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Além da costumeira apalpada que os columbófilos dão para avaliar a qualidade dos
pombos, há sempre o momento do exame do olho. Muitos se dizem capazes de avaliar
se um pombo é bom ou não a partir do olho, e revistas especializadas costumam trazer
fotos da íris de pombos de leilões. “Tem a teoria do olho, a teoria da asa... todas são
frutos da fantasia de amadores dedicados. Eles olham seus pombos favoritos e tentam
encontrar uma razão para entender por que eles são vencedores”, desmistifica o Ronald
Ranvaud, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.
A razão pela qual os pombos-correio conseguem encontrar seu pombal de origem apesar
das longas distâncias ainda é um mistério para a ciência. Mas eles não são os únicos.
Há, grosso modo, três tipos básicos de deslocamento animal: o migratório, de aves
como a andorinha, que sempre vão em direção ao verão; o nômade, típico de herbívoros
que permanecem em um lugar enquanto dura a comida; e o do retorno ao lar, que é o
caso do pombo, mas também o de tartarugas marinhas, por exemplo. Em 1958, Karl
Kenyon e Dale Rice conduziram uma experiência com os albatrozes do Atol de Midway
– cujo nome sugestivo, meio do caminho, se deve à proximidade da linha de mudança
de data, a 180º do meridiano de Greenwich. A experiência consistia em deslocar as
grandes aves que habitavam aquelas ilhas para outros pontos pelo Pacífico, como o
Japão e o Havaí, e registraram o seu retorno de até 4 mil quilômetros de distância.
Agora, em setembro de 2007, três crocodilos australianos que haviam sido transferidos
de praias populares para áreas mais remotas há 400 km dali, voltaram para casa em
menos de três semanas, surpreendendo as autoridades locais.
Hoje, a orientação pela bússola solar é consenso entre os cientistas, assim como também
é consenso o fato de que ela não age sozinha. O ponto de divergência é justamente qual
outro fator complementa a bússola solar ou até prepondera sobre ela. Enquanto
Ranvaud, depois dos testes em Camocim, tornou-se resistente à popular teoria do
magnetismo – “faltam dados nas pesquisas magnéticas, não sei nem como elas
chegaram a ser publicadas” – outros pesquisadores não têm dúvidas da existência de
uma bússola magnética orientando o trajeto, como o casal de pesquisadores alemães
Wolfgang e Roswita Wiltschko. Parceiros de pesquisa desde a universidade, seus
primeiros estudos com magnetismo também partiam das aves migratórias. Foi durante o
pós-doutorado de Wolfgang – quando já eram casados – que eles começaram a
pesquisar o magnetismo em pombos-correio, já na universidade americana de Cornell.
Segundo Ranvaud, suas últimas experiências têm encontrado mais evidências em uma
outra teoria de direcionamento: a do mosaico olfatório. Partindo do pressuposto de que
os pombos têm uma percepção de odores muito mais apurada do que os seres humanos,
os defensores dessa teoria acreditam que ele seria capaz de utilizar as referências de
diferentes cheiros que compõem o ambiente em que ele vive. Ele também seria capaz de
perceber a direção da origem destes cheiros, trazidos pelas correntes de vento, o que faz
com que ele consiga se localizar longe de casa. Por exemplo: o pombo identifica que em
seu pombal chega, do norte, um aroma de eucalipto. Quando solto no norte, ele é capaz
de identificar este aroma em maior intensidade e conclui que seu pombal está para o sul.
Segundo Ranvaud, a poluição não atrapalharia necessariamente a identificação dos
cheiros. Ela poderia, inclusive, funcionar como mais um referencial.
Hoje, nenhum dos três cientistas cria mais pombos para competição. Roswita Wiltschko
conta que o casal costumava participar de campeonatos na Alemanha, e inclusive
chegaram a ganhar uma ou outra prova, mas hoje não têm mais tempo para isso.
"Apesar de divertidos, os campeonatos não são um grande desafio para a navegação,
uma vez que todos os treinos e provas são feitos na mesma direção, e os pombos são
soltos sempre em grupo. Isso avalia apenas a resistência, e não a habilidade de
orientação de cada pombo", justifica. Roswita explica que em seus experimentos
científicos, os pombos são soltos sozinhos e treinados para voltar de qualquer direção.
Além disso, desde a época em que competia, costuma treiná-los em dias nublados, para
eles se acostumarem a não depender da bússola solar. "Nós sugerimos este
procedimento aos demais membros do clube e percebemos que isso ajuda a evitar
perdas".