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• O dicionário traz basicamente a noção de que a violência é algo que ocorre quando as pessoas
perdem a cabeça e partem para a agressão física. Esta definição é insuficiente e restrita para
aprofundar o assunto. Assim, buscamos um conceito mais aprofundado em autores que
trabalham o assunto: Osório, Costa, Conte, Lacan. Nestes autores podemos encontrar uma
definição mais ou menos assim: "violência é tudo aquilo que fere, destrói, agride ou machuca as
pessoas, ações que não preservam a vida ou prejudicam o bem estar tanto individual quanto
coletivo.
Tipos de violência:
•física ou psicológica;
•macro ou micro
E a não-violência?
De modo geral, a violência tem quase sempre resultados negativos e por causa disso, nos acostumamos
com a noção de que para sermos pacíficos temos sempre que evitar conflitos, ser passivo, " dar a outra
face", etc., Com isso, entendemos qualquer atitude mais contundente ou enérgica como um ato de
violência.
Para ampliar um pouco nosso entendimento sobre cultura da paz, é necessário elucidar o conceito de não
violência, que carrega a noção de não passividade e das soluções pacíficas na resolução de conflitos. A
não-violência não nega ou reprime os conflitos, pois os entende como parte natural de nossas vidas. Não
há como negar sua existência.
O termo não violência significa o uso da não-violência em qualquer esfera de nossas vidas: física, verbal
ou mental, busca o fortalecimento pessoal e social e não a negação da raiva ou de qualquer outro
sentimento. A não-violência visa canalizar energia (agressividade) para coisas construtivas, que
garantam o respeito entre os indivíduos.
No entanto, por mais paradoxal que pareça, uma sociedade para ser pacífica e não violenta, sempre se
utiliza de métodos que podem ser facilmente sentidos como violentos pelos indivíduos que os sofrem.
A educação é um exemplo disso. Os indivíduos que estão passando pelo processo educativo e de
socialização sentem que estão sendo privados de seus direitos de fazerem o que querem na hora que
querem e isso é bastante sentido como algo violento, que coíbe, que cerceia. Mas sem essas restrições a
sociedade certamente estaria ameaçada e a não-violência seria impossível. Esses processos educativos e
socializadores, apesar de imprescindíveis aos seres humanos podem ter resultados ruins quando mal
administrados ou quando se abusa dos recursos disponíveis na sociedade para sua efetivação.
Os efeitos são bons e legítimos quando servem para organizar, impor limites, educar, possibilitar o
convívio em sociedade. Segundo Norbert Elias (1999), "para que os indivíduos consigam de adequar às
sociedades mais complexas é necessário um grande esforço, para além do autocontrole consciente.
Assim, a própria sociedade acaba por criar uma espécie de coerção que visa prevenir transgressões do
comportamento socialmente aceitável, através do medo, do hábito..., da lei." A Educação é vista como
algo bom, no entanto usa de vários recursos sentidos como violentos para ser efetiva: coerção,
imposição, restrição, etc.
Mas os efeitos da socialização podem também ser ruins quando desagregam, corroem, geram mais
violência, excluem, enfraquecem, fragilizam, humilham, etc... (pedir para turma dar exemplos)
Agressividade x Violência
•Conceito de agressividade (apostila ONG): do latim AD (para frente) mais GRADIOR (movimento), ou
seja movimento para frente. O que caracteriza a palavra é a ação e não os seus propósitos. Esses
propósitos poderia ser usados para coisas construtivas ou para coisas destrutivas. Dar exemplos.
•Por que então é tão comum associarmos agressividade coma palavra violência. Porque a agressividade é
imprescindível em qualquer ato de violência. Segundo Osório (2000), violência seria então a
agressividade com fins destrutivos. Segundo Lacan (1998), "a agressividade intencional (violência)
corrói, mina, desagrega, castra, ela conduz à morte."
"A violência é o emprego da agressividade com fins destrutivos. Pode ser voluntário, deliberado, racional
e consciente, ou pode ser inconsciente, involuntário e irracional." (Costa, 1986)
Psicológicas
Privações de afeto e perdas. Segundo Winnicott, podem obstruir os processos de socialização, problemas
durante o desenvolvimento e na formação das estruturas de personalidade, humilhações e frustrações,
severas ou não dependendo da pessoa, busca da autoridade (alguém ou algo que coloque limites),
excesso de rigor e autoritarismo, restrição das possibilidades de diálogo e negociação, enfraquecimento
do processo de identificação, que faz com que você enxergue o outro como igual, com os mesmos
direitos e necessidades e enfraquecimento da alteridade, que faz com que você enxergue o outro como
diferente de você e com necessidades diferentes das suas.
Sociológicas
Preconceitos de gênero, raça, crença, crenças fundamentalista, desigualdade social e má distribuição de
renda, exclusão social, processos de opressão das massas, falta de coesão social (Para Durkheim, os
indicadores do índice de coesão social são o suicídio, o crime e as toxicomanias.
Para ele, é bom que os atos que ofendem as regras de convívio social não sejam tolerados, pois esses
atos afrouxam o elo social.), processos culturais que intensificam o individualismo, a crise moral (moral
aqui não tem a ver com certo ou errado mas com coesão social) e de autoridade das instituições
responsáveis pelo controle social: escola, tribunais, prisões, etc., impunidade, discriminação, corrupção,
tratamento discriminatório da população mais pobres, interesses políticos e econômicos (ex: guerra dos
EUA x Iraque), entre outros.
BIOLOGICISMO
("pau que nasce torto morre torto" ou "o que é bom já nasce feito")
Há ainda, correntes, mesmo dentro das Ciências Humanas que atribuem comportamentos violentos à
causas genéticas (hormônios, formações cerebrais diferenciadas, etc...) ou atávicas, como é o caso de
KONRAD LORENZ, DESMOND MORRIS, ROBERT ARDREY, ETC.
Segundo ASHLEY MONTANGU, as medidas que buscam soluções dependem da posição adotamos frente à
questão da violência (genética ou adquirida pela cultura).
As diferenças vão aparecer em atitudes e práticas que ocorrem no dia-a-dia das pessoas, na forma como
são tratadas na escola, na vida familiar, nos tribunais, nas prisões, nos serviços sociais de todos os tipos,
nos esforços para equilibrar populações e recursos.
Se somos violentos por natureza, estamos perdendo um tempo precioso tentando ensinar as pessoas a
pensar, a relativizar, buscando reabilitar criminosos, ajudando quem tem dificuldades, querendo
melhorar a saúde mental dos seres humanos.
•Com qual destas teorias você se sente mais confortável, os comportamentos violentos são
geneticamente adquiridos ou culturalmente desenvolvidos?
•Pedir para que se dividam em 5 grupos e cada grupo escreve argumentos defendendo sua posição
•Após cada grupo falar de seu posicionamento, explicar que embora sejam realizadas muitas pesquisas
nesta área, tentando provar que o comportamento violento pode ser encontrado num gene, não foi
possível provar cientificamente isso. Desta forma, qualquer afirmativa neste sentido está totalmente
isenta de dados científicos e fica muito mais pautada em crenças pessoais.
E na escola:
•Como é a violência?
Primeiramente, é necessário entender que a escola não é uma cápsula isolada e protegida da sociedade e
todas as questões relacionadas com a violência que falamos até aqui valem para a escola também.
Ao contrário do que se pensa, a violência na escola não pode ser avaliada por casos isolados de alunos e
profissionais com problemas mais sérios de comportamento, que envolvam questões familiares e de
desenvolvimento. Abordaremos aqui questões mais relativas à violência corriqueira e cotidiana do
ambiente escolar.
Pesquisas realizadas pelo PNV nas escolas por ele atendidas têm mostrado que a grande maioria dos
alunos e profissionais não são habitualmente violentos e nem tampouco convivem em um ambiente
desestruturado ou violento. No entanto, muitas vezes acabam manifestando algumas atitudes violentas
na escola. O que acontece na escola que favorece ou propicia comportamentos violentos?
Estudiosos do tema apontam a escola como um local complexo, palco de várias mudanças sociais e
muitas vezes confuso acerca de seu papel. Em meio a tudo isso, aparecem situações que quando não
causam a violência, agravam o problema. Podemos apontar alguns mais freqüentes:
•Profissionais com discurso bastante repetido e do senso comum. Discursos que se repetem apesar das
pesquisas apontarem o contrário. Isso desvia o foco do problema e impede o aparecimento de boas
soluções.
•Falta de organização e planejamento: não se estabelece prioridades, não se dá continuidade ao que foi
planejado e não se cumpre os combinados.
•Aulas ruins, sem criatividade, sem exemplos que estabeleçam a relação entre o conteúdo dado e o
cotidiano do aluno
•Falta de comprometimento com o trabalho: faltas, não participação das atividades, etc.
•Problemas de comunicação
•Perda da autoridade
•Ambiente tumultuado
•Muitas situações emergenciais as quais a escola não está preparada para resolver
•Estabelecer um planejamento eficaz e um contrato de regras que seja cumprido e cobrado com firmeza
•Incentivar alunos a serem mais ativos nas atividades escolares. Assim serão mais responsáveis e
desenvolverão maior autonomia
•O que vale para aluno vale para todos os profissionais. As regras são iguais para todos. O não
cumprimento das regras pelos profissionais implica no não cumprimento pelos alunos.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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2 - CONTE. M. Os Efeitos da Modernidade: Consumo de Álcool, Drogas e Ilusões. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre.
1995. Ano VI, n.12.
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12- OSÓRIO, L.C. Violência na Contemporaneidade: Uma Abordagem Bio-psico-social. In ARRIETA, G.A et al. A Violência na Escola.
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Curitiba
14- WINNICOT, D. W. Privação e Delinqüência. São Paulo. Editora Martins Fontes, 1999.
Joyce K. Pescarolo
Psicóloga
Equipe operacional PNV
www.naoviolencia.org.br
http://www.naoviolencia.org.br/sobre-aspectos-sociologicos-psicologicos-da-violencia.htm