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Criado em 1998, o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI) é um think tank que tem por objetivo
desenvolver conhecimento e promover o debate sobre temas das relações internacionais, oferecendo subsídios
para a definição de políticas públicas. Busca também fomentar o diálogo entre diferentes atores, públicos e
privados, visando melhor entendimento da agenda internacional, bem como a inserção do Brasil no cenário
global. Localizado no Rio de Janeiro, o CEBRI foi concebido por um grupo de diplomatas, empresários, acadêmicos
e possui uma estrutura independente, multidisciplinar e apartidária.
De acordo com a pesquisa Global Go to Think Tanks, conduzida pela Universidade da Pensilvânia, o CEBRI tem
sido relacionado entre os mais relevantes think tanks do mundo, estando presente em mais rankings do que
qualquer outro instituto brasileiro, destacando-se por sua capacidade de congregar prestigiados especialistas
em relações internacionais.
O CEBRI é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP. Seu Estatuto Social prevê
transparência em todas as suas atividades.
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Conselho Curador Denise Nogueira Gregory
Gelson Fonseca Junior
Presidente de Honra Georges Landau
Fernando Henrique Cardoso Henrique Rzezinski
José Aldo Rebelo Figueiredo
Presidente José Luiz Alquéres
Luiz Augusto de Castro Neves José Pio Borges de Castro Filho
Luiz Felipe de Seixas Corrêa
Vice-Presidente
Marcelo de Paiva Abreu
Tomas Zinner
Marco Aurélio Garcia
Vice-Presidentes Eméritos Marcos Castrioto de Azambuja
Daniel Miguel Klabin Marcus Vinícius Pratini de Moraes
José Botafogo Gonçalves Maria Regina Soares de Lima
Luiz Felipe Lampreia Pedro Sampaio Malan
Renato Galvão Flôres Junior
Conselheiros Roberto Pinto Mameri Abdenur
Armando Mariante Roberto Teixeira da Costa
Armínio Fraga Neto Ronaldo Veirano
Carlos Mariani Bittencourt Sebastião do Rego Barros
Celso Lafer Vitor Hallack
Cláudio Frischtak Winston Fritsch
FERRAZ, Victor B.; LEAL, Vinícius A. S.; LOUREIRO, Eduardo O. “Programas Espaciais
de Brasil e Argentina: cooperação para autonomia”, CEBRI Artigos, v. 3, ano 9. Rio de
Janeiro: CEBRI, 2014.
Palavras-chave
CEBRI Artigos
Expediente
DIRETOR EXECUTIVO
Roberto Fendt
PRODUÇÃO EDITORIAL
Jonathan Fernandes
Leonardo Paz Neves
Vítor Hugo dos Santos Anastácio
PROJETO GRÁFICO
Blümchen design
IMAGEM DE CAPA
Agência Força Aérea/Sgt Johnson
ISSN 2318-3713
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1 O GLOBO, 25/01/2011: “EUA tentaram impedir programa brasileiro de foguetes, revela WikiLeaks”. “Queremos lembrar às autoridades ucranianas
que os EUA não se opõem ao estabelecimento de uma plataforma de lançamentos em Alcântara, contanto que tal atividade não resulte na
transferência de tecnologias de foguetes ao Brasil”
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proveniente do Estado. Portanto, é extremamente “novos entrantes”. Ainda assim, as capacidades
importante a existência de programas mobilizadores, como do desenvolvimento endógeno são questionáveis,
o VLS. Um projeto que, pela complexidade tecnológica principalmente após o acidente de 2003, que vitimou
e mobilização científico-industrial que necessita, per considerável parte dos cientistas engajados no Programa
se já colabora para o transbordamento e spin offs para Espacial Brasileiro. Os recursos empregados nessa
diversos setores da sociedade. Porém, ao absorver área são escassos, além de a indústria e academia
tecnologias “prontas” de parceiros internacionais, é alto não suprirem a demanda requerida por um programa
o risco de aprender apenas o know-how, não captando o tão complexo. Assim, quais seriam as vantagens e
conhecimento referente ao know-why. vulnerabilidades do aprofundamento da cooperação
entre Brasil e Argentina?
Assim, o desenvolvimento de novas tecnologias e
produtos através do programa fica comprometido. Devemos considerar dois panoramas distintos, porém
Atualmente, não há projeção que indique, num futuro complementares: o primeiro, localizado no âmbito
próximo, possibilidade de fornecimento da totalidade científico-tecnológico-industrial, relativo às capacidades
dos componentes sensíveis por indústrias nacionais. de ambos os países proverem conhecimentos, tecnologias
Quanto a uma possível transferência de tecnologia e pessoal qualificado para o suposto cenário cooperativo;
complexa, também é discutível a capacidade industrial o segundo, situado no campo político-econômico, refere-
brasileira de absorver tais conhecimentos. É complexa se às possibilidades internas de alocação dos recursos 9
sua positivação através da produção em escala de necessários ao desenvolvimento da cooperação, bem
equipamentos que exigiriam conhecimento técnico e como à redução das pressões políticas externas que
bens de capital específicos. eventualmente afetariam iniciativas espaciais de ambos
os países. Assim, precisamos abordar os processos
“Como a tecnologia tem no homem o seu único históricos do desenvolvimento dos seus respectivos
recipiente, a efetiva transferência se dá por um programas espaciais separadamente.
processo de pergunta e resposta. (...) só pode
se efetivar se o receptor possuir competência
compatível com a tecnologia a ser absorvida. (...) Programa Espacial Brasileiro:
Daí a transferência ser um problema de grande
magnitude para os países em desenvolvimento.” um breve histórico
(LONGO, p.3. 2010.)
Diante de tal panorama, a dependência do Programa A Estratégia seu setor aeroespacial remonta ao
Espacial vis-à-vis países centrais apresenta início dos anos 1940, quando da regulamentação das
vulnerabilidade. A opção pelo desenvolvimento atividades da Subdiretoria de Tecnologia Aeronáutica no
endógeno mostra-se acertada em um cenário onde não então Ministério da Aeronáutica. Sua estrutura começou
só há cerceamento ao fornecimento de componentes, a ser consolidada com o surgimento do Centro Técnico
como são patentes as tentativas de sabotagem aos de Aeronáutica, em 19462 (atual DCTA) – que respondia,
2 “Nosso marco inicial foi a criação (…) do Centro Técnico de Aeronáutica (CTA), que forjou a capacitação nacional necessária para que o Brasil
pudesse acompanhar os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia, inclusive na nova área espacial (...)”. DA SILVA, M. F. 2013
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O terceiro foguete da família Sonda, o Sonda III, seria Em 1988, com a visita do presidente José Sarney à
lançado em 1976 (após sete anos de desenvolvimento).5 China, foi assinado o acordo que originaria o lançamento
Mais complexo em termos tecnológicos, realizou 30 voos do Programa de Construção de Satélites Sino-Brasileiros
e teve sucesso em suas atribuições. de Recursos Terrestres (CBERS). Não somente essa
parceria representaria o maior projeto de cooperação
Décadas após o estabelecimento das Missões Espaciais conjunta na área de ciência e tecnologia entre o Brasil
Completas das contrapartes russa e estadunidense, o e a China até aquele momento, como também entre
Brasil teria sua primeira proposta de Missão Espacial países em desenvolvimento. A partir do lançamento
Completa, elaborada pela COBAE em 19786 e aprovada do primeiro satélite (CBERS-1), em 1999, fora desfeito
somente em 1980. Denomina-se, segundo Meireluce o monopólio das grandes potências sobre produção e
Fernandes, “completa”, pois “obedecia a uma visão uso de imagens adquiridas por satélites, especialmente
de total autossuficiência, pretendendo cobrir os três quanto aos sensoriamento remoto e mapeamento de
elementos básicos das atividades espaciais: base de recursos naturais.
lançamento – o Centro de Lançamento de Alcântara
(CLA), no Maranhão, foguete lançador, o VLS-1; e Em 1989, ocorre a primeira operação de lançamento
quatro satélites – dois de coleta de dados e dois de a partir do CLA, um Sonda IV. Também estava quase
sensoriamento remoto”. finalizado o SCD-1, o primeiro satélite brasileiro coletor
de dados. Seu lançamento seria adiado pela relutância 11
O próximo marco do programa seria 19847, quando é dos militares em utilizar veículos lançadores dos EUA.11
lançado o Sonda IV a partir do CLBI, o primeiro dotado Somente em 1993, os primeiros satélites artificiais
de sistema de controle e pilotagem automática8 (este brasileiros, SCD 1 e 2, entrariam em órbita por um
serviu como estágio experimental9 para o VLS brasileiro). foguete da família Pegasus, na Flórida.
No ano seguinte, é criado o Ministério da Ciência e
Tecnologia. Em 1994, surge a Agência Espacial Brasileira (AEB).
Contudo, tais esforços, apesar de terem fornecido apoio
O primeiro impasse ocorre em 1987 com a assinatura do inicial, não possibilitaram que a indústria aeroespacial
Regime de Controle e Tecnologia de Mísseis (de 1986)10, brasileira lograsse sua independência do mercado
pelos EUA e outras potências espaciais , que – direta externo (pelas inúmeras sanções encontradas ao longo
ou indiretamente – atua como bloqueio às aspirações de do processo, e inexistência de ator privado disposto a
construção do VLS brasileiro (por possível utilização no assumir tais riscos junto ao Estado), fatores que ainda
desenvolvimento de mísseis balísticos). refletem no cenário atual.
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Outro reflexo da retomada, incipiente, do apreço ao extrema importância para a manutenção da soberania
setor foi a abertura do Edital INOVA AERODEFESA14 em brasileira, apesar dos constantes cortes orçamentários.
2013. Através deste, o BNDES e a Finep disponibilizaram
R$ 2.9 bilhões para projetos de inovação científica e Programa Espacial Argentino:
tecnológica nas áreas estratégicas abrangidas, também
contabilizou 98 planos de negócio, 70 empresas líderes um breve histórico
com a aprovação de 23 projetos voltados para o setor
aeroespacial15.
Na Argentina, encontram-se similaridades. Em um
O cenário do PEB, apesar dos avanços mencionados, é ambiente de fomento ao setor Aeroespacial com raízes
preocupante. O Caderno de Altos Estudos gerado pela durante o primeiro governo de Juan Perón, o programa
Câmara dos Deputados em 2010 acusa que, em 2007, espacial se desdobraria a partir do governo de Arturo
apenas 0,010% do PIB brasileiro foi destinado ao Frondizi, vencedor das eleições de 1958 pela UCRI.
setor (R$ 226 milhões, com queda de R$ 31 milhões As reformas na indústria de base e infraestrutura
em comparação ao ano anterior).16 Em 2011, dos R$ implementadas durante este governo permitiram à
320 milhões destinados ao orçamento do PEB, R$ 50 Argentina, na década seguinte, ter o mais alto índice
milhões voltavam-se ao dispêndio com a integralização de crescimento econômico do mundo, e, durante seu
do capital da empresa Alcantara Cyclone Space (em mandato, criou-se o Conselho Científico e Técnico 13
parceria com a Ucrânia).17 Acrescenta-se ao quadro a Nacional (CONICET), em 1958.
dependência de capacidades tecnológicas estrangeiras;
o Brasil dispendia um valor de R$ 66 milhões anuais Em 1960, foi criada a Comissão Nacional de
para custear o aluguel dos oito satélites utilizados Investigações Espaciais (CNIE), dependente do
para comunicações. Entre 2005 e 2011, somente 25% Ministério de Defesa e vinculado à Aeronáutica,
dos recursos destinados ao programa eram de fato uma agencia civil com programa de caráter pacífico
repassados aos setores produtivos. No biênio 2013-2014 do uso do espaço. Durante as décadas de 1960 e
observou um novo corte, desta vez de R$ 35 milhões. 1970, com colaboração do CONICET e através de
acordos com agências nacionais e internacionais,
O SGDC 1 (Satélite Geoestacionário de Defesa e realizaram-se os primeiros estudos científicos de
Comunicações Estratégicos) teve seu contrato assinado experiências atmosféricas, sendo lançados foguetes
em novembro de 2013 (inicialmente previsto em R$ 1,3 para estudos meteorológicos e balões de medição
bilhão) e lançamento protelado para 2016, medida de de radiação cósmica. 18 Para tanto, utilizou-se de um
14 EDITAL DE SELEÇÃO PÚBLICA CONJUNTA FINEP/BNDES/MD/AEB DE APOIO À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NOS SETORES AEROESPACIAL,
DEFESA E SEGURANÇA - INOVA AERODEFESA - 04/2013, Disponível em <http://download.finep.gov.br/chamadas/inova_aerodefesa/
documentos/EDITALINOVAAERODEFESA_primeiraversao.pdf> acesso em 24/07/2014.
15 RESULTADO FINAL DA ETAPA DE SELEÇÃO DOS PLANOS DE NEGÓCIO INOVA AERODEFESA, Disponível em <http://goo.gl/obXDkH>
16 Setor perde R$ 31 milhões em 2007, Disponível em <http://www.gvces.com.br/index.php r=noticias/view&id=67432>
17 Agência Espacial Brasileira pede R$ 1 bi, Disponível em <http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/agencia-espacial-brasileira-pede-r-1-bi>
18 Operação Matienzo em 1963: o objetivo desta era medir a radiação cósmica através de foguetes disparados simultaneamente da base de
Matienzo, na Antártica, e do “Centro de Experimentación y Lanzamientos de Proyectiles Autopropulsados” (CELPA) em Chamical (La Rioja).
19 Foi lançado pelo foguete Yarará, uma cápsula com o rato Belisário, que permaneceu 30 minutos em gravidade. Ele foi o primeiro ser vivo a
partir de Argentina e o quarto do mundo a sair da atmosfera da Terra e pousar com segurança de volta à superfície, seguido pelo macaco Juán.
20 Fruto de parcerias com empresas europeias, havia sido utilizado como plataforma de testes, tanto para fins militares quanto civis, desde a
década de 1970.
21 Míssil balístico de médio alcance, que poderia levar a uma distância de 1000 km uma bomba que pesava em torno de 1000 kg.
22 Notícias recentes sugerem uma possível retomada do programa militar de mísseis balísticos, entre Argentina, Irã e Venezuela. Tais informações
carecem de maior aprofundamento e exatidão. Fonte: http://www.defesanet.com.br/al/noticia/9719/Argentina---Reativa-Projeto-Condor-com-
ajuda-do-Ira-e-Venezuela/>
23 Na troca de cancelar o desenvolvimento do míssil Condor II, os EUA se comprometiam em colaborar com a Argentina com o desenvolvimento
de satélites. O país então trocou um projeto com implicações militares para outro exclusivamente para fins pacíficos.
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O fim do projeto Condor II resultou em perda e atraso Terra. Lançado em 1996, o satélite SAC-B foi o primeiro
em todos os aspectos: houve êxodo de especialistas do satélite científico argentino. Em 1998 foi lançado o
programa; o alto valor investido foi desperdiçado (cerca segundo satélite, chamado SAC-A, um teste tecnológico
de US$ 160 milhões); e a infraestrutura construída foi para a missão SAC-C. Em 2000, foi colocado em órbita o
inutilizada, não sendo aproveitada para uso civil. SAC-C, o primeiro satélite argentino de sensoriamento
remoto. Em 2011, foi a vez do SAC-D Aquarius, lançado
Ainda em 1991, as instalações da CNIA passaram para como observatório espacial para oceano, clima e meio
as mãos da Comissão Nacional de Atividades Espaciais ambiente.
(CONAE), um novo organismo civil que teria a função
do desenvolvimento pacífico do programa espacial Os últimos quatro satélites enviados pela agência
argentino, através do Plano Espacial Nacional.24 espacial argentina ao espaço saíram de diferentes
A CONAE também desenvolveu mecanismos e bases estadunidenses. No entanto, os lançamentos
ferramentas para monitorar e comandar satélites e poderiam ter sido realizados na própria Argentina, o
para receber, processar e armazenar os dados obtidos, que será possível através do desenvolvimento de um
iniciando uma nova fase do Programa Espacial veículo de lançamento, que estaria pronto em 2014.26 O
Argentino. Tal processo começou em 1991, previsto lançador Tronador II27 consiste num foguete que poderá
para 2015. Durante esses anos, inúmeros satélites levar satélites ao espaço e coloca-los em órbita polar. 15
foram desenvolvidos25 com a colaboração das agências Também poderia ser útil para o carregamento de outras
espaciais brasileira e italiana. O programa contempla partes para substituir satélites danificados que estão
a criação de meios de lançamento, rompendo com a operacionais.
dependência quanto aos EUA.
A partir de 2012, o valor da verba destinada ao
A CONAE tem quatro satélites em órbita, com desenvolvimento e estudo de aparelhos para a
diferentes funções: SAC-A; SAC-B, SAC-C e SAC-D exploração espacial é calculado em 632 milhões
Aquarius, todos construídos na Argentina (por de pesos. Esse valor tende a aumentar devido ao
cientistas locais). Atualmente, encontram-se em crescente interesse em promover a exploração do
processo de desenvolvimento os satélites SAOCOM 1A espaço na Argentina e do desempenho dos diferentes
e 1B SAOCOM, destinados ao cuidado e proteção da projetos em andamento.
24 Em Novembro de 1994, foi adotado o Plano Espacial Nacional “Argentina no espaço” para 1995-2006. Este plano deverá ser atualizado
periodicamente, em um horizonte de decenal para as atividades espaciais nacionais.. Atualmente está em vigor o “Plano Espacial Nacional
2004 - 2015”.
25 Uma importante peça para a construção dos satélites foi a participação da INVAP, que é uma empresa dedicada à concepção e construção de
sistemas tecnológicos complexos e que também mantém uma relação estreita com a Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA). Segundo a
SAE, “o desenvolvimento do programa espacial argentino tem surpreendido a todos os técnicos nacionais envolvidos com o programa, incluindo
aqueles que acompanham o desenvolvimento do subsistema de controle do satélite Amazônia-1, contratado à empresa estatal argentina Invap.”
26 Segundo novas informações, esse projeto foi adiado a sua data de conclusão para 2015.
27 O foguete Tronador 1 tinha como função a sondagem.
28Somente a partir do ano de 2012 foram incluídos Argentina, Austrália, Irã, África do Sul e Ucrânia. Até então, eram considerados apenas dez
países.
29alores fornecidos pelo Ministerio de Economía y Finanzas Públicas. Disponível no relatório “ENTIDAD 106 - COMISIÓN NACIONAL DE
ACTIVIDADES ESPACIALES”, de 2014.
30 Dados provenientes do Ministério do Planejamento - ORÇAMENTOS DA UNIÃO- PROJETO DE LEI ORÇAMENTÁRIA - EXERCÍCIO FINANCEIRO
2014.
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permite uma aprofundada análise de seus outputs e Futron avalia que tanto a indústria quanto o capital
outcomes tecnológicos. Porém, uma constatação pode humano e o governo brasileiro ocupam posição de pouco
ser feita: os investimentos ainda se encontram aquém destaque internacional.
dos demais países emergentes líderes, como Rússia,
China ou Índia. O índice corrobora os pressupostos indicados pelo
pesquisador argentino Jorge Sabato. Em seu “triângulo”,
Brasil e Argentina já possuem considerável histórico Sabato discorre sobre a necessidade de uma constante
de cooperação espacial. Desenvolvem conjuntamente o interação entre Academia, Estado e Indústria para que
satélite SABIA-Mar, projeto que sofre com constantes se alcance o desenvolvimento científico-tecnológico
atrasos desde seu início, em 1997. Tal satélite, projetado adequado. Como o Índice Futron expõe, os três setores no
para mapear superfícies oceânicas, tem sua previsão de Brasil carecem de expansão. Portanto, entre dois países
lançamento para 2017 (ou seja, vinte anos após o início com laços históricos de cooperação, a maior participação
do projeto). No transcurso de tal processo cooperativo, mútua em seus respectivos programas espaciais levaria
a eficiência dos argentinos, juntamente com o avanço à racionalização dos gastos, juntamente com maiores
de seu programa espacial, receberam menção no bases científicas e industriais sobre as quais as
relatório “Desafios do Programa Espacial Brasileiro”31, iniciativas espaciais se sustentariam.
da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência 17
da República. É reconhecida também a perda de As possibilidades de cooperação são diversas, desde a
competitividade brasileira em relação aos demais países concentração dos esforços na construção de satélites
analisados no Futron’s Index 2009. de sensoriamento remoto, vigilância e transmissão
de dados sigilosos até o projeto unificado do veículo
Em um ambiente de recursos humanos e financeiros lançador de satélites. A academia, parte fundamental
escassos, a aglutinação de um parceiro no Programa da cadeia que envolve os programas espaciais,
Espacial nacional torna-se uma opção viável. Ambos carece de maior estímulo para acordos bilaterais
anseiam por uma maior participação no mercado com suas congêneres argentinas. Projetos de nano-
espacial internacional e compartilham preocupações satélites, como o NanoSatC-Br1, construído em
devido à dependência extrema de setores estratégicos parceria entre INPE e a Universidade Federal de Santa
em relação a países pouco dispostos a cooperar e que Maria, constituem importante meio de alavancar não
sucessivamente atentam contra seus respctivos sigilos só o conhecimento científico, mas o interesse de
de dados. estudantes em relação ao Programa Espacial. Nesse
panorama, a participação de instituições de ensino
A inexistência de satélites próprios para comunicações argentinas teria como fim abarcar maior comunidade
sigilosas é desvantajosa para ambos os países, sendo de especialistas e contribuir para o progresso
cerceados em suas iniciativas ou atrapalhados em destes programas espaciais, dado que seus custos
seus projetos justamente pela fragilidade do setor de de produção são consideravelmente menores que
comunicações. Como observado na Tabela 1, o índice os de um satélite “convencional”, não se tornando
31 p.44: “O desenvolvimento do programa espacial argentino tem surpreendido a todos os técnicos nacionais envolvidos com o programa...”
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As soluções para a aglutinação de conhecimentos para especificações originais dos mesmos.” (LONGO,
produção e elaboração de novas tecnologias, superando p.6. 2010.)
o cerceamento tecnológico, são expostas por W.P. Longo
(2010): 1) transferência de tecnologia; 2) programas Ademais, temos a “importação de cérebros”, que
mobilizadores; 3) engenharia reversa; 4) espionagem constitui importante fator para o desenvolvimento de
tecnológica e industrial; 5) importação e dreno de tecnologias endógenas. Através da atração de cientistas,
cérebros. A espionagem industrial é um processo engenheiros e projetistas ao Brasil, oferecendo
que, além de arriscado (com irrefutáveis danos, caso condições vantajosas para desenvolverem seu trabalho
descoberta, à imagem do país no Cenário Internacional), em universidades, órgãos e empresas brasileiras, há a
pressupõe a existência de um aparato de inteligência mitigação da carência por pessoal qualificado em áreas
bem estruturado, o que não ocorre no Brasil. estratégicas.
A engenharia reversa, ou seja, a atividade pela qual se “Pode-se considerar que instruções,
domina o máximo possível do processo de concepção e especificações, normas, desenhos, plantas,
produção de um bem através da análise minuciosa de manuais, softwares e outros registros são
seus componentes, buscando encontrar parâmetros expressões materiais e incompletas do
originais dos projetos e seus processos de produção, é conhecimento. O conhecimento que gerou tais 19
uma forma interessante na obtenção de conhecimento expressões, e que é necessário para decodificá-
sensível. Mesmo sendo de discutível legalidade, los e empregá-los corretamente, encontra-
posicionando-se em uma área limítrofe, tal atividade se armazenado nos cérebros de pessoas. Em
não parte necessariamente de um ato ilegal. O objeto a consequência, a maneira mais efetiva de um
sofrer engenharia reversa pode, muitas vezes, ser obtido país ou uma empresa transferir conhecimento de
de forma legal e analisado em ambiente controlado pelo qualquer natureza, principalmente tecnológico,
adquirente. é por intermédio de criteriosa importação de
cérebros. Bem conduzido é um processo que
“A ER tem por objetivo acessar, descobrir pode ser mais rápido e mais barato que outros.”
e absorver a maior parte possível dos (LONGO, p.9. 2010.)
conhecimentos utilizados na produção do bem,
processo ou serviço. Em assim procedendo,
o que se pretende com a ER é igualar-se
Conclusão: o aprofundamento
tecnologicamente ao produtor e, assim, ficar em da cooperação bilateral como
condições de gerar autonomamente um produto,
processo de produção ou serviço que atenda
forma de superar o cerceamento
as suas necessidades específicas. A cópia visa tecnológico
simplesmente reproduzir o produto, processo ou
serviço sem necessariamente preocupar-se em Para reduzir os efeitos monopolísticos e cerceadores
tentar deduzir os parâmetros dos projetos e as da tecnologia, há alternativas. A cooperação com a
32 “A Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Materiais Nucleares é a única organização binacional de salvaguardas nucleares existente
no mundo e a primeira organização binacional criada pela Argentina e pelo Brasil.” – Portal da ABACC.
CEBRI Artigos
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CEBRI Artigos
CENTRO BRASILEIRO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS