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SENAC – SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL

CURSO TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO

BIOSSEGURANÇA
Profa. Ana Paula Pena
Arquiteta e Urbanista
Especialista em Preservação Ambiental das cidades
Engenheira de Segurança do Trabalho
Rio de Janeiro, Abril de 2007.
SUMÁRIO

1. O que é Biossegurança......................................................................................04
1.1 Níveis de Biossegurança.......................................................................07
2. Definições Básicas Aplicadas a Biossegurança.................................................07
3. Noções Básicas de Microbiologia.......................................................................11
3.1 Histórico.................................................................................................11
3.2 O que é Microbiologia............................................................................13
3.3 Vias de penetração dos microorganismos.............................................15
3.4 Classificação dos microorganismos.......................................................16
4. Noções Básicas de Doenças Infecto Contagiosas.............................................19
5. Princípios da Biossegurança..............................................................................22
5.1 Técnicas e práticas de laboratório.........................................................22
5.2 Equipamentos de segurança.................................................................22
5.3 Design do laboratório.............................................................................23
6. Riscos Ocupacionais..........................................................................................24
6.1 Classificação dos riscos.........................................................................24
6.2 Avaliação dos riscos...............................................................................26
7. Higiene e Profilaxia.............................................................................................28
7.1 Lavagem das mãos................................................................................28
7.2 Manipulação de instrumentos e materiais..............................................30
7.3 Manipulação de materiais cortantes e de punção..................................30
7.4 Ambientes e equipamentos....................................................................31
7.5 Roupas e campos de uso no paciente...................................................33
7.6 Vacinação...............................................................................................34
8. EPI e EPC – Barreiras de Contenção.................................................................35
8.1 Equipamentos de proteção individual – EPI...........................................35
8.2 Equipamentos de proteção coletiva – EPC............................................39
9. Ferramentas da Qualidade em Biossegurança..................................................37
9.1 Principais sistemas de gestão da qualidade..........................................45
9.2 Biossegurança nos requisitos dos sistemas de gestão da qualidade
laboratorial...................................................................................................47
10. Gerenciamento do Descarte dos Resíduos dos Serviços de Saúde................57
10.1 Manejo, tratamento e destino final dos resíduos..................................58
10.2 Classificação dos resíduos...................................................................59
10.3 Programa de redução na fonte.............................................................60
10.4 Segregação..........................................................................................60
10.5 Identificação dos resíduos....................................................................60
10.6 Coleta e transporte interno...................................................................61
10.7 Transporte externo...............................................................................61
10.8 Plano de contingência..........................................................................61
10.9 Logística e movimentação dos resíduos..............................................62
10.10 Administração e responsabilidade.....................................................62

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11. Introdução ao Mapa de Riscos.........................................................................63
12. Bibliografia Recomendada................................................................................66
APRESENTAÇÃO

A elaboração desta apostila tem como objetivo subsidiar os encontros da


oficina de Biossegurança, no curso técnico em segurança do trabalho, e fornecer
material de consulta para o exercício de aprendizagem dos alunos.
Neste sentido buscou-se reunir documentos de diversas áreas e “correntes”
da Biossegurança, sem uma discussão aprofundada de cada uma. Esta opção
baseou-se no princípio de que deveria ser fornecido o maior volume de
informações aos alunos e que durante os encontros os principais aspectos seriam
debatidos.

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1. O QUE É BIOSSEGURANÇA

A lógica da construção do conceito de biossegurança, teve seu inicio na


década de 70 na reunião de Asilomar na Califórnia, onde a comunidade científica
iniciou a discussão sobre os impactos da engenharia genética na sociedade. Esta
reunião, segundo Goldim (1997), "é um marco na história da ética aplicada a
pesquisa, pois foi a primeira vez que se discutiu os aspectos de proteção aos
pesquisadores e demais profissionais envolvidos nas áreas onde se realiza o
projeto de pesquisa". A partir daí o termo biossegurança, vem, ao longo dos anos,
sofrendo alterações.
Na década de 70, a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1993) a definia
como "práticas preventivas para o trabalho com agentes patogênicos para o
homem". O foco de atenção voltava-se para a saúde do trabalhador frente aos
riscos biológicos no ambiente ocupacional.
Já na década de 80, a própria OMS (WHO, 1993) incorporou a essa
definição os chamados riscos periféricos presentes em ambientes laboratoriais
que trabalhavam com agentes patogênicos para o homem, como os riscos
químicos, físicos, radioativos e ergonômicos.
Nos anos 90, verificamos que a definição de biossegurança sofre
mudanças significativas.
Em seminário realizado no Instituto Pasteur em Paris (INSERM, 1991),
observamos a inclusão de temas como ética em pesquisa, meio ambiente,
animais e processos envolvendo tecnologia de DNA recombinante, em programas
de biossegurança.
Outra definição nessa linha diz que "a biossegurança é o conjunto de ações
voltadas para a prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às
atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e
prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, a preservação do
meio ambiente e a qualidade dos resultados" (Teixeira & Valle, 1996). Este foco
de atenção retorna ao ambiente ocupacional e amplia-se para a proteção
ambiental e a qualidade. Não é centrado em técnicas de DNA recombinante.

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Uma definição centrada no ambiente ocupacional encontramos em Teixeira
& Valle (1996), onde consta no prefácio "segurança no manejo de produtos e
técnicas biológicas".
Uma outra definição, baseada na cultura da engenharia de segurança e da
medicina do trabalho é encontrada em Costa (1996), onde aparece "conjunto de
medidas técnicas, administrativas, educacionais, médicas e psicológicas,
empregadas para prevenir acidentes em ambientes biotecnológicos". Está
centrada na prevenção de acidentes em ambientes ocupacionais.
Fontes et al. (1998) já apontam para "os procedimentos adotados para
evitar os riscos das atividades da biologia". Embora seja uma definição vaga, sub-
entende-se que estejam incluídos a biologia clássica e a biologia do DNA
recombinante.
Estas definições mostram que a biossegurança envolve as seguintes
relações:
tecnologia ---- risco -----homem
agente biológico -----risco -----homem
tecnologia -----risco -----sociedade
biodiversidade ------risco -----economia
O significado da palavra biossegurança, pode ser entendido por seus
componentes: Bio (do grego bios) significa vida; e, segurança se refere à
qualidade de ser ou estar seguro, protegido, livre de riscos ou de perigo. Portanto,
biossegurança refere-se à vida protegida, preservada, livre de danos, perigo ou
risco.
A biossegurança é um processo funcional e operacional de fundamental
importância em serviços de saúde, não só por abordar medidas de Controle de
Infecções para proteção da equipe de assistência e usuários em saúde, mas por
ter um papel fundamental na promoção da consciência sanitária, na comunidade
onde atua, da importância da preservação do meio ambiente na manipulação e no
descarte de resíduos químicos, tóxicos e infectantes e da redução geral de riscos
à saúde e acidentes ocupacionais. A biossegurança é um processo progressivo,
que não inclui conclusão em sua terminologia, pois deve ser sempre atualizado e

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supervisionado e sujeito a exigência de respostas imediatas ao surgimento de
microrganismos mais resistentes e agressivos identificados pelas notificações
epidemiológicas da Equipe de Controle Epidemiológico de SMS.
As Boas Práticas Laboratoriais requerem consideração especial para a
infra-estrutura e os procedimentos de trabalho dentro do laboratório, levando em
conta também o fluxo de trabalho no espaço físico e mapeamento de riscos. A
manipulação de microorganismos, material clínico, animais inoculados, animais e
plantas transgênicos vem sendo objeto de regulamentações nacionais e
internacionais, tendo em vista os riscos potenciais e efetivos dessas práticas.
Além disto, vivemos numa época onde um crescente número de produtos
biotecnológicos e também animais e plantas geneticamente modificados fazem
parte da nossa vivência.
No Brasil, a primeira legislação que poderia ser classificada como de
biossegurança foi a resolução n°1 do Conselho Nacional de Saúde, de 13 de julho
de 1988, a qual aprovou as normas de pesquisa e saúde. Mas, a biossegurança
surgiu com a força que se fazia necessária somente em 1995, com a Lei n° 8.974
e o Decreto n° 1.752, que regulamenta essa Lei. A partir de então, criou-se a
Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) vinculada à Secretaria
Executiva do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Responsável pela política nacional de biossegurança, a CTNBio propõe o
Código de Ética de Manipulações Genéticas; estabelece os mecanismos de
funcionamento das Comissões Internas de Biossegurança (CIBio).
Como é possível verificar, a Lei N° 8.974 é limitada à manipulação de
OGMs. Mas através da Portaria n° 343/GM, de 19 de fevereiro de 2002, o então
Ministro de Estado da Saúde José Serra, instituiu, no âmbito do Ministério da
Saúde, a Comissão de Biossegurança em Saúde. Esta Portaria visa, entre outras
atribuições, a acompanhar e participar da elaboração e reformulação de normas
de biossegurança bem como promover debates públicos sobre o tema. Ainda que
seja instituída de forma bastante discreta, a criação da Comissão em
Biossegurança em Saúde representa um passo importante para o início das

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atividades em biossegurança no âmbito da saúde, e não somente OGMs, como
regulamenta a Lei n°8.974.
Mas a Lei n° 8.974, apesar de ter sido um marco para a ciência no país,
apresenta algumas falhas e necessita ser atualizada. Com isto, de forma a
adequar o necessário avanço da ciência às leis brasileiras, no dia 2 de março de
2005, a Câmara de Deputados, após um exaustivo conflito como representantes
de religiões contrárias às novas diretrizes da lei, resolve aprovar o Projeto de Lei
de Biossegurança n°2401-C/2004 e, três semanas depois, no dia 24 de março de
2005, a lei foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

1.1 NÍVEIS DE BIOSSEGURANÇA

A CTNBio – Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, classifica a


Biossegurança em 4 níveis:
_ NB1: baixo risco individual e coletivo. Inclui microorganismos que nunca
foram descritos como agente causal de doenças para o homem e que não
constituem risco para o meio ambiente;
_ NB2: representa risco individual moderado e risco coletivo limitado. Pouca
probabilidade de alto risco para profissionais do laboratório. Ex. Schistosoma
mansoni (causador da esquistossomose);
_ NB3: representa risco individual elevado e risco coletivo baixo.
Enfermidades graves nos profissionais de laboratório. Ex. Mycobacterium
tuberculosis (causador da tuberculose);
_ NB4: agrupa agentes que causam doenças graves para o homem e
representam um sério risco para os profissionais de laboratório e para a
coletividade. Ex. vírus Ebola

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2. DEFINIÇÕES BÁSICAS APLICADAS A BIOSSEGURANÇA

AGENTES AMBIENTAIS: são elementos ou substâncias presentes nos diversos


ambientes humanos que, quando encontrados acima dos limites de tolerância,
podem causar danos à saúde das pessoas.
AGENTES BIOLÓGICOS: são introduzidos nos processos de trabalho pela
utilização de seres vivos ( em geral microorganismos) como parte integrante do
processo produtivo, tais como vírus, bacílos, bactérias, etc, potencialmente
nocivos ao ser humano.
AGENTES ERGONÔMICOS: são riscos introduzidos no processo de trabalho por
agentes (máquinas, métodos, etc) inadequados às limitações dos seus usuários.
AGENTES FÍSICOS: são os riscos gerados pelos agentes que têm capacidade de
modificar as características físicas do meio ambiente.
AGENTES MECÂNICOS: São os riscos gerados pelos agentes que derrancam o
contato físico direto com a vítima para manifestar a sua nocividade.
AGENTES QUIMICOS: são as substâncias, compostos ou produtos que possam
penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos,
névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de
exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele
ou por ingestão. São os riscos gerados por agentes que modificam a composição
química do meio ambiente.
ÁGUA ESTÉRIL: é aquela que sofreu tratamento físico com a finalidade de
eliminar qualquer tipo de vida microbiana ali presente.
ÁGUA TRATADA: é aquela que sofreu tratamento físico e/ou químico com a
finalidade de remover impurezas e germes patogênicos.
ANTI-SEPSIA: é a eliminação de formas vegetativas de bactérias patogênicas de
um tecido vivo.
ARTIGO CRÍTICO: é todo o instrumental pérfuro-cortante que penetra em tecidos
e entra em contato com sangue e secreções.

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ARTIGO DESCARTÁVEL: é o produto que após o uso perde as suas
características originais e não deve ser reutilizado e nem reprocessado.
ARTIGO NÃO-CRÍTICO: é todo artigo destinado apenas ao contato com a pele
íntegra do paciente.
ARTIGO SEMI-CRÍTICO: é todo o instrumental que entra em contato com a pele
ou mucosas íntegras.
ARTIGOS: compreendem instrumentos de natureza diversas, tais como utensílios
(talheres, louças, comadres, papagaios, etc.), acessórios de equipamentos e
outros.
ASSEPSIA: é o conjunto de medidas adotadas para impedir que determinado
meio seja contaminado.
BIODIVERSIDADE: é a diversidade da natureza viva. Incluindo a variedade
genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da
fauna, de fungos macroscópicos e de microrganismos, a variedade de funções
ecológicas desempenhadas pelos organismos nos ecossistemas; e a variedade de
comunidades, hábitats e ecossistemas formados pelos organismos.
DESCONTAMINAÇÃO: é o processo de eliminação total ou parcial da carga
microbiana de artigos ou superfícies, tornando-os aptos para o manuseio seguro.
Este processo pode ser aplicado através de limpeza, desinfecção e esterilização.
DESINFECÇÃO: é o processo de eliminação de vírus, fungos e formas
vegetativas de bactérias, porém não seus esporos.
EPI: equipamento de proteção individual que se compõe de óculos, máscaras,
botas, luvas e avental impermeável ou não e protetor para ruídos.
ESTERILIZAÇÃO: é o processo de eliminação de todos os microorganismos
presentes no instrumental, tais como vírus, fungos e bactérias, inclusive seus
esporos.
LIMPEZA OU HIGIENE: é o asseio ou retirada da sujidade de qualquer superfície.
RISCO: é a probabilidade de ocorrência de um evento de interesse. Sob a ótica da
segurança do trabalho é a combinação entre a freqüência de ocorrência de um
acidente e a sua conseqüência.

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VALIDAÇÃO: é a documentação correspondente de evidências que dão uma
razoável garantia, segundo o nível atual da ciência, de que o processo em
consideração realiza e/ou pode realizar aquilo para o qual foi proposto (FDA).

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3. NOÇÕES BÁSICAS DE MICROBIOLOGIA

3.1 HISTÓRICO:
Os microrganismos ou micróbios foram descritos pela primeira vez pelo
microscopista holandês Anton van Leeuwenhoek no período compreendido entre
1670 a 1680. No entanto, permaneceram na obscuridade ou como meras
curiosidades até meados do século XIX, quando Louis Pasteur, considerado o Pai
da Microbiologia, e Robert Koch através de experimentos elegantes e clássicos
deram à microbiologia a importância devida, fundando-a como ciência e disciplina.
As contribuições de Pasteur vão desde a distribuição dos microrganismos no
ambiente, os meios para controlá-los, a refutação da teoria da geração
espontânea, o desenvolvimento das teorias microbianas das fermentações e
doenças, ao desenvolvimento de vacinas efetivas para controle de doenças
animais e a raiva humana. Também, essas contribuições deram o impulso inicial
para que pesquisadores como Lister, desenvolvessem as práticas da cirurgia anti-
séptica, a quimioterapia por Ehrlich, e o desenvolvimento da Imunologia
(Metchnikoff e Ehrlich) e da virologia.
Talvez um dos aspectos mais negligenciados quando se estuda a
microbiologia refere-se às profundas mudanças que ocorreram no curso das
civilizações, decorrentes das doenças infecciosas.
De forma geral, as doenças provocavam um abatimento físico e moral da
população e das tropas, muitas vezes influenciando no desenrolar e no resultado
de um conflito.
A própria mobilização de tropas, resultando em uma aglomeração, muitas
vezes longa, de soldados, em ambientes onde as condições de higiene e de
alimentação eram geralmente inadequadas, também colaborava na disseminação
de doenças infecciosas, para as quais não existiam recursos terapêuticos.
Paralelamente, em áreas urbanas em franca expansão, os problemas
mencionados acima eram também de grande importância, pois rapidamente as
cidades cresciam, sendo que as instalações sanitárias geralmente eram
completamente precárias.

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Com a prática do comércio entre as diferentes nações emergentes, passou
a haver a disseminação dos organismos para outras populações, muitas vezes
susceptíveis a aqueles agentes infecciosos.
Abaixo listaremos, brevemente, um pequeno histórico com alguns
exemplos dos efeitos das doenças microbianas no desenvolvimento de diferentes
civilizações.
O declínio do Império Romano, com Justiniano (565 AC), foi acelerado por
epidemias de peste bubônica e varíola. Muitos habitantes de Roma foram mortos,
deixando a cidade com menos poder para suportar os ataques dos bárbaros, que
terminaram por destruir o Império.
Durante a Idade Média varias novas epidemias se sucederam, sendo
algumas amplamente disseminadas pelos diferentes continentes e outras mais
localizadas. Dentre as principais moléstias pode-se citar: Tifo, varíola, sífilis, cólera
e peste.
Em 1346, a população da Europa, Norte da África e Oriente Médio era de
cerca de 100 milhões de habitantes. Nesta época houve uma grande epidemia da
peste, que disseminou-se através da “rota da seda” (a principal rota mercante para
a China), provocando um grande número de mortes na Ásia e posteriormente
espalhando-se pela Europa, onde resultou em um total de cerca de 25 milhões de
pessoas, em poucos anos.
Novas epidemias da peste ocorreram nos séculos XVI e XVII, sendo que no
século XVIII (entre 1720 e 1722), uma última grande epidemia ocorreu na França,
matando cerca de 60% da população de Marselha, de Toulon,. 44% em Arles,
30% em Aix e Avignon.
A epidemia mais recente de peste originou-se na China, em 1892,
disseminando-se pela Índia, atingindo Bombaim em 1896, sendo responsável pela
morte de cerca de 6 milhões de indivíduos, somente na Índia.
Antes da II Guerra Mundial, o resultado das guerras era definido pelas
armas, estratégias e “pestilência”, sendo esta última decisiva. Em 1566,
Maximiliano II da Alemanha reuniu um exército de 80.000 homens para enfrentar o
Sultão Soliman da Hungria. Devido a uma epidemia de tifo, o exército alemão foi

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profundamente dizimado, sendo necessária a dispersão dos sobrevivente,
impedindo assim a expulsão das hordes de tribos orientais da Europa nesta
época.
Na guerra dos 30 anos (1618-1648), onde protestantes se revoltaram
contra a opressão dos católicos, além do desgaste decorrente da longa duração
do confronto, as doenças foram determinantes no resultado final.
Na época de Napoleão, em 1812, seu exército foi quase que
completamente dizimado por tifo, disenteria e pneumonia, durante campanha de
retirada de Moscou. No ano seguinte, Napolãeo havia recrutado um exército de
500.000 jovens soldados, que foram reduzidos a 170.000, sendo cerca de
105.000 mortes decorrentes das batalhas e 220.000 decorrentes de doenças
infecciosas.
Em 1892, outra epidemia de peste bubônica, na China e Índia, foi
responsável pela morte de 6 milhões de pessoas.
Até a década de 30, este era quadro, quando Alexander Fleming,
incidentalmente, descobriu um composto produzido por um fungo do gênero
Penicillium, que eliminava bactérias do gênero Staphylococcus, um organismo que
pode produzir uma vasta gama de doenças no homem. este composto -
denominado penicilina - teve um papel fundamental na desfecho da II Guerra
Mundial, uma vez que passou a ser administrado às tropas aliadas, enquanto o
exército alemão continuava a sofrer pesadas baixas no campo de batalha.
Além destas epidemias, vale ressaltar a importância das diferentes
epidemias de gripe que assolaram o mundo e que continuam a manifestar-se de
forma bastante intensa até hoje. Temos ainda o problema mundial envolvendo a
AIDS, o retorno da tuberculose (17 milhões de casos no Brasil) e do aumento
progressivo dos níveis de resistência aos agentes antimicrobianos que vários
grupos de bactérias vêm apresentando atualmente.

3.2 O QUE É MICROBIOLOGIA:

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Muito embora a microbiologia seja uma ciência relativamente nova,
desenvolvida nos últimos 100 anos, ela é considerada de importância por duas
razões principais:
_ Os microrganismos são os seres vivos ideais para estudo dos fenômenos
biológicos e excelentes instrumentos para compreender a biologia molecular das
células;
_ Muitos problemas ou transformações importantes da sociedade humana são
conseqüência da atividade dos microrganismos.
Por esses motivos, a microbiologia interessa a vários campos da biologia e
das ciências da saúde. A participação importante dos microrganismos em quase
todos os campos da atividade humana promovendo benefícios e poucas vezes,
prejuízos, qualquer pessoa deve se interessar e familiarizar-se com os
microrganismos, suas propriedades e atividades.
Microbiologia: Mikros (= pequeno) + Bio (= vida) + logos (= ciência)
A Microbiologia era definida, até recentemente, como a área da ciência que
dedica-se ao estudo dos microrganismos, um vasto e diverso grupo de
organismos unicelulares de dimensões reduzidas, que podem ser encontrados
como células isoladas ou agrupados em diferentes arranjos (cadeias ou massas),
sendo que as células, mesmo estando associadas, exibiriam um caráter fisiológico
independente.
Assim, com base neste conceito, a microbiologia envolve o estudo de
organismos procariotos (bactérias, archaeas), eucariotos inferiores (algas,
protozoários, fungos) e também os vírus.

Bactérias Archaea

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Fungos

Vírus Algas Protozoários


Tipos de microrganismos estudados pelos microbiologistas.
(Adaptado de Tortora et al., Microbiology, 8 ed)

A definição clássica de "microbiologia" mostra-se bastante imprecisa, e até


mesmo inadequada, frente aos dados da literatura publicados nesta última
década. Como exemplo pode-se citar duas premissas que já não podem mais ser
consideradas como verdade absoluta na conceituação desta área de
conhecimento: as dimensões dos microrganismos e a natureza independente
destes seres.
É uma área da Biologia que tem grande importância seja como ciência
básica ou aplicada. Básica: estudos fisiológicos, bioquímicos e moleculares
(modelo comparativo para seres superiores). => Microbiologia Molecular.
Aplicada: processos industriais, controle de doenças, de pragas, produção de
alimentos, etc.
A microbiologia também estuda os vírus que são entidades não celulares,
parasitas obrigatórios, que para manterem-se na natureza infetam células vivas e
replicam-se utilizando os processos metabólicos das mesmas.

3.3 VIAS DE PENETRAÇÃO DOS MICROORGANISMOS

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As vias de penetração dos microorganismos nos profissionais da área de
saúde são:
_ Via aérea: pipetagem, centrifugação, maceração de tecidos, agitação,
flambagem de alça de platina, aberturas de ampolas, manipulação de fluidos
orgânicos, abertura de frascos com cultura de células infectadas;
_ Via cutânea: agulhas contaminadas, recapeamento de agulhas, vidraria
quebrada ou por instrumentos pérfuro cortantes;
_ Via ocular: projeção de gotículas ou aerossóis nos olhos;
_ Via oral: falta de procedimentos higiênicos (não lavar as mãos após
manusear materiais contaminados) - hábito de fumar e refeições no laboratório.

3.4 CLASSIFICAÇÃO DOS MICROORGANISMOS:

Os microorganismos são distribuídos em quatro classes, de um a quatro,


por ordem crescente de risco, segundo os seguinte critérios:
_ Patogenicidade do microorganismo, incluindo a incidência e a gravidade
da doença. Quanto mais grave a potencialidade da doença adquirida, maior o
risco;
_ Via de transmissão dos microorganismos, a qual pode não ser
definitivamente estabelecida. A transmissão via aerossol é a forma mais comum
de infecção laboratorial;
_ Estabilidade do microorganismo, que envolve não somente a infectividade
dos aerossóis mas também a capacidade de sobreviver por mais tempo no
ambiente em condições desfavoráveis;
_ Dose infecciosa, a qual pode variar de uma a milhares de unidades;
_ Concentração do número de microorganismos infecciosos por unidade de
volume, sendo importante na determinação do risco (exemplo: aerossol formado
por manipulação de tecido, sangue, escarro, meio de cultura líquido);
_ A disponibilidade de medidas profiláticas eficazes estabelecidas ou a
intervenção terapêutica são outros fatores importantes a serem considerados. A

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imunização é a forma mais usada de profilaxia e faz parte do gerenciamento de
risco;
_Disponibilidade de tratamento eficaz através da intervenção terapêutica
com antibiótico ou antiviral, particularmente importante nas condições de campo;
_ Endemicidade;
_ Conseqüências epidemiológicas;
_ Vigilância médica, a qual faz parte do gerenciamento de risco e assegura
que as normas de segurança surtam os resultados esperados. Nela está incluído o
exame admissional, periódico, demissional, além do monitoramento das condições
de saúde e a participação em um gerenciamento pós-exposição.

Classe de Risco 1:
Constituído por microorganismos não suscetíveis de causar enfermidades
no homem e animais. São considerados de baixo risco individual e para a
comunidade.

Classe de Risco 2:
Integrado por microorganismos capazes de provocar enfermidades no
homem e em animais. Podem constituir risco para os trabalhadores de saúde,
caso sua manipulação não seja realizada de acordo com as boas práticas
laboratoriais nem seguidas as precauções universais de biossegurança. Sua
propagação na comunidade, entre os seres vivos e o meio ambiente, é
considerada de menor risco. Geralmente, para os microorganismos desta classe
de risco existe profilaxia e/ou tratamento. Considera-se que o risco individual é
moderado e o risco para a comunidade limitado. Ex: Hepatites.

Classe de Risco 3:
Composto por microorganismos capazes de provocar enfermidades graves
no homem e em animais. Constituem sério risco para os trabalhadores de saúde.
Geralmente para os microorganismos desta classe de risco existem tratamento e

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profilaxia. O risco individual é elevado, sendo limitado para a comunidade. Ex:
mycobacterium tuberculosis.

Classe de Risco 4:
Constituída por microorganismos que produzem enfermidades graves no
homem e em animais, representando grande risco para os trabalhadores de
saúde, sendo alto o risco de transmissibilidade na comunidade. Não existem
profilaxia nem tratamento eficazes. Apresentam elevado risco individual e para a
comunidade. Ex: vírus Ebola.

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4. NOÇÕES BÁSICAS DE DOENÇAS INFECTO CONTAGIOSAS

Algumas espécies de microrganismos exercem efeitos nefastos ao homem


e outros animais causando as doenças, conhecidas como doenças infecciosas,
toxinoses e toxinfecciosas.
O nosso contato com microrganismos não significa obrigatoriamente que
desenvolveremos doenças, muito pelo contrário, o homem, os animais e as
plantas não apenas convivem com os germes, mas dependem direta ou
indiretamente deles. Todas as áreas da Terra, que reúnem condições de vida, são
habitadas por microrganismos e nós sempre convivemos com eles; inclusive em
nosso corpo, onde eles auxiliam na proteção de nossa pele e mucosas contra a
invasão de outros germes mais nocivos. Estes seres vivos minúsculos
decompõem matéria orgânica transformando-a em sais minerais prontos para
serem novamente sintetizados em substratos nutritivos que formarão os vegetais
do qual homem e animais se alimentam. O homem (hospedeiro) e os germes
(parasitas) convivem em pleno equilíbrio. Somente a quebra desta relação
harmoniosa poderá causar a doença infecção.
A doença infecciosa é uma manifestação clínica de um desequilíbrio no
sistema parasito-hospedeiro-ambiente, causado pelo aumento da patogenicidade
do parasita em relação aos mecanismos de defesa antiinfecciosa do hospedeiro,
ou seja, quebra-se a relação harmoniosa entre as defesas do nosso corpo e o
número e virulência dos germes, propiciando a invasão deles nos órgãos do
corpo. Alguns microrganismos possuem virulência elevada podendo causar
infecção no primeiro contato, independente das nossas defesas. Outros,
usualmente encontrados na nossa microbiota normal, não são tão virulentos, mas
podem infectar o nosso organismo se diminuímos a nossa capacidade de defesa.
A capacidade de defesa antiinfecciosa é multifatorial, pois é influenciada
pela nossa idade (bebês e idosos), estado nutricional, doenças e cirurgias, stress,
uso de corticóides, quimioterapia, radioterapia, doenças imunossupressoras (HIV,
leucemia), fatores climáticos e precárias condições de higiene e habitação.

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Muito embora o sucesso da ciência microbiológica seja evidenciado nos
países desenvolvidos através do controle das doenças infecciosas fatais como a
Cólera, Tétano, a Peste Negra (Bulbônica), a Difteria, Poliomielite, Botulismo,
Raiva, dentre outras, o mesmo não acontece nos países menos desenvolvidos
onde essas doenças grassam e são, ainda, importante causa de morte.
Abaixo são listadas algumas das principais DOENÇAS humanas, animais e
vegetais de origem infecciosa:

DOENÇA CAUSADOR
AIDS Vírus
Antrax Bactéria
Botulismo Bactéria
Brucelose Bactéria
Cancro das hastes Fungo
Cinomose Vírus
Febre aftosa Vírus
Ferrugem do café Fungo
Gonorréia Bactéria
Gripe Vírus
Hepatite Vírus
Herpes Zoster Vírus
Leptospirose Bactéria
Micoses Fungos
Podridão do colmo Fungo
Raiva Vírus
Tétano Bactéria
Tuberculose Bactéria
Varíola Vírus
"Vassoura de bruxa" Fungo

As vias de penetração das doenças infecto contagiosas são:


_ Via aérea;
_ Via cutânea;
_ Via ocular;
_ Via digestiva ou oral.

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Verificaremos alguns agentes das infecções comuns, suas vias de
penetração e período de incubação na tabela abaixo:

Doença Via Período de incubação Sobrevivência`a


temperatura ambiente

M.Tuberculosis saliva até 6 meses meses


escarro

M.Aureus saliva de 4 a 5 dias dias


exsudatos
pele

Vírus de vias saliva até uma semana horas


aéras superiores secreções

Hepatite B saliva até 6 meses meses


sangue
sêmen

Hepatite A saliva de 2 a 6 semanas dias


sangue
sêmen

HIV sangue até 10 dias dias


sêmen
secreções

21
5. PRINCÍPIOS DA BIOSSEGURANÇA

Biossegurança ou segurança biológica refere-se á aplicação do


conhecimento, técnicas e equipamentos com a finalidade de prevenir a exposição
do trabalhador, laboratório e ambiente a agentes potencialmente infecciosos ou
biorriscos. Biossegurança define as condições sobre as quais os agentes
infecciosos podem ser seguramente manipulados e contidos de forma segura.
Basicamente existem três mecanismo de contenção:
_ Técnicas e práticas de laboratório;
_ Equipamentos de Segurança;
_ Desing de laboratório.

5.1 TÉCNICAS E PRÁTICAS DE LABORATÓRIO

Os mais importante elemento de contenção refere-se à aplicação das


práticas e técnicas consideradas padrão em microbiologia. Os trabalhadores que
manipulam agentes infecciosos devem receber treinamento e atualizações
constantes em relação às técnicas de biossegurança. Cada laboratório e/ou
instituição deve desenvolver seu próprio manual de biossegurança, identificando
os riscos e procedimentos de como contorná-los, de forma a garantir segurança
ao trabalhador, ambiente e processo.

5.2 EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA

Os equipamentos de segurança são considerados barreiras primárias de


contenção, visando a proteger o trabalhador e o ambiente laboratorial junto às
boas práticas em microbiologia. São classificados como equipamentos de
proteção individual (EPI), que consistem em óculos, luvas, calçados, jaleco, etc; e
equipamentos de proteção coletiva (EPC), que consistem em cabines de
segurança biológica, chuveiros de descontaminação, etc. É importante salientar
que os equipamentos de proteção não devem ser inseridos de forma autoritária na

22
rotina de trabalho. É fundamental que o profissional tenha um prazo para se
adaptar a esta rotina, caso contrário, ao invés de proteger, tais equipamentos
acabarão se tornando elementos geradores de acidentes. Cada trabalhador deve
receber as informações necessárias ao manuseio adequado desses
equipamentos, obedecendo sempre aos prazos de validade determinados pelos
fabricantes.

5.3 DESING DO LABORATÓRIO

O desing do laboratório é considerado importante, na medida em que


proporciona um barreira física capaz de proteger o trabalhador dentro do
laboratório, contribuindo tanto para a confiabilidade dos experimentos realizados
como para a proteção da saúde humana e do meio ambiente. Sua estrutura irá
depender dos tipos de agente a serem manipulados e do nível de segurança
desejado.
Normalmente, o desing do laboratório é construído mediante um esforço
conjunto por parte dos pesquisadores, técnicos de laboratório, arquitetos e
engenheiros, de modo a se estabelecerem padrões e normas de segurança
espaciais e ambientais necessárias àquele espaço físico.

23
6. RISCOS OCUPACIONAIS

Historicamente, os profissionais de saúde não eram considerados como


categoria profissional de alto risco para acidentes de trabalho.
A preocupação com riscos biológicos surgiu a partir da constatação dos
agravos à saúde dos profissionais que exerciam atividades em laboratórios onde
se dava a manipulação com microrganismos e material clínico desde o início dos
anos 40.
Para profissionais que atuam na área clínica, entretanto, somente a partir
da epidemia da Aids nos anos 80, as normas para as questões de segurança no
ambiente de trabalho foram melhor estabelecidas.
O risco é um dos principais argumentos que fundamentam os programas e
políticas de prevenção.
Risco pode ser definido como uma condição biológica, química ou física
que apresenta potencial para causar dano ao trabalhador, produto ou ambiente.
Devido à variabilidade da natureza do trabalho e às substâncias e materiais
manipulados, o potencial de gerar riscos também se modifica de acordo como tipo
de trabalho desenvolvido.

6.1 CLASSIFICAÇÃO DOS RISCOS

Os riscos no ambiente laboral podem ser classificados em cinco tipos, de


acordo com a Portaria n0 3.214, do Ministério do Trabalho do Brasil, de 1978. Esta
Portaria contem uma série de normas regulamentadoras que consolidam a
legislação trabalhista, relativas à segurança e medicina do trabalho. Encontramos
a classificação dos riscos na sua Norma Regulamentadora n° 5 (NR-5): riscos de
acidentes, ergonômicos, físicos, químicos e biológicos.

Riscos de acidentes:
Qualquer fator que coloque o trabalhador em situação vulnerável e possa
afetar sua integridade, e seu bem estar físico e psíquico. São exemplos de risco

24
de acidente: as máquinas e equipamentos sem proteção, probabilidade de
incêndio e explosão, arranjo físico inadequado, armazenamento inadequado, etc.

Riscos ergonômicos:
Qualquer fator que possa interferir nas características psicofisiológicas do
trabalhador, causando desconforto ou afetando sua saúde. São exemplos de risco
ergonômico: o levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia,
repetitividade, postura inadequada de trabalho, etc.

Riscos físicos:
Consideram-se agentes de risco físico as diversas formas de energia a que
possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, calor, frio, pressão,
umidade, radiações ionizantes e não-ionizantes, vibração, etc.

Riscos químicos:
Consideram-se agentes de risco químico as substâncias, compostos ou
produtos que possam penetrar no organismo do trabalhador pela via respiratória,
nas formas de poeiras, fumos gases, neblinas, névoas ou vapores, ou que seja,
pela natureza da atividade, de exposição, possam ter contato ou ser absorvido
pelo organismo através da pele ou por ingestão.

Riscos biológicos:
Consideram-se como agentes de risco biológico as bactérias, vírus, fungos,
parasitos, entre outros.
Os agentes biológicos constituem-se no mais antigo risco ocupacional de
que se tem notícia. Antes mesmo dos riscos químicos e físicos, o trabalhador já
experimentava exposição a grande número de agentes biológicos, que se
constituem, de uma forma geral, em agentes etiológicos ou infecciosos, tais como
bactérias, fungos, vírus, parasitas, etc.
A exposição aos agentes biológicos é o risco ocupacional mais comum a
que o profissional da área de saúde está sujeito, e este risco aumentou

25
consideravelmente após o surgimento da síndrome da imunodeficiência adquirida
– AIDS. O crescimento do número de indivíduos infectados pelo HIV, bem como
pelos vírus das hepatites B e C na população geral, tem aumentado o risco para o
profissional de saúde, visto que, muitas vezes, esses indivíduos infectados
necessitam de atendimento em unidades de assistência de saúde e são
submetidos a procedimentos diagnósticos e terapêuticos nos quais o sangue e os
fluidos corpóreos podem estar envolvidos.
De modo geral, os meios de transmissão dos agentes biológicos são por
contato direto ou indireto, por vetor biológico ou mecânico e pelo ar, sendo as
rotas de entrada por inalação, ingestão, penetração através da pele e por contato
com as mucosas dos olhos, nariz e boca.
Mesmo em diferentes ambientes de laboratórios, provavelmente sempre
teremos situações de perigo e risco. Nossa atitude se concentra, portanto, no
princípio básico da biossegurança e da segurança do trabalho: a prevenção.
Quando possuímos o conhecimento do perigo, ao desenvolvermos
determinada atividade, certamente precisamos fazer uso dos equipamentos de
proteção individual (EPI), os quais são desenvolvidos para proporcionar segurança
ao trabalhador. Aliado a utilização dos EPI faz-se necessária, também, a adoção
das normas e dos procedimentos de biossegurança elaboradas com o intuito de
propiciar trabalho seguro e minimizar a geração de riscos.
Assim, de forma a reduzir ou eliminar desnecessária exposição a riscos de
acidentes, torna-se de fundamental importância que cada setor tenha como uma
das normas de segurança a implementação de um trabalho de análise de riscos,
garantindo com isso, o total conhecimento dos possíveis danos que podem ser
gerados naquele ambiente e a melhor maneira de controlá-los em caso de
acidentes.

6.1 AVALIAÇÃO DOS RISCOS

Nas atividades laboratoriais que envolvam materiais infecciosos ou


potencialmente infecciosos, a avaliação do risco é um parâmetro de essencial

26
importância para a definição de todos os procedimentos de Biossegurança sejam
eles de natureza construtiva, de procedimentos operacionais ou informacionais. Irá
determinar os níveis de biossegurança [instalações, equipamentos de proteção
(individual e coletivo), procedimentos e informação, que minimizarão ao máximo a
exposição de trabalhadores e do meio ambiente a um agente infeccioso.
A avaliação de risco pode ser qualitativa ou quantitativa.
Uma vez concluída, a avaliação de riscos deve ser refeita e revisada
periodicamente, levando-se em consideração a aquisição de novos equipamentos
e materiais que eventualmente alteram o grau de risco anteriormente avaliado.
Por exemplo, em um laboratório de microbiologia, alguns fatores
importantes que devem ser considerados incluem:
_ A patogenicidade do agente e dose infecciosa;
_ A rota natural da infecção;
_ Outras rotas de infecção, resultantes da manipulação em laboratório;
_ Estabilidade do agente no ambiente;
_ Concentração do agente e volume do material concentrado a ser
manipulado;
_ Presença de hospedeiro susceptível;
_ Informação disponível sobre infecções adquiridas em laboratórios do
microorganismo utilizado;
_ Disponibilidade, local, de profilaxia e intervenção terapêutica.

27
7. NOÇÕES DE HIGIENE E PROFILAXIA

O profissional de saúde realizando todos procedimentos estará praticando a


biossegurança e para isso é necessário obedecer normas simples como o ato da
lavagem das mãos antecedendo o atendimento ao paciente, efetuar a
esterilização de todos materiais e instrumentais de uso no nosso consultório,assim
como higienização do ambiente como o chão, os armários, equipamentos e
mobiliários. A importância dessas medidas resultará no controle da infecção
cruzada que pode ocorrer entre o profissional de saúde e paciente.
Higiene e profilaxia são métodos e técnicas de manejo ligadas a medidas
sanitárias para evitar que o homem e os animas não sejam acometidos de
doenças.
A utilização de procedimentos para se eliminar os microorganismos são os
mais diversos, entre eles podemos citar a assepsia, anti-sepsia, degermação,
desinfecção e esterilização.

7.1 LAVAGEM DAS MÃOS:

A lavagem rotineira das mãos com água e sabão, elimina além da sujidade
(sujeira) visível ou não, todos os microrganismos que se aderem a pele durante o
desenvolvimento de nossas atividade mesmo estando a mão enluvada. A lavagem
das mãos é a principal medida de bloqueio da transmissão de germes.
Devemos lavar as mãos sempre, antes de iniciarmos uma atividade e logo
após seu término, assim como fazemos em nosso dia a dia antes das refeições e
após a ida ao banheiro. Mantenha suas unhas curtas e as mãos sem anéis para
diminuir a retenção de germes.
Existe uma gama enorme de momentos, durante o nosso trabalho, que a
lavagem das mãos está indicada. Mesmo que, durante os procedimentos, as luvas
sejam utilizadas, após a retirada das luvas as mãos devem ser lavadas. A luva irá
nos proteger de uma contaminação grosseira de matéria orgânica, porém a
microporosidade da luva, a sua fragilidade que ocasiona furos e a possível

28
contaminação na sua retirada, indica que ocorreu contato de microrganismos na
pele de nossas mãos. Sendo assim, mesmo com o uso de luvas, as mãos devem
ser lavadas após a sua retirada.
Ao lavarmos as mãos estabelecemos uma seqüência de esfregação das
partes da mão com maior concentração bacteriana que são: as pontas dos dedos,
meio dos dedos e polegares. Vejamos a técnica da lavagem das mãos:
- posicionar-se sem encostar na pia;
- abrir a torneira;
- passar o sabão (líquido ou barra) na mão;
- friccionar as mãos dando atenção às unhas, meio dos dedos, polegar,
palmas e dorso das mãos (tempo aproximado de 15 segundos);
- enxaguar as mãos deixando a torneira aberta;
-enxugar as mãos com papel toalha;
- fechar a torneira com a mão protegida com papel toalha, caso não tenha
fechamento automático.

Unhas Meio dos dedos Polegar

Palmas Fechamento da torneira

29
7.2 MANIPULAÇÃO DE INSTRUMENTOS E MATERIAIS

Os instrumentos e materiais sujos com sangue, fluidos corporais, secreções


e excreções devem ser manuseados de modo a prevenir a contaminação da pele
e mucosas (olhos, nariz e boca), roupas, e ainda, prevenir a transferência de
microrganismos para outros pacientes e ambiente. Todos os instrumentos
reutilizados tem rotina de reprocessamento. Verifique para que estes estejam
limpos ou desinfetados/esterilizados adequadamente antes do uso em outro
paciente ou profissional. Confira se os materiais descartáveis de uso único estão
sendo realmente descartados e se em local apropriado.

7.3 MANIPULAÇÃO DE MATERIAIS CORTANTES E DE PUNÇÃO

Ao manusear, limpar, transportar ou descartar agulhas, lâminas de barbear,


tesouras e outros instrumentos de corte tenha cuidado para não se acidentar. A
estes materiais chamamos de instrumentos pérfurocortantes.
Eles devem ser descartados em caixas apropriadas, rígidas e
impermeáveis que devem ser colocadas próximo a área em que os materiais são
usados. Nunca recape agulhas após o uso. Não remova com as mãos agulhas
usadas das seringas descartáveis e não as quebre ou entorte. Para a reutilização
de seringa anestésica descartável ou carpule, recape a agulha introduzindo-a no
interior da tampa e pressionando a tampa ao encontro da parede da bandeja
clínica de forma a não utilizar a mão neste procedimento. Seringas e agulhas
reutilizáveis devem ser transportadas para a área de limpeza e esterilização em
caixa de inox ou bandeja.

30
Exemplo de caixa de descarte de materiais pérfuro-cortantes

7.4 AMBIENTE E EQUIPAMENTOS

Toda a unidade de saúde deve ter rotinas de limpeza e desinfecção de


superfícies do ambiente e de equipamentos. Colabore na supervisão para conferir
se estas medidas estão sendo seguidas. Verifique estas rotinas nos próximos
capítulos. Proteja as superfícies do contato direto, como botões, alças de
equipamentos, teclados, mouses e monitores com barreiras do tipo filme plástico
(PVC), papel alumínio ou outros materiais próprios a este fim. Este procedimento
impede a aderência da sujidade, requerendo apenas desinfecção na hora da troca
de barreiras entre pacientes, dispensando a limpeza da superfície do
equipamento.
O nosso ambiente de trabalho pode ser dividido em área física
compreendendo o piso, paredes, teto, portas e janelas; o mobiliário
compreendendo cadeiras, mesas, balcões, macas, bancadas e pias; e, ainda,
equipamentos eletroeletrônicos e artigos hospitalares específicos da assistência.
A limpeza deve obedecer a princípios básicos. São eles:

Periodicidade:

_ Limpeza concorrente que é aquela realizada diariamente e logo após


exposição à sujidade. Inclui o recolhimento do lixo, limpeza do piso e superfícies

31
do mobiliário geralmente uma vez por turno, além da limpeza imediata do local
quando exposto à material biológico.
_ Limpeza terminal que é aquela geral, realizada semanal, quinzenal ou
mensalmente conforme a utilização e possibilidade de contato e contaminação de
cada superfície. Inclui escovação do piso e aplicação de cêra, limpeza de teto,
luminárias, paredes, janelas e divisórias.

Seqüência:

- Como primeiro passo, recomenda-se o recolhimento do lixo;


- Inicia-se a limpeza do local mais alto para o mais baixo, próximo ao chão;
- Limpa-se a partir do local mais limpo para o mais sujo ou contaminado;
- Inicia-se pelo local mais distante dirigindo-se para o local de saída de
cada peça.

Materiais:

Luvas de borracha, baldes(2), panos(2), rodo, escovas (para chão,


sanitário), esponjas de aço, palha de aço, carrinho de limpeza, sacos de lixo
(branco, verde e preto), papel higiênico, papel toalha.

Produtos químicos:

Sabão ou detergente, sapólio, hipoclorito de sódio 2% a 2,5% (alvejante


como Q-Boa, Clarina, Alvex), pinho ou outro desinfetante aromatizado para
sanitários, álcool 70%, ceras líquidas siliconadas de preferência anti-derrapante
usadas na limpeza terminal de piso.

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Dicas importantes:

Em ambiente fechado de assistência à saúde utiliza-se a varredura úmida,


feita através de rodo e panos úmidos. Não se utiliza varrer ou espanar as
superfícies para não dispersar partículas de poeira.
No caso de limpeza de piso, parede e teto, podemos utilizar o rodo com o
pano para executar a fricção.
Para coleções de sangue, vômitos, urina e outros fluidos, indica-se a
aplicação de hipoclorito 1 a 2%(alvejante) sobre a secreção, deixando agir por
minutos antes de remover com trapos ou papel a serem desprezados no lixo ou
então deve-se trocar a água de enxágüe que limpou o pano sujo. Em caso de
superfície suja com sangue ressecado, aplicar água oxigenada líquida 10 volumes
antes da limpeza. O hipoclorito puro pode também ser usado para remover
manchas e mofo de superfícies (alvejamento).
Atenção: o hipoclorito corroe superfícies metálicas e desbota tecidos.
Na limpeza do mobiliário é de fundamental importância que se recolha e
guarde em locais específicos todos os objetos e materiais que ocupam as
superfícies a serem limpas. Para superfícies metálicas, plásticas, fórmicas e de
granito, indica-se a aplicação de álcool 70% após a limpeza para a desinfecção.
De preferência para o mobiliário utilizamos baldes menores e panos
específicos para esta finalidade. Se isso não for possível os baldes e panos
devem ser lavados antes da limpeza de outro local.

7.5 ROUPAS E CAMPOS DE USO NO PACIENTE

Manipule e transporte as roupas sujas com sangue, fluidos corporais,


secreções e excreções com cuidado. Transporte-as em sacos plásticos. Os
serviços de saúde que utilizam rouparia e campos reutilizáveis devem ter um
sistema de lavanderia, própria ou terceirizada que garanta a desinfecção destas
roupas.

33
7.6 VACINAÇÃO

Todos os profissionais de saúde devem estar vacinados contra a hepatite B


e o tétano. Estas vacinas estão disponíveis na rede pública municipal. Participe de
todas as campanhas de vacinação que a Secretaria Municipal de Saúde promove.
Vacina é proteção específica de doenças.

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8. EPI E EPC – BARREIRAS DE CONTENÇÃO

No ambiente laboratorial, encontram-se numerosos contaminantes que


podem ser tanto de origem biológica como química, dependendo do trabalho que
o laboratório desenvolve.
Desta forma, torna-se necessário minimizar a contaminação do local de
trabalho, adotando medidas de controle coletivo, como enclausuramento e
confinamento de operações, principalmente as que envolvem contaminantes
perigosos, cuja via de penetração é a respiratória. Com os equipamentos de
proteção coletiva, pode-se utilizar cabines de segurança biológica (CSB) ou cabine
de segurança química (CSQ), além de outros controles da engenharia de
segurança, projetados para eliminar ou minimizar as exposições aos materiais
perigosos.
Quando as medidas de proteção coletiva são inviáveis ou insuficientes, ou
ainda quando estão sendo implantadas ou avaliadas, ou para atender às situações
de emergência, devem ser usadas medidas de caráter individual, utilizando
equipamentos de proteção pessoal.
A seleção dos EPIs deve seguir as determinações da avaliação de risco
realizada nos ambientes de trabalho, sendo esta essencial no contexto e
atividades dos laboratórios que envolvam materiais perigosos, auxiliando a
designar os níveis de biossegurança que reduzem para um risco mínimo a
exposição dos trabalhadores e meio ambiente.

8.1 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL – EPI

Considera-se EPI todo dispositivo de uso individual, de fabricação nacional


ou estrangeira, destinado a proteger a saúde e a integridade física do trabalhador.
Como expressa a própria sigla, EPI é um equipamento de uso individual, não
sendo adequado o uso coletivo por questões de segurança e higiene.
A utilização do EPIs encontra-se regulamentado pelo Ministério do Trabalho
através da NR-6.

35
No mercado, há diversos tipos de EPI, diferentes fornecedores e material
empregado, variando, assim, a proteção conferida ao técnico. O técnico deve ter
conhecimento do grau de proteção que o EPI fornece para determinada tarefa e
especificar adequadamente o EPI no momento da compra.
A seguir, são descritos alguns EPIs, baseados nos riscos aos quais os
profissionais que trabalham na área de saúde estão expostos.

Calçados:
O calçado é um EPI destinado à proteção dos pés contra umidade,
respingos de substâncias químicas ou material biológico, derramamento de
líquidos quentes e solventes, impacto de objetos diversos, cacos provenientes da
quebra de vidrarias, materiais perfurocortantes, etc.
Existem calçados especiais, com finalidades diversas, destinados a dar
proteção à planta dos pés contra a penetração de vidros, solventes, calor,
passagem da corrente elétrica, etc.
Quando o chão é escorregadio, torna-se obrigatório o uso de calçados com
solado antiderrapante, para dificultar a ocorrência de quedas.
Em áreas estéreis, devem-se utilizar sapatilhas esterilizadas, as quais
podem ser reutilizáveis ou não, conforme o tipo de material utilizado em sua
confecção e a atividade desenvolvida.
Os calçados indicados para o ambiente com sujeira orgânica são aqueles
fechados de preferência impermeáveis (couro ou sintético). Evita-se os de tecido
que umedecem e retém a sujeira. Escolha os calçados cômodos e do tipo anti-
derrapante. Se o local tiver muita umidade, como em lavanderias, usar botas de
borracha.

Luvas:
As luvas protegem de sujidade grosseira. Elas devem ser usadas em
procedimentos que envolvam sangue, fluidos corporais, secreções, excreções
(exceto suor), membranas mucosas, pele não íntegra e durante a manipulação de
artigos contaminados. As luvas devem ser trocadas após contato com material

36
biológico, entre as tarefas e procedimentos num mesmo paciente, pois podem
conter uma alta concentração de microrganismos. Remova as luvas logo após
usá-las, antes de tocar em artigos e superfícies sem material biológico e antes de
atender outro paciente, evitando a dispersão de microrganismos ou material
biológico aderido nas luvas. Lave as mãos imediatamente após a retirada das
luvas para evitar a transferência de microrganismos a outros pacientes e
materiais, pois há repasse de germes para as mãos mesmo com o uso de luvas.
As luvas estéreis estão indicadas para procedimentos invasivos e assépticos.
Luvas grossas de borracha estão indicadas para limpeza de materiais e de
ambiente.

Máscaras, Óculos de Proteção ou Escudo Facial:


A máscara cirúrgica e óculos de proteção ou escudo facial são utilizados
em procedimentos e servem para proteger as mucosas dos olhos, nariz e boca de
respingos (gotículas) gerados pela fala, tosse ou espirro de pacientes ou durante
atividades de assistência e de apoio. Estas gotículas geradas por fonte humana
tem diâmetro de até 5μ e se dispersam até um metro de distância quando se
depositam nas superfícies. Elas podem ser de sangue, fluidos corporais,
secreções e excreções ou líquidos contaminados como aquelas geradas durante a
lavagem de materiais contaminados. Os procedimentos de maior risco e dispersão
de respingos são: broncoscopia, aspiração oral, nasal ou endotraqueal, passagem
de sonda gástrica, cirurgias, suturas, técnicas laboratoriais de bioquímica e
microbiologia e atendimento odontológico. Outra indicação de uso destes
equipamentos é durante a manipulação de produtos químicos como em farmácia
hospitalar, áreas de expurgo ou de desinfecção de artigos onde existe o risco
químico de contato. As máscaras cirúrgicas devem ter um filtro bacteriano de até 5
μ de diâmetro. São de uso único, mas durante procedimentos de longa duração,
sua troca deverá ocorrer quando úmidas ou submetidas a respingos visíveis.

37
Protetor Respiratório (respiradores):
Usado para proteger as vias respiratórias contra poeiras tóxicas e vapores
orgânicos ou químicos. É indicado para entrar em quarto de isolamento de
pacientes com tuberculose pulmonar, sarampo ou varicela, doenças que são
transmitidas via aérea quando inalamos os núcleos de gotículas ressecadas
suspensas no ar contendo os germes. Também é indicado no laboratório de
microbiologia em técnicas de identificação do bacilo da tuberculose (veja Capítulo
7). Outra indicação para o uso do protetor respiratório, de um tipo específico, é no
manuseio prolongado de glutaraldeído 2% usado para desinfecção de artigos em
ambiente pouco arejado, desde que este protetor tenha uma camada de carvão
ativado (máscara escura).
Este protetor com carvão ativado filtra gases tóxicos e odores. Seu uso
também está indicado para ambientes ou atividades com odor fétido e
desagradável.
É de uso individual, intransferível e reutilizável. Tem vida útil variável
dependendo do tipo de contaminante, sua concentração, da freqüência
respiratória do usuário e da umidade do ambiente. Deve ser trocado sempre que
se encontrar saturado (entupido), perfurado, rasgado ou com elástico solto, ou
quando o usuário perceber o cheiro ou gosto do contaminante. Não deve ser feito
nenhum tipo de reparo. Manusear com as mãos limpas e guardar em local limpo.

Avental e Gorro:
O avental (limpo, não estéril) serve para proteger a pele e prevenir sujidade
na roupa durante procedimentos que tenham probabilidade de gerar respingos ou
contato de sangue, fluidos corporais, secreções ou excreções. O avental será
selecionado de acordo com a atividade e quantidade de fluido encontrado (plástico
ou tecido). O avental de plástico está indicado para lavagem de materiais em
áreas de expurgo. O avental sujo será removido após o descarte das luvas e as
mãos devem ser lavadas para evitar transferência de microrganismos para outros
pacientes ou ambiente.

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O gorro estará indicado especificamente para profissionais que trabalham
com procedimentos que envolvam dispersão de aerossóis, projeção de partículas
e proteção de pacientes quando o atendimento envolver procedimentos cirúrgicos.
É o caso da equipe odontológica e outras especialidades como oftalmologia,
otorrinolaringologia, cirurgia geral, cirurgia vascular e outras especialidades
cirúrgicas.
Tanto o avental quanto o gorro podem ser de diferentes tecidos laváveis ou
do tipo descartável de uso único. A lavagem domiciliar de aventais contaminados
deve ser precedida de desinfecção, por 30 minutos em solução de hipoclorito de
sódio a 0,02% (10ml de alvejante comercial a 2 a 2,5% para cada litro de água).

Protetor Auditivo:
Equipamento destinado a prevenir a perda auditiva provocada por ruídos.
Deve ser utilizado em situações em que os níveis de ruído sejam considerados
prejudiciais ou nocivos em longa exposição, tais como banhos de ultra-som e em
trabalhos realizados em locais em que o nível de ruído seja superior ao
estabelecido na NR-15.
Existem dois tipos principais de protetor auditivo: circum-auriculares (tipo
concha) e de inserção. Nos ambientes de saúde o modelo mais utilizado é o de
inserção.

8.2 EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO COLETIVA – EPC

Os equipamentos de proteção coletiva visam proteger o meio ambiente, a


saúde e a integridade dos ocupantes de determinada área, diminuindo ou
eliminando os riscos provocados pelo manuseio de produtos químicos,
principalmente tóxicos e inflamáveis, além de agentes microbiológicos e
biológicos. Podem ser de uso rotineiro ou para situações de emergência, devendo
estar instalados em locais de fácil acesso e devidamente sinalizados.
Conforme as atividades desenvolvidas no laboratório, devem ser
disponíveis os seguintes EPC: cabine de segurança biológica, cabine de

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segurança química, chuveiro de emergência, lava-olhos, equipamentos de
combate a incêndio e Kit para derramamento de produtos químicos.

Cabine de Segurança Biológica (CSB):


Com a intenção de prevenir contaminações que tenham o ar como veículo,
foi desenvolvida uma série de equipamentos de proteção coletiva denominados
cabines de segurança biológica, conhecidas também como capelas de fluxo
laminar, ou, ainda, popularmente, capelas. Tais equipamentos possuem a função
primordial de reter partículas contaminantes de dimensões microscópicas.

Cabine de Segurança Química (CSQ):


É um equipamento de contenção que visa proteger o operador e o meio
ambiente, quando da manipulação de substâncias químicas que liberam vapores
tóxicos, irritantes e perigosos. Esse tipo de equipamento deve ser construído em
material resistente e possuir sistema de exaustão, sistema de iluminação, visor de
proteção e bancada de trabalho com entrada para água e esgoto. Pode ter
também entrada para gás.

Chuveiro de Emergência:
Destinado a lavagem das roupas e da pele do técnico quando esta for
atingida acidentalmente por grande quantidade de produtos químicos, material
biológico ou, ainda, quando as vestimentas estiverem em chamas.
O chuveiro de emergência pode ter acionamento manual ou automático.
Entretanto, deve-se observar a altura de instalação, permitindo que todos os
funcionários possam acioná-lo.

Lava-olhos:
Destinado à lavagem dos olhos no caso de terem sido atingidos
acidentalmente por produtos químico ou material biológico.
São formados por dois chuveiros pequenos, cujos, jatos de água são
direcionados de maneira a atingir os olhos da vítima.

40
Existem também os lava-olhos tipo pissete, que tem as vantagens de ser
barato e não exigir local especial para instalação.

Kit para o derramamento de produtos químicos:


O controle de um derramamento de produto químico perigoso pode ser
prejudicado pela falta de material adequado e pessoal treinado. Assim, em locais
de risco é importante dispor do Kit para agilizar o controle da situação.
A limpeza pode ser mecânica (aspiração), química (neutralizante) ou por
absorção com absorventes orgânicos, inorgânicos ou sintéticos.
O Kit deve conter absorventes como areia, mantas ou absorventes
granulados, além de pá, vassoura, sacos plásticos, etiquetas auto-adesivas,
baldes plásticos, solução de bicarbonato de sódio e gluconato de cálcio. Deve
conter ainda os EPIs adequados, como óculos de proteção, respiradores, luvas
resistentes, etc.

41
9. FERRAMENTAS DA QUALIDADE EM BIOSSEGURANÇA

O laboratório é um ambiente extremamente hostil. Convivem no mesmo


espaço equipamentos, reagentes, soluções, microorganismos, pessoas, papéis,
livros, amostras, entre outros.
Essa salada de agentes de riscos necessita de uma organização para que
não ocorram acidentes e para que os resultados produzidos sejam confiáveis.
Além disso, um ambiente laboratorial organizado e disciplinado favorece a
credibilidade da instituição e de todos que lá trabalham.
Normalmente, as pessoas pensam que o grande fator que favorece a
ocorrência de um acidente é o erro humano, ou por deficiência técnica ou por
negligenciamento. Mas, esse, não é o principal fator, mas sim as deficiências no
gerenciamento é que levam, na maioria das vezes, a serem indicadas como causa
motivadora do acidente.

diretamente pela Divisão de Credenciamento do INMETRO, cujo


reconhecimento da competência técnica é traduzido no credenciamento do
laboratório nos ensaios ou calibrações constantes no seu escopo específico.

Requisitos de Competência para Laboratórios Clínicos:

A Norma ISO 15189 estabelece requisitos específicos para qualidade e


competência de laboratórios médicos (clínicos). O INMETRO utiliza para o
procedimento de credenciamento dos laboratórios clínicos, a Norma NIT-DICLA-
083 (www.inmetro.gov.br).
A ISO 15189 e a NIT-DICLA 083 seguem o mesmo formato e conteúdo da
NBR ISO 17025, porém incorporando alguns requisitos de aplicação específica
nos laboratórios clínicos.

42
Boas Práticas de Laboratório – BPL:

As diretrizes e os princípios das boas práticas de laboratório são


publicados pelo inmetro (www.inmetro.gov.br) na norma nit –dicla 028. os critérios
desta norma estão baseados em documentos originais da organização de
cooperação e desenvolvimento econômico (www.oecd.org).

Boas Práticas de Fabricação – BPF:

Publicadas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária –


ANVISA (www.anvisa.gov.br).

9.2 BIOSSEGURANÇA NOS REQUISITOS DOS SISTEMAS DE GESTÃO DA


QUALIDADE LABORATORIAL

A tabela abaixo contém alguns requisitos de sistema de gestão da


qualidade da ISO 17025 e da NIT-DICLA-083, e um modelo básico de aplicação
direta dos princípios de biossegurança, quando couber, aos requisitos de gestão
da qualidade.
A. REQUISITOS GERENCIAIS

ISO Elemento relacionado aos requisitos


17025 de organização institucional e
4.1 responsabilidades gerenciais do laboratório.
Sugere-se a inclusão clara da
Organização
definição da localização da gestão de
NIT- biossegurança, na estrutura organizacional
DICLA-083 do laboratório (Departamento, Programa,
6.1 Coordenação, Núcleo, etc.).

43
ISO Elemento que descreve os requisitos
17025 do sistema da qualidade, o que inclui a
4.2 política, os objetivos da qualidade.
Sistema de Apresenta a estrutura da documentação,
gestão (da qualidade) Manual da Qualidade, procedimentos, etc.
Políticas e procedimentos relativos à
NIT- biossegurança devem ser incluídos num
DICLA-083 capítulo do manual da qualidade.
6.2

ISO Elemento que controla (elaboração,

17025 revisão, distribuição) todos os documentos

4.3 que fazem parte do sistema de gestão do


Controle dos laboratório, de forma a evitar o uso não
documentos intencional de documentos inválidos ou
NIT- obsoletos.
DICLA-083 Incluir no controle os documentos
6.3 relativos à biossegurança.

44
Elemento que determina que o
laboratório deve assegurar a análise crítica
dos pedidos, propostas e contratos antes da
ISO Análise crítica execução dos serviços, garantindo que
17025 dos pedidos, propostas estes sejam realizados nas condições
4.4 e contratos requeridas pelo cliente.
Incluir na análise crítica os elementos
de biossegurança necessários para a
realização do serviço.

ISO Elemento que visa assegurar que os


17025 Sub-contratação serviços subcontratados sejam realizados
4.5 de ensaios e por laboratórios competentes.
calibrações/ Exame em Incluir nos critérios de seleção para
NIT- laboratórios de subcontratação do laboratório além dos
DICLA-083 referência requisitos de gestão da qualidade os
6.4 princípios de biossegurança.

Elemento que visa assegurar a


ISO
conformidade dos serviços e suprimentos
17025
Aquisição de adquiridos às suas especificações, bem
4.6
serviços e como selecionar e avaliar os fornecedores.
suprimentos/Serviços Quando aplicável, definir
NIT-
externos e suprimentos especificações de biossegurança para
DICLA-083
equipamentos, insumos e serviços a serem
6.5
adquiridos.
ISO Atendimento ao Elemento que descreve atendimento
17025 cliente/Serviços de adequado aos clientes do laboratório e
4.7 consultoria assessoria para esclarecimentos de dúvidas
e interpretação de resultados.

45
NIT-
DICLA-083
6.8
ISO
17025 Elemento que descreve requisitos
4.8 Reclamações/Re para solucionar as reclamações recebidas.
NIT- solução de reclamações Apresentar em linhas gerais o recebimento e
DICLA-083 o tratamento das reclamações recebidas.
6.8
Elemento que visa assegurar que
ISO
sejam tomadas medidas adequadas quando
17025
Controle dos for identificada uma não-conformidade, o
4.9 e
trabalhos não- que inclui: descrição da não-conformidade;
4.11
conformes/Identificação investigação da causa raiz; seleção e
e controle de não- implementação das ações; monitoramento
NIT-
conformidades/ da eficácia das ações aplicadas.
DICLA-083
Ação Corretiva Identificar e controlar não
6.6 e
conformidades e ações corretivas
6.7
relacionadas à biossegurança.
ISO Melhoria/ Ação Os laboratórios devem identificar
17025 preventiva/ Processo de melhorias e fontes potenciais de não-
4.10 e melhoria contínua conformidades. Deve ser feita a implantação
4.12 e o monitoramento da eficácia de ações
preventivas implementadas.
Identificar e controlar ações
preventivas relacionadas à biossegurança.

46
Uso de EPI, EPC, plano de
prevenção de incêndio.
NIT-
Revisão e atualização de
DICLA-083
procedimentos relativos à biossegurança,
6.9
visando a melhoria contínua de gestão da
qualidade.

Este elemento define os requisitos


para os registros técnicos e da qualidade
ISO
serem identificados, coletados, indexados,
17025
acessados, arquivados, disponibilizados
4.13
clareza, legitimidade, segurança e
Controle dos confidencialidade, assim como a pronta e
registros adequada recuperação dos registros do
laboratório.
NIT-
Registros relativos a questões de
DICLA-083
biossegurança devem ser mantidos
6.10
(acidentes, ações preventivas/corretivas,
condições de saúde dos trabalhadores).

O laboratório deve realizar auditorias


ISO
internas de forma planejada, periódica e
17025
sistemática para avaliação da conformidade
4.14
Auditorias dos elementos do sistema de gestão aos
internas requisitos estabelecidos.
NIT-
Política e procedimentos de
DICLA-083
biossegurança (ver item 4.2) deverão ser
6.11
objeto de auditoria interna.

47
A alta direção do laboratório deve

ISO avaliar periodicamente a adequação do

17025 sistema de gestão e, quando necessário,

4.15 introduzir mudanças para atingir os objetivos


Análises críticas propostos.
pela gerência Incluir na análise crítica, por exemplo,

NIT- uma avaliação da saúde dos trabalhadores,

DICLA-083 resultados de ações de gestão ambiental

6.12 implementadas, acidentes ou incidentes de


trabalho.

B. REQUISITOS TÉCNICOS
Elemento que visa assegurar e
ISO manter a competência do pessoal envolvido
17025 nas atividades técnicas e de apoio do
5.2 laboratório. Identificar as necessidades de
Pessoal treinamento que vão manter essa
NIT- competência.
DICLA-083 A capacitação dos profissionais deve
7.1 incluir a biossegurança.

Elemento que descreve os requisitos


ISO
para que as instalações usadas facilitem a
17025
realização correta dos serviços prestados e
5.3
as condições ambientais não invalidem os
Acomodações e
resultados.
condições ambientais
As áreas laboratoriais devem ser
NIT-
planejadas considerando o conforto dos
DICLA-083
seus ocupantes, a minimização de riscos de
7.2
acidentes e doenças ocupacionais.

48
Elemento que visa assegurar que os
equipamentos alcancem a exatidão
estabelecida pelo laboratório para os
ISO
serviços prestados. Contém requisitos
17025
quanto a aquisição, identificação, avaliação,
5.5
manutenção, manipulação e estocagem dos
equipamentos, sistemas analíticos, materiais
de referência e reagentes.
Inclusão dos equipamentos de
Equipamentos
proteção coletiva e individual ao programa
de verificação e calibração, se aplicável.
Inclusão de referência a riscos à
saúde na identificação de determinadas
NIT-
soluções e reagentes.
DICLA-083
Elaboração de procedimentos que
7.3
assegurem a estocagem adequada de
reagentes, soluções tóxicas, inflamáveis e
incompatíveis entre si.

ISO Procedimentos Requisito que define condições para:


17025 pré-exame/ Manuseio avaliação, recebimento, identificação,
5.8 de itens de ensaio e preparação, armazenamento, proteção,
calibração manuseio, retenção, descarte e transporte
de amostras. Exigência de Manual de Coleta
de Amostras.

49
O laboratório deve garantir o descarte
seguro dos materiais utilizados para coleta.
NIT-
O laboratório deve monitorar o transporte
DICLA-083
das amostras ao laboratório para segurança
7.4
do transportador, público em geral e
laboratório receptor.

Elemento que visa assegurar que o


ISO
Métodos de laboratório utilize métodos e procedimentos
17025
ensaio e calibração e apropriados para todos os serviços que
5.4
validação de métodos/ realiza.
NIT- Procedimentos de Incorporar requisitos de
DICLA-083 exame/ biossegurança nos procedimentos
7.5 documentados de ensaios/exames.

ISO Garantia da
17025 qualidade de resultados
Elemento que visa assegurar a
5.9 de ensaio e calibração/
confiabilidade dos resultados obtidos nos
NIT- Garantia da qualidade
laboratórios.
DICLA-083 de procedimentos de
7.6 exame

Revisão de resultados de exames e


armazenamento e descarte seguro de
amostras.
NIT-
Procedimentos Descarte seguro de amostras que
DICLA-083
pós-exame não são mais requeridas para exame deve
7.7
ser realizado de acordo com a legislação
ou recomendações sobre gerenciamento de
resíduos

50
ISO
17025 Requisitos para elaboração, emissão
Apresentação de
5.10 e comunicação dos resultados dos ensaios
resultados/Laudo de
NIT- e calibrações com exatidão, clareza,
resultados
DICLA-083 objetividade e sem ambigüidade.
7.8
Elemento determina que o laboratório
NIT- Saúde, realize suas atividades de modo a atender
DICLA-083 segurança e meio aos requisitos de saúde, segurança e meio
7.10 ambiente ambiente estabelecidos pelas autoridades
regulamentadoras.

Quando se fala em qualidade nas organizações, é preciso refletir sobe


resistência à mudança, medo, insegurança, envolvimento, participação, já que o
elemento humano é essencial para o sucesso de qualquer programa ou sistema
de gestão. Os nossos grandes aliados rumo ao sucesso são a conscientização, a
comunicação, a informação, o treinamento efetivo dos colaboradores. Somente
quando os colaboradores compreenderem a importância de um Sistema de
Gestão de Qualidade é que estarão envolvidos e determinados a serem
participantes ativos na implementação.
Um dos parâmetros fundamentais da qualidade é: Qualidade é uma ética. A
busca da excelência, profunda convicção de que o que você está fazendo é certo,
é a mais forte motivação humana em qualquer organização e é a diretriz básica
para se obter a verdadeira liderança em qualidade.

51
10. GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

O gerenciamento de resíduos constitui-se em um conjunto de


procedimentos de gestão, planejamento e implementados a partir de bases
cientificas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção
de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de
forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde
pública, dos recursos naturais e do meio ambiente.
O gerenciamento de resíduos deve ser implantado como rotina nas áreas
de saúde e devem ser oferecidas as condições necessárias para seleção dos
resíduos, recolhimento para um local de armazenamento até a coleta. Deve haver
uma Comissão de Gerenciamento de Resíduos que deverá incluir em sua rotina
um programa de treinamento para os profissionais geradores de resíduos e para
os responsáveis pela limpeza e descarte final dos resíduos.
São definidos como geradores de resíduos sólidos de saúde:
_ Todos os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou
animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo,
sendo portanto: laboratórios analíticos de produtos para saúde; necrotérios,
funerárias e serviços onde se realizem atividade de embalsamamento
(tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e
farmácias inclusive de manipulação; estabelecimentos de ensino e pesquisa na
área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos
farmacêuticos, importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles
para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de
acupuntura; serviços de tatuagem, dentre outros similares.
Cada ambiente da unidade de saúde, dependendo do tipo de atividade
desenvolvida deverá ter locais determinados para a localização das lixeiras de
Coleta Seletiva. A Coleta Seletiva compreende a separação, já no momento do
descarte, dos diferentes tipos de resíduos. Nas Unidades de Saúde, gera-se
resíduos Comuns, Recicláveis, Infectantes e Químicos. Recomenda-se que, nas
salas, cada lixeira contenha a identificação do tipo de resíduo e acima, com

52
adesivo, seja fixada uma lista de resíduos que deverão ser desprezados em tais
lixeiras. Indica-se o uso de cores para identificar os recipientes e programação
visual padronizando símbolos e descrições utilizadas.

O gerenciamento deve abranger todas as etapas de planejamento dos


recursos físicos, dos recursos materiais e da capacitação dos recursos humanos
envolvidos no manejo dos resíduos.
MAPEAMENTO DA
GERAÇÃO DE RESÍDUOS

AVALIAÇÃO DE PREVENÇÃO / MINIMIZAÇÃO


DE GERAÇÃO DE RESÍDUOS

LEVANTAMENTO DO REAPROVEITAMENTO
DO RESÍDUO EM OUTRO PONTO DO
PROCESSO PRODUTIVO OU PELO PRÓPRIO
FORNECEDOR DA MATÉRIA-PRIMA

CLASSIFICAÇÃO DE RESÍDUO NÃO


10.1 MANEJO, TRATAMENTOREAPROVEITADO
E DESTINO FINAL DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

O manejo dos resíduos, no âmbito interno dos estabelecimentos, deve


obedecer a critérios técnicos que conduzam à minimização do risco à saúde
pública e à qualidade do meio ambiente.
Tratamento: conjunto de unidades, processos e procedimentos que alteram
as características físicas, físico-químicas, químicas ou biológicas dos resíduos.
Sistema de Destinação Final: conjunto de instalações, processos e
procedimentos que visam a destinação ambientalmente adequada dos resíduos
em consonância com as exigências ambientais.
A disposição final dos resíduos deverá ser realizada de acordo com as
características e classificação, podendo ser objeto de tratamento
(reprocessamento, reciclagem, descontaminação, incorporação, co-

53
processamento, re-refino, incineração ) ou disposição em aterros: sanitário ou
industrial.

10.2 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS

Esta etapa objetiva classificar, quantificar, indicar formas para a correta


identificação e segregação na origem, dos resíduos gerados por
área/unidade/setor da empresa.

Resíduos Comuns:
São resíduos nos estados sólidos ou semi-sólidos, semelhantes aos
resíduos domiciliares que resultam de atividades diversas de alimentação,
fisiológicas, de limpeza, não oferecendo nenhum risco à sua manipulação ou à
Saúde Pública. Compondo os resíduos comuns, temos os resíduos recicláveis que
serão descartados e recolhidos separadamente.

Resíduos Recicláveis:
São resíduos sólidos que, após o uso, podem ter sua matéria prima
reaproveitada, gerando economia de recursos naturais e financeiros, além gerar
novos empregos através das usinas de reciclagem. São resíduos de plástico,
vidro, papel, papelão e metal sem sujidade biológica visível.

Resíduos Infectantes:
São resíduos que resultam das atividades de assistência, laboratório ou
atos cirúrgicos, que promovam liberação de material biológico, oferecendo risco à
Saúde Pública ou à manipulação. Dentro deste grupo incluem-se os pérfuro-
cortantes que devem ter o descarte em recipiente apropriado antes de serem
agregado ao restante dos resíduos infectantes.

Resíduos Farmacêuticos e Químicos:

54
São resíduos tóxicos compostos por medicamentos vencidos, resíduos
corrosivos, inflamáveis, explosivos, reativos, genotóxicos ou mutagênicos.

10.3 PROGRAMA DE REDUÇÃO NA FONTE

O programa de redução na fonte consiste na implementação de técnicas e


procedimentos que visem reduzir a geração ou minimizar a presença dos
principais contaminantes presentes no resíduo.

10.4 SEGREGAÇÃO

Consiste na operação de separação dos resíduos por classe, conforme


norma ABNT NBR- 10.004, identificado-os no momento de sua geração, buscando
formas de acondicioná-lo adequadamente, conforme a NBR-11174/89 (resíduos
classe II e II) e NBR-12235/87 (resíduos classe I), e a melhor alternativa de
armazenamento temporário e destinação final.
A segregação dos resíduos tem como finalidade evitar a mistura daqueles
incompatíveis, visando garantir a possibilidade de reutilização, reciclagem e a
segurança no manuseio. A mistura de resíduos incompatíveis pode causar:
geração de calor; fogo ou explosão; geração de fumos e gases tóxicos; geração
de gases inflamáveis; solubilização de substâncias tóxicas, dentre outros.

10.5 IDENTIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS

A identificação dos resíduos serve para garantir a segregação realizada nos


locais de geração e deve estar presente nas embalagens, "contaneires", nos
locais de armazenamento, e nos veículos de coleta interna e externa. Utilizando
simbologias baseadas na norma da ABNT NBR 7500 a 7504 e na resolução
CONAMA nº 275/01, procurando sempre orientar quanto ao risco de exposição.

10.6 COLETA E TRANSPORTE INTERNO

55
Compreende a operação de transferência dos resíduos acondicionados do
local da geração para o armazenamento temporário e/ou, tratamento interno
(descontaminação, reprocessamento, etc).

10.7 TRANSPORTE EXTERNO

Os resíduos classificados como Classe I – Perigosos, necessitam de prévia


autorização para o seu transporte, denominada Autorização Para O Transporte De
Resíduos Perigosos – ATRP.
A ATRP deve ser solicitada pelo gerador, mediante Requerimento próprio
fornecido pelo CRA, acompanhado dos seguintes documentos:
I - cópia da Licença de Operação da empresa geradora;
II - cópia da Licença de Operação da empresa receptora;
III - termo de responsabilidade da transportadora dos resíduos;
IV - anuência da instalação receptora;
V - anuência do órgão ambiental do Estado de destino;
VI - comprovante do pagamento de remuneração fixada no Anexo IV do
Regulamento;
VII - outras informações complementares exigidas pelo CRA.
Durante o percurso do transporte, o responsável pela condução do veículo
deverá dispor de cópia da respectiva ATRP.
Os resíduos deverão ser transportados através de empresas
transportadoras devidamente licenciadas pelo CRA.

10.8 PLANO DE CONTINGÊNCIA

O PGRS deve especificar medidas alternativas para o controle e


minimização de danos causados ao meio ambiente e ao patrimônio quando da
ocorrência de situações anormais envolvendo quaisquer das etapas do
gerenciamento do resíduo.

56
No plano de contingência deverão constar: a forma de acionamento
(telefone, e-mail, "pager", etc.), os recursos humanos e materiais envolvidos para
o controle dos riscos, bem como a definição das competências, responsabilidades
e obrigações das equipes de trabalho, e as providências a serem adotadas em
caso de acidente ou emergência.
O plano de continência deverá descrever as situações possíveis de
anormalidade e indicar os procedimentos e medidas de controle para o
acondicionamento, tratamento e disposição final dos resíduos nas situações
emergenciais.

10.9 LOGÍSTICA E MOVIMENTAÇAO DOS RESÍDUOS

Compreende a logística para a movimentação dos resíduos desde a sua


geração até a destinação final, considerando-se o trajeto interno a ser realizado,
as ruas e rodovias, avaliando-se o caminho mais curto e mais seguro até a
destinação final adequada.

10.10 ADMINISTRAÇÃO E RESPONSABILIDADE

O PGRS e o correto gerenciamento dos resíduos, deverá ser acompanhado


através de responsável técnico, devidamente registrado no Conselho Profissional.
O PGRS deverá ser atualizado sempre que ocorram modificações
operacionais, que resultem na ocorrência de novos resíduos ou na eliminação
destes, e deverá ter parâmetros de avaliação visando ao seu aperfeiçoamento
contínuo.

57
11. INTRODUÇÃO AO MAPA DE RISCOS

Implantado pela Portaria nº5 de 20 de agosto de 1992 do Ministério do


Trabalho, modificada pelas portarias n°25 de 29 de dezembro de 1994 e portaria
n°08 de 23 de fevereiro de 1999.
Ele é obrigatório nas empresas com grau de risco e número de empregados
que exijam a constituição de uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.
0 mapa de riscos é a representação gráfica dos riscos de acidentes nos
diversos locais de trabalho, inerentes ou não ao processo produtivo, de fácil
visualização e afixada em locais acessíveis no ambiente de trabalho, para
informação e orientação de todos os que ali atuam e de outros que eventualmente
transitem pelo local, quanto as principais áreas de risco.
A norma considera como riscos ambientais os agentes físicos, químicos e
biológicos, além de riscos ergonômicos e riscos de acidentes, existentes nos
locais de trabalho e que venham a causar danos à saúde dos trabalhadores.
No mapa de riscos, círculos de cores e tamanhos diferentes mostram os
locais e os fatores que podem gerar situações de perigo pela presença de agentes
físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes.

Tabela descritiva dos riscos e suas respectivas cores:

TIPO DE
Químico Físico Biológico Ergonômico Mecânico
RISCO

COR Vermelho Verde Marrom Amarelo Azul

Agentes Má postura do
Equipamentos
Causadores Fumos Microorganismos corpo
Ruído e ou som inadequados,
metálicos (Vírus, bactérias, em relação ao
muito alto defeituosos ou
e vapores protozoários) posto
inexistentes
de trabalho

Gases Oscilações e Lixo hospitalar, Trabalho Máquinas e


asfixiantes vibrações doméstico e de estafante equipamento
H, He, N mecânicas animais e ou excessivo sem Proteção e
eCO2 ou manutenção

58
Risco de queda
Pinturas e Falta de de nível,
Ar rarefeito Esgoto, sujeira,
névoas em Orientação lesões por
e ou vácuo dejetos
geral e treinamento impacto de
objetos

Mau
Solventes Jornada dupla
planejamento
(em Pressões Objetos e ou
do lay-out e ou
especial os elevadas contaminados trabalho sem
do espaço
voláteis) pausas
físico

Ácidos,
bases, Cargas e
Contágio pelo ar Movimentos
sais, Frio e ou calor transportes
e ou insetos repetitivos
álcoois, em geral
éters, etc

Picadas de Risco de fogo,


Equipamentos
animais (cães, detonação de
Reações inadequadoe e
Radiação insetos, repteis, explosivos,
químicas não
roedores, quedas de
ergonômicos
aracnídeos, etc) objetos

Fatores
Ingestão Aerodispersóides Alergias, Risco de
psicologicos
de no ambiente intoxicações e choque elétrico
(não gosta do
produtos (poeiras de quiemaduras (correte
trabalho,
durante vegetais e causadas por contínua e
pressão do
pipetagem minerais) vegetais alternada)
chefe, etc)

Tabela de Gravidade:

Para que serve o mapa de riscos:

59
_ Serve para a conscientização e informação dos trabalhadores através da
fácil visualização dos riscos existentes na empresa.
_ Reunir as informações necessárias para estabelecer o diagnóstico da
situação de segurança e saúde no trabalho na empresa.
_ Possibilitar, durante a sua elaboração, a troca e divulgação de
informações entre os trabalhadores, bem como estimular sua participação nas
atividades de prevenção.

Etapas de Elaboração:

_ Conhecer o processo de trabalho no local analisado: os trabalhadores


(número, sexo, idade, treinamentos profissionais e de segurança e saúde,
jornada), os instrumentos e materiais de trabalho, as atividades exercidas, o
ambiente.
_ Identificar os riscos existentes no local analisado;
_ Identificar as medidas preventivas existentes e sua eficácia: medidas de
proteção coletiva, medidas de organização do trabalho, medidas de proteção
individual; medidas de higiene e conforto (banheiro, lavatórios, vestiários,
armários, bebedouro, refeitório, área de lazer);
_ Identificar os indicadores de saúde: queixas mais freqüentes e comuns
entre os trabalhadores, expostos aos mesmos riscos, acidentes de trabalho
ocorridos, doenças profissionais diagnosticadas, a intensidade do risco, de acordo
com a percepção dos trabalhadores, que deve ser representada por tamanhos
proporcionalmente diferentes de círculos.

60
12. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

MASTROENI, Marco Fábio. Biossegurança aplicada a laboratórios e serviços de


saúde. 2a. Edição. São Paulo: Editora Atheneu, 2005.

MANCINI, Jorge F. HIVATA, Mário Hiroyuki. Manual de Biossegurança. 1a. Edição.


Editora Manole, 2002.

COSTA, Marco Antônio F. da. Qualidade em Biossegurança. Rio de Janeiro:


Editora Qualitymark, 2000.

COSTA, Marco Antônio F. da. COSTA, Maria de Fátima Barroso da.


Biossegurança de A a Z. Rio de Janeiro: Editora Papel Virtual, 2003.

COELHO, Hamilton. Manual de Gerenciamento de Resíduos Sólidos de Serviços


de Saúde. Rio de Janeiro: Editora Multimeios Fiocruz, 2000.

ATLAS, Manual de Legislação, Segurança e Medicina do Trabalho. Editora Atlas,


60° Edição. São Paulo, 2007.

61

Você também pode gostar