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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO


PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO/PRPPGI
MESTRADO PROFISSIONAL EM SOCIOLOGIA - ProfSocio
DISCIPLINA: Metodologia da Pesquisa

PROFESSORES: José Fernando Souto Junior


Luciana Duccini
ALUNO: Demétrio Cardoso da Silva

FICHAMENTO

TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Universidade de Murdoch.


Tradução de Lólio Lourenço de Oliveira. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-
466, set./dez. 2005.

O autor desenvolve o artigo em 16 tópicos, onde faz uma exposição epistemológica sobre a
metodologia da Pesquisa-ação, iniciando por um breve histórico sobre o método (pág. 445),
afirmando que não se tem uma autoria do método. Ele cita Lewin (1946) como um possível autor
de publicação, porém atribui anterioridade de trabalho na Alemanha, particularmente em Viena,
com Viena, em 1913.

Segundo Tripp, Deshler e Ewart (1995) tem uma versão alternativa afirmando que a pesquisa-
ação foi utilizada pela primeira vez por John Collier. O autor admite talvez algum dia se possa
ter a verdadeira origem e o ano de surgimento do método. Citando Rogers (2002), o autor
ressalta que há semelhança do conceito de pesquisa-ação com o que os antigos empiristas gregos
utilizavam como parte de um ciclo.

Tripp afirma que duas interligações dificultam a definição de pesquisa-ação, ou seja, um


processo natural que se apresenta em aspectos diferentes e por ter se desenvolvido diferente para
maneiras diferentes. Neste contexto a pesquisa-ação foi considerada um termo geral para quatro
processos diferentes, quais seja: pesquisa-diagnóstico, pesquisa participante, pesquisa empírica e
pesquisa experimental.

Na perspectiva educacional, o autor afirma que a pesquisa-ação é especialmente uma estratégia


para o desenvolvimento de professores e pesquisadores, como forma de aprimorar sua prática e
processo aprendizagem. Citando Heikkinen, Kakkori e Huttunen (2001), ele conclui o tópico
histórico afirmando que parece existir uma situação multiparadigmática entre os que fazem
pesquisa-ação.

No tópico sobre o ciclo da investigação-ação, o autor ressalta que é importante perceber a


pesquisa-ação como um dos inúmeros ciclos, pois que se planeja, implementa-se, descreve-se e
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avalia-se na perspectiva de mudança para melhor, porquanto se aprendendo mais durante o


processo, tanto a respeito da prática quanto da própria investigação. Segundo ele, a diversidade
de tipos na investigação-ação tendem a utilizar processos diferentes em cada etapa e obter
resultados diferentes que provavelmente serão relatados de modos diferentes para públicos
diferentes. Os objetivos e as circunstancias são quem definem o tipo de processo. O importante é
a adequação do tipo de investigação-ação aos objetivos, práticas, participantes e situação.

Sobre as características da pesquisa-ação, o autor assevera que a principal razão para se


empregar o termo investigação-ação como um processo superordenado, dentro da pesquisa-ação,
é que o termo vem sendo aplicado tão ampla e vagamente que perdeu o sentido. Segundo o autor,
pesquisa-ação é um termo que se aplica a projetos em que os práticos buscam efetuar
transformações em suas próprias práticas. Tripp chama a atenção de que se qualquer tipo de
reflexão sobre a ação for chamada de pesquisa-ação, corre-se o risco de rejeição da aprovação ou
financiamento em trabalho universitário.

Citando Grundy e Kemmis (1982), o autor assume uma definição mais estrita de pesquisa-ação
como sendo uma forma de investigação-ação através de técnicas de pesquisa consagradas com o
sentido de informar a ação empregada como estratégia melhorar determinada prática,segundo
ele, técnicas de pesquisa devem atender aos critérios comuns a outros tipos de pesquisa
acadêmica. Acrescenta ainda que embora a pesquisa-ação tenda a ser pragmática, há distinção
clara da prática e também se distingue da pesquisa científica tradicional, sobretudo porque altera
o elemento de pesquisa, limitando ao contexto e preceitos éticos.

Para o autor, a pesquisa-ação é sempre deliberativa, considerando suas especificidades práticas


de investigação, julgamentos e aperfeiçoamento eficaz. O autor enfatiza, onde ele expõe sobre a
linha 9 do quadro apresentado na página 447, que na pesquisa-ação é necessário explicar os
fenômenos e não construir o tipo de rede de explicações implicadas na teoria científica. Por isso,
segundo ele, é primordial não perder de vista a pesquisa-ação como um processo de coleta de
coletam evidências a respeito de suas práticas e pressupostos críticos, crenças e valores
subjacentes a elas. (pag. 449).

Sobre teoria em pesquisa-ação, Tripp afirma que como processo de aprimoramento da prática, a
pesquisa-ação tende ser “ateórica”, posto que a teoria tradicional não seja prioridade principal,
porém se faz necessário recorrer a ela como modelo de compreensão das situações, planejar
melhoras eficazes e explicar resultados. Citando Elliott (1994), o autor afirma teóricos
acadêmicos fornecem recursos para a reflexão e desenvolvimento da prática na pesquisa-ação,
porém os práticos não adotam teoria “já pronta”, mas que a problematizam pela aplicação.

Sobre registro de dados na pesquisa-ação, o autor recorre a uma de suas experiências com
professores, onde estabeleceu hipóteses e verificação das hipóteses, formulação de problemas,
análise de resultados e constatações.

O autor desenvolve o tópico Pesquisa-ação e Pratica Pesquisada afirmando que é muito difícil
traçar limites definitivos entre pesquisa-ação e outros tipos de investigação-ação. (pág. 451). Na
página 452, o autor utiliza dois critérios para distinguir pesquisa-em-ação e pesquisa-como-ação.
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Segundo ele, não é raro encontra equívocos em trabalhos que se intitula como pesquisa-ação,
embora não tenha havido qualquer tipo de ação. Para isso há que dois critérios de distinção entre
eles, que seria criação de conhecimento teórico ou aprimoramento da prática, com análise e
interpretação de dados adequados, válidos e confiáveis.

Nesta perspectiva, Tripp defende que na pesquisa-ação, tende-se a teorização indutiva, sobretudo
quando não há uma explicação preexistente ou uma teoria, e que pesquisadores de pesquisa-
ação frequentemente operam dedutivamente, especialmente nos estágios iniciais. Como,
segundo o autor, as vezes não existem teorias prontas que se ajustem a dados ou intenções,
ocorre indutivamente a teorização de dados mediante a criação de novas categorias.

Sobre o processo de pesquisa-ção, Tripp enumera o ciclo da pesquisa-ação, que inclui todas as
atividades do ciclo básico de investigação-ação, o reconhecimento, que é a análise situacional,
onde se produz ampla visão do contexto da pesquisa-ação, práticas dos participantes e os
envolvidos, o ciclo interativo, que é natureza iterativa do processo de investigação-ação, a
investigação-ação, que é utilizada em cada fase, a reflexão, como parte essencial no processo de
pesquisa-ação e a natureza iterativa do processo de investigação-ação, como característica
isolada mais distintiva da pesquisa-ação. O autor acentua que existe extensa literatura dedicada
à pesquisa-ação participativa, que dar a compreensão de que não seria participativa, visto as
vezes como um processo coletivo de consequências políticas. (Pág. 454).

Tripp ressalta que a pesquisa-ação praticada individualmente pode criar um dilema nuclear da
aprendizagem. Ele define quatro modos de participação de pesquisa-ação, quais sejam:
obrigação, cooptação, cooperação e colaboração.

Por essas razões éticas, é necessário examinar a participação não só na etapa de proposta, mas
também durante toda sua duração. Segundo o Autor, deve-se preventivamente verificar com
frequência quais medidas o pesquisador tomou para assegurar que os atingidos não estejam
sendo enganados, manipulados ou explorados. Para tanto, um projeto de pesquisa-ação deve
tratar de tópicos de interesse mútuo; compromisso compartilhado de realização da pesquisa;
permitir que todos os envolvidos participem ativamente do modo que desejarem; partilhar o
controle sobre os processos de pesquisa o quanto possível de maneira igualitária; produzir uma
relação de custo-benefício igualmente benéfica para todos os participantes; e estabelecer
procedimentos de inclusão para a decisão sobre questões de justiça entre os participantes. (pág.
455).

Sobre a pesquisa-ação como benefício de administração do conhecimento, o autor afirma que em


primeiro plano a pesquisa-ação tem maior eficiência quando se expande como uma rede de toda
a organização; em segundo plano, é que a pesquisa-ação deve produzir muito conhecimento
fundado na prática, e que deveria ser incorporado ao conteúdo acadêmico de disciplinas
“vocacionais” tais como ensino, negócios e jornalismo. Para o autor, muito pouco do
conhecimento gerado pela pesquisa-ação tem sido teorizado e publicado em periódicos
acadêmicos de prestígio.
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David Tripp traz a ética na pesquisa-ação para afirmar essas questões sempre surgem em
decorrentes de mudanças atingidos outras pessoas. Para o autor, o problema fundamental na
pesquisa-ação na universidade é a não obediência aos padrões de pesquisa médica. Ele sinaliza
que princípios éticos devem legitimar e amparar os procedimentos e regras fundamentais de toda
pesquisa. Para o autor, a diretriz ética geral deve ser incorporada a qualquer projeto de
pesquisa-ação, partindo de seu início e que não prejudique outro participante. (pág.456).

David Tripp apresenta cinco modalidade de pesquisa-ação, enfatizando que a participação não
seria o único determinante do tipo de projeto de pesquisa-ação que se está executando, por que,
segundo ele, citando Grundy (1983), existe uma dialética entre escolha do tópico e participação,
em vista das variações que origina as diferentes modalidades de pesquisa-ação, a saber:
pesquisa-ação técnica, pesquisa-ação prática, pesquisa-ação política, pesquisa-ação socialmente
crítica e pesquisa-ação emancipatória, com padrões intrínsecos a cada modalidade.

Sobre a dissertação de pesquisa-ação, o autor enfatiza que uma proposta de pesquisa se concentra
no próprio processo de pesquisa-ação, com evidente dificuldade de ser aprovada por um comitê
de pesquisa da universidade simplesmente pelo fato de não ser possível apontar antecipadamente
qual seria o conhecimento obtido, tampouco seus resultados práticos possíveis de serem
alcançados. Até por que esses resultados, dentro de cada ciclo, é que determinariam o os
horizontes futuros e não haveria como prever seus resultados futuros. Segundo ele, em um
projeto de pesquisa-ação não se pode especificar os tópicos sobre os quais se trabalhará. Até
por que decorrem da análise da situação e serão escolhidos pelos participantes. Ele afirma: pode-
se não conseguir uma dissertação mediante a realização de uma pesquisa-ação, mas sim
completar um estudo de caso da pesquisa-ação realizada. (pág. 459).

David Tripp aponta duas metodologias a serem descritas e justificadas em uma proposta de
pesquisa-ação, quais sejam: os processos de pesquisa-ação a serem utilizados em campo e o
método de estudo de caso (narrativo) que será empregado para contar a história do projeto e de
seus resultados. Sobre o relatório da pesquisa-ação, o autor afirma que se deve seguir um
esquema de um típico relatório de estudo de caso de pesquisa-ação, que pode ser utilizado em
qualquer projeto e adequado às dissertações, com introdução, reconhecimento, detalhamento do
planejamento de cada ciclo e conclusão. Em seguida, tece algumas abordagens sobre a eficácia
da pesquisa-ação, em seguida conclui afirmando que expos no artigo aquilo que considera como
características-chave do processo de pesquisa-ação, defendendo a ideia de utilizar o termo
pesquisa-ação na academia para se referir a uma versão da investigação-ação que atenda
claramente aos critérios da pesquisa acadêmica. E também promover uma discussão aberta e
aclarada a respeito da pesquisa-ação. Para o autor, essa discussão tem como objetivo a melhoria
do método e ampliação útil e legitima, como formato de pesquisa prática, adaptada às exigências
formais dos trabalhos acadêmicos.

O autor encerrar dizendo: talvez pudéssemos referir-nos à pesquisa-ação “com P maiúsculo”, ou


pesquisa ação “de dissertação”, para distingui-la do tipo de reflexão habitual sobre a prática
que, nos dias de hoje, muita gente frequentemente se refere como pesquisa-ação.

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