Corrente tradicional
A escola tradicional, que reinou soberana até a decana de 1950, tem o professor como foco central, orientando o conteúdo do ensino do
proporcionar ao aluno o conhecimento da evolução das ciências e das grandes realizações da civilização, através da História.
O academicismo e a teoria prevalecem sobre a visão prática, na medida em que o conservadorismo dificulta os processos da inovação e
tomam o currículo excessivamente rígido e conteudista. Predomina o que se denominou “educação bancária”, que faz o aluno um recipiente
passivo em relação ao conhecimento, modelando os currículos como sínteses descritivas dos modelos pré-existentes. Não confere o devido
estimulo à pesquisa, com vistas à invenção e ao desenvolvimento das inovações.
O aluno tende a acumular informações isoladas sobre cada ciência, o que dificulta a percepção da realidade, em relação à teoria. A
educação sistemática é complementada pela família e, de alguma forma, pela igreja.
O professor é o centro do processo de transmissão do conhecimento, monopolizando e transmitindo os saberes de forma sistemática
e padronizada, de acordo com modelos pré-estabelecidos. Como centro de todo processo de aprendizagem, o professor conduz a aula sozinho,
e, através de sua autoridade, procura induzir o aluno à memorização e à repetição.
A pedagogia da escola tradicional é uma proposta de educação centrada na figura do professor, cuja função abrangente vai desde ensinar
a matéria e corrigi-la, até acompanhar o desenvolvimento dos alunos, aconselhando e orientando-os. A metodologia tradicional tem como
princípio a transmissão dos conhecimentos através da aula do professor, geralmente expositiva e sequencialmente predeterminada e fixa,
conferindo ênfase à repetição de exercícios, com exigências de memorização dos conteúdos.
Prisioneira de um currículo que revela um conteúdo programático inflexível, essa vertente tende a valorizar o conteúdo livresco, a
quantidade e àquilo que Paulo Freire chamou de “Educação Bancária”: reduz o aluno a um mero receptáculo do saber, menosprezando e
subestimando seu potencial holístico.
Dessa forma, o professor fala, enquanto o aluno ouve e “apreende”, o que não propicia ao sujeito que “aprende” (ou deveria estar
aprendendo) um papel ativo e autônomo na construção dessa aprendizagem - aceita e vista, por sua vez, como vinda de fora para dentro.
Muitas vezes, esse tipo de educação pouco leva em consideração o universo que cerca a criança, ou melhor, o que ela aprende fora da escola,
bem como seus esforços espontâneos na tentativa de construção pessoal e coletiva de um corpo função da escola é transmitir conhecimentos
significativo de conhecimento. Enfim, a autoridade do professor - como “vetor-transmissor” detentor de todo saber - é a principal força
motriz que rege o espírito dessa vertente.
No contexto do modelo tradicional de ensino, a principal disciplina para a formação geral do aluno formação essa que o levará a sua
adequada inserção posterior na sociedade, bem como poder optar por uma profissão valorizada.
Essa pratica pedagógica, na grande maioria das escolas que a adotam, caracteriza-se pela sobrecarga de informações que são veiculadas
aos alunos, os que o toma, muitas vezes o processo da aquisição de conhecimento burocratizado e destituído de significação prática para a
vida do aluno.
Dessa forma, a postura de uma escola tradicional tende a ser excessivamente conservadora. No processo de alfabetização, apoia-se
principalmente nas técnicas para codificar/decodificar a escrita, não se levando em conta a escrita espontânea da criança em fase de
alfabetização, sendo a cartilha sequencialmente seguida, ao pé da letra, pois é considerada a base do processo de alfabetização.
Corrente Comportamental
Na corrente comportamental predomina o método científico, visando à experimentação cientifica. O homem é o produto do meio
ambiente e deve ser orientado no sentido de exercer o sentido pleno sobre a natureza. A educação e o ensino devem enfatizar o conhecimento
do mundo exterior, de serem orientados dentro de um processo de transmissão de cultura de geração em geração, visando adequar o
indivíduo para o convívio coletivo, em sociedades civilizadas.
A escola é voltada para as questões sociais, com vistas à harmonia social. A mudança do indivíduo, que a escola se propõe a fazer,
consiste na transfonnação de seu comportamento, através do mecanismo da repetição e da punição aos resultados não alcançados. A
aplicação dos métodos científicos está voltada para a experimentação empírica.
Cabe ao professor o planejamento adequado dos conteúdos curriculares, de forma a promover o desenvolvimento eficaz do sistema de
aprendizagem. A situação do aluno é menos passiva em relação à aquisição do conhecimento, e de certa forma, passa a ser coresponsável
pelo controle do processo de aprendizagem.
Através da avaliação sucessiva, em várias etapas, procura-se averiguar se o aluno está realmente aprendendo e se estão sendo alcançados
os objetivos propostos pelo professor.
Principais expoentes dessa Escola: Skinner, Mager, Briggs, Prophan, GlaserPapay.
Corrente Montessoriana
A pioneira e fundadora desta corrente é Maria Motessori, fisioterapeuta e educadora, tendo desenvolvido, na Itália, em 1907, um
sistema educacional com materiais didáticos que objetivam despertar interesse espontâneo na criança, obtendo uma concentração natural
nas tarefas, para não cansá-las ou desinteressá-las. Diverge fundamentalmente da escola tradicional. Até os dias de hoje o método é
considerado original no sentido em conferir total liberdade as crianças que, por sua vez, permanecem livres para se movimentarem pela sala
de aula e suas próprias atividades, utilizando materiais apropriados, tentando sempre gerar o ambiente propício à autoeducação. A
manipulação desses materiais em seus aspectos multissensorial é, igualmente, mn fator fundamental para o aprendizado da linguagem,
matemática, ciências e prática de vida.
O aprendizado da leitura e da escrita se inicia mais cedo, com crianças antes da idade de 05 anos. Os agrupamentos não seguem
delimitações de idade muito rígidas: procura-se agrupar crianças de faixas etárias diferentes, ou seja, com diferença de idade de até três
anos. O professor assume o papel de observador, facilitador e orientador dos fatores de aprendizagem.
Através da aprendizagem auto motivada e individualizada que é a essência da metodologia Montessoriana procura-se desenvolver nas
crianças, a autodisciplina e a autoconfiança o que futuramente gerará a autonomia necessária para a continuação do aprendizado em outros
níveis.
Hoje em dia, podemos encontrar muitas escolas montessorianas, mais especificadamente atendendo crianças da educação infantil, bem
como as quatro primeiras séries do ensino fundamental.
Renovadora
Inteiramente antagônicas aos modelos educacionais tradicionais, o movimento da “pedagogia renovada” é uma resposta direta aos
excessos da vertente tradicional, constituindo-se numa concepção pedagógica que inclui inúmeras correntes, e que de uma maneira ou de
outra, estão ligadas ao movimento da escola nova ou escola ativa (escolanovismo). Tais correntes, embora admitam algum nível de
divergência entre si, assumem um mesmo princípio no sentido de nortear a valorização do indivíduo como ser livre, ativo e social.
As atividades da escola deixam ter o professor como o centro de tudo, incontestável monopolizador do saber. Portanto os conteúdos
disciplinares também cedem lugar para o aluno que, agora, como ser ativo e curioso, passa a ser o centro dos processos. Ademais, o mais
importante não é o resultado final do processo de aquisição do conhecimento, mas todo o processo de aprendizagem em si tendo o aluno
como elemento central.
Em oposição à escola tradicional, a escola nova confere ênfase ao princípio da aprendizagem por descoberta, estabelecendo que a atitude
de aprendizagem, que, por sua vez, aprendem fundamentalmente pela experiência, ou seja, pelo que descobrem por si mesmos. Neste
contexto, o professor passa a ser visto como orientador e facilitador do processo de busca de conhecimento que, por sua vez, deve partir do
aluno, ou melhor, das motivações espontâneas dos mesmos.
Cabe ao professor, portanto, organizar e coordenar as situações de aprendizagem, tentando permanentemente adaptar suas ações às
características individuais dos alunos, para desenvolver suas capacidades e habilidades intelectuais.
Contudo a ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alunos acabou, em muitos casos, por desconsiderar a necessidade de um trabalho
planejado, fato que muito contribuiu para que perdessem de vista os conteúdos que deveríam ser ensinados e aprendidos.
Essa tendência, que na década de 30 teve grande penetração no Brasil, mais especificamente no âmbito do ensino pré-escolar (jardim
de infância), ainda exerce, nos dias de hoje, uma grande influência sobre a maior parte das práticas pedagógicas.
Tecnicista
A década de 70 assistiu a um acentuado desenvolvimento e proliferação da corrente que se denominou de “tecnicismo educacional”,
totalmente inspirado nas teorias behavioristas da aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino.
Portanto, as práticas educacionais da época definiram mna prática pedagógica altamente burocrática, controlada e dirigida pelo
professor, com um currículo pouco flexível aliada a atividades mecânicas, inseridas numa proposta educacional rígida, conteudista e passível
de ser totalmente programada em detalhes. A supervalorização da tecnologia programada de ensino trouxe consequências: A escola se
revestiu de uma grande autossuficiência, reconhecida por ela e por toda a comunidade por ela influenciada, criando desta maneira, a ideia
errônea de que aprender não é algo natural do ser humano, mas que depende exclusivamente de especialistas e técnicas.
Assim, dentro deste contexto, nem o professor, tampouco o aluno são elemento centrais, ou seja, são valorizados: o que é de fato
valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a tecnologia. O professor passa a ser um mero transmissor do conhecimento técnico, ou
melhor, mn mero especialista na aplicação de manuais, estando a sua criatividade restrita aos limites e estreitos da técnica utilizada. A figura
do aluno, por sua vez, passa a se restringir a um indivíduo (ou objeto) que reage mecanicamente aos estímulos de fonna a responder as
respostas esperadas pela escola, pois estas eram as atitudes esperadas pela escola, pois estas eram atitudes esperadas pela instituição parar
que eles obtivessem êxito e avançar. Os interesses dos alunos, bem como o seu processo particular deixam de ser considerados, sendo que a
atenção recebida se limitava a ajustar seu ritmo de aprendizagem ao conteúdo pragmático que deve ser implementado pelo professor dentro
de rígidos cronogramas estabelecidos. Essa orientação foi dada para as escolas pelos organismos oficiais durante os anos 60, e até hoje está
presente em muitos materiais didáticos com caráter estritamente técnico e instrumental.
Corrente Sociocultural
A característica principal desta escola é a sua preocupação direcionada totalmente para as questões sociais, visando possibilitar uma
maior participação do povo nos processos de formação de sua própria cultura. Do ponto do ponto de vista ideológico, apresenta tendência
de elaborar síntese entre o humanismo, o Existencialismo e o Marxismo.
O indivíduo é visto como sujeito ativo e participante na aquisição e construção do conhecimento, inserido no contexto histórico. É um
ser práxis, que age e reflete sobre o mundo, com o claro objetivo de transformá-lo. O indivíduo interage, continuamente, com a sociedade,
em um processo permanente de transformação. A ênfase do processo educacional é a consciência crítica da realidade. A educação deve
propiciar a interação plena entre o professor e o aluno, sem o caráter do oprimido/opressor, com base no diálogo democrático e na maior
liberdade dos participantes no processo ensino/ aprendizagem. A relação professor/ aluno é horizontal, desprovida de mecanismo coercivo
ou repressores.
A metodologia adotada por esta escola baseia-se na criação de simulações realistas, com um conteúdo adaptado a essa finalidade. No
processo de avaliação, o aluno é convidado a ser coautor das propostas e estratégias do ensino, de modo a permitir um sistema de auto
avaliação, que tanto se aplica aos alunos, como aos professores. O principal expoente desta escola, no Brasil, é Paulo Freire.
Corrente humanista
Para a corrente humanista, o indivíduo é peça chave e principal colaborador da construção dos saberes humanos, de modo que toda
ênfase é referida a vida emocional e psicológica do aluno, bem como em suas relações interpessoais. O professor é um facilitador, um
orientador para levar o conhecimento ao aluno, cultivando as experimentações práticas junto com os próprios alunos.
Nessa escola não se aceita a existência de modelos prontos e regras pré-definidas, pois o homem é um ser em permanente evolução, e a
sua vida é um processo contínuo de exercício de utilização de sua capacidade parar superar-se. Dessa forma, o homem e o conhecimento
estão em permanente e inacabado processo dialético, que exige esforço contínuo de atualização. A característica fundamental desta
abordagem é que o indivíduo já nasce com a potencialidade de vir a ser.
Para se ter uma visão do mundo, deve-se proporcionar ao aluno um ambiente de liberdade, a fim de que o mesmo possa se manifestar
e se expressar livre e abertamente (dentro dos princípios de educação e civilidade), o que contribui para o desenvolvimento de suas
potencialidades.
É o próprio homem que constrói seu mundo real. Diferentemente do enfoque da escola sociocultural, o humanismo não enfatiza o
coletivo, nem o trato social, concentrando-se no próprio indivíduo. Daí que a educação deve ser vista com independência suficiente para
não cair na planificação social, nem servir de controle coercitivo à manipulação das pessoas.
Na escola humanista, o ensino procura gerar um ambiente propício à aprendizagem, fazendo com que todos os alunos participem do
processo educativo. Preocupa-se, igualmente, com a promoção da capacidade de autoaprendizagem do aluno, com vista a acelerar seu
desenvolvimento intelectual e afetivo, valorizando a autonomia e a autodeterminação, no combate à heteronomia (dependência de tudo e
de todos).
No processo de aprendizagem, o aluno deve usar sua própria experiência, buscando, buscando construir, ele mesmo, sua capacidade de
estruturar a forma de absorver o conhecimento, tanto no plano cognitivo, como afetivo.
A aprendizagem tende a ser psicologicamente significativa e envolver, politicamente os mais variados aspectos do indivíduo. O
professor, neste caso funciona com um facilitador de aprendizagem, cabendo ao aluno a responsabilidade de definir seus objetivos e dar
significados a eles.
A metodologia adotada, portanto, deve promover o relacionamento interpessoal, a autonomia do educando e a troca de experiências. As
grades curriculares consistem em diretrizes, não acolhendo verdades absolutas. O aluno é o principal responsável pela seleção dos
conteúdos, bem como da respectiva construção do conhecimento através deles.
O processo de avaliação não contempla qualquer padronização dos resultados da aprendizagem, utilizando-se mais os métodos de auto-
avaliação e menos o poder de avaliação do professor.
Libertadora
De um modo geral, podemos dizer que a proposta brasileira atual é a da escola libertadora, embora não seja a esta realidade. No final
dos anos 70 e início dos anos 80, a abertura política decorrente do final do regime militar coincidiu com a intensa mobilização dos educadores
em busca de uma educação crítica a serviço a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas em vigor, objetivando a superação
das desigualdades existentes no interior da sociedade. Ao lado das denominadas teorias “pedagogia libertadora” e da “pedagogia critico
social dos conteúdos”, que foram as correntes adotadas pela facção de educadores marxistas.
A “pedagogia libertadora” originou-se dos movimentos para a educação popular que ocorreram no final da década de 50 e início dos
anos 60, sendo interrompidos pelo golpe militar de 1964, para ter seu desenvolvimento retomado somente no final da década de 70 e início
dos anos 80.
Nessa proposta, a atividade escolar está concentrada em discussões de temas sociais e políticos, bem como em ações diretas sobre
a realidade social vigente na época: analisam-se os problemas, seus fatores determinantes, ao mesmo tempo em que se tenta organizar uma
forma de atuação capaz de transformar a realidade social e política do país. O professor passa a ser um coordenador de atividades que
organiza e atua com a coparticipação dos alunos. No entanto, este movimento esteve muito mais presente nas escolas públicas nos mais
variados níveis de ensino, bem como em universidades, do que no âmbito do ensino privado propriamente.
Corrente Cognitivista
A corrente cognitivista enfatiza a investigação dos processos centrais do indivíduo, bem como a preocupação com a gênese dos processos
cognitivos. Defende a interação do indivíduo com o meio, ou seja, é interacionista; porém, considera a aprendizagem como um resultado
que vai além da interação do indivíduo com o meio ambiente. O objetivo é conferir capacidade ao aluno para assimilar o conhecimento,
com vistas à integração das informações, para processá-las, posteriormente. O homem é visto com um ser receptivo, estágio final, que
naturalmente não existe. As ideias interacionistas predominam como processo gradual de adaptação entre o indivíduo e o meio ambiente, daí
surgindo sua visão do mundo.
A ação educativa deve contribuir para o fortalecimento da democracia, mas seu objetivo principal é fazer com que o aluno conquiste,
gradualmente, sua autonomia intelectual. A escola tem por função ensinar a criança a observar e a pensar, para tirar suas próprias conclusões
sobre o conhecimento estudado e as experiências realizadas. As atividades, realizada em grupo, deve favorecer a formação de um ambiente
democrático e proporcionar o dialogo permanente, em que imperem a liberdade de ação e de opinião. O ensino deve favorecer a estratégia
de aprendizagem através da metodização dos esquemas mentais, para facilitar a assimilação dos conteúdos. O erro deve ser encarado como
parte do processo de aprendizagem e um estágio capaz de levar conclusões mais acertadas. Para tanto, são fundamentais a reciprocidade
intelectual e a cooperação mútua entre o professor e aluno, cabendo ao professor criar desafios, como estratégias de ensino.
Pelo visto, a metodologia adotada pela escola cognitivista é essencialmente motivada pelo individualismo, ao mesmo tempo em que
pelo interativismo, utilizando uma didática permanente voltada para a investigação científica. A avaliação final do processo de ensino e
aprendizagem é realizada mediante a utilização de parâmetros, baseados na teoria do conhecimento, visando averiguar se o aluno assimilou
os conceitos básicos, através da teoria da prática experimental. Principais expoentes: Piaget, Emília Ferreiro e Jerome Braner.
Crítico social dos conteúdos
A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” surge no final dos anos 70 e inicio da década de 80, no mesmo período da pedagogia
libertadora. Sua proposta se fundamenta na reação de alguns educadores que, na época, não aceitavam a pouca relevância que a “pedagogia
libertadora”, ou seja, historicamente acumulado que, por sua vez, deveria constituir importante parte do legado cultural da humanidade.
A “pedagogia crítico-social de conteúdos” assegura, sobre tudo, a função social e política da escola através do permanente do trabalho
com conhecimentos sistematizados, de fonna a colocar as classes populares em condições intelectuais para a sua efetiva inserção e
participação nas lutas sociais vigentes e futuras.
Desta forma, a visão desta nova corrente pedagógica acredita que não basta ter como conteúdo escolar as questões sociais atuais, vista
de maneira isolada e linear, mas é necessário que se tenha domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas, capazes de
conferir aos alunos a capacidade de interpretar suas experiências de vida e, com isto, defender seus direitos individuais e interesses de
classes.
Piagetiana
Com maior evidência a partir dos anos 80, surge um movimento que pretende integrar tendências que possuíam caráter mais psicológico
com outras cujo viés era mais sociológico e político.
Se já era crescente a necessidades de se preocupar com o domínio de conhecimentos formais que propiciassem uma maior participação
ativa e crítica na sociedade se uma adequação psicopedagógica às características de um aluno que pensa, e que, por isso, precisa ser
considerado como ser integral, bem como a de um professor que, por sua vez, domina conteúdos de valor social e formativo. Esse momento
é caracterizado pelo enfoque centrado no caráter social do processo de ensino de aprendizagem e é, por sua vez, marcado pela influência da
psicologia genética.
Tal enfoque inseriu nas questões pedagógicas aspectos muito relevantes, especialmente no que diz respeito à maneira como se entende
as relações entre: desenvolvimento e aprendizagem; a importância da relação interpessoal nesse processo; a relação entre cultura e
educação; o papel da ação educativa ajustada às situações de aprendizagem; e finalmente, às características básicas da atividade de construção
dos esquemas mentais elaborada pelos alunos em cada diferente estágio de sua escolaridade.
A psicologia genética criou perspectivas de aprofundamento da compreensão sobre o processo de desenvolvimento na construção do
conhecimento, mais especificamente, no que diz respeito à compreensão mais sistemática e profunda dos mecanismos pelos quais as crianças
constroem representações internas de conhecimento (esquemas mentais). Os conhecimentos, portanto, são construídos através da interação
direta da criança com seu meio social, em uma perspectiva psicogenética, trazendo uma enorme contribuição que vai muito além dos grandes
estágios de desenvolvimento.
A teoria epistemológica de Piaget e se seus seguidores, com suas relevantes descobertas, acarretaram muitos desvios por parte de
interpretação de vários pedagogos que, por sua vez, passaram a “criar” inúmeras “teorias” para a educação, como se o próprio Piaget as
tivesse elaborado, o que de fato não ocorreu. Neste sentido, a pedagogia em si sequer fazia parte dos objetivos fundamentais das pesquisas
de Piaget.
Assim, encontramos inúmeras escolas que, através de um marketing agressivo se autodenominam piagetianas, mesmo sem aplicarem,
em suas profundas pesquisas de Piaget sobre a teoria do conhecimento, ou sobre a evolução do pensamento infantil, até a adolescência.
Construtivista
A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita chegou ao Brasil em meados dos anos 80, causando um enorme impacto nas correntes
e teorias em vigor, revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais do ensino fundamental. Ao mesmo tempo, tais estados acarretam
uma revisão do tratamento conferido ao ensino e à aprendizagem em diversas outras áreas do saber. Essa investigação evidencia a atividade
construtiva do aluno em relação à língua escrita, reconhecido objeto de estudo escolar, evidenciando a importante presença dos
conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento da escrita já alcançada pela criança, e que, apesar de ainda não coincidirem com a dos
adultos, possui sentido próprio para ela.
De acordo com Schnitman, “o construtivismo é uma teoria post-objetiva do conhecimento que defende que o observador participa de
suas observações e que constrói e não descobre uma realidade, questionando assim os conceitos da verdade, objetividade e realidade”.
A metodologia utilizada nessas pesquisas foi, muitas vezes, interpretada como uma proposta de pedagogia construtivista para a
alfabetização, o que representa um duplo equívoco: (1) a redução do construtivismo à uma teoria psicogenética que tenta explicar a aquisição
da língua escrita;(2) e, por conseguinte, a transformação de uma investigação acadêmica em método de ensino. Esses equívocos proliferam-
se sob o rótulo de “pedagogia construtivista”, contribuindo erradamente para reforçar a crença de que não se deve corrigir os erros das
crianças, pois, fazendo as coisas “do seu jeito”, elas acabam “aprendendo” - por tentativa e erro - aquilo que necessitam aprender.
Enfim, o fato é que essa pedagogia - que se intitula construtivista -, ou melhor, a má interpretação da prática docente em relação a seus
postulados teóricos, acabou trazendo sérios problemas no que diz respeito aos processos de ensino e aprendizagem, pois tira de foco a função
primordial da instituição escolar que é ensinar, intervindo como facilitadora do processo de aprendizagem, a fim de que os alunos aprendam
o que é correto - posto que, sozinhos, teriam mais dificuldades em destrinchar os caminhos do conhecimento.
Em relação à alfabetização podemos citar Terezinha Nunes, que diz:
“Talvez a contribuição mais significativa que o construtivismo já ofereceu à alfabetização foi auxiliar as alfabetizadoras na tarefa de
compreender as produções da criança e saber respeitá-las como construções genuínas, indicadoras de processo, e não como erros absurdos.
Nesse sentido, podem-se destacar dois momentos em alfabetização: antes e depois dos trabalhos de Emília Ferreiro”.
Dessa forma, não existe um “método construtivista” para a educação, no sentido em que certas escolas fazem acreditar, sendo que
“construtivismo” seria muito mais do que uma vertente ou abordagem metodológica; mas uma postura, um olhar permanente do educador
em relação à autonomia do educando que, por sua vez, passa a ser visto e considerado como coprodutor dinâmico, ativo e autônomo de seu
próprio conhecimento - e não mero receptáculo e depositário passivo e alienado de saberes alheio. O aluno é corresponsável pelo seu próprio
processo de aprendizagem.
E por essa razão, não se pode dispensar totalmente o “livro didático” como recurso, pois sua finalidade é a de ordenar o conhecimento,
o ensino e a aprendizagem. Um livro didático bem elaborado pode funcionar como um quadro sinóptico a orientar e facilitar o processo de
aprendizagem, conferindo-lhe consistência, dinamismo eficiência e legitimidade.
Na concepção construtivista, a forma como se constrói o saber é muito ampla, de forma que realmente se incluem as ações de descobrir,
inventar, redescobrir, criar: sendo que aquilo que se faz (as ações), ou seja, que se obtém por resultado, é tão importante quanto o “como” e
o “por que” se faz, estratégia que contribui para que ênfase também seja conferida ao processo de aprendizagem - e não apenas aos resultados
em si.
É sempre importante lembrar que, dentro da concepção construtivista, a ação pedagógica se dará no sentido da compreensão entre dois
fatores: daquilo que o ambiente dispõe (oferece): e das estruturas mentais que o sujeito potencialmente carrega (em termos de carga genética
hereditária). (Texto adaptado de GALVÊAS, E. C.)
O projeto da escola depende, sobretudo, da ousadia dos seus agentes, da ousadia de cada escola em assumir-se como tal, partindo da
“cara” que tem, com o seu cotidiano e o seu tempo-espaço, isto é, o contexto histórico em que ela se insere.
Um projeto político-pedagógico constrói-se de forma interdisciplinar. Não basta trocar de teoria como se ela pudesse salvar a escola.
Pelo que foi dito até agora, o projeto pedagógico da escola pode ser considerado como um momento importante de renovação da
escola. Projetar significa “lançar-se para frente”, antever um futuro diferente do presente. Projeto pressupõe uma ação intencionada com
um sentido definido, explícito, sobre o que se quer inovar. Nesse processo podem-se distinguir dois momentos:
a) o momento da concepção do projeto;
b) o momento da institucionalização e implementação do projeto.
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para
arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de
estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas
tomam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores.
A noção de projeto implica, sobretudo tempo:
a) Tempo político — define a oportunidade política de mn determinado projeto.
b) Tempo institucional — Cada escola encontra-se num detenninado tempo de sua história. O projeto que pode ser inovador para
uma escola pode não ser para outra.
c) Tempo escolar — O calendário da escola, o período no qual o projeto é elaborado é também decisivo para o seu sucesso.
d) Tempo para amadurecer as idéias — Só os projetos burocráticos são impostos e, por isso, revelam-se ineficientes em médio prazo.
Há um tempo para sedimentar idéias. Um projeto precisa ser discutido e isso leva tempo.
Como elementos facilitadores de êxito de um projeto, podemos destacar:
lo) Comunicação eficiente. Um projeto deve ser factível e seu enunciado facilmente compreendido.
2o) Adesão voluntária e consciente ao projeto. Todos precisam estar envolvidos. A corresponsabilidade é um fator decisivo no êxito
de um projeto;
3o) Suporte institucional e financeiro, que significa: vontade política, pleno conhecimento de todos — principalmente dos dirigentes
— e recursos financeiros claramente definidos.
4o) Controle, acompanhamento e avaliação do projeto. Um projeto que não pressupõe constante avaliação não consegue saber se seus
objetivos estão sendo atingidos.
5o) Uma atmosfera, mn ambiente favorável. Não se deve desprezar certo componente mágico-simbólico para o êxito de um projeto,
certa mística que cimenta a todos os que se envolvem no design de um projeto.
6o) Credibilidade. As idéias podem ser boas, mas, se os que as defendem não têm prestígio, comprovada competência e legitimidade,
o projeto pode ficar limitado.
T) Referencial teórico que facilite encontrar os principais conceitos estrutura ao projeto.
A falta desses elementos obstaculiza a elaboração e a implantação de um projeto novo para a escola. A implantação de mn novo
projeto político pedagógico da escola enfrentará sempre a descrença generalizada dos que pensam que de nada adianta projetar uma boa
escola enquanto não houver vontade política dos “de cima”. Contudo, o pensamento e a prática dos “de cima” não se modificarão enquanto
não existir pressão dos “de baixo”. Um projeto político-pedagógico da escola deve constituir-se num verdadeiro processo de
conscientização e de fonnação cívica; deve ser mn processo de recuperação da importância e da necessidade do planejamento na educação.
Tudo isso exige certamente uma educação para a cidadania.
• O que é “educar para a cidadania”?
A resposta a essa pergunta depende da resposta à outra pergunta: — “O que é cidadania?”.
Pode-se dizer que cidadania é essencialmente consciência de direitos e deveres e exercício da democracia. Não há cidadania sem
democracia.
A democracia fundamenta-se em três direitos:
• direitos civis, como segurança e locomoção;
• direitos sociais, como trabalho, salário justo, saúde, educação, habitação etc.
• direitos políticos, como liberdade de expressão, de voto, de participação em partidos políticos e sindicatos etc.
O conceito de cidadania, contudo, é um conceito ambíguo. Em 1789 a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão estabelecia as
primeiras nonnas para assegurar a liberdade individual e a propriedade. Existem diversas concepções de cidadania: a liberal, a neoliberal, a
progressista ou socialista democrática (o socialismo autoritário e burocrático não admite a democracia como valor universal e despreza a
cidadania como valor progressista).
Alunos costumam comentar entre si: “gosto desse professor porque ele tem didática”. Outros dizem: “com essa professora a gente tem
mais facilidade de aprender”. Provavelmente, o que os alunos estão querendo dizer é que esses professores têm um modo acertado de dar
aula, que ensinam bem, que com eles, de fato, aprendem. Então, o que é ter didática? A didática pode ajudar os alunos a melhorar seu
aproveitamento escolar?
O que um professor precisa conhecer de didática para que possa levar bem o seu trabalho em sala de aula? Considerando as mudanças
que estão ocorrendo nas formas de aprender e ensinar, principalmente pela forte influência dos meios de informação e comunicação, o que
mudar na prática dos professores?
É certo que a maioria do professorado tem como principal objetivo do seu trabalho conseguir que seus alunos aprendam da melhor
forma possível. Por mais limitações que um professor possa ter (falta de tempo para preparar aulas, falta de material de consulta,
insuficiente domínio da matéria, pouca variação nos métodos de ensino, desânimo por causa da desvalorização profissional, etc.), quando
entra em classe, ele tem consciência de sua responsabilidade em proporcionar aos alunos um bom ensino. Apesar disso, saberá ele fazer um
bom ensino, de modo que os alunos aprendam melhor? É possível melhorar seu desempenho como professor? Qual é o sentido de
“mediação docente” nas aulas?
Os estilos de professor
Há diversos tipos de professores. Os mais tradicionais contentam-se em transmitir a matéria que está no livro didático, por meio de
aula expositiva. É o estilo professor-transmissor de conteúdo. Suas aulas são sempre iguais, o método de ensino é quase o mesmo para
todas as matérias, independentemente da idade e das características individuais e sociais dos alunos. Pode até ser que essas práticas de
passar a matéria, dar exercícios e depois cobrar o conteúdo na prova, tenham algum resultado positivo. Mesmo porque alguns alunos
aprendem “apesar do professor”. O mais comum, no entanto, é o aluno memorizar o que o professor fala, decorar a matéria e mecanizar
fórmulas, definições etc. A aprendizagem que decorre desse tipo ensino (vamos chamá-la de mecânica, repetitiva) serve para responder
questões de uma prova, sair-se bem no vestibular ou num concurso, mas ela não é duradoura, ela não ajuda o aluno a formar esquemas
mentais próprios. O aluno que aprende mecanicamente, na maior parte dos casos, não desenvolve raciocínio próprio, não forma
generalizações conceituais, não é capaz de fazer relações entre um conceito e outro, não sabe aplicar uma relação geral para casos
particulares.
O professor transmissor de conteúdo não favorece uma aprendizagem sólida porque o conteúdo que ele passa não se transforma em
meio de atividade subjetiva do aluno. Ou seja, o aluno não dá conta de explicar uma ideia, uma definição, com suas próprias palavras, não
saber aplicar o conhecimento em situações novas ou diferentes, nem na sala de aula nem fora dela. A participação do aluno é pouco
solicitada, e quando o professor faz uma pergunta, ele próprio imediatamente a responde. É possível que entre os professores que se
utilizam desses procedimentos de ensino haja alguns que levem os alunos a aprender os conceitos de forma mais sólida, que saibam lidar
de forma autônoma com os conceitos. Mas não é o caso da maioria. O que se vê nas instituições de ensino superior é um ensino meramente
expositivo, empírico, repetitivo, memorístico. Os alunos desses professores não aprendem solidamente, ou seja, não sabem lidar de forma
independente com os conhecimentos, não “interiorizam” os conceitos, o modo de pensar, raciocinar e atuar, próprios da matéria que está
sendo ensinada e, assim, os conceitos não se transformam em instrumentos mentais para atuar com a realidade.
O estilo professor-facilitador aplica-se a professores que se julgam mais atualizados nas metodologias de ensino, eles tentam variar
mais os métodos e procedimentos. Alguns deles preocupam-se, realmente, com certas características individuais e sociais dos alunos,
procuram saber os conhecimentos prévios ou as experiências dos alunos, tentam estabelecer diálogo ou investir mais no bom
relacionamento com os alunos. Outros tentam inovar organizando trabalhos em grupo ou estudo dirigido, utilizando recmsos audiovisuais,
dando tarefas que requerem algum tipo de pesquisa. Há, também, em algumas áreas de conhecimento, professores que entendem que a
melhor forma de aprender é colocar os alunos no laboratório na crença de que, fazendo experiências, lidando com materiais, assimilam
melhor a matéria. Essas formas de trabalho didático, sem dúvida, trazem mais vantagens do que aquelas do ensino tradicional. Entretanto,
quase sempre esses professores acabam voltando às práticas tradicionais, por exemplo, não sabem utilizar a atividade própria do aluno para
eles próprios formando conceitos. Com efeito, ao avaliar a aprendizagem dos alunos pedem respostas memorizadas e a repetição de
definições ou fórmulas. Mesmo utilizando técnicas ativas e respeitando mais o aluno, as mudanças metodológicas ficam apenas na forma,
mantendo empobrecidos os resultados da aprendizagem, ou aluno não forma conceitos, não aprende a pensar com autonomia, não
interioriza ações mentais. Ou seja, sua atividade mental continua pouco reflexiva.
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
Poderiamos mencionar outros estilos de professor: o professor-técnico (preocupado pelo lado operacional, prático da sua matéria, seu
objetivo é saber-fazer, não fazer-pensar-fazer); o professor-laboratório (acha que única forma eficaz de aprender é a pesquisa ou a
demonstração experimental); o professor-comunicador (o típico professor de cursinhos que só sabe trabalhar o conteúdo fazendo graça,
não dando conta de colocar o próprio conteúdo no campo de interesses e motivos do aluno).
Em resmno, muitos professores não sabem como ajudar o aluno a, através de fonnas de mobilização de sua atividade mental, elaborar
de fonna consciente e independente o conhecimento para que possa ser utilizado nas várias situações da vida prática. As atividades que
organizam não levam os alunos a adquirir conceitos e métodos de pensamento, habilidades e capacidades mentais, para poderem lidar de
fonna independente e criativa com os conhecimentos e a realidade, tomando esses conceitos e métodos meios de sua atividade.
Sugerimos para quem deseja um ensino eficaz, tendo em vista aprendizagens mais sólidas dos alunos, a metáfora do professor- -
mediador. Quais são as características do professor mediador? O que caracteriza uma didática baseada no princípio da mediação? Numa
fonnulação sintética, boa didática significa um tipo de trabalho na sala de aula em que o professor atua como mediador da relação
cognitiva do aluno com a matéria. Há uma condução eficaz da aula quando o professor assegura, pelo seu trabalho, o encontro bem
sucedido entre o aluno e a matéria de estudo. Em outras palavras, o ensino satisfatório é aquele em que o professor põe em prática e dirige
as condições e os modos que asseguram um processo de conhecimento pelo aluno. Vejamos isso mais detalhadamente.
Uma pedagogia que valoriza os conteúdos e as ações mentais correspondentes ao modo de constituição desses conteúdos
Uma boa didática, na perspectiva da mediação, é aquela que promove e amplia o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos
alunos por meio dos conteúdos. Conforme a teoria lnstórico-cultural, fonnulada inicialmente pelo psicólogo e pedagogo russo Lev
Vigotsky, o objetivo do ensino é o desenvolvimento das capacidades mentais e da subjetividade dos alunos através da assimilação
consciente e ativa dos conteúdos, em cujo processo se leva em conta os motivos dos alunos . O ensino é meio pelo qual os alunos se
apropriam das capacidades humanas fonnadas historicamente e objetivadas na cultura material e espiritual. Essa apropriação se dá pela
aprendizagem de conteúdos, habilidades, atitudes, fonnadas pela humanidade ao longo da história. Confonne as próprias palavras de
Vigotsky:
A intemalização de fonnas culturais de comportamento envolve a reconstrução da atividade psicológica tendo como base as operações
com signos. (...) A intemalização das atividades socialmente enraizadas e historicamente desenvolvidas constitui o aspecto característico da
psicologia humana. (1984, p. 65)
Esse processo de interiorização ou apropriação tem as seguintes características:
a) O desenvolvimento mental dos alunos depende da transmissão-apropriação de conhecimentos, habilidades, valores, que vão sendo
constituídos na história da humanidade;
b) O papel do ensino é propiciar aos alunos os meios de domínio dos conceitos, isto é, dos modos próprios de pensar e de atuar da
matéria ensinada, de modo a fonnar capacidades intelectuais com base nos procedimentos lógicos e investigativos da ciência ensinada;
c) A ação de ensinar, mais do que “passar conteúdo”, consiste em intervir no processo mental de fonnação de conceitos por parte dos
alunos, com base na matéria ensinada;
d) As relações intersubjetivas na sala de aula implicam, necessariamente, a compreensão dos motivos dos alunos, isto é, seus
objetivos e suas razões para se envolverem nas atividades de aprendizagem.
e) A aprendizagem se consolida melhor se forem criadas situações de interlocução, cooperação, diálogo, entre professor e alunos e
entre os alunos, em que os alunos tenham chance de fonnular e opera com conceitos.
Na mesma linha teórica, Davydov afirma que o papel do ensino é desenvolver nos alunos as capacidades intelectuais necessárias para
assimilar e utilizar com êxito os conhecimentos. Ele escreve:
Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da escola contemporânea não consiste em dar às crianças uma soma de fatos
conhecidos, mas em ensiná-las a orientar-se independentemente na informação científica e em qualquer outra. Isto significa que a escola
deve ensinar os alunos a pensar, quer dizer, desenvolver ativamente neles os fundamentos do pensamento contemporâneo para o qual é
necessário organizar um ensino que impulsione o desenvolvimento. Chamemos esse ensino de desenvolvimental. (Davydov, 1988).
Confonne Davidov, para que o ensino esteja voltado para o desenvolvimento das capacidades intelectuais dos alunos, é preciso que o
professor conheça quais são os métodos de investigação utilizados pelo cientista (em relação à matéria que ensina), pois é nesses métodos
que encontrará as capacidades intelectuais a serem fonnadas pelos estudantes enquanto estudam a matéria. Em outras palavras, para
aprender a pensar e a agir com base nos conteúdos de uma matéria de ensino é preciso que os alunos dominem aquelas ações mentais
associadas a esses conteúdos, as quais são encontradas nos procedimentos lógicos e investigativos próprios da ciência que dá origem a
esses conteúdos. Conclui-se, daí, que a um professor não basta dominar o conteúdo, é preciso que saiba mais três coisas: a) qual é o
processo de pesquisa pelo qual se chegou a esse conteúdo, ou seja, a epistemologia da ciência que ensina; b) por quais métodos e
procedimentos ensinará seus alunos a se apropriarem dos conteúdos da ciência ensinada e, especialmente, das ações mentais ligadas a esses
conteúdos; c) quais são as características individuais e socioculturais dos alunos e os motivos que os impulsionam, de modo a saber ligar
os conteúdos com esses motivos.
Moun
APOCTIWS PARA CONCUBOÇ PÚBLICOS
A aprendizagem corresponde à atividade de gravar respostas corretas e eliminar as incorretas ou desagradáveis, isto é, dentro de um
processo de recompensas ou opiniões. Este processo denomina-se “Lei de Efeito”.
Behaviorismo/Aprendizagem
O comportamento segundo a psicologia é compreendido para poder prevê-lo e se possível modificá-lo.
Segundo Barros (1998), a relação estímulo-reposta é demonstrada através do esquema de comportamento E-R, onde E significa
estímulo ou conjunto de estímulos e R significa reação ou resposta. Sobre este esquema pode-se dizer que um estímulo provoca uma
reação (ou resposta) ou uma “reação (ou resposta) é provocada por um estímulo”.
Um aspecto central do comportamento como corrente associacionista é seu anticonstrutivismo. Sua teoria é do tipo E-R (estímulo e
resposta). Todo o comportamento, por mais complexo que seja, é redutível a uma série de associações entre elementos simples, ou seja,
entre estímulos e respostas.
O comportamento tem sido definido como “o conjunto das reações ou respostas que mn organismo apresenta às estimulações do
ambiente”. (Barros, 1998, p. 19). O comportamento é classificado em inato ou natural (invariável), adquirido ou aprendido (variável) e em
respondente ou operante.
No comportamento inato ou natural (invariável), os seres da mesma espécie apresentam reações quando recebem determinado
estímulo. Ao contrário no comportamento adquirido ou aprendido (variável), as reações necessitam de aprendizagem para se processarem
quando o organismo recebe o estímulo.
A aprendizagem é definida como sendo a modificação do comportamento ou aquisição de novas respostas ou reações. Toda a
aprendizagem consiste em condicionar respostas. A aprendizagem oral, da linguagem escrita, por exemplo, são reações apresentadas a
vários estímulos devido a certas condições de experiência anterior (Barros 1998).
Segundo Gates citado por (Barros 1998), exemplifica com muita clareza como se dá a aprendizagem pelo processo de condi-
cionamento: quando se mostra a uma criança uma folha, esta reage fazendo a representação mental do objeto. Se, ao mesmo tempo em que
o objeto é mostrado, se disser a palavra “folha “e se repetir esta certo número de vezes, a criança chegará a pensar no objeto apenas por
ouvir a palavra”“. Neste caso aprende a significação da linguagem falada. Mais tarde, podemos mostrar o objeto enquanto a criança olha a
palavra impressa.
Tempos depois, o objeto, um retrato do objeto, a palavra falada, escrita ou impressa podem se ligar às palavras francesas “la feuille”, e
reagindo aos estímulos simultâneos, a criança chegará a pensar no objeto ao ver a palavra francesa.
Na concepção behaviorista, educar seria estabelecer “condicionamentos” na infância. Skinner, em seus experimentos, observou que
uma reação é repetida quando é seguida de um efeito agradável. Edward Lee Tomdike fonnulou a Lei do Efeito que considera que o
organismo tende a repetir a reação do efeito agradável. Este efeito que ocorre após o sujeito apresentar uma reação é chamado de reforço
positivo. E, de acordo com Barros (1998), é um requisito necessário para que ocorra a aprendizagem. É neste sentido que o sujeito do
bahaviorismo é passivo, e a aprendizagem não é uma qualidade intrínseca do organismo, mas necessita ser impulsionada a partir do
ambiente.
Skinner (apud Barros 1998) conceitua os reforços como eventos que tomam mna reação mais frequente, e aumentam a probabilidade
de sua ocorrência. Os reforços se classificam em positivos e negativos. Os reforços positivos consistem na apresentação de estímulos, no
acréscimo de um evento à situação. Os reforços negativos por sua vez, consistem na remoção de um evento. Nestes dois tipos de reforços,
o efeito será o mesmo e a probabilidade da resposta será aumentada.
Os reforços positivos se constitui na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa a situação e os reforços negativos é a
remoção de alguma coisa da situação. Classificam-se também em primários e secundários. Nos reforços primários a apresentação de
estímulos é de importância biológica, e o reforço secundário é a apresentação de mn estímulo, que antes era neutro, passa a associar-se a
estímulos de importância biológica e sua propriedade reforçada foi adquirida como, por exemplo, o elogio, o sorriso, o dinheiro, etc.
O organismo humano seria então, controlado pelas contingências primárias (naturais), e nisso consiste o processo de educação ou
treinamento social, isto é, aumentar as contingências de reforço e sua frequência utilizando-se de sistemas organizados, pragmáticos, que
lançam mão de reforços secundários associados aos primários (naturais). A finalidade dessa associação é de obter detenninados
comportamentos preestabelecidos, seja com maior ou menor rigor. O objetivo do reforço é, portanto, tomar mna resposta frequente, ou
seja, evitar a extinção (remoção) de mna resposta do comportamento do sujeito (Mizukami, 1986).
Aplicação no Processo Ensino-aprendizagem
Segundo Mizukami (1986), no ensino-aprendizagem os comportamentos dos alunos são listados e mantidos por condicionamentos e
reforçadores arbitrários tais como elogios, graus, notas, prêmios, reconhecimento do professor e colegas, prestígio, etc.; os mesmos estão
associados com uma classe reforçadora mais generalizadas como o diploma, vantagens da futura profissão, a aprovação final do curso,
status, etc.
O ensino para Skinner corresponde ao arranjo de contingências para uma aprendizagem eficaz. Este arranjo depende de elementos
observáveis na presença dos quais o comportamento ocorre, seja uma resposta, um evento antecedente um evento consequente (reforço) e
fatores contextuais.
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
Para este mesmo autor, de acordo com a teoria do reforço, é possível programar o ensino para qualquer comportamento, como o
pensamento crítico e criatividade, desde que seja possível definir previamente o plano final desejado.
A proposta de aprendizagem será estruturada de maneira a dirigir os alunos pelos caminhos adequados que conduzirão ao com-
portamento final desejado. Ainda segundo Skinner, o comportamento humano é modelado e reforçado, o que implica em recompensa e
reforço. Para proceder a análise comportamental do ensino, é necessário considerar os elementos do ensino, bem como as respostas do
aluno, pois o ensino é composto por padrões de comportamento, seguindo objetivos prefixados (Mizukami, 1986).
No comportamentalismo, o homem é considerado como uma consequência das influências do meio ambiente é considerado como
produto do meio (Mizukami, 1986) e este pode ser manipulado. Para que a formulação das relações entre o organismo e seu meio ambiente
sejam adequadas, é necessário considerar três aspectos: a ocasião na qual a resposta ocorreu a própria resposta e as consequências
reforçadas. A relação entre esses elementos constituem as contingências de reforço.
Skinner (1986) considera que qualquer ambiente físico ou social, deve ser avaliado de acordo com seus efeitos sobre a natureza
humana. Para este autor, o conhecimento tem como base a experiência planejada, sendo resultado direto da experiência. Sua preocupação,
portanto, não é com a aprendizagem, e sim com o comportamento observável.
A educação está intimamente ligada à transmissão cultural, pois deverá transmitir os conhecimentos assim como os comportamentos
éticos, práticos e sociais. São habilidades consideradas básicas para a manipulação e controle do mundo/ambiente (cultural etc.). A
educação tem como objetivo básico promover mudanças desejáveis no sujeito. Essas mudanças implicariam na aquisição de novos
comportamentos e também na modificação dos comportamentos já existentes (Mizukami, 1986).
A escola direciona os comportamentos dos alunos segundo determinadas finalidades sociais. O conteúdo pessoal será socialmente
aceito. Os conteúdos programáticos serão estabelecidos e ordenados nmna sequência lógica e psicológica. É matéria de ensino apenas o
que é redutível ao conhecimento observável e mensurável.
Papel do professor e do aluno
- Papel do Professor
Em uma abordagem behaviorista (comportamentalista), o professor é considerado transmissor de conhecimento ao aluno e administra
as condições da transmissão do conteúdo. Nesta teoria o professor é considerado um planejador e mn analista de contingências. O
professor deverá decidir os passos de ensino, os objetivos intermediários e finais com base em critérios que fixam os comportamentos de
entrada e os comportamentos que o aluno deverá exibir durante o processo de ensino.
O professor tem uma função de arranjar as contingências de reforço de maneira a possibilitar o aumento da probabilidade de
ocorrência de uma resposta a ser aprendida. Ela deverá dispor e planejar melhor as contingências desses reforços em relação às respostas.
O professor acaba por ser um elo de ligação entre a verdade científica e o aluno.
O professor tem também a função de garantir a eficácia da transmissão do conhecimento, não importando as relações afetivas e
pessoais dos sujeitos envolvidos no processo ensino- aprendizagem. Sua tarefa é modelar respostas apropriadas aos objetivos instru-
cionais, sendo que a principal é conseguir um comportamento adequado.
Ao mestre cabe questionar cada conteúdo a ser apresentado. O aluno é incapaz de assimilar algo novo. Uma vez que o sujeito é
considerado totalmente determinado pelo mundo do objeto ou meio físico e social. Em uma sala de aula, o mundo é representado pelo
professor que acredita que somente ele pode produzir e transferir novos conhecimentos para o aluno. Este processo, portanto, não
considera o que o estudante sabe. Em nível de abstração ou formalização, tudo pode ser transferido ou transmitido para o aluno (Becker,
1989).
- Papel do aluno
Em uma abordagem behaviorista o aluno não possui qualquer conhecimento. A capacidade de conhecimento do aluno vem do meio
físico/social. O aluno recebe, escuta, escreve e repete as informações tantas vezes quanto forem necessárias, até acumular em sua mente o
conteúdo que o professor repassou.
O aluno aprende se executar os conteúdos que o professor determinar. Ele é responsivo, aprende se o professor ensinar (Becker,
1989). Com base nesta informação pode-se dizer que o professor transmite e ensina todo o conteúdo em questão ao aluno. O aluno não cria
nem inventa, reproduz o que aprende.
• Transmite o conhecimento;
• Detennina o objetivo;
• Detennina o ritmo do ensino;
• Fixa os comportamentos finais do aluno;
• Avalia o aluno segundo os objetivos alcançados.
Tarefa prescrita do aluno
• Escuta o professor;
• Repete as infonnações transmitidas pelo mestre, tantas vezes quanto forem necessárias, para aprender o conteúdo transmitido;
• Questiona pouco (ou quase nada);
• Procura repetir o conhecimento do professor (na maioria das vezes utilizando-se do mesmo vocabulário);
• É pouco criativo
Avaliação no Processo Ensino-aprendizagem
O aluno será avaliado ao atingir os objetivos propostos, isto é, quando o programa for conduzido até o final de maneira correta. A
avaliação será ligada aos objetivos estabelecidos. Pode-se fazer pré-testagem, com a finalidade de conhecer os comportamentos prévios e a
partir daí, planejar e executar as etapas seguintes do processo ensino-aprendizagem. Os alunos são modelados à medida que tem
conhecimento dos resultados de seu comportamento. No final do processo ocorre a avaliação com o objetivo de medir os comportamentos
finais.
Teorias de Aprendizagem: Gestalt
Esta teoria Tem com base a representação global de mna situação. As escolas da corrente dos teóricos de campo são representadas na
Gestalt e suas teorias são centradas sobre a atividade do indivíduo.
Segundo Barros (1988), a Gestalt é representada pelos alemães Wertheimer, Koffka e Kõhler, e Para os representantes da corrente
Gestáltica (psicologia da fonna) a atividade e o comportamento do sujeito são detenninados de acordo com o modo pelo qual vê e
compreende a estrutura dos elementos da situação problema. Para Koffka a percepção e pensamento não podem ser reduzidos a um
acúmulo de sensações ou associações individuais, mas, são detenninadas pela estrutura global.
Para Pozo (1988), o paradigma da aprendizagem consiste na solução de problemas que tem como princípio o todo (a globalidade) para
as partes (o todo não pode ser compreendido pela separação das partes) e na organização dos padrões de percepção.
Em Pozo (1998), na Gestalt, as idéias de Kõhler (1929) são opostas aos princípios do associacionismo (ou anticonstrutivista). Esta
escola não aceita a concepção do conhecimento como a soma de partes preexistentes. A unidade mínima de análise é a estrutura ou a
globalidade. Rejeita a ideia de que o conhecimento tenha natureza cumulativa ou quantitativa, de tal maneira que qualquer atividade ou
procedimento podería transfonnar-se em várias partes aleatoriamente separadas.
A insistência na estrutura global dos fatos e dos conhecimentos concede maior importância à compreensão do que a simples
acumulação de conhecimentos. Isso fez com que Wertheimer em 1945 distinguisse o pensamento reprodutivo do pensamento produtivo. O
pensamento reprodutivo se constitui de conhecimentos previamente adquiridos à situações novas e o pensamento produtivo por sua vez,
implica no descobrimento de uma organização perceptiva ou conceituai, com relação ao problema a ser tratado, isto é, a compreensão real
do problema, como compreender o problema que é vantajoso em relação a simples aprendizagem mnemônica ou reprodutiva. Isso porque
essa compreensão resulta mais fácil de ser generalizada a outros problemas estruturalmente semelhante.
Para este autor, obter a solução produtiva de um problema é algo fundamental para a compreensão do mesmo. Para que ocorra uma
solução produtiva de um problema, é necessário captar aspectos estruturais da situação além de elementos que a compõem (Pozo, 1998).
Gestalt x Aprendizagem
O psicólogo Wertheimer (1945) utiliza-se da história da ciência como área de estudo da psicologia do pensamento e da aprendizagem.
Este autor considera que cada um dos mecanismos de aprendizagem associativa corresponde a um mecanismo alternativo nas concepções
gestálticas (Pozo 1998).
Wertheimer considera ainda que a associação é como a compreensão da relação estrutural entre uma série de elementos que
necessitam uns dos outros, auxiliando dessa forma a captar as relações entre os elementos dentro da estrutura. O “ensaio e erro” deixaria de
ser aleatório (incerto), para se converter em mna comprovação estrutural de hipóteses significativas. O aluno aprende reinterpretando seus
erros e acertos, compreendendo as razões estruturais que o tomaram possível.
A compreensão de um problema para Wertheimer está vinculada a uma tomada de consciência de seus aspectos estruturais ou
“insight”, que significa “achar subitamente a solução para uma situação difícil”, “perceber relações entre os elementos de uma situação”. O
“insight” só é possível quando mna situação de aprendizagem é arranjada de maneira que se possa observar todos os seus aspectos. Se
houver a omissão de qualquer um dos aspectos, não ocorrerá o “insight”, portanto, não haverá solução.
Se um problema tiver várias estruturas e alguma delas resultar mais imediata ou mais fácil para que o sujeito perceba a reestruturação
dessas estruturas vai se apresentar mais facilmente, mais imediata.
Segundo Barros (1998), na teoria da Gestalt o sujeito tem várias formas de aprendizagem, que são: gradação, diferenciação,
assimilação e redefinição.
A aprendizagem por gradação implica em estabelecer um relacionamento sucessivo entre as várias partes de algo percebido. Kõlher,
em seus experimentos, demonstrou que o aluno quando do início de sua aprendizagem, percebe a forma total, a Gestalt das coisas. O autor
aconselha que o ensino inicial para os alunos, deve ser composto de frases e palavras completas oportunizando o estabelecimento deste
tipo de ralação. Em uma frase completa, o aluno percebe as sílabas e as letras.
O processo de diferenciação consiste em destacar, no todo, mna parte do objeto que se está percebendo. Isso ocorre quando um
elemento é apresentado em diferentes situações, permitindo que a mente o destaque como sendo o mais notado entre os demais, ou como
sendo uma figura, permitindo que as partes restantes formem o fundo. Este princípio é chamado de princípio da unidade dentro da
variedade de diferentes situações, sendo uma condição de extrema importância para que se diferencie um elemento entre os demais. Como
exemplo, pode-se apresentar no início da aprendizagem uma mesma palavra em várias frases de modo que a mesma se destaque. Como por
exemplo: Lili tem mna pata; A pata nada no lago; As penas da pata são brancas.
Ainda no processo de diferenciação, existe um segundo princípio que pennite o destaque de mn elemento da situação total de-
nominado princípio da variedade dentro da unidade. No ensino da leitura, introduz-se aos poucos alguns fatores novos entre os já
conhecidos. Nmn texto, por exemplo, aparece, dentro de sentenças já conhecidas e muito repetidas, algumas fonnas gráficas novas. Como
por exemplo: Lili tem um boné, Lalau tem uma boneca; olhe a bola, olhe o bolo; olhe o papel, olhe o papelão.
O processo de redefinição consiste em perceber um mesmo estímulo de modo inteiramente novo, segundo a situação total ou a fonna
que ele se apresenta, ou seja, sua posição em relação aos demais estímulos ou ainda segundo a natureza dos outros estímulos componentes
da situação em que ele nos é apresentado. Grisi esclarece este processo quando apresenta um exemplo que mostra formas diferentes de
perceber mn simples ponto”.”. Para ele, o ponto pode ser definido como ponto final em uma sentença, como um pingo da letra “i” ou ainda
como um sinal de abreviatura (Barros, 1998).
O processo de assimilação segue ao de diferenciação, onde uma parte da situação total é destacada pelo processo de diferenciação,
tomando-se figura. Esta figura pode se reunir às outras, constituindo novas estruturas pelo processo de assimilação. Em relação a leitura, o
aprendizado por assimilação ilustra-se pelo fato de que o aluno no início de sua aprendizagem por assimilação é capaz de escrever uma
palavra nova, a palavra camelo, por exemplo, por ter aprendido anteriormente as palavras boneca, menino e lobo.
A Gestalt defende o caráter inato das leis da percepção e da organização do conhecimento e, baseia-se na categorização direta dos
objetos, quase de fonna imediata. O pensamento encontra- se mediado por estruturas de conceitos de natureza e origens muito diferentes. A
tomada de consciência ou insight adquire dimensões diferentes em um e outro caso. A tomada de consciência conceituai requer uma
reflexão a respeito do próprio pensamento que, necessariamente, não está presente no insight perceptivo. O sujeito somente pode tomar
consciência de algo que já está presente nele, embora se desconheça as etapas precedentes (Pozo, 1998).
Essa teoria contribui com alguns conceitos que embora em sua fonnulação inicial sejam vagos ou pouco operacionais, lembram
conceitos nucleares de mna teoria de aprendizagem alternativa ao associacionismo. Assim, ela estabelece diferenças entre o pensamento
reprodutivo e produtivo (consiste na compreensão real do problema), e em consequência entre a aprendizagem mnemônica e compreensiva
considerando a aprendizagem compreensiva mn produto do insight, ou reestruturação súbita do problema. Esta estruturação está vinculada
ao conceito de equilíbrio que é desenvolvido por Piaget.
Papel do professor e papel do aluno
- Papel do professor
Na Gestalt, o ensino é centrado no aluno e o professor tem como função dar assistência ao aluno de fonna a não transmitir o co-
nhecimento. Ele deve ser um facilitador da aprendizagem, que consiste na compreensão, aceitação e confiança em relação ao aluno. Deve
aceitar o aluno como ele é.
O professor deve possuir um estilo próprio para “facilitar” a aprendizagem. Sua intervenção deverá ser a mínima possível, devendo
criar um clima favorável de aprendizagem. O conteúdo não deve ser repassado, uma vez que ele é adquirido da experiência vivida do
aluno.
Para o professor, qualquer ação que o aluno decide fazer deve ser considerada como boa e instrutiva. Cabe ao professor auxiliar a
aprendizagem do aluno de maneira a despertar o seu próprio conhecimento (Becker, 1992).
- Papel do Aluno
O aluno deve ser responsabilizar pelos objetivos referentes a aprendizagem que lhes são signihcativos. Ele é compreendido como um
ser que se autodesenvolve e o processo de aprendizagem deve facilitar este desenvolvimento. O aluno aprende por si mesmo, encontrando
o seu próprio caminho. Cabe aos alunos pesquisar os conteúdos, criticar, aperfeiçoar ou até mesmo modihcá-los (Becker, 1992).
Tarefa Prescrita do Professor e do Aluno no desenvolvimento Ensino - aprendizagem
• Tarefa prescrita do professor
- organizar o conteúdo do todo para as partes, isto é, do geral para o particular;
- divisão do problema em problemas menores para facilitar a compreensão do aluno;
- dehnição clara dos objetivos;
- apresentar o mesmo problema sob diferentes formas;
- intervir o mínimo possível.
• Tarefa prescrita do aluno
- analisar seus erros, encontrando assim a solução;
- avaliar seu processo de aprendizagem (auto avaliação);
Avaliação no Processo Ensino-aprendizagem
A avaliação só tem sentido como uma auto avaliação e deve estar de acordo com os padrões prehxados pelos alunos. Os alunos
aprendem o que desejam aprender. Não existe qualquer padronização. Ele deverá assumir a responsabilidade pelas formas de controle de
sua aprendizagem, dehnindo e aplicando critérios para avaliar se os objetivos foram atingidos. Após esta auto avaliação o professor faz a
sua avaliação de maneira a perceber se os objetivos foram atingidos atribuindo ao aluno um conceito.
Teorias de Aprendizagem: representativas, cognitivas e aprendizagem social.
Teorias Representativas
As teorias representativas centram-se sobre o estabelecimento de uma signihcação.
Na obra de Flávell (1975), encontra-se uma coletânea de idéias elaboradas por Piaget, que permite dizer que a representação tem início
no sujeito quando ele consegue diferenciar entre o “signihcante” e o “signihcado”. Entende-se por signihcante uma palavra, uma imagem
que representa intemamente o signihcado ausente. O signihcado é o conceito desta palavra ou imagem. Este é um requisito indispensável
para que exista a representação.
Piaget dehne a representação como sendo a “capacidade de evocar mna imagem simbólica, um objeto ausente ou a ação que não foi
realizada” Batro (1978).
Para Richard (1990) as representações são construções que constituem o conjunto das informações levadas em conta pelo sistema
cognitivo na realização da tarefa.
Já segundo Rosa (1998), a representação é uma forma estrutural que organiza os conhecimentos.
Representação x Aprendizagem
A aprendizagem acontece quando se estabelece uma relação signihcativa entre os elementos que constituem uma situação. A
transferência da aprendizagem ocorre quando existe similaridade (semelhança) entre as situações. A aprendizagem acontece quando o
sujeito consegue organizar ou estruturar uma dada situação.
O papel do professor e do aluno
- Papel do professor
O professor tem como função apresentar ao aluno problemas de modo que este identifique e diferencie o significante do significado.
Estes problemas devem apresentar-se de tal maneira que o aluno a partir de suas experiências anteriores, possa evocar (lembrar) os
elementos ausentes. Estes elementos contribuem para a estruturação do problema.
O professor deve conhecer as experiências anteriores do aluno para observar com profundidade suas representações com relação às
atividades ligadas à ação (execução do problema). A partir do momento que o aluno estruturar e conceituar um problema, estará
aprendendo.
- Papel do aluno
O aluno terá como atribuição, a resolução de problemas a partir da seleção de elementos que são úteis e estão relacionados à ação. A
seleção de elementos necessários à formação estrutural do problema dependerá da experiência vivida pelo aluno.
A facilidade ou dificuldade na diferenciação do significante e significado e, consequentemente, a formação do conceito durante a
aprendizagem são próprias do aluno em particular. A resolução de um problema pode seguir caminhos diferentes.
A Psicologia materialista nos requer mais que a incorporação dialética dos princípios materialistas para fundamentar os problemas
psicológicos ou exemplificar os princípios de dados psicológicos concretos: o método dialético deve tomar-se o método de análise
psicológico. Neste sentido, a psicologia contemporânea não pode descansar tranquila com a simples interpretação de sua matéria do ponto
de vista subjetivo enquanto se acomoda em dados da velha psicologia empírica; ela deve, na verdade, estudar seu material por meio do
método dialético, que deve desempenhar papel central, dominando outros métodos mais específicos. (Leontiev, 1977).
É ela (a dialética marxista) que dá à Psicologia o seu equilíbrio e a sua significação, que subtrai à alternativa dum materialismo
elementar ou dmn idealismo oco, dum substancialismo grosseiro ou dum irracionalismo sem horizontes. É ela quem mostra simul-
taneamente ciência da natureza e ciência do homem, suprimindo deste modo a ruptura que o espiritualismo procurava consumar no
universo entre a consciência e as coisas. É ela que lhe permite considerar numa mesma unidade o ser e o seu meio, as suas perpétuas
interações recíprocas. É ela que lhe explica os conflitos dos quais o indivíduo deve tirar a sua conduta e clarificar a sua personalidade. (...)
O materialismo dialético interessa a todos os domínios do conhecimento, tal como interessa ao domínio da ação. Mas a psicologia,
principal fonte das ilusões antropomórficas e metafísicas, devia, com mais relevo que qualquer outra ciência, encontrar nele a sua base e a
sua direção nonnais. (Wallon, 1975)
O psiquismo deve ser entendido como uma totalidade e em sua base material. Mas isto somente não é suficiente. É preciso realizar a
análise histórica dos processos psicológicos, buscando compreender seu movimento e sua historicidade, sendo assim possível investigá-los
dialeticamente: “Estudar algo historicamente significa estudá-lo em movimento. Esta é a exigência fundamental do método dialético.”
(Vygotski. 1995), ou como aponta Wallon (1975), estudar “(...) o psiquismo em sua fonnação e em suas transformações.”
Para investigar estes processos, Vigotski e seus colaboradores realizaram diversas pesquisas. Entendiam a experimentação como “(...)
o único caminho pelo qual podemos pesquisar por dentro nos padrões dos processos psicológicos superiores (...)” (Vygotsky, 1999). Além
da experimentação, um grande relevo era dado às observações, sejam estas nos espaços clínicos (como nos casos relatados porLuria em
seus romances científicos), sejam em escolas e outros espaços pedagógicos.
É importante notar que as pesquisas realizadas por Vigotski e seu grupo eram diferentes dos modelos predominantes. O rigor
científico na realização e análise dos experimentos era respeitado sem, no entanto, seguir o modelo positivista de ciência, com o qual se
buscava, por meio de experimentações imparciais, leis universais.
Um dos métodos de investigação mais utilizados pelos soviéticos na realização de experimentos - principalmente sobre desen-
volvimento infantil - é o método do experimento fonnativo. Este procedimento consiste em estudar as mudanças no desenvolvimento do
psiquismo por meio da ativa influência do pesquisador na experimentação, ou em outras palavras, pela fonnação dirigida dos processos
psicológicos que serão investigados (Davidov; Shuare, 1987). Vigotski (1995) nomeava este método de genético-causal ou genético-
experimental por ele pennitir o estudo dos processos psicológicos desde sua origem, suas multidetenninações e complexidade de
desenvolvimento.
Este modelo ganhou forte impulso com a sistematização realizada por Vigotski do conceito de zona de desenvolvimento proxi- mal.
Se nesta o autor propõe que o mais relevante é aquilo que o indivíduo sabe fazer com auxílio, deduz-se que os modelos experimentais
devem considerar esta zona de desenvolvimento.
Um rico exemplo deste modelo é apresentado na discussão vigotskiana de memória (um dos poucos que ele delineou).
Em um desses experimentos que foram mais bem explicitados, pediu-se para crianças de 6-7 anos recordarem 10 números lidos para
elas, sendo que estas conseguiam recordar poucos números (média de 3 números). Após isso, foi dado às mesmas crianças um instrumento
(pedaço de papel, corda ou madeira). Inicialmente as crianças não recorreram a esse auxílio; com a ajuda dos experimen- tadores, os
sujeitos começaram a utilizar os instrumentos, porém ainda de fonna rudimentar. (Almeida, 2004).
É importante ressaltar que outras fonnas de auxílio podem ser utilizadas como, por exemplo, a escrita, mas uma das mais importantes,
eram dicas dadas pelos pesquisadores para que os sujeitos pudessem ir além do que realizariam sozinhos.
Outro exemplo possível é a pesquisa de Zaporozhets (1987) sobre desenvolvimento de movimentos voluntários em crianças pré-
escolares. O experimento consiste no controle do ato motor por crianças em idade pré-escolar em atividades diversas, sendo elas: 1) saltar
sem impulso após ordem; 2) solução de uma tarefa prática dada pelo pesquisador que exija salto; 3) jogo (competição desportiva).
Observa-se que em todas essas atividades há participação do pesquisador. Em algumas delas, como a primeira, a participação é mais
fonnal, como em uma pesquisa tradicional; já nas demais há um efetivo envolvimento do pesquisador na preparação da atividade, assim
como no decorrer desta, coordenando e orientando a criança, inclusive jogando com ela. Uma tarefa semelhante seria o brincar de
escolinha com crianças, em uma pesquisa em que é necessário investigar a criança (principalmente pré-escolar) no espaço escolar.
Como isto os pesquisadores (...) não estão interessados somente nos resultados dos processos individuais do comportamento, mas
também nos modos que eles são fonnados. Deste modo, por exemplo, não estamos somente interessados em encontrar como os educandos
memorizam sob diferentes condições de aprendizado. Nós estamos também interessados no modo em que ele memoriza, e no curso dessa
memorização. Nós empregamos atenção especial para o aspecto qualitativo dos processos que estudamos. (Smimov, 1961).
As pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia sugerem que as habilidades cognitivas são bem mais
diferenciadas e mais específicas do que se acreditava (Gardner, 1985). Neurologistas têm docmnentado que o sistema nervoso humano não
é um órgão com propósito único nem tão pouco é infinitamente plástico. Acredita-se, hoje, que o sistema nervoso seja altamente
diferenciado e que diferentes centros neurais processem diferentes tipos de informação (Gardner, 1987).
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Hervard, baseou-se nestas pesquisas para questionar a tradicional visão da inte-
ligência, uma visão que enfatiza as habilidades linguística e lógico-matemática. Segundo Gardner, todos os indivíduos normais são capazes
de uma atuação em pelo menos sete diferentes e, até certo ponto, independentes áreas intelectuais. Ele sugere que não existem habilidades
gerais, duvida da possibilidade de se medir a inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a diferentes atuações
valorizadas em culturas diversas. Finalmente, ele define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que
sejam significativos em um ou mais ambientes culturais.
A teoria
A Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner (1985) é mna alternativa para o conceito de inteligência como uma
capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em qualquer área de atuação. Sua
insatisfação com a ideia de QI e com visões unitárias de inteligência, que focalizam sobretudo as habilidades importantes para o sucesso
escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas. Através da avaliação das
atuações de diferentes profissionais em diversas culturas, e do repertório de habilidades dos seres humanos na busca de soluções,
culturalmente apropriadas, para os seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao desenvolvimento, retroagindo para
eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais realizações. Na sua pesquisa, Gardner estudou também: (a) o
desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas; (b) adultos com lesões cerebrais e como estes não
perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras habilidades sejam sequer
atingidas; (c) populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros podem dispor de apenas uma
competência, sendo bastante incapazes nas demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas suas
habilidades intelectuais; (d) como se deu o desenvolvimento cognitivo através dos milênios.
Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, Gardner distingue-se de seu colega de Genebra na medida em que Piaget
acreditava que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto que ele acredita que processos
psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos linguísticos, numéricos gestuais ou outros. Segundo
Gardner uma criança pode ter um desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou
mesmo abaixo da média em outra (o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Gardner descreve o desenvolvimento cognitivo
como uma capacidade cada vez maior de entender e expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados nmn contexto cultural,
e sugere que não há mna ligação necessária entre a capacidade ou estágio de desenvolvimento em uma área de desempenho e capacidades
ou estágios em outras áreas ou domínios (Malkus e col., 1988). Num plano de análise psicológico, afirma Gardner (1982), cada área ou
domínio tem seu sistema simbólico próprio; nmn plano sociológico de estudo, cada domínio se caracteriza pelo desenvolvimento de
competências valorizadas em culturas específicas.
Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são organizadas de forma horizontal; ele propõe que se pense nessas
habilidades como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam formas
independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas, mas não
necessariamente uma relação direta.
As inteligências múltiplas
Gardner identificou as inteligências linguística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Postula
que essas competências intelectuais são relativamente independentes, têm sua origem e limites genéticos próprios e substratos
neuroanatômicos específicos e dispõem de processos cognitivos próprios. Segundo ele, os seres humanos dispõem de graus variados de
cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para
resolver problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras,
elas raramente funcionam isoladamente. Embora algumas ocupações exemplifiquem mna inteligência, na maioria dos casos as ocupações
ilustram bem a necessidade de uma combinação de inteligências. Por exemplo, um cirurgião necessita da acuidade da inteligência espacial
combinada com a destreza da cinestésica.
- Inteligência linguística - Os componentes centrais da inteligência linguística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e sig-
nificados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para
convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em
crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências
vividas.
- Inteligência musical - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça
musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade
para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu
ambiente e, frequentemente, canta para si mesma.
A princípio, o problema foi estudado mais do ponto de vista filosófico, salientando-se, de mn lado, teorias nativistas, como a de
Rousseau, que advogava a existência de idéias inatas, e, de outro lado, as teorias baseadas no empirismo de Locke, segundo o qual todo
conhecimento da realidade objetiva resulta da experiência, através dos órgãos sensoriais, dando, assim, mais ênfase aos fatores do meio.
Particularmente, no contexto da psicologia do desenvolvimento, o problema da hereditariedade e do meio tem aparecido em relação a
vários tópicos. Por exemplo, no estudo dos processos perceptivos, os psicólogos da Gestalt advogaram que os fatores genéticos são mais
importantes à percepção do que os fatores do meio. Por outro lado, cientistas como Hebb (1949) defendem a posição empirista, segundo a
qual os fatores da aprendizagem são de essencial importância ao processo perceptivo. Na área de estudo da personalidade encontramos
teorias constitucionais como as de Kretschmer e Sheldon que advogam a existência de fatores inatos determinantes do comportamento do
indivíduo, enquanto outros, como Bandura, em sua teoria da aprendizagem social, afirmam que os fatores de meio é que, de fato, modelam
a personalidade humana. Na pesquisa sobre o desenvolvimento verbal, alguns psicólogos como Gesell e Thompson (1941) se preocupam
mais com o processo da maturação como fato biológico, enquanto outros se preocupam, mais, com o processo de aprendizagem, como é o
caso de Gagné (1977), Deese e Hulse (1967) e tantos outros. Com relação ao estudo da inteligência, o problema é o mesmo: uns dão maior
ênfase aos fatores genéticos, como é o caso de Jensen (1969), enquanto outros salientam mais os fatores do meio, como o faz Kagan
(1969).
Em 1958, surgiu uma proposta de solução à questão, por Anne Anastasi, que publicou um artigo no Psychological Review, sobre o
problema da hereditariedade e meio na determinação do comportamento humano.
O trabalho de Anastasi lançou considerável luz sobre o problema, tanto do ponto de vista teórico como nos seus aspectos meto-
dológicos. Isso não significa que o problema tenha sido resolvido mas, pelo menos, ajudou os estudiosos a formularem a pergunta
adequada pois, como se sabe, fazer a pergunta certa é fundamental a qualquer pesquisa científica relevante.
Faremos, a seguir, uma breve exposição da solução proposta por Anne Anastasi (1958), contando com o auxílio de outras fontes de
informação.
A discussão do problema hereditariedade versus meio encontra-se, hoje, num estágio em que ordinariamente se admite que tanto os
fatores hereditários como os fatores do meio são importantes na determinação do comportamento do indivíduo. A herança genética
representa o potencial hereditário do organismo que poderá ser desenvolvido dependendo do processo de interação com o meio, mas que
determina os limites da ação deste.
Anastasi afirmou que mesmo reconhecendo que determinado traço de personalidade resulte da influência conjunta de fatores
hereditários e mesológicos, uma diferença específica nesse traço entre indivíduos ou entre grupos pode resultar de um dos fatores apenas,
seja o genético seja o ambiente. Determinar exatamente qual dos dois ocasiona tal diferença ainda é um problema na metodologia da
pesquisa.
Segundo Anastasi, a pergunta a ser feita, hoje, não mais deve ser qual o fator mais importante para o desenvolvimento, ou quanto
pode ser atribuído à hereditariedade e quanto pode ser atribuído ao meio, mas como cada um desses fatores opera em cada circunstância. É,
pois, portanto, mais preocupada com a questão de como os fatores hereditários e ambientais interagem do que propriamente com o
problema de qual deles é o mais importante, ou de quanto entra de cada um na composição do comportamento do indivíduo.
Anastasi procurou demonstrar que os mecanismos de interação variam de acordo com as diferentes condições e, com respeito aos
fatores hereditários, ela usa vários exemplos ilustrativos desse processo interativo.
O primeiro exemplo é o da oligofrenia fenilpirúvica e a idiotia amurótica. Em ambos os casos o desenvolvimento intelectual do
indivíduo será prejudicado como resultado de desordens metabólicos hereditárias. Até onde se sabe, não há qualquer fator ambiental que
possa contrabalançar essa deficiência genética. Portanto, o indivíduo que sofreu essa desordem metabólica no seu processo de formação
será mentalmente retardado, por mais rico e estimulante que seja o meio em que viva.
A questão da MATURAÇÃO e da APRENDIZAGEM no desenvolvimento humano
A partir do patrimônio hereditário e tendo, do outro lado, o meio para complementar o processo de desenvolvimento, temos dois
processos fundamentais: o da MATURAÇÃO e o da APRENDIZAGEM ou EXPERIÊNCIA.
Segundo Schneirla (1957), o desenvolvimento se refere a mudanças progressivas na organização de um organismo. Este, por sua vez,
é encarado como um sistema funcional e adaptativo através de toda a vida. Portanto, desenvolvimento implica em mudança progressiva
num sistema vivo, individual, funcional e adaptativo. Nessa mudança progressiva do desenvolvimento há dois fatores gerais de alta
complexidade e de grande importância - maturação e experiência.
Maturação significa crescimento e diferenciação dos sistemas físicos e fisiológicos do organismo. Crescimento se refere a mudanças
resultantes de acréscimo de tecidos. É portanto, de natureza quantitativa. Diferenciação se refere a mudanças nos aspectos estruturais dos
tecidos. Um exemplo típico de diferenciação seria o caso do embrião, que em determinada fase de seu desenvolvimento é dividido em três
camadas ou folhetos - o mesodenna, o endodenna e o ectodenna - dos quais se originam os vários órgãos e sistemas do corpo.
Maturação, portanto, se refere a mudanças que ocorrem no organismo como resultado de crescimento e diferenciação de seus tecidos e
órgãos.
Para elucidar, mais um pouco, a questão, faremos as seguintes colocações;
- O crescimento refere-se a alguns tipos de mudanças, passo a passo em quantidade, como por exemplo, em tamanho. Falamos do
crescimento do vocabulário da criança ou do crescimento do seu corpo. Tais mudanças em quantidade podem ser em função da maturação,
mas não necessariamente. O corpo de uma criança pode mudar de tamanho porque sua alimentação mudou, o que é efeito externo, ou
porque seus músculos e ossos cresceram, o que é, provavelmente, um efeito maturacional.
Note-se, entretanto, que a maturação não ocorre à revelia da contribuição do meio. Segundo Sclmeirla, o processo maturacional deve,
sempre, ocorrer no contexto de mn ambiente favorável. Visto que existe essa interdependência, a direção exata que a maturação tomará
será afetada por aquilo que acontece no contexto em que vive o oiganismo.
- Experiência se refere a todas as influências que agem sobre o organismo através de sua vida. A experiência pode afetar o organismo
em qualquer fase de sua ontogênese. Há experiência com ações químicas, ou enfermidades, que podem afetá-lo na vida intrauterina, e há
outras que podem afetá-lo depois do nascimento. Quer se trate, portanto, de experiência endógena ou exógena, ela constitui, sempre, um
dos fatore s de interação que deter minam o desenvolvimento.
Maturação e experiência, portanto, interagem no processo do desenvolvimento, e isso se dá de modo específico. Há experiências, por
exemplo, que produzem o que Sclmeirla chamou de efeitos de traços, que são mudanças orgânicas que, por sua vez, afetam experiências
futuras. Isto é, há experiências que produzem mudanças no organismo, e estas mudanças detenninam o modo como experiências futuras
afetarão o organismo. Exemplo, se uma criança passa por uma experiência que a incapacita para atividades esportivas, um programa de
educação física a afetará de modo diferente do que afetaria sem tal experiência traumática - exemplificar dentro do nosso sujeito.
Acontece, porém, que os efeitos que determinada experiência pode causar são limitadas pelo nível de maturação do organismo. A
mesma experiência poderá produzir diferentes efeitos, dependendo do nível de maturação do organismo. Aparentemente, não será de
grande proveito submeter o organismo a um processo de aprendizagem para o qual ele não tenha um mínimo de condições em tennos de
seu processo maturacional. Por outro lado, entretanto, a experiência impõe limites à maturação. O crescimento e diferenciação do processo
maturacional não ocorrerão sem os efeitos facilitadores da experiência. Portanto, maturação e experiência devem interagir para que o
desenvolvimento possa ocorrer.
Passamos a ilustrar, com exemplos, situações práticas, através das quais venha a ser evidenciada a questão da maturação versus
aprendizagem/experiência. É necessário que compreendamos que o desenvolvimento determinado pela maturação ocorre, na sua fonna
pura, independentemente da prática ou tratamento, pois as sequências maturacionais são poderosas. Você não precisa praticar o
crescimento dos pelos pubianos, não precisou que lhes ensinassem como andar. Mas essas mudanças não ocorrem no vácuo. A criança
amadurece num ambiente específico, e mesmo tais padrões maturacionais poderosos podem ser perturbados pela privação ou por acidentes.
Uma criança que não come o suficiente pode andar depois que outra que recebeu uma boa dieta. Durante o desenvolvimento pré- -
natal a sequência de mudanças pode ser perturbada por coisas, como por exemplo, doenças na mãe. Mesmo as mudanças físicas na
puberdade podem ser alteradas em circunstâncias extremas, particularmente pela desnutrição. Por exemplo, meninas severamente
subnutridas não menstruam. Dennis (1960), observou o desenvolvimento físico de crianças criadas em orfanato no Irã, durante os anos 50.
Em um dos orfanatos, as crianças eram colocadas em seus berços deitadas de costas, sobre colchões que já estavam tão afundados que se
tomava extremamente difícil para os bebês rolarem, ou virarem.
Na medida em que eles raramente ficavam deitados de barriga para baixo, tinham poucas oportunidades para praticar os movimentos
que compõem os primeiros estágios da sequência que leva ao engatinhar e andar. Em função disso, muitos bebês não engatinhavam. Ao
invés disso, eles conseguiram se movimentar “patinando”, uma fonna de locomoção na qual a criança senta e impulsiona- se para frente
através de mn movimento de flexionar e esticar as pernas. Todas as crianças acabavam andando, mas os “patinadores” eram muito
atrasados, e sua sequência de movimentos pré-marcha estava alterada. Portanto, embora as sequências maturacionais sejam poderosas, elas
são afetadas pelo tipo de estimulação disponível para a criança.
Com referência às influências ambientais, tem havido grande quantidade de pesquisas de psicologia do desenvolvimento sobre os
efeitos de influências ambientais, como a pobreza ou classe social. Estas pesquisas e estudos equivalentes sobre os efeitos dos padrões
familiares, dieta ou diferenças étnicas envolvem, basicamente, a comparação de grupos que tenham sofrido experiências bastante
diferentes. As questões básicas respondidas são perguntas do tipo o que mais, do que, por que. Qual é o efeito da pobreza sobre o
desenvolvimento da linguagem ou crescimento físico da criança?
O que acontece com o conceito de gênero da criança se ela não tem o pai ou a mãe em casa? Podemos descobrir, por exemplo, que as
crianças criadas em famílias pobres conhecem mn número menor de palavras que as crianças em famílias financeiramente mais seguras.
Mas, por quê? Esta pergunta “por que” nos leva, inevitavelmente, ao exame mais detalhado dos ambiente desses dois tipos de crianças.
Quem conversa com a criança? Com que frequência? Que tipos de palavras são usados? Quando abordamos perguntas como essas saímos
dos efeitos ambientais amplos e caímos no campo das experiências individuais específicas. Na verdade, os dois aspectos do
desenvolvimento, maturação e aprendizagem, são tão intimamente ligados que não é possível isolar a influência de um e de outro. A pessoa
baixa pode sê- lo devido a mna tendência hereditária, ou devido a mna doença que impediu o seu crescimento. A capacidade herdada não
pode desenvolver-se num vácuo, nem pode ser medida a não ser através do estado atual de de-
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
senvolvimento, e este, naturalmente, resulta em parte da aprendizagem. Se uma pessoa se comporta de maneira não-inteligente, não existe
forma infalível de saber se tal comportamento resulta de limitações herdadas ou de limitações de seu ambiente na estimulação do
crescimento. Apenas no caso em que podemos, com razoável certeza, eliminar as possibilidades de insuficiente oportunidade para
aprender, podemos considerar o comportamento inadequado como indicador de deficiências herdadas. Dessa maneira, se alguém parece
estúpido em um problema de cálculo adiantado, isso pode ou não implicar falta de inteligência, o que depende da experiência do indivíduo
nesse campo; ao contrário, a incapacidade para compreender relações entre idéias comuns pode ser interpretada, com mais segurança,
como resultado de insuficiência mental.
Segundo Samuel Pfroimn Neto (1976), pode-se inferir a atuação de dois processos básicos no desenvolvimento: a maturação e a
aprendizagem. A maturação, responsável pela diferenciação ou desenvolvimento de traços potencialmente presentes no indivíduo, ocorre
independentemente da experiência. Frank (1963), entretanto, assinala que “mais do que a emergência de padrões não aprendidos, a noção
de maturação implica na reorganização e recombinação da sequência total de funções e comportamentos anteriormente padronizados,
possibilitando a emergência de novos padrões essenciais ao desenvolvimento humano. De tal processo resultam as mudanças ordenadas no
comportamento, que se dão de modo universal e ocorrem, mais ou menos na mesma época, em todos os indivíduos. A aprendizagem
refere-se a mudanças no comportamento e nas características físicas do indivíduo que implicam em treino, exercício e, por vezes, em
esforço consciente, deliberado, do próprio indivíduo. É de particular importância, em se tratando de seres humanos, a aprendizagem que
ocorre em situação social.
Embora a maturação possa ser tratada separadamente da aprendizagem, nmna exposição teórica sobre o desenvolvimento humano não
é fácil fazer tal separação na prática. Quase todos os comportamentos resultantes de maturação sofrem a influência da aprendizagem e os
dois processos se apresentam de tal modo inter-relacionados que raramente é possível distinguir o primeiro do segundo. No
desenvolvimento da linguagem da criança, por exemplo, a maturação de estruturas e funções envolvidas na produção e reconhecimento de
sons interage estreitamente com a aprendizagem de um idioma específico. A maturação, na verdade, fornece as mesmas bases para a
aprendizagem de quaisquer idiomas.
O desenvolvimento psicossexual do adolescente, segundo Samuel Pfroimn Neto, serve, também, para ilustrar a interação acima
referida. Não basta a maturação sexual ligada às transformações pubertárias para garantir a efetivação do comportamento sexual. Um
complexo de aprendizagens sociais-sexuais deve ter lugar, antes que o jovem possa ser considerado seguro, bem ajustado e bem aceito em
suas relações com o sexo.
Não obstante a dificuldade de diferenciar, na prática, as influências da maturação e da aprendizagem, numerosas pesquisas realizadas
com êxito, com animais e seres humanos, permitiram melhor conhecimento das relações entre os dois processo. Eis algumas
generalizações, derivadas de tais pesquisas:
a) As habilidades alicerçadas de modo mais direto sobre padrões de desenvolvimento do comportamento que resulta de maturação
são mais facilmente aprendidas (por exemplo, a aprendizagem universal de pa-pa e ma-ma, palavras que se ajustam mais facilmente ao
balbucio natural da criancinha).
b) Quanto mais amadurecido o organismo, tanto menor treino é necessário para atingir um determinado nível de proficiência.
c) A aprendizagem ou treino antes da maturação pode resultar em melhoria nula ou apenas temporária.
d) Quando o treino prematuro é frustrado, seus efeitos podem ser prejudiciais (Hitgard -1962).
Princípios Gerais do Desenvolvimento Humano
O desenvolvimento é um processo contínuo que começa com a vida, isto é, na concepção, e a acompanha, sendo agente de mo-
dificações e aquisições.
A sequência do desenvolvimento no período pré-natal, isto é, antes do nascimento, é fixa e invariável. A cabeça, os olhos, o tronco, os
braços, as pernas, os órgãos genitais e os órgãos internos desenvolvem-se na mesma ordem, e aproximadamente nas mesmas idades pré-
natais em todos os fatos.
Embora os processos subjacentes ao crescimento sejam muito complexos, tanto antes quanto após o nascimento, o desenvolvimento
humano ocorre de acordo com certo número de princípios gerais, os quais veremos a seguir.
Primeiro: O crescimento e as mudanças no comportamento são ordenados e, na maior parte das vezes, ocorrem em sequências
invariáveis. Todos os fetos podem mover a cabeça antes de poderem abrir as mãos. Após o nascimento, há padrões definidos de cres-
cimento físico e de aumentos nas capacidades motoras e cognitivas. Toda criança consegue sentar-se antes de ficar de pé, fica de pé antes
de andar e desenha um círculo antes de poder desenhar um quadrado. Todos os bebês passam pela mesma sequência de estágios no
desenvolvimento da fala: balbuciam antes de falar, pronunciam certos sons antes de outros e formam sentenças simples antes de
pronunciar sentenças complexas. Certas capacidades cognitivas precedem outras, invariavelmente. Todas as crianças podem classificar
objetos ou colocá-los em série, levando em consideração o tamanho, antes de poder pensar logicamente, ou formular hipóteses.
A natureza ordenada do desenvolvimento físico e motor inicial está ilustrada pelas tendências “direcionais”. Uma dessas tendências é
chamada cefalocaudal ou da cabeça aos pés, isto é, a direção do desenvolvimento de qualquer forma e função vai da cabeça para os pés.
Por exemplo, os “botões” dos braços do feto surgem antes dos “botões” das pernas, e a cabeça já está bem desenvolvida antes que as
pernas estejam bem formadas.
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É cada vez mais frequente o número de casos de bullying que vão parar nas manchetes de jornais e nos tribunais. Em geral ganham
mais visibilidade aqueles que são mais violentos e chocam a opinião pública. Abaixo, alguns exemplos recentes.
- O estudante Matheus Abvragov Dalvit, 15 anos, foi morto com um tiro nas costas, quando descia de um ônibus na Zona Norte de
Porto Alegre. Segundo a Polícia Civil, Matheus era alvo frequente de piadas dos colegas de escola. Por isso, ele teria agredido um colega.
Um amigo do rapaz foi tirar satisfações e acabou atirando no adolescente. O jovem procurou a polícia um dia depois do crime e se
entregou. Ele foi recolhido a uma instituição para menores infratores.
- Um estudante de uma escola de Belo Horizonte foi condenado a pagar indenização de R$ 8 mil pela prática de bullying. O juiz Luiz
Artur Rocha Hilário, da 27a Vara Cível de Belo Horizonte, considerou comprovada a existência do bullying diante das provas
apresentadas. Segundo a vítima, o colega a insultou durante grande parte do período letivo. O agressor chegou a receber uma advertência
escolar, mas seu comportamento não mudou. Os parentes da adolescente decidiram, então, ajuizar uma ação contra o menino. O juiz ainda
entendeu que o comportamento do garoto era excessivo e que mesmo mna adolescente deve respeitar os limites necessários para uma boa
convivência. A decisão foi dada em primeira instância. Ainda cabe recurso.
- O bullying não se restringe apenas a pessoas “comuns”. A princesa Aiko, 9 anos, filha única do herdeiro do trono do Japão,
Naruhito, passou mna semana longe da escola.
O motivo teriam sido as “brincadeiras e zoações” feitas por um grupo de alunos a vários colegas, entre eles a princesa Aiko. Um
responsável da escola negou que a menina tivesse sofrido “diretamente” um caso de bullying. Filha única de Naruhito e Masako, Aiko é
conhecida como “a princesa triste” por causa da depressão da qual sofre.
- Uma adolescente ganhou mna indenização de 290 mil dólares australianos (cerca de R$ 474 mil), após passar anos sendo
perseguida por colegas na escola. Os colegas chegaram a bater na adolescente, colar clúcletes em seu cabelo, jogar cadeiras nela e esvaziar
seu armário, jogando as coisas no chão. Quando um deles ameaçou dar um tiro na garota, o diretor da escola em que ela estudava pediu aos
pais que a levassem, pois disse não poder garantir sua segurança. Isso fez com que a família se mudasse da cidade. Na justiça, os danos
causados à adolescente, hoje com 17 anos, foram detalhados como distúrbios psicológicos, síndrome do pânico, insônia, dificuldade de
alimentação, psoríase e pensamentos suicidas. A indenização será paga pelo Departamento de Educação do Estado de Victoria.
- Seis adolescentes de um povoado de Massachusetts, nos Estados Unidos, estão sendo acusados após uma colega de classe a quem
supostamente perseguiam se suicidar. As acusações são de violação dos direitos civis de Phoebe Prince, uma colega de classe irlandesa que
se suicidou aos 15 anos. Desde que chegou da Irlanda, a garota sofreu bullying por parte de colegas. A menina foi vítima de assédio verbal,
ameaça de agressão física e mensagens hostis através da rede social Facebook. Até ser encontrada enforcada em um anuário de casa. Os
jovens se declararam inocentes e terão nova audiência.
- Doze adolescentes com idades entre 12 e 15 anos foram mortos na Escola Municipal Tasso da Silveira, no baino do Realengo, zona
oeste do Rio de Janeiro, num ataque sem precedentes no Brasil. O atirador, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, se matou após ser
confrontado por um policial militar. Outros seis adolescentes, atingidos pelos disparos, de um total de 13 feridos, ficaram internados em
hospitais da região. O crime comoveu o país, que nunca havia sido palco de uma tragédia em proporções semelhantes dentro de uma
escola. Nos últimos dez anos, ataques a escolas e universidades tomaram-se comuns nos Estados Unidos, com registros também na Europa.
De acordo com o relato de familiares, Wellington sofria de esquizofrenia. Esquizofrenia é um grave distúrbio mental caracterizado
pela perda de contato com a realidade. A psicose provoca isolamento social e, em alguns casos, delírios e alucinações.
Textos escritos pelo atirador e encontrados pela polícia revelaram fixação por terrorismo e religião. Ele também teria sido vítima de
bullying (abuso emocional e físico) na época em que cursou o ensino fundamental no mesmo colégio. Em anotações e vídeos encontrados
pela polícia, o assassino aponta a humilhação sofrida como motivo para o massacre. O rapaz estava armado com dois revólveres calibres
32 e 38, além de farta munição. Ele usava colete à prova de balas, um cinturão artesanal e uma ferramenta chamada speadloader, que
municia a arma com todas as balas de uma vez.
Por volta das 8h, Wellington chegou à escola e se identificou como ex-aluno. Ele alegou que iria buscar mn histórico escolar.
Em seguida, foi até o segundo pavimento, onde entrou em uma das salas, da 8 a. Série, disse que daria uma palestra e, na sequência,
sacou as duas armas de dentro de uma mochila e começou a atirar. O atirador entrou ainda numa outra sala, em frente, e fez mais disparos.
Os alvos preferenciais eram as meninas. Dos 12 estudantes mortos, 10 eram do sexo feminino. E, de um total de 13 feridos, 10 também são
meninas. As vítimas tiveram ferimentos em regiões vitais: cabeça e tórax. A matança durou 15 minutos. Segundo a polícia, o assassino
recarregou a arma três vezes e disparou mais de 30 tiros.
Parte dos 400 alunos da escola no período da manhã se refugiou num auditório no terceiro andar do prédio. Outros se trancaram em
salas de aulas com os professores.
Durante o ataque, um aluno, mesmo ferido, conseguiu escapar e avisar mna guarnição da Polícia Militar que fazia uma blitz no
trânsito. O terceiro-sargento. Márcio Alexandre Alves, encontrou o assassino nas escadarias que dão acesso ao terceiro andar do prédio. De
acordo com a polícia, Wellington foi baleado com um tiro de fuzil e, em seguida, se matou com um tiro na cabeça.
- estudo de questionário;
-jornada escolar com debates sobre os problemas de agressores e vítimas;
- melhor vigilância durante o recreio e na hora da alimentação;
- zonas de descanso da escola mais atrativas;
- telefone para contato; reunião de pais e funcionários da escola;
- grupos de professores para o desenvolvimento do meio social da escola;
- círculos de pais.
Medidas para aplicar em sala de aula:
- nonnas da classe contra agressões: clareza, elogio e sanções;
- reuniões de classe regulares;
-jogos de simulação, literatura etc.;
- aprendizagem cooperativa;
- atividades de classe comuns positivas; reuniões de professores, pais e alunos da classe.
Medidas individuais:
- falar seriamente com agressores e vítimas; falar seriamente com os pais dos envolvidos;
- uso de criatividade por parte dos professores e pais;
- ajuda de alunos “neutros”;
- ajuda e apoio para os pais (cartilhas para os pais etc.);
- grupos de debate para pais de agressores e de vítimas; troca de turma ou de escola.
Ao prevenir, os estabelecimentos de ensino estarão em consonância com o prudente artigo 70 do Estatuto da Criança e do Adolescente
que institui: “É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente.” Os estudos levados a
efeito sobre a ocorrência do bullying no Brasil e os direitos da criança e do adolescente autorizam as seguintes conclusões: A vítima de
bullying pode enfrentar ainda na escola e posteriormente ao longo de sua vida as mais variadas consequên-
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
cias. Muitas dessas pessoas levarão para a vida adulta marcas profundas e, muito provavelmente, necessitarão de apoio psicológico e/ ou
psiquiátrico para superar seus traumas. De acordo com pesquisas realizadas no Brasil: foi na faixa de 11 a 15 anos de idade onde se
observou a maior incidência de bullying entre os alunos e foi em estabelecimentos de ensino privado onde o bullying ocorreu em maior
proporção.
O comportamento discriminatório e agressivo dos bullies atenta acintosamente contra o respeito e a dignidade de suas vítimas,
violando direitos que afeta a dignidade do ofendido, incidindo, portanto, em dano moral. Caracterizado o dano moral por terem sido
ofendidas em sua dignidade, as vítimas de bullying poderão contender judicialmente pelo devido ressarcimento. Diante da iminência do
dano moral ao infanto-juvenil, todos têm o dever de comunicar o fato ao Conselho Tutelar, que é o órgão encarregado de zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Aqueles que não o fizerem incorrerão na pena prevista no art. 245 do Estatuto da
Criança e do Adolescente.
Antes que seja necessário o acionamento das autoridades competentes para se resolva os casos de bullying, a prevenção sempre será o
melhor a ser feito pelos estabelecimentos de ensino. Permanecendo o problema, deve-se tentar resolve-lo diretamente com os alunos.
Sendo inócua essa tentativa e esgotadas todas as possibilidades pertinentes ao caso concreto o estabelecimento de ensino deve acionar o
Conselho Tutelar e o Ministério Público.
O papel da escola
A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais do que nunca é imprescindível que a escola acompanhe essas evoluções, que ela
esteja conectada a essas transformações, falando a mesma língua, favorecendo o acesso ao conhecimento que é o assunto crucial a ser
tratado neste trabalho.
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho temos desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, que resultados temos
alcançado. Qual é na verdade a função social da escola? A escola está realmente cumprindo ou procurando cumprir sua função, como
agente de intervenção na sociedade? Eis alguns pressupostos a serem explicitados nesse trabalho. Para se conquistar o sucesso se faz
necessário que se entenda ou e que tenha clareza do que se quer alcançar, a escola precisa ter objetivos bem definidos, para que possa
desempenhar bem o seu papel social, onde a maior preocupação - o alvo deve ser o crescimento intelectual, emocional, espiritual do aluno,
e para que esse avanço venha fluir é necessário que o canal (escola) esteja desobstruído.
A Escola no Passado
A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria possibilitar as pessoas à convivência com seus semelhantes (socialização). As
melhores e mais conceituadas escolas pertenciam à rede particular, atendendo um grupo elitizado, enquanto a grande maioria teria que lutar
para conseguir mna vaga em escolas públicas com estrutura física e pedagógica deficientes.
O país tem passado por mudanças significativas no que se refere ao funcionamento e acesso da população brasileira ao ensino público,
quando em um passado recente era privilégio das camadas sociais abastadas (elite) e de preferência para os homens, as mulheres mal
apareciam na cena social, quando muito as únicas que tinham acesso à instrução formal recebiam alguma iniciação em desenho e música.
Atuação da equipe pedagógica - coordenação
A política de atuação da equipe pedagógica é de smna importância para a elevação da qualidade de ensino na escola, existe a ne-
cessidade urgente de que os coordenadores pedagógicos não restrinjam suas atribuições somente à parte técnica, burocrática, elaborar
horários de aulas e ainda ficarem nos corredores da escola procurando conter a indisciplina dos alunos que saem das salas durante as aulas,
enquanto os professores ficam necessitados de acompanhamento. A equipe de suporte pedagógico tem papel determinante no desempenho
dos professores, pois dependendo de como for a política de trabalho do coordenador o professor se sentirá apoiado, incentivado. Esse deve
ser o trabalho do coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avanços e conquistas, em fim o sucesso alcançado no dia a dia da escola
e consequentemente o desenvolvimento do aluno em todos os âmbitos.
Função do Professor
Ao professor compete a promoção de condições que favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mesmo compreender o que está
sendo ministrado, quando o professor adota o método dialético; isso se toma mais fácil, e essa precisa ser a preocupação do mesmo:
facilitar a aprendizagem do aluno, aguçar seu poder de argumentação, conduzir ás aulas de modo questionador, onde o aluno- sujeito ativo
estará também exercendo seu papel de sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói seu aprendizado, através de lúpóteses que vão
sendo testadas, interagindo com o professor, argumentando, questionando em fim trocando idéias que produzem inferências.
Apesar de iniciarem a vida sexual mais cedo, os jovens não têm informações e orientações suficientes. A mídia, salvo exceções,
contribui para a desinformação sobre sexo e a deturpação de valores. A superbanalização de assuntos relacionados à sexualidade e das
relações afetivas gera dúvidas e atitudes precipitadas. Isso pode levar muitos jovens a se relacionarem de fonna conflituosa com os outros e
também com a própria sexualidade.
Existe muita preocupação por parte dos jovens em entrar em um padrão. Tanto meninas quando meninos, ainda reproduzem o
comportamento machista de anos atrás. Para a professora Ana Cláudia as garotas ainda sonham com um “príncipe encantado” (que seja um
bom partido: fiel e bem sucedido na vida) e os garotos com uma “bela princesa” (que seja adequada aos padrões de beleza física, com
indícios de mna futura boa dona de casa e mãe de família, mesmo que possa almejar o mercado de trabalho). Essas expectativas retratam
detenninadas características, que só reproduzem a repressão e o machismo, que atualmente se encontra mascarado.
Os jovens, de maneira geral, ainda se preocupam em seguir padrões de comportamento. Ana Cláudia ressalta que ainda que sociedade
imponha certo tipo de comportamento sexual e afetivo considerado normal, o que dever ser levado em conta é o bem estar de cada um.
Enfim, hoje existe uma aparente liberdade sexual. Ao mesmo tempo em que as pessoas são, em comparações há anos anteriores, mais
livres para fazer escolhas no campo afetivo e sexual, ainda há muita cobrança por parte da sociedade, e esta cobrança acaba sendo
internalizada, e assim as pessoas acabam assumindo comportamentos e valores adotados pela maioria.
Apesar da necessária identificação com o grupo, para que nos reconheçamos no outro, todos nós temos as nossas individualidades que
devem ser respeitadas. Devemos refletir que nossas atitudes refletem nossa história pessoal de educação sexual, repleta de valores e
concepções. Parece arriscado assumir comportamentos apenas para seguir os padrões, por considera-los certos, sem refletir sobre eles.
Seria melhor se vivéssemos de acordo com nossos valores, mas sempre tendo consciência das responsabilidades das escolhas que fazemos,
não só durante a juventude, mas ao longo de toda a vida. Você já pensou sobre isso? (Texto adaptado de MAIA, A. C.B.).
4 TEORIAS DO CURRÍCULO.
Princípios básicos de currículo e ensino
Ao entender educação como um processo que consiste em modificar padrões de comportamento das pessoas, Tyler compreende o
currículo como o conjunto de objetivos educacionais e conteúdos que visam desenvolver determinados comportamentos, os quais se
delineiam a partir dos objetivos e se concretizam a partir dos conteúdos. A partir destes pressupostos defendidos pelo autor, este texto visa
discorrer sobre os argumentos e exemplos utilizados na obra de Tyler, Princípios Básicos de Currículo e Ensino, os quais compõem um
arcabouço teórico que se propõe a servir como referencial na elaboração de currículos eficazes.
O autor compreende como essencial a definição dos objetivos educacionais coerentes a cada projeto educacional. Por isso, ele inicia
com uma exposição sobre fontes para a construção de tais objetivos. Tyler acredita que é possível realizar pesquisas que forneçam
informações e conhecimentos úteis na decisão a respeito de objetivos educacionais. Assim, o autor apresenta três fontes (estudos dos
próprios alunos, da vida contemporânea fora da escola e dos conhecimentos científicos acumulados, representados pelas sugestões
fornecidas por especialistas em disciplinas) que podem ser utilizadas para obter informações que sejam satisfatórias nesse sentido. Para
isso, o autor expõe brevemente que tipos de informação podem ser obtidos de cada uma dessas fontes e como essas informações podem
sugerir objetivos educacionais significativos.
A primeira fonte destacada, um estudo dos próprios alunos, procuraria identificar as mudanças necessárias nos padrões de com-
portamento dos estudantes que competiría à educação produzir.
Desse modo, esses estudos devem investigar quais as necessidades/carências e os interesses dos alunos. Pois, os esforços da escola
devem ser focados, particularmente, em falhas sérias no desenvolvimento atual dos estudantes e não reproduzir experiências educacionais
já fornecidas de uma fonna adequada fora desta. Assim, a escola pode dar motivação e significado às suas próprias atividades, oferecendo
aos alunos meios de atenderem as necessidades que não foram devidamente satisfeitas fora desta. E também porque, a educação é um
processo ativo, que envolve os esforços ativos dos próprios alunos. Geralmente, estes só aprendem aquelas coisas que fazem. Portanto, se
as situações escolares versam sobre assuntos de interesse do aluno, ele participará ativamente dessas situações e aprenderá a lidá-las com
eficiência.
Porém, Tyler afirma que, embora esses estudos sejam úteis, não há uma fórmula única para inferir objetivos educacionais dos dados
sobre alunos, o que pode resultar em várias interpretações possíveis; ou seja, a filosofia de vida e de educação que orienta o professor influi
na interpretação dos dados dessa espécie. Dessa fonna, segundo o autor, fica evidente que os objetivos não são identificados
automaticamente pela coleta de infonnações sobre os estudantes. Além disso, ainda sobre esses estudos, ele sugere que o professor, ao
derivar objetivos de estudo das necessidades dos alunos, deve identificar as implicações relevantes aos objetivos educacionais e não
confundi-las com aquelas que não se relacionam ao alcance da educação.
O professor parece ter consciência sobre as mudanças que ainda se fazem necessárias na sua prática pedagógica, porém, há influências
que acabam por interferir neste processo, como a falta de continuidade das Políticas Públicas na área educacional, a diversidade social,
cultural e econômica presente na sala de aula, recaindo no desinteresse do aluno pela aprendizagem.
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
O aluno, por sua vez, relata ver a importância da escola e afirma estar aprendendo. O que então está faltando para que a permanência e
o sucesso sejam garantidos, visto que os dados estatísticos de evasão e reprovação divergem do que o aluno descreve? Neste contexto,
sugere-se maior envolvimento da família e do aluno nas atividades desenvolvidas pela escola. O processo é lento, mas só oportunizando
esta integração, onde a família e aluno possam interagir sobre a importância do conhecimento é que se saberá se o objetivo será atingido ou
não.
A Escola, enquanto instituição formadora, precisa assumir a responsabilidade de atuar na transformação e na busca do desenvol-
vimento dos sujeitos que dela fazem parte, assegurando a construção coletiva do Projeto Político Pedagógico, fazendo com que todos se
sintam co-responsáveis na concretização do que foi discutido e elaborado.
A escola desempenha um papel importante na construção da “nova” sociedade, elevando o nível de conhecimento e conscientização
de seus educandos e educadores, pois na sociedade em que vivemos, alicerçada nos marcos da contradição, todos os que vivem em tomo e
dentro dela, participam do processo em busca de uma sociedade justa e igualitária, assumida por todos que fazem parte, conforme afirma
Gadotti, (2000): “A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio e longo prazo,
fazer sua própria reestruturação curricular,... enfim ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras”
Quanto ao Governo, compete-lhe garantir as condições básicas para que a Escola Pública possa ser vista com qualidade, destinando os
recursos financeiros necessários à infraestrutura, bem como, promover a democratização no âmbito escolar, oportunizando a autonomia da
gestão escolar e investindo na formação dos profissionais. Dessa forma, atingir-se-á a organização do trabalho pedagógico, fundamentado
em princípios democráticos e comprometidos com uma escola que contemple as reais necessidades da sociedade.
Ciente das dificuldades na busca pelo êxito do aluno na aprendizagem, acredita-se que somente com o envolvimento dos que fazem
parte do cotidiano da escola é que se chegará ao sucesso. Por isso, compromissos e responsabilidades precisam ser assumidos
coletivamente, pois ninguém conseguirá mudar o quadro educacional atual, se não se retomar a concepção de que cada um precisa fazer a
sua parte de forma integrada, para que o todo tenha sucesso. (Texto adaptado de GUILHERME, M. A.).
4.2 GESTÃO DA APRENDIZAGEM.
A prática pedagógica reflexiva tem sido evidenciada como sendo de extrema importância na constituição do ser professor advindo de
todo o processo formativo onde o saber é vital, necessário e indispensável, frente aos novos desafios sócios educativos. O importante papel
que o professor exerce no sistema de ensino exige o reconhecimento de que este profissional necessita de uma formação continuada através
de capacitação, qualificação, aperfeiçoamento e antes de tudo, ter o propósito da reflexão inovadora, reelaborando continuamente suas
práticas docentes. Além disso, este profissional enfrenta grande desafio de se consolidar como profissional reflexivo frente às dificuldades
e aos obstáculos do cotidiano escolar, onde a base de sua prática é a sala de aula.
É evidente que este agente pedagógico constitui-se através do reconhecimento e da compreensão do próprio fazer e a possibilidade da
transformação da própria prática, sendo a reflexão entendida como um compromisso ético-social. Esta ideia de profissional docente supõe
o reconhecimento e a consciência nas ações, numa perspectiva de valores pessoais que sustentam a condição humana de analisar seus
erros, interrogando suas práticas de ensino, a fim de melhorá-las cotidianamente, tendo como compromisso pessoal, o pensamento voltado
a educação como “processo de humanização” (UTSUM, 2006). Perceber no ensino reflexivo, onde a condição ética é imprescindível nos
espaços de aprendizagem, implica uma prática “catalisadora” de melhores práticas, contemplando um ensino no sentido “de ensinar, de
educar, de formar, de construir, enfim, de viver”. (UTSUM, 2006).
O compromisso ético-social tem de ser discutido e classificado, não só como processo, e sim, como ação reflexivo-transfonnado- ra,
pois, não é qualquer pensamento sobre a prática ou ação, pode-se dizer que é reflexiva. Deve-se assumir e levar em conta que, este
pensamento reflexivo “tem subjacente uma avaliação continua de crenças, de princípios e de hipóteses” (OLIVEIRA, 2009). Nessa
perspectiva, a prática pedagógica aponta para mudanças, transformando o professor num profissional reflexivo dentro da complexidade do
trabalho docente, frente às incertezas pedagógicas cotidianas. Assim, em um primeiro momento discorreremos sobre os desafios do
docente como profissional reflexivo, pressupondo a respeito da nova realidade de onde está, requer o comprometimento e a redefinição nas
ações reflexivas, de forma persistente e cuidadosa, tendo a docente consciência de seu papel, acrescentando a isso, o princípio da dialogia
reflexivo-transfonnadora. A seguir, destacaremos a questão do perfil conceituai inerente à profissão docente do profissional reflexivo,
apontando para a necessidade de um docente estudioso, que objetiva reestruturar estratégias de ação-reflexão-ação, possibilitando uma
análise, de forma crítica, numa dialogia entre a realidade da política profissional e o contexto social.
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APCXTUAK PARA COhCLMOÇ PÚBLICOÇ
Creio não ser uma tentativa de justificar a ação da escola e do docente não reflexivo, perante os papéis sociais e profissionais exercido
por ambos: a questão é que em meio às condições colocadas no capítulo I, que trata do desafio do docente reflexivo, é importante
questionar se vivemos numa sociedade reflexiva, onde esta se coloca por vezes, na posição de algoz da instituição e do docente, acerca da
realidade escolar complexa, como reflexo de mna sociedade paradoxal.
Julgo poder dizer que a escola/educando tem de cumprir com sua função social, dialogando com a sociedade, consolidando suas
práticas reflexivas de fonna a comprometer todos os envolvidos, pais, alunos, colegas, sociedade, numa questão central que é o envol-
vimento, a cumplicidade, nos fundamentos de mna reflexão coletiva, indo em direção à emancipação do cidadão no processo humano da
constituição do saber. Ghedin coloca “a capacidade de questionamento e de auto questionamento é pressuposto para a reflexão [...] onde o
individualismo” (GHEDIN, 2009) vem em contraposição aos idéias de transformação e mudança social na ação reflexiva.
Refletir criticamente significa então colocar-se no contexto das ações como atores nas práticas institucionalizadas da educação. Em
face de tais observações, o universo escolar tem de se organizar de modo a criar condições para a prática reflexiva individual e coletiva, a
fim de melhorar as práticas cotidianas do ensino, com competência e consciência profissional em uma sociedade complexa. Nesse sentido
Ghedin diz que “os professores não estão à margem da discussão pública sobre a finalidade do ensino e sua organização [...] se encontram
no meio das contradições presentes na sociedade” (GHEDIN, 2009).
Se a sociedade vai se modificando, os aspectos voltados à cultura e educação devem pela lógica, acompanhar estas transformações
para atender ao propósito social. A instituição educacional, neste sentido deveria investir na qualificação dos seus profissionais. A
fonnação e a qualificação docente oferecidas, muitas vezes, vêm de encontro às exigências sócias educacionais, dentro de um contexto
contemporâneo.
A efetivação de mna resposta que não vem deixa a questão com um grande desafio ao docente que necessita de uma fonnação
qualificada como possibilidade transfonnadora onde lhe resta educar seu alunado como cidadãos críticos ativos e comprometidos na
construção de mna vida individual e pública digna de ser vivida (CONTRERAS, Apud, GHEDIN, 2009). A ação crítica e reflexiva
concebe colocar-se como agente de todo o processo de construção humana.
Contudo, este texto teve a pretensão de suscitar não somente o debate, mas, principalmente, a consolidação de práticas que efetivem a
construção e a realização de ações transfonnadoras advindas ao encontro da consciência dos valores e significados ideológicos na atuação
docente através das práticas reflexivas na construção do saber docente. O que sugere um professor crítico da ação e fonnação profissional.
Esta ação emancipadora das fonnas e do pensamento prático educativo tem sua vertente nos processos de fonnação e nos processos
contínuos de descoberta e redescoberta destas ações transfonnadoras, nmna postma crítica diante do seu fazer docente tendo como eixo
central a “reflexão na ação e a ação reflexiva”.
Neste processo, o professor tem papel decisivo, enquanto profissional deve possibilitar e conduzir à reflexão exercendo seu papel de
líder na preparação dos educandos, objetivando a fonnação de cidadãos ativos e críticos em que “o professor tem um papel decisivo: tem o
poder de se comunicar [...] um porta voz de princípios, conceitos e hábitos [...] deixa o papel de mero infonnante e passa a interagir com o
aluno, construindo junto o conhecimento e o saber” (BENINCÁ, 2004). Acrescentando a isso, faz-se necessário o rompimento das
“amanas” da “zona de conforto”, onde os modelos metodológicos ultrapassados vêm, por comprometer um ensino de qualidade, onde o
grande fantasma dos docentes são as pressões e os rótulos pré-estabelecidos que acabem por engessá-los, fazendo com que permaneçam
executando mna prática pedagógica distante da dialogia, ação-reflexão-ação, através do conhecimento cientifico e da prática cotidiana,
referindo-se a isso Benincá aponta que ”é preciso rever posições, revisar roteiros, romper os quadros esquemáticos que relegam nossa
prática a um status submisso aos chavões advindos do senso- comum”(BENINCÁ, 2004). (Texto de adaptado de CASTELLI, M. D. B.).
4.3 PLANEJAMENTO E GESTÃO EDUCACIONAL.
Planejar para construir o ensino
Em mna sala de aula, durante a fala do professor, um aluno fonnula uma pergunta. O professor ouve atentamente e se vê diante de um
dilema: O que fazer? Responder a pergunta objetivamente e continuar a exposição? Anotar a questão no quadro e dizer que responderá ao
terminar o que está expondo? Anotar a pergunta e pedir a toda classe que pense na resposta? Solicitar ao aluno que anote a pergunta e a
repita ao final da exposição? Qual a conduta mais correta?
Escolher uma resposta adequada depende de vários fatores que devem ser considerados pelo professor. Entre eles, se a pergunta
contribui para o desenvolvimento da atividade de ensino e aprendizagem naquele momento, ou ainda se existe pertinência em relação ao
conteúdo em jogo na atividade.
A pergunta pode evidenciar um nível de compreensão conceituai mais elaborado de um aluno se comparado à maioria da classe.
Respondê-la naquele momento transformaria a aula em uma conversa entre o professor e aquele aluno, que dificilmente seria acompanhada
pelos demais. Pode também revelar uma criança ou jovem com dificuldade de compreender o conceito em questão, o que sugere algum
tipo de atenção mais individualizada. É possível concluir ainda que a questão seria uma ótima atividade de aprendizagem em um momento
posterior, quando certos aspectos do conteúdo já estiverem esclarecidos.
Quando um professor de Ciências descobre que seus alunos da 6a série não conseguem resolver problemas porque têm dificuldades de
leitura, deverá, então, colaborar com o desenvolvimento da competência leitora de seus alunos, ainda que trabalhando com textos
específicos de sua área, como por exemplo, de divulgação científica, textos expositivos ou argumentativos.
Ao refletirmos sobre a avaliação mediadora do ensino e da aprendizagem em sala de aula, explicitamos uma função importante do
Planejamento do Ensino: ser a referência que o professor utiliza para avaliar continuamente o processo de ensino e aprendizagem, com o
propósito de garantir as aprendizagens dos alunos naqueles conteúdos eleitos no Planejamento.
Na condição de avaliador desse processo, o professor interpreta e atribui sentidos e significados à avaliação escolar, produzindo
conhecimentos e representações a respeito da avaliação e acerca de seu papel como avaliador, com base em suas próprias concepções,
vivências e conhecimentos. Nesse sentido, uma avaliação espelha um juízo de valor, uma dada concepção de mundo e de educação, e por
isso vem impregnada de um olhar absolutamente intencional que revela quem é o educador quando interpreta os eventos da cena
pedagógica.
Considerando, então, essa condição do professor, como avaliador, de atribuir sentidos e significados à avaliação, cabe-nos questionar:
que concepções pedagógicas subjazem à atual prática de avaliação do processo de ensino e de aprendizagem no contexto escolar?
Para responder a essa indagação, nos propomos a resgatar o significado de avaliação nas concepções pedagógicas dominantes no
contexto escolar, a partir dos séculos XVI e XVII, quando surge a prática dos exames escolares e, em seguida, analisar em que medida tais
concepções se encontram, ainda hoje, presentes e dominantes, na atual prática de avaliação do processo de ensino e de aprendizagem no
contexto escolar.
As Concepções Pedagógicas que permeiam a avaliação no contexto escolar
Utilizaremos quatro categorias para a análise da relação entre concepções pedagógicas e os significados de avaliação.
Em um primeiro momento, situaremos os exames e as provas escolares como práticas de avaliação, utilizadas a partir do século XVI,
no que se convencionou chamar de “Pedagogia Tradicional”, da qual decorre a concepção de que avaliação e exame se equivalem. Em mn
segundo momento, analisaremos a concepção de avaliação como medida, que teve o seu auge com a denominada “Pedagogia Tecnicista”.
A seguir, passaremos à concepção da avaliação como instrumento para a classificação e regulação do desempenho do aluno. Finalmente,
em mn quarto momento, trataremos da concepção qualitativa da avaliação.
Examinar para Avaliar
Numa perspectiva diacrônica, podemos remontar às práticas de avaliação sob a fonna de exames e provas, usadas em colégios
católicos da Ordem Jesuítica e em escolas protestantes, a partir do século XVI. Confonne Luckesi (2003): a tradição dos exames escolares,
que conhecemos hoje, em nossas escolas, foi sistematizada nos séculos XVI e XVII, com as configurações da atividade pedagógica
produzidas pelos padres jesuítas (séc. XVI) e pelo Bispo John Amós Comênio (fim do séc. XVI e primeira metade do século XVII).
No entanto, há registros de que tal prática antecede a esse período, pois, na China, três mil anos antes de Cristo, já se usavam os
exames para selecionar homens para o exército. Todavia, os exames escolares, como praticados hoje em nossas escolas, foram
sistematizados com o advento da modernidade e sua consequente prática educativa.
A prática dos exames atinge o seu apogeu com a ascensão e consolidação da burguesia, mna vez que desprovida dos privilégios
garantidos por nascimento e da fortuna da aristocracia recorre ao trabalho e aos estudos como fonna de ascensão social. Contudo, toma-se
importante ressaltar que a introdução generalizada do exame de admissão para o serviço público foi um grande passo na democratização do
Estado e na configuração de mna sociedade meritocrática.
Mediante o desenvolvimento do modo de produção capitalista, o exame continuou a ser “mna das peças do sistema” e, nesse sentido,
Afonso (2000) sustenta:
É, portanto, ao longo do século XIX que se assiste à multiplicação de exames e diplomas, pondo em evidência o contínuo controle por
parte do Estado dos processos de certificação. Como Karl Marx observou, o exame passa a mediar as relações mais amplas da cultura com
o Estado, constituindo-se num vínculo objetivo entre o saber da sociedade civil e o saber do Estado.
Defendendo a tese de que, ainda hoje, na escola brasileira, pública e particular, do ensino básico ao superior, praticamos exames
escolares em vez de avaliação da aprendizagem, Luckesi, afirma: historicamente, passamos a denominar a prática de acompanhamento da
avaliação da aprendizagem do educando de “Avaliação da aprendizagem escolar”, mas, na verdade, continuamos a praticar “exames”. Por
essa razão, o autor denomina de Pedagogia do Exame essa prática que, segundo ele, ainda se faz presente em nossas escolas. Para esse
autor, também podemos verificar os resquícios dessa Pedagogia do Exame em algumas práticas nacionais de avaliação, tais como o Exame
Nacional do Ensino Médio - Enem e o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - Sinaes (o extinto “Provão”), e que, segundo
ele, mais reforçam a cultura do exame do que a cultura da avaliação.
Embora o autor reconheça a utilidade e a necessidade dos exames nas situações que exigem classificação, como os concursos, e
naquelas que requerem certificação de conhecimentos, para ele, a sala de aula é o lugar onde, em tennos de avaliação, deveria predominar
o diagnóstico como recurso de acompanhamento e reorientação da aprendizagem, em vez de predominarem os exames como recursos
classificatórios.
Essa breve análise a respeito da prática de exames possibilitou-nos identificar uma primeira concepção sobre a avaliação ainda
presente em nossas escolas, ou seja, a de que avaliar é examinar.
Outro conceito dominante é o de que avaliar é medir o desempenho e, nessa perspectiva, será discutido a seguir.
Medir para Avaliar
A concepção de avaliação como processo de medida teve sua origem no início do século XX, nos Estados Unidos, com os estudos de
Thomdike acerca dos testes educacionais. Tais estudos prosperaram muito e resultaram no desenvolvimento de testes padronizados para
medir habilidades e aptidões dos alunos. Paralelamente, há de se considerar, no início do século XX, a contribuição da Psicologia à
avaliação educacional. Essa contribuição pode ser vista sob dois ângulos. O primeiro diz respeito aos testes psicológicos, com base nos
estudos de Spennan, sobre a Psicometria, e de Binet e Simon (1905), que criaram o primeiro teste de inteligência para crianças e adultos.
Essa possibilidade de mensuração de comportamentos por meio de testes propiciou a expansão de uma cultura dos testes e medidas na
educação e, por essa razão. Dias Sobrinho (2003) afirma que, nas primeiras décadas do século passado, avaliar se confundia com medir:
Embora consideremos hoje importante distinguir avaliação e medida, naquele momento, esses tennos se tomavam um pelo outro. A
avaliação era eminentemente técnica, consistindo basicamente em testes de verificação, mensuração e quantificação de resultados.
O segundo ângulo por meio do qual se pode focalizar a contribuição da Psicologia à avaliação educacional refere-se aos estudos da
Psicologia Comportamental sobre a aprendizagem. Essa abordagem considera que a aprendizagem pode ser quantificada e, portanto,
medida. Tais estudos fundamentam a chamada Pedagogia Tecnicista.
A Pedagogia Tecnicista busca sua concepção de aprendizagem na psicologia comportamental. Esta sempre buscou adquirir o “status”
de ciência, libertando-se da introspecção e fundamentando-se na lógica científica dominante que lhe garantisse a objetividade das ciências
da natureza. Seu principal foco de preocupação são as mudanças comportamentais que possam ser cientificamente observadas, portanto,
quantificadas.
A ideia de avaliar, não só para medir mudanças comportamentais, mas também a aprendizagem, portanto para quantificar resultados,
encontra-se apoiada na racionalidade instrumental preconizada pelo Positivismo.
Coerente com essa visão de quantificação de resultados, a avaliação é conceituada como a sistemática de dados por meio da qual se
determinam as mudanças de comportamento do aluno e em que medida estas mudanças ocorrem. Portanto, ela visa a comprovar o
rendimento do aluno com base nos objetivos (comportamentos) predefinidos e, desse modo, a avaliação é reduzida à medida e separa o
processo de ensino de seu resultado.
Mas afinal o que é mna medida?
Segundo Hadji (2001), medir significa atribuir um número a um acontecimento ou a um objeto, de acordo com uma regra logicamente
aceitável.
Para esse autor, a ideia de que a avaliação é uma medida dos desempenhos dos alunos encontra-se fortemente enraizada na mente dos
professores e, frequentemente, na mente dos alunos, e a dificuldade para a superação dessa concepção reside na suposta “confiabilidade”
das medidas em educação e nos parâmetros “objetivos” utilizados pelos professores para atribuir notas às tarefas dos alunos:
Uma medida é objetiva no sentido de que, uma vez definida a unidade, deve-se ter sempre a mesma medida do mesmo fenômeno.
Certamente, um erro é sempre possível, devido às imperfeições da instrumentação, pois ele resulta então das condições de operacio-
nalização dos instrumentos. Ele provém da operação de medida. Por essa razão, pode ser calculado e, portanto, neutralizado.
Desse modo, para o referido autor, reduzir a avaliação à medida ou mais especificamente à prova implica aceitar a confiabilidade da
prova como instrumento de medida e desconsiderar que a subjetividade do avaliador pode interferir nos resultados da avaliação.
Em razão disso, ele nos alerta, registraremos aqui o fato de que hoje se sabe que a avaliação não é uma medida pelo simples fato de
que o avaliador não é um instrumento, e porque o que é avaliado não é um objeto no sentido imediato do tenno. Todos os professores-
avaliadores deveríam, portanto, ter compreendido definitivamente que a “nota verdadeira” quase não tem sentido.
Avaliar para Classificar ou para Regular
Uma das concepções mais tradicionais sobre a avaliação na escola refere-se à possibilidade de classificar o desempenho do aluno por
meio da avaliação.
Nessa perspectiva, Perrenoud (1999) declara:
A avaliação é tradicionalmente associada, na escola, à criação de hierarquias de excelência [grifo do autor]. Os alunos são comparados
e depois classificados em virtude de mna nonna de excelência, definida em absoluto ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos.
Para esse autor, outra função tradicional que a avaliação assume no contexto escolar é a certificação, isto é, o diploma garante que o
seu portador recebeu uma fonnação e, portanto, não necessita se submeter a novos exames.
Uma certificação fornece poucos detalhes dos saberes e competências adquiridos e do nível de domínio precisamente adquirido em
cada campo abrangido. Ela garante, sobretudo, que mn aluno sabe globalmente “o que é necessário saber” para passar para a série seguinte
no curso, ser admitido em uma habilitação ou começar uma profissão (...). A vantagem de uma certificação instituída é justamente a de não
precisar ser controlada ponto por ponto, de servir de passaporte para o emprego ou para uma formação posterior.
Segundo Perrenoud (1999), nossas práticas de avaliação são atravessadas por duas lógicas não necessariamente excludentes: a
fonnativa e a somativa.
No que se refere à lógica da avaliação somativa, Sordi (2001), apoiando-se em Perrenoud (1999), afirma:
Esta se relaciona mais ao produto demonstrado pelo aluno em situações previamente estipuladas e definidas pelo professor, e se
materializa na nota, objeto de desejo e sofrimento dos alunos, de suas famílias e até do próprio professor. Predomina nessa lógica o viés
burocrático que empobrece a aprendizagem, estimulando ações didáticas voltadas para o controle das atividades exercidas pelo aluno, mas
não necessariamente geradoras de conhecimento.
Já a outra lógica - a fonnativa - preocupa-se com o processo de apropriação dos saberes pelo aluno, os diferentes caminhos que
percorre, mediados pela intervenção ativa do professor, a fim de promover a regulação das aprendizagens, revertendo a eventual rota do
fracasso e reinserindo o aluno no processo educativo.
Assim, podemos depreender que a avaliação somativa apoia-se em uma lógica ou em uma concepção classificatória de avaliação cuja
função, ao final de uma unidade de estudos, semestre ou ano letivo, é a de verificar se houve aquisição de conhecimento.
Quanto a essa modalidade de avaliação, Azzi (2001) declara:
A avaliação que acontece ao final nos dá uma dimensão do significado e da relevância do trabalho realizado. Difundida nos meios
educacionais com a denominação de somativa, é sempre associada à ideia de classificação, aprovação e reprovação. Tal associação tem
sentido e não é errada em uma proposta que tenha esses objetivos. Nmna proposta que vise à inclusão do aluno, a avaliação final necessita
ser redimensionada, sem perder seu caráter de seriedade e rigor.
Com relação à avaliação fonnativa, Hadji (2001) sustenta que sua função principal é a de contribuir para uma boa regulação da
atividade de ensino (ou da fonnação, no sentido amplo). Trata-se, portanto, de levantar infonnações úteis à regulação do processo de
ensino-aprendizagem. Todavia, ele nos lembra: uma avaliação não precisa confonnar-se a nenhum padrão metodológico para ser fonnativa.
Nessa medida, observa-se que, na prática, essas lógicas convivem entre si. Para Sordi (200i), porém, a diferença reside na posição do
educador diante delas, ou seja, na coragem do professor em assumir a sua titularidade e sua autonomia na definição do que vale em
avaliação.
Avaliar para Qualificar
Como reação às concepções tecnicista e quantitativa da avaliação, segundo Saul (1988), a partir da década de 1960, surgem inúmeras
críticas sobre os modelos e práticas da avaliação em nossas escolas, verificando-se mn rápido desenvolvimento de enfoques de avaliação
alternativos, com pressupostos éticos, epistemológicos e teóricos bem diferentes. Nesse sentido, a autora se refere à busca de alternativa
para a avaliação escolar:
Produziu-se um acelerado desenvolvimento do interesse sobre a perspectiva chamada de avaliação “qualitativa”. Esse movimento
deveu-se em grande parte ao reconhecimento de que os testes padronizados de rendimento não ofereciam toda a informação necessária
para compreender o que os professores ensinavam e o que os alunos aprendem.
Caracteriza que na concepção qualitativa de avaliação há uma preocupação em compreender o significado de produtos complexos a
curto e a longo prazos, explícitos e ocultos, o que requer uma mudança de orientação, uma troca de polo: da ênfase nos produtos à ênfase
no processo.
Por essa razão, para a autora, a “avaliação qualitativa” passa a incorporar um conjunto de técnicas, orientações e pressupostos da
metodologia etnográfica, da investigação de campo.
Outra característica dessa avaliação é o delineamento flexível que permita um enfoque progressivo, isto é, a avaliação centrada em
processos é em si mesma mn processo que evolui em virtude de descobertas sucessivas e de transfonnações do contexto; supõe, então, um
enfoque seletivo e progressivo.
Na esteira de uma avaliação de cunho qualitativo, a autora propõe uma modalidade, por ela denominada de avaliação emanci- patória,
cujas três vertentes teórico-metodológicas são: a avaliação democrática; crítica institucional e criação coletiva; e a pesquisa participante.
Observamos, portanto, que essa proposta de avaliação qualitativa surgiu a partir da necessidade de uma revisão e ultrapassagem das
premissas epistemológicas até então vigentes. Demo (2004) declara: a avaliação qualitativa pretende ultrapassar a avaliação quantitativa,
sem dispensar esta. Entende que no espaço educativo os processos são mais relevantes que os produtos, não fazendo jus à realidade, se
reduzida apenas às manifestações empiricamente mensuráveis. Estas são mais fáceis de manipular metodologicamen-
te, porque a tradição científica sempre privilegiou o tratamento mensurado da realidade, avançando, por vezes, de maneira incisiva em
algumas disciplinas sociais, como a economia e psicologia. Todavia, não se pode transferir a limitação metodológica a pretensa redução do
real. Este é mais complexo e abrangente do que sua face empírica. A avaliação qualitativa gostaria de chegar até à face qualitativa da
realidade, ou pelo menos de se aproximar dela.
Na opinião de Esteban (2003), a avaliação qualitativa configura-se como um modelo em transição por ter como centralidade a
compreensão dos processos dos sujeitos e da aprendizagem, o que produz mna ruptura com a primazia do resultado característico do
processo quantitativo. Nesse sentido, a autora afirma:
A avaliação qualitativa tenta responder à imposição de a avaliação qualitativa apreender a dinâmica e a intensidade da relação
aprendizagem-ensino, porém articulada por princípios que sustentam o conhecimento-regulação-mercado. Estado e comunidade.
Suas pesquisas sobre a avaliação do rendimento do aluno indicam que a construção de um modelo híbrido, que mantém como
perspectiva global o modelo quantitativo, de alguma maneira suavizado pela inclusão da análise de alguns fatores subjetivos nessa
avaliação, não chega a significar uma real transformação no paradigma da avaliação. Nesse sentido, Esteban (2001) assinala: Muitas vezes
observamos, tanto na sala de aula quanto nas propostas que chegam à escola, a manutenção da prática de avaliação fundamentada na lógica
classificatória e excludente, ainda que a prática adquira uma aparência inovadora e que o conceito de avaliação escolar associado à
quantificação do rendimento do/a aluno/a seja objeto de inúmeras e profundas críticas.
De acordo com Santos Guerra, fala-se em avaliação de conteúdos, conceitos, procedimentos, atitudes, mas há que se sintetizar todo o
processo nmn conceito ou número.
Desta análise, podemos depreender que embora não se possa negar a incorporação da abordagem qualitativa como um avanço na
proposta de avaliação escolar ela ainda não é suficiente para a reconstrução global da práxis avaliativa. Segundo Esteban (2001), as
concepções qualitativa e quantitativa mantêm o sujeito individualizado e não consideram a dimensão social da constituição da
subjetividade, de suas características peculiares, de suas possibilidades, de suas dificuldades, etc.; conservam a concepção de que é
necessário harmonizar o indivíduo às condições postas.
Assim, ao abordar as concepções pedagógicas que permeiam a avaliação no contexto escolar, pudemos verificar, inicialmente, que
avaliar e examinar se equivalem. Esteban (2004) declara: embora muito criticada, a avaliação do desempenho escolar, como resultado do
exame que o professor ou professora realiza sobre o aluno ou aluna, ainda é predominante.
Observa-se também que avaliar tem-se confundido com a possibilidade de medir a quantidade de conhecimentos adquiridos pelos
alunos e alunas, considerando o que foi ensinado pelo professor ou professora. Nesse sentido, Gatti (2003) afirma:
É preciso ter presente, também, que medir é diferente de avaliar. Ao medirmos um fenômeno por intermédio de uma escala, de provas,
de testes, de instrumentos calibrados ou por uma classificação ou categorização, apenas estamos levantando dados sobre uma grandeza do
fenômeno. (...) Mas, a partir das medidas, para termos uma avaliação é preciso que se construa o significado dessas grandezas em relação
ao que está sendo analisado quando considerado com um todo, em suas relações com outros fenômenos, suas características historicamente
consideradas, o contexto de sua manifestação, dentro dos objetivos e metas definidos para o processo de avaliação, considerando os valores
sociais envolvidos.
Outra concepção sobre a avaliação escolar refere-se à classificação dos alunos e alunas em uma escala que opera com pares
excludentes, tais como: maduro/imaturo, capaz/incapaz, forte/fraco, bom/mau, entre outros. Essa classificação possibilita a delimitação dos
lugares dos estudantes na escola, seus limites e possibilidades de aprendizagem. Para Esteban (2004, p. 85), a avaliação classificatória não
é somente um elemento justificador da inclusão/exclusão, ela está constituída pela lógica excludente dominante em nossa sociedade.
O conceito de avaliar para qualificar exige que a questão metodológica da avaliação seja tratada com pluralidade e maior flexibilidade,
a fim de contemplar as diferenças. Contudo, em relação ao processo de avaliação qualitativa no cotidiano escolar, Esteban (2003) assinala:
Não obstante a crítica ao modelo quantitativo e a redefinição das práticas em consonância às novas perspectivas teórico-meto-
dológicas apresentadas, a avaliação qualitativa continua sendo uma prática classificatória. Vemos, na escola, as provas únicas com
questões objetivas serem substituídas por testes ou provas distribuídas ao longo de um período letivo trazendo questões mais abertas, que
solicitam opiniões e reflexões dos estudantes, que propõem o estabelecimento de questões mais amplas. As questões pretendem estimular
uma maior participação do sujeito que aprende na elaboração de respostas e captar o processo de aprendizagem; os exames passam a ser
complementados pela observação da professora sobre o movimento dos alunos e alunas que aprendem.
Assim, há evidências de que a vertente qualitativa da avaliação introduz aspectos que nos conduzem à reflexão epistemológica sobre a
práxis da avaliação escolar, pois, embora a prática pedagógica permaneça delimitada pelo modelo positivista, observamos o movimento
que denuncia sua insuficiência para responder às demandas cotidianas.
Portanto, a análise do contexto escolar aponta o esgotamento do modelo teórico-epistemológico que define a avaliação e confirma a
ideia apresentada por Barriga (1982) segundo a qual é indispensável a ruptura com o paradigma epistemológico que circunscreve o
processo avaliativo, para que se possa formular uma teoria de avaliação que ultrapasse os limites da teoria da medida e implemente práticas
pedagógicas com novos significados.
Além disso, com base nesta análise acerca das concepções que penneiam a avaliação no contexto escolar, concluímos que elas estão
intimamente relacionadas às mudanças que vêm ocorrendo em relação às concepções de educação que orientam as práticas pedagógicas
desde que a escola foi instituída como espaço de educação fonnal.
Nessa perspectiva, o processo escolar, constituído sob o prisma do pensamento liberal e do paradigma positivista, detenninou uma
prática de avaliação essencialmente classiíicatória.
Por essa razão, consideramos que a implementação de políticas educativas, aliada a uma atuação pedagógica atenta a conflitos,
contradições, fissuras, fragmentos, vozes que constituem o panorama escolar, poderá dar novos sentidos à práxis da avaliação. (Texto
adaptado de Mary Stela F. C., Mestre em Educação).
4.5 0PROFESSOR: FORMAÇÃOE PROFISSÃO.
Processo de Profissionalização do Professorado
ETAPAS: Corpo de conhecimentos e técnicas e conjunto de nonnas e valores
Ia etapa: Exercício em tempo integral (ou como ocupação principal) da atividade docente. Isto começa a partir do momento, em que a
atividade não mais passa a ser encarada de fonna passageira, mas sim como mn trabalho ao qual consagram uma parte importante de sua
vida profissional.
2a etapa: Estabelecimento de um (estatuto) suporte legal para o exercício da atividade docente. Isto começa a se efetivar a partir do
momento em que para a realização desta atividade, sejam detentores de uma licença oficial, que confirma a condição de “Profissionais do
Ensino” e funciona como instrumento de controle e de defesa do corpo docente (licenças para lecionar).
3a etapa: Criação de Instituições específicas para a fonnação de professores: sugeriram uma fonnação profissional, especializada e
relativamente longa, no seio de instituições expressamente destinadas para tal fim. AEscola Nonnal: “para garantir um aprendizado
mínimo em um tempo relativamente longo” e para instituir mna titulação.
4a etapa: Constituição de Associações profissionais; os professores agora começam a organizar-se em associações profissionais, que
desempenham mn papel central e ponto de apoio no desenvolvimento de mn espírito de corpo na defesa do estatuto socioprofis- sional dos
professores.
Neste processo devem ser consideras duas dimensões:
1. Possuem um conjunto de conjunto de conhecimentos e de técnicas necessárias ao exercício qualificado da atividade docente: seus
saberes não são meramente instrumentais, devendo integrar perspectivas teóricas de tender para um contato cada vez mais estreito com as
disciplinas cientificas.
2. Aderem a valores éticos e nonnas deontológicas, que regem não apenas o quotidiano educativo, mas também as relações no interior
e no exterior do corpo docente.
Mesmo que a análise do processo de profissionalização possa sugerir sempre mna evolução linear inexorável. Nada de mais errado. A
afinnação profissional dos professores é mn percurso repleto de conflitos, de hesitações e de recuos. O campo educativo está ocupado por
inúmeros atores (Estado, Igreja, Família, etc.) e muitas vezes, imbricado de interesses e ideologias que sentem a consolidação do corpo
docente como uma ameaça aos seus interesses de projetos.
Neste sentido, a história nos aponta que o movimento associativo docente tem uma história de poucos consensos e de muitas divisões:
norte/sul, progressistas/conservadores, católicos/laicos, nacionalistas/ intemacionalistas, etc. A compreensão do processo de
profissionalização exige, portanto um olhar atento às tensões que o atravessam e que se movimentam, assmnindo fonnas e identidades que
constantemente vão se reconstruindo e reconfigurando.
Vivenciamos a passagem do século XX para XXI e um dos fatos mais importantes que estamos presenciando é a globalização ou a
mundialização da economia, um momento repleto de “novos conflitos”, de “novas hesitações” e de “novos recuos” e de “novas
hesitações”, que podem não ser tão novos assim, mas este fenômeno está diretamente relacionado ao desenvolvimento histórico da
sociedade capitalista, estratificada em classes sociais, a qual produz mudanças de relações de produção e consumo e para tal requer
trabalhadores, novos consumidores e “novos profissionais do ensino” e “um novo homem”.
Novas tecnologias são inventadas a todo instante, demandando dos profissionais de todas as áreas mn novo perfil na condução dos
trabalhos. O mercado do trabalho está exigindo e valorizando homens competitivos, que saibam se utilizar da infonnática. Internet, que
tenham habilidades comunicativas e cognitivas. A questão da “competência” também tem sido constantemente enfatizada e o lema
“aprender a aprender” tem recebido grande destaque nos últimos tempos. Todas essas transfonnações interferem em várias esferas da vida
social, provocando mudanças no âmbito social, político, cultural, assim como nas escolas e no exercício da profissão do docente.
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
Tal preocupação também vem permeado as discussões sobre o processo de formação de professores, que, de acordo com Marin
(1996), é bastante antiga, no entanto, continua uma problemática atual, uma vez que a produção teórica em tomo desta temática, para quem
trabalha na área é objeto fundamental de investigação.
Nóvoa (1995,1995,1995), ao escrever sobre as dimensões pessoais e profissionais dos professores, valendo-se de uma retrospectiva
histórica, mostra que os estudos sobre a formação e atuação de professores, de forma geral, foram marcados por uma separação entre o eu
pessoal e o eu profissional. No final da década 80, começaram a ocorrer estudos que tiveram o mérito de “recolocar os professores no
centro de debates educativos e das problemáticas da investigação” (Nóvoa, 1995), contribuindo para compreender a complexidade dessa
profissão e das atuais sociedades, o que exige por parte dos professores uma ampla preparação profissional e maior autonomia na condução
de suas atividades profissionais.
Os trabalhos de Nóvoa e de muitos outros trouxeram uma nova perspectiva nos estudos dos professores, resgatando a influência da
individualidade do professor no desempenho de sua profissão.
Referindo-se à questão da profissão professor, Sacristán (1995) entende “por profissionalidade a afirmação do que é específico na
ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser
professor”.
A profissão, no entendimento de Pophkewitz (1995), “é uma palavra de construção social”, cujo conceito muda em função das
condições sociais em que as pessoas o utilizam. Tem relação com o modo como o termo profissionalização é usado no contexto
propriamente sócio- político onde a prática pedagógica se desenvolve. O conceito do que é profissionalidade docente não é estático, sendo,
portanto, constantemente elaborado.
Para Libâneo (1998), profissionalismo “significa compromisso com mn projeto político-democrático, participação na construção
coletiva do projeto pedagógico, dedicação ao trabalho de ensinar a todos, domínio da matéria e dos métodos de ensino, respeito à cultura
dos alunos, assiduidade, preparação de aulas, etc.” Os professores, no contexto atual, vivenciam as consequências de uma situação de mal-
estar, provocadas por mudanças recentes na educação. Essa situação de mal-estar pode ser representada pelos sentimentos que os mesmos
têm diante das circunstâncias que o próprio processo histórico produziu em termos de educação, como desmotivação pessoal e, muitas
vezes, abandono da própria profissão, insatisfação profissional, percebida através de pouco investimento e indisposição na busca de
aperfeiçoamento, esgotamento e “stress”, como consequência do acúmulo de tensões, depressões, ausência de uma reflexão crítica sobre a
ação profissional e outras reações que permeiam a prática educativa e que acabam, em vários momentos, provocando um sentimento de
autodepreciarão (Esteve, 1995).
Além de abordar sobre essa situação de mal-estar, a produção científica em tomo de questões da profissionalização docente tem
destacado a necessidade da formação reflexiva dos professores, Alarcão (1996) esclarece que, na década de 80, começaram a ser
difundidas as idéias de Donald Schõn, que despertaram considerações sobre a abordagem reflexiva na formação de professores.
O conceito de professor reflexivo emergiu, inicialmente, nos Estados Unidos em oposição ao movimento que enfatizava a
aprendizagem de técnicas, ao racionalismo técnico, considerando, então, que o professor deve ser encarado como um intelectual em
contínuo processo de formação.
Schõn fundamentou suas pesquisas na teoria da indagação de John Dewey, filósofo, psicólogo e pedagogo norte-americano que muito
influenciou o pensamento pedagógico contemporâneo e o movimento da Escola Nova.
Campos e Pessoa (1998) afirmam que Dewey foi um crítico das práticas pedagógicas que pregavam a obediência e a submissão e que
a educação, no seu entender, “está continuamente reconstruindo a experiência concreta, ativa e produtiva de cada um” (p. 187). Gerardi,
Messias e Guerra (1998, p. 248) esclarecem que Dewey “definiu a ação reflexiva como uma ação que implica uma consideração ativa e
cuidadosa daquilo que se acredita ou que se pratica, iluminada pelos motivos que a justificam e pelas consequências a que conduz” e que
“a busca do professor reflexivo é a busca do equilíbrio entre a reflexão e a rotina, entre o ato e o pensamento”. A ação reflexiva envolve
intuição, emoção e não é somente um conjunto de técnicas que podem ser ensinadas aos professores.
Zeichener e Liston, nos Estados Unidos, também trabalham com a perspectiva do professor reflexivo. No entanto, seus estudos
distinguem- se dos de Schõn e mesmo de sua fonte inspiradora básica, Dewey. Para estes autores, conforme Geraldi, Messias e Guerra
(1998, a reflexão não é mn ato solitário, como Schõn propõe, mas um ato coletivo.
Diante das atuais circunstâncias, a proposta de formação de professores na perspectiva do professor reflexivo salienta o aspecto da
prática como fonte de conhecimento através da reflexão e da experimentação. Onde o papel do formador consiste mais em facilitar a
aprendizagem, em ajudar a aprender, o que sugere um repensar o processo de formação dos processos de formação de professores, que
devem então, propor situações de experimentação que permitam a reflexão, assim como os professores precisam refletir sobre o papel de
ensinar.
Nesse sentido, Libâneo (1998) esclarece que a tarefa de ensinar a pensar exige do professor o conhecimento de estratégias de ensino e
o desenvolvimento de competências de ensinar. O professor necessita então, aprender a regular as suas próprias atividades de pensamento
e, principalmente, “aprender a aprender”.
O ensino reflexivo, mesmo quando analisado sob diferentes óticas teórico-metodológicas, dá ênfase às preocupações com a
experiência pessoal e com o desenvolvimento profissional de professores. Retomando as idéias de Nóvoa, é necessário um investimento na
pessoa do professor e na sua profissão. O que pode constituir-se numa política de valorização do desenvolvimento pessoal- -profissional
dos professores.
Participar e comprometer-se com a prática de valores que estimulem os princípios educativos no âmbito escolar exige muito mais do
que uma compreensão da realidade. Exige transparência e consciência da verdadeira função que cada ator tem em estruturar as suas ações e
seus diálogos vislumbrando uma convivência harmoniosa e ponderada.
Os educadores participantes das discussões evidenciaram ainda a ética como construtora da felicidade humana baseada na liberdade e
no respeito às diferenças individuais.
Pressupostos vinculados à ética
Todos têm direitos e deveres no meio em que vivem. Cabe a escola questionar como eles se apresentam. Até que ponto a comunidade
onde se está inserido não está abnegando estes direitos, cada um cumpre com os seus deveres para cobrar os seus direitos? Questões que
podem ser levantadas constantemente pela escola.
Alguns pressupostos estão vinculados à ética como a justiça, a solidariedade, o respeito mútuo e o diálogo. Temas importantes para
serem inseridos nas aulas de diferentes disciplinas de maneira transversal, permitindo desmitiíicar a questão ética como sendo restrita à
área da Filosofia.
A justiça já era mna preocupação dos filósofos gregos, pois Platão em sua República já pensava como deveria ser tratado um ato justo,
qual a relação entre justiça e injustiça. No entanto, há de ser questionado como despertar no educando a noção de justiça. A escola pode
propiciar situações onde seja exercitada a criticidade do educando oportunizando-lhe a distinção entre um ato justo e um injusto. Fazer essa
distinção na escola faz com que o educando reflita sobre a diferença e possa a partir de suas vivências criar relações que exemplifiquem
tais questões.
A escola pública possui uma diversidade cultural, étnica, religiosa, sexual e social muito grande. Nesse contexto, a solidariedade
assume um lugar de comprometimento com o aprendizado. Ser solidário no ambiente escolar é respeitar as diferenças que constituem os
atores educacionais, não ocultando a sua existência, mas trabalhando estas diferenças no coletivo. Solidariedade. A partir dela, os
educadores sentiram-se mais confiantes no que realmente podem ser enquanto profissionais da educação comprometidos com a vida de
cada mn de seus educandos. Faz-se necessário superar as barreiras do Capitalismo, do corre-corre diário, de competição desenfreada, onde
a vantagem está em primeiro lugar, para triunfar a solidariedade, a compreensão e o respeito. Respeito mútuo. Sem ser unilateral. Respeitar
com reciprocidade.
E ainda, dialogar. Manter o diálogo em sala de aula é uma atividade muito importante para criar condições de discussão, sobre temas
relacionados a questões sociais, políticas e econômicas. Essas discussões criam conceitos ou os reformulam, ou até mesmo constroem
outros a partir da vivência de cada um.
Contudo, de acordo com os PCN’s a distinção que se faz contemporaneamente entre ética e moral tem a intenção de salientar o caráter
crítico da reflexão, que permite um distanciamento da ação, para analisá-la constantemente e reformulá-la, sempre que necessário. Por ser
reflexiva, a ética tem, sem dúvida, um caráter teórico. Isso não significa, entretanto, que seja abstrata, ou metafísica, descolada das ações
concretas. Não se realiza o gesto da reflexão por mera vontade de fazer um “exercício de crítica”. A crítica é provocada, estimulada, por
problemas, questões-limites que se enfrentam no cotidiano das práticas. A reflexão ética só tem possibilidade de se realizar exatamente
porque se encontra estreitamente articulada a essas ações, nos diversos contextos sociais. É nessa medida que se pode afirmar que a prática
cotidiana transita continuamente no terreno da moral, tendo seu caminho iluminado pelo recurso à ética.
No contexto escolar, âmbito de diversos atores, a ética faz-se presente em momentos imensuráveis, uma vez que está vinculada às
relações que se processam entre esses atores.
Assim, os professores da rede pública estadual compreendem por ética as relações estabelecidas entre os seres humanos e a
valorização das relações interpessoais. A partir daí busca-se o respeito mútuo criando um espaço de discussão, aberto ao diálogo
possibilitando aos envolvidos no processo de ensinar e aprender a compreensão da ética como eixo condutor das atitudes morais.
Por fim, foi salientada a valorização do diálogo enquanto mna prática possível e viável para a solução dos problemas escolares
vislumbrando a pretensão de que a escola possa um dia aprender a trabalhar com as diferenças onde todos sejam possuidores de direitos e
deveres, sentenciando o fim das desigualdades. (Texto adaptado dos professores Edson Carpes Camargo, e Jorge Alberto Lago Fonseca)
Com uma série de avanços na área educacional, a Constituição de 1934 foi uma das Constituições brasileiras que mais reconheceu a
importância da educação para o desenvolvimento sócio cultural do país.
Deve-se ressaltar que os progressos na área educacional inseridos no texto final da Carta Constitucional de 1934 se deram em virtude
do grande debate acerca do tema existente à época. De mn lado estavam os defensores da chamada “Educação Nova” - influenciados pelas
doutrinas pedagógicas surgidas na década de 30 - e, de outro, os adeptos da corrente católica que continuavam a exercer grande influência
na área educacional. O resultado dessa discussão foi a inserção de mn capítulo especial na Constituição sobre família, educação e cultura.
A educação passava a ser vista como um direito de todos, devendo ser ministrada pelo Estado e pela família. Neste sentido, cabería ao
Estado traçar, com exclusividade, as diretrizes da educação nacional. Esta foi a primeira tentativa na história constitucional brasileira de se
estabelecer bases concretas para a criação de um projeto educacional de longo prazo que contemplasse todo o território nacional.
Os Estados e o Distrito Federal deveríam organizar os seus próprios sistemas de ensino, tendo sempre em vista as diretrizes es-
tabelecidas pela União. Além disso, deveríam ser organizados os conselhos estaduais de educação com funções semelhantes àquelas
atribuídas ao Conselho Nacional.
A liberdade de cátedra foi uma das maiores conquistas atribuídas ao magistério no texto constitucional. É impossível imaginar uma
verdadeira educação baseada na liberdade e no respeito mútuo sem que o professor tenha a plena garantia de que não sofrerá retaliações
por manifestar seu pensamento.
Pela primeira vez a Constituição estabeleceu valores mínimos a serem aplicados em educação:
Art. 156. A União e os Municípios aplicarão nunca menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte
por cento, da renda resultante dos impostos, na manutenção e no desenvolvimento dos sistemas educativos.
Parágrafo único. Para a realização do ensino nas zonas rurais, a União reservará, no mínimo, vinte por cento das quotas destinadas á
educação no respectivo orçamento annual.3
A Constituição determinou, ainda, a prestação de auxílios subsidiários à educação, tais como: atendimento médico-dentário e
alimentação aos alunos mais carentes (art. 157, §2°).
A Constituição de 1934 se preocupou também com a qualificação dos professores. Neste sentido, estabeleceu a realização de concurso
de títulos e provas para o provimento em cargos do magistério que, a partir de então, passavam a contar com a garantia de vitaliciedade e
inamovibilidade. Somente poderíam ser contratados professores sem concurso por prazo determinado.
A educação na Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937
A Carta Constitucional outorgada em 1937 foi instrumento de notável retrocesso em matéria educacional. Parte das conquistas
alcançadas com a Constituição de 1934 foi descaracterizada pela Constituição do “Estado Novo”.
João Baptista Herkenlioff define muito bem quais os princípios norteadores da política educacional getulista:
Sob a inspiração do fascismo, via-se o Estado promovendo a disciplina moral e o adestramento físico da juventude, de maneira a
prepará-la para o cumpri- mento de seus deveres com a economia e a defesa da Nação. Foi dada ênfase ao ensino cívico, que se confundia
com o culto ao regime e à pessoa do ditador.
A política educacional assumiu um caráter centralizador, em consonância com o centralismo do Estado autoritário. Suprimido o
Parlamento, o chefe de Estado legislou, discricionariamente, em matéria de ensino, como em todas as outras matérias.
Concedeu-se grande privilégio ao ensino particular. Exemplo disso é a subsidiariedade do ensino público em relação ao ensino
privado. A preferência pelo ensino particular demonstrava a intenção do governo getulista em se eximir da responsabilidade no que tange à
matéria educacional. A educação tomara-se, deste modo, responsabilidade exclusiva das famílias e da sociedade civil.
No texto constitucional não havia nenhuma indicação de recursos a serem utilizados pela União e pelos Estados na criação e
manutenção dos sistemas de ensino.
Para que os objetivos político-econômicos da gestão de Getúlio Vargas fossem plenamente realizáveis, deu-se preferência ao ensino
profissionalizante das classes menos favorecidas. Esta “preferência” demonstrava uma política educacional totalmente discriminatória: aos
pobres era oferecido ensino profissionalizante e aos ricos cabia o privilégio de frequentar uma escola secundária voltada à formação
intelectual da elite. Depreende- se da leitura do art. 129 da Constituição de 1937 a opção pela distinção na educação de ricos e pobres:
Art. 129. À infância e à juventude, a que faltarem os recursos necessários à educação em instituições particulares, é dever da Nação,
dos Estados e dos Municípios assegurar, pela fundação de instituições públicas de ensino em todos os seus graus, a possibilidade de
receber mna educação adequada às suas faculdades, aptidões e tendências vocacionais.
O ensino pré vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é, em matéria de educação, o primeiro dever do Estado.
Cumpre-lhe dar execução a esse dever, fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados, dos
Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais.
É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera de sua especialidade, escolas de aprendizes, destinadas aos filhos
de seus operários ou de seus associados. A lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que caberão ao Estado sobre essas escolas,
bem como os auxílios, facilidades e subsídios a lhes serem concedidos pelo poder público.
A educação na Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1946
A Constituição promulgada após o fim do “Estado Novo” procurou restabelecer a ordem democrática e, em matéria educacional,
buscou re- compor o modelo educacional idealizado pela Constituição de 1934 e que fora completamente esquecido pela Carta outorgada
em 1937.
Estabeleceu que a União seria competente para legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional, modificando sensivelmente a
centralização das políticas educacionais adotada por Getúlio Vargas.
A educação volta a ser direito de todos, a ser ministrada no lar e na escola, devendo inspirar-se nos princípios da liberdade e nos ideais
de solidariedade humana (art. 166). O Estado deveria assegurar a oferta de ensino público em todos os níveis, sendo, no entanto, livre o
ensino pela iniciativa particular desde que respeitadas as leis reguladoras.
Retomou a obrigação da aplicação de percentuais mínimos da renda dos impostos em educação: 10% para a União e 20% para os
Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 169).
A Constituição determinou a criação dos sistemas estaduais de ensino, tendo o sistema federal atuação supletiva, ou seja, atuaria
somente para suprir eventuais deficiências locais (art. 171).
A educação na Constituição do Brasil de 1967
Continuando a alternância entre Constituições outorgadas e promulga- das, chega-se à primeira Constituição pós Golpe Militar: a
Constituição de 1967. O “Novo Regime” necessitava legitimar seu poder e a melhor maneira encontrada foi a outorga de uma Constituição
aparentemente legítima, mas que, na verdade, não passava de mais uma imposição da Ditadura.
A educação era mn importante instrumento para que o governo mi- litar pudesse implantar sua política da “unidade e da segurança
nacional”, ou seja, o ensino era a melhor fonna de impor posições ideológicas capazes de atender a todos os interesses dos novos
governantes do país. A educação serviría para legitimar os princípios da “Revolução”:
Ao definir as diretrizes ideológicas da educação, a Constituição de 1967 acrescentou, entre os princípios que deveríam ser objetivados,
o da unidade nacional, conceito bastante equívoco no Brasil pós-64, quando unidade e segurança nacional foram confundidos com unidade
ideológica e segurança do regime ditatorial.
Dando força à privatização no ensino, a Carta de 67 determinou aos poderes públicos que prestassem assistência técnica e financeira
ao ensino particular, sem cogitar de quaisquer regras ou restrições para essa ajuda.
Uma notável contradição acompanhou o advento da Carta de 67: ao mesmo tempo em que o texto constitucional estendia a obri-
gatoriedade do ensino para a faixa dos sete aos quatorze anos (art. 168, §3°, II), permitia o trabalho infantil a partir dos doze anos (art. 158,
X). Mais um retrocesso da política social do Governo Militar, uma vez que a Carta de 46 estipulara em quatorze anos a idade mínima para
o trabalho de adolescentes.
O acesso gratuito ao ensino pós-primário foi restringido, pois se passou a exigir a demonstração de aproveitamento escolar para que a
continuação dos estudos fosse patrocinada pelo Poder Público (art. 168, §3°, III). Isto significa, mais uma vez, a valorização do ensino
particular em detrimento do dever estatal de oferecer educação gratuita em todos os níveis de fonnação.
Foram abolidos os percentuais orçamentários a serem aplicados em educação, perpetuando o desinteresse dos governantes em
propiciar condições econômicas mínimas para o desenvolvimento das atividades escolares.
A educação na Emenda Constitucional n. 1, de 1969
A Emenda Constitucional n.° 1/69 funcionou como uma dura continuação dos princípios arbitrários estabelecidos em 1967. No que se
refere à educação, todos os retrocessos foram mantidos, amnentando, inclusive, o caráter ditatorial instituído em 1964. Exemplo disso foi a
substituição da liberdade de cátedra pela “liberdade de comunicação dos conhecimentos” (art. 176, §3°, VII), em nítido prejuízo a qualquer
processo educacional baseado na liberdade como ferramenta mais eficaz de construção do saber.
Como exposto acima, a Emenda Constitucional de 1969 apenas ratificou os princípios de ensino que interessavam ao Regime
Ditatorial.
A educação na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente
A educação na Constituição Federal de 1988
No que respeita ao mundo infanto-juvenil, as políticas públicas de- vem estar voltadas à garantia dos direitos estabelecidos no art. 227
da Constituição Federal (CF). Os direitos garantidos por este artigo são: direito à sobrevivência, ao desenvolvimento e à integridade.
O caput do artigo 227 da Constituição consagra toda esta luta em tomo dos direitos da criança e do adolescente ao estabelecer
que:
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
Art. 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida,
à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.
O direito à sobrevivência significa garantir a vida, a saúde e a alimentação de todas as crianças do país. Já o direito ao desen-
volvimento deve ser efetivado com a garantia principal do acesso à educação e, também, da garantia de acesso à cultura, ao lazer e à
profissionalização. O direito à integridade (física, psicológica e moral) dar-se-á pela garantia da dignidade, da liberdade, do respeito e da
convivência familiar e comunitária.
A garantia da educação, como concretização do direito ao desenvolvimento de crianças e adolescentes, está expressa de forma muito
clara na Constituição (arts. 205 - 214), na Lei n.° 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e nos artigos 53 a 59
da Lei n.° 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Até 1988 não havia uma preocupação real em criar mecanismos que fossem eficazes na garantia do direito à educação. Durante muito
tempo a única ação do Poder Público foi tomar obrigatória a matrícula escolar, como se isto fosse suficiente para garantir a educação. A
Constituição Federal (art. 208, §1°) estabelece que o ensino obrigatório gratuito (ensino fundamental) é direito público subjetivo (pode ser
exigido do Estado a qualquer tempo). O Estatuto da Criança e do Adolescente reforçou a disciplina constitucional ao estabelecer a proteção
judicial para combater a não oferta ou o oferecimento irregular do ensino obrigatório (art. 208,1).
A Constituição e o Estatuto não deixam toda a responsabilidade de garantir tal direito ao Estado. Tanto a Carta Constitucional quanto
o Estatuto da Criança sepultam a visão de Estado paternalista ao estabelecerem que a responsabilidade no que tange aos direitos de
crianças e adolescentes não é exclusiva: cabe ao Estado, à família e à sociedade civil (art. 205, CF).
O processo constituinte que resultou na Constituição de 1988 foi o que contou com a maior participação popular na história do
constitucionalismo pátrio. A comunidade educacional se mobilizou e se fez presente nos debates que acompanharam a Assembléia
Nacional Constituinte. Como resposta a esta ampla participação da comunidade interessada, a educação ocupou lugar de destaque em todos
os anteprojetos de Constituição.
O Regimento da Assembléia Nacional Constituinte acolheu pedido do Plenário Nacional Pró-Participação Popular na Constituinte e
admitiu a iniciativa de populares, de modo a permitir que a população tivesse participação mais direta na elaboração constituinte. Assim,
nada menos que dezoito emendas populares trataram direta e exclusivamente do problema da educação ou, abrangendo também outros
assuntos, tocaram em pontos relacionados com a questão educacional. Essas dezoito emendas populares alcançaram o total de 2.678.973
assinaturas, o que demonstra o interesse pela discussão da escola, no amplo leque da mobilização popular em tomo da Constituinte.
Um dos maiores reflexos da efetiva participação popular nas discussões em tomo da educação foi a exigência constitucional de
democratizar a gestão do ensino público (art. 206, VI, CF). Tal dispositivo foi regula- mentado pelo art. 14 da Lei de Diretrizes e Bases
que estabelece como princípios da gestão democrática da educação básica a participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola, bem como a participação das comunidades escolar e local nos conselhos escolares ou seus equivalentes.
Outro ponto a ser destacado é o dispositivo constitucional que prevê o regime de colaboração entre os sistemas de ensino da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 211, caput, CF). A União deve exercer, no que se refere à matéria educacional,
função redistributiva e supletiva, garantindo igualdade de oportunidades educacionais e padrão mínimo de qualidade do ensino mediante
assistência técnica e financeira aos demais entes federados (art. 211, §1°, CF). Aprioridade de atuação dos Municípios deve ser a educação
infantil e o ensino fundamental (art. 211, §2°, CF). Já os Estados e o Distrito Federal devem priorizar o ensino funda- mental e médio (art.
211, §3°, CF). Edivaldo Boaventura define muito bem o que se deve entender pelo termo “sistema” quando aplicado à educação.
Em educação, o vocábulo sistema é entendido como um conjunto de instituições educacionais e de normas vinculadas a determinada
esfera da administração, seja a União, estados e ou municípios. Esse conjunto de normas e instituições que formam um sistema é uma
realidade, objetiva e atuante, principalmente, no que toca à criação, autorização de funcionamento e reconhecimento de cursos e
estabelecimentos. Essas normas têm consequências diretas para o aluno, especialmente na regularização de sua vida escolar, e para o
professor, no particular de sua carreira docente. Atingem também o servidor, o próprio estabelecimento e representantes legais, pelo direito
de recorrer às instâncias superiores, e a toda a comunidade educacional.
O texto constitucional demonstra grande preocupação com a questão específica da escolarização em detrimento de um processo
educativo mais abrangente. Todavia, falar em direito à educação implica falar em direito à educação escolar. O acesso à educação escolar
se realiza através da concretização de vários direitos presentes na legislação e que podem ser classificados da seguinte forma:
• Universalidade do acesso e da permanência: art. 206,1, da CF e art. 3o, I, da LDB. O acesso à educação escolar deve ser dado a todos
indistintamente, ou seja, qualquer forma de discriminação deve ser repelida. A universalidade implica, além do acesso à vaga, também o
acesso ao ingresso, à permanência na escola e ao sucesso dentro dos estudos;
IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.
Parágrafo único - É direito dos pais ou responsáveis ter ciência no processo pedagógico, bem como participar da definição das
propostas educacionais.
O dispositivo supra mencionado (juntamente com o art. 54 do ECA) praticamente reproduz o texto da Seção I (Da educação). Capítulo
III (Da educação, da cultura e do desporto). Título VIII (Da ordem social) da Constituição de 1988, confirmando os deveres do Estado, da
família e da sociedade para com a educação de crianças e adolescentes.
O art. 57 do Estatuto estabelece que o Poder Público deve estimular pesquisas, experiências e novas propostas relativas a calendário,
seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com o objetivo de inserir crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental
obrigatório. Esta imposição legal mostra-se extremamente necessária no contexto educacional brasileiro, tendo em vista a dificuldade em
manter na escola crianças e adolescentes oriundos de famílias mais pobres. A pobreza, aliada a concepções conservadoras de ensino, leva
ao desmantelamento da estrutura escolar:
O fracasso institucional escolar tem raízes históricas. Além das já mencionadas a pobreza, por exemplo], ousamos elencar, dentre
outras, o próprio acesso não democratizado à escola, a falta de qualidade do ensino, a inadequação na for- mação do educador, além da
degradação das condições de seu trabalho - e não podemos esquecer-nos da proposta ‘político-pedagógica’ imposta e definida para
sacramentar a incompetência, intelectual, emotiva e de aprendizagem, dos poucos que conseguem nela permanecer; materializada não só
por currículo irreal, bem como por uma concepção metodológica, formal, mecanicista e aviltadora dos que participam do ato educativo.
A educação na Lei de Diretrizes e Bases da educação
A Constituição Federal de 1988 veio trazer novas perspectivas ao país. Também quanto à educação era necessário reformular
estruturas e conceitos com o intuito de tomar realidade as expectativas trazidas pelo novo texto constitucional.
Diferentemente da tradição brasileira, na qual todas as iniciativas de refonnas educacionais sempre foram propostas pelo Poder
Executivo, a iniciativa de criar uma nova Lei de Diretrizes e Bases partiu do Legislativo, tendo por base uma proposta de lei nascida na
comunidade educacional brasileira.
Este projeto de lei começou a tramitar na Câmara dos Deputados em dezembro de 1988, tendo por relator o Dep. Jorge Hage. O
substitutivo elaborado pelo deputado apresentava vários aspectos positivos, dentre os quais:
• significativa abrangência da lei;
• criação de um sistema nacional de educação;
• regulamentação da pré-escola como parte da educação infantil;
• avanços no ensino médio;
• redução na jornada de trabalho para aqueles que cursassem o ensino noturno;
• instituição do salário-creche;
• descrição de quais despesas poderíam ser consideradas como despesas referentes à educação.
Concomitantemente ao projeto da Câmara, passou a tramitar também no Senado, em maio de 1992, um projeto de lei, de autoria do
Senador Darcy Ribeiro, que buscava adiantar-se ao projeto em tramitação na Câmara dos Deputados. Interessante notar que o projeto do
Senador era bastante diferente do projeto em tramitação na Câmara e parecia ter sofrido certa influência do governo Collor, deixando de
contemplar aspectos importantes como o Sistema Nacional de Educação.
O substitutivo da Câmara demonstrava estar ligado à democracia participativa já que seu projeto tinha origens na comunidade
educacional. O projeto do Senado, por sua vez, deixava claro que o princípio da representação deveria preponderar no que se refere à
criação das leis e que, portanto, não cabia à comunidade educacional elaborar um projeto de Lei de Diretrizes e Bases para a educação
nacional. Em 1993, por questões de regimento interno, o primeiro projeto do Senador Darcy Ribeiro é definitivamente abandonado.
O substitutivo do Deputado Jorge Hage é aprovado com algumas alterações de índole conservadora pela Câmara dos Deputados
sendo, em seguida, enviado ao Senado Federal.
Arelatoria do projeto na Comissão de Educação do Senado coubera ao Senador Cid Saboia (que já havia relatado o I o projeto de Darcy
Ribeiro). O substitutivo apresentado por esse Senador levou em conta a opinião da comunidade educacional, bem como a opinião do
governo e dos partidos políticos. No final, o substitutivo incorporou algumas partes do projeto original do Senador Darcy Ribeiro e deu
uma fonna mais rebuscada ao projeto.
O substitutivo Cid Saboia, depois de aprovado na Comissão de Educação, foi encaminhado à Comissão de Constituição e Justiça do
Senado. Nesta Comissão, a relatoria do substitutivo coube ao Senador Darcy Ribeiro.
Segundo parecer emitido pelo Senador Darcy Ribeiro, em 1995, tanto o projeto original da Câmara quanto o substitutivo Cid Saboia
eram inviáveis por apresentarem inconstitucionalidades de todo tipo. As inconstitucionalidades apresentadas se referiam, de maneira
particular, à criação do Conselho Nacional de Educação que, segundo interpretação do Senador, seria prejudicial ao princípio da
democracia representativa, pois, como órgão decisório, estaria influenciando nas atividades administrativas do poder Executivo.
O inciso IV do mesmo artigo estabelece que o ensino fundamental deve favorecer “[...] o fortalecimento dos vínculos de família, dos
laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social”. Se o inciso I pode restringir a educação ao ensino
da leitura, da escrita e dos números, o inciso IV representa a importância do ensino fundamental na conscientização de crianças e
adolescentes sobre a necessidade de estabelecer detenninados valores essenciais para o convívio em sociedade, tais como solidariedade e
tolerância.
O ensino médio
Denominado de 2o grau pela Lei n.° 5.692/71, a nova Lei de Diretrizes e Bases passou a chamar de ensino médio a etapa posterior ao
ensino fundamental.
Na antiga legislação, a ênfase maior era dada à educação profissional tanto que a 5692/71 obrigava a profissionalização em todos os
cursos de 2o grau. Em virtude de fortes contestações (vindas, de maneira particular, da classe média, que exigia fonnas de ensino voltadas
para a preparação ao ensino superior), esta obrigatoriedade foi, mais tarde, revogada.
Como fonna de assentar a preponderância do ensino de 2o grau voltado para a fonnação profissional, surge a Lei n.° 7.044/82 que
regulamentava a profissionalização do ensino de 2o grau. De acordo com estas alterações, o art. Io da Lei n.° 5.692/71 passou a vigorar com
a seguinte redação: “o ensino de Io e 2o graus tem por objetivo geral proporcionar ao educando a fonnação necessária ao desenvolvimento
de suas potencialidades como elemento de auto realização, preparação para o trabalho e para o exercício consciente da cidadania”.
A grande crise do ensino médio sempre residiu no fato de sua indefinição: ora deve ser mn fim em si mesmo e, desta fonna, ser
profissionalizante, ora deve ser mn meio para atingir realidades subsequentes, isto é, o ensino médio deve ser instrumento de preparação
para o ensino superior.
No contexto desta eterna indefinição, e na tentativa de encontrar uma posição capaz de amenizar este quadro, surgem os debates em
tomo de uma nova lei de Diretrizes e Bases da Educação. A proposta feita pela comunidade educacional, através do Fórum Nacional em
Defesa da Escola Pública, foi a concepção da politécnica (não fonnar exclusivamente técnicos, mas dar-lhes a possibilidade de ter uma
fonnação mais geral) unida a mna proposta de educação geral. “Tais cursos teriam, necessariamente, a educação geral como eixo
unificador, ficando a oferta de disciplinas e atividades profissionalizantes condicionadas à ampliação de sua duração, sem dispensar mn
conteúdo organicamente estruturado”.
A Lei n°. 9.394/96, contudo, não trouxe a perspectiva da politécnica já que a tramitação da lei no Congresso Nacional não permitiu
esta alteração. A educação profissional, assim como está regulada pela LDB, mostra-se ineficiente para efetivar a inserção da
profissionalização como aspecto ligado à educação.
Uma mudança, porém, representa mn avanço: a denominação do capítulo passou de “Educação técnico-profissional” para “Educação
Profissional”. A Lei de Diretrizes e Bases trata da educação profissional nos artigos 39 a 42. Estes artigos foram regulamentados pelo
Decreto Federal n.° 2.208, de 17 de abril de 1997.
A Emenda Constitucional n.° 14, ao alterar a expressão do art. 208,1, da Constituição de “extensão da obrigatoriedade” para
“progressiva universalização do ensino médio”, reduziu a obrigatoriedade constitucional no que se refere ao ensino médio. Este fato
demonstra mn retrocesso, visto que quanto maior a obrigação no oferecimento de níveis educacionais maior a possibilidade de tomar
conscientes e livres os membros de mna sociedade. (VERONESE J. R. P. e Vieira C. E.)
Desde a redemocratização do país, houve mudanças acentuadas na educação brasileira, com destaque para a aprovação e
promulgação da Constituição Federal de 1988, que garantiu mna concepção ampla de educação e sua inscrição como direito social
inalienável, bem como a partilha de responsabilidade entre os entes federados e a vinculação constitucional de recursos para
a educação. No âmbito das políticas educacionais, destacaram-se, sobremaneira, as modificações de ordem jurídico institucional.
!ssc contexto, é fundamental ressaltar a busca de organicidade das políticas, sobretudo no âmbito do governo federal e de alguns governos
estaduais, na década de 1990, quando, em consonância com a refonna do Estado e a busca de sua “modernização”, se implementaram
novos modelos de gestão, cujo norte político-ideológico objetivava, segundo Oliveira (2000, p. 331), “(...) introjetar na esfera pública
as noções de eficiência, produtividade e racionalidade inerentes à lógica capitalista”. No campo educacional, há que se destacar,
ainda, o importante papel desempenhado pelos organismos multilaterais na fonnulação de políticas educacionais no período.
Ijl
Nesse c
Tais constatações evidenciam limites estruturais à lógica político pedagógica dos processos de proposição e materialização das
políticas educacionais, configurando-se, desse modo, em claro indicador de gestão centralizada e de pouca eficácia pedagógica para
mudanças substantivas nos sistemas de ensino, ainda que provoque alterações de rotina, ajustes e pequenas adequações no cotidiano
escolar, o que pode acarretar a suspensão de ações consolidadas na prática escolar sem a efetiva incorporação de novos fonnatos de
organização e gestão. Isto não redundou em mudança e, sim, em um cenário de hibridismo no plano das concepções e das práticas que,
historicamente, no Brasil, têm resultado em realidade educacional excludente e seletiva. Vivencia-se, no país, um conjunto de ações, de
modo parcial ou pouco efetivo, sob a ótica da mudança educacional, mas que, de maneira geral, contribui para desestabili- zar o instituído,
sem a força política de instaurar novos parâmetros orgânicos à prática educativa.
Nessa direção, houve um conjunto de políticas de reestruturação da gestão, organização e financiamento da educação básica. Segundo
Cury (2002, p. 197), nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998; 1999-2002) promoveram-se diversas alterações
fortemente marcadas (...) por políticas focalizadoras, com especial atenção ao ensino fundamental, a fim de selecionar e destinar os
recursos para metas e objetivos considerados urgentes e necessários. Tais políticas vieram justificadas por um sentido, por vezes
satisfatório, do princípio da equidade como se este fosse substituto do da igualdade.
Desse quadro, é possível depreender que as políticas focalizadas propiciaram a emergência de programas e ações orientados pelo
governo federal aos estados e municípios, destacando-se: a disseminação de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), a
implantação do Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE) pelo FUNDESCOLA, a criação do Programa Dinheiro Direto
na Escola (PDDE) e a implementação de uma política de avaliação fortemente centralizada, em detrimento de um sistema que
propiciasse a colaboração recíproca entre os entes federados. A rapidez com que se processaram as políticas para a educação básica se deu
em função da centralização no âmbito federal. Segundo Cury (2002, p. 199), sem a elaboração de lei complementar que defina o que é re-
gime de colaboração entre os entes federados, prevista no § único do artigo 23, da CF/88, o país vivência tensões no tocante ao pacto
federativo, por meio de “um regime de decisões nacionalmente centralizadas e de execuções de políticas sociais subnacionalmente
desconcentradas em que se percebe mna situação de competitividade recíproca (guerra fiscal) entre os subnacionais”.
Tal cenário contribuiu, sobremaneira, para a desarticulação de experiências e projetos em andamento e para a adoção de medidas
ligadas às políticas federais para a educação básica, em função da necessidade dos sistemas e escolas buscarem fontes complementares de
recursos. Tal adesão, contudo, não provocou, necessariamente, a mudança da cultura institucional dos sistemas e das escolas. Em muitos
casos, resultou em ajustes e arranjos funcionais dos processos em curso nesses espaços, alterando, por vezes, a lógica e a natureza das
escolas e, em alguns casos, a sua concepção pedagógica, a fim de cumprir obrigações “contratuais” com o governo federal no âmbito da
prestação de contas.
Essa lógica e dinâmica política é, ainda, uma realidade no cenário educacional brasileiro, na medida em que não se elaborou a lei
complementar que definiría o regime de colaboração recíproca entre os entes federados, manteve-se a indução de políticas, por meio de
financiamento de programas e ações priorizadas pela esfera federal, e não se adotou o Plano Nacional de Educação (PNE)
como referência base para as políticas educacionais. Adicione-se a isso, mais recentemente, a apresentação pelo MEC de mn Plano de
Desenvolvimento da Educação (PDE), que não contou, na sua elaboração, com a participação efetiva de setores organizados da sociedade
brasileira, de representantes dos sistemas de ensino e de setores do próprio Ministério. O PDE apresenta indicações de grandes e
importantes ações direcionadas à educação nacional. No entanto, não está balizado por fundamentação técnico pedagógica suficiente e
carece de articulação efetiva entre os diferentes programas e ações em desenvolvimento pelo próprio MEC e as políticas propostas. Tal
constatação revela a necessidade de planejamento sistemático, que, após avaliar o conjunto de ações, programas e planos em
desenvolvimento, contribua para o estabelecimento de políticas que garantam organicidade entre as políticas, entre os diferentes órgãos do
MEC, sistemas de ensino e escola e, ainda, a necessária mediação entre o Estado, demandas sociais e o setor produtivo, em um cenário
historicamente demarcado pela fragmentação e/ou superposição de ações e programas, o que resulta na centralização das políticas de
organização e gestão da educação básica no país. Trata-se de um cenário ambíguo, no qual um conjunto de programas parece
avançar na direção de políticas com caráter inclusivo e democrático, enquanto, de outro lado, prevalece a ênfase gerencial,
com forte viés tecnicista e produtivista, que vislumbra nos testes estandardizados a naturalização do cenário desigual em
que se dá a educação brasileira. Os programas federais de educação básica, atravessados por concepções distintas e até antagônicas,
realçam o cenário contra-ditório das ações governamentais. Tal perspectiva enseja a necessidade de maior organicidade entre as políticas,
ações e programas.
Na década atual, várias políticas, programas e ações foram realizados pelo governo federal, após a aprovação de um PNE sob a ótica
gerencial e patrimonial. É oportuno destacar, contudo, que grande parte das políticas educacionais foi reorientada, a partir de 2003,
implicando alterações nos marcos regulatórios vigentes para a educação básica e superior. Nesse sentido, o governo federal pautou sua
atuação pelo princípio da defesa da educação de qualidade, a partir do binômio inclusão e democratização. Algumas ações
mereceram particular destaque, como a ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos, as políticas de ação afinnativa e,
de modo estrutural, a criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (FUNDEB).
Atualmente, articulam-se esforços dos entes federados para garantir a regulamentação do FUNDEB, de natureza contábil, cujo
desenho pode representar um avanço na dinâmica e lógica do financiamento da educação básica nacional, sobretudo quanto à sua
caracterização (direcionado à educação infantil, ensino fundamental e médio).
Aliados ao redimensionamento do financiamento da educação básica, destacam-se os planos de educação, notadamente o PNE, os
Planos Estaduais de Educação (PEE) e os Planos Municipais de Educação (PME). Se entendidos como planos de Estado, estes deveríam
implicar redimensionamento das políticas e gestão e, fundamentalmente, da lógica de financiamento e, portanto, do orçamento público. Tal
dinâmica encontra-se desarticulada e associada à lógica de desconcentração que tem marcado a educação nacional. Merece ser destacado,
contudo, o esforço desenvolvido para estimular a fonnação de conselhos, bem como a sua capacitação.
Quanto ao PNE, é importante ressaltar que, aliado às metas vetadas, ele não foi integrado efetivamente ao processo de elaboração do
Plano Plurianual (PPA) e suas revisões. Considerando que o PPA é um instrumento fundamental do orçamento público, juntamente com a
Lei de Diretrizes Orçamentárias e a Lei Orçamentária Anual, esse processo não resultou em organicidade orçamentária que viesse dar
efetividade às metas do PNE.
Apesar desse cenário de mudanças na área da gestão educacional, vários programas foram mantidos no fonnato original, destacando-
se o Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). Por outro lado, novos programas foram implantados, a fim de contribuir com os
processos de democratização da escola, com destaque para o Programa Nacional de Fortalecimento de Conselhos Escolares.
Políticas e gestão da educação básica: democratizando o acesso e a permanência com qualidade
Algumas políticas, programas e ações têm se desencadeado nos âmbitos federal, estadual e municipal, a fim de contribuir para a
ampliação das oportunidades educacionais na educação básica, tarefa constitucionalmente de competência direta dos estados. Distrito
Federal e municípios. A iniciativa da União, por meio da indução do financia- mento de ações, programas e políticas, nem sempre tem se
realizado de modo orgânico, na medida em que se caracteriza pela superposição e pela ingerência direta nas escolas vinculadas aos
sistemas de ensino, entre outros. Nesse cenário, assiste-se a um discurso marcadamente voltado à descentralização do ensino, por meio do
regime de colaboração entre os entes federados, e à proposição de políticas centralizadas no âmbito de programas e ações do MEC, nem
sempre articuladas e cuja adesão por estados e municípios se efetiva, historicamente, sem clara conexão com prioridades estabelecidas
pelos respectivos sistemas de ensino.
Dessa fonna, assegurar condições políticas e de gestão para o envolvimento e a participação da sociedade civil na formulação,
implementação das ações e programas de universalização da educação básica, bem como a melhoria da educação nos diferentes níveis e
modalidades, é tarefa dos poderes públicos. No Brasil, dada a natureza patrimonial do Estado, muito há que ser feito, a fim de garantir a
participação da sociedade civil nas políticas públicas, especialmente na educação.
Essas constatações contribuem para a compreensão de que a democratização do ensino não se dá somente pela garantia do acesso,
reque- rendo sua oferta com qualidade social, para otimizar a pennanência dos estudantes e, desse modo, contribuir para a melhoria dos
processos fonnativos e a participação cidadã.
Todas essas questões se articulam às condições objetivas da população, em um país historicamente demarcado por forte desigualdade
social, revelada nos indicadores sociais preocupantes e que, nesse sentido, carece de amplas políticas públicas, incluindo a garantia de
otimização nas políticas de acesso, pennanência e gestão, com qualidade social, na educação básica.
Políticas e gestão para uma educação básica de qualidade: desafio nacional
O investimento em educação básica, tendo a qualidade como parâmetro de suas diretrizes, metas e ações e conferindo a essa qualidade
uma dimensão sócio histórica e, portanto, inclusiva, é um grande desafio para o país, em especial para as políticas e gestão desse nível de
ensino. Pensar a qualidade social da educação implica assegurar um pro- cesso pedagógico pautado pela eficiência, eficácia e efetividade
social, de modo a contribuir com a melhoria da aprendizagem dos educandos, em articulação à melhoria das condições de vida e de
fonnação da população.
A busca por melhoria da qualidade da educação exige medidas não só no campo do ingresso e da pennanência, mas requer ações que
possam reverter a situação de baixa qualidade da aprendizagem na educação básica, o que pressupõe, por um lado, identificar os
condicionantes da política de gestão e, por outro, refletir sobre a construção de estratégias de mudança do quadro atual.
MOVIA, Didatismo e Conhecimento
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
O conceito de qualidade, nessa perspectiva, não pode ser reduzido a rendimento escolar, nem tomado como referência para o
estabelecimento de mero ranking entre as instituições de ensino. Assim, uma educação com qualidade social é caracterizada por um
conjunto de fatores intra e extra-escolares que se referem às condições de vida dos alunos e de suas famílias, ao seu contexto social,
cultural e econômico e à própria escola - professores, diretores, projeto pedagógico, recursos, instalações, estrutura organizacional,
ambiente escolar e relações intersubjetivas no cotidiano escolar. Segundo Dourado, Oliveira e Santos (2007), (...) a qualidade da educação
é mn fenômeno complexo, abrangente, e que envolve múltiplas dimensões, não podendo ser apreendido apenas por um reconhecimento de
variedade e das quantidades mínimas de insmnos considerados indispensáveis ao desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem e
muito menos sem tais insmnos (...). Desse modo, a qualidade da educação é definida envolvendo a relação entre os recursos materiais e
humanos, bem como a partir da relação que ocorre na es- cola e na sala de aula (...).
É em consonância com essa perspectiva e no intuito de melhorar a qualidade da educação brasileira que devem se situar as ações,
medi- adas por efetiva regulamentação do regime de colaboração entre a União, estados. Distrito Federal e municípios, objetivando, de
fato, as- segurar um padrão de acesso, pennanência e gestão na educação básica, pautado por políticas e ações que promovam a educação
democrática e de qualidade social para todos. (Texto adaptado DOURADO, L. F.).
6.1 ENSINO MÉDIO.
Ensino médio
O ensino médio é a etapa final da educação básica e prepara o jovem para a entrada na faculdade. Com duração mínima de três anos,
esse estágio consolida e aprofunda o aprendizado do ensino fundamental, além de preparar o estudante para trabalhar e exercer a cidadania.
Ensina teoria e prática em cada disciplina, facilitando a compreensão das profissões, e desenvolve o pensamento crítico e a autonomia
intelectual do aluno.
Nesta nova etapa do ensino, é obrigatória a inclusão de uma língua estrangeira moderna, como o inglês ou o espanhol. Desde 2008, o
ensino de Filosofia e Sociologia em todas as séries do ensino médio também é obrigatório.
Última etapa do curso básico visa preparar candidatos para o
vestibular
As escolas de educação profissional, científica e tecnológica também fazem parte do ensino médio. Existem hoje 314 unidades voltadas
para este tipo de educação em todos os estados do Brasil entre Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, Cen-tros Federais de
Educação Tecnológica, Escolas Técnicas vinculas às Universidades Federais e Universidades Tecnológicas indus-triais. A expectativa é
que mais 81 unidades sejam entregues pelo MEC até o primeiro semestre de 2012.
Números do ensino médio
Segundo dados do Censo Escolar 2009, um total de 8.337.160 estudantes está matriculado no ensino médio regular - 1,1% em escolas
federais (90.353), 85,9% em estaduais (7.163.020), 1,33% em municipais (110.780) e 11,67% em instituições privadas (973.007). A região
Sudeste tem o maior número de matrículas no ensino médio com 3.356.293 alunos, seguida pela região Nordeste, com 2.512.783. O
Centro-Oeste tem o menor número de alunos matriculados nessa etapa de ensino, com 609.722 estudantes. Ainda segundo o Censo Escolar
2009, o ensino médio brasileiro conta com 25.923 instituições.
Iniciativas importantes
o MEC, por meio da Secretaria de Educação Básica, promove diversas iniciativas e programas voltados ao Ensino Médio. O Ensino
Médio Inovador, por exemplo, estimula as redes estaduais de educação a pensar em novas soluções que tomem o currículo escolar
desta etapa mais interessante e atraente para o estudante. Entre as propostas em estudo, está mudança da carga horária mínima do
ensino médio para três mil horas e a possibilidade de o aluno escolher as atividades de 20% de sua carga horária e grade curricular. O
Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio também merece destaque (PNLEM). Implantado em 2004, o
programa investiu R$ 184,8 milhões em 2010 na compra e na distribuição de livros de português e
matemática para escolas de todo país.
O MEC também possui outros programas voltados ao ensino médio, como o Prêmio Ciências no Ensino Médio, as Olimpíadas de
Matemática, as Olimpíadas da Língua Portuguesa, entre outros.
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APCXTUAÇ PARA coroMOÇ PÚBLICOS
É possível concluir que parte dos grupos sociais até então excluídos tenha tido oportunidade de continuar os estudos em função do
término do Ensino Fundamental, ou que esse mesmo grupo esteja retomando à escola, dada a compreensão sobre a importância da
escolaridade, em função das novas exigências do mundo do trabalho.
Pensar um novo currículo para o Ensino Médio coloca em presença estes dois fatores: as mudanças estruturais que decorrem da
chamada “revolução do conhecimento”, alterando o modo de organização do trabalho e as relações sociais; e a expansão crescente da rede
pública, que deverá atender a padrões de qualidade que se coadunem com as exigências desta sociedade.
O processo de trabalho
O projeto de refonna curricular do Ensino Médio teve como estrutura, desde sua origem, um modelo cuja principal preocupação era
proporcionar um diálogo constante entre os dirigentes da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, a equipe técnica coordenadora do
projeto da refonna e os diversos setores da sociedade civil, ligados direta ou indiretamente à educação.
Dehniu-se que, para a fonnulação de uma nova concepção do Ensino Médio, seria fundamental a participação de professores e
técnicos de diferentes níveis de ensino.
A primeira reunião entre os dirigentes, a equipe técnica da Secretaria de Educação Média e Tecnológica e professores convidados de
várias universidades do País apontou para a necessidade de se elaborar uma proposta que, incorporando os pressupostos acima citados e
respeitando o princípio de flexibilidade, orientador da Lei de Diretrizes e Bases, se mostrasse exequível por todos os Estados da Federação,
considerando as desigualdades regionais.
A primeira versão da proposta de refonna foi elaborada pelo então diretor do Departamento de Desenvolvimento da Educação Média e
Tecnológica, professor Ruy Leite Berger Filho, e pela coordenadora do projeto, professora Eny Marisa Maia.
Propôs-se, numa primeira abordagem, a reorganização curricular em áreas de conhecimento, com o objetivo de facilitar o desen-
volvimento dos conteúdos, numa perspectiva de interdisciplinaridade e contextualização.
Foram convidados a participar do processo de elaboração da proposta de refonna curricular professores universitários com reco-
nhecida experiência nas áreas de ensino e pesquisa, os quais atuaram como consultores especialistas.
As reuniões subsequentes foram organizadas com a participação da equipe técnica de coordenação do projeto e representantes de
todas as Secretarias Estaduais de Educação, para as discussões dos textos que fundamentavam as áreas de ensino.
A metodologia de trabalho visava a ampliar os debates, tanto no nível acadêmico quanto no âmbito de cada Estado, envolvendo os
professores e técnicos que atuavam no Ensino Médio. Os debates realizados nos Estados, coordenados pelos professores representantes,
deveríam permitir uma análise crítica do material, contendo novas questões e/ou sugestões de aperfeiçoamento dos documentos.
Concluída esta primeira etapa, os docmnentos foram submetidos à apreciação dos Secretários de Estado em reuniões do CON- SED e
outras, organizadas pela Secretaria de Educação Média e Tecnológica com esse objetivo específico.
O debate ampliou-se por meio da participação dos consultores especialistas em diversas reuniões nos Estados e pela divulgação dos
textos de fundamentação das áreas entre os professores de outras universidades.
Concomitantemente à reformulação dos textos teóricos que fundamentavam cada área de conhecimento, foram realizadas duas
reuniões nos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro com professores que lecionavam nas redes públicas, escolhidos aleatoriamente, com
a finalidade de verificar a compreensão e a receptividade, em relação aos documentos produzidos.
Obtivemos índices de aceitação muito satisfatórios nesses dois encontros, o que se considerou como um indicador da adequação da
proposta ao cotidiano das escolas públicas.
O projeto foi também discutido em debates abertos à população, como o organizado pelo jornal Folha de S. Paulo no início de 1997.
Neste debate, do qual participaram os sindicatos de professores, a associação de estudantes secundaristas, representantes de escolas
particulares e outros segmentos da sociedade civil, o professor Ruy Leite Berger Filho apresentou a proposta de refonna curricular, que
obteve dos participantes mna aprovação consensual.
Os trabalhos de elaboração da refonna foram concluídos em junho de 1997, a partir de uma série de discussões internas que
envolveram os dirigentes, a equipe técnica de coordenação do projeto e os professores consultores.
O docmnento produzido foi apresentado aos Secretários de Educação das Unidades Federadas e encaminhado ao Conselho Nacional
de Educação em 7 de julho de 1997, solicitando-se o respectivo parecer. Nessa etapa, a Secretaria de Educação Média e Tecnológica
trabalhou integradamente com a relatora indicada pelo Conselho, a professora Guiomar Namo de Mello, em reuniões especialmente
agendadas para este fim e por meio de assessorias específicas dos professores consultores especialistas.
O Parecer do Conselho Nacional de Educação foi aprovado em 1/06/98 - Parecer n° 15/98 da Câmara de Educação Básica (CEB), do
Conselho Nacional de Educação (CNE), seguindo- se a elaboração da Resolução que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio, Resolução CEB/CNE n° 03/98 e à qual o Parecer se integra.
Os textos de fundamentação das áreas de conhecimento, elaborados pelos professores especialistas, foram submetidos à apreciação de
consultores visando ao aperfeiçoamento dos mesmos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional foi a principal referência legal
para a fonnulação das mudanças propostas, na medida em que estabelece os princípios e finalidades da Educação Nacional.
EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
A nova sociedade, decorrente da revolução tecnológica e seus desdobramentos na produção e na área da informação, apresenta
características possíveis de assegurar à educação uma autonomia ainda não alcançada. Isto ocorre na medida em que o desenvolvimento
das competências cognitivas e culturais exigidas para o pleno desenvolvimento humano passa a coincidir com o que se espera na esfera da
produção.
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APOCTIWS PARA CONCUBOÇ PÚBLICOS
• Aprender a fazer
O desenvolvimento de habilidades e o estímulo ao surgimento de novas aptidões tomam- se processos essenciais, na medida em que
criam as condições necessárias para o enfrentamento das novas situações que se colocam. Privilegiar a aplicação da teoria na prática e
enriquecer a vivência da ciência na tecnologia e destas no social passa a ter uma significação especial no desenvolvimento da sociedade
contemporânea.
• Aprender a vive
Trata-se de aprender a viver juntos, desenvolvendo o conhecimento do outro e a percepção das interdependências, de modo a permitir
a realização de projetos comuns ou a gestão inteligente dos conflitos inevitáveis.
• Aprender a ser
A educação deve estar comprometida com o desenvolvimento total da pessoa. Aprender a ser supõe a preparação do indivíduo para
elaborar pensamentos autônomos e críticos e para fonnular os seus próprios juízos de valor, de modo a poder decidir por si mesmo, frente
às diferentes circunstâncias da vida. Supõe ainda exercitar a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação, para
desenvolver os seus talentos e pennanecer, tanto quanto possível, dono do seu próprio destino.
Aprender a viver e aprender a ser decorrem, assim, das duas aprendizagens anteriores - aprender a conhecer e aprender a fazer - e
devem constituir ações pennanentes que visem à fonnação do educando como pessoa e como cidadão.
A partir desses princípios gerais, o currículo deve ser articulado em tomo de eixos básicos orientadores da seleção de conteúdos
significativos, tendo em vista as competências e habilidades que se pretende desenvolver no Ensino Médio.
Um eixo liistórico-cultmal dimensiona o valor histórico e social dos conhecimentos, tendo em vista o contexto da sociedade em
constante mudança e submetendo o currículo a uma verdadeira prova de validade e de relevância social. Um eixo epistemológico
reconstrói os procedimentos envolvidos nos processos de conhecimento, assegurando a eficácia desses processos e a abertura para novos
conhecimentos.
• A Base Nacional Comum
É no contexto da Educação Básica que a Lei n° 9.394/96 determina a construção dos currículos, no Ensino Fundamental e Médio,
“com uma Base Nacional Comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diver-
sificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela” (Art. 26).
A Base Nacional Comum contém em si a dimensão de preparação para o prosseguimento de estudos e, como tal, deve caminhar no
sentido de que a construção de competências e habilidades básicas, e não o acúmulo de esquemas resolutivos pré-estabelecidos, seja o
objetivo do processo de aprendizagem. É importante, por exemplo, operar com algoritmos na Matemática ou na Física, mas o estudante
precisa entender que, frente àquele algoritmo, está de posse de uma sentença da linguagem matemática, com seleção de léxico e com regras
de articulação que geram uma significação e que, portanto, é a leitura e escrita da realidade ou de uma situação desta. Para tanto, deve-se
entender que a linguagem verbal se presta à compreensão ou expressão de um comando ou instrução clara, precisa, objetiva.
A Base Nacional Comum também traz em si a dimensão de preparação para o trabalho. Esta dimensão tem que apontar para que
aquele mesmo algoritmo seja um instrumento para a solução de um problema concreto, que pode dar conta da etapa de planejamento,
gestão ou produção de um bem. E, indicando e relacionando os diversos contextos e práticas sociais, além do trabalho, requer, por
exemplo, que a Biologia dê os fundamentos para a análise do impacto ambiental, de uma solução tecnológica ou para a prevenção de uma
doença profissional. Enfim, aponta que não há solução tecnológica sem uma base científica e que, por outro lado, soluções tecnológicas
podem propiciar a produção de um novo conhecimento científico.
Essa educação geral, que pennite buscar infonnação, gerar informação, usá-la para solucionar problemas concretos na produção de
bens ou na gestão e prestação de serviços, é preparação básica para o trabalho. Na verdade, qualquer competência requerida no exercício
profissional, seja ela psicomotora, sócio afetiva ou cognitiva, é um afinamento das competências básicas. Essa educação geral pennite a
construção de competências que se manifestar-se-ão em habilidades básicas, técnicas ou de gestão.
A Base Nacional Comum destina-se à fonnação geral do educando e deve assegurar que as finalidades propostas em lei, bem como o
perfil de saída do educando sejam alcançadas de fonna a caracterizar que a Educação Básica seja uma efetiva conquista de cada brasileiro.
O desenvolvimento de competências e habilidades básicas comuns a todos os brasileiros é mna garantia de democratização. A
definição destas competências e habilidades servirá de parâmetro para a avaliação da Educação Básica em nível nacional.
O Art. 26 da LDB detennina a obrigatoriedade, nessa Base Nacional Comum, de “estudos da Língua Portuguesa e da Matemática, o
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil, o ensino da arte [...] de fonna a promover
o desenvolvimento cultural dos alunos, e a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola”.
Quando a LDB destaca as diretrizes curriculares específicas do Ensino Médio, ela se preocupa em apontar para um planejamento e
desenvolvimento do currículo de fonna orgânica, superando a organização por disciplinas estanques e revigorando a integração e
articulação dos conhecimentos, num processo pennanente de interdisciplinaridade e transdiciplinaridade. Essa proposta de organici- dade
está contida no Art.36, segundo o qual o currículo do Ensino Médio “destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do
significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transfonnação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como
instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania”.
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APOCTIWS PARA CONCUBOÇ PÚBLICOS
A lei sinaliza, pois, que mesmo a preparação para o prosseguimento de estudos terá como conteúdo não o acúmulo de informações,
mas a continuação do desenvolvimento da capacidade de aprender e a compreensão do mundo físico, social e cultural, tal como prevê o
Artigo 32 para o Ensino Fundamental, do qual o nível médio é a consolidação e o aprofundamento.
A concepção da preparação para o trabalho, que fundamenta o Artigo 35, aponta para a superação da dualidade do Ensino Médio: essa
preparação será básica, ou seja, aquela que deve ser base para a fonnação de todos e para todos os tipos de trabalho. Por ser básica, terá
como referência as mudanças nas demandas do mercado de trabalho, daí a importância da capacidade de continuar aprendendo; não se
destina apenas àqueles que já estão no mercado de trabalho ou que nele ingressarão em curto prazo; nem será preparação para o exercício
de profissões específicas ou para a ocupação de postos de trabalho determinados.
Assim entendida, a preparação para o trabalho - fortemente dependente da capacidade de aprendizagem - destacará a relação da teoria
com a prática e a compreensão dos processos produtivos enquanto aplicações das ciências, em todos os conteúdos curriculares. A
preparação básica para o trabalho não está, portanto, vinculada a nenhum componente curricular em particular, pois o trabalho deixa de ser
obrigação - ou privilégio - de conteúdos detenninados para integrar-se ao currículo como um todo. Finalmente, no Artigo 36, as diretrizes
para a organização do currículo do Ensino Médio, a fim de que o aluno apresente o perfil de saída preconizado pela lei, estabelecem o
conhecimento dos princípios científicos e tecnológicos da produção no nível do domínio, reforçando a importância do trabalho no
currículo.
Destaca-se a importância que o Artigo 36 atribui às linguagens: à Língua Portuguesa, não apenas enquanto expressão e comunicação,
mas como fonna de acessar conhecimentos e exercer a cidadania; às linguagens contemporâneas, entre as quais é possível identificar
suportes decisivos para os conhecimentos tecnológicos a serem dominados.
Entendida a preparação para o trabalho no contexto da Educação Básica, da qual o Ensino Médio passa a fazer parte inseparável, o
Artigo 36 prevê a possibilidade de sua articulação com cursos ou programas diretamente vinculados à preparação para o exercício de uma
profissão, não sem antes: reiterar a importância da fonnação geral a ser assegurada; e definir a equivalência de todos os cursos de Ensino
Médio para efeito de continuidade de estudos. Neste sentido, e coerente com o princípio da flexibilidade, a LDB abre aos sistemas e
escolas muitas possibilidades de colaboração e articulação institucional a fim de que os tempos e espaços da fonnação geral fiquem
preservados e a experiência de instituições especializadas em educação profissional seja aproveitada, de modo a responder às necessidades
heterogêneas dos jovens brasileiros.
O Ensino Médio no mundo: uma transformação acelerada
O desafio de ampliar a cobertura do Ensino Médio ocone no Brasil ao mesmo tempo em que, no mundo todo, a educação posterior à
primária passa por revisões radicais nas suas fonnas de organização institucional e nos seus conteúdos curriculares.
Etapa da escolaridade que tradicionalmente acumula as funções propedêuticas e de tenninalidade, ela tem sido a mais afetada pelas
mudanças nas fonnas de conviver, de exercer a cidadania e de organizar o trabalho, impostas pela nova geografia política do planeta, pela
globalização econômica e pela revolução tecnológica.
A facilidade de acessar, selecionar e processar infonnações está pennitindo descobrir novas fronteiras do conhecimento, nas quais este
se revela cada vez mais integrado. Integradas são também as competências e habilidades requeridas por uma organização da produção na
qual criatividade, autonomia e capacidade de solucionar problemas serão cada vez mais importantes, comparadas à repetição de tarefas
rotineiras. E mais do que nunca, há mn forte anseio de inclusão e de integração sociais como antídoto à ameaça de fragmentação e
segmentação. Essa mudança de paradigmas - no conhecimento, na produção e no exercício da cidadania - colocou em questão a dualidade,
mais ou menos rígida dependendo do país, que presidiu a oferta de educação pós-obrigatória.
Inicia-se, assim, em meados dos anos 80 e primeira metade dos 90 um processo, ainda em curso, de revisão das funções tra-
dicionalmente duais da Educação Secundária, buscando mn perfil de fonnação do aluno mais condizente com as características da
produção pós- industrial. O esforço de refonna teve com forte motivação inicial as mudanças econômicas e tecnológicas.
Descontadas as peculiaridades dos sistemas educacionais dos diferentes países e até mesmo o grau de sucesso até hoje alcançado pelos
esforços de refonna, destacam-se duas características comuns a todas elas: progressiva integração curricular e institucional entre as várias
modalidades da etapa de escolaridade média; e visível desespecialização das modalidades profissionalizantes 15 .
Numa velocidade nunca antes experimentada, esse processo de refonna, que podería ter evoluído para o reforço - apenas mais otimista
- da subordinação do Ensino Médio às necessidades da economia, rapidamente incorpora outros elementos. No bojo das iniciativas que
começaram em meados dos 80, a segunda metade dos anos 90 assiste ao surgimento de uma nova geração de refonnas.
Estas já não pretendem apenas a desespecialização da fonnação profissional. Tampouco se limitam a tomar menos “acadêmica” e mais
“prática” a fonnação geral. O que se busca agora é mna redefinição radical e de conjunto do segmento de educação pós- -obrigatoriedade.
À forte referência às necessidades produtivas e à ênfase na unificação, características da primeira fase de refonnas, agregam-se agora
os ideais do humanismo e da diversidade.
Segundo Azevedo: [...] Neste conflito de finalidades parece, por vezes, emergir a oportunidade “histórica”, segundo Tedesco (1995),
de aproximar ambas as finalidades, numa nova tensão, esta agora mais potenciadora do desenvolvimento humano. E prossegue: [...] não é
tanto o ensino técnico e a formação profissional que carecem de reformas mais ou menos desespecializadoras e unificadoras, é também o
ensino geral que precisa de profunda revisão, ou seja, todas as vias e modalidades de ensino, desde as mais profissionais até as mais
“liberais” para usar o termo inglês, são chamadas a contribuir de outro modo para um desenvolvimento mais equilibrado da personalidade
dos indivíduos .
A União Européia manifestou-se de forma contundente a favor da unificação do Ensino Médio, mas alerta para a exigência de
considerar outras necessidades, além das que são sinalizadas pela organização do trabalho. E busca sustentação para sua posição no
pensamento do próprio empresariado europeu: a missão fundamental da educação consiste em ajudar cada indivíduo a desenvolver todo o
seu potencial e a tomar-se um ser humano completo, e não um mero instrumento da economia; a aquisição de conhecimentos e
competências deve ser acompanhada pela educação do caráter, a abertura cultural e o despertar da responsabilidade social.
A mesma orientação segue a UNESCO no relatório da Reunião Internacional sobre Educação para o Século XXI. Esse documento
apresenta as quatro grandes necessidades de aprendizagem dos cidadãos do próximo milênio às quais a educação deve responder: aprender
a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. E insiste em que nenhuma delas deve ser negligenciada.
É sintomático que, diante do desafio que representam essas aprendizagens, se assista a uma revalorização das teorias que destacam a
importância dos afetos e da criatividade no ato de aprender. A integração das cognições com as demais dimensões da personalidade é o
desafio que as tarefas de vida na sociedade da informação e do conhecimento estão (re) pondo à educação e à escola.
A reposição do humanismo nas reformas do Ensino Médio deve ser entendida então como busca de saídas para possíveis efeitos
negativos do pós-industrialismo. Diante da fragmentação gerada pela quantidade e velocidade da informação, é para a educação que se
voltam as esperanças de preservar a integridade pessoal e estimular a solidariedade.
Espera-se que a escola contribua para a constituição de uma cidadania de qualidade nova, cujo exercício reúna conhecimentos e
informações a um protagonismo responsável, para exercer direitos que vão muito além da representação política tradicional: emprego,
qualidade de vida, meio ambiente saudável, igualdade entre homens e mulheres, enfim, ideais afirmativos para a vida pessoal e para a
convivência.
Diante da violência, do desemprego e da vertiginosa substituição tecnológica, revigoram- se as aspirações de que a escola, espe-
cialmente a média, contribua para a aprendizagem de competências de caráter geral, visando a constituição de pessoas mais aptas a
assimilar mudanças, mais autônomas em suas escolhas, mais solidárias, que acolham e respeitem as diferenças, pratiquem a solidariedade e
superem a segmentação social.
Nos países de economia emergente, a essas preocupações somam-se ainda aquelas geradas pela necessidade de promover um
desenvolvimento que seja sustentável em longo prazo e menos vulnerável à instabilidade causada pela globalização econômica. A
sustentabilidade do desenvolvimento, até os anos 70 considerada apenas em termos de acumulação de capital físico e financeiro, revelou-se
a partir dos 80 fortemente associada à qualidade dos recursos humanos, à adoção de formas menos predatórias de utilização dos recursos
naturais. Mais uma vez é sobre a educação média, ou sobre a sua ausência em quantidade e qualidade satisfatórias, que converge o centro
de gravidade do sistema educacional.
Nas condições contemporâneas de produção de bens, serviços e conhecimentos, a preparação de recursos humanos para um
desenvolvimento sustentável supõe desenvolver a capacidade de assimilar mudanças tecnológicas e adaptar-se a novas formas de
organização do trabalho. Esse tipo de preparação faz necessário o prolongamento da escolaridade e a ampliação das oportunidades de
continuar aprendendo. Formas equilibradas de gestão dos recursos naturais, por seu lado, exigem políticas de longo prazo, geridas ou
induzidas pelo Estado e sustentadas de modo contínuo e regular por toda a população, na forma de hábitos preservacionistas racionais e
bem informados.
Contextualizada no cenário mundial, e vista sob o prisma da extrema desigualdade que marca seu sistema de ensino, a situação do
Brasil é verdadeiramente alarmante. O Ensino Médio de maioria é ainda um ideal a ser colocado em prática. Para isso será necessário sair
do século XIX e chegar ao XXI suprimindo etapas nas quais, ao longo do século XX, muitos países ousaram experimentar e aprender.
No entanto, vista sob o prisma da vontade nacional expressa na LDB, a situação brasileira é rica de possibilidades. O projeto de
Ensino Médio do país está definido, nas suas diretrizes e bases, em admirável sintoma com a última geração de reformas do Ensino Médio
no mundo. O exercício de aproximação dos séculos poderá ser feito de forma inteligente se tivermos presente a experiência de outros
países para evitar os equívocos que eles não puderam evitar.
Fundamentos estéticos, políticos e éticos do novo Ensino Médio brasileiro
Houve tempo em que os deuses existiam, mas não as espécies mortais. Quando chegou o momento assinalado pelo destino para sua
criação, os deuses fonnaram-nas nas entranhas da terra, com uma mistura de terra, de fogo e dos elementos associados ao fogo e à terra.
Quando chegou a ocasião de as trazer à luz, encarregaram Prometeu e Epimeteu de as prover de qualidades apropriadas.
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Mas Epimeteu pediu a Prometeu que lhe deixasse fazer sozinho a partilha. “Quando acabar, disse ele, tu virás examiná-la”. Satisfeito o
pedido, procedeu à partilha, atribuindo a uns a força sem a velocidade, aos outros a velocidade sem a força; deu anuas a estes, recusou-as
àqueles, mas concedeu-lhes outros meios de conservação; aos que tinham pequena corpulência deu asas para fugirem ou refúgio
subterrâneo; aos que tinham a vantagem da corpulência esta bastava para os conservar; e aplicou este processo de compensação a todos os
animais. Estas medidas de precaução eram destinadas a evitar o desaparecimento das raças. Então, quando lhes havia fornecido os meios
de escapar à mútua destruição, quis ajudá-los a suportar as estações de Zeus; para isso, lembrou-se de os revestir de pelos espessos e peles
fortes, suficientes para os abrigar do frio, capazes também de os proteger do calor e destinados, finalmente a servir, durante o sono, de
coberturas naturais, próprias de cada um deles; deu- lhes, além disso, como calçado, sapatos de como ou peles calosas e desprovidas de
sangue; em seguida deu- lhes alimentos variados, segundo as espécies: a uns, ervas do chão, a outros frutos das árvores, a outros raízes; a
alguns deu outros animais a comer, mas limitou sua fecundidade e multiplicou a das vítimas, para assegurar a preservação da raça.
Todavia, Epimeteu, pouco reflectido, tinha esgotado as qualidades a distribuir, mas faltava-lhe ainda prover a espécie humana e não
sabia como resolver o caso. Prometeu veio examinar a partilha; viu os animais bem providos de tudo, mas o homem nu, descalço, sem
cobertura nem armas, e aproximava-se o dia fixado em que ele devia sair do seio da terra para a luz. Então Prometeu, não sabendo que
inventar para dar ao homem um meio de conservação, roubou a Hefaisto e a Ateneia o conhecimento das artes com o fogo, pois sem o fogo
o conhecimento das artes é impossível e inútil, e presenteou com isto o homem. O homem ficou assim com ciência para conservar a vida,
mas faltava-lhe a ciência política; esta, possuía-a Zeus, e Prometeu já não tinha tempo de entrar na acrópole que Zeus habita e onde velam,
aliás, temíveis guardas. Introduziu-se, pois, furtivamente na oficina comum em que Ateneia e Hefaisto cultivavam o seu amor às artes,
furtou ao Deus a sua arte de manejar o fogo e à Deusa a arte que lhe é própria, e ofereceu tudo ao homem, tomando-o apto a procurar
recursos para viver. Diz-se que Prometeu foi depois punido pelo roubo que tinha cometido, por culpa de Epimeteu.
Quando o homem entrou na posse do seu quinhão divino, a princípio, por causa da sua afinidade com os deuses, acreditou na
existência deles, privilégio só a ele atribuído, entre todos os animais, e começou a erguer- lhes altares e estátuas; seguidamente, graças à
ciência que possuía, conseguiu articular a voz e formar os nomes das coisas, inventar as casas, o vestuário, o calçado, os leitos e tirar
alimentos da terra. Com estes recursos, os homens, na sua origem, viviam isolados e as cidades não existiam; por isso, morriam sob os
ataques dos animais selvagens, mais fortes do que eles; bastavam as artes mecânicas, para os fazer viver; mas tinham insuficientes recursos
na guerra contra os animais, porque não possuíam ainda a ciência política de que a arte militar faz parte. Por consequência, procuraram
reunir-se e pôr-se em segurança, fundando cidades; mas, quando se reuniam, faziam mal uns aos outros, porque lhes faltava a ciência
política, de modo que se separavam novamente e morriam.
Então Zeus, receando que a nossa raça se extinguisse, encarregou Hermes de levar aos homens o respeito e a justiça para servirem de
normas às cidades e unir os homens pelos laços da amizade. Então Hermes perguntou a Zeus de que maneira devia dar aos homens a
justiça e o respeito. “Devo distribuí-los, como se distribuíram as artes? Ora, as artes foram divididas de maneira que um único homem,
especializado na arte médica, basta para mu grande número de profanos e o mesmo quanto aos outros artistas. Devo repartir assim a justiça
e o respeito pelos homens, ou fazer que pertençam a todos?” - “Que pertençam a todos, respondeu Zeus; que todos tenham a sua parte,
porque as cidades não poderíam existir se estas virtudes fossem, como as artes, quinhão exclusivo de alguns; estabelece, além disso, em
meu nome, esta lei: que todo homem incapaz de respeito e de justiça seja exterminado como flagelo da sociedade”.
Eis como e por que, Sócrates, os atenienses e outros povos, quando se trata de arquitetura ou de qualquer arte profissional, entendem
que só um pequeno número pode dar conselhos, e se qualquer outra pessoa, fora deste pequeno número, se atreve a emitir opinião, eles não
o toleram, como acabo de dizer, e têm razão, ao que me parece. Mas, quando se delibera sobre política, em que tudo assenta na justiça e no
respeito, têm razão de admitir toda a gente, porque é necessário que todos tenham parte na virtude cívica. Doutra forma, não pode existir a
cidade.
A prática administrativa e pedagógica dos sistemas de ensino e de suas escolas, as formas de convivência no ambiente escolar, os
mecanismos de formulação e implementação de políticas, os critérios de alocação de recursos, a organização do currículo e das situações
de aprendizagem, os procedimentos de avaliação deverão ser coerentes com os valores estéticos, políticos e éticos que inspiram a
Constituição e a LDB, organizados sob três consignas: sensibilidade, igualdade e identidade.
Diretrizes para uma pedagogia da qualidade
Nós criamos mna civilização global em que os elementos mais cruciais - o transporte, as comunicações e todas as outras indústrias, a
agricultura, a medicina, a educação, o entretenimento, a proteção ao meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto -
dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e a
tecnologia. É uma receita para o desastre. Podemos escapar ilesos por algum tempo, porém mais cedo ou mais tarde essa mistura
inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara.
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EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Temas Educacionais e Pedagógicos
Todo aluno de nível médio deveria ser capaz de responder a seguinte questão: Qual é a relação entre as ciências e as humanidades e
quão importante é essa relação para o bem estar dos seres humanos? Todo intelectual e líder político também deveria ser capaz de
responder a essa questão. Metade da legislação com a qual o Congresso Americano tem de lidar contém componentes científicos e
tecnológicos importantes. Muitos dos problemas que afligem a humanidade diariamente - conflitos étnicos, corrida annamentista,
superpopulação, aborto, meio ambiente, pobreza, para citar alguns dos que mais persistentemente nos perseguem - não podem ser
resolvidos sem integrar conhecimentos das ciências naturais com conhecimentos das ciências sociais e humanas. Somente a flexibilidade
que atravessa as fronteiras especializadas pode fornecer uma visão do mundo tal como ele realmente é, e não como é visto pela lente das
ideologias, dos dogmas religiosos ou tal como é comandado pelas respostas míopes a necessidades imediatas.
Não se pode educar sem ao mesmo tempo ensinar; uma educação sem aprendizagem é vazia e portanto degenera, com muita
facilidade, em retórica moral e emocional.
De acordo com os princípios estéticos, políticos e éticos da LDB, sistematizados anteriormente, as escolas de Ensino Médio
observarão, na gestão, na organização curricular e na prática pedagógica e didática, as diretrizes expostas a seguir.
Um currículo voltado para as competências básicas
Do ponto de vista legal, não há mais duas funções difíceis de conciliar para o Ensino Médio, nos termos em que estabelecia a Lei n°
5.692/71: preparar para a continuidade de estudos e habilitar para o exercício de uma profissão. A duplicidade de demanda continuará
existindo porque a idade de conclusão do ensino fundamental coincide com a definição de um projeto de vida, fortemente determinado
pelas condições econômicas da família e, em menor grau, pelas características pessoais. Entre os que podem custear uma carreira
educacional mais longa, esse projeto abrigará mn percurso que posterga o desafio da sobrevivência material para depois do curso superior.
Entre aqueles que precisam arcar com sua subsistência precocemente, ele demandará a inserção no mercado de trabalho logo após a
conclusão do ensino obrigatório, durante o Ensino Médio ou imediatamente depois deste último.
Vale lembrar, no entanto, que, mesmo nesses casos, o percurso educacional pode não excluir, necessariamente, a continuidade dos
estudos. Ao contrário, para muitos, o trabalho se situa no projeto de vida como uma estratégia para tomar sustentável financeiramente um
percurso educacional mais ambicioso. E, em qualquer de suas variantes, o futuro do jovem e da jovem deste final de século será sempre um
projeto em aberto, podendo incluir períodos de aprendizagem - de nível superior ou não - intercalados com experiências de trabalho
produtivo de diferente natureza, além das escolhas relacionadas à sua vida pessoal: constituir família, participar da comunidade, eleger
princípios de consumo, de cultura e lazer, de orientação política, entre outros. A condução autônoma desse projeto de vida reclama uma
escola média de sólida formação geral.
Mas o significado de educação geral no nível médio, segundo o espírito da LDB, nada tem a ver com o ensino enciclopedista e
academiciza dos currículos de Ensino Médio tradicionais, reféns do exame vestibular. Vale a pena examinar o já citado Artigo 35 da lei, na
ótica pedagógica.
Enquanto aprofundamento dos conhecimentos já adquiridos, o perfil pedagógico do Ensino Médio tem como ponto de partida o que a
LDB estabelece em seu Artigo 32 como objetivo do Ensino Fundamental31 . Deverá, assim, continuar o processo de desenvolvimento da
capacidade de aprender, com destaque para o aperfeiçoamento do uso das linguagens como meios de constituição dos conhecimentos, da
compreensão e da formação de atitudes e valores.
O trabalho e a cidadania são previstos como os principais contextos nos quais a capacidade de continuar aprendendo deve se aplicar, a
fim de que o educando possa adaptar-se às condições em mudança na sociedade, especificamente no mundo das ocupações. A LDB, nesse
sentido, é clara: em lugar de estabelecer disciplinas ou conteúdos específicos, destaca competências de caráter geral, dentre as quais a
capacidade de aprender é decisiva. O aprimoramento do educando como pessoa humana destaca a ética, a autonomia intelectual e o
pensamento crítico. Em outras palavras, convoca a constituição de uma identidade autônoma.
Ao propor a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos do processo produtivo, a LDB insere a experiência cotidiana e o
trabalho no currículo do Ensino Médio como um todo e não apenas na sua Base Comum, como elementos que facilitarão a tarefa educativa
de explicitar a relação entre teoria e prática. Sobre este último aspecto, dada sua importância para as presentes diretrizes, vale a pena deter-
se.
Os processos produtivos dizem respeito a todos os bens, serviços e conhecimentos com os quais o aluno se relaciona no seu dia- -a-
dia, bem como àqueles processos com os quais se relacionará mais sistematicamente na sua formação profissional. Para fazer a ponte entre
teoria e prática, de modo a entender como a prática (processo produtivo) está ancorada na teoria (fundamentos científico- -tecnológicos), é
preciso que a escola seja uma experiência permanente de estabelecer relações entre o aprendido e o observado, seja espontaneamente, no
cotidiano em geral, seja sistematicamente, no contexto específico de um trabalho e suas tarefas laborais.
Castro, ao analisar o Ensino Médio de formação geral, observa: Não se trata nem de profissionalizar nem de deitar água para fazer
mais rala a teoria. Trata-se, isso sim, de ensinar melhor a teoria - qualquer que seja - de forma bem ancorada na prática. As pontes entre a
teoria e a prática têm que ser construídas cuidadosamente e de forma explícita. Para Castro, essas pontes implicam em fazer
a relação, por exemplo, entre o que se aprendeu na aula de matemática na segunda-feira com a lição sobre atrito na aula de física da terça e
com a sua observação de um automóvel cantando pneus na tarde da quarta. E conclui afirmando que [...] para a maioria dos alunos,
Moun
APOCTIWS PARA CONCUBOÇ PÚBLICOS
A implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: transição e ruptura
Em nosso modo de ver, mna implicação que vale a pena destacar, derivada desta visão problemática, incerta e imprevisível das
mudanças em educação, deveria afetar nosso modo de nos posicionannos frente às mesmas. Não procede esperar soluções salvadoras de
refonnas em grande escala, nem tampouco extrair conclusões precipitadas de seus primeiros fracassos, para escudar atitudes derrotistas e
desencantadas, fatalistas ou elusivas. Uma refonna não é boa ou má pelos problemas e dificuldades que possam surgir em seu
desenvolvimento. Estes não só são naturais, como necessários. Só encarando as mudanças educacionais numa perspectiva de conflito,
evitaremos a tentação de considerá-las más só por terem vindo da administração ou de um grupo de especialistas sisudos, e poderemos
esquadrinhá-las pessoal e coletivamente em seus valores e propósitos, em suas políticas concretas e decisões, em suas incidências positivas
ou naquelas outras que não o sejam tanto, e que servirão para manter uma atitude pennanente de crítica e reflexão, de compromisso e
responsabilidade com a tarefa de educar. Esta é, em última instância, a postura mais responsável que nós, profissionais da educação,
podemos e devemos adotar diante das mudanças, sejam as propostas desde fora, sejam aquelas outras que somos capazes de orquestrar
desde dentro: pensar e refletir, criticar e valorar o que está sendo e o que deve ser a educação que nos ocupa em nossos respectivos âmbitos
escolares nos tempos em que vivemos e naqueles que estão por vir, e não iludir as responsabilidades inescapáveis que nos tocam, a partir
de uma profissionalidade eticamente construída, que há de perseguir a transfonnação e melhoria da sociedade por meio da educação.
O real não está nem na chegada nem na saída. Ele se dispõe prá gente no meio da travessia.
A implementação destas DCNEM será ao mesmo tempo um processo de ruptura e de transição. Ruptura porque sinaliza para um
Ensino Médio significativamente diferente do atual, cuja construção vai requerer mudanças de concepções, valores e práticas, mas cuja
concepção fundante está na LDB.
No entanto, seria ignorar a natureza das mudanças sociais, entre elas as educacionais, supor que o novo Ensino Médio deverá surgir do
vácuo ou da negação radical da experiência até agora acumulada, com suas qualidades e limitações. De fato, como já se manifestou esta
Câmara a respeito das Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental, os saberes e práticas já instituídos constituem referência dos
novos, que operam como instituintes num dado momento histórico: A nossa relação com o instituído não deve ser, portanto, de querer
destruí-lo ou cristalizá-lo. Sem um olhar sobre o instituído, criamos lacunas, desfiguramos memórias e identidades, perdemos o vínculo
com a nossa história, quebramos os espelhos que desenham nossas fonnas.
Dessa dinâmica entre transição e ruptura vai surgir a aprendizagem com os acertos e erros do passado e a incorporação dessa
aprendizagem para construir modelos, práticas e alternativas curriculares novas, mais adequadas a uma população que, pela primeira vez,
chegará ao Ensino Médio. Esse processo que se inicia formalmente, neste final de milênio, com a homologação e publicação destas
Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio, não tem data marcada para terminar. Como toda refonna educacional, terá etapas de
desequilíbrios, seguidas por ajustes e reequilíbrios.
Por mais que as burocracias e os meios de comunicação esperem a tradução destas Diretrizes Curriculares com lógica e racionalidade
cartesianas - de preferência por meio de uma tabela de dupla entrada que diga exatamente “como está” e “como fica” o Ensino Médio
brasileiro -, nem mesmo com a ajuda de um martelo a realidade do futuro próximo cabería num modelo desse tipo. O resultado de uma
refonna educacional tem componentes imprevisíveis, que não pennitem dizer com exatidão como vai ficar o Ensino Médio no momento
em que estas diretrizes estiverem implementadas.
O produto mais importante de um processo de mudança curricular não é um novo currículo materializado em papel, tabelas ou
gráficos. O cunículo não se traduz em uma realidade pronta e tangível, mas na aprendizagem pennanente de seus agentes, que leva a um
aperfeiçoamento contínuo da ação educativa. Nesse sentido, uma refonna como a que aqui se propõe será tanto mais eficaz quanto mais
provocar os sistemas, escolas e professores para a reflexão, análise, avaliação e revisão de suas práticas, tendo em vista encontrar respostas
cada vez mais adequadas às necessidades de aprendizagem de nossos alunos. Em suma, o Ensino Médio brasileiro vai ser aquilo que
nossos esforços, talentos e circunstâncias forem capazes de realizar.
Papel decisivo caberá aos órgãos estaduais fonnuladores e executores das políticas de apoio à implementação dos novos currículos de
Ensino Médio. E aqui é imprescindível lembrar dois eixos norteadores50 da Lei n° 9.394/97, que deverão orientar a ação executiva e
nonnativa tanto dos sistemas como dos próprios estabelecimentos de Ensino Médio:
• o eixo da flexibilidade, em tomo do qual se articulam os processos de descentralização, desconcentração, desregulamentação e
colaboração entre os atores, culminando com a autonomia dos estabelecimentos escolares na definição de sua proposta pedagógica.
• o eixo da avaliação, em tomo do qual se articulam os processos de monitoramento de resultados e coordenação, culminando com as
ações de compensação e apoio às escolas e regiões que maiores desequilíbrios apresentem, e de responsabilização pelos resultados em
todos os níveis.
Esses papéis, complementares na pennanente tensão que mantêm entre si, desenham mn novo perfil de gestão educacional no nível
dos sistemas estaduais. O aprendizado desse novo perfil de gestão será talvez mais importante do que aquele que as escolas deverão viver
para converter suas práticas pedagógicas, porque a autonomia escolar é, ainda, mais visão que realidade. Depende, portanto, do fomento e
do apoio das instâncias centrais, executivas e nonnativas.
A ênfase dada às áreas na proposta de organização do currículo ressalta a articulação interdisciplinar, mas pressupõe a permanência
das disciplinas: “A construção do conhecimento ... é claramente disciplinar e dificilmente se podería conceber mn aprendizado que não o
fosse (...) A interdisciplinaridade é também construída no aprendizado ou no seu exame, não pela fusão de disciplinas, mas pela realidade
das questões tratadas, por sua contextualização” .
A flexibilidade também marca as possibilidades de organização do curso. Além da organização anual que distribui a carga horária de
todas as disciplinas ao longo do ano letivo, o Ensino Médio pode, ainda que anual, ser estruturado semestralmente, concentrando em cada
um dos semestres a carga horária total de disciplinas da série. Há ainda a possibilidade de se estruturar o curso em períodos semestrais ou
módulos.
É flexível a organização dos cursos de Língua Estrangeira Moderna, Educação Física e Educação Artística, que podem ser dados em
classes não seriadas, com base na idade e no nível de conhecimento dos alunos.
As alternativas ao trajeto escolar do aluno mostram novamente a flexibilidade da lei: a escola tem autonomia para, a partir de uma
avaliação de competências, determinar a série em que um aluno será matriculado, mesmo que ele não tenha cursado todas as séries
anteriores, desde que respeitada a correlação idade-série; a escola pode também reclassificá-lo em séries posteriores, de modo a promover
o avanço ou a aceleração dos estudos. A progressão parcial permite que, se retido em até três disciplinas, o aluno passe à série seguinte e
curse, ao mesmo tempo, as disciplinas em que teve desempenho insatisfatório.
A flexibilidade fortalece a autonomia da escola, transferindo-lhe a responsabilidade pela organização dos tempos e espaços escolares,
por alternativas ao trajeto do aluno, de modo que possa atender de modo mais eficaz e adequado a sua clientela.
Preparar para o mundo do trabalho não é o mesmo que preparar para um posto de trabalho
O Ensino Médio dissociou-se do ensino profissionalizante, realizado agora ao mesmo tempo ou depois desse nível de ensino. Assim, o
Ensino Médio não é mais profissionalizante, não prepara para o exercício desta ou daquela profissão específica, mas está atrelado à
formação geral do aluno.
Mas o mundo do trabalho é contexto privilegiado, ao qual deve voltar-se o olhar de quem trabalha com jovens em vias de completar
sua formação básica e cujo interesse pelo mercado de trabalho é de curto ou médio prazo, se não imediato. Ao aluno deve ser garantida
formação geral pensando-se no trabalho como uma das principais atividades humanas, como espaço de exercício de cidadania, como
espaço de produção de bens e serviços e essencial na compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos.
Assim, o mundo do trabalho se apresenta como contexto extremamente oportuno e rico para dar sentido aos conhecimentos desenvolvidos
na escola.
É importante estimular o protagonismo juvenil
O jovem hoje tem expectativas bastante sensatas em relação à escola: quer que ela seja limpa, agradável, bem equipada, um lugar
onde possa de fato aprender. Espera sentir-se parte dela e poder dela se orgulhar. Para isso, quer que ela tenha mna “cara própria” e que lhe
ofereça canais de participação, além da oportunidade de se envolver em questões que digam respeito a ele mesmo e a sua comunidade,
como as relacionadas a saúde (sexualidade, drogas), meio ambiente e qualidade de vida.
Para grande parcela dos jovens, a escola tem sido um espaço de desalento e de desesperança. Com efeito, na escola que aí está, os
verdadeiros e únicos protagonistas têm sido os adultos. Essa situação necessita ser invertida urgentemente, ou melhor, precisa encontrar
um novo ponto de equilíbrio. Sem isso, não é possível fazer do jovem coautor do processo de ensino e aprendizagem, elemento capaz de
exercer e aprofundar sua autonomia e cidadania.
Como espaço de aprender a ser e de aprender a conviver, a escola é também um espaço onde o jovem pode e deve exercitar o pro-
tagonismo, atuando efetivamente na escola, apresentado propostas, promovendo discussões que digam respeito à vida escolar ou ao
interesse da comunidade; ou participando de organizações como, por exemplo, o grêmio ou outros grupos em interesses específicos; seja
participando de grupos que a própria escola propõe como aglutinadores de interesse: teatro, dança, banda ou jornal são atividades que,
dentre outras, podem reunir interesses e contribuir para a construção ou o fortalecimento da identidade da escola.
As mudanças de dentro e as outras mudanças
Afinal, por que se fala tanto do novo Ensino Médio? Teria ele mudado tão radicalmente, a ponto de ser chamado de novo?
Se o analisarmos, por exemplo, sob o prisma da organização do tempo na escola, ou das possibilidades de organização curricular, que
mantêm a alternativa disciplinar, vamos constatar que mudou muito pouco. As mudanças mais profundas e verdadeiras transitam nmn
espaço interno, exigindo de nós, profissionais da educação, alterações no nosso modo de nos relacionarmos com o conhecimento, com o
trabalho, com nosso próprio desenvolvimento.
Mudar, no contexto do que se propõe hoje para o Ensino Médio, significa abandonar alguns paradigmas sobre o que é ensinar e
aprender, revendo e revitalizando nossos compromissos com a escola e o aluno.
Ainda, segundo este autor, a preocupação com o planejamento e a crença em certa neutralidade das instituições distanciaram em muito
os educadores da ideia da educação como “um empreendimento político”. Esta perda do viés político teria afastado a pesquisa de currículo
do questionamento sobre o porquê de se utilizar o conhecimento validado por determinados grupos e não outro. Apple (1989) não nega a
existência de intenções progressistas e que muitas vezes conseguem obter alguns resultados. Ele chama a atenção para o fato de os
educadores e as demais pessoas envolvidas não se darem conta de poderosos mecanismos de reprodução do sistema dentro da escola e por
meio do currículo.
Esta constatação permite fazer uma associação com discursos muito recentes pronunciados por dirigentes e educadores progressistas:
mna linha de defesa da qualidade da educação, sem precisar a que tipo de educação e estrutura escolar se pretende dar maior qualidade. Se
a escola que reproduz e, conforme Apple (1989), também produz condições para a ahnnação do capitalismo e das suas formas de
acumulação, ou uma escola cujo currículo abra maiores espaços para a contestação, já que ela existe em função da própria capacidade das
pessoas de fazerem seus próprios juízos. “[...] as escolas não são Tneramente’ instituições de reprodução, instituições em que o
conhecimento explícito e implícito ensinado molda os estudantes como seres passivos que estarão então aptos e ansiosos para adaptar-se a
uma sociedade injusta” (APPLE, 1989). O autor chama a atenção para determinados papéis de legitimação exercidos pela escola, como a
meritocracia e o desenvolvimento do senso crítico. Ele aponta o caráter contraditório do discurso sobre esses dois aspectos. Por mu lado,
há a crença e a defesa de que os “bons” terão seu espaço, porém numa sociedade concentradora e excludente, onde começa a faltar lugar
mesmo para esses. Por outro, há a questão do desenvolvimento do senso crítico. A escola não pode delimitar em que os seus educandos
deverão ser críticos. Logo, essas condições podem servir como momentos privilegiados de percepção das contradições e espaço para um
discurso contra hegemônico.
Como ahnnou Freire (2010), “[...] a educação é uma forma de intervenção no mundo. Intervenção que além dos conhecimentos dos
conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o esforço da reprodução da ideologia dominante quanto o seu
desmascaramento” (grifo do autor). Dessa fonna, pode-se apreender que, em se tratando de currículo, fala-se no que está ou deveria estar
posto na organização do processo de ensino e aprendizagem escolar, confonne o desejo de perfil de ser humano e de sociedade
pretendidos.
Nas discussões cotidianas quando pensamos em currículo pensamos apenas em conhecimento, esquecendo-nos de que o conhe-
cimento que constitui o currículo está inextricavelmente, centralmente, vitalmente, envolvido naquilo que somos, naquilo que nos
tomamos: a nossa identidade, na nossa subjetividade (SILVA, 2009).
Dessa afirmação também se pode inferir que, além das escolhas do tipo de conhecimento, da sua produção e do seu compromisso
histórico, entra em cena a comunidade escolar, em especial os educadores e educadoras que atuam a partir do currículo estabelecido em
determinadas condições históricas. Gramsci, segundo Nosella (2010), ao ser questionado sobre o papel do professor nos momentos em que
a escola não representa a “unitariedade entre seu ensino e a realidade objetiva dos alunos”, respondeu que a “prática social e profissional
do professor deverá ser pedagogicamente orientada por outro Estado, paralelo (antitético), isto é, pelo Partido mais avançado que
representa o mundo do trabalho”. Esta ideia de “transgressão ou rebeldia” tem sido muito presente nas perspectivas críticas do discurso
sobre o currículo.
As dificuldades do discurso contra hegemônico parecem estar numa espécie de “autoridade” e “legitimidade” alcançadas pelas idéias
e práticas do currículo tradicional. A ciência e, em especial, a sua aplicação técnica, como afinna Santos (2009), tem desempenhado um
papel muito forte. Educadores e educadoras tomam os conhecimentos científicos eleitos pelas estruturas escolares, que não têm sido mais
do que o reflexo do pensamento dominante, como “senhores” do seu discurso, sem ao menos questionarem seus reais resultados no último
século. A modernidade como promessa de vida melhor para a humanidade não se cumpriu. Ao contrário, o modelo de desenvolvimento
baseado na cientificidade, que prepondera nos sistemas educacionais, acumulou grandes prejuízos para a humanidade e não solucionou
problemas sociais já presentes no século XIX.
Por isso, o modelo de aplicação técnica da ciência não tem hoje a credibilidade que tinha no século XIX. Aliás, é o descrédito deste
modelo uma das dimensões principais do descrédito no futuro já que o progresso que este prometeu foi sempre concebido como
consequência do progresso da ciência. O fato de um modelo de aplicação técnica da ciência continuar hoje a subjazer ao sistema educativo
só é compreensível por inércia ou por má fé, ou por ambas: pela inércia da cultura oficial e das burocracias educativas, pela má fé da
institucionalidade capitalista que utiliza o modelo de aplicação técnica para ocultar o caráter político e social da desordem que instaura
(SANTOS 2009).
Como alternativa à aplicação técnica da ciência, o autor apresenta a aplicação edificante da ciência. Dessa fonna, oferece alternativas
às práticas dominantes, isto é, ao que chamou de know-how técnico propõe o know-how ético. Outro elemento importante no esforço de
Santos (2009), ao sugerir um projeto pedagógico emancipatório, refere-se às duas fonnas de conhecimento que considera importantes: o
conhecimento como regulação e o conhecimento como emancipação. Para o autor, o projeto original de ciência moderna consistia em mn
equilíbrio entre os dois. Nas suas palavras, porém, [...] à medida que a ciência moderna foi ganhando terreno sobre as fonnas alternativas
de conhecimento - dos saberes locais à religião, da filosofia às humanidades - e, sobretudo, à medida que foi se convertendo em força
produtiva do capitalismo industrial, o equilíbrio entre essas duas fonnas de conhecimento rompeu-se e a ciência moderna passou a ser
conhecimento- como-regulação por excelência (SANTOS 2009).
O conjunto de documentos oficiais e textos legais relacionados acima, certamente incompleto, aponta para uma concepção de
educação especial de natureza inclusiva, não divorciada da escola comum. Ao ler esses documentos, não obstante as resistências que ainda
se esboçam e as contestações que ainda se ouvem, não há como ignorar o fato de que, sobretudo nas últimas duas décadas, o direito da
criança com deficiência de frequentar a escola comum e de nela encontrar os meios e recursos necessários para superar suas deficiências,
encontra-se irreversivelmente estabelecido. Nesse ponto da caminhada, não há como voltar atrás.
O que importa agora é pais, professores, gestores educacionais. Municípios, Estados e União atuarem como parceiros a fim de que se
garantam os recursos, os meios e os instrumentos para que as experiências de inclusão escolar de crianças com deficiência bem sucedidas
se multipliquem, e aquilo que está contemplado em lei se concretize na prática de todas as escolas do país. (Texto adaptado
SARTORETTO, M. L.).
6.3 EDUCAÇÃO, TRABALHO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL EAS
TRANSFORMAÇÕES DO ENSINO MÉDIO.
Formação geral e preparação básica para o trabalho
Sobre esse aspecto é preciso destacar que a letra e o espírito da lei não identificam a preparação para o trabalho ou a habilitação
profissional com a parte diversificada do currículo. Em outras palavras, não existe nenhuma relação biunívoca que faça sentido, nem pela
lei nem pela doutrina curricular que ela adota, identificando a Base Nacional Comum com a fonnação geral do educando e a parte
diversificada com a preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, com a habilitação profissional. Na dinâmica da organização
curricular descrita anteriormente, elas podem ser combinadas de muitas e diferentes maneiras para resultar nmna organização de estudos
adequada a uma escola detenninada.
A segunda observação importante diz respeito ao uso, pelos sistemas e pelas escolas, da possibilidade de preparar para o exercício de
profissões técnicas (Parágrafo 2o do Artigo 36) ou da faculdade de oferecer habilitação profissional (Parágrafo 4o Artigo 36). Essa questão
implica considerar vários aspectos e deve ser examinada com cuidado, pois toca o princípio de autonomia da escola:
• o primeiro aspecto refere-se à finalidade de Educação Básica do Ensino Médio, que não está em questão, pois a LDB é clara a
respeito;
• o segundo refere-se à duração do Ensino Médio, que também não deixa dúvidas quanto ao mínimo de 2.400 horas, distribuídas em 3
anos de 800 horas, distribuídas em pelo menos
200 dias letivos;
• o terceiro aspecto a considerar é que a LDB presmne uma diferença entre “preparação geral para o trabalho” e “habilitação
profissional”.
Essa diferença presmnida deve ser explicitada. Por opção doutrinária, a lei não dissocia a preparação geral para o trabalho da fonnação
geral do educando, e isso vale tanto para a Base Nacional Comum como para a parte diversificada do currículo e é por essa razão que se dá
ênfase neste parecer ao tratamento de todos os conteúdos curriculares no contexto do trabalho.
Essa preparação geral para o trabalho abarca, portanto, os conteúdos e competências de caráter geral para a inserção no mundo do
trabalho e aqueles que são relevantes ou indispensáveis para cursar uma habilitação profissional e exercer uma profissão técnica.
No primeiro caso, estariam as noções gerais sobre o papel e o valor do trabalho, os produtos do trabalho, as condições de produção,
entre outras.
No caso dos estudos que são necessários para o preparo profissional, quer seja em curso fonnal, quer seja no ambiente de trabalho,
estariam, por exemplo, conhecimentos de Biologia e Bioquímica para as áreas profissionais da saúde, a Química para algumas profissões
técnicas industriais, a Física para as atividades profissionais ligadas à mecânica ou eletroeletrônica, as Línguas para as habilitações ligadas
a comunicações e serviços, as Ciências Humanas e Sociais para as áreas de administração, relações públicas, mercadologia, entre outras.
Dependendo do caso, essa vinculação pode ser mais estreita e específica, como seria, por exemplo, o conhecimento de História para
técnico de turismo ou de redação de textos e cartas comerciais para alunos que farão secretariado e contabilidade.
Enquanto a duração da fonnação geral, aí incluída a preparação básica para o trabalho, é inegociável, a duração da fonnação
profissional específica será variável. Um dos fatores que afetará a quantidade de tempo a ser alocado à fonnação profissional será a maior
ou menor proximidade desta última com a preparação básica para o trabalho que o aluno adquiriu no Ensino Médio. Quanto
Esta concepção se ancora em Charlot (2000), para quem a relação com o saber é uma relação social de um sujeito com o mundo, com
ele mesmo e com os outros, mna relação permeada por sistemas simbólicos, notadamente pela linguagem, que implica em uma atividade
do jovem sobre o mundo, apoderando-se dele materialmente, moldando-o e transformando-o.
Integrando saber e aprender, Charlot (2001) analisa o processo de aprendizagem a partir da dimensão antropológica, para a qual
aprender é inserir-se em um mundo humano, e da dimensão didática, em que aprender é ser confrontado com objetos de saber específicos.
Assim, aprender é apropriar-se de enunciados, transmitidos pelas palavras, e dominar detenninadas fonnas de se relacionar com os outros e
consigo, com seus sentimentos. Pela aprendizagem, o jovem se toma capaz de atribuir sentido às suas vivências, de se humanizar, se
socializar, se tomar um sujeito singular e, ao mesmo tempo, agir no mundo, modificando-o.
Outro aspecto enfatizado por Charlot (2001) é a importância da afetividade na educação, o resgate do saber como prazer, como reforço
à autoestima do jovem, fundamental para o fortalecimento da confiança e da segurança de se expressar e agir no mundo.
Ressaltando que a aprendizagem só ocorre quando o que é aprendido tem algum sentido para o jovem, ele rebate categorias
consideradas estanques, como a motivação, e propõe em seu lugar a mobilização, que implica em fazer uso de si, para si, o que movimenta
a atividade intelectual e dá sentido aos saberes.
Numa perspectiva interativa, se contrapõe à ideia de “influência”, que coloca de um lado o indivíduo como ser inacabado, incompleto,
e de outro, o mundo pré- existente, estruturado, afinnando que a “influência” é mna relação, uma vez que o ser humano sempre está em
relação com o meio e não situado em um ambiente.
A superação da ideia de “influência” é fundamental para a construção de uma proposta pedagógica de protagonismo juvenil que se
contraponha à perspectiva de desenvolvimento do “potencial” do jovem, predominante no modelo dos 4 pilares - aprender a ser, aprender a
conviver, aprender a aprender e aprender a fazer -, onde a força do ambiente surge como impulsionadora de algo que está adonnecido em
todos os jovens, aguardando apenas mn “start” para despertar.
Charlot (2001) analisa ainda que a escola deve levar em conta a cultura da comunidade, mas deve também ampliar o mundo do jovem
para além desta cultura, levando-o a buscar outras possibilidades e construir projetos fora da comunidade. Assim, para que o jovem
desenvolva uma cultura de resistência, de luta, de mudança, é preciso que a escola lhe pennita compreender que a vida é diferente em
outras classes sociais e em outros lugares, que foi diferente no passado e que pode ser diferente amanhã.
Resgatar a dimensão social da educação envolve um processo pennanente de reflexão dos profissionais sobre seus atos políticos e
pedagógicos, pois significa reconhecer que aprender não é um processo natural, potencialmente possível a todos, e sim uma relação de
respeito e fortalecimento do sujeito, na qual a coletividade se transfonna em espaço de descoberta e de vivência da alteridade.
O protagonismo juvenil como metodologia político-pedagógica.
A construção de mna proposta pedagógica, que consolide o protagonismo juvenil como práxis sócio histórica, se ancora em princípios
básicos, norteadores de mna metodologia que possibilite ao jovem um reposicionamento objetivo e subjetivo, ressignificando a juventude
como categoria social.
O primeiro princípio é a concepção de homem como ser histórico, que constitui sua subjetividade a partir das detenninações
econômicas, políticas, sociais e culturais da sociedade onde vive, produto e produtor do mundo, que, ao engendrá-lo, engendra em si
mesmo sua própria transfonnação. Intemalizando os significados apreendidos nas e pelas relações sociais, e transfonnando-os em sentidos
subjetivos, a partir da síntese com seus conhecimentos, suas experiências e emoções, o homem incorpora o social a seu patrimônio interno,
constituindo sua subjetividade e conformando a representação que faz de si mesmo e do mundo, sua leitura da realidade, seus interesses,
suas vivências psíquicas, sua fonna de se relacionar com as pessoas, de se colocar e agir na sociedade.
Outro princípio é a concepção de jovem como sujeito sócio-histórico-cultural do processo de aprendizagem, agente ativo da
construção/transfonnação da sua própria história, da história coletiva e da constituição de sua subjetividade, a demandar relações pautadas
na ética e no respeito à sua dignidade e à sua autonomia.
Um terceiro princípio é o resgate do educador como principal elemento de mediação do processo político-pedagógico de emancipação
do jovem e de mudança de sua fonna de inserção na sociedade. Possibilitando o acesso ao conhecimento historicamente construído e
ampliando o horizonte de interesses, o educador se toma agente mediador da fonnação e do desenvolvimento das funções psicológicas
superiores.
A práxis social é outro princípio educativo, respaldado na concepção de que, por meio do trabalho e da ação, o homem constrói a
cultura e as fonnas de relação humana. Sendo uma atividade material consciente e objetiva, com o fim último da transfonnação real do
mundo exterior, confonne Vasquez (2007), a práxis social fortalece a função fonnadora da educação, enfatizando a apreensão,
compreensão e apropriação de saberes, e o desvelamento das relações entre educação e condições materiais de vida, entre fonnação
humana e cultura e entre educação e história.
Outro princípio a considerar é a participação e a atuação na sociedade como resultado de um processo de desenvolvimento da
consciência crítica, da leitura contextualizada da realidade, do desvelamento dos detenninantes sócio histórico- culturais das condições
individuais, da relação entre condições objetivas e subjetivas de vida, da construção de novas relações sociais e da atuação comprometida
com a transfonnação social.
3) A Constituição Federal em seu artigo 206, inciso VI, estabelece a gestão democrática no ensino público como um entre os sete
princípios necessários para se ministrar o ensino em nosso país, por extensão, para gerir as escolas públicas. Coloque SIM (S) para os itens
que são pertinentes a uma gestão democrática e NÃO (N) para as que não são pertinentes.
() Pessoas a serviço da organização.
() Hierarquia verticalizada.
() Responsabilidade compartilhada.
() Foco no cumprimento de nonnas e regulamento.
() Relacionamento interpessoal.
() Preocupação com processos e resultados.
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
(A) N, N, S, N, S, S.
(B) S, S, N, S, S, N.
(C) N, S, S, N, N, S.
(D) N, S, N, N, S, S.
4) O Conselho ou Colegiado Escolar é concebido como um local de debate e tomada de decisão. Como espaço de debates e dis-
cussão, permite que professores, funcionários, pais e alunos explicitem seus interesses, suas reivindicações.
Com base no texto acima, marque a alternativa INCORRETA:
(A) O Conselho ou Colegiado Escolar é um órgão de gestão que garante representatividade, continuidade e legitimidade das ações.
(B) Apresenta instância de caráter deliberativo sobre assuntos substantivos da escola.
(C) Favorece a aproximação dos centros de decisão, facilita comunicação vertical e horizontal, rompe com relações burocráticas e
fonnais na Instituição.
(D) Reúne todas as pessoas envolvidas com a escola, de maneira pennanente,
para tomar cada um as decisões que se fazem pertinentes no percurso
escolar.
5) “ A inclusão de alunos deficientes não se concretiza nem pelo dispositivo legal, nem pela simples admissão do aluno na escola
regular. O oferecimento de serviços complementares, a adoção de práticas criativas na sala de aula, a construção de mn projeto pedagógico
que considere a diversidade do alunado, com a consequente revisão de posturas e a construção de uma nova prática educacional são
requisitos da efetiva inclusão.” Maria Eliana Novais - Subsecretária de Desenvolvimento da Educação.
Em qual das situações descritas abaixo, os alunos com deficiência, matriculados nas escolas regulares, têm seus direitos observados.
Marque (S) para as alternativas PERTINENTES e (N) para as NÃO PERTINENTES.
() Oferecer uma variedade de atividades desconexas entre si, sem
implementação de uma prática educativa para a diversidade.
() Flexibilização curricular, a qual será repensada a partir do contexto grupai em que se insere detenninado aluno.
() Analisar o percurso de cada aluno, do ponto de vista da evolução de suas competências ao resolver problemas, na organização do
trabalho escolar, e integração na vida social da escola.
() Os profissionais da educação envolvidos com a inclusão precisam ter preparação apropriada antes ou concomitante à chegada do
aluno.
() O professor terá um plano de ensino único para toda classe, incluindo o aluno com deficiência.
() Ter um atendimento educacional especializado fora da rede regular, como substituto do ensino ministrado na escola comum.
A sequência CORRETA, de cima para baixo, é:
(A) S, S, S, S, N, S.
(B) N, N, N, S, N, N.
(C) N, S, S, S, S, S.
(D) N, S, S, S, N, N.
6) “Qual é o papel da avaliação no processo de ensino aprendizagem? É certo que podennos separar o fato de ensinar do fato de
ensinar e avaliar? Antes de ensinar, sempre fazemos uma avaliação inicial?” BASSEDAS, HUGUETE, SOLE, 1999. São muitos os
questionamentos sobre avaliação. Analise as afirmativas a seguir e marque a alternativa INCORRETA:
(A) A avaliação é utilizada para ajustar ou modificar as atividades em função dos conhecimentos e as dificuldades no início de uma
sequência de ensino e de aprendizagem.
(B) A utilização exclusiva de provas escritas para decidir a trajetória de estudos do aluno deixa de considerar os diferentes estilos e
manifestações de aprendizagem.
(C) A avaliação é um fim em si mesma. É uma engrenagem no funcionamento didático.
(D) O processo avaliativo, em sua perspectiva mediadora, destina-se a acompanhar, entender, favorecer a contínua progressão do
aluno.
GABARITO
01 A
02 C
03 A
04 D
05 D
06 D
07 A
08 D
09 C
10 C
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES