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CONSELHO EDITORIAL
Karoline dos Santos Neto
Lidiane Melos da Silva
Nassara Cavalcante de Carvalho
Sabrina Andressa de Lima
Wellyka Clawdynne Carvalho Moretti
Coordenação editorial Michele Fernandes Martines
Assistência editorial Lidiane Melos da Silva
Editoração de textos Wellyka Clawdynne Carvalho Moretti/ Sabrina Andressa de LIma
Revisão de textos Karoline dos Santos Neto
Projeto gráfico, formatação, capa e finalização de capa Nassara Cavalcante de Carvalho
Imagens Klycia Lis Melo de Lima
Produção gráfica Nassara Cavalcante de Carvalho
Caro aluno, propomos uma conversa: vamos falar sobre ética? Esse é um tema
que toca de modo muito particular nossa existência. Porque quando falamos de ética,
não estamos falando de algo exterior ao ser humano, é da vida que tratamos. Ela sempre
será o ponto de partida e de chegada de toda reflexão ética. Mas não é sobre qualquer
modo de viver que a ética se ocupa. E qual seria, então? A vida pensada. A cada
momento somos convidados a definir nossa existência no mundo. Alternativas e
escolhas nos são ofertadas. E precisamos, dentre tantas possibilidades existenciais,
identificar a vida que nos parece digna de ser vivida e nos esforçar para a sua realização.
O estudo da ética tem, assim, fundamental importância para a reflexão acerca do
significado do nosso agir consciente no mundo. O olhar acadêmico que vamos lançar
sobre esse tema buscará revelar a sua importância nas ações cotidianas, bem como na
realização das atividades profissionais. Entender a ética como disciplina teórica que
estuda a moral, considerando suas diferentes características e dimensões, será nosso
objetivo central. Você é convidado a adentrar livremente neste campo do cognitivo
humano. A possibilidade de escolher realizar nossas aulas com dedicação e
comprometimento lhe é dada neste momento, pois a liberdade de escolha é um dos
fundamentos da ética e não podemos lhe negar essa possibilidade. Neste primeiro
capítulo, trataremos da realidade humana. Realidade que é demarcada pela situação,
liberdade e consciência. Desejamos, assim, que você tenha muito sucesso neste estudo
sobre a ética. Vamos ao trabalho!
É muito difícil ser o que se é. O que se é? Onde começa o fio dessa meada?
Esse é um dos mistérios da vida. Somos o que papai e mamãe fizeram de nós.
Ou vovô e vovó, titia, babá, professor e irmãos. Depois livros, filmes, peças,
melodias, novelas, hoje internet, nos moldam. Cores que outros artistas
pintaram em nós, eis o que se é.
Entender a vida como um projeto em constate transformação é fundamental para
nossos estudos, pois não podemos falar de normas, costumes e valores – temas
propriamente da reflexão ética – sem antes compreendermos a condição humana.
Frente à discussão que vimos fazendo, perguntamos a você: o homem é um ser
passivo ou ativo, em relação à realidade? O que você acha? Faça essa reflexão
considerando a imagem seguinte.
Pois bem, a nossa vida não se passa como podemos inferir da imagem que você
analisou. Ela não é regida por forças externas das quais não temos nenhum controle;
pelo contrário, somos capazes de fazer escolhas e, sendo assim, a cada deliberação uma
vida diferente se nos aparece.
Então respondendo à indagação feita acima: o homem não é indiferente às coisas
que o cerca; isso significa dizer que ele não é um ser passivo ou determinado, mas ativo.
Não sendo refém das situações reais em que se encontra, o ser humano intervém,
reage, transforma, aceita e rejeita. Como a sua vida não está pronta ao nascer, agir
ativamente no mundo é condição para sua existência, para sua autocriação. Pois aquilo
que a natureza não nos legou, nós inventamos ou criamos.
Temos, assim, mais uma relevante observação: o ser humano se caracteriza
como autônomo e livre.
1.2 A liberdade do agir humano
1.4 A consciência
Ultrapassar a visão imediata do mundo, de como ele apresenta-se a nós com toda
a sua complexidade, exige uma atividade psíquica superior humana, qual seja: a
consciência. A consciência ao lado da situação e da liberdade caracteriza a condição
humana.
Quem nos ajuda a entender melhor essa questão é Vigotski (2009), psicólogo
russo que estudou a origem e o desenvolvimento do psiquismo humano. Para o autor, a
consciência individual é produto da unidade relacional entre indivíduo e sociedade.
Vejamos o que isso quer dizer.
Por meio da consciência podemos ultrapassar os limites situacionais e pessoais e
atuar em planos simbólicos (OLIVEIRA, 1999). Isso, por exemplo, não acontece no
mundo animal. O animal e a natureza são apenas um, não se diferenciam, sendo assim,
lhe resta apenas à adaptação.
Trazemos para essa discussão uma interessante reflexão realizada pelo
Genebrino J. J Rousseau. O texto é: “Discurso sobre a origem da desigualdade entre os
homens” e trata da especificidade do homem em relação aos demais seres da natureza.
Em sua compreensão, os animais são dotados de instintos. Um programa
existencial que herda de sua natureza. O instinto é tudo o que o animal tem e precisa
para conduzir sua vida, nas diferentes situações. O que nos permite concluir que eles já
vêm ao mundo prontos.
Seguindo seu instinto, um gato, programado para comer carne, definhará de
fome do lado de um prato de sementes. Não lhe passa pela cabeça saciar a fome com o
que lhe está sendo oferecido, esse improviso lhe escapa.
E o homem? O homem também tem instinto, afirma o iluminista Rousseau. Uma
criança, por exemplo, busca naturalmente o seio materno. No entanto, acredita que
aquilo que a natureza dá ao homem ao nascer não lhe basta para viver em sociedade,
não é suficiente. Ele sempre precisará de mais e mais e, por isso, o homem necessitará
criar sua própria vida. Algo impossível para os animais.
Pois bem, sendo o gato regido por instintos, não há outra alternativa para ele,
senão buscar atender às exigências de seu estômago. Sua ação não reflete uma escolha.
É puramente uma questão de sobrevivência.
Por outro lado, temos uma criança. Seu comportamento é tipicamente humano.
Na sua relação com o mundo, neste caso com um peixe, é capaz de atribuir valor e não
tratá-lo como alimento.
Diferente dos animais, as conquistas culturais como as ciências, as artes, a
filosofia, etc, não se fixam no cérebro do homem, portanto não são transmitidas às
novas gerações. (LEONTIEV, 1978).
Perceba, caro aluno, que o homem é um ser que nasce não-pronto e, assim, é
obrigado a ir se fazendo ao longo da vida. Nas palavras de Freire (1996, p. 33), “Só
somos porque estamos sendo”.
É justamente essa tomada de consciência de nosso inacabamento existencial que
nos põem em processo de aprendizagem, de crescimento. Diante do exposto, podemos
concluir: a consciência humana não é um dado natural ou inata. Ela constitui-se,
sobretudo, como uma conquista humana, sendo expressão das relações ativas que os
indivíduos mantêm com os outros e com o mundo a sua volta, com a sociedade.
Mas você pode questionar: todo agir do homem é consciente?
Pensemos nas tarefas que realizamos no dia a dia: na maior parte do tempo, elas
são ações espontâneas e naturais. Lembremos, por exemplo, de quando escovamos os
dentes. Essa é uma ação que pode ser feita com o pensamento em qualquer outro lugar.
Assim, não precisamos ficar contando os movimentos que fazemos em cada zona da
boca. Isso acontece naturalmente. É o que conceituamos de consciência irrefletida.
Os procedimentos que envolvem tal ação, como muitas outras, já foram
interiorizados e, em casos normais, não precisamos ficar o tempo todo refletindo,
escolhendo. Muito de nosso agir no mundo dispensa qualquer esforço de pensamento.
Contudo, a vida do homem não é feita só de comportamentos espontâneos.
Precisamos pensar para viver, recomendação filosófica por excelência, pois há
acontecimentos que interrompem o curso natural das coisas. Quando isso acontece,
deixamos de lado nossos comportamentos espontâneos e passamos a realizar uma busca
intencional que visa à compreensão dos problemas que se passam. No terreno da ética, a
consciência é entendida como a capacidade do ser humano de conhecer não apenas
valores, princípios e normas morais, mas também de aplicá-los nas diferentes situações
e de se responsabilizar por suas consequências.
O caráter livre e consciente do homem revela-se, assim, na capacidade que ele
possui de antecipar em sua consciência, os possíveis resultados de sua ação e, ao
fazemos isso, deixamos de agir “no piloto automático” e passamos a coordenar o rumo
de nossas condutas.
Sobre esta discussão, Sócrates, filósofo grego, tem uma máxima radical: "A vida
não examinada não vale a pena ser vivida". Este pensamento toma a vida por objeto de
investigação. Levar uma vida boa, isto é, coerente com os princípios éticos é a coisa
mais importante para o homem. Conseguimos isso, principalmente, por meio da
reflexão, da investigação e do exame crítico de nossos comportamentos.
Resumindo, à luz das considerações apresentadas neste primeiro capítulo,
tivemos a oportunidade de compreender o homem como um ser situado. Esperamos que
tenha ficado claro para você que a existência humana se realiza na temporalidade, isto é,
na história. Somos essencialmente históricos e, por isso, produtores do nosso próprio
jeito de ser e estar no mundo.
Podemos, assim, analisar que é da vida em sociedade que vão surgindo os
valores, as normas e os costumes que sustentam a nossa vida particular e coletiva. Vida
essa que se estrutura em três unidades básicas que se relacionam mutuamente. Você se
recorda quais são? Naturalmente que sim, são elas: a situação, a liberdade e a
consciência. Estes três elementos constituem matéria prima para a reflexão ÉTICA.