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Memórias de um Sargento de Milícias

(Manuel Antônio de Almeida)


 RESUMO:
“Filho de uma pisadela e de um beliscão” (referência à maneira como seus pais flertaram, ao se
conhecer no navio que os conduz de Portugal ao Brasil), o pequeno Leonardo é uma criança
intratável, que parece prever as dificuldades que irá enfrentar. E não são poucas: abandonado
pela mãe, que foge para Portugal com um capitão de navio, é igualmente abandonado pelo pai,
mas encontra no padrinho seu protetor. Esse é dono de uma barbearia e tem guardada boa soma
em dinheiro.
Enquanto o pequeno Leonardo apronta as suas diabruras pela vizinhança, seu pai, Leonardo
Pataca, se envolve amorosamente com a Cigana, mas essa o abandona logo. Ele, então, recorre
à feitiçaria (proibida naquela época) para tentar trazê-la de volta. Porém, no auge da cerimônia
o major Vidigal e seus homens invadem a casa do feiticeiro, açoitam os praticantes e levam
Leonardo Pataca preso. Ele pede socorro à Comadre, que pede ajuda a um Tenente-Coronel que
se considerava em dívida com a família de Pataca, e ele logo é solto.

Já o Compadre (ou padrinho) que cuidava do menino Leonardo havia aprendido o ofício de
barbeiro com o homem que o criara. Foi para a África como médico em um navio negreiro e,
durante a volta, o capitão em seu leito de morte lhe confiou um baú de dinheiro para que o
entregasse a sua filha. Ele, porém, ficou com o dinheiro. Após isso aparenta ter se tornado um
homem de bem e cria o Leonardo como se fosse um filho, sonhando em torna-lo padre. O
menino, porém, causa transtornos por qualquer lugar onde passa e, após levar uma enorme
bronca do padre da cidade, jura vingança.

O padre era um homem que aparentava ser santo, mas na realidade era um lascivo e fora ele
quem roubara a Cigana de Leonardo Pataca. Como o padre passava boa parte de seu tempo na
casa dela, um dia o menino Leonardo resolve armar uma emboscada para desmascará-lo. Ele
vai até a casa da Cigana para informar o horário de uma festa, mas ele mente o horário para que
o padre chegue atrasado. Quando por fim chegou à igreja, o padre repreende ao menino
perguntando-lhe qual era a hora certa do sermão. Leonardo, então, diz que falou o horário
correto e que a Cigana estava de prova, pois ouviu tudo. Sem saber o que fazer frente ao choque
de todos, ele dispensa o menino.

Leonardo Pataca, ao saber que havia sido trocado pelo padre, resolve tentar conquistar Cigana
novamente. Ela, porém, não dá bola para ele. Para se vingar, ele contrata um amigo para causar
uma confusão em uma festa que ela iria promover em sua casa. No momento da bagunça
Vidigal, que já havia sido avisado por Pataca, aparece e prende o padre em flagrante, somente
de cueca, meia, sapato e gorrinho na cabeça. Com isso, Leonardo Pataca consegue ficar mais
um tempo com a Cigana.

O Compadre passou a frequentar a casa de D. Maria, uma rica mulher com gosto pelo Direito,
sempre acompanhado do afilhado Leonardo. Com o tempo o menino foi sossegando, até que
chegou a idade dos amores. Luisinha, uma menina descrita como feia e que era filha do recém-
falecido irmão de D. Maria, foi morar com a tia. No dia da festa do Espírito Santo foram todos
ver a queima de fogos. A menina se divertiu, abraçou Leonardo pelas costas e no final os dois
voltaram de mãos dadas. Após isso, porém, Luisinha voltou a ficar tímida.
Um dia entra em cena José Manuel, homem mais velho que fica interessado em Lusinha por
conta da herança que ela havia recebido do pai e que iria receber de D. Maria, já que ela era a
única herdeira. O Compadre, percebendo os interesses de José Manuel, se junta à Comadre para
tentar espantar o interesseiro. Enquanto isso, Leonardo tenta conquistar Luisinha, mas ele acaba
saindo muito sem jeito e acaba espantando ela. Porém, fica claro que Luisinha também gosta
de Leonardo. Para tentar afastar José Miguel, a Comadre inventa uma série de mentiras, que
logo são descobertas. Então, D. Maria, ao invés de expulsar José, acaba se afastando da
Comadre, agora desacreditada.

Enquanto isso, novamente traído pela Cigana, Leonardo Pataca junta-se com a filha da Comadre
e têm um filho juntos. Pouco depois o Comadre morre e Leonardo vai morar junto com o pai.
Porém, ele e sua madrasta não conseguem se entender e, após muitas brigas, ele foge de casa.
Afastado de todos, Leonardo conhece um grupo que estava fazendo piquenique e reconhece
dentre eles um amigo seu de infância.

Leonardo passa a morar junto com eles na Rua da Vala. Lá vivem duas quarentonas viúvas e
seus seis filhos, sendo que uma tinha três rapazes e outra três moças. Vidinha era a mais bonita
e era disputada por dois primos. Porém, ela acaba se enamorando com Leonardo e os dois
passam o dia namorando dentro de casa, o que desperta ciúmes dos outros rapazes. Esses, por
sua vez, vão falar para Vidigal que Leonardo está vivendo como intruso na casa e tirando
proveito das mulheres. Num dia, Vidigal aparece e leva Leonardo preso, mas esse consegue
fugir.

A Comadre arruma um emprego para Leonardo na ucharia real, mas ele se envolve com a esposa
do patrão e acaba despedido. Vidinha vai até a casa de Toma Largura, ex-patrão de Leonardo,
para brigar com ele e com sua esposa. Enquanto isso, Vidigal consegue prender Leonardo.
Acontece que Toma Largura ficou encantado com Vidinha e começa a cerca-la de todas as
formas. A moça, encarando a ausência de Leonardo como consequência das últimas brigas,
resolve ceder à insistência de Toma Largura.

Obrigado pela polícia, Leonardo começa a servir ao exército. Depois de um tempo, Vidigal o
coloca no batalhão de granadeiros para combater os malandros do Rio. Porém, ao contrário do
que ele pensava, Leonardo continua aprontando dentro do próprio batalhão de polícia. Na
última delas, Vidigal planejava prender um homem que fazia imitações suas para animar festas.
Mas Leonardo acaba se divertindo com as graças do imitador e o avisa das intenções de Vidigal.
Quando o major descobre a traição de Leonardo, prende o moço sob juramento de algumas
chibatadas.

A Comadre fica sabendo disso e vai pedir ajuda à D. Maria e à Maria Regalada, antiga amante
de Vidigal. Elas vão até a casa do major, que as recebe com roupa civil da cintura para baixo e
farda da cintura para cima. Não conseguindo resistir aos pedidos das três mulheres, Vidigal
perdoa Leonardo e ainda promete promove-lo à sargento do exército.

Enquanto tudo isso acontecia, Luisinha estava casada com José Manuel, que a tratava mal e só
se preocupava com o dinheiro da moça. D. Maria resolve preparar uma ação judicial contra o
homem, mas ele acaba morrendo vítima de um ataque apopléctico (parecido com um derrame).
Após o enterro de José Manuel, preparam tudo para o casamento de Luisinha, agora uma mulher
feita e bonita, com Leonardo, bonito e muito elegante em sua farda de sargento do exército.
Algum tempo depois, D. Maria e Leonardo Pataca também morrem e, junto com as outras
heranças que já tinham, receberam mais duas.
Personagens da história: Leonardo Pataca, Maria da Hortaliça, O padrinho, Madrinha,
Major Vidigal, Dona Maria, Luisinha, Vidinha
EXERCÍCIOS
1) Em uma passagem célebre de Memórias de um sargento de milícias, pode-se ler, a
respeito da personagem de Leonardo Pataca, que “o homem era romântico, como se diz
hoje, e babão, como se dizia naquele tempo”. (Manuel Antônio de Almeida, Memórias
de um sargento de milícias. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 19.)

a) De que maneira a passagem acima explicita o lugar peculiar ocupado pelo livro de
Manuel Antônio de Almeida no Romantismo brasileiro?
b) Como essa peculiaridade do livro se manifesta, de maneira geral, na caracterização
das personagens e na construção do enredo?
2) Leia os seguintes trechos de Memórias de um sargento de milícias e Vidas secas, que
descrevem o estado de ânimo das personagens ao final de uma festa:
Acabado o fogo, tudo se pôs em andamento, levantaram-se as esteiras, espalhou-se o povo. D.
Maria e sua gente puseram-se também em marcha para casa, guardando a mesma disposição
com que tinham vindo. Desta vez porém Luisinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço,
como este último tinha querido quando foram para o Campo, foram mais adiante do que isso,
vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. Este ingenuamente não sabemos se se
poderá com razão aplicar ao Leonardo. Conversaram por todo o caminho como se fossem dois
conhecidos muito antigos, dois irmãos de infância, e tão distraídos iam que passaram à porta da
casa sem parar, e já estavam muito adiante quando os sios de D. Maria os fizeram voltar. A
despedida foi alegre para todos e tristíssima para os dois. (Manuel Antonio de Almeida, Memória de
um sargento de milícias. São Paulo: Ática, 2004, Capítulo XX - “O fogo no Campo”, p. 71.)

Baleia cochilava, de quando em quando balançava a cabeça e franzia o focinho. A cidade se


enchera de suores que a desconcertavam. Sinha Vitória enxergava, através das barracas, a cama
de seu Tomás da bolandeira, uma cama de verdade. Fabiano roncava de papo para cima, as abas
do chapéu cobrindo-lhe os olhos, o quengo sobre as botinas de vaqueta. Sonhava, agoniado, e
Baleia percebia nele um cheiro que o tornava irreconhecível. Fabiano se agitava, soprando.
Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam-lhe os pés com enormes reiúnas e
ameaçavam-no com facões terríveis. (Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 82-
83.)

a) Explique as diferenças do estado de ânimo das personagens ao final dos dois episódios.
b) A partir dessa diferença, explique o significado que as duas festas têm em cada um dos
romances.
BARROCO ( FINAL DO SÉCULO XVI ATÉ AS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO
XVII).
- Pérola irregular: classicismo imperfeito.
Retomar o fio da tradição cristã: herança medieval;
- Mantém a visão antropocêntrica (juntamente com o teocentrismo) e reelabora muitos temas e
formas da arte renascentista;
- Consolidação do capitalismo e do absolutismo;
- Contrarreforma católica: reação da Igreja contra o Protestantismo:
- Concílio de Trento: Santa Inquisição: punir hereges;
Companhia de Jesus: propagação da fé católica;
Fusão: teocentrismo medieval e antropocentrismo clássico;
Conflito: fé X razão
Dualidade: homem barroco é constantemente dividido;
Pessimismo: decorrente do conflito existencial (oposto ao otimismo renascentista)
Exagero na vivencia de sentimentos e emoções, subjetividade
- Conflito eu X mundo é acentuado. O artista não conhece o mundo em que vive; pressionado
pelo antagonismo fé X razão.
LITERATURA: figuras de linguagem: antítese, paradoxo, hipérbole, hipérbato e metáfora.
Feísmo: preferência por aspectos cruéis e dolorosos, sangrentos, repugnantes.
Oposição à beleza ideal da arte e da renascença.
LINGUAGEM: rebuscada, complexa e sofisticada:
Cultismo: jogo de palavras, rebuscamento da forma. Predomina na poesia.
Conceptismo :raciocínio lógico, rebuscamento de ideias. Predomina na prosa.
-Silogismo: duas proposições, tira uma 3ª
Sofisma: parte de premissas verdadeiras e chega a uma conclusão impossível.

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