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Sobre Ecomuseus, ecomuseologia e museus comunitários

Roteio para programa “Encontros com o Património da TSF”1

Pedro Pereira Leite (novembro 2015)

Programa Realizado juntamente com Graça Filipe, do ecomuseu do Seixal e


Santiago Macia, Câmara Municipal de Beja.

Índice
Sobre a origem do conceito de ecomuseu. .......................................... 2 1
Qual é o modelo (conceito) do Ecomuseu ............................................ 3
Origens do modelo de ecomuseu ....................................................... 3
Formas de Ecomuseus no tempo ........................................................ 3
Lugares dos ecomuseus .................................................................... 4
As formas dos ecomuseus e museus de comunidade ............................ 4
Momentos de emergência da Nova Museologia .................................... 5
A ecomuseologia fracassou? .............................................................. 6
Os ecomuseus em Portugal ............................................................... 7
Princípios do Ecomuseu .................................................................... 8
Nova museologia segundo Peter Van Mensh (1990).............................. 9
Nova Museologia segundo Maria Célia (2000) ...................................... 9
Ecomuseologos ................................................................................ 9
A crítica da nova museologia à ecomuseolgia ..................................... 10
A crítica da museologia social aos Museus de Hoje .............................. 11
Museologia Social e Intersubectividade .............................................. 12
Museologia Social e a lógica do Poder ................................................ 12
Bibliografia. .................................................................................... 13

1
http://www.tsf.pt/programa/encontros-com-o-patrimonio/emissao/ecomuseus-e-museus-
comunitarios-4898954.html
Sobre a origem do conceito de ecomuseu.

O termo ecomuseu surge à volta duma mesa de café, em Paris, em


conversa entre Huges de Varine e o conselheiro do secretário do ambiente
de França. Trabalhava-se na IX Conferência Geral do ICOM, que teve como
tema “O Museu a Serviço do Homem, Actualidade e Futuro –o Papel
Educativo e Cultural” Varine, que à época era secretário do ICOM, discípulo
de Georges Henri Riviere que havia reformado o Museu do Homem em Paris
(1897-1985, manifestavam esta preocupação com a relação do homem com
a natureza.
2
Vivia-se na altura as preocupações com a ecologia, uma ciência então
nascente, preocupada com os usos dos recursos naturais sem comprometer
as gerações futuras. Estavem também na ordem do dia a discussão sobre a
função social da ciência, a forma como a educação devia ser mobilizada
para construção do futuro, a questão do desenvolvimento.

O contexto do surgimento do conceito é o de um debate sobre a função dos


museus na sociedade, de que forma que um território sobre o qual vive
uma população se mobiliza a partir das suas memórias. O ecomuseu
representa um debate que cruza a questão da interdisciplinaridade, do
ambiente e a comunidade.
Qual é o modelo (conceito) do Ecomuseu

O modelo de ecomuseu é pensado como um centro de criação de cultural


feito a partir da interacção entre a cultura e a natureza.

Origens do modelo de ecomuseu


Na origem do conceito de ecomuseu estão os museus de ar livre que
existiam no norte da Europa, onde, num cenário de mudança da ruralidade,
se procuravam conservar aldeias e representações das formas de viver das
comunidades rurais. Como secretário de ICOM, Varine transfere e adpata o 3
modelo à realidade francesa.

Formas de Ecomuseus no tempo

De acordo com Varine podem-se considerar três gerações de ecomuseus


que se sucedem no tempo

 Um primeiro tempo os museus de ar livre, que previligiam a


conservação de elementos patrimoniais ”in situ”, com o propósito de
desfrutar um território ou um paisagem. Este modelo aplicado por
Varina no caso francês alarga ao conceito de preservação à ideia de
construção dum território. O seu desenvolvimento: que implica
atividades económicas. É desenvolvido nos anos sessenta.
 Um segundo momento, que Varine aplica ao ecomuseu de do Haut-
Creusot, na antiga região industrial do Loire, procura, dentro da
lógica do desenvolvimento do território, implicar as comunidades. É
desenvolvido a partir de 1971
 Um terceiro momento, desenvolvido pelo ecomuseu do Haute
Beauce, no Québec, a partir da década de oitenta. Neste terceiro
momento, estabiliza-se a ideia de território, participação da
comunidade e desenvolvimento.
 A partir dos anos noventa Varine considera que a ideia de ecomuseus
está em crise mas não os princípios da nova museologia que ele
transporte. Defende um museu integral.
Lugares dos ecomuseus

Os diferentes modelos dos ecomuseus vão expandir-se por todo o mundo.


Partindo do norte da Europa, desenvolvem-se em França. Expandem-se
para o Canadá, para os Estados Unidos para o México e para o Brasil. Na
Europa para Itália e Portugal.

As formas dos ecomuseus e museus de comunidade


Os ecomuseus e museus de comunidade podem apresentar-se de múltiplas
formas, nomes e designações. 4

 Ecomuseus – a partir de Hugues de Varine


 Integral – a partir da proposta de Varine em 85
 museus de vizinhança, a partir das experiencias nos EUU
 museu de território
 museu local ou polinucleado em Portugal

dependendo das tradições de cada país.

Para efeito de análise considera-se as seguintes características:

 Nova museologia deve relevar.


o Território – integra a relações com o ambiente e as sus
múltiplas escalas de interacção
o Comunidade – dever partir de processos participatórios e
questionar as questões da regulação social (poder)
o Objetos- assume a pluralidade dos objetos, das memória e das
heranças. Os objetos são transições que ajudam ao
conhecimento.
o Os processos museológicos desenvolvem-se em cenários, que
podem constitui-se como organizações (museus, centros
culturais, colecções) ou em atos performativos 8em escolas, no
espaço público
 A museologia tradicional centra-se
o No edifício do museu
o Nas colecções
o Nos visitantes
Momentos de emergência da Nova Museologia

 1958 – Conferência do ICOM no Rio de Janeiro – realça a função


educativa dos museus
 1972 – Mesa Redonda de Santiago do Chile. Museus da América
do Sul estabelecem a educação como função social dos museus
 1984 –
o Declaração Declaração de Oaxtepec, sobre a participação da
Comunidade.
o Enconto de Ecomuseus no Quebéc. Reconhece a
necessidade de trabalhar uma nova museologia. 5
 1985 – Declaração de Lisboa sobre a “nova Museologia”
 1992 – Declaração da UNESCO em Caracas- «A Missão do Museu
na América latina hoje: novos desafios.»,
 2013 – “Por uma museologia do Afeto” Declaração do MINOM, Rui
de Janeiro.
 2015 – Declaração da UNESCO sobre “Museus e colecções, a sua
diversidade e função social”
A ecomuseologia fracassou?

Nos anos noventa, perante a crise e decadência de muitos dos ecomuseus


de referencia, discutiu-se a questão dos resultados desta nova museologia
como produtora de “desenvolvimento”. Era então evidente um certo
esgotamento de muitas destas expriências renovadoras na europa e no
Canadá. Contudo, noutros lugares, como por exemplo no México e mas
tarde no Brasil a museologia comunitária e os processos de participação das
comunidades am ações de preservação e reconstrução das suas memórias,
patrimónios e heranças florescia.
6
Na altura conclui-se a relevância para estes processos museológicos dos
processos de gestão, das vontades políticas e da capacidade de
agenciamento dos profissionais e a necessidade de qualificação desses
profissionais.

Em paralelo, verificou-se igualmente que em muitos lugares se constituíram


ecomuseus, que embora com uma preocupação de conhecer um território e
ainda que nem sempre tivessem uma procupação de desenvolver a
participação da comunidade, todos se articulavam na ideia do
“desenvolvimento”. Deste modo, pode-se concluir que a ideia de
”desenvolvimento” de constitui como função da museologia.2

Grosso modo consideram-se hoje três tipos de museus.

 O museu tradicional, com base nas colecções


 O museu espectáculo, que procede essencialmente à
celebração de narrativas, destinadas ao turismo ou a outros
públicos
 Os museus das comunidades, centrado na participação e na
construção de novas narrativas.

2
Ver Pereira, Pedro Cardoso (2010). O património perante o desenvolvimento. Lisboa, tese de
doutoramento em museologia.
Os ecomuseus em Portugal

Em Portugal a ideia de Ecomuseu chega pela mão de Huges de Varine, à


época conselheiro cultural da embaixada francesa em Lisboa.

 Em 1979, surge a ideia de criar um ecomuseu na Serra da Estrela.


Uma ideia de integração da cultura, associada á instalação do Parque
Natural, criado em 1976). A ideia no entanto não vingou
 Em 1982 , instalação do Ecomuseu do Seixal. Participação da Câmara
Municipal, de António Nabais e Graça Filipe.
 1985 – Criação do Museu Etnográfico de Monte Redondo 7

O ecomuseu foi uma figura que depois de desenvolve em algumas


localidade, com maior ou menor extensão de participação das comunidade e
de integração no território. Alguns ecomuseus: Barroso, Zezere, Lousã, Rio
Maior.

Dois casos relevantes: Museu da Comunidade da Batalha, Museu de


Mértola.
Princípios do Ecomuseu

Segundo Matilde Ballargue (1992) um ecomuseu define-se por 4 princípios

a) A identificação com um território e seus habitantes


b) A identificação das necessidades e anseios duma população
c) Atuar como membro duma comunidade. O museu necessita de
capturar o tempo e construir uma agenda (aggionarmento)
d) Aceitar a pluralidade do objetos e dos tempos e espaços. Aceitar que
os museus também se transformam.
8
Noutro documento (1996), e na sequência da sua reflexão crítica sobre o
conceito, Hugues de Varine define ecomuseu como um processo
museológico que contem os seguintes elementos:3

 Um território, um património e uma comunidade


 Um espaço de desenvolvimento integral (museu integral)
 A sustentabilidade do projecto
 A valorização da identidade local
 Um espaço de exercício de cidadania

As mais recentes reflexões sobre o conceito de ecomuseu e museu de


comunidade estabilizaram estes elementos.

Contudo, alguma reflexão crítica tem vindo a chamar a atenção para que
todos estes elementos se situam numa escala local. Defende, que se deverá
acrescentar um elemento de análise do global

3
http://www.hugues-devarine.eu/textes-inedits/31-1996-ecomuseum-or-community-museum.html
Nova museologia segundo Peter Van Mensh (1990)

Peter Van Mensch caracterizou, na sequência da evolução da ideia de


ecomuseologia para nova museologia os seguintes elementos

 A mudança do objetos para a comunidade


 A ampliação do conceito de objeto museógico
 A preservação in situ
 Os conceitos de descentralização (polinucleado)
 A tendência para a conceptualização
 A racionalização da gestão dos museus (introdução de operações de 9
planeamento e gestão de recurso),
 A tendência para musealizar as instituições culturais, criando áreas
de expogracia temporárias ou não

Nova Museologia segundo Maria Célia (2000)

Maria Célia Moura Barrao, pelo seu lado, a partir do Brasil, define esta nova
museologia em 2000, como:

 O reconhecimento de indentidades colectivas


 A utilização da memória colectiva
 A tendência para a reconfiguração dos patrimónios (criar de novo)
 A atuação na museologia como prática social
 A socialização da preservação do objeto museológico
 A interpretação da relação da sociedade com o meio
 A predominância da ação da comunidade

Ecomuseologos
 Ana Mercedes Stoffel – Museu da Comunidade da Batalha
 Georges Henri Riviere – Museu do Homem Paris
 Hugues de Varine - Ecomuseu
 Isbel Vitor – Museu do Trabalha de Setúbal
 Jonh Kinar museus de vizinhança em Anacostia (USA)
 Maria Celia Moura Santos – Processos museológicoa na Bahia
 Mario Chagas – Museus de Favela no Rio de Janeiro
 Mário Moutinho. Museu de Monte Redondo
 Raul Lugo – Otaxepr e Nyarit
 René Rivard e Pierre Maylan – Museu do Quebec
A crítica da nova museologia à ecomuseolgia

Alguns autores têm abordado a museologia social como uma proposta


interdisciplinar crítica que trabalha a partir da relação dos seres humanos
como os objectos socialmente qualificados num determinado cenário.

Autors como Mário Chagas, Mário Moutinho, Nestor Garcial Canclinni ou


Boaventura Sousa Santos tem chamada a tenção para os lugares de
patrimonialização como processos de tensão social susceptíveis de
mostrarm uma tensão libertadora ou reguladora. Os processos
museológicos, numa prespetiva crítica situam-se ora numa dimensão de 10
reificação (de libertação) ora numa dimensão de revivificação (de
regulação)

Na sua dimensão de libertação os processos museológicos:

 Procuram um espaço de pratica de liberdade


 Interrogam o tempo como descoberta da diversidade
 Iniciam processos de conhecimento que questionam o real acomo
proposta de ação comum

A esta dimensão, contrapõe-se a dimensão reguladora, onde os processos


museológicos:

 Organizam o espaço
 Controlam o tempo
 Vigiam e normalizam as pratica.

Esta critica permite entender que os processos museológico são também


lugares de afirmação de poderes, que ora exibem e afirmam hegemonias.
Os processos museológicos constituem-se como espaços rituais mas
também se podem constituir como e lugares de passagem.
A crítica da museologia social aos Museus de Hoje

A oposição entre a reificação e revivicação nos processos museológicos


permite olhar para os museus de hoje em função da sua apropriação pela
sociedade.

Para os museus tradicionais, que privilegiam o objeto e o espectáculo


centram-se na ilusão e na recriação do real. A museologia ou é uma arte do
espetáculo ou uma técnica de conservação que aplica de forma acrítica um
dado saber.
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Para os museus sociais, que privilegiam o encontro e a experimentação de
inovação social, centram-se na produção do cogito: do conhecimento e da
cidadania.

A museologia social faz uma critica ao museus espectáculo na medidade em


que estres processos se centram na produção de marcas. Há um processo
de mercantilização de objetos de referencia (igrejas, fábricas, ruas da
cidade, edifícios notáveis) que face a sua erosão são preservados como
marcas (do tempo no espaço). A critica da museologia social extende-se
igualmente às festas reivivicantes. (os cortejos históricos, romanos,
medievais ou de outros tipos, contrapondo com a criatividade da festa
social.
Museologia Social e Intersubectividade

Os museus socias, com base na comunidade usam os objetos para construir


histórias. Não são os objetos que contam uma história. A inversão desta
relação com o objeto, ou melhor a ultrapassagem desta relação entre os
sujeitos com os objetos permite colocar a museologia social no campo da
relação da intersubjticidade.

A museologia social constrói espaços e tempos de encontro e assume a sua


relação de reconfiguração dos poderes sociais na sua dimensão libertadora.
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Museologia Social e a lógica do Poder
A museologia social procura ultrapassar o impasse criado pela relação
cultura com natureza, assumindo a sua dimensão integral. Na sua lógica
processual de enfrentamento com o real a museologia social assume-se
como uma museologia emancipatória que procura reconstruir encontros.
Nesse sentido, na sua crítica ao paradigma do desenvolvimento contesta a
noção de crescimento infinito e propõe a regulação a partir do encontro e
procura compatibilizar os objetivos de curto prazo com os de longo prazo.
Bibliografia.

Chagas, Mario (2000). “Memória e Poder: dois movimentos”. In Cadernos


de Sociomuseologia nº 19. Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias, Lisboa. 2000

Moutinho, Mário (1989). Museus e Sociedade, Museu Etnológico de Monte


Redondo, Monte Redondo 1989

Moutinho, Mario (1993). Sobre o conceito de museologia social, in Cadernos


de sociomuseologia, nº 1
13
Pereira, Pedro Cardoso (2010). O Património perante o Desenvolvimento,
Lisboa, ULHT, Tese de Doutoramento em museologia

Pessoa, Fernando (1992). – Museologia nas Áreas Protegidas.in Correio da


Natureza, nº 17, pp. 38-39, Serviço Nacional de Parques Reservas e
Conservação da Natureza. 1992. Lisboa.
Lopes, César L, Historia e Ideias da nova museologia. (1988) In: Textos de
Museologia. Cadernos do Minom 1. MINOM, Lisboa, 1991.

Pessoa, Fernando (1993).Sobre ecomuseus e museus comunitários

Primo, Judite dos Santos (1999). “Pensar contemporaneamente a


museologia” in Cadernos de Sociomuseologia, nº 16

Primo, Judite dos Santos (2008). Museus locais e ecomuseologia - Estudo


para o ecomuseu da Murtosa, in Cadernos de Sociomuseologia, nº 30

Rivière, Georges Henri. Definición evolutiva del ecomuseo. Revista Museum,


vol. XXXVII, n°148. Imágenes del ecomuseo. Paris: Unesco, 1985.

SANTOS, Maria Célia Teixeira Moura. (2000) Reflexões museológicas:


caminhos de vida.Cadernos de Sociomuseologia n.º 18, Universidade
Lusófona de Humanidades e Tecnologias, 2000. Lisboa.

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