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DIA 20 DE NOVEMBRO

Ilze Soares

Durante muito tempo à questão do negro no Brasil só era lembrada na data 13 de


maio, dia da assinatura da Lei Áurea, em 1888, abolindo a escravatura.
Normalmente nessa data nas escolas, as crianças negras faziam o papel de escravos e a
loirinha se vestia de princesa Isabel, momento que se demonstrava total incentivo ao
racismo, entretanto, tal espaço deveria servir de questionamentos de tais lembranças. Nada
era falado sobre a resistência e as lutas dos negros, o destaque era pela ação da princesa
Isabel.
Nos anos 70 com o surgimento dos Movimentos Negros, ocorreu a denuncia desse
equívoco e distorção. Assim, começou uma luta para que o povo brasileiro lembrasse e
conhecesse as lideranças negras e as muitas ações de resistências dos negros africanos
através da história.
Um os pontos principais do Movimento Negro da atualidade foi enunciar que o dia
13 de maio não deve ser comemorado enfatizando a passividade do negro diante da ação
misericordiosa do branco, afinal, durante a escravidão houve muitos movimentos de luta e
resistência em diversas regiões do país. Dessa forma, atualmente os Movimentos Negros
atribuem um significado político ao 13 de maio, ou seja, promovem esse dia como o dia
Nacional de Luta Contra o Racismo.
O Movimento Negro também deu destaque ao dia 20 de novembro, dia da morte de
Zumbi – do Quilombo dos Palmares – como uma data a ser lembrada e comemorada, já que
ele é considerado um dos principais símbolos de luta e resistência contra a opressão e
exclusão vivenciada hoje pelos afros-descendentes.
A intenção de comemorar essa data – 20 de novembro – se deu em Porto Alegre, no
Rio Grande do Sul. O primeiro passo foi dado, conta o historiador Alfredo Boulos Júnior,
pelo poeta Oliveira Silveira, membro do Grupo Palmares, uma associação cultural negra.
Ao conhecerem o livro “O Quilombo dos Palmares”, de Edison Carneiro (baiano), os
participantes dessa associação entenderam que Palmares foi a maior manifestação de
resistência negra na história brasileira.
No dia 20 de novembro de 1971, no Clube Náutico Marcílio Dias, fez-se a primeira
homenagem a Zumbi dos Palmares. Esse foi o primeiro passo para que ocorresse em
Salvador no dia 7 de julho de 1978, uma proposta pelo MNU – Movimento Negro
Unificado – para que em 20 de novembro fosse o dia Nacional da Consciência Negra.
Associações e Movimentos Negros de todo o país aceitaram a proposta e essa data
representa o resgate no sentido político de luta, da resistência contra a opressão social.
Assim, a partir da década de 70, Zumbi passou a ser valorizado no contexto de luta
contra o mito da “democracia racial”, auxiliando na desmistificação que a história apregoa
sobre o tipo de relações raciais desenvolvidas no Brasil, como sendo uma escravidão pouco
violenta e de resistências sem tanta importância. Logo, a escravidão negra é vista como
fenômeno indispensável na nossa história. O negro é visto como o indivíduo bonzinho,
dócil, subordinado ao branco, totalmente reconhecedor da sua inferioridade, portanto,
passivo e cordial aos seus senhores.
A visão da “democracia racial” ainda tenta apresentar para a sociedade a idéia de
que os diferentes grupos étnico-raciais no Brasil existentes viveram e vivem
harmoniosamente diferentes da resistência dos outros paises. Daí a importância de Zumbi
dos Palmares, sua representação ativa e rebelde se contrapõe a toda essa idéia instituída
pelo branco. A imagem de Zumbi não só representa a resistência negra, mas, contribui
também, para que negros e brancos compreendam, aceitem e reconheçam as diferenças
humanas.
Em 2003, foi sancionada a lei 10.639/03 pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
sendo instituída obrigatoriedade da inclusão da História da África e da Cultura Afro-
brasileira no currículo das escolas pública e particular de ensino fundamental e médio. A lei
também determina que o dia 20 de novembro deverá ser incluído no calendário escolar
como dia Nacional da Consciência Negra.
Toda essa nova leitura sobre o negro se deve principalmente à luta da Comunidade
Negra e dos Movimentos Negros de todo Brasil.
Ao relembrar toda essa trajetória de vitórias não só do negro, mas, também do povo
brasileiro, por sermos um povo miscigenado e termos como herança nosso jeito guerreiro
de ser - nunca desistimos - sendo assim, conclamo a todos para refletir sobre a necessidade
de acolhermo-nos uns aos outros, pondo por fim o preconceito racial. Que possamos criar
em nossos filhos seres melhores e um mundo melhor. A foto postada nos faz acreditar que
isso é possível.
Confiemos e lutemos, pois, “sonho que se sonha junto se torna realidade”.

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