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Aspectos Sociológicos e Psicológicos da Violência

O que seria violência?

Conceito usual de violência


• Dicionário: "ato contrário à razão, à justiça, ato veemente, resultante do emprego da força para a
solução de qualquer conflito humano, seja individual ou coletivo." (comparar com a definição
dada por eles)

• O dicionário traz basicamente a noção de que a violência é algo que ocorre quando as pessoas
perdem a cabeça e partem para a agressão física. Esta definição é insuficiente e restrita para
aprofundar o assunto. Assim, buscamos um conceito mais aprofundado em autores que
trabalham o assunto: Osório, Costa, Conte, Lacan. Nestes autores podemos encontrar uma
definição mais ou menos assim: "violência é tudo aquilo que fere, destrói, agride ou machuca as
pessoas, ações que não preservam a vida ou prejudicam o bem estar tanto individual quanto
coletivo.

Tipos de violência:
•física ou psicológica;

•intencional ou não intencional

•macro ou micro

E a não-violência?
De modo geral, a violência tem quase sempre resultados negativos e por causa disso, nos acostumamos
com a noção de que para sermos pacíficos temos sempre que evitar conflitos, ser passivo, " dar a outra
face", etc., Com isso, entendemos qualquer atitude mais contundente ou enérgica como um ato de
violência.

Para ampliar um pouco nosso entendimento sobre cultura da paz, é necessário elucidar o conceito de não
violência, que carrega a noção de não passividade e das soluções pacíficas na resolução de conflitos. A
não-violência não nega ou reprime os conflitos, pois os entende como parte natural de nossas vidas. Não
há como negar sua existência.

O termo não violência significa o uso da não-violência em qualquer esfera de nossas vidas: física, verbal
ou mental, busca o fortalecimento pessoal e social e não a negação da raiva ou de qualquer outro
sentimento. A não-violência visa canalizar energia (agressividade) para coisas construtivas, que
garantam o respeito entre os indivíduos.

No entanto, por mais paradoxal que pareça, uma sociedade para ser pacífica e não violenta, sempre se
utiliza de métodos que podem ser facilmente sentidos como violentos pelos indivíduos que os sofrem.

A educação é um exemplo disso. Os indivíduos que estão passando pelo processo educativo e de
socialização sentem que estão sendo privados de seus direitos de fazerem o que querem na hora que
querem e isso é bastante sentido como algo violento, que coíbe, que cerceia. Mas sem essas restrições a
sociedade certamente estaria ameaçada e a não-violência seria impossível. Esses processos educativos e
socializadores, apesar de imprescindíveis aos seres humanos podem ter resultados ruins quando mal
administrados ou quando se abusa dos recursos disponíveis na sociedade para sua efetivação.

Os efeitos são bons e legítimos quando servem para organizar, impor limites, educar, possibilitar o
convívio em sociedade. Segundo Norbert Elias (1999), "para que os indivíduos consigam de adequar às
sociedades mais complexas é necessário um grande esforço, para além do autocontrole consciente.
Assim, a própria sociedade acaba por criar uma espécie de coerção que visa prevenir transgressões do
comportamento socialmente aceitável, através do medo, do hábito..., da lei." A Educação é vista como
algo bom, no entanto usa de vários recursos sentidos como violentos para ser efetiva: coerção,
imposição, restrição, etc.

A educação e a socialização diminuem a emergência da violência no comportamento humano, que


usualmente é minimizada em prol da preservação da espécie. Os processos coercitivos adotados pela
sociedade (educação, religião), bem como já falou ELIAS, são responsáveis por reprimir muitas das
atitudes violentas dos seres humanos (pedir exemplos: perguntar que tipo de violência seriam capazes
de cometer se não houvesse nenhum tipo de restrição)
Dar exemplos: homicídio, mutilações, etc

Mas os efeitos da socialização podem também ser ruins quando desagregam, corroem, geram mais
violência, excluem, enfraquecem, fragilizam, humilham, etc... (pedir para turma dar exemplos)
Agressividade x Violência
•Conceito de agressividade (apostila ONG): do latim AD (para frente) mais GRADIOR (movimento), ou
seja movimento para frente. O que caracteriza a palavra é a ação e não os seus propósitos. Esses
propósitos poderia ser usados para coisas construtivas ou para coisas destrutivas. Dar exemplos.

•Por que então é tão comum associarmos agressividade coma palavra violência. Porque a agressividade é
imprescindível em qualquer ato de violência. Segundo Osório (2000), violência seria então a
agressividade com fins destrutivos. Segundo Lacan (1998), "a agressividade intencional (violência)
corrói, mina, desagrega, castra, ela conduz à morte."
"A violência é o emprego da agressividade com fins destrutivos. Pode ser voluntário, deliberado, racional
e consciente, ou pode ser inconsciente, involuntário e irracional." (Costa, 1986)

Quais as causas da violência?


Ela pode ter várias causas, vamos nos ater aqui, à algumas causas psicológicas e sociológicas.

Psicológicas
Privações de afeto e perdas. Segundo Winnicott, podem obstruir os processos de socialização, problemas
durante o desenvolvimento e na formação das estruturas de personalidade, humilhações e frustrações,
severas ou não dependendo da pessoa, busca da autoridade (alguém ou algo que coloque limites),
excesso de rigor e autoritarismo, restrição das possibilidades de diálogo e negociação, enfraquecimento
do processo de identificação, que faz com que você enxergue o outro como igual, com os mesmos
direitos e necessidades e enfraquecimento da alteridade, que faz com que você enxergue o outro como
diferente de você e com necessidades diferentes das suas.

Dar exemplos e sempre que possível relacionar com a realidade escolar.

Sociológicas
Preconceitos de gênero, raça, crença, crenças fundamentalista, desigualdade social e má distribuição de
renda, exclusão social, processos de opressão das massas, falta de coesão social (Para Durkheim, os
indicadores do índice de coesão social são o suicídio, o crime e as toxicomanias.

Para ele, é bom que os atos que ofendem as regras de convívio social não sejam tolerados, pois esses
atos afrouxam o elo social.), processos culturais que intensificam o individualismo, a crise moral (moral
aqui não tem a ver com certo ou errado mas com coesão social) e de autoridade das instituições
responsáveis pelo controle social: escola, tribunais, prisões, etc., impunidade, discriminação, corrupção,
tratamento discriminatório da população mais pobres, interesses políticos e econômicos (ex: guerra dos
EUA x Iraque), entre outros.

BIOLOGICISMO
("pau que nasce torto morre torto" ou "o que é bom já nasce feito")
Há ainda, correntes, mesmo dentro das Ciências Humanas que atribuem comportamentos violentos à
causas genéticas (hormônios, formações cerebrais diferenciadas, etc...) ou atávicas, como é o caso de
KONRAD LORENZ, DESMOND MORRIS, ROBERT ARDREY, ETC.

Segundo ASHLEY MONTANGU, as medidas que buscam soluções dependem da posição adotamos frente à
questão da violência (genética ou adquirida pela cultura).

As diferenças vão aparecer em atitudes e práticas que ocorrem no dia-a-dia das pessoas, na forma como
são tratadas na escola, na vida familiar, nos tribunais, nas prisões, nos serviços sociais de todos os tipos,
nos esforços para equilibrar populações e recursos.

Se somos violentos por natureza, estamos perdendo um tempo precioso tentando ensinar as pessoas a
pensar, a relativizar, buscando reabilitar criminosos, ajudando quem tem dificuldades, querendo
melhorar a saúde mental dos seres humanos.

Deveríamos pensar em formas de descarregar a violência, canalizá-la.

•Com qual destas teorias você se sente mais confortável, os comportamentos violentos são
geneticamente adquiridos ou culturalmente desenvolvidos?

•Pedir para que se dividam em 5 grupos e cada grupo escreve argumentos defendendo sua posição

•Após cada grupo falar de seu posicionamento, explicar que embora sejam realizadas muitas pesquisas
nesta área, tentando provar que o comportamento violento pode ser encontrado num gene, não foi
possível provar cientificamente isso. Desta forma, qualquer afirmativa neste sentido está totalmente
isenta de dados científicos e fica muito mais pautada em crenças pessoais.
E na escola:
•Como é a violência?

•Em que situações ela acontece e por quê?

•O que fazer para minimizar o problema?

Primeiramente, é necessário entender que a escola não é uma cápsula isolada e protegida da sociedade e
todas as questões relacionadas com a violência que falamos até aqui valem para a escola também.

Ao contrário do que se pensa, a violência na escola não pode ser avaliada por casos isolados de alunos e
profissionais com problemas mais sérios de comportamento, que envolvam questões familiares e de
desenvolvimento. Abordaremos aqui questões mais relativas à violência corriqueira e cotidiana do
ambiente escolar.

Pesquisas realizadas pelo PNV nas escolas por ele atendidas têm mostrado que a grande maioria dos
alunos e profissionais não são habitualmente violentos e nem tampouco convivem em um ambiente
desestruturado ou violento. No entanto, muitas vezes acabam manifestando algumas atitudes violentas
na escola. O que acontece na escola que favorece ou propicia comportamentos violentos?

Estudiosos do tema apontam a escola como um local complexo, palco de várias mudanças sociais e
muitas vezes confuso acerca de seu papel. Em meio a tudo isso, aparecem situações que quando não
causam a violência, agravam o problema. Podemos apontar alguns mais freqüentes:

•Profissionais com discurso bastante repetido e do senso comum. Discursos que se repetem apesar das
pesquisas apontarem o contrário. Isso desvia o foco do problema e impede o aparecimento de boas
soluções.

•Problemas de gestão e de liderança

•Falta de organização e planejamento: não se estabelece prioridades, não se dá continuidade ao que foi
planejado e não se cumpre os combinados.

•Aulas ruins, sem criatividade, sem exemplos que estabeleçam a relação entre o conteúdo dado e o
cotidiano do aluno

•Questões pessoais colocadas acima de questões profissionais

•Falta de comprometimento com o trabalho: faltas, não participação das atividades, etc.

•Falta de capacitação dos profissionais para lidar com conflitos

•Falta de clareza acerca do papel da escola e da família

•Querer que crianças e adolescentes comportem-se como adultos

•Problemas de comunicação

•Preocupação excessiva com o conteúdo

•Falta de exemplos dos adultos

•Ação policialesca com os alunos

Tudo isso acaba gerando:

•Profissionais desgastados, estressados, desmotivados e mau humorados


•Alunos indisciplinados

•Perda da autoridade

•Alunos com dificuldades de aprender

•Ambiente tumultuado

•Afastamento das famílias

•Muitas situações emergenciais as quais a escola não está preparada para resolver

•Mal entendidos, fofocas e ineficiência

•Não assunção das responsabilidades


Possíveis soluções

•Fortalecer as lideranças da escola


•Integrar equipe pedagógica e corpo docente

•Criar um sistema eficiente de comunicação

•Estabelecer um planejamento eficaz e um contrato de regras que seja cumprido e cobrado com firmeza

•Promover trabalhos em equipe dentro do corpo docente

•Ter espaços para compartilhar angústias e ter apoio na busca de soluções

•Capacitar profissionais para lidar com comportamentos para além do conteúdo

•Incentivar alunos a serem mais ativos nas atividades escolares. Assim serão mais responsáveis e
desenvolverão maior autonomia

•O que vale para aluno vale para todos os profissionais. As regras são iguais para todos. O não
cumprimento das regras pelos profissionais implica no não cumprimento pelos alunos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - BLAYA, C. A União da Equipe Docente Leva à Paz. Revista Nova Escola.

2 - CONTE. M. Os Efeitos da Modernidade: Consumo de Álcool, Drogas e Ilusões. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre.
1995. Ano VI, n.12.

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5 - D´AMBROSIO, U. A Cultura da Paz Começa na Escola. Revista Nova Escola.

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Método Sociológico. São Paulo. Martins Fontes, 1999.

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6 - FERREIRA, C. A. M. Agressividade é Assunto Seu. Revista Nova Escola.

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8- GUIMARÃES, A. e GOMIDE, H. O Criador da Sociologia da Educação. Revista Nova Escola

9- JERUSALINSKY, A . Somos Todos Violentos ? Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre. 1995. Ano VI, n.12.

10- KUPFER, M.C.M. Violência da Educação, Violência na Educação. Revista da Associação Psicanalítica de Curitiba. 1997, Ano I, n.1

11- LACAN, J. Os Escritos: A Agressividade em Psicanálise (1948). Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed. 1998.

12- OSÓRIO, L.C. Violência na Contemporaneidade: Uma Abordagem Bio-psico-social. In ARRIETA, G.A et al. A Violência na Escola.
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13- SILVA, L.A .M. Criminalidade Violenta: Por uma Nova Perspectiva de Análise. In: Revista de Sociologia Política, nº 13, Nov. 1999.
Curitiba

14- WINNICOT, D. W. Privação e Delinqüência. São Paulo. Editora Martins Fontes, 1999.

Joyce K. Pescarolo
Psicóloga
Equipe operacional PNV
www.naoviolencia.org.br

http://www.naoviolencia.org.br/sobre-aspectos-sociologicos-psicologicos-da-violencia.htm

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