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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


25ª CÂMARA DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO

Registro: 2018.0000534731

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1009966-25.2014.8.26.0019, da Comarca de Embu das Artes, em que é apelante ANA
PAULA CORREA BACH, é apelada VIVIANE TIEKO KOHATSU (JUSTIÇA
GRATUITA).

ACORDAM, em 25ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V.
U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores HUGO


CREPALDI (Presidente sem voto), CARMEN LUCIA DA SILVA E MARCONDES
D'ANGELO.

São Paulo, 12 de julho de 2018.

EDGARD ROSA
RELATOR
-Assinatura Eletrônica-
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APELAÇÃO Nº 1009966-25.2014.8.26.0019 – VOTO Nº 23.814


APELANTE: ANA PAULA CORREA BACH
APELADO: VIVIANE TIEKO KOHATSU
INTERESSADO: PAULO ROBERTO ANNONI BONADIES
COMARCA DE EMBU DAS ARTES - 2ª VARA JUDICIAL
MM. JUIZ DE DIREITO: BARBARA CAROLA HINDERBERGER CARDOSO DE ALMEIDA

EXECUÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONEXA


COM AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE NEGÓCIO
JURÍDICO INEXISTÊNCIA DE CONTROVÉRSIA QUANTO À
CONTRATAÇÃO E À PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS
ADVOCATÍCIOS CONTRATO ESCRITO EM QUE SE
ESTIPULOU CLÁUSULA DE ÊXITO RESILIÇÃO
UNILATERAL DO CONTRATO, PELA MANDANTE, NO CURSO
DAS DEMANDAS OBJETO DO MANDATO JUDICIAL
REMUNERAÇÃO DEVIDA PELOS SERVIÇOS PRESTADOS
NECESSIDADE, TODAVIA, DE ARBITRAMENTO JUDICIAL
DOS HONORÁRIOS, NA FORMA DO ART. 22, § 2º, DA LEI N.
8.906/94, PARA A APURAÇÃO DO JUSTO VALOR DEVIDO
PELOS SERVIÇOS PRESTADOS, A SER REALIZADA EM FASE
POSTERIOR DE LIQUIDAÇÃO DO JULGADO.

- Recurso provido em parte.

1) Trata-se de tempestivo recurso de apelação (fls.


211/218), com pedido de diferimento do preparo, interposto contra a respeitável
sentença de fls. 187/195, que julgou procedente a ação anulatória ajuizada por
VIVIANE TIEKO KOHATSU em face de ANA PAULA CORREA BACH e PAULO

ROBERTO ANNONI BONADIES, para “Declarar NULO o Termo de Distrato Contratual e


Confissão de Divida(Fls.27/29), bem como a Nota Promissória correspondente aos valores
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supostamente devidos”, julgando extinta, sem resolução do mérito, a execução de

título extrajudicial que estes movem contra aquela, tendo as demandas sido
reunidas para julgamento conjunto em razão da conexão.

Inconformada, apela a corré ANA PAULA CORREA


BACH (autora da execução), sustentando, em síntese, nulidade da sentença, por

ser extra petita. No mérito, aduz que “o objeto da ação é o distrato cujo valor é de R$
92.500,00 e que corresponde a aproximadamente 5% (cinco por cento) do valor do patrimônio
(meação) reclamado por ela (autora) apenas na ação de divórcio. Tal valor, repita-se foi
fixado para pagamento de todas as ações intentadas ou respondidas pelos recorrentes, de
modo que é forçoso convir que o valor cobrado foi bastante razoável, sendo menor até do que
o recomendado pelo próprio Conselho da OAB/SP, que é de 6% sobre a pretensão patrimonial
do cliente” (fls. 211/218).

Houve contrarrazões (fls. 234/240).

Ordenada a complementação do preparo, recolhido a


menor, a apelante postulou o diferimento, para recolher o montante ao final do
processo (fls. 249/253).

É o relatório.

2) Diante da declaração de momentânea ausência de


liquidez financeira, a fim de não obviar o acesso da apelante ao duplo grau de
jurisdição, concedo-lhe a possibilidade de efetuar o pagamento do preparo ao
final do processo, na eventualidade de sair vencida na demanda.

3) No mérito, trata-se de ação declaratória de nulidade


de negócio jurídico ajuizada por VIVIANE TIEKO KOHATSU em face de ANA
PAULA CORREA BACH e PAULO ROBERTO ANNONI BONADIES, tendo por objeto

anular termo de distrato de contrato de mandato judicial em razão da suposta


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desproporcionalidade entre os honorários cobrados pelos réus e os serviços


advocatícios efetivamente prestados à autora (fls. 1/7).

Paralelamente ao ajuizamento da ação declaratória, foi


promovida pela corré ANA PAULA ação de execução de título extrajudicial, em
razão do inadimplemento da nota promissória emitida pela autora, no valor de
R$ 92.000,00, sacada para instrumentalizar a dívida reconhecida no termo de
distrato mencionado acima (fls. 1/5 do apenso).

Houve julgamento antecipado da lide, sendo julgado


procedente o pedido para declarar a nulidade do distrato e da nota promissória,
dando por prejudicada a ação de execução, ao fundamento de que “o contrato
celebrado entre as partes foi fixado acima dos limites estabelecidos em lei, sendo injustificável
ante a falta de complexidade da causa e a desistência requerida, considerando que o mesmo
fere o principio do artigo 36 da Lei 8.906/94, sendo imoderado a fixação atribuída,
considerando ainda a nítida onerosidade excessiva à requerente e o possível locupletamento
ilícito dos requeridos”.

Respeitado o entendimento da insigne magistrada, o


recurso comporta provimento em parte.

A autora (ré na ação de execução) não nega a existência


do contrato e tampouco a prestação dos serviços advocatícios anteriores à
revogação do mandato, insurgindo-se, apenas, quanto ao montante dos
honorários cobrados, que foram contratados ad exitum. Segundo alega, não se
implementou o proveito econômico estabelecido como pressuposto para a
cobrança.

Os contratos de honorários firmados entre a autora e a


corré Ana Paula preveem o seguinte: (i) ação de divórcio “Como
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contraprestação pelos serviços previstos na cláusula 2, a CONTRATANTE


pagará a CONTRATADA o percentual de 40% (quarenta por cento) sobre o
valor real dos bens móveis, imóveis e financeiros recebidos pela Contratante,
sem prejuízo da sucumbência” (fls. 21/22); (ii) ação de alimentos “Como
contraprestação pelos serviços previstos na cláusula 2, a CONTRATANTE
pagará a CONTRATADA o percentual de 40% (quarenta por cento) sobre o
valor de 12 (doze) meses dos alimentos fixados em juízo, sem prejuízo da
sucumbência” (fls. 24/25).

De acordo com o termo de distrato de fls. 27/29, a


autora decidiu revogar o mandato concedido aos réus e confessou dever, a título
de honorários, R$ 92.500,00.

Segundo alega a autora na petição inicial, as demandas


objeto do contrato foram extintas em razão da desistência, motivada pela
reconciliação com seu ex-marido, tendo sido realizado, posteriormente, divórcio
consensual, de modo que “a estipulação dos valores dos honorários em R$ 92.000,00
(noventa e dois mil reais), para patrocínio de causas (divorcio, Ação de Alimentos, Busca e
apreensão de menor) por período tão pequeno e sem conclusão de nenhuma delas ofende a
ética, a moral e denigre a imagem de toda a classe da Advocacia” (fls. 4).

Na contestação, os réus afirmam que

“O trabalho não consistiu somente na elaboração de petições,


mas também na assistência jurídica, que consistiu em providências judiciais extremamente
emergenciais, como no caso da busca e apreensão de seu filho a 600 quilómetros de distância
com presença de funcionários do escritório, além de duas reuniões em duas cidades e datas
diferentes (Americana e Fernandópolis) com a presença do marido e sua advogada feitas por
profissionais do escritório; degravação de muitas ligações telefônicas, que despenderam muito
tempo, além de aconselhamento, muitas vezes emocional e humano, pessoalmente ou por via
de telefone quase sempre á noite e aos finais de semana”. Além disso, aduzem que
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“Considerando que o prêmio da loteria que o seu marido, juntamente com o irmão Elvis foi de
R$ 5.911.094,36, o pleito da autora era de 25% (vinte e cinco por cento) desse valor, ou seja,
R$ 1.475.000,00 (um milhão e quatrocentos e setenta e cinco mil reais); além disso, conforme
se pode demonstrar pela anexada petição inicial da ação do divórcio, a autora ainda fazia jus
a R$ 450.000,00 (quatrocentos e cinquenta mil reais) somente na parte incontroversa da ação.
Portanto, a causa da autora tinha o valor de R$ 1.925.000,00 (hum milhão, novecentos e vinte
e cinco mil reais), de modo que o valor da Nota Promissória representa menos do que 5%
(cinco por cento) do valor da causa que a autora apresentou aos requeridos” (fls. 101/113).

Consideradas as circunstâncias do caso concreto, não é


justo, realmente, que a autora pague os honorários advocatícios nos moldes
estipulados no distrato e na nota promissória, porque, de um lado, a contratação
foi feita com a cláusula de êxito (cuja condição suspensiva não se verificou) e, de
outro, porque houve resilição unilateral do contrato de mandato por revogação da
própria autora, que, ao que tudo indica, resolveu amigavelmente com a parte
adversa as questões que a levaram a procurar os réus para ajuizamento das ações
judiciais.

À vista disso, a lide, consubstanciada na ação


declaratória e na conexa execução de honorários, deve ser dirimida à luz do que
dispõe o Estatuto do Advogado (artigos 22 a 27), que de modo minucioso
disciplina a questão dos honorários advocatícios.

Com efeito, o que cumpre verificar é que o Estatuto do


Advogado assegura ao profissional a remuneração convencionada, desde que
prestados os serviços contratados (art. 22), sendo certo que, não havendo acordo
entre mandante e mandatário, tal qual na hipótese dos autos, em caso de resilição
antes do advento de condição de êxito, os honorários serão fixados por
arbitramento judicial, em valor compatível com o trabalho efetivamente
realizado e a expressão econômica da causa (art. 22, § 2º).
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No caso, é incontroverso que os serviços não foram


integralmente prestados, pois houve revogação do mandato no curso das
demandas, por iniciativa da mandante. Não é o caso de se aprofundar a
investigação acerca da justiça ou da oportunidade da resilição unilateral
promovida pela autora, que pode revogar o mandato a qualquer tempo, fazendo
jus os mandatários, contudo, à remuneração devida pelos serviços prestados até
então. Evita-se, com isso, o enriquecimento sem causa do tomador dos serviços
que, obviamente não pode simplesmente deixar de pagar pelo que usufruiu.

A dúvida que persiste, diante da peculiaridade do caso


em exame, diz respeito à justa remuneração devida aos causídicos.

Muito embora os contratos escritos disponham a


respeito do valor devido (40% do proveito econômico obtido pelo cliente com o
patrocínio da causa), a verdade é que o próprio Estatuto do Advogado
condiciona o pagamento aos serviços efetivamente prestados.

Além disso, tendo sido estipulados honorários


cotalícios, há grande dificuldade em se apurar, exatamente, qual teria sido, até o
momento da revogação, o real incremento patrimonial obtido pelo mandante em
razão do patrocínio dos mandatários, não havendo como adotar o parâmetro
estipulado no termo de distrato e na nota promissória, em razão da manifesta
desproporcionalidade.

Em nome da justiça e do equilíbrio contratual, é de


rigor a revisão judicial do valor estipulado no termo de distrato, a fim de adequar
a retribuição devida pela autora ao trabalho efetivamente desempenhado pelos
réus.

Deveras, “O desequilíbrio econômico é exteriorizado e


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sancionado no Código Civil pelos modelos jurídicos da lesão e da alteração das


circunstâncias. Em ambos há uma intromissão de fato ensejador de pactuação injusta ou que
se evidencia em sua fase de execução, subtraindo a normalidade da contratação. Prestigia-se
o sinalagma negocial, seja em seu momento genético (art. 157, CC), ou em sua fase funcional
(arts. 317 e 478, CC). A ofensa à equivalência material poderá implicar invalidade, resolução,
revisão contratual ou reparação por danos. Com efeito, na justa proporção entre as
prestações, em todas as etapas do processo obrigacional, reside o sinalagma. A sua ausência
propicia o rompimento da intangibilidade contratual. Portanto, a harmonização entre as
obrigações correspectivas é um imperativo para que o contrato já ingresse no mundo jurídico
qualificado pela normalidade, ou que seja a ela restituído caso impregnado de uma patologia
ao tempo de sua execução” (Curso de direito civil: contratos teoria geral e contratos em
espécie - Cristiano Chaves de Farias; Nelson Rosenvald 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015,
p. 214).

A medida que melhor soluciona o caso em exame não é,


data venia, a anulação do distrato, tampouco a resolução do negócio em perdas e
danos, mas sim a revisão do pactuado, por meio de equitativo arbitramento, que
possibilitará que se prossiga, na fase de cumprimento, para a cobrança dos
honorários advocatícios, com base em título judicial, confirmada a extinção da
execução fundada em título extrajudicial.

Não há nos autos elementos seguros para a fixação,


desde logo, do quantum debeatur, uma vez que, quando da resilição do contrato
de mandato, ainda não havia se implementado o êxito erigido como condição
suspensiva do pagamento da prestação. Mas tal fato não obsta o reconhecimento
do dever da autora de pagar aos réus os honorários correspondentes,
proporcionais ao patrocínio desempenhado (an debeatur), relegando-se à
posterior fase de liquidação de sentença o arbitramento da remuneração que
compete aos causídicos pelos serviços advocatícios que desempenharam,
inclusive, de forma incontroversa.
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Nessa situação, diante do impasse criado pela decisão


da autora, que, como visto, revogou o mandato no curso das demandas, justifica-
se sem dúvida o arbitramento judicial, na forma do art. 22, § 2º, da Lei n.
8.906/94, para que se apure o que constitui, no caso, a justa remuneração pelos
serviços contratados e efetivamente prestados.

Na fase de liquidação, será nomeado, para atuar como


Perito Judicial, advogado com larga experiência profissional, que poderá analisar
os contratos celebrados pelas partes, a efetiva prestação de serviços, sem
desconsiderar tudo o que fora realizado pelos réus até o momento da resilição do
contrato. Com base em tais parâmetros, o Perito logrará então sugerir o justo
valor da remuneração devida, para que em seguida a Magistrada decida, como de
direito.

O arbitramento é possível, no caso, ante a peculiaridade


apontada, malgrado exista contrato escrito, nos moldes dos seguintes precedentes
emanados do egrégio Superior Tribunal de Justiça:

"PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.


AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AOS ARTS. 165 e 535 DO CPC.
POSSIBILIDADE DE ARBITRAMENTO JUDICIAL DE
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. ILEGITIMIDADE
PASSIVA. INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE.
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 07/STJ. (...) 2 - Conforme
a jurisprudência desta Corte, embora haja pactuação entre as
partes, vinculando os honorários advocatícios à sucumbência,
nada impede o arbitramento judicial da verba profissional, caso
haja o rompimento antecipado do contrato, levando-se em
consideração as atividades até então desenvolvidas. Precedentes"
(STJ - AgRg nos EDcl no Ag 770.849/RS, Rel. Ministro
FERNANDO GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em
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09/06/2009, DJe 22/06/2009)

"Honorários de advogado. Arbitramento. Rompimento do


contrato de prestação de serviços antes do término da ação.
Direito ao recebimento de honorários pelos serviços prestados
até o momento da ruptura. Precedentes da Corte. 1. O Estatuto
da Advocacia assegura o direito do advogado ao recebimento
dos honorários da sucumbência. Rompido pelo cliente o contrato
de prestação de serviços, impedindo o advogado de levar até o
fim a causa sob seu patrocínio, não encerrado, portanto, o
processo, cabível o pleito de arbitramento de honorários na
proporção dos serviços prestados até então. 2. Recurso especial
conhecido e provido. (STJ - REsp 782.873/ES, Rel. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 06/04/2006, DJ 12/06/2006, p. 482)

O Código de Processo Civil admite que a sentença (ou


acordão) não defina desde logo a extensão da obrigação, quando não for possível
determinar, de modo definitivo, o montante devido.

A esse respeito, leciona João Francisco Naves da


Fonseca que:

“Há dois casos, porém, em que se admite excepcionalmente


decisão ilíquida, ainda que o pedido do autor tenha sido determinado. Primeiro, quando não
for possível determinar, desde logo, a quantia devida (art. 491, I). Essa hipótese pode se dar,
v.g., quando os prejuízos decorrentes do ato ilícito continuarem ocorrendo mesmo após a
decisão condenatória, de modo que, quando ela foi proferida, ainda não era possível
determinar todas as consequências do ato praticado pelo devedor. O segundo caso pode
acontecer quando, embora o juiz já tenha formado convicção sobre os demais elementos da
relação jurídica obrigacional, apuração do quantum debeatur ainda depender de produção
de prova demorada ou excessivamente dispendiosa (art. 491, II)” (Comentários ao Código
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de Processo Civil, vol. IX, São Paulo: Saraiva, 2017, p. 68).

É possível que a cobrança do débito reconhecido como


exigível seja feita nos autos da ação declaratória proposta pela devedora,
conforme já dirimido pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, em sede de
Recurso Especial repetitivo nº 1.261.888-RS, Rel. Ministro Mauro Campbell
Marques, que se aplica mesmo sob a égide do novo CPC, conforme dispõe seu
art. 515, inciso I, correspondente ao art. 475-N, inciso I, do CPC/73.

Diante de tal solução para a lide, e considerando que se


confirma a sentença terminativa no tocante à execução, é de se reconhecer a
sucumbência recíproca, com divisão das custas e despesas processuais
igualmente pelas partes, inclusive dos honorários devidos ao Perito que será
nomeado na fase seguinte. No que tange aos honorários advocatícios, já
considerado o trabalho adicional em segundo grau, a ré/apelante pagará ao
patrono da outra parte 12% da parcela expungida da cobrança, ao passo que a
autora/apelada pagará 12% da condenação, isto é, do que for apurado como
devido em liquidação de sentença, vedada a compensação e ressalvada a
gratuidade.

Ante o exposto, dá-se provimento, em parte, ao


recurso, para determinar a revisão do valor devido em retribuição aos serviços
advocatícios, apurando-se por arbitramento, permitido que se prossiga, em
seguida, para a cobrança, em fase de cumprimento, nos termos do art. 515,
inciso I, do CPC, com nova disciplina dos encargos de sucumbência.

EDGARD ROSA
Desembargador Relator

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