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nos períodos de aceleração dos investimentos quando
aumenta a demanda complementar por bens de capital
-importados, nunca ocorreram limitações por parte dos
superiores externos de equipamentos. Mesmo quando
o poder de compra das exportações estava estancado
ou declinante, o capital de risco e o suprimento de
créditos dos fornecedores sempre reforçaram a capaci-
dade de' importar desde que a economia estivesse cres-
cendo rapidamente.
Fonte: Werneck, Dorothea F. F. & BoneUi, Regis. Daempenho industrial: auge e desaceleraçilo nos anos 70.
Processo de industrialização
ociosa gerada pelo investimento do período anterior ti- A pesquisa realizada na Finep indica uma aceleração
vesse sido utilizada. da taxa de acumulação de 1970 para 1973, que se tra-
duz por rápidas taxas de crescimento do setor de bens
Só depois que se elevam o consumo de duráveis, o de capital acompanhada, a um ritmo ligeiramente infe- .
investimento público e a construção (entre 1965-67), rior, pela de importação de equipamentos.
começa o encadeamento das relações interindustriais
que reativa a demanda dos demais setores da indústria No período 1971-73os setores produtores de bens de
de transformação a partir de 1967. Esta passa a liderar capital.atingem, em conjunto, uma taxa média de cres-
o crescimento global do PIB e alcança os níveis de ocu- cimentoextraordínária, da ordem de 390/0 ao ano, o
pação de capacidade que induzem a uma aceleração do que evidentemente torna insubsistente a tese de que o
nível de investimento a partir de 1970 (veja tabela 2). aumento da importação de equipamentos tenha signi-
Tabela 2
I. Bens de consumo 4,8 OJo 11,6 OJo 12,3 '70 4,5 OJo
1. Duráveis " 13,4 OJo 21,9 OJo *(21,2) 25,5 OJo 5,5 OJo
1.1 Transporte 13,1 OJo 23,9 OJo 24,5 OJo -I,OOJo
1.2 Elétricos 13,9 OJo 17,4 OJo 28,01170 16,0 OJo
2. Não-duráveis 3,6 OJo 9,7 OJo *(13,3) 9,1 OJo 4,2 OJo
11. Bens de produção 9,1 OJo 13,7 OJo 15,7 OJo 8,6 OJo
1. Capital 4,5 OJo 13,7 OJo *(39,0) 22,5 OJo 8,4 OJo
2. Intermediários 10,81170 13,7 OJo *(17,0) 13,2 OJo 8,7 OJo
10 A aceleração do crescimento da indústria de cons- ficado um desvio de demanda para o exterior. Na ver-
trução civil, de material de transporte e mecânica per- dade, a demanda por importações é sobretudo comple-
mite, mediante seus efeitos encadeados, expandir a ta- mentar à oferta interna. A elevação de ambas se deve,
xa de emprego e a massa global de salários urbanos antes de mais nada, à fortíssima taxa de acumulação,
(mesmo sem elevar a taxa média de salário que se man- no fim do período, da indústria automobilística (70%
teve com flutuações até 1970). Estes setores, junta- de incremento do capital fixo em 1973), à retomada e à
mente com o crescimento correlato do terciário funcio- aceleração do programa siderúrgico estatal e aos inves-
nal e a reativação do crédito comercial, são res- timentos estatais em telecomunicações, combustíveis e
ponsáveis pela recuperação do mercado interno das petroquímica. Também contribuem de forma impor-
indústrias de bens de consumo não-duráveis, em par- tante a modernização e expansão de algumas indús-
ticular a têxtil, vestuário e calçado que até 1967/68, trias de bens de consumo não-duráveis (sobretudo a
mesmo com os incentivos à exportação, ainda não ha- têxtil, editorial e gráfica, químico-farmacêutica), bem
viam recuperado os níveis de atividade pré-crise. como a aceleração da taxa de acumulação de capital
dos setores de equipamentos pesados, liderados pelas
Também é sensível a repercussão sobre o crescimen- grandes empresas internacionais. A estrutura e dinâ- .
to da produção industrial de insumos de uso difundido mica dos principais mercados industriais e a realimen-
e materiais de construção, bem como alguns segmen- tação derivada da concorrência intercapitalísta leva al-
tos importantes do setor de bens de capital, cujas taxas guns setores industriais a expandirem sua capacidade à
de crescimento, extremamente instáveis entre 1965-67, frente do próprio ritmo de expansão da demanda, na
se recuperam definitivamente a partir daí, crescendo ânsia de garantir para as empresas líderes fatias do
embora a ritmos inferiores às indústrias de bens de mercado em rápida ampliação. Este é particularmente
consumo duráveis até 1971. o caso da indústria automobilística, de material elétri-
co e da têxtil.
11
No entanto, as tendências recessivas dos setores de
bens de consumo não-duráveis são as que aparecem
primeiro (veja tabela 3), dado que a massa de salários
não cresce fio mesmo ritmo da produção, tanto porque
o ritmo de crescimento do emprego urbano é inferior à
taxa de acumulação produtiva, quanto porque a taxa
média de salário não só não acompanha o crescimento
da produtividade da força de trabalho, como tende a
declinar em termos reais com a aceleração infla-
cionária que sobrevém no final do auge. Como o setor
de não-duráveis possui uma dimensão relativa ainda
1961 68 69 10 muito grande na produção industrial, uma queda
acentuada no seu ritmo de crescimento contribui para
diminuir a taxa de crescimento global da indústria de
transformação.
O problema da realização dinâmica é extremamente
complicado de se resolver já que não é de se esperar
que a produção corrente de bens de consumo duráveis O projeto público, anunciado no 11PNO, de manter
e de bens de capital, que lideraram o crescimento in- o crescimento industrial mediante a substituição de im-
portações de bens de capital e de insumos pesados é,
dustrial, possam manter-se no mesmo ritmo do
pois, setf-defeating, Em primeiro lugar, porque a di-
período 1970-73. A aceleração da produção de bens de
minuição das importações de bens de capital que se ve-
consumo duráveis foi de tal ordem (veja tabela 2), que
rifica a partir de 1975 deve-se menos às restrições im-
os estoques de bens à disposição dos consumidores
postas pela política econômica e muito mais às quedas
mais do que quadruplicaram num período de seis
sucessivas nas taxas de investimento dos setores de ma-
anos, não se podendo, portanto, esperar que sua de-
manda se mantenha estável. Assim, o crescimento des- terial elétrico e de comunicações, têxtil, alimentar, ma-
te ramo de bens passa por períodos de flutuação acen- terial de transporte e química. Esta reversão dos níveis
de investimento deriva, sobretudo, de uma queda na
tuada, como um resultado médio negativo para a
taxa de rentabilidade esperada do investimento priva-
indústria automobilística' entre 74-77, que seriam ine-
do em face do crescimento da capacidade ociosa geral
xoráveis independentemente da crise do petróleo.
da indústria. Em segundo lugar porque, apesar de os
A manutenção do ritmo de crescimento da indústria projetos públicos já em execução Serem capazes de sus-
de bens de capital é igualmente problemática. Sua ca- tentar taxas de acumulação de setores importantes.de
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Processo de industrializaçl10
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mação de capital, a componente ativamente cíclica do preços e o crescimento das vendas. Na verdade, o cir-
gasto é o investimento privado. Ora, como já foi ante- cuito de crédito comercial não poderia ser invocado
riormente enfatizado, este, embora se mova pelas leis como mecanismo mais importante de realimentação
da concorrência intercapitalista, não pode sustentar inflacionária. Contrariamente, os desdobramentos fi-
indefinidamente a capacidade crescendo à frente da nanceiros da dívida pública e privada, tanto interna
demanda. O investimento público convencional pode, .quanto externa, têm-se constituído num mecanismo
de fato, criar demanda efetiva adicional, porém, do mais forte e perverso de realimentação mútua entre in-
ponto de vista do setor produtivo estatal, graças à des- flação e acumulação de relações estéreis de débito e
continuidade e porte dos seus investimentos, a criação crédito.
de nova capacidade produtiva é fortemente desestabili-
zadora. No auge, funciona como superacelerador, ele- A partir de 1974, os mecanismos de realimentação
vando as taxas desejadas de investimento privado do financeira da inflação são, ao mesmo tempo, estéreis
setor de bens de produção para além do que é capaz de do ponto .de vista do financiamento do gasto adicio-
sustentar a médio prazo com sua demanda corren- nal, em investimento e consumo e se convertem numa
te. Em outras palavras, seria necessário que o investi- engrenagem autocumulativa de endividamento das
mento produtivo do governo se acelerasse indefinida- empresas, públicas e privadas, e dos consumidores.
mente para que o setor de bens de capital sustentasse Este processo obrigou as empresas e as famílias a acei-
suas taxas de investimento e produção correntes. tarem níveis espantosos de endividamento, provocan-
do a elevação acentuada das taxas de juros nos merca-
A reversão da taxa de acumulação de capital é, por- dos de crédito corrente. Determinou, além disso, uma
tanto, inexorável. O investimento público, quando de- carga financeira crescente sobre a renda líquida dis-
vidamente programado, consegue apenas segurar um ponível de todos os agentes econômicos com baixo po-
patamar mínimo de crescimento da economia. Se.con- der de alterar seus rendimentos, em particular os assa-
trariamente, se' acentuarem seus efeitos desestabiliza- lariados, as pequenas e médias empresas privadas e as
dores, do ponto de vista da manutenção da demanda empresas de serviço de utilidade pública (cujas tarifas
corrente, a economia mergulhará num processo acen- sofrem cada vez mais uma defasagem em relação à ele-
tuadamente cíclico de curto prazo, isto é, de flutuações vação dos preços).
. em torno de uma tendência à estagnação relativa. Isto,
por sua vez, agravará os problemas de financiamento Em contrapartida, para as grandes empresas mo-
corrente do governo, por meio de flutuações acentua- nopólicas, incluindo aqui as grandes empresas públi-
das na receita fiscal, o que configura um dos mecanis- cas, a queda do ritmo dos negócios é compensada por
mos clássicos do stop and go. seu poder de mercado, o que lhes permite manter um
14 volume de lucros correntes elevado, porém excessi-
vo diante de suas expectativas de investimento produti-
4. A ACELERAÇÃO INFLACIONÁRIA E OS ME- vo. Aqui se estabelece a articulação entre seus interes-
CANISMOS DA ESPECULAÇÃO FINANCEIRA ses e os do sistema financeiro, a favor de um movimen-
to de especulação generalizada que passa rapidamente
O recrudescimento da inflação a partir da segunda pela' valorização patrimonial fictícia e desemboca nu-
metade de 1973 foi determinado basicamente pela co- ma especulação estritamente financeira. O artifício da
lagem dos preços internos aos preços internacionais, correção monetária, que viabilizara a criação de um
em movimento de alta. Isto afetou, numa primeira eta- sistema financeiro especializado, acoplado aos grandes
pa, os preços agrícolas e, em conseqüência, reforçou o bancos, revela finalmente sua face perversa,
mecanismo de mark-up das principais empresas do se- transformando-se numa avassaladora correia de pro-
tor de bens/salário, cuja tendência a subir seus preços jeção inflacionária e de catapulta da especulação.
relativos já era manifesta no período de expansão, em
A emissão de títulos da dívida pública, em particular
contraste com a queda das margens dos setores de
as letras do Tesouro, tinha o propósito de criar um me-
duráveis e de bens de capital. O segundo movimento
canismo de open-market capaz de regular a liquidez da
de elevação exógena de preços é dado pela forte ele-
economia. Em particular, tinha o propósito de regular
vação dos preços do petróleo e demais matérias-primas
possíveis oscilações bruscas nas posições de caixa do
estratégicas.
Tesouro decorrentes de movimentos desestabilizadores
Este choque autônomo sobre os preços ocorre quan- das dívidas externa e interna. Na verdade, porém, da-
do a produção corrente da indústria já se encontra em do o modo peculiar de entrelaçamento entre o merca-
ritmo declinante de crescimento, estimulando políticas do monetário e o financeiro, estes títulos terminaram
generalizadas de over-pricing como defesa da margem por converter-se no principal objeto de especulação.
bruta de lucro, frente a um ritmo cadente de vendas.
As necessidades de capital de giro do conjunto das em- O risco nulo e a proteção contra a inflação (por
presas aumentam, portanto, em termos reais, em face meio da correção monetária) tornam os papéis emiti-
da decaiagem entre o valor presente do seu capital cir- dos pelo governo um ativo financeiro de primeira li-
culante e o volume de lucros correntes que só se rea- nha. Em função disso, esses títulos servem de garantia
lizará, no final do período de produção, com a pers- para todas as operações de curtíssimo prazo (o chama-
pectiva de preços em alta. Desta forma, sob pena de do overnight). Ao mesmo tempo, a taxa de remune-
uma paralisação do ritmo de negócios, impõem-se ração implícita destes títulos (deságio mais correção
uma expansão do crédito bancário comercial, que pelo monetária e juros) regula a taxa de rentabilidade para
menos seja suficiente para acompanhar a elevação de as aplicações financeiras em geral e, conseqüentemen-
Processo de industrialização
tural a uma política de estabilização ortodoxa, por provável que a dimensão da crise termine por alcançar
parte das grandes empresas nacionais construtoras, in- proporções econômicas maiores do que a da primeira
dustriais e financeiras, tanto do setor privado como metade da década de 60, e a estagnação relativa alcan-
das próprias empresas públicas, é agora notável e su- ce um período de maior duração, para permitir a di-
pera o possível interesse estabilizador de uma fração gestão dos grandes projetos recém-terminados e edes-
do capital financeiro internacional oficial. 2 É por isso valorização da colossal dívida externa e interna.
que os sintomas de crise que já se apresentavam
visíveis e ameaçadores em 1974 não puderam ser leva-
dos em conta pela política econômica do período 1974- I Os picos de modernização das indústrias têxtil e alimentar ocorre:
75, e a própria política de stop and go dos últimos três ram em 1951-52, 1960-62 e 1971-73. Em todos esses períodos, a im-
portação de equipamentos específicos para estas indústrias cresce
anos tem sido administrada com muito mais delicade- mais do que a produção interna correspondente.
za que no período 1963-65.
2 As preocupações do FMI e do Tesouro Americano não encontram
Se para todos os problemas acumulados não se en- agora o mesmo eco que em 1963-64, dada a sua visível impotência de
contrarem, porém, válvulas de escape adequadas, tan- controlar a crise financeira internacional e a forte posição simulta-
to em termos nacionais, quanto internacionais, é neamente devedora e credora em dólares do Brasil.
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