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ESCRITA, ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO1

Amanda Maria Gamarra Machado2


Este capítulo inicia o trabalho da autora Leda V. Tfouni no livro “Letramento e Alfabetização”
em que ela teve por objetivo uma proposta de um novo discurso teórico e abordagem sobre a
questão da aquisição da escrita. Sua peculiaridade, dentro da pesquisa que fez, foi de procurar
entender o avesso do ponto de vista comumente investigado a respeito do tema letramento, que
foi abordar a perspectiva de pessoas não-alfabetizadas, e como isso se relaciona com o conceito
de letramento que hoje se utiliza no meio acadêmico.
Como uma primeira noção ela pôde diferenciar que essas pessoas não-alfabetizadas não são
comparáveis a um grupo de uma sociedade iletrada. A esse lugar, em que se pode localizar
indivíduos que pertencem a sociedades com sistemas escritos, e que não necessariamente
dominam esses sistemas, deu-se o nome de letramento, que é um patamar intermediário entre o
sistema da escrita e as habilidades humanas requeridas para se dominar os usos do sistema.
Isso pode ser assim porque, a autora diz, a relação entre escrita, alfabetização e letramento é como
a de um produto e o seu processo: os sistemas escritos são um produto cultural, a alfabetização e
o letramento são processos de aquisição do sistema escrito.
A alfabetização se torna aquisição do sistema da escrita geralmente através do processo de
escolarização, e por isso, tem o caráter individual de instrução formal.
O letramento envolve aspectos sócio-históricos da aquisição da escrita, indo além da investigação
acerca dos processos de aprendizado e práticas da linguagem de quem é alfabetizado, e que
compreender em escalas amplas do processo dessa aquisição, como práticas psicossociais
correspondentes às “letradas” em sociedades ágrafas, por exemplo, portanto o letramento não
encerra no código gráfico da escrita.
A escrita, por sua vez, surgiu a cerca de 5.000 anos a.C. derivando de processos lentos de fusão e
difusão dos sistemas escritos simbólicos nas sociedades antigas, carregada de influências politico-
economicas mesmo a respeito da complexidade de sua estrutura e dos símbolos gráficos:
pictográficos, ideográficos ou fonéticos, pois o sistema escrito serviu desde o começo a
representação concreta de idéias e do pensamento humano, nunca sendo produto neutro.
A autora busca através de exemplificações como essas e exposições dos pontos de vistas de
estudiosos do tema, que se possa responder a questão a seguir:
“Pode-se encontrar em grupos não alfabetizados características que usualmente são atribuídas a
grupos alfabetizados e escolarizados? Se a resposta for positiva, estaremos mostrando que
letramento e alfabetização são distintos, e devem ser estudados separadamente. [...] E a resposta
de fato é positiva.” (p.13)
A partir desse ponto a autora desenvolve a ideia difundida de que, possivelmente, por ser notado
que o raciocínio lógico e o pensamento por silogismos são subprodutos da escrita, os indivíduos
que não estejam neste domínio, os não alfabetizados, não poderiam desenvolver esse tipo de
pensamento. Mas, segundo as pesquisas da autora Tfouni que ela apresenta, os dados aprovam o
contrário dessa crença: “Ao contrário do que se pensa, os não alfabetizados têm capacidade para
descentrar seu raciocínio e resolver conflitos e contradição que se estabelecem no plano da
dialogia”.

1
Primeiro capítulo do livro “Letramento e Alfabetização”. São Paulo: Cortez, 2010. (Coleção Questões
da Época; v. 15) – p. 30-49. TFOUNI, Leda Verdiani.
2
Acadêmica da 5ª fase do Curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso campus Sinop.
Por conclusão, Tfouni vê que a alfabetização produz não só aculturação ao indivíduo mas também
alienação, e, os indivíduos que não possuem escolarização mas são letrados, nem sempre optam
por buscar a aquisição “concreta” de sua própria cultura, por causa de sua condição, e tudo isso é
fator irremediável da carga ideológica dentro dos sistemas da escrita.

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