Você está na página 1de 3

O livro do Prazer (AUTO-AMOR)

A Psicologia do Êxtase

Autor:Austin Osman Spare

Encertos Traduzidos por: Frater S.A.T.O.R.

DEFINIÇÕES

As palavras Deus, religiões, fé, moral, mulher etc. (que são expressões de nossas crenças)
são utilizadas aqui para expressar diferentes "meios" de controle e de manifestação do
desejo: uma idéia de unidade pelo medo, seja numa forma ou noutra e que expressa
servidão - os limites imaginados; ampliados pela ciência, que consegue acrescentar um
tênue e precioso centímetro à nossa estatura e nada mais.

Kia: a liberdade absoluta que, sendo livre, é suficientemente poderosa para ser
"realidade" e livre a qualquer momento: assim, ela não é potencial ou manifesta (exceto
como sua possibilidade imediata) em virtude de idéias de liberdade ou "meios", mas pelo
motivo de o Ego ser livre para recebê-la, de ser livre de idéias sobre ela mesma e pela
descrença. Quanto menos se falar dela (Kia), menos obscura ela se toma. Convém lembrar
que a evolução ensina por meio de punições terríveis e que a concepção é a sua realidade
maior, mas não a libertação maior da evolução em si. Virtude: Arte Pura. Vício: Medo,
crença, fé, controle, ciência e congêneres. Auto-Amor (self-love): um estado mental, de
espírito ou uma condição gerada pela emoção do riso que se transforma no princípio que
confere ao Ego a apreciação ou associação universal que permite a inclusão antes da
concepção.

Exaustão: aquela sensação de esvaziamento trazida pelo esgotamento de um desejo


através de algum meio de dissipação deste, quando o estado de espírito corresponde à
natureza do desejo, isto é, quando a mente está preocupada por causa da não-concretização
de tal desejo e busca alívio. Pela apreensão deste estado de espírito e vivenciando-o, o
vazio resultante é sensível à sugestão sutil do Sigilo.

DIFERENTES RELIGIÕES E DOUTRINAS COMO MEIOS DE PRAZER,


LIBERDADE E PODER.

Existe algo mais em que acreditar além do Ego? E o que é o Ego a não ser a negação de
tudo como realidade? Jamais se viu o ego em época alguma. Somos tanto o que
acreditamos quanto o que estas crenças produzem no tempo a nível de concepção; o
processo criativo está preso a esta fórmula.

Nossas ações são expressões de idéias vinculadas às nossas crenças; como elas são
inseparáveis, são obscuras, indiretas e facilmente nos decepcionam. A dualidade é o fruto
da ação, Céu ou Inferno, Tudo ou Nada (Purgatório ou indiferença). No Céu há desejo pela
Mulher, no Inferno há intenso desejo. O Purgatório é a esperança adiada, a Indiferença da
cura após a decepção. Na verdade, é tudo a mesma coisa. O sábio que busca o prazer, tendo
concluído que existem "diversos níveis de desejo", abre mão tanto da Virtude quanto do
Vício e se torna um Kiaísta. Montado no Tubarão do seu desejo, ele cruza o oceano da
dualidade e mergulha no auto-amor.

*************************************************************

As religiões são projeções da nossa incapacidade, das nossas fantasias de medo; são
sublimações da superstição e afirmam que a verdade é paradoxal (p.e., "Deus está sempre
no Céu", ou ainda, "o Todo-Poderoso é inconcebível" mas emana sua própria concepção ou
a sua negação, comete suicídio etc.) com argumentos que freqüentemente tangem a
imbecilidade. E, virtuosamente, para obter o máximo de prazer a um custo mínimo, conte
os seus pecados e eles serão perdoados; preferivelmente, de modo ritualístico, para
expressar bem o quanto você se transformou num fantoche do terror governante. O que
você conseguiu de mais concreto em virtude da sua religiosidade foi a sua própria
"manjedoura" (um jogo de palavras em Inglês, pois "rack" pode significar tanto
"manjedoura" como "tormento"), por mais imaginária que ela possa ser! A perspectiva não
é agradável: você terá que reaprender tudo por si mesmo. Terá que nascer de si próprio,
apesar da sensibilidade de seu corpo.

*************************************************************

Alguns enaltecem a idéia de Fé. Pela crença de que eles (ou qualquer outra coisa) são
deuses, eles se "transformam" em tal, apesar de suas ações estarem repletas de suas
descrenças. É melhor admitir a própria incapacidade ou insignificância do que reforçá-las
pela fé, pois o que é superficial "protege" mas não altera o que é vital: portanto, rejeite
aquele a favor deste. A fórmula destas pessoas é a decepção e, portanto, serão
decepcionadas, vendo seus objetivos não se concretizarem. A Fé é a própria negação, ou a
metáfora da idiotice, posto que ela sempre falha. Para tornar seus grilhões mais eficientes,
os governos do mundo inteiro forçam as religiões pelas goelas de seus escravos, e sempre
são bem sucedidos; são poucos os que conseguem escapar e, por isto, seu mérito é grande.
Quando a fé desaparece, o Eu Superior ("Self") entra em ação. Os menos tolos não se
esquecem de que Deus é uma criação deles mesmos e, portanto, sujeito às mesmas leis. É
desejável, então, esta ambição de fé? Eu mesmo ainda não conheci um único ser humano
que não fosse Deus.

Há outros, ainda, dotados de grande conhecimento, que não sabem dizer exatamente o
que é "crença", ou como acreditar naquilo que desafia as leis naturais e as crenças
existentes. Certamente não será dizendo "eu creio", pois esta arte foi há muito esquecida.
Na verdade, estas pessoas estão muito mais sujeitas à estupefação e à distração a partir do
momento em que abrem suas bocas cheias de argumentos; infelizes e sem poder a não ser
no momento em que espalham sua própria confusão, elas têm que adotar dogmas e
comportamentos que impossibilitam a expressão de seu verdadeiro potencial, apenas para
simular coerência... A "luz" de seu conhecimento faz estagnar sua possibilidade de
realização pessoal. Já não os observamos perdidos na racionalidade de suas explicações? O
ser humano não consegue acreditar apenas pela fé ou pelo ter, uma vez que ele só pode
entender o conhecimento adquirido a partir de uma nova percepção da realidade. Se somos
tudo, porque a necessidade de imaginar que não somos? Sejamos místicos.

Outros acreditam em oração: ainda não aprenderam que pedir é o mesmo que ver seu
desejo negado. Que isto possa ser a base de seu Evangelho pessoal. Ó, vós que viveis a vida
de outras pessoas, ouvi: a não ser que o desejo seja subconsciente ele não se realiza, ao
menos não nesta vida. Assim, dormir pode ser melhor que rezar. A concordância é uma
forma de desejo oculto, um meio de "não pedir"; é assim que a fêmea consegue tudo do
macho. Use a oração (se você tiver que rezar) como um meio de exaustão, e só assim você
realizará o seu desejo.

Alguns se empenham em mostrar as semelhanças entre as diferentes religiões; acabam


caindo num equívoco básico do qual nunca se recuperam, pois sofrem mais conflitos
internos do que os pouco instruídos e tentam identificar sua própria desilusão ou medo com
aquilo que eles chamam de verdade. Acabam nunca encontrando tais semelhanças nem a
quintessência das religiões, pois a pobreza de imaginação é o paliativo destas. Melhor seria
mostrar as diferenças essenciais entre as diversas religiões. Isto seria o mesmo que
desnudar seus objetivos: decepcionar para governar. Em suma, para conseguirmos a
transcendência, não podemos dar espaço para Deus ou para a religião.

Alguns veneram a verdade, mas dão a ela muitos invólucros e, esquecendo sua
dependência, provam sua relação e paradoxo, a canção da experiência e a ilusão. Paradoxo
não é "verdade", mas sim a verdade que diz que qualquer coisa pode ser verdadeira num
dado momento. Com aquilo que vai além do paradoxo e de seu implícito ("não
necessário"), construirei as fundações de meu ensinamento. Determinemos o que é
deliberativo, "a verdade" não pode ser dividida. O auto-amor só não pode ser negado e
apenas é auto-amor quando é paradoxal, sob qualquer condição, uma vez que só ele é a
verdade, completa e sem acessórios.

Outros veneram a Magia Ritual, e acreditam atingir grande êxtase! Nossos asilos estão
cheios deles, bem como os palcos! Será através do simbolismo que nos transformamos
naquilo simbolizado? Se eu me coroar rei, transformar-me-ei num rei? Mais provavelmente
transformar-me-ia num objeto de desgosto ou piedade. Estes Magos, cuja insinceridade é
sua própria segurança, não passam de janotas desempregados dos bordéis. Magia é apenas a
habilidade natural de atrair sem ter que pedir; ritual é aquilo que não foi afetado, e sua
doutrina nega a daqueles. Eu os conheço bem e a seu credo de aprendizado que apregoa o
medo de sua própria luz. Vampiros, eles são suas próprias mariposas. Suas práticas provam
sua própria incapacidade, eles não têm qualquer magia para intensificar o que é normal, a
alegria de uma criança ou de uma pessoa saudável, nem para invocar seu próprio prazer ou
sabedoria. Seus métodos dependem da falta de imaginação autêntica e de condições
caóticas e seu conhecimento é obtido com menos decência que uma hiena faminta, isto é,
eles são menos livres e obtêm menos satisfação que o mais torpe dos animais. Sua falta de
poder e seus arrogantes excessos levam-nos previamente ao fracasso, sem mesmo
ostentarem a magia do charme ou beleza pessoal, ofensivos que são ao bom gosto em sua
ânsia por publicidade. A liberdade de energia não é obtida por sua servidão nem o
verdadeiro poder é obtido por sua desintegração. Não será porque nossa mente já está
saturada e dividida que não somos verdadeiramente capazes nem, principalmente, mágicos?

Você também pode gostar