos conseguem se aprofundar apenas alguns metros, e seria necessário
chegar mais fundo.
Pesquisadores italianos mostram réplicas dos radares Cosm-SkyMed nesta quarta-feira (25) antes de coletiva de
imprensa; eles analisaram sinais de radares e detectaram a presença de água líquida em Marte (Foto: Gregorio
Borgia/AP Photo)
Profundidade incerta
Outra questão é que o estudo não determina a profundidade exata do reservatório.
Isso significa que os cientistas não puderam especificar se é uma piscina subterrânea,
algo parecido com um aquífero ou apenas uma camada de lodo.
"Em comparação com os lagos terrestres, é um lago pequeno com seus 20
quilômetros de diâmetro. Mas não conseguimos saber a profundidade porque a água
atenua o sinal do radar", disse o astrônomo autor do estudo, Roberto Orosei, em
entrevista para a BBC.
"Mesmonocasomaispessimista,portanto,acredito queovolumedeáguadeveserdevárias
centenasdemilhõesdemetroscúbicos."
Água em Marte: mapa da área investigada com uso de radares por pesquisadores italianos. (Foto: Divulgação)
Água em salmoura
Antes dos pesquisadores italianos, a Nasa já tinha apontado outras evidências de água
líquida em Marte. Em 2015, a agência anunciou que o robô Curiosity descobriu
sinais da existência de 'salmouras' na superfície do planeta, formadas quando os
sais no solo, chamados de percloratos, absorvem vapor de água da atmosfera.
"O que a gente descobriu primeiro é que existia água congelada em solo marciano.
Depois, foram encontradas evidências de água escorrendo pela superfície de Marte,
mas ela aparecia esporadicamente, só no verão, e era salobra. E o que esse novo
trabalho mostrou? É a primeira vez que foi encontrada uma grande quantidade de
água na superfície marciana em estado líquido", explicou Galante.
Esse lago, ou reservatório, é muito parecido com um outro encontrado na Antártica, o
Vostok. Ele é estudado há anos por cientistas para ser uma referência – eles querem
entender se é possível a proliferação de vida no local.
Além disso, ainda em 2015, a Nasa apontou que o "Planeta Vermelho", por sua
distância do Sol, seria muito gelado para conseguir manter água na forma líquida na
superfície, mas os sais no solo poderiam diminuir seu ponto de congelamento,
permitindo a formação de camadas de água bem salgada – como uma salmoura.
O que é importante entender é que esses sais na água de Marte, os percloratos, podem
não ser os melhores para proliferação de organismos vivos e são tóxicos.
Pesquisadores mostram, no entanto, que há alguns tipos de vida que poderiam viver
nessa salmoura do planeta vermelho.
"Há muito tempo já dizia que a superfície de Marte seria inabitável por causa desse
sal. Mas desde 2017 estão saindo trabalhos mostrando micro-organismos na Terra
que são resistentes. Quem sabe eles também estão em Marte?", completou.
Material orgânico
Neste ano, a Nasa publicou também na revista "Science" que descobriu material
orgânico preservado entre rochas (argilitos) com cerca de três bilhões de anos em
cratera do planeta Marte. Os cientistas acreditam que pode ser uma evidência de vida
no passado.