-3-
Dedico à minha amada esposa Katiely,
nesse momento gestando nossos gêmeos.
À Igreja Batista Reformada de Porto Velho,
primeiros destinatários dos sermões.
Não fosse a oportunidade de ministrar a essa comunidade,
possivelmente tais mensagens nunca teriam sido produzidas!
-4-
ÍNDICE
PACIÊNCIA ................................................................................................ 70
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 85
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PROVAÇÃO E PERSEVERANÇA
Tiago 1:1-4
1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão, saúde.
2 Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações,
3 sabendo que a aprovação da vossa fé produz a perseverança;
4 e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não
faltando em coisa alguma.
INTRODUÇÃO
I – DE INCRÉDULO A CRENTE
1 CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. pp. 454-458.
2 Idem.
3 Ibid.
4 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 11.
-6-
O próprio autor viveu essa experiência de transformação. A Bíblia nos
mostra que Tiago era incrédulo (João 7.2-5). Contudo, mais tarde veio a ser
um líder na igreja em Jerusalém. Sua proeminência foi tal que diversas
passagens o mencionam. Teve a incrível oportunidade de se encontrar com o
Senhor Jesus após a ressurreição (1 Coríntios 15.7), estava no pentecoste
(Atos 1.14), Paulo diz que encontrou com Tiago em Jerusalém e ele parecia
ser coluna (liderança) (Gálatas 2.9). Tiago também foi o líder do chamado
“Concílio de Jerusalém” (Atos 15.13). De incrédulo o homem passou a ser
um dos principais defensores e propagadores do evangelho.
Tiago se identifica como servo (v. 1). A verdadeira conversão
justamente é aquela que promove a humildade do ser. Ele poderia se arrogar
como o “Irmão de Jesus”. Como alguém que teria maiores privilégios ou
autoridade. Contudo, sua apresentação é como um humilde servo. Servo de
Deus e de Jesus Cristo.
A palavra grega doulos (escravo, servo) refere-se a uma posição de
obediência completa, humildade absoluta e lealdade inabalável. A
obediência era a tarefa, a humildade, a posição, e a lealdade, o
relacionamento que o senhor esperava de um escravo... Não há
maior tributo para o crente, que ser conhecido como servo de Jesus,
obediente, humilde e legal.5
II – DE CRENTE A PERSEGUIDO
Como visto antes, a carta foi enviada “às doze tribos da dispersão”. A
menção de uma dispersão tão cedo no início do cristianismo já antecipa os
comentários sobre perseguição, sofrimento e provação. Os crentes eram
perseguidos pelo império romano, eram “foras da lei”.
Eles eram cidadãos dos céus, mas viviam dispersos na terra. Eles
eram crentes, mas tiveram seus bens saqueados. Eram crentes, mas pobres
e, muitos deles, estavam sendo oprimidos pelos ricos. Eles eram crentes,
mas ficavam enfermos. Crentes, mas sofriam. A vida cristã não é uma
redoma de vidro.6
“O convertido que esperar uma vida cristã fácil terá uma grande
decepção”7.
A vida cristã não significa triunfalismo. Apesar de realmente sermos
bem-aventurados imensamente pela graça de Deus, ainda vivemos neste
mundo de sofrimento. Precisamos confiar em Deus sabendo que Ele não nos
livrará DO sofrimento, mas NO sofrimento. Não nos livrará DAS aflições, mas
NAS aflições da vida.
-7-
III – DE PERSEGUIDO A PERSEVERANTE
a) Alegria no sofrimento.
b) A provação é passageira.
c) A provação é variada.
8 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 35.
-8-
relacionamentos, nas amizades. Praticamente tudo em nossa vida é
propenso a ser melhorado e, portanto, alvo de provações e tentações.
Hernandes Dias Lopes9 comenta que a palavra para várias vem do
grego poikilos e significa diversas cores, multicolorido. Assim, as tentações
seriam de várias “cores”, “multicoloridas”. Contudo, a graça de Deus também
é poikilos, multiforme (1 Pedro 4.10).
Calvino10 explica que “O Senhor, pois, nos aflige de várias maneiras,
porque a ambição, a avareza, a inveja, a glutonaria, a intemperança, o
excessivo amor do mundo, e as inumeráveis concupiscências nas quais nos
vemos enredados, não podem ser curadas pela mesma medicina”.
Assim, para cada provação existe uma graça de Deus que nos socorre
e nos ajuda nas dificuldades. Se as provações são diversas, a graça de Deus
muito mais!
IV – DE PERSEVERANTE A COMPLETO
-9-
Em vez de murmurar, de reclamar, de ficar amargo, de enfiar-se em
uma caverna, devemos nos alegrar intensamente. Essa alegria é
confiança segura na soberania de Deus, de que Ele está no controle,
de que Ele sabe o que está fazendo e sabe para onde está nos
levando. (LOPES, 2006, p. 18).
APLICAÇÕES
- 10 -
pronunciar para outras pessoas o amor ao próximo, e até aos nossos
inimigos; mas temos, que de fato, amar nossos inimigos! Temos
conversado com aquelas pessoas que não gostam de nós? Temos buscado
fazer o bem a outras pessoas fora no nosso estreito círculo de amizades?
Tenho conseguido perdoar incondicionalmente? A qualquer pessoa?
Mesmo? Tenho tido domínio próprio ou tenho explodido em cólera contra
cônjuge, parentes, amigos e conhecidos? Tenho rejeitado os vícios ou sido
dominado por eles? A maturidade cristã reside em justamente conseguir
passar por mais provas em nossa vida e glorificar a Deus.
- 11 -
EM BUSCA DE SABEDORIA NA PROVAÇÃO
Tiago 1:5-12
5 Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e
não censura, e ser-lhe-á dada.
6 Peça-a, porém, com fé, não duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar,
que é sublevada e agitada pelo vento.
7 Não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa,
8 homem vacilante que é, e inconstante em todos os seus caminhos.
9 Mas o irmão de condição humilde glorie-se na sua exaltação,
10 e o rico no seu abatimento; porque ele passará como a flor da erva.
11 Pois o sol se levanta em seu ardor e faz secar a erva; a sua flor cai e a beleza do seu
aspecto perece; assim murchará também o rico em seus caminhos.
12 Bem-aventurado o homem que suporta a provação; porque, depois de aprovado, receberá a
coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.
INTRODUÇÃO
O livro de Tiago porta o nome de seu autor. Mas, não é dado nenhum
detalhe sobre que Tiago é esse de que se fala. Uma vez que existiam muitos
“Tiagos” naquela época, ficamos com a missão de decidir qual deles é o autor
da epístola. Estudiosos encontraram vários motivos para crer que esse Tiago
é o irmão de Jesus Cristo (Gálatas 1.19)14.
O local de origem é possivelmente Jerusalém. Ele poderia ter escrito
durante o período em que liderou a igreja cristã naquela localidade. A data
giraria em torno de 40 d.C.15
Tiago escreve para “às doze tribos da Dispersão”. Mas, sabemos que
eram “seus irmãos” (v.2), ou seja, cristãos. Logo, a expressão “às doze tribos
da Dispersão” faz uma referência, não tão clara, à Igreja do Senhor.
Possivelmente esse público fosse composto por judeus cristãos outrora
espalhados pela perseguição em Jerusalém para as regiões da Fenícia, Chipe
e Antioquia16. Logo, a carta foi direcionada a várias igrejas; por isso, ela é
incluída num grupo de escritos conhecido como “Epístolas Gerais”.
A mensagem aborda a necessidade da igreja colocar em prática aquilo
que professava17. Tiago afirma que “a fé sem obras é morta”. Assim, é
preciso que os cristãos mostrem seus bons frutos como resultado de sua
vida cristã.
Nesse sermão, trabalharemos “a busca da sabedoria para lidar com as
provações”. Vamos aprender como alcançar a bênção da sabedoria para
tratar as provações a fim de que sejamos aprovados e edificados por Deus.
14 CARSON, D. A. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997. pp. 454-458.
15 Idem.
16 Ibid.
17 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 11.
- 12 -
I – SE ALGUÉM TEM FALTA DE SABEDORIA
b) Em busca de sabedoria.
18 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 156.
19 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
19-20.
- 13 -
ser resolvidas por nós mesmos e carecem de atenção, busca e dedicação
pessoal. É preciso a compreensão do problema, mediante a sabedoria divina,
e a disposição em obedecer a Deus para tomar decisões certas, e resolvê-lo.
Desta forma, somos convencidos de que há um processo extremamente
importante de busca, amadurecimento, entendimento, renúncia e obediência
à Deus para vencermos as provações. Assim, não somos autorizados a
resumir a solução a meros atos instantâneos e aparentemente mágicos. Não
se resolve uma provação jogando sal grosso nos cantos da casa, nem mesmo
bebendo alguma água milagrosa! Este é o ponto! Não podemos desmerecer o
método bíblico de lidar com provações!
c) Alcançando a sabedoria.
Tudo até aqui parece muito bom e fácil, contudo temos um grande
obstáculo: a falta de fé! “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus 11.6)
escreveu o autor aos Hebreus. Tiago também aponta a importância da fé,
mas especificamente no momento da petição. “Peça com fé” foi o seu clamor!
É óbvio que um pedido sem fé será quase um escárnio a Deus, logo não
poderá ser atendido de fato.
O coração dividido não é caminho para triunfar na provação. Se
estivermos com o coração dividido, vamos receber somente a metade
— ou menos! (...) Em nosso comportamento em relação a Deus não
deve haver inconstância, em que queremos que parcialmente as
coisas ocorram do nosso jeito e parcialmente do jeito de Deus21.
20 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 39.
21 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 157.
- 14 -
A falta de fé indica não só um problema no pedido, mas mais
essencialmente, um problema no próprio cristão. O texto aponta duas
características do incrédulo.
b) Como um bipolar.
22 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 21.
- 15 -
(a) O humilde.
Para o irmão humilde, pobre, que passa por dificuldades devido sua
condição, o escritor encoraja a encontrar sabedoria para resolver a situação
na realidade de que o “pobre” pode ser “rico” em Deus. Sua leve e
momentânea tribulação, quando encarada com os olhos fitos no Senhor, e
preservando a vida de comunhão e santidade a Deus, resulta em grande
exaltação futura. O humilde será exaltado e deve-se olhar para tal realidade.
(b) O rico.
IV – CONSOLO E RECOMPENSAS
23 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume III. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 439.
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vida! Um paralelo desse entendimento é visto em Apocalipse. “Ao que vencer,
dar-lhe-ei a comer da árvore da vida” (Ap 2.7); “Ao que vencer darei do maná
escondido” (Ap 2.17); “Ao que vencer, e ao que guardar as minhas obras até
o fim, eu lhe darei autoridade sobre as nações” (Ap 2.26); “Ao que vencer, eu
lhe concederei que se assente comigo no meu trono” (Ap 3.21).
APLICAÇÕES
24 CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015. p. 38.
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A RELAÇÃO DE DEUS PARA COM O BEM E O MAL
Tiago 1:13-18
13 Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado
pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta.
14 Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.
15 Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez
consumado, gera a morte.
16 Não vos enganeis, meus amados irmãos.
17 Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem
não pode existir variação ou sombra de mudança.
18 Pois, segundo o seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos
como que primícias das suas criaturas.
INTRODUÇÃO
I – PROVAÇÃO E TENTAÇÃO
25 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 441.
26 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
25.
- 18 -
não é suscetível, em hipótese alguma, ao erro, falha, pecado ou mal. Ou,
como diria o apóstolo Paulo, o Senhor “habita em luz inacessível” (1 Timóteo
6.16). Ou seja, o Senhor Deus nunca foi, não é, e nem será capaz de falhar,
errar ou pecar. Sua natureza é de extrema santidade.
Jesus Cristo, o filho Unigênito do Pai, compartilhando da mesma
substância da divindade, igualmente mostrou que sua natureza era
incorruptível quando desafiou: “Quem dentre vós me convence de pecado?”
(João 8.46, ARA), “Qual de vocês pode me acusar de algum pecado?”(NVI), ou
ainda, “Qual de vocês pode provar que eu tenho algum pecado?” (NTLH).
Jesus Cristo foi perfeito, incorruptível e sem pecado. O mal não
poderia lhe tocar. Sua essência era totalmente santa.
Como Deus não pode ser tentando, não pode ter mácula ou pecado,
igualmente não poderia praticar o que é ruim. O mal não pode proceder dele.
Assim é que o escritor enfatiza que Deus não pode tentar a ninguém. Não é
do caráter de Deus nem de sua missão tentar pessoas. Usar de artifícios
maliciosos e corruptores para tratar com a humanidade.
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desejo”27. Contudo, a ação de transformar um desejo legítimo em pecado é
obra própria da cobiça. Assim, “a cobiça é a tentativa de satisfazer um desejo
fora da vontade de Deus”28. Nesse flerte a cobiça pode alcançar maiores
conquistas até o ponto de conceber, havendo, então, a fecundação do
pecado. Depois da concepção, segue-se normalmente o parto. Após se ter
dado “à luz” ao pecado, este gera a morte. Há todo um trajeto interno, de
sugestão, planejamento e execução do mal até o ápice de sua ação que é
considerado como morte.
Contudo, não somos obrigados a cair em tentação e a tentação em si
não é pecado. Jesus nos ensinou a orar para não cairmos em tentação, mas
não ensinou a pedirmos pela total imunidade a ela. Assim, podemos até ser
tentados, mas igualmente temos a possibilidade de livramento de Deus para
escaparmos delas. Lutero dizia: “Você não pode impedir que um pássaro voe
sobre a sua cabeça, mas você pode impedir que ele faça ninho em sua
cabeça” (TUCK, 1996 apud LOPES, 2006)29.
O contraste é que anteriormente foi exposto que Deus não era passível
de pecar e não tentava ninguém. Logo, Ele é a origem de todo bem. Ao
contrário, chegamos aqui com a visão de que o homem é uma verdadeira
“fábrica” em potencial para produzir o pecado. Assim, coloca-se os valores
nos seus devidos lugares: Deus é bom; porém o homem, pecador.
Tiago traz um alerta no versículo 16: “não vos enganeis, meus amados
irmãos”. Se ele precisou fazer esse alerta é porque o tema poderia ter sido
alvo de dúvidas, contradições e enganos. Poderiam existir pessoas que
pensavam e viviam de modo diferente. Poderiam haver pessoas que
culpassem a Deus ou aos outros por seus fracassos, delitos e pecados. Mas,
a orientação bíblica é clara: “não vos enganeis!”.
27 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 441.
28 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 26.
29 Idem. p. 27.
- 20 -
IV – DEUS E A ORIGEM DO BEM
30 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
27.
- 21 -
suposição de que Deus poderia tentar alguém está a realidade de que Ele é
completamente íntegro e bom. Todas as suas obras são boas. Todo o seu
desígnio é correto. Ele é completamente santo. A repetição “santo, santo,
santo” (Isaías 6.3) evidencia e intensifica tal condição de perfeição. Então,
não nos enganemos, Deus é bom. Sempre bom, o tempo todo! Então, diante
das provações ou tentações lembremo-nos de que Deus é bom. Diante dos
sofrimentos e dos momentos mais difíceis de nossa vida, Ele continua sendo
bom. Nossa vida espiritual foi uma dádiva de sua bondade. É prova de que
Ele é bom para conosco! “Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom,
porque a sua misericórdia dura para sempre”. (Salmo 136.1).
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COMO VIVER A FÉ CRISTÃ?
Tiago 1.19-27
19 Sabeis estas coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar.
20 Porque a ira do homem não produz a justiça de Deus.
21 Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão,
a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma.
22 Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós
mesmos.
23 Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não praticante, assemelha-se ao homem que
contempla, num espelho, o seu rosto natural;
24 pois a si mesmo se contempla, e se retira, e para logo se esquece de como era a sua
aparência.
25 Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela persevera,
não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-aventurado no que
realizar.
26 Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio
coração, a sua religião é vã.
27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
INTRODUÇÃO
- 23 -
alcançar a mesma. “O termo ‘pronto’, no grego, é táxys, de onde vem nossa
palavra táxi (rápido)” (LOPES, 2006, p. 34)31.
Por outro lado, a moderação no falar traz a ideia de que tal informação
deve ser melhor processada e analisada antes de se devolver respostas ou
julgamentos. Diante das dificuldades, além de se ter muitas informações, de
ouvir muito, é importante a análise cautelosa dos dados antes da emissão de
juízos. O falar normalmente está recheado de acusações, conclusões e
julgamentos, que se feitos de modo prematuro causará mais transtorno e
não resolverá a situação.
“A palavra ‘tardio’, no grego, é brádys. Essa palavra dá a ideia de uma
pessoa que tem dificuldades intelectuais para compreender logo de início o
que lhe foi dito; e necessita, portanto, de tempo para reflexão”. (LOPES,
2006, p. 37)32.
Mas, por que normalmente não conseguimos agir assim? A resposta
está em nós mesmos! Por causa de nossa ira! A ira arrebata o homem e
atropela os processos. O homem irado perde o controle da situação, não tem
paciência para ouvir e quer falar muito!
O que é mais prejudicial é o fato de que a “ira do homem não produz a
justiça de Deus”. Certamente o homem conduzido por sua irá deixará de
cumprir a vontade de Deus. Suas ações não glorificação ao Senhor, pelo
contrário, serão motivo de vergonha e arrependimento futuro. Quantas vezes
não passamos por situações em que demos vazão a nossa ira e
posteriormente nos arrependemos amargamente pelos absurdos que fizemos!
Alguns chegam a considerar que “estavam fora de si” quando fizeram tal e
tal coisa! Mas, não podemos agir assim, “fora de si”. Como cristão,
precisamos manter o domínio próprio, o controle de nossa vida, para agir
conscientemente evitando o mal e praticando o bem. Essa é a orientação.
31 Lopes, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
32 Idem.
- 24 -
impureza! O verbo despojar é dominante. É preciso o cristão se esbulhar da
velha vida, cheia de impureza e maldade. Nosso coração deve estar limpo,
leve diante de Deus. Como conseguiremos alcançar a vontade sublime do
Senhor a ponto de conseguirmos estar prontos para ouvir, tardios para falar
e tardios para se irar? Apenas quando tivermos um coração mais leva das
tranqueiras do pecado! Uma vida mais solta das amarras do mal. Então, a
orientação do servo do Senhor, neste ponto, é negativa, no sentido de
retirarmos todo entulho de nossa vida.
A vida cristã possui sempre dois aspectos que devem ser nutridos
simultaneamente. Um deles diz respeito a algo que se deve DEIXAR, outro, a
algo que se deve ASSUMIR. O que se deve deixar, que foi apontado por Tiago,
é impureza e maldade!
Mas, o que se deve ASSUMIR? A palavra implantada em nós! É preciso
assumir e crer que ela é poderosa para salvar a nossa alma. Acolher a
palavra é dar espaço para a mesma. É tornar-se solo fértil para que a
semente possa nascer, crescer e produzir. Acolher a palavra é obedecê-la, é
viver por ela. É nutrir o respeito tento-a como autoridade em nossa vida.
Ademais, considerando-a suficiente para nortear nossa alma.
Essa palavra é poderosa para salvar a nossa alma. Precisamos crer
que a palavra do Senhor é eficaz para salvar nossa vida. Não podemos nem
precisamos adicionar adendos na obra de Deus, somente crer e confiar.
Creiamos que o Senhor é poderoso e sua palavra viva e eficaz! Ele pode
salvar o pecador, livrar do mal e resgatar as vidas.
A importância desses dois movimentos, um de deixar algo e outro de
assumir pode ser ilustrada por essa história contada pelo pastor Augustus
Nicodemus.
Em 1985, minha esposa e eu estávamos na África do Sul, por causa
dos meus estudos, e fomos visitar Kwasizabantu, o centro de um
grande avivamento espiritual que havia começado em 1967na tribo
Zulu. Lá, ouvimos uma história interessante. Uma senhora Zulu
idosa converteu-se a Cristo e vinha regularmente a todos os cultos.
Todos estavam muito felizes por ela, mas havia um pequeno
problema: há anos ela não tomava banho. Aquilo começou a criar
um problema, pois quando ela entrava no local das reuniões, seu
mau cheiro perturbava a todos. Todo mundo sabia que ela havia
chegado. As senhoras Zulus crentes resolveram tomar uma
providência: reuniram-se, fizeram uma festa para ela, e lhe deram
um vestido novo de presente, dizendo que gostariam muito de vê-la
com o vestido novo na reunião seguinte. Ela ficou muito feliz e
prometeu que na próxima reunião viria trajada assim. E de fato veio.
Na reunião seguinte chegou de vestido novo, mas quando entrou e
sentou-se, o velho e conhecido mau cheiro estava lá. Ela
simplesmente vestira o novo vestido por cima dos trapos! (LOPES,
2007, p. 48)33.
APLICAÇÃO: O viver cristão exige deixar muita coisa para trás. Estamos
deixando o pecado para trás? Estamos se desfazendo de nossa bagagem de
33 LOPES, Augustus Nicodemus. Cheios do espírito. São Paulo: Editora Vida, 2007.
- 25 -
carnalidade e ampliando nossas conquistas no baú dos tesouros celestes? É
notório em nossa vida que estamos deixando a impureza e maldade e
assumindo a palavra de Deus? Oremos para que o Senhor nos ajude nisso.
Ponha diante de Deus situações práticas em que você percebe que necessita
de mudança, necessita deixar algumas práticas para reviver em outras mais
honrosas que glorifiquem a Deus.
- 26 -
observados. Neste sentido não somos contra a lei, pelo contrário, a
reafirmamos!
Logo, obedecendo a lei de Deus e continuando na prática da mesma,
perseverantemente, o texto diz que seremos bem-aventurados.
Por fim, mas não menos importante, Tiago traz a relação entre boas
obras e a religiosidade/religião verdadeira. Mas, é válida uma observação.
“Tiago não está enfocando a questão doutrinária, mas um assunto de prática
cristã. O conteúdo da fé é a morte expiatória de Cristo e Sua ressurreição
gloriosa. O cuidado dos necessitados não é o conteúdo do cristianismo, mas
sua expressão”. (LOPES, 2006, p. 42)34.
Tiago basicamente mostra uma implicação importante resumida na
sentença lógica:
Se a religião é verdadeira então há prática boas obras
Não é possível estar numa religião verdadeira sem que a prática de
boas obras seja evidente e real. A verdadeira religião não deve ser apenas um
compêndio filosófico de abstrações, mas deve mostrar-se efetiva em boas
obras. Como diz o próprio escritor: “Se alguém supõe ser religioso, deixando
de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã”.
Note a insistência de Tiago em mostrar o autoengano quanto ao evangelho.
Antes (v. 22) ele já tinha afirmado também que quem é somente ouvinte da
palavra estaria enganando-se a si mesmo. Aqui ele reafirma que a
religiosidade de quem não pratica, da mesma forma, é um engano. Ademais,
a própria religião seria vã, ou seja, nula, imaginativa, não produtiva, irreal,
irrelevante, etc.
É preciso se fazer uma observação quanto ao tema. Tiago traz a
realidade de que existe a religião verdadeira, e como é o caráter dela.
Entretanto, existe em nossa atualidade um pensamento que diz “não à
religião” e “sim a Jesus”, como se religião e Jesus Cristo não se
combinassem. Muitos são avessos à religião, pois, segundo eles, religião só
representaria manipulação, institucionalização inútil e aprisionamento.
34 Lopes, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
- 27 -
Ademais, religião não salva. Muitos propõe até um cristianismo sem religião,
feito em casa, às vezes individualmente. Surgiram desse movimento os
chamados “desigrejados”. Crentes que não vão à igreja. Que não querem se
envolver com a religião.
Em muitos aspectos a crítica contra a religião é oportuna, pois vemos
muitos equívocos em nome da religião. Não obstante, a religião verdadeira
existe! Tiago mostra isso e ainda a natureza de tal religião! Assim, não
podemos ser contra a religião verdadeira e contra rituais e práticas
intrinsicamente religiosas, senão estaremos indo contra a própria vontade de
Deus. Por exemplo, o aspecto de se reunir em culto coletivo é frisado em
Hebreus 10.25: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns;
antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se
aproxima”. As ordenanças como a Ceia do Senhor e o batismo devem ser
praticadas em rituais prescritos e públicos. Enfim, a Bíblia mostra que existe
a verdadeira religião. Assim, sigamos nela para glória de Deus.
Essa religião tem a natureza de propagar boas obras. Tiago diz que
aquele que se diz religioso e não refrear a língua está se enganando e sua
religião não é verdadeira! Ou seja, não é possível estar na verdadeira religião
e manter os mesmos hábitos pecaminosos agindo livremente em sua vida.
Tal religião é vã.
Mas, qual seria a natureza da religião verdadeira? “A religião pura e
sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as
viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do
mundo”. Trata-se da prática do evangelho tão recomendada anteriormente e
a esquiva da contaminação mundana!
A verdadeira religião é aquela que glorifica a Deus nas ações de seus
servos. Ora, se somos sal da terra e luz do mundo, é claro que a Igreja
formada por nós será uma bênção na vida das pessoas. Produzirá muito
para glória de Deus Pai. Não poderá ser omissa e não se contaminará com o
pecado do mundo! Se afastará do mundo porque “os que são de Cristo Jesus
crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências” (Gálatas
5.24).
A religião verdadeira é aquela que só existe pelo poder do Espírito
Santo, pois para se produzir, de fato, boas obras é necessário ter o fruto do
Espírito (Gálatas 5.22). Ademais, o poder do Espírito é evidenciado contra as
carnalidades do mundo, pois só na religião verdadeira, ou seja, naquela
baseada no poder do Espírito e na obra de Cristo, é que se tem vitória contra
as tentações, pois a falsa religião, cheia de preceitos humanos, ritos
arbitrários, proibições e rigor ascético não tem o poder de refrear o
mundanismo. “Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como
culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não
têm valor algum contra a sensualidade” (Colossenses 2.23).
Boas obras só são feitas em Jesus Cristo, pois ele mesmo disse: “Eu
sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá
muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.5).
Assim, podemos resumir que a verdadeira religião é aquela firmada no
Senhor Jesus Cristo!
- 28 -
APLICAÇÃO: Posso considerar minha religião como sendo a verdadeira
religião de Deus? Minha religião passaria no teste de Tiago, ou seja, estaria
baseada no amor do Pai, na obra de Cristo, no poder do Espírito,
produzindo, como consequência boas obras para humanidade? Na minha
religião as pessoas refreiam a língua ou existe a propagação de fofocas,
boatos e calúnias? Quais foram minhas boas obras realizadas no último mês
que glorificaram ao Senhor Deus? Oremos ao Senhor para que Ele nos ajuda
a viver a verdadeira religião.
- 29 -
NÃO À ACEPÇÃO DE PESSOAS
Tiago 2:1-13
1 Meus irmãos, como crentes em nosso glorioso Senhor Jesus Cristo, não façam diferença
entre as pessoas, tratando-as com favoritismo.
2 Suponham que na reunião de vocês entre um homem com anel de ouro e roupas finas, e
também entre um homem pobre com roupas velhas e sujas.
3 Se vocês derem atenção especial ao homem que está vestido com roupas finas e disserem:
"Aqui está um lugar apropriado para o senhor", mas disserem ao pobre: "Você, fique de pé ali",
ou: "Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés",
4 não estarão fazendo discriminação, fazendo julgamentos com critérios errados?
5 Ouçam, meus amados irmãos: não escolheu Deus os que são pobres aos olhos do mundo
para serem ricos em fé e herdarem o Reino que ele prometeu aos que o amam?
6 Mas vocês têm desprezado o pobre. Não são os ricos que oprimem vocês? Não são eles os
que os arrastam para os tribunais?
7 Não são eles que difamam o bom nome que sobre vocês foi invocado?
8 Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: "Ame o seu próximo
como a si mesmo", estarão agindo corretamente.
9 Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados
pela Lei como transgressores.
10 Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de
quebrá-la inteiramente.
11 Pois aquele que disse: "Não adulterarás", também disse: "Não matarás". Se você não
comete adultério, mas comete assassinato, torna-se transgressor da Lei.
12 Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade;
13 porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A
misericórdia triunfa sobre o juízo!
INTRODUÇÃO
I – ENTENDENDO A DISCRIMINAÇÃO
a) Igualdade espiritual.
- 30 -
condição social, qualidade financeira ou outros elementos externos
discriminatórios.
No reino de Deus não deve haver qualquer diferenciação
discriminatória entre os irmãos, pois todos igualmente são amados, aceitos e
abençoados por Deus. Não há ninguém melhor do que ninguém. Não existe
pessoa mais digna ou menos digna. Deus nos tem por seus filhos em igual
consideração.
O apóstolo Paulo chegou a afirmar que entre os filhos de Deus: “Não
há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são
um em Cristo Jesus”. (Gálatas 3.28). Assim, o judeu não é melhor que um
grego, em termos espirituais. Por mais que o judeu tenha vivido uma
tradição bíblica, tenha nascido na nação eleita, palco das maiores ações do
Senhor, mesmo que seja descendente de Abraão, ainda assim não possui
nenhum privilégio em relação a um grego, gentio, que andava distante de
Deus, sem qualquer noção de adoração, sem nenhuma lei, mas que agora
conheceu a Jesus Cristo e foi salvo pela sua graça. Não há privilégio algum,
pois tanto o judeu como o grego, aos olhos do Senhor não passam de
pecadores carentes da graça. Ambos foram salvos pela graça e pela mesma
misericórdia de Deus. Ambos devem suas vidas ao Senhor. Se foi pela graça
não há mérito humano, logo, o judeu não tem nenhum mérito a mais do que
o grego!
Assim, podemos dizer que “favoritismo e acepção de pessoas não são
atitudes de um cristão”. (LOPES, 2006, p. 47)35.
b) Diversidade humana.
35 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
- 31 -
abençoados, mais santos, etc. O fato de terem cargos e exercerem
determinada função no reino não os pode diferenciar espiritualmente, pois
todo serviço que prestam é pela graça e favor de Deus. Eles não têm em si
mesmo nenhuma prerrogativa que os supere aos outros, mas pela graça de
Deus é que agem, logo não há mérito humano nisso. Não podem se
vangloriar, pois a glória pertence ao Senhor! Assim, prossigamos com o
pensamento conhecido como “sacerdócio universal”, ou seja, do conceito de
que todo crente tem acesso direto ao Pai não precisando de intermediadores!
Os servos chamados pelo Senhor para servir à Igreja não são mediadores
entre Deus e os homens, mas cooperadores de Deus junto à Igreja; Igreja
que é o corpo de Cristo, que tem livre acesso a Deus!
II – PROBLEMAS DA DISCIMINAÇÃO
36 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006.
- 32 -
b) A discriminação implica em juízo perverso
37 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
38 Idem.
39 Idem.
- 33 -
Esses ricos eram carnais, pessoas que levavam os simples aos
tribunais, que os oprimiam e, além de tudo, blasfemavam o nome de Deus. A
pergunta é: por que tais pessoas recebiam, na Igreja, tão nobre tratamento
em detrimento dos outros? Wiersbe (2006, p. 453) talvez nos dê a resposta:
“Agradamos aos ricos, pois esperamos obter algo deles, e evitamos os pobres,
porque nos envergonham”.
A lógica humana é exposta como leviana! É isso que Deus está
mostrando! Nosso julgamento é infundado! Excluímos a quem Deus incluiu
e incluímos a quem Deus não incluiu! Agimos, assim, contra a vontade de
Deus. Quebramos seus mandamentos. Rompemos seu querer!
Mas, qual mandamento quebramos com isso? Veremos em seguida.
- 34 -
quanto os resultados de um pecado flagrante. (HAPMAN, 2005, p. 166)40.
Assim, aprendemos que apesar de espiritualmente todos os pecados serem
perniciosos e condenáveis diante de Deus, há uma diferenciação quanto às
suas consequências. Neste ponto eles são diferentes e roubar um centavo é
diferente de roubar um bilhão!
A seção finaliza com uma advertência: “Falem e ajam como quem vai
ser julgado pela lei da liberdade”. É importante notar o “como quem”
indicando uma comparação. À luz das Escrituras do Novo Testamento, não
há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Contudo, seu
proceder, sua vida devocional e de santidade tem uma referência. Essa é
aqui chamada de lei da liberdade. A lei moral de Deus ainda subsiste como
referência para a Igreja quanto à natureza ética pela qual a Igreja deve viver!
Não é uma lei que garanta em si salvação, mas uma lei que conduz às boas
obras! Não é uma lei de prisão, mas da liberdade! Não é exercida por
obrigação, mas praticada voluntariamente em gratidão.
Assim, o viver “como quem vai ser julgado” é uma advertência para o
crente balizar sua vida moral pelos mais altos padrões de Deus. Estes devem
ser valorizados, pois, apesar de o crente não mais ser condenado, conquanto
a graça de Cristo já o livrou, tem a maior consideração pelos mesmos, não
banalizando a graça, antes mostrando gratidão em obediência “como quem
fosse de fato ser julgado!”.
40 Idem.
- 35 -
O TIPO DE FÉ QUE NÃO DEVEMOS TER
Tiago 2:14-26
14 Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode,
acaso, semelhante fé salvá-lo?
15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento
cotidiano,
16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes
dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?
17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
18 Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu,
com as obras, te mostrarei a minha fé.
19 Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem.
20 Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante?
21 Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o
próprio filho, Isaque?
22 Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé
se consumou,
23 e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado
para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus.
24 Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente.
25 De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os
emissários e os fez partir por outro caminho?
26 Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.
INTRODUÇÃO
I – O PERFIL DA VERDADEIRA FÉ
- 36 -
como verdade”41. Um exemplo desse sentido é 1 João 4.1: “Amados, não
deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de
Deus”. Ou seja, não acreditem, não aceitem uma afirmação se não for de
Deus.
O outro elemento da fé, não menos importante, é a “confiança pessoal
em contraposição ao mero crédito ou crença”42. O apóstolo João traz um
uso da expressão com esse sentido quando afirma: “Mas, a todos quantos o
receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que
crêem no seu nome” (João 1.12). Crer no seu nome, para os judeus, quase
equivalia a crer na pessoa!
Desta forma entendemos que a fé está atrelada à uma prática de se
lançar ao Senhor em confiança. Inclui igualmente boas obras produzidas em
nome de Deus, pois conforme Paulo: “Porque somos criação de Deus
realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras, as quais Deus
preparou de antemão para que nós as praticássemos” (Efésios 2.10). No
momento em que nos lançamos à Deus isso significa que viveremos
conforme sua vontade e tal viver certamente será luz para às nações!
Assim, conclui-se que “o tipo de fé necessária para a salvação implica
tanto crer que como crer em, ou aceitar fatos e confiar numa pessoa”43.
Outro ponto muito negligenciado por muitos é o fato de que essa fé
não é um construto humano, não é uma produção da pessoa, mas uma
dádiva dos céus! O autor aos Hebreus disse que Jesus é o “autor e
consumador da nossa fé” (Hebreus 12.2). O apóstolo Paulo igualmente disse
que “pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom
Deus” (Efésios 2.8). Isso o quê? Toda a salvação incluindo a fé! Logo, a fé
também vem de Deus. Em Atos é descrito algo interessante para nós. “Ao
chegar, ele auxiliou muito os que pela graça haviam crido” (Atos 18.27). O
texto fala que Apolo auxiliou os recém convertidos com sua mensagem.
Contudo, esses pela graça é que haviam crido, ou seja, tiveram fé pela graça
de Deus e não por uma obra própria do homem.
41 ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1997. p. 397.
42 Idem.
43 Idem, p. 398.
- 37 -
mente todos os momentos felizes e tristes que ele já havia vivido em sua
vida. De repente ele sentiu um puxão forte que quase o partiu pela
metade...Como todo alpinista experimentado, havia cravado estacas de
segurança com grampos a uma corda comprida que fixou em sua cintura.
Nesses momentos de silêncio, suspenso pelos ares na completa escuridão,
não sobrou para ele nada além do que gritar: “Oh, meu Deus! Me ajude!”. De
repente uma voz grave e profunda vinda do céu respondeu: “O que você quer
de mim, meu filho?”. “Me salve, meu Deus, por favor!”. “Você realmente
acredita que eu possa te salvar?” “Eu tenho certeza, meu Deus”. “Então corte
a corda que te mantém pendurado...”. Houve um momento de silêncio e
reflexão. O homem se agarrou mais ainda a corda e refletiu que se fizesse
isso morreria...Conta o pessoal de resgate que ao outro dia encontrou um
alpinista congelado, morto, agarrado com força com as suas duas mãos a
uma corda...a tão somente dois metros do chão44.
Quais deveriam ser as obras, então, produzidas pela fé? Tiago mostra um
primeiro exemplo. “Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do
alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e
alimente-se até satisfazer-se’, sem porém lhe dar nada, de que adianta
isso?”. Esse é um tipo de obra ilustrada por Tiago para ser realizada pela
verdadeira fé. Ora, como podemos dizer que somos cristãos e servimos ao
Senhor Jesus, que amamos ao nosso próximo como a nós mesmos, se não
- 38 -
nos compadecemos daquele que passa verdadeiramente por sofrimentos
privado de suprimentos para suas necessidades básicas? Como podemos
dizer que somos cristãos se em nossa condição de abastados não ajudamos
ao irmão suprir as necessidades de fome e nudez!
Tiago diz que essa suposta fé é morta!
45 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 458.
- 39 -
Quando foi a última vez que ajudei alguém que estava precisando de
vestimenta? Com o que contribui? Que o Senhor nos ajude a ter uma fé mais
ativa, que produza frutos que glorifiquem a Deus.
- 40 -
IV – COMPREENDENDO A APARENTE CONTRADIÇÃO ENTRE
JUSTIFICAÇÃO POR FÉ E POR OBRAS
46 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 169.
47 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. volume VI. Santo
André – SP: Geográfica Editora, 2006. p. 460.
- 41 -
APLICAÇÃO: Que o Senhor nos auxilie a compreender sua Palavra. As
realidades espirituais do Reino de Deus são amplas e, às vezes, suas
dimensões estão muito além de nossa parca capacidade humana de
compreender. Assim, temos o tema da Fé e Obras. Não consideramos
somente a fé (intelectual) e nem só obra (obra desprovida de fé), mas a
verdadeira fé do Senhor é aquela que produz boas obras. Há uma
interrelação sutil entre fé e obras que não pode ser quebrada.
Compreendamos e vivamos a verdadeira fé no Senhor! Glória a Deus!
- 42 -
CUIDADO COM A LÍNGUA
Tiago 3:1-12
1 Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber
maior juízo.
2 Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão,
capaz de refrear também todo o corpo.
3 Ora, se pomos freio na boca dos cavalos, para nos obedecerem, também lhes dirigimos o
corpo inteiro.
4 Observai, igualmente, os navios que, sendo tão grandes e batidos de rijos ventos, por um
pequeníssimo leme são dirigidos para onde queira o impulso do timoneiro.
5 Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de grandes coisas. Vede como uma
fagulha põe em brasas tão grande selva!
6 Ora, a língua é fogo; é mundo de iniqüidade; a língua está situada entre os membros de
nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a carreira da
existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo inferno.
7 Pois toda espécie de feras, de aves, de répteis e de seres marinhos se doma e tem sido
domada pelo gênero humano;
8 a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal incontido, carregado de
veneno mortífero.
9 Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai; também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à
semelhança de Deus.
10 De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas
coisas sejam assim.
11 Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso?
12 Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco
fonte de água salgada pode dar água doce.
INTRODUÇÃO
Tiago continua seus conselhos práticos para Igreja. Desta vez ele
aborda o falar do cristão, o controle da “língua” é enfatizado. “Tiago está
preocupado com as palavras bem como com as obras do cristão”.
(CHAPMAM, 2005, p. 173)48. Assim, a língua é enfatizada em sua
mensagem. Mas, não apenas língua no sentido de órgão do paladar, mas
língua no sentido do homem interior, da sede das vontades e desejos. A
conclusão é que um falar torpe revela um coração poluído e tal procedimento
não é próprio para o cristão. Controlemos nosso coração, e, por
consequência, nossa língua.
48 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
- 43 -
Mas, qual o ponto de atenção em relação a exercer o dom de ensino? O
escritor mostra dizendo que aquele que exerce o ensino terá um juízo mais
criterioso. Ou seja, quem ensina tem maior responsabilidade de praticar
aquilo que fala. Quem orienta aos irmãos não pode se dar ao luxo de estar
amarrado por tais pecados, caso contrário, uma nova classe de fariseu
estaria surgindo dentro da Igreja.
No capítulo anterior Tiago adverte que a fé sem obras é morta! Ou seja,
não adianta apenas falar e não praticar. Crer e não agir! Ensinar e não viver!
Aquele que ensina a não roubar não pode ser um ladrão! Quem ensina
a não caluniar não pode ser caluniador! Caso contrário, o mesmo receberá
maior juízo! Além de receber o juízo, receberá “maior” juízo! Por que maior
juízo?
A lógica de Deus inclui o seguinte fato: “De todo aquele a quem muito
é dado, muito será requerido; e daquele a quem muito é confiado, mais
ainda lhe será exigido” (Lucas 12:48). Ou seja, o juízo é proporcional ao
conhecimento, à sabedoria, às dádivas recebidas. Quanto mais luz
recebemos, mais deveremos andar neles e mais seremos cobrados.
Aquele que peca sem conhecimento receberá o juízo em um nível,
contudo, aquele que sabe o que deve fazer e não faz terá juízo ainda mais
severo por conta de sua consciência e o nível de comprometimento com o
pecado! “Então começou ele a lançar em rosto às cidades onde se operara a
maior parte dos seus milagres, o não se haverem arrependido, dizendo: Ai de
ti, Corazin! ai de ti, Betsaida! porque, se em Tiro e em Sidom, se tivessem
operado os milagres que em vós se operaram, há muito elas se teriam
arrependido em cilício e em cinza. Contudo, eu vos digo que para Tiro e
Sidom haverá menos rigor, no dia do juízo, do que para vós. E tu,
Cafarnaum, porventura serás elevada até o céu? até o hades descerás;
porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti se
operaram, teria ela permanecido até hoje. Contudo, eu vos digo que no dia
do juízo haverá menos rigor para a terra de Sodoma do que para ti” (Mateus
11.20-24).
Assim, a responsabilidade do mestre é muito maior do que a dos
outros. Tiago adverte que “todos tropeçamos em muitas coisas”. Sugerindo
que aquele que ensina não está isento de falhas, contudo, deve assumir a
responsabilidade e ter a coragem de abraçar uma vida, que mesmo
imperfeita, está sujeita a maior juízo. “Todos nós temos grandes chances de
cometer equívocos e somos propensos a errar; por isso, corremos sérios
riscos ao assumir voluntariamente o papel de guia”49.
O foco do autor era acalmar um pouco a ânsia que existia na época
entorno do ensino na Igreja. O objetivo era fazer as pessoas refletirem
apropriadamente sobre tal responsabilidade para que elas não se
precipitassem.
49 Idem. p. 174.
- 44 -
nos dê graças e entendimento. E que Ele nos conduza com firmeza para
realizar a sua obra e exercer os dons, talentos e liderança do seu agrado.
Quem nunca ouviu o ditado: “há poder nas palavras”? Ele reflete
justamente o poder da língua. O pastor Tiago também fala sobre a
potencialidade da língua através de ilustrações. O cavalo, por exemplo, é
50 SHEDD, Russell P., BIZERRA, Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São
Paulo: Shedd Publicações, 2010.
- 45 -
grande e imponente, contudo, domado e guiado por freios em sua boca.
Navios grandes e impetuosos igualmente são guiados por um pequeno leme
e vão para onde o timoneiro orienta. Mesmo quando a embarcação é grande
e os ventos são contrário, vemos a eficiência do leme.
Notemos quão nobre tarefa é atribuída à língua: a condução da vida.
O cuido que devemos ter é que tanto essa língua pode conduzir o navio
adequadamente, quando o servo de Deus é maduro e submisso à Sua
vontade, como causar um naufrágio, quando o homem é carnal e dominado
pela língua.
Assim, devemos considerar adequadamente como anda nossa fala,
nossas expressões. O que estamos expressando é aquilo que está
direcionando nossos passos. Nosso caminho é “aquilo que falamos”.
- 46 -
estamos de reproduzir a imagem do Filho de Deus (Rm 8.29)” (SHEDD,
2010, p. 106)51.
Como visto antes, somente o servo de Deus pode controlar sua língua
por causa da bênção de Deus em sua vida. Ao contrário, o homem natural
não a pode domar e é sujeito aos seus caprichos.
Na última parte, vemos como a língua pode ser ambígua. “Com ela
glorificamos a Deus e, em seguida, amaldiçoamos aos homens”. Que
contradição, uma boca produzindo bênção e maldição ao mesmo tempo! É
possível da mesma fonte sair água doce e amargosa? Uma figueira pode
produzir uvas e a videira produzir figos? Todo esse questionamento de Tiago
tenta mostrar que é inadequado para o cristão possuir uma língua
indomada.
Doutra forma, as figuras mostram que não será possível glorificar a
Deus de fato, pois “não é possível uma fonte de água salgada dar água doce”
(v.12)! Não é possível adorar a Deus com os lábios num momento e, em
seguida, proferir maldições. De fato, não houve adoração a Deus, a fonte é
salgada e não há nela uma “adoração” verdadeira. Ela é totalmente
contaminada.
A maior lição de Tiago pode ser resumida nessa frase: “Não convém,
meus irmãos, que se faça assim” (v. 10).
Não é adequado para o crente ter um palavrado reprovado, ser
inflamado e consumido pelo pecado e pela iniquidade. Não é possível sermos
guiados pelas concupiscências de nossos pensamentos tolos. “Mas eu lhes
digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra
inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e
por suas palavras serão condenados” (Mateus 12.36-37).
51 Idem.
- 47 -
A SABEDORIA DO ALTO
Tiago 3:13-18
13 Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras
em mansidão de sabedoria.
14 Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis,
nem mintais contra a verdade.
15 Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.
16 Porque onde há ciúme e sentimento faccioso, aí há confusão e toda obra má.
17 Mas a sabedoria que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada,
tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia.
18 Ora, o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que promovem a paz.
INTRODUÇÃO
52 SHEDD, Russell P., BIZZERRA, Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São
Paulo: SHEDD PUBLICAÇÔES, 2010. p.111.
- 48 -
conhecimento”53. Não é um tipo de expertise para os negócios, não são
macetes para concursos, nem mesmo palpites para o sucesso financeiro.
Essa sabedoria está liga ao caráter, à moral e à ética. Está ligada ao viver
cristão diante de Deus. “Sabedoria é também olhar para a vida com os olhos
de Deus. A pergunta do sábio é: em meus passos, o que faria Jesus? Como
ele falaria, como agiria, como reagiria?”54. Ela é diferente do conhecimento e
da inteligência. O conhecimento está mais ligado à um acúmulo de
informações. Já a inteligência seria a faculdade de adaptar esse
conhecimento para resolução de alguns desafios. Seria a possibilidade de
seleção e uso das informações. Contudo, a sabedoria supera estas
faculdades, pois tem a capacidade de relacionar aspectos éticos, morais e
espirituais numa prática de vida que glorifique a Deus. A sabedoria faz o
homem se amoldar à vontade de Deus.
Assim, a verdadeira sabedoria, do alto, não é só teórica, pelo contrário,
deve ser mostrada em obras e com mansidão.
53 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 71.
54 Idem. p. 72.
55 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
73.
56 Idem.
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aconteceu na tentação de Adão e Eva. Deus disse: “não coma”, o inimigo
disse: “coma”. Deus disse: “certamente morrerás”, o inimigo disse: “não
morrerás”. Ele sempre age com mentiras. É o pai da mentira e consegue
enganar a muitos ainda hoje.
Quem tem a sabedoria do alto mostra em obras. É manso e cheio de
bons sentimentos. Mas, a sabedoria que é terrena está recoberta de
sentimentos ruins.
A sabedoria terrena é ciumenta e cheia de sentimento faccioso. Em
outras traduções os sentimentos mudam um pouco. Aparecem, portanto:
“inveja, amargura e egoísmo” (NTLH), “ciúme amargo e espírito de rivalidade”
(PAST).
A sabedoria terrena se manifesta por meio de uma inveja amargurada.
Ao contrário de se pensar nos outros, esse sentimento puxa e suga toda
força para si próprio, para o eu. O desejo é promoção própria, pessoal em
detrimento dos outros. Os discípulos de Jesus passaram por isso. Em
determinado momento discutiram entre si quem era o maior. “O invejoso, em
vez de alegrar-se com o triunfo do outro, alegra-se com seu fracasso. Ele não
apenas deseja ter como o outro, mas tem tristeza porque não tem o que é do
outro. O invejoso é alguém que tem uma super preocupação com a sua
posição, dignidade e direitos”57.
A sabedoria terrena ainda se manifesta por sentimento faccioso. “A
palavra que Tiago usa, erithia, significa espírito de partidarismo”58. Mostra o
equivoco impulsionado por esse sentimento quando move o crente a agir
com partidarismo, com espírito faccioso, de divisão, de racha na igreja. Tudo
isso para que a vontade egoísta seja atendida. Esse quadro de rachas e
divisões nas igrejas tem sido frequentes nas últimas décadas. E muitos deles
promovidos por tal ação.
O fato é que onde se manifestar esses sentimentos não se poderá dizer
que exista a atuação da verdadeira sabedoria. É um contrassenso. Não é
possível ser cheio da sabedoria de Deus e, ao mesmo tempo, viver com o
coração cheio de sentimentos e práticas ruins. Quem se percebe como sábio
deve mostrar-se distante dessas manifestações carnais.
Mas, quem insistir que é sábio e viver nesses sentimentos perversos
está, na realidade, faltando com a verdade. Não se glorie nessa sabedoria, diz
Tiago, e não “mintais contra a verdade”. Viver, se gloriar e se intitular sábio
vivendo numa condição dissonante da verdadeira sabedoria é um grave
problema, uma séria deturpação da realidade. Tal atitude é extremamente
prejudicial.
Onde há esse sentimento de ciúme e facção aí haverá, ao contrário do
que se exige a verdadeira sabedoria, confusão, bagunça, intrigas e toda sorte
de obras más. Neste ponto será notório que em meio a este caos, a sabedoria
de Deus não está presente.
57 Idem. p. 75.
58 Idem.
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sabedoria é perceber se há em nós ciúmes, inveja, amargura, egoísmo,
sentimento faccioso ou espírito de rivalidade. Se tais sentimentos e atitudes
estiverem reinando em nossa vida devemos repensar nossa sabedoria, pois a
verdadeira sabedoria não se manifesta nestes termos. Oremos ao Senhor em
busca de perdão e clamemos pela graça da verdadeira sabedoria vinda do
Espírito Santo.
59 SHEDD, Russell P., BIZZERRA, Edmilson F. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São
Paulo: SHEDD PUBLICAÇÔES, 2010. p. 115.
60 CHAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 179-180.
61 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 77.
62 Idem. p. 78.
63 Idem.
- 51 -
palavras de Tiago: “o fruto da justiça semeia-se em paz para aqueles que
promovem a paz”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 52 -
A AMIZADE DO MUNDO É INIMIGA DE DEUS
Tiago 4:1-12
1 De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que
militam na vossa carne?
2 Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer
guerras. Nada tendes, porque não pedis;
3 pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres.
4 Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
5 Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que
ele fez habitar em nós?
6 Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes.
7 Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.
8 Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que
sois de ânimo dobre, limpai o coração.
9 Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em
tristeza.
10 Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará.
11 Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão
fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz.
12 Um só é Legislador e Juiz, aquele que pode salvar e fazer perecer; tu, porém, quem és, que
julgas o próximo?
INTRODUÇÃO
- 53 -
Não é obra digna do reino de Deus. Ou seja, há um intruso que milita para
fomentar essas situações. A resposta é que tais guerras e contenda provém
dos prazeres que militam na carne!
Guerras, discussões, dissenções, intrigas não vem de Deus, não vem
do Alto. Elas são geradas bem perto de nós, em nós mesmo, nos nossos
prazeres e desejos impróprios. “Na conversão recebemos uma nova natureza,
mas não perdemos a velha. Ela precisa ser crucificada. Essas duas
naturezas estão em conflito (Gl 5.17)”64.
Agora duas palavras nos chamam atenção. A primeira é prazeres
(ἡδονή, hedone): deleite sensual, deleite, prazer. Vejamos que é um deleite,
um prazer aquilo que tenta nos seduzir e nos arrebatar. Trata-se de um
prazer para a carne, daí a dificuldade do homem carnal vencer tal desejo.
Não estamos falando de um espinho, de uma cruz, mas de um prazer.
Vencer um prazer para a carne é o desafio porque ele é um prazer, é bom
para a carne, traz satisfação e deleite. Contudo, tal deleite e satisfação, como
dito, é carnal, para o homem carnal, para a vida mundana.
A outra palavra de destaque é militam (στρατεύομαι, strateuomai):
servem numa companhia militar, guerreiam. Os prazeres guerreiam, militam
em nossa carne. A ação deles é enérgica, decidida, bélica, militar! Há uma
força considerável para implantar tais desejos em nós. A pergunta que
fazemos é: Será que estamos nos contrapondo com a mesma intensidade
contra essa milícia? Estamos lutando, batalhando, militando contra as
forças carnais em nós ou estamos em desvantagem? Há uma milícia armada
contra nós, o que faremos a este respeito?
64 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
87.
- 54 -
invejas e contendas não poderão ser bem-sucedidas, pois o próprio Deus
está contra isso. Logo, o crente irá cobiçar, matar, invejar e praticar,
possivelmente, coisas semelhantes e piores, contudo, esse método não
poderá ser eficaz para trazer a satisfação para o crente, caso contrário seria
uma contradição! Assim, é dito que nada podeis obter. Esse método não
trará legitimamente nada de bom e útil para o crente.
Então, viveis a lutar e fazer guerras, mas em vão! Nada podereis obter
assim. É a franca mensagem de Deus. Esse não é o caminho.
Mas, porque não se alcança? Já dissemos que o caminho é
equivocado. Mas, outro motivo é que, além de deixar o caminho errado, o
povo deve seguir o caminho certo. Não tendes porque não pedis. Não se
alcança nada porque não se ora, não se pede a Deus, não há uma
dependência do Senhor.
Assim, é necessário deixar o caminho errado e seguir o caminho
correto. É necessário pedir! Pedir a Deus em oração. Há, portanto, uma
crítica subjacente em relação à falta de oração do povo. Ore! Peça a Deus.
Mas, a igreja não agia assim. Não se utilizava dos métodos adequados.
Utilizava atalhos e alternativas humanas.
Mas, além de não pedir, era possível pedir inadequadamente. Pedir
com motivação errada. Pedidos voltados apenas para a satisfação carnal e
para o deleite próprio, em oposição à vontade de Deus! Então, o povo nada
tinha porque não pedia, e quando pedia, fazia de modo errado.
A oração não é para se pedir qualquer coisa e de qualquer maneira,
caso contrário poderemos ter uma oração como essa, não respondida! Pois,
um pedido feito por motivos errados não pode ser atendido. Pedir para se
esbanjar em prazeres carnais não seria um pedido adequado!
- 55 -
riqueza também. Se o mundo valoriza o prestígio, começamos a valorizar o
prestígio. Temos a tendência de assimilar esses valores do mundo”65.
Notemos que essa ligação com o mundo está relacionada aos desejos e
cobiças. Neste ponto somos mundanos, quando nossos desejos e querer são
hedonistas, são para satisfação da carne. O entendimento não pode ser
extrapolado. Não significa, então, outra espécie de ligação com o mundo a
não ser esta semelhança quanto aos desejos e motivações carnais.
“O mundo aqui é a sociedade humana com seus valores, princípios e
filosofia vivendo à parte de Deus”66.
Assim, não é próprio interpretar a “amizade do mundo” como sendo as
amizades que temos com pessoas não crentes. Também não significa algum
uso e associação com elementos da cultura como música, arte, educação e
outros. O mundo não é simplesmente um espaço físico, mas, uma região
espiritual, de princípios, desejos, vontades e objetivos.
Nesse sentido, em que o mundo é representado como um sistema de
ética e valores opostos aos de Deus e que o apóstolo João igualmente afirma:
“Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o
mundo, o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida,
não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como
a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece
eternamente” (1 João 2.15-17).
O mundo aqui é esse sistema carnal de desejos, vaidades e futilidades
onde Deus é preterido. Nele existem e dominam as diversas concupiscências
e tal sistema não é apropriado ao cristão. Esse sistema perverso, a “Grande
Babilônia” (Ap 18.2), há de passar, de ser destruído para que a vontade de
Deus reine eternamente.
Deus deseja exclusividade. Não é possível servir a dois senhores! É por
isso que Tiago enfatiza o texto: “É com ciúme que por nós anseia o Espírito”.
Deus nos quer em exclusividade e tem ciúme de nós. Ciúme no bom sentido,
quando tem cuidado de nós em relação a outras influências, quando nos
quer em atenção e fidelidade, em oposição a uma elasticidade perniciosa de
influências de toda parte. Deus nos quer exclusivamente para Ele. O outro
texto citado por Tiago traz um consolo: “Deus resiste aos soberbos, mas dá
graça aos humildes”. Encorajando-nos a entender que apesar da
malignidade do mal, o Senhor dá graça ao humilde a vencer as barreiras.
Nos dá livramento e escape para vivermos exclusivamente para Ele.
APLICAÇÃO: Temos sido infiéis para com Deus? Temos agido de forma
mundana? O mundanismo é uma ameaça para a Igreja. Os banquetes dessa
terra têm atraído e seduzido a muitos, contudo, o preço é muito caro a
pagar: a própria vida. Por isso tomemos cuidado. Sejamos como Daniel,
Hananias, Misael e Azarias que não se contaminaram com os banquetes do
rei. Que não se negociaram sua fé e não abraçaram o “mundo”. Que nossas
65 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
86.
66 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado. São Paulo: Editora Candeia,
2000. Vol. 6. p. 64.
- 56 -
mentes e coração estejam diante do trono de Deus para cumprir a vontade
dEle e não o nosso vão e fútil desejo mundano.
67 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 89.
- 57 -
estão animados e, de repente, totalmente distantes da fé, devem, também,
limpar o coração.
c) Arrependimento.
68 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 90.
- 58 -
um único Juiz! Assim, se não somos legisladores e nem mesmo juízes da lei,
por que julgamos a lei não a obedecendo? Por que continuamos a falar mal
uns dos outros?
- 59 -
SE DEUS QUISER
Tiago 4:13-17
13 Atendei, agora, vós que dizeis: Hoje ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos
um ano, e negociaremos, e teremos lucros.
14 Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois, apenas, como neblina
que aparece por instante e logo se dissipa.
15 Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos
isto ou aquilo.
16 Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância
semelhante a essa é maligna.
17 Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando.
INTRODUÇÃO
Tiago continua suas orientações à Igreja. Agora ele ataca o erro dos
planejamentos presunçosos, o erro de uma vida altiva, orgulhosa e sem
Deus! O homem aqui é retratado como tendo o total domínio de sua
existência em detrimento do Soberano! O escritor orienta, em termos gerais,
que tal procedimento não cabe ao cristão, antes, nossa vida e planos devem
considerar sempre a vontade e misericórdia de Deus! Até o fato de se estar
vivo no dia seguinte deve ser tributado à vontade de Deus! Se Deus quiser
viveremos! “Se Deus quiser” deve vir antes de qualquer planejamento!
- 60 -
lucros. O próprio Senhor Jesus já dizia: “a vida de um homem não consiste
na abundância dos bens que ele possui” (Lucas 12.15).
O quadro mostrado acima evidencia o que ocorre com muitos crentes
hoje em dia. Vivem um cristianismo sem Deus! Teoricamente confessam
servir ao Senhor, contudo, em sua prática, na sua vida cotidiana, Deus não
existe! O Pr. Augustus Nicodemos chama isso de ateísmo cristão. A pessoa
tem uma ideia sobre Deus, mas “na prática, vive como se ele não
existisse”71. Deus não cabe nos planos dessa pessoa. Deus não dirige a vida
dessa pessoa.
Tiago afirmou que pretensões como essas e toda jactância em
planejamentos independentes de Deus são malignos. Não provêm de Deus,
mas do inimigo (v. 16).
71 NICODEMUS, Augustus. O ateísmo cristão e outras ameaças à Igreja. São Paulo: Mundo
Cristão, 2011. p. 78.
- 61 -
a) Não sabemos do amanhã
- 62 -
Assim, não devemos confiar em nós mesmos, em nosso poder. Não
podemos ser orgulhosos e jactanciosos em nossos planos. Eles são muito
frágeis. Precisamos depender sempre de Deus.
Outros textos bíblicos nos apontam a fragilidade da vida humana:
“Como sombra que declina, assim os meus dias, e eu me vou secando
como a relva”. (Salmo 102. 11, grifo nosso). “Lembra-te de que a minha vida
é um sopro; os meus olhos não tornarão a ver o bem” (Jó 7.7, grifo nosso).
“Faze-me conhecer, ó Senhor, o meu fim, e qual a medida dos meus dias,
para que eu saiba quão frágil sou” (Salmo 39.4, grifo nosso). “Nossos dias
sobre a terra são uma sombra” (Jó 8.9). “O homem, nascido da mulher, é de
poucos dias e cheio de inquietação. Nasce como a flor, e murcha; foge
também como a sombra , e não permanece” (Jó 14.1,2).
72 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 153-154.
73 BOYCE, James Montgomery (1999, p. 100) apud LOPES (2006, p. 92-3).
- 63 -
misericórdia de Deus. Se, portanto, Ele assim desejar, estaremos vivos
amanhã! E, caso Ele queira, além de estarmos vivos, poderemos fazer isso ou
aquilo! Assim, tornamos a ter segurança nos braços do Senhor, pois,
segundo sua boa vontade, viveremos e agiremos! “Somente quando estamos
dentro da vontade de Deus é que podemos ter confiança no futuro”74.
Da mesma forma, nosso proceder cristão deve considerar sempre a
opção de planejar, contudo, tais planos devem estar diante da vontade de
Deus, pois Ele é quem decide sobre o destino dos povos. “O coração do
homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do SENHOR”
(Provérbios 16.1).
John Piper, no devocional intitulado “Bebendo suco de laranja para a
glória de Deus”75, mostra uma realidade tão envolvida com Deus que até
mesmo as ações consideradas triviais devem se tornar momentos que
glorifiquem a Ele. A base para tal pensamento encontra-se no texto: “Quer
comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória
de Deus” (1 Coríntios 10.31). Na visão dele, pecado “é quando deixamos
Deus fora de consideração nas realizações triviais de nossa vida. Pecado é
qualquer coisa que fazemos, que não seja feito para a glória de Deus”76.
De certa forma já temos conhecimento de que o planejamento
adequado envolve colocar a vontade de Deus em primeiro plano, contudo, na
prática, muitas vezes não conseguimos agir assim. Por isso, Tiago arremata
a seção com outra advertência: “aquele que sabe que deve fazer o bem e não
o faz nisso está pecando”. Em outra tradução, temos: “Lembrem-se também
de que, saber o que deve ser feito e não fazer, é pecado” (VIVA). Saber que é
preciso alinhar a vida à vontade do Senhor e não agir de tal forma é pecado!
Sabemos que nossos planos devem depender de Deus, mas agir presunçosa
e independentemente de Deus é pecado. Como Tiago tem uma perspectiva
mais prática e vivencial da Palavra, assim ele traz alertas sobre esse tópico
para ser vivido, mais do que apenas conhecido!
- 64 -
RIQUEZA CORROMPIDA
Tiago 5:1-6
1 Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos
sobrevirão.
2 As vossas riquezas estão corruptas, e as vossas roupagens, comidas de traça;
3 o vosso ouro e a vossa prata foram gastos de ferrugens, e a sua ferrugem há de ser por
testemunho contra vós mesmos e há de devorar, como fogo, as vossas carnes. Tesouros
acumulastes nos últimos dias.
4 Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido
com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor
dos Exércitos.
5 Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o
vosso coração, em dia de matança;
6 tendes condenado e matado o justo, sem que ele vos faça resistência.
INTRODUÇÃO
77 MOTYER, J. A. apud LOPES (2006). LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em
triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p. 99-100.
78 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006. p.
99-100.
- 65 -
carinho muito especial para aquilo que ele estava dizendo, pois o juízo do
Senhor estava sobre eles”79.
79 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 155.
80 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 159.
81 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
189.
- 66 -
É esse tipo de tesouro amaldiçoado que Tiago diz ter aqueles ricos
acumulado. Uma riqueza corrompida e infrutífera.
82 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 156-157.
- 67 -
APLICAÇÃO: O fato relatado acima é uma verdadeira maldade.
Trabalhadores sendo privado de seu pagamento, sendo explorados. Pessoas
humildes que precisam de salário para viver e ainda não recebem é um
absurdo. É desumano! Que os cristãos não imitem tais atitudes mundanas.
Que sejamos diferentes em nossos negócios. “O crente precisa ser honesto
para pagar suas dívidas e cumprir com os seus compromissos
financeiros”83. Além do mais, que não sejamos indiferentes diante da
corrupção que graceja no Brasil. Muitos estão exatamente em tais condições
na atualidade, pessoas que trabalham e não recebem; há muito trabalho
escravo persistindo em pleno século XXI. Existem muitas fraudes e golpes
contra o trabalhador simples. É nosso dever agir em favor dessas pessoas
extorquidas. Que o Senhor nos ajude a ser instrumento de sua justiça.
O que causa maior espanto é saber que tal corrupção é feita para
manter a vida regalada de alguns. Os luxos de uma elite corrupta são
mantidos pelo suor dos trabalhadores escravos! Não, os trabalhadores não
estavam sendo caloteados por conta de crises financeiras, por conta de
catástrofes ou intempéries no campo, não. Simplesmente eles estavam sendo
usurpados para manter o luxo, o capricho, isso mesmo, uma vida de regalias
para alguns.
Tiago interpreta tal condição como uma matança! “tendes condenado e
matado o justo, sem que ele vos faça resistência”. A ação é séria, é um
assassinato! É matar o justo, sugando-lhe a vida em trabalhos não
remunerados.
83 83 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 101.
- 68 -
arrependimento. Não fiquemos namorando o mundo, que nada tem a nos
oferecer a não ser condenação e destruição84.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
84 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 156-161.
- 69 -
PACIÊNCIA
Tiago 5:7-12
7 Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com
paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.
8 Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está
próxima.
9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às
portas.
10 Irmãos, tomai por modelo no sofrimento e na paciência os profetas, os quais falaram em
nome do Senhor.
11 Eis que temos por felizes os que perseveraram firmes. Tendes ouvido da paciência de Jó e
vistes que fim o Senhor lhe deu; porque o Senhor é cheio de terna misericórdia e compassivo.
12 Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por
qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo.
INTRODUÇÃO
85 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 109.
- 70 -
tempo não está sincronizado com o tempo de Deus. Portanto, é preciso
esperar.
Pensando mais amplamente, a paciência é importante para passar
pelas provações que tanto Tiago abordou ao longo do texto. A paciência é
ingrediente necessário para vencer provações. Paciência é importante para
analisar nossa vida. Pensar adequadamente e agir com maior segurança.
A paciência deve ser exercida até a vinda do Senhor. Ou seja, a
paciência deve permanecer até o fim! Não há tempo prescrito para a
paciência. Não há uma limitação para a mesma. A duração dela não é um
dia ou uma semana. Mas, ele deve existir sempre, todos os dias, até a vinda
de Cristo.
Tiago igualmente fala da necessidade de fortalecer o coração. Além da
paciência, fortalecer o coração é preciso! Essa ideia está relacionada a
firmeza de fé, “quer dizer ‘sejam fortes e confiantes’, uma vez que as
promessas do Senhor não podem falhar”86. O crente, então, não deveria
desanimar diante das circunstâncias, das provações, mas com paciência e
fervor de fé, aguardar. Essa firmeza ganha maior sentido à medida em que
se vislumbra a vinda do Senhor. Assim, deve-se ser paciente e firme porque
o Senhor está voltando.
Tiago usa o argumento do retorno de Cristo para motivar os cristãos a
serem firmes. Ele lança a visão de todo crente além para que por meio das
realidades mais amplas os dilemas do presente sejam superados. É uma
ótima estratégia. Quando se tiver passando por provação, por dilemas;
quando se precisar de paciência, de firmeza, de avivamento, é preciso olhar
para frente, adiante, para os eventos escatológicos. Assim, nossa tribulação
torna-se leve e momentânea.
ILUSTRAÇÃO
86 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 163.
- 71 -
APLICAÇÃO
Por outro lado, não devemos nos queixar uns dos outros porque não
somos juízes. Quem se queixa e critica o outro deve ter o cuidado, pois pode
estar agindo como juiz e não como servo. “(...) não devemos assumir o papel
de julgar os outros; quer fora quer dentro da Igreja”87. O servo deve
obedecer aos mandamentos, não analisar ou julgar os outros. Há quem
julgue. Existe o supremo juiz que se encarrega da execução de sua lei. A ele
87 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
192.
- 72 -
cabe essa função. Quem sempre está fiscalizando e exigindo determinada
prática torna-se um juiz e assumir esse lugar é errado! Novamente a
orientação deve ser compreendida com a sutileza com que foi comentada a
situação anterior, ou seja, não quer dizer que não seja possível o irmão
admoestar o outro, ou alertá-lo quanto à desobediência aos mandamentos
do Senhor, até porque isso também é bíblico: “ensinai-vos e admoestai-vos
uns aos outros” (Colossenses 3.9). Mas, há um limite entre admoestações
sinceras, por causas justas, visando a edificação, e uma postura constante
de juiz.
APLICAÇÃO
Mas, existe alguém que teve essa paciência requerida por Tiago? Sim,
o escritor faz questão de mostrar pelo menos dois exemplos: os profetas e Jó.
- 73 -
b) O exemplo dos profetas na paciência.
c) O exemplo de Jó.
APLICAÇÃO
- 74 -
por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem
por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça,
porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, a tua
palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mateus
5.34-37).
Em momentos de provação os fieis são tentados a prometer, fazer
votos e jurar para se livrar das aflições, numa espécie de barganha. Nessa
tentativa de escape, não raras vezes, promete-se aquilo que não se pode
cumprir, firma-se o que não se pode realizar e acaba-se colocando o nome de
Deus em situações vãs. Acaba-se escandalizando o nome do Senhor.
Superficialmente, a admoestação desse versículo não parece estar
relacionada com o contexto. Há, no entanto, uma conexão com o
pensamento do versículo 9. Debaixo da pressão das circunstâncias,
há uma tendência de se falar explosivamente e se usar o nome de
Deus em vão em juramentos precipitados e irreverentes. Talvez seja
com relação ao versículo 9 que Tiago diz: Mas, sobretudo – i.e.,
acima de todas as formas desprotegidas do falar emocional e
queixoso – não jureis88.
Tiago quer que os crentes tenham uma palavra mais firme e sejam
mais honestos em suas negociações. Que o sim seja sim, de fato, e o não,
não! Ele estimula a honestidade, sinceridade. Os crentes não podem ser
“malandros”, agir com esperteza maliciosa.
APLICAÇÃO
Não devemos usar o nome de Deus em vão. O nosso sim deve ser sim e
o não, não! Temos tido esse tipo de firmeza de caráter para sustentar nossa
palavra? Como pessoas honestas em nossos acordos? Em nossas
88 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
192.
89 Idem. p. 193.
90 Confissão de Fé Batista de 1689. Tradução e Revisão: William e Camila Teixeira. 9ª ed. Corrigida
e Ampliada em Português. [S.l.], Estandarte de Cristo, 2018. p. 85.
- 75 -
promessas? Em nossos contratos? O cristão deve ser reconhecido como uma
pessoa de palavra, uma pessoa confiável, séria. Assim, tenhamos maior
cuidado em nossos acordos. Tenhamos cuidado com aquilo com o que nos
comprometemos. Seja o nosso sim, sim, e o nosso não, não!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
- 76 -
ORAI UNS PELOS OUTROS PARA SERDES CURADOS
Tiago 5:13-20
13 Está alguém entre vós sofrendo? Faça oração. Está alguém alegre? Cante louvores.
14 Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre
ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor.
15 E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados,
ser-lhe-ão perdoados.
16 Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes
curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo.
17 Elias era homem semelhante a nós, sujeito aos mesmos sentimentos, e orou, com
instância, para que não chovesse sobre a terra, e, por três anos e seis meses, não choveu.
18 E orou, de novo, e o céu deu chuva, e a terra fez germinar seus frutos.
19 Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter,
20 sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma
dele e cobrirá multidão de pecados.
INTRODUÇÃO
91 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 118.
- 77 -
Não é momento de distração, nem mesmo de festividades. Festejar no
momento de extrema dor é insensibilidade, incoerência.
Ademais, Tiago deixa claro que a dor, o sofrimento é essencialmente
desconfortante à natureza humana. Ele não fala para que aceitemos e
“desfrutemos” a dor como um masoquista. Isso seria uma psicopatia, uma
doença mental. Não, o sofrimento realmente dói e não é errado buscar
caminhos para se livrar dele. Jesus, no Getsêmani, orou: “Meu Pai, se é
possível, passe de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas
como tu queres” (Mateus 26:39). No momento da dor é próprio buscarmos
solução. Mas, é preciso que a solução seja correta, pelos caminhos
adequados.
Por outro lado, ninguém vive apenas sofrendo. Há momentos de
alegria, de paz, de satisfação e esses devem ser aproveitados também. Na
alegria, cantemos louvores. Alegremo-nos, aproveitemos o dia que o Senhor
nos deu. Viver somente em tristeza, em melancolia é do mesmo modo uma
patologia.
Mas, em ambos os casos, na tristeza ou na alegria, a reação adequada
do cristão é “puritana”, digamos assim. É uma atitude que inclui o louvor e
honra a Deus. Na tristeza, não há choro e melancolia desmedidos e
desesperados, não há lástimas vazias, não há desespero, nem
autocomiseração, mas, uma busca por Deus. Existe oração! Por outro lado,
na alegria, não há festejos triviais, não há festas carnais, não há o riso pelo
riso, mas existe uma alegria que redunda em louvores a Deus! Existe uma
satisfação em Deus. Deus faz parte da vida! Das alegrias e das tristezas!
APLICAÇÃO
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Antes mesmo de recomendar médicos e tratamentos diversos, pois já
existiam na época, Tiago coloca a responsabilidade de, em primeiro lugar,
clamar ao Senhor, pois a cura, em última instância só provém dele; seja por
meios naturais ou sobrenaturais. É o Senhor quem governa todas as coisas,
logo, a Ele deve-se clamar.
A Bíblia ensina a doutrina da cura divina e cabe a nós procurar fazer
a oração da fé pela cura do doente. No entanto, recursos e
intervenções providenciais, quando necessários, não deveriam ser
rejeitados. Aqueles que não conhecem a Cristo recorrem à medicina e
cirurgia sem oração. Nós que confiamos nEle devemos usar todos os
meios salutares que a ciência moderna tem nos oferecido e ao
mesmo tempo confiar a nossa cura inteiramente ao seu soberano
poder92.
92 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
195.
93 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 150.
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o castigo que tomou a forma de doença”94. Contudo, todas as doenças
espirituais são causadas pelo pecado, logo, a maior cura, a espiritual, só
vem pelo perdão de Deus. Notemos que Ele simplesmente perdoa. Não há
uma iniciativa humana, não há necessidade de procedimentos. O que existe
notoriamente aqui é a misericórdia de Deus e a decisão em perdoar. Assim
como o paralítico teve seus pecados perdoas por uma declaração direta e
espontânea do Senhor (Marcos 2.5) assim também Ele libera perdão
gratuitamente, sem necessidades de obras, para curar seu povo!
94 SHEDD, R., BIZZERA, E. Uma exposição de Tiago: a sabedoria de Deus. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p. 170-171.
95 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005. p.
195.
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APLICAÇÃO
96 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 122.
97 https://pt.wikipedia.org/wiki/Baal_(dem%C3%B3nio). Acesso em: 08 jul. 2018.
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voltaram a despejar as chuvas! E a terra fez germinar seus frutos! Quem era,
de fato, o Senhor da fecundidade? Da chuva? Quem dominava as nuvens?
Podemos compreender agora o poder da oração. Ela é extremamente
eficaz e poderosa para realizar a obra de Deus, contudo ineficaz quando não
está de acordo com o desejo do Senhor. “Se permanecerdes em mim, e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será
feito” (João 15.7).
Tiago pode não ter mostrado toda essa envergadura da oração no seu
discurso, contudo ele também não a contradisse. O objetivo dele era mais
prático, incentivando a igreja a orar. Para quem estivesse esmorecido, acerca
da oração, tais palavras de ânimo seriam necessárias.
Além de tudo, esse é o papel do cristão. A oração faz parte de nossa
vida devocional. Jesus ensinou os discípulos a orar (Mateus 6.8-9), falou
sobre a oração insistente da viúva concluindo que Deus semelhantemente
faria justiça aos seus servos que clamassem a Ele noite e dia (Lucas 18.7).
Paulo afirmou que devemos: “Orar sem cessar” (1 Tessalonicenses 5.17).
APLICAÇÃO
Será que temos feito orações com fé? Temos crido realmente no poder
de Deus para solucionar os problemas, a dor, o sofrimento e trazer cura por
meio desse instrumento? Quanto tempo temos dedicado, por dia, a oração?
Quantos testemunhos podemos dar acerca de orações atendidas? Temos
feito isso para a glória do Senhor?
Por fim, Tiago finaliza sua epístola escrevendo sobre a cura de uma
doença, não física, mas espiritual. Aquele que se desvia dos caminhos do
Senhor é uma pessoa enferma, cheia de pecados e condenada à morte.
A indicação era para que a igreja não fosse indiferente àqueles que se
desviavam. O texto parece indicar que ao ocorrer esse fato, logo, logo uma
pessoa deveria tomar a iniciativa de auxiliar o irmão tendo em vista sua
reedificação. “Os termos alguém (v. 19) e aquele (v. 20) deixam claro que esse
ministério da evangelização pessoal amorosa é dever e privilégio de todos os
cristãos, não apenas para ‘os presbíteros da igreja’”98.
Os crentes deviam mostrar, ao desviado, outro caminho, convertendo-
o da morte para a vida. Salvando a vida dele através da propiciação de
Cristo, que ‘cobre’ multidão de pecados. “Precisamos nos esforçar para
salvar os perdidos. Mas também precisamos nos esforçar para salvar
restaurar os salvos que se desviam”99.
Não há tarefa mais urgente. Na verdade, esse é o resumo do chamado
cristão: pregar a palavra para salvação de vidas.
98 HAPMAM, M. L. et. al. Comentário Bíblico Beacon. volume 10. Rio de Janeiro RJ: CPAD, 2005.
p. 197.
99 LOPES, Hernandes Dias. Tiago: transformando provas em triunfo. São Paulo: Hagnos, 2006.
p. 123.
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Tiago finaliza seu livro de modo meio abrupto, sem maiores
considerações, reflexões ou despedidas. Isso condiz com seu modo de
construir a epístola, por meio da junção (não tão elaborada) de sermões
objetivos e práticos.
APLICAÇÃO
Temos tido o cuidado com os irmãos da igreja que passam por doenças
espirituais? Temos dado a devida atenção a eles? Em relação aos que se
desviam da fé e se afastam dos caminhos do Senhor, qual tem sido nossa
atitude? Temos buscado ajudar tais pessoas ou simplesmente a deixamos
seguir seu caminho? Temos lutado para salvar as almas da morte ou
vivemos indiferentemente ao próximo? Quantos desviados conseguimos
trazer de volta à Cristo? Com quantas pessoas em crise espiritual temos
trabalhado em visita, oração e ensino? Se nossas estatísticas quanto às
questões anteriores estiverem baixas é sinal de que precisamos agir mais e
servir melhor ao Senhor. Como igreja essa é nossa responsabilidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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pobre se encontram na Igreja e não deve haver tratamento diferenciado a um
em detrimento do outro. Esta foi mais uma orientação na contramão dos
costumes. Ele bradou com força: não deve ser assim! O tema da fé voltou à
tona. Uma fé sem testemunho, sem obras pode ser apenas um
convencimento e não a verdadeira fé salvífica. Ele exclama nesse ponto: a fé
tem que produzir testemunho visível! Nessa perspectiva do testemunho, a
língua deve ser controlada. Da mesma boca não deve sair bênçãos e
maldições! O uso correto da língua é evidenciado na oração. A boca é feita
para falar o bem, para louvar a Deus. Tiago fala também da verdadeira
sabedoria que vem de Deus. Uma sabedoria pura, perfeita e que edifica a
Igreja. Orienta os crentes a não serem mundanos, pois “a amizade do mundo
é inimiga de Deus”. Não se deve também viver um ateísmo prático, ou seja,
viver como se Deus não existisse, pois muitos estavam fazendo planos,
tomando decisões sem a menor consideração por Deus. Deus é o motivo de
nossa existência. Chegando ao final da epístola, Tiago faz uma grande
reprimenda aos ricos corruptos, que nem mesmo são considerados cristãos.
Aos crentes oprimidos ele orienta a ter calma e paciência, pois Deus agirá
em seu favor. Por fim, ele incentiva a Igreja na prática da oração. Elias é o
modelo, a oração é importante e o Senhor agirá!
Tiago é, portanto, uma coletânea de ótimas mensagens. São vários
temas, abordando diversas situações, de forma embrionária, mas que em
firmeza, finca marcos indeléveis para a vida cristã da Igreja. Uma verdadeira
pérola diante do povo do Senhor. Deus seja louvado.
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REFERÊNCIAS
CALVINO, João. Epístolas Gerais. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015.
PIPER, John. Penetrado pela Palavra: trinta e uma meditações para sua
alma. São José dos Campos-SP: FIEL, 2005.
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INFORMAÇÕES SOBRE O AUTOR
Vlademir Fernandes
Identificação
Formação/Experiência Profissional
Formação/Experiência Teológica
Bacharel em Teologia pela UNINTER (2018). Fez o curso Médio em Teologia SETEBAN-
RO/AC (Seminário Teológico Batista Nacional de Rondônia e Acre - 2008). Participou do I
Simpósio de Docência em Escola Bíblica (SETEBAN-RO/AC - 2006). Foi professor do
NETEVA (Núcleo de Ensino Teológico Vida Abundante, em Ji-Paraná-RO) e professor
convidado do SETEBAN (Seminário Batista Nacional, em Seringueiras-RO - 2011); Exerceu
o cargo como vice-moderador da IBNVA (Igreja Batista Nacional Vida Abundante, em Ji-
Paraná-RO), vice-superintendente e professor da Escola Bíblica (no mesmo local). Concluiu
o Curso Fiel de Liderança – CFL – intitulado “Pregação Expositiva” (2018).
Linha Teológica
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