Texto didático para compreensão do significado filosófico de ideologia
O conceito filosófico de Ideologia
Pode-se afirmar que o saber do senso comum é uma forma de estabelecer uma coesão social. Porém, qual o sentido desta coesão social? Entre outras coisas, para que diminuam os questionamentos, diminuam as diversas formas de interpretação, de modo a estabelecer um consenso dogmático (uma verdade que se apresenta de modo absoluto e anula a importância das diferenças) Este consenso indica os valores e as idéias que devem predominar no cotidiano dos seres humanos, mas que pode diminuir os momentos críticos necessários para que o pensamento filosófico se desenvolva. Porém, se este consenso acontece, também diminuem as formas de transcendência e, portanto, de liberdade. Trata-se, assim, de uma forma de poder existente nas relações entre os homens e na construção cotidiana de nossas vidas. Veremos inicialmente a concepção “negativa” de ideologia. Este conceito de ideologia foi criado pelo filósofo alemão Karl Marx, no século XIX.
“A ideologia é um conjunto lógico, sistemático de representações (idéias e
valores) e de normas ou regras de conduta que indicam ou prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar,o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é portanto um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras e preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é apagar as diferenças, como as de classe, e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado” (Marilena Chauí, O que é ideologia?)
Alguns pontos podem ser resumidos, após a leitura do conceito de ideologia:
A ideologia são formas de representações (saberes) que “ensinam” a pensar e
normas que “ensinam” a agir; Adaptar os indivíduos às tarefas prefixadas pela sociedade; Diferenças de classe e conflitos são camufladas Assegurar uma unidade (consenso) entre os seres humanos Aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e pouco compensadoras Justificar a aceitação (“vontade de Deus”, “dever moral”, etc.). Manter uma forma de poder e de dominação
Duas características de um pensamento ideológico
A Naturalização A ideologia não é uma mentira que iludiria ou enganaria intencionalmente a todos. Trata-se de uma naturalização, isto é, a realidade tal como ela aparece, como a vivemos em nosso cotidiano, “confirma” nossas idéias e valores. Pensar de modo ideológico é acreditar que as idéias e os valores são a própria realidade. Não percebemos que os valores e as idéias são criações humanas de uma sociedade historicamente determinada. Muitas vezes pensamos ser natural que “uns poucos mandem e muitos obedeçam”. (E que, portanto, nosso poder limita-se ao que nos é permitido). Observamos como se manifesta o poder em nossa sociedade e pensamos conforme a “realidade”. Por exemplo: existe um provérbio (uma representação) que acabamos seguindo como um valor absoluto: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Mas não perguntamos:... Como se originou tal poder? Por que alguns exercem tal poder e outros não? Etc. Esta primeira característica nos leva diretamente à segunda. A Não-historicidade O que é algo não-histórico? É algo que não tem qualquer relação com a história humana. Como se fosse algo natural, fora da história, que será sempre o mesmo, que jamais mudaria seu modo de ser e, portanto algo que seria independente da passagem do tempo. Mas o que estaria fora da história? (Tente pensar esta questão!). Por enquanto precisamos entender o que seria a História humana.